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1 Espaços vetoriais
(A1) ∀u, v, w ∈ V (u ⊕ v) ⊕ w = u ⊕ (v ⊕ w)
(A2) ∀u, v ∈ V u ⊕ v = v ⊕ u
(A3) ∀u ∈ V u ⊕ 0 = u
(A4) ∀v ∈ V ∃u ∈ V v ⊕ u = 0
(M1) ∀α ∈ R ∀u, v ∈ V α (u ⊕ v) = (α u) ⊕ (α v)
(M3) ∀α, β ∈ R ∀v ∈ V (α + β) v = (α v) ⊕ (β v)
(M4) ∀v ∈ V 1 v = v
Vamos ver alguns exemplos de espaços vetoriais. Note que, para isso, precisamos exibir um
conjunto, determinar duas operações e mais um elemento que fará o papel do elemento 0 destacado
acima. Tudo isso de forma que sejam satisfeitas as propriedades da definição.
⊕
No que se segue, quando aparecer = quer dizer que a igualdade vale pela definição de ⊕
que for dada no exemplo. Analogamente, quando aparecer = a justificativa é a definição de .
R
Quando aparecer =, a igualdade se dá por propriedades dos números reais. Quando aparecer
A1
= a justificativa é a propriedade (A1) da definição de espaço vetorial. Analogamente para as
propriedades (A2), ..., (A4) e (M1), ..., (M4).
1
na verdade a definição apresentada aqui é a de um espaço vetorial sobre R, mas, como só trabalharemos com
espaços desta forma, omitiremos o “sobre R”
1
Exemplo 1.2. Considere (R2 , ⊕, ) onde R2 := {(a, b) : a, b ∈ R} e, dados (a, b), (c, d) ∈ R2 e
α ∈ R, definimos (a, b) ⊕ (c, d) := (a + c, b + d) e α (a, b) := (αa, αb). Considere como 0 o
elemento (0, 0). É possı́vel mostrar que (R2 , ⊕, ) satisfaz todas as propriedades de um espaço
vetorial. Como exemplo, vamos mostrar que satisfaz as propriedades (A3) e (A4), deixando as
outras como exercı́cio:
⊕ R
(A3) Note que, dado (a, b) ∈ R2 temos (a, b) ⊕ (0, 0) = (a + 0, b + 0) = (a, b) e, portanto, temos
(A3).
(A4) Seja (a, b) ∈ R2 . Considere (−a, −b) que, de fato, pertence a R2 . Note que (a, b) ⊕
⊕ R
(−a, −b) = (a − a, b − b) = (0, 0) = 0 e, portanto, temos (A4).
Apesar do nome vetor ter um certo apelo geométrico, os elementos de um espaço vetorial não
precisam estar num plano, nem mesmo em qualquer outra figura geométrica. O próximo exemplo
mostra exatamente isso.
R
(M4) Sejam f ∈ F e x ∈ R. Temos (1 f )(x) = 1f (x) = f (x).
Note que, no exemplo 1.2, poderı́amos ter considerado, em vez do R2 , Rn := {(x1 , ..., xn ) :
x1 , ..., xn ∈ R} com ⊕ e análogos, isto é, (x1 , ..., xn ) ⊕ (y1 , ..., yn ) := (x1 + y1 , ..., xn + yn ) e
α (x1 , ..., xn ) := (αx1 , ..., αxn ) para (x1 , ..., xn ), (y1 , ..., yn ) ∈ Rn e α ∈ R. Essas operações assim
definidas são as usuais no Rn . Desta maneira, em particular, temos que (R, ⊕, ) é um espaço
vetorial onde ⊕ e são a soma e o produto usuais respectivamente.
O que nos impede de tentar fazer o mesmo e obter que (Z, ⊕, ), onde Z é o conjunto dos
números inteiros e ⊕ e são, respectivamente, a soma e o produto usuais, é um espaço vetorial?
Pode-se verificar que as propriedades (A1), ..., (A4) e (M1), ..., (M4) são satisfeitas. O problema
aqui é que, dados z ∈ Z e α ∈ R, α z = αz não necessariamente pertence a Z (tome, por
2
exemplo z := 1 e α := 12 ). Assim, não temos que ⊕ assim definida é uma função de R × Z −→ Z
e, portanto, (Z, ⊕, ) não é um espaço vetorial.
Exemplo 1.4. Considere (R2 , ⊕, ) onde ⊕ é o mesmo de 1.2 e é dada por α(a, b) := (αa, b),
onde α ∈ R e (a, b) ∈ R2 . Note que, pela definição de , temos que 2(1, 2) = (2, 2). Suponha por
absurdo que (R2 , ⊕, ) é um espaço vetorial. Ou seja, temos que valem todas as propriedades da
R M3
definição de espaço vetorial. Então, temos 2(1, 2) = (1+1)(1, 2) = (1(1, 2))⊕(1(1, 2)) =
⊕ R
(1, 2) ⊕ (1, 2) = (1 + 1, 2 + 2) = (2, 4). Como (2, 2) 6= (2, 4) temos uma contradição e, portanto,
(R2 , ⊕, ) não é um espaço vetorial.
Por comodidade, dado (V, ⊕, ) um espaço vetorial, denotaremos o sı́mbolo ⊕ por + (assim,
v ⊕ u = v + u) e por · (assim, α v = α · v). Na verdade, o mais usual (e que também
adotaremos aqui) é simplesmente omitir o sı́mbolo . Por exemplo, α v fica αv. Quando ⊕ e
estiverem claros no contexto, chamaremos de V o espaço vetorial (V, ⊕, ).
Já vimos alguns exemplos de espaços vetoriais e alguns exemplos de coisas que não são espaços
vetoriais. Vamos agora começar a ver o que pode ser deduzido a partir da definição de um
espaço vetorial. Ou seja, vamos ver algumas propriedades que todos os espaços vetoriais têm,
independente de sua definição particular.
Definição 1.5. Seja V um espaço vetorial. Dizemos que v ∈ V é um elemento neutro se, para
qualquer u ∈ V , temos u + v = u.
Note que o elemento 0 que aparece em (A3) da definição de espaço vetorial é um elemento
neutro. Será que podem haver outros? O próximo resultado diz que não.
Já que num espaço vetorial temos que existe um único elemento neutro, é freqüênte, ao se
definir um espaço vetorial, se omitir quem é o elemento 0. Mas o leitor pode facilmente determinar
quem é tal elemento. Uma maneira simples é dada pelo próximo resultado:
Proposição 1.7. Seja V um espaço vetorial e seja v ∈ V . Temos que 0v = 0 (Atenção: o 0 que
aparece à esquerda da igualdade é o número real zero. Já o 0 que aparece à direita, é o elemento
neutro de V ).
3
R M3
Dem.: Seja u ∈ V tal que 0v +u = 0. Tal u existe por (A4). Temos que 0v = (0+0)v = 0v +0v.
A1 A3
Assim, temos que 0 = 0v + u = (0v + 0v) + u = 0v + (0v + u) = 0v + 0 = 0v.
Pela propriedade (A4) da definição de espaço vetorial, temos que todo elemento v tem um
oposto. O próximo resultado diz que existe apenas um único oposto para cada elemento.
Dem.: Temos
A3
u = u+0
= u + (v + w)
A1
= (u + v) + w
A2
= (v + u) + w
= 0+w
A2
= w+0
A3
= w
Vamos agora ver que, dado um elemento v, para encontrarmos seu oposto, basta multiplicá-lo
pelo escalar −1.
Proposição 1.10. Sejam V um espaço vetorial e seja v ∈ V um elemento qualquer. Então −1v
é oposto a v (e, por 1.9, é o único elemento oposto a v).
M4 M3 R 1.7
Dem.: Temos v + (−1v) = 1v + (−1v) = (1 − 1)v = 0v = 0. Logo, −1v é o oposto de v.
(ii) α0 = 0.
4
(iii) Se αv = 0 então α = 0 ou v = 0;
M2 R
Dem.: (i) α(−v) = α(−1v) = (α · (−1))v = −αv.
A3 M1
(ii) α0 = α(0 + 0) = α0 + α0. Somando-se −α0 em ambos os lados da igualdade, temos, pela
parte (i), 0 = α0.
(iii) Suponha α 6= 0. Vamos então mostrar que v = 0. Considere α−1 ∈ R tal que α−1 α = 1.
De α0 = 0 temos α−1 (αv) = α−1 0. Aplicando (ii) ao lado direito da igualdade, temos que
M2 M4
α−1 (αv) = 0. Assim, temos que 0 = α−1 (αv) = (α−1 α)v = 1v = v.
1.1 Exercı́cios
a b
Exercı́cio 1.1. Considere M2 := : a, b, c, d ∈ R , ⊕ : M2 × M2 −→ M2 dada por
c d
a1 b1 a2 b2 a1 + a2 b1 + b2
⊕ :=
c1 d1 c2 d2 c1 + c2 d1 + d2
e : R × M2 −→ M2 dada por
a b αa αb
α :=
c d αc αd
Mostre que (M2 , ⊕, ) é um espaço vetorial. As operações assim definidas são as usuais para
M2 .
Exercı́cio 1.2. Considere Q o conjunto dos números racionais, ⊕ e a soma e o produto usuais
de números reais. (Q, ⊕, ) é um espaço vetorial? Justifique.
Exercı́cio 1.3. Exiba os elementos neutros dos seguintes espaços vetoriais: R3 e M2 (cada um
com a soma e a multiplicação por escalar usuais).
5
Exercı́cio 1.6. Considere C = {a + bi : a, b ∈ R} o conjunto dos números complexos. Mostre
que C com as operações usuais é um espaço vetorial.
1 2 0 3 7 −4
Exercı́cio 1.8. Seja A, B, C ∈ M2 , onde A := , B := e C := .
2 1 1 0 1 0
Calcule, com as operações usuais de M2 , os seguintes elementos:
(a) A + B
(b) B + 12 C
(c) A − B + 4C
(a) −(−v) = v;
(b) Se u + v = w + v então u = w.
(c) Se u + u = 0 então u = 0.
Exercı́cio 1.10. Sejam V um espaço vetorial e u, v ∈ V . Mostre que existe um único vetor
w ∈ V tal que u + w = v.
α · (u, v) := (α U u, α V v)
onde u, u1 , u2 ∈ U , v, v1 , v2 ∈ V e α ∈ R. Mostre que (U × V, +, ·) é um espaço vetorial.
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2 Subespaços vetoriais
Vejamos agora um modo de obter espaços vetoriais “novos” a partir de “velhos”. Dado (V, +, ·)
um espaço vetorial, podemos tentar criar um novo espaço (S, ⊕, ) simplesmente tomando S ⊂ V
e fazendo com que ⊕ e sejam as restrições de + e · respectivamente. E, é claro, queremos que
(S, ⊕, ) satisfaça as propriedades da definição de espaço vetorial. Ou seja, temos a seguinte
definição:
Definição 2.1. Seja (V, +, ·) um espaço vetorial. Dizemos que (S, ⊕, ) é um subespaço ve-
torial de V se (S, ⊕, ) é um espaço vetorial, S ⊂ V e, dados u, v ∈ S e α ∈ R temos que
u ⊕ v = u + v e α v = α · v. Dizemos que ⊕ e são as operações induzidas por + e ·
respectivamente.
Por comodidade, normalmente usaremos os mesmos sı́mbolos para as operações no espaço ori-
ginal e no subespaço. E, quando as operações estiverem claras no contexto, diremos simplesmente
que S é subespaço de V .
Dem.: Como S é espaço vetorial, temos que ⊕ : S × S −→ S. Logo, dados u, v ∈ S, temos que
u ⊕ v ∈ S. Como u + v = u ⊕ v, temos que u + v ∈ S. Analogamente, temos o resultado para
αv.
a 0
Exemplo 2.3. Seja (D, +, ·) onde D := : a, b ∈ R e + e · são as restrições das
0 b
operações em M2 . Vamos ver que D é subespaço de M2 . Para isso, precisamos ver, primeiramente,
que as operações + e ·, que são as restrições da operações de M2 , de fato são funções de D × D
em D e R × D em D respectivamente. Ou seja, precisamos dadosA, B ∈ D e α ∈ R,
mostrar que,
a1 0 b1 0
temos que A + B ∈ D e αA ∈ D. Sejam A := , B := ∈ D. Temos que
0 a2 0 b2
a1 0 b1 0 + a1 + b1 0
+ = ∈ D. Para mostrar que αA ∈ D é análogo
0 a2 0 b2 0 a2 + b2
0 0
(exercı́cio). Observe também que o elemento ∈ D faz o papel de elemento neutro em
0 0
D. Assim, para concluirmos que D é de fato um espaço vetorial, só resta mostrar que valem
as propriedades (A1), ..., (A4), (M1), ..., (M4) da definição de espaço vetorial. Como exemplo,
7
a1 0
vamos mostrar a propriedade (A2) deixando as outras como exercı́cio: Sejam A := ,
0 a2
b1 0
B := ∈ D. Temos
0 b2
a1 0 b1 0
A+B = +
0 a2 0 b2
a1 + b1 0
=
0 a2 + b2
b1 0 a1 0
= +
0 b2 0 a2
= B+A
O próximo exemplo mostra que podemos ter (V, +, ·), (S, ⊕, ) ambos espaços vetoriais e com
S ⊂ V mas sem que S seja subespaço de V .
Exemplo 2.4. Considere (R, +, ·), onde + e · são as operações usuais. Considere (P, ⊕, ), onde
P := {r ∈ R : r > 0} e ⊕ e são as operações definidas no exercı́cio 1.5, isto é, dados r, s ∈ P e
α ∈ R, temos que r ⊕ s = rs e α r = rα . Pelo exercı́cio 1.5, temos que (P, ⊕, ) é um espaço
vetorial. Mas, apesar de P ⊂ R, não é verdade que (P, ⊕, ) é subespaço vetorial de (R, +, ·).
Isso se dá porque as operações em P não são as operações induzidas por R. De fato, considere
1, 2 ∈ P . Por um lado, tomando as operações em P , temos que 1 ⊕ 2 = 1 · 2 = 2. Por outro lado,
tomando as operações em R, temos que 1 + 2 = 3.
O próximo exemplo mostra que podemos ter (S, +, ·), com S ⊂ V , “definir”as operações em
S como as de V e, ainda assim, S não ser subespaço de V .
Exemplo 2.5. Considere [0, 1] ⊂ R. Temos que ([0, 1], +, ·), onde + e · são as restrições das
operações usuais de R, não é um subespaço vetorial de R. Para ver isso, suponha que seja. Então,
dados a, b ∈ [0, 1] temos, por 2.2, que a + b ∈ [0, 1]. Como 1 ∈ [0, 1], temos que 1 + 1 = 2 ∈ [0, 1],
contradição. Logo, [0, 1] não é subespaço vetorial de R.
Vimos que, dado um subconjunto S de um espaço vetorial V é necessário fazer muitas veri-
ficações para decidir se ele é um subespaço vetorial ou não. Temos que verificar as oito propri-
edades de espaço vetorial, a existência de um elemento neutro e ainda verificar se as restrições
das duas operações têm contra domı́nio S. O próximo resultado mostra uma maneira mais fácil
de fazer tal decisão.
Proposição 2.6. Seja (V, ⊕, ) um espaço vetorial. Seja S ⊂ V . Então (S, +, ·), onde + e ·
são as restrições das operações de V , é um subespaço vetorial se, e somente se, são satisfeitas as
seguintes condições:
(a) 0 ∈ S;
8
(b) Dados u, v ∈ S temos que u ⊕ v ∈ S;
Dem.:
⇒): Suponha que S é um subespaço vetorial. Então, por 2.2, temos (b) e (c). Em particular,
temos que S é um espaço vetorial e, portanto, S 6= ∅. Seja v ∈ S. Temos 0 = 0 v = 0 · v ∈ S e,
portanto, temos (a).
⇐): Suponha que S satisfaça (a), (b) e (c). Por (a) temos que S é não vazio. Por (b) temos que +
é uma função de S × S em S e, por (c), temos que · é uma função de R × S em S. Assim, resta
verificarmos as propriedades (A1), ..., (A4), (B1), ..., (B4). Vamos verificar as propriedades (A2)
e (M1) deixando as outras como exercı́cio.
∗
(A2) Sejam u, v ∈ S. Temos que u + v = u ⊕ v = v ⊕ u = v + u, onde ∗ vale por que vale a
propriedade (A2) em V .
∗∗
(M1) Sejam u, v ∈ S e α ∈ R. Temos α(u + v) = α (u ⊕ v) = (α u) ⊕ (α v) = αu + αv,
onde ∗∗ vale pois (M1) vale em V .
Vamos aproveitar o resultado anterior e dar mais alguns exemplos de subespaços vetoriais,
agora fazendo as verificações de maneira bem mais simples.
Exemplo 2.8. Considere R2 com as operações usuais. Considere S := {(a, −a) ∈ R2 : a ∈ R}.
Vamos mostrar que S é um subespaço vetorial de R2 com as operações induzidas. Pela definição
de S, temos que 0 = (0, 0) ∈ S (basta tomarmos a = 0). Agora sejam (a, −a), (b, −b) ∈ R2 .
Temos (a, −a) + (b, −b) = (a + b, −a − b) = (a + b, −(a + b)) ∈ S. Agora sejam (a, −a) ∈ S e
α ∈ R. Temos α(a, −a) = (αa, −αa) ∈ S.
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2.1 Exercı́cios
Exercı́cio 2.2. Seja V espaço vetorial e S ⊂ V . Mostre que S com as operações restritas de V
é um subespaço vetorial de V se, e somente se, S é não vazio e, dados α ∈ R e u, v ∈ S temos
αu + v ∈ S.
Exercı́cio 2.4. Decida se os conjuntos abaixo são subespaços vetoriais de R3 com as operações
induzidas pelas operações usuais de R3 . Justifique suas afirmações.
(a) A := {(x, y, z) ∈ R3 : z = 0}
(b) B := {(x, y, z) ∈ R3 : x + y = z}
(c) C := {(x, y, z) ∈ R3 : xy = 0}
(d) D := {(x, y, z) ∈ R3 : x + z = 0}
(e) E := {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + z 2 = 1})
0 0
Exercı́cio 2.7. Considere S := {A ∈ M2 : detA 6= 0} ∪ . S com as operações
0 0
induzidas por M2 é subespaço vetorial de M2 ?
10
3 Combinações lineares e subespaços gerados
Segue imediatamente das propriedades de espaços vetoriais que podemos sempre somar dois
elementos e que podemos multiplicarmos qualquer elemento por um número real sempre tendo
como resultado outro elemento do espaço. O próximo resultado simplesmente diz que podemos,
na verdade, somar qualquer quantidade (finita) de elementos do espaço e sempre obteremos
outro elemento do espaço. Além disso, cada elemento desta soma pode ser multiplicado por um
escalar sem prejuı́zo algum. Antes de mostrar tal resultado, vamos demonstrar uma importante
ferramenta matemática que nos será útil:
Teorema 3.1 (Princı́pio da indução). Seja P uma propriedade. Suponha que sabemos que tal
propriedade vale para o número 0 e que, sempre que ela vale para um número n ∈ N ela também
vale para o número n + 1. Então a propriedade P vale para todos os números1 m ∈ N.
Dem.: Suponha que existe um número para o qual a propriedade P não vale. Seja n o menor
número para o qual não vale P . Por hipótese, temos que n 6= 0. Assim, temos que n − 1 ∈ N
e, como n − 1 < n, temos que a propriedade P vale para n − 1. Por hipótese, temos que a
propriedade P vale para (n − 1) + 1 = n, contradição.
Corolário 3.2. Seja P uma propriedade que vale para um número m ∈ N e que se ela vale para
um número n ∈ N ela também vale para n + 1. Então a propriedade P vale para todo número
k ∈ N com k ≥ m.
Dem.: Considere a propriedade P 0 tal que P 0 vale para um número n se, e somente se, P vale
para n + m. Aplicamos o teorema para P 0 e obtemos o resultado.
Dem.: Por indução2 sobre n. Caso n = 1, temos que α1 v1 ∈ V pela definição de espaço vetorial.
Agora
Pn suponha que vale o resultado para n e vamos mostrar para n + 1. Por hipótese, temos que
i=1 αi vi ∈ V . Assim
n+1
X X n
αi vi = ( αi vi ) + αn+1 vn+1 ∈ V
| {z }
i=1 i=1 ∈V
| {z }
∈V
1
Uma versão “informal”deste resultado que talvez ajude a entendê-lo melhor: se há uma fila infinita de bolas
e sabemos que a primeira está pintada e que, se alguma está pintada, então a próxima também está pintada,
podemos concluir que toda a fila está pintada.
2
ou seja, a propriedade aqui considerada é que dados α1 , ..., αn ∈ R e v1 , ..., vn temos que n
P
i=1 αi vi ∈ V .
11
Este tipo de operação vai ser importante para o restante do texto.
Definição 3.4. Seja V espaço vetorial. Sejam u, v1 , ..., vn ∈ V . P Dizemos que u é uma com-
binação linear de v1 , ..., vn se existem α1 , ..., αn ∈ R tais que u = ni=1 αi vi .
Exemplo 3.5. Considere R3 com a soma e multiplicação usuais. Temos que (1, 1, 1) é combinação
linear de (1, 0, 0), (0, 21 , 1) e (0, 0, 1) pois
1
1(1, 0, 0) + 2(0, , 1) − 1(0, 0, 1) = (1, 1, 1)
2
Por outro lado, temos que (1, 1, 1) não é combinação linear de (1, 0, 0) e (0, 1, 0). Pois, suponha
que seja. Então existem α, β ∈ R tais que α(1, 0, 0) + β(0, 1, 0) = (1, 1, 1). Com isso, olhando as
equações dadas pelas terceiras coordenadas, temos que 1 = α · 0 + β · 0 = 0, contradição.
Exemplo 3.6. Seja V espaço vetorial. Sejam u, v ∈ V . Temos que u + v é combinação linear de
u − v e v. De fato, temos que 1(u − v) + 2v = u + v.
Suponha que temos um espaço vetorial V e A ⊂ V um conjunto qualquer não vazio. Pelo
resultado 3.3 temos que se A é um subespaço vetorial de V , então qualquer combinação linear de
elementos de A também é um elemento de A1 . E se A não for um subespaço? Será que é suficiente
acrescentarmos as combinações lineares de A para obtermos um subespaço? O resultado seguinte
afirma que sim.
Proposição 3.7. Seja V um espaço vetorial. SejaPA ⊂ V um conjunto não vazio. Então
n
S := {v ∈ V : ∃n ≥ 1, v1 , ..., vn ∈ A e α1 , ..., αn ∈ R i=1 α1 vi = v} é um subespaço vetorial de
V . Além disso, A ⊂ S.
Dem.: Vamos usar 2.6 para mostrar que A é subespaço. Como A é não vazio, podemos to-
mar v ∈ A. Então 0v = 0 ∈ S. Sejam Pn u, v ∈ S. Então
Pm existem u1 , ..., un , v1 , ...., vm ∈ A e
α1 , ..., αn , β1 , ..., βm ∈ R tais que u = i=1 αi ui e v = i=1 βi vi . Note que
n
X m
X
u+v = αi ui + βi vi
i=1 i=1
12
Com esse resultado, fazemos a seguinte definição:
Exemplo 3.9. Considere o espaço vetorial R3 com as operações usuais. Temos que [(0, 1, 2), (1, 0, 0)] =
{(a, b, 2b) : a, b ∈ R}. De fato, considere (a, b, 2b) e vamos mostrar que (a, b, 2b) ∈ [(0, 1, 2), (1, 0, 0)].
Para isso, basta notar que (a, b, 2b) = b(0, 1, 2) + a(1, 0, 0). Assim, temos que {(a, b, 2b) : a, b ∈
R} ⊂ [(0, 1, 2), (1, 0, 0)]. Para o outro lado, considere α(0, 1, 2)+β(1, 0, 0) = (β, α, 2α). Tomando-
se a = β e b = α, temos que α(0, 1, 2)+β(1, 0, 0) ∈ {(a, b, 2b) : a, b ∈ R}. Logo, temos a igualdade.
Já o subespaço S := {(x, y, z) : z = 0} é gerado por {(1, 0, 0), (0, 1, 0)}. De fato, seja
(x, y, 0) ∈ S. Então (x, y, 0) = x(1, 0, 0) + y(0, 1, 0). E, dados α, β ∈ R, temos que α(1, 0, 0) +
β(0, 1, 0) = (α, β, 0) tem a terceira coordenada 0 e, portanto, pertence a S.
a 0
Exemplo 3.10. Considere S ⊂ M2 dado por : a, b ∈ R . Temos que S é gerado por
0 b
1 0 1 0
,
0 0 0 2
a 0
De fato, seja ∈ S. Temos que
0 b
a 0 b 1 0 b 1 0
= (a − ) +
0 b 2 0 0 2 0 2
1 0 1 0
Por outro lado, é fácil ver que qualquer combinação linear de e é da forma
0 0 0 2
a 0
.
0 b
13
3.1 Exercı́cios
Exercı́cio 3.1. Considere R2 com as operações usuais. Escreva (1, 2) como combinação linear
de {(1, 1), (0, 4)}.
Exercı́cio 3.2. Considere R3 com as operações usuais. Considere S := [(1, 0, 0), (1, 1, 0)]. Dê
uma interpretação geométrica para S.
Exercı́cio 3.4. Considere R3 com as operações usuais. Considere S := {(a, b, a + 2b) : a, b ∈ R}.
(a) Mostre que S é subespaço de R3 com as operações usuais.
(b) Encontre um conjunto com exatamente 2 elementos que seja um gerador para S.
(c) Encontre um conjunto com exatamente 3 elementos que seja um gerador para S.
(d) Encontre A, B ⊂ R3 tais que A ∩ B = ∅ e [A] = [B] = S.
Exercı́cio 3.6. Seja V um espaço vetorial e seja S ⊂ V um subconjunto qualquer. Mostre que
S = [S] se, e somente se, S é um subespaço vetorial de V .
Exercı́cio 3.8. Sejam V um espaço vetorial e A ⊂ V um conjunto não vazio. Suponha que S
seja um subespaço de V tal que A ⊂ S. Mostre que [A] ⊂ S.
Exercı́cio
T 3.9. Sejam V um espaço vetorial e A ⊂ V um conjunto não vazio. Mostre que
[A] = {S ⊂ V : S ⊃ A e S é subespaço de V }.
14
4 Dependência linear
Vimos na seção anterior que um subespaço pode ter vários conjuntos geradores. Inclusive, pode-
mos ter A ⊂ B distintos que gerem o mesmo subespaço. Os conceitos que aprentamos a seguir
servem para podermos tomar conjuntos geradores que sejam, de alguma forma, minimais.
Definição 4.1. Sejam V um espaço vetorial e v1 , ..., vn ∈ V distintos. Dizemos que v1 , ..., vn
Pn linearmente dependentes se existem α1 , ..., αn ∈ R, com pelo menos um αi 6= 0, tais que
são
i=1 αi vi = 0. Dizemos que vP 1 , ..., vn são linearmente independentes caso contrário, isto é,
se dados α1 , ..., αn ∈ R temos ni=1 αi vi = 0, então α1 = · · · = αn = 0. Dizemos que A ⊂ V é
linearmente dependente se existem v1 , ..., vn ∈ A distintos linearmente dependentes. Dizemos que
A é linearmente independente caso contrário, isto é, se dados quaisquer v1 , ..., vn ∈ A distintos
temos que v1 , ..., vn são linearmente independentes. Por convenção, dizemos que o conjunto ∅ é
linearmente independente.
Este primeiro exemplo, ilustra uma relação entre dependência linear e combinação linear.
Mais adiante, veremos que vale uma espécie de recı́proca para este exemplo. Mas antes,
vejamos mais alguns exemplos simples.
Exemplo 4.3. Considere R4 com as operações usuais. Temos que (0, 1, 0, 1), (4, 6, 2, 6) e (2, 0, 1, 0)
são linearmente dependendentes. De fato, temos que
1
3(0, 1, 0, 1) − (4, 6, 2, 6) + 1(2, 0, 1, 0) = 0
2
1 1 1 1
Exemplo 4.4. Considere M2 com as operações usuais. Então A := , B := ,
0 1 0 0
0 0
C := são linearmente independentes. De fato, sejam α, β, γ ∈ R tais que αA + βB +
2 2
γC = 0. Então, temos o seguinte sistema de equações:
α+β =0
α+β =0
2γ = 0
α + 2γ = 0
15
Exemplo 4.5. Considere F com as operações usuais. Temos que que as funções sen(x) e cos(x)
são linearmente independentes. De fato, sejam α, β ∈ R tais que, para todo x ∈ R, temos
que αsen(x) + βcos(x) = 0. Fazendo x = 0, temos que 0 = αcos0 + βsen0 = α. E, fazendo
x = π2 , temos que 0 = βsen π2 = β. Logo, α = β = 0. Por outro lado, temos que as funções
f (x) := 2sen(x), g(x) := sen(x)−cos(x) e h(x) := sen(x)+2cos(x) são linearmente dependentes.
De fato, temos que
3
− f (x) + 2g(x) + h(x) = 0
2
para qualquer x ∈ R.
Agora vamos ao resultado da “recı́proca” do primeiro exemplo desta seção. Sua afirmação é
a de que se n vetores são linearmente dependentes, é porque um deles é combinação linear dos
outros.
Proposição 4.6. Sejam V um espaço vetorial e v1 , ..., vn ∈ V . Suponha que v1 , ..., vn são li-
nearmente dependentes. Então existe k tal que 1 ≤ k ≤ n tal que vk é combinação linear de
{vi : 1 ≤ i ≤ n e i 6= k}, isto é, existem αi ∈ R tais que
n
X
vk = αi vi
i=1
i 6= k
Dem.: Como v1P , ..., vn são linearmente dependentes, existem α1 , ..., αn ∈ R, com pelo menos um
βi 6= 0, tais que ni=1 βi vi = 0. Seja k tal que βk 6= 0. Temos
n
X βi
vk = − vi
βk
i=1
i 6= k
O próximo resultado será útil para quando formos cuidar da minimalidade de conjuntos
geradores. Ele simplesmente diz que, se um conjunto gerador finito é linearmente dependente,
então existe um elemento dele que podemos “descartar”.
Corolário 4.7. Seja V um espaço vetorial. Seja A ⊂ V finito1 e linearmente dependente. Então
existe v ∈ A tal que [A] = [A r {v}].
Dem.: Escreva A = {v1 , ..., vn }. Pelo resultado anterior, existem k e αi ∈ R tais que
X
vk = αi vi
i=1
i 6= k
1
Veja o exercicio 4.9
16
Vamos mostrar que [A] = [A r {vk }]. É claro que [A r {vk }] ⊂ [A] (ver exercicio 3.3).
PnAssim,
resta mostrar que [A] ⊂ [A r {vk }]. Seja u ∈ [A]. Sejam β1 , ..., βn ∈ R tais que v = i=1 βi vi .
Temos Pn
v = i=i βiP
vi
= βk vk + ni = 1 βi vi
i 6= k
Pn Pn
= βk i=1 αi vi + i=1 βi vi
i 6= k i 6= k
O próximo resultado diz que podemos aumentar um conjunto linearmente independente com
elementos que não sejam combinação linear dele.
4.1 Exercı́cios
Exercı́cio 4.2. Considere R4 com as operações usuais. Decida se cada conjunto de vetores é
linearmente dependente ou não. Justifique suas respostas:
(c) {(x, y, z, w) : x + y + z + w = 0}
(d) {(0, 0, 0, 2), (0, 0, −1, 3), (0, 4, 2, 1), (1, 2, 3, 4)}
17
(a) Se A é linearmente independente e B ⊂ A, então B é linearmente independente.
Exercı́cio 4.4. Seja V um espaço vetorial tal que V 6= {0}. Mostre que V r {0} é linearmente
dependente.
Exercı́cio 4.7. Sejam V um espaço vetorial e u1 , ..., un , v1 , ..., vm ∈ V . Suponha que {u1 , ..., un , v1 , ..., vm }
seja linearmente independente. Mostre que [u1 , ..., un ] ∩ [v1 , ..., vm ] = {0}.
Exercı́cio 4.9. Mostre que podemos retirar a hipótese de A ser finito em 4.7. Dica: Como A é
linearmente dependente, temos que existem v1 , ..., vn ∈ A linearmente dependentes. Comece com
isso e procure fazer algo parecido com a demonstração de 4.7.
18
5 Bases
Definição 5.1. Sejam V um espaço vetorial e B ⊂ V . Dizemos que B é uma base para V se B
é linearmente independente e [B] = V .
Exemplo 5.2. Considere R4 com as operações usuais. Temos que B := {(1, 0, 1, 0), (0, 1, 0, 1),
(1, 0, 0, 1), (0, 0, 1, 1)} é uma base para R4 . De fato, seja (a, b, c, d) ∈ R4 . Considere α, β, γ, δ ∈ R
tais que α(1, 0, 1, 0) + β(0, 1, 0, 1) + γ(1, 0, 0, 1) + δ(0, 0, 1, 1) = (a, b, c, d). Temos
α+γ =a
β=b
α+δ =c
β+γ+δ =d
Não apresentaremos aqui a demonstração do próximo resultado pois ela precisa de um pouco
de material que foge do nosso escopo. Além disso, para os principais exemplos tratados aqui,
apresentaremos uma versão mais fraca (mas suficiente) deste resultado na próxima seção.
19
5.1 Exercı́cios
Exercı́cio 5.1. Exiba uma base para cada espaço vetorial e demonstre que a mesma de fato é
uma base. Considere para cada conjunto as operações usuais.
(a) M2
(b) R3
(c) R
Exercı́cio 5.2. Sejam V um espaço vetorial e B uma base para V . Considere C, D ⊂ V tais que
C ( B e D ) B. Mostre que C e D não são bases de V .
Exercı́cio 5.3. Sejam V um espaço vetorial e B uma base para V . Seja α ∈ R com α 6= 0.
Mostre que C := {αv : v ∈ B} é uma base para V .
Exercı́cio 5.4. Sejam V um espaço vetorial e S ⊂ V um subespaço tal que S 6= {0}. Considere
B base para V . É verdade que, necessariamente, B ∩ S 6= ∅?
Exercı́cio 5.5. Sejam U, V espaços vetoriais. Sejam A base para U e B base para V . Considere
U × V (veja o exercicio 1.12). O conjunto C := {(a, b) : a ∈ A, b ∈ B} é uma base para U × V ?
6 Sistemas lineares
Antes de prosseguirmos com os espaços vetoriais, vamos ver uma aplicação no estudo de sistemas
lineares homogêneos. Vamos fazer essa aplicação agora pois um dos resultados será utilizado na
seqüência de nosso trabalho.
Definição 6.1. Dizemos que um sistema com n equações nas incógnitas x1 , ..., xk é um sistema
linear homogêneo se cada uma das suas equações é da forma α1 x1 + α2 x2 + · · · + αk xk = 0
com α1 , ..., αk ∈ R. Dizemos que v = (v1 , ..., vk ) ∈ Rk é uma solução para o sistema se, para
cada equação α1 x1 + · · · αk xk = 0 temos que α1 v1 + · · · + αk vk = 0. Dado um sistema linear
homogêneo E com k incógnitas, denotamos por Sol(E) o conjunto {v ∈ Rk : v é solução de E}.
Chamamos Sol(E) de espaço solução de E.
20
Exemplo 6.2.
x1 + 2x2 = 0
x2 − x3 = 0
é um sistema linear homogêneo1 . Uma solução para tal sistema é (−2, 1, −1) ∈ R3 .
Nosso primeiro resultado já mostra uma ligação entre os sistemas lineares e álgebra linear: o
conjunto solução é um espaço vetorial.
Proposição 6.3. Seja E um sistema linear homogêneo com k incógnitas. Então Sol(E) é um
subespaço vetorial de Rk .
Dem.: Comecemos mostrando que 0 ∈ Sol(E). Dada ki=1 αi xi = 0 equação de E, temos que
P
Pk
i=1 αi 0 = 0, logo, 0 é solução.
Agora sejam (v1 , ..., vk ), (u1 , ..., uk ) soluções
Pk de E. Vamos mostrar que (v1 , ..., vk )+(u1 , ..., uk ) =
(v1 + u1 , ..., v1 + uk ) é solução de E. Seja i=1 αi xi = 0 uma equação de E. Temos:
Pk Pk Pk
i=1 αi (vi + ui ) = i=1 αi vi + i=1 αi ui
= 0+0
= 0
(v1 , ..., vk ) ∈ Sol(E) e γ ∈ R. Vamos mostrar que γ(v1 , ..., vk ) = (γv1 , ..., γvk ) ∈
Agora sejam P
Sol(E). Seja ki=1 αi xi = 0 uma equação de E. Temos:
Pk Pk
i=1 αi (γvi ) = γ i=1 αi vi
= γ0
= 0
O que vamos fazer agora é determinar uma condição para que um sistema linear homogêneo
tenha soluções não triviais:
Lema 6.4. Considere E uma equação da forma ki=1 αi xi = 0. Sejam u, v ∈ Rk onde v não é
P
solução para E. Então existe γ ∈ R tal que u − γv é solução para E.
Dem.: Escrevemos u = (u1 , ..., uk ) e v = (v1 , ..., vk ). Sejam a := ki=1 αui e b := ki=1 αvi .
P P
Como v não é solução para E, temos que b 6= 0. Assim, podemos tomar γ := ab . Vejamos que tal
γ satisfaz o enunciado. Temos que u − γv = (u1 − γv1 , ..., uk − γvk ). Assim
Pk Pk Pk
i=1 αi (ui − γvi ) = i=1 αi ui − γ i=1 vi
a
= a − bb
= 0
1
repare que há incógnitas que não aparecem em todas as equações, o que seria exigido pela nossa definição.
Mas isso pode ser facilmente contornado, notando-se, por exemplo, que a primeira equação é equivalente a x1 +
2x2 + 0x3 = 0.
21
Proposição 6.5. Seja E um sistema linear homogêneo com n equações e k incógnitas com k ≥ n.
Então existe um conjunto linearmente independente em Sol(E) com pelo menos k − n elementos.
Dem.: Vamos fazer por indução sobre n. Caso n = 0 temos que Sol(E) = Rk e temos o resultado.
Vamos fazer o caso n + 1, supondo que o caso n vale. Ou seja, temos que mostrar que se E tem
n + 1 equações, Sol(E) tem um subconjuto linearmente independente com k − n − 1 elementos.
Se n + 1 = k, terminamos porque {0} ⊂ Sol(E). Então podemos supor n + 1 < k, logo, k − n > 0.
Considere E0 ⊂ E onde E0 tem n equações. Seja F a equação restante. Por hipótese de indução,
temos que Sol(E0 ) tem um subconjunto A linearmente independente com k − n elementos. Se
todos os elemetos de A forem solução para F , temos que todos os elementos de A são solução
para E e temos o resultado. Se não, então existe v ∈ A tal que v não é solução de F . Escreva
A r {v} = {a1 , ..., ak−n−1 }. Para cada i = 1, ..., k − n − 1, seja γi ∈ R tal que ai − γi v seja
solução para F (existe pelo lema). Como a1 , ..., ak−n−1 e v são soluções para E0 , temos que
cada ai − γi v é solução para E0 . Logo, {a1 − γ1 v, ..., ak−n−1 − γk−n−1 v} ⊂ Sol(E). Logo, para
concluirmos o resultado, basta P mostrarmos que tal conjunto é linearmente independente. Sejam
α1 , ..., αk−n−1 ∈ R tais que k−n−1
i=1 αi (ai − γi v) = 0. Temos:
Pk−n−1
0 = αi (ai − γi v)
Pi=1
k−n−1 Pk−n−1
= i=1 αi ai − γi v
Pk−n−1 Pi=1
k−n−1
= i=1 αi ai − ( i=1 γi )v
Como {a1 , ..., ak−n−1 , v} = A é um conjunto linearmente independente, temos que que α1 = ... =
αk−n−1 = 0 como querı́amos.
Corolário 6.6. Seja E um sistema linear homogêneo com mais incógnitas do que equações.
Então E tem uma solução não trivial, isto é, existe v ∈ Sol(E) com v 6= 0.
6.1 Exercı́cios
Exercı́cio 6.1. Determine o espaço solução de cada um dos sistemas a seguir, determinando
também uma base para cada um deles.
x1 + x2 = 0
(a)
x2 − x3 = 0
x1 + x2 + 3x3 − x4 = 0
(b) x1 + x5 = 0
x5 + x2 − x3 = 0
22
7 Espaços finitamente gerados e dimensão
Definição 7.1. Seja V um espaço vetorial. Dizemos que V é finitamente gerado se existe
A ⊂ V finito tal que [A] = V .
Uma propriedade de espaços finitamente gerados é que existe um limitante para o tamanho
dos conjuntos linearmente independentes.
Proposição 7.2. Sejam V um espaço vetorial finitamente gerado e suponha que {v1 , ..., vn } ⊂ V
seja um gerador de V . Então todo subconjunto de V com mais de n elementos é linearmente
dependente.
Dem.: Seja A := {u1 , ..., um } com m > n. Vamos mostrar que A é linearmente dependente
(note que isso implica o resultado). Como {v1 , ..., vn } é gerador de V , para cada uk existem
βk,1 , ..., βk,n ∈ R tais que
Xn
βk,i vi = uk
i=1
Considere o seguinte sistema linear, nas incógnitas a1 , ..., am :
β1,1 a1 + · · · + βm,1 am = 0
..
.
β1,n a1 + · · · + βm,n am = 0
Como esse sistema é homogêneo, tem m incógnitas, n equações e n < m, temos que existe
α1 , ..., αm , com algum αi 6= 0, que é solução. Isto é, para cada i = 1, ..., n, temos que β1,i α1 +
· · · + βm,i αm = 0. Temos:
0 = Pni=1 Pm
P P
k=1 βk,i αk vi
= Pk=1 ni=1 αk βk,i vi
m
m
= k=1 αk uk
Logo, u1 , ..., um são linearmente dependentes.
Dem.: Como B gera V e B 0 é linearmente independente, temos que |B 0 | ≤ |B|. Por outro lado,
como B 0 gera V e B é linearmente independente, temos que |B| ≤ |B 0 |.
Dada a unicidade garantida pelo último resultado, podemos fazer a seguinte definição:
23
Definição 7.4. Seja V um espaço vetorial. Se V é finitamente gerado e B é uma base para V ,
dizemos que V tem dimensão |B| e denotamos por dim V := |B|. Se V não é finitamente gerado,
simplesmente dizemos que V tem dimensão infinita. Neste caso, denotamos dim V = ∞.
A idéia do próximo resultado é que, num espaço finitamente gerado, podemos ir “aumentando”
um conjunto linearmente independente até obtermos uma base.
Teorema 7.7 (do completamento de base). Sejam V um espaço vetorial finitamente gerado e
A ⊂ V um conjunto linearmente independente. Então existe B base de V tal que B ⊃ A.
Dem.: Se [A] = V , não há nada a mostrar. Caso contrário, existe v1 ∈ V r [A]. Por 4.8,
temos que B1 := A ∪ {v1 } é linearmente independente. Se [B1 ] = V , acabamos. Se não, existe
v2 ∈ V r [B1 ]. Novamente por 4.8, temos que B2 := B1 ∪ {v2 } é linearmente independente.
Continuamos tal processo até que [Bn ] = V . Observe que, de fato, isso ocorre, pois, caso
contrário, terı́amos conjuntos linearmente independentes arbitrariamente grandes o que não pode
ocorrer já que V é finitamente gerado e por 7.2
Já o próximo resultado diz que, em espaços finitamente gerados, podemos “diminuir” conjun-
tos geradores linearmente dependentes até obtermos uma base.
24
Proposição 7.9. Seja V um espaço vetorial. Seja A ⊂ V finito tal que [A] = V . Então existe
B ⊂ A base para V .
Corolário 7.10. Seja V um espaço vetorial de dimensão n. Seja B ⊂ V tal que |B| = n e
[B] = V . Então B é base para V .
Dem.: Pelo resultado anterior, existe C ⊂ B tal que C é base para V . Pela definição de dimensão,
existe D base para V tal que |D| = n. Por 7.3, temos que |C| = |D| = n. Assim, C = B e,
portanto, B é base para V .
Observe que pelos resultados 7.8 e 7.10 temos que, num espaço vetorial de dimensão n, se
temos um conjunto com n elementos, para decidirmos se ele é uma base, basta uma só verificação:
se ele é linearmente independente ou se ele é gerador.
7.1 Exercı́cios
Exercı́cio 7.1. Considerando as operações usuais de cada espaço, exiba uma base e calcule a
dimensão de cada um dos espaços abaixo:
(a) R2
(b) M2
(c) Pn
(d) R
Exercı́cio 7.3. Considere R4 com as operações usuais. Defina bases para R4 que contenham os
seguintes vetores
25
(a) (1, 1, 0, 0) e (1, 1, 1, 1).
(b) (0, 0, 0, 1)
Exercı́cio 7.4. Sejam V um espaço vetorial e S um subespaço seu. Mostre que dim S ≤ dim V .
Exercı́cio 7.5. Seja V espaço vetorial de dimensão n. Seja S ⊂ V subespaço. Suponha que
dim S = n. Mostre que S = V .
Exercı́cio 7.7. Seja V um espaço vetorial. Considere A, B ⊂ V conjuntos não vazios tais que a
dimensão de [A] é m, de [B] é n e a de [A ∪ B] = k.
Exercı́cio 7.8. Seja V um espaço vetorial. Considere A, B ⊂ V conjuntos não vazios tais que
[A] e [B] têm dimensão finita. Mostre que
26
8 Sistemas de coordenadas
O que vamos fazer nesta seção é construir um jeito de se descrever os elementos de um espaço
vetorial.
O próximo resultado nos dá uma grande utilidade para os sistemas de coordenadas:
Proposição 8.2. Sejam V um espaço vetorial finitamente gerado e B := {v1 , ..., vn } uma base
ordenada
Pn para V . Então, para cada elemento v ∈ V , existem a1 , ..., an ∈ Rn tais que v =
i=1 ai vi . Além disso, tais ai ’s são únicos com tal propriedade.
Dem.: A existência de a1 , ..., an se dá simplesmentePpelo fato de B ser base. Vamos mostrar
então a unicidade. Sejam b1 , ..., bn ∈ R tais que v = ni=1 bi vi . Temos
0 = vP− v
= Pni=1 ai vi − ni=1 bi vi
P
n
= i=1 (ai − bi )vi
Logo, como v1 , ..., vn são linearmente independentes, (ai − bi ) = 0 para todo i = 1, ..., n.
Definição 8.3. Sejam V um espaço vetorial finitamente gerado e B := {v1 , ..., vn } uma base
ordenada
Pn para V . Dado v ∈ V , denotamos por [v]B := (a1 , ..., an )B a única n-upla tal que
i=1 ai vi = v.
Exemplo 8.4. Considere R3 com as seguintes bases ordenadas: B1 := {(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)},
B2 := {(1, 1, 0), (0, 1, 1), (0, 2, 0)} e B3 := {(0, 1, 0), (1, 0, 0), (0, 0, 1)}. Seja v := (1, 2, 3) ∈ R3 .
Temos
• [v]B1 = (1, 2, 3)B1
• [v]B2 = (1, 3, −1)B2
• [v]B3 = (2, 1, 3)B3
Note que o processo de se mudar as coordenadas de um vetor de uma base para outra muitas
vezes é trabalhoso. Mais adiante, veremos uma maneira bem mais simples de se fazer isso. Mas,
para isso, precisamos do conceito de transformações lineares e de alguma teoria sobre elas. Como
as transformações lineares são úteis em diversos outros problemas, faremos um apanhado geral
de sua teoria antes de voltarmos à aplicação de mudança de bases.
1
ou seja, um sistema de coordenadas é uma n-upla (v1 , ..., vn ) cujas coordenadas formam uma base de V . Mas,
por comodidade, utilizaremos o mesmo sı́mbolo de conjunto.
27
8.1 Exercı́cios
1 0 0 1 0 1 0 0
Exercı́cio 8.1. Considere B := , , , base ordenada
1 0 0 1 0 0 1 1
de M2 . Calcule [v]B em cada um dos seguintes casos:
2 1
(a) v =
0 0
1 1
(b) v =
1 1
Exercı́cio 8.3. Seja V espaço vetorial finitamente gerado. Sejam B1 e B2 bases ordenadas para
V . Mostre que B1 e B2 são iguais se, e somente se, dado qualquer v ∈ V , [v]B1 = [v]B2 .
Exercı́cio 8.4. Seja V 6= 0 um espaço finitamente gerado e seja A := {a1 , ..., an } ⊂ V ordenado
tal que [A]
Pn= V , masP A não é base de V . Mostre que existem v ∈ V e α1 , ..., αn , β1 , ..., βn ∈ R
tais que i=1 αi ai = ni=1 βi ai = v, mas αi 6= βi para algum i = 1, ..., n.
9 Transformações lineares
Vamos agora considerar funções entre espaços vetoriais. Para nós vão interessar as funções que
preservam a estrutura de espaço vetorial. Tais funções são as descritas na próxima definição.
Definição 9.1. Sejam U e V espaços vetoriais. Uma função T : U −→ V é dita uma trans-
formação linear se, dados u1 , u2 ∈ U e α ∈ R temos:
(i) T (u1 + u2 ) = T (u1 ) + T (u2 );
28
Muitas vezes iremos denotar T u em vez de T (u).
Exemplo 9.2. Sejam U e V espaços vetoriais. Considere T : U −→ V dada por T (u) := 0 para
qualquer u ∈ U . Temos que T é linear. De fato, dados u1 , u2 ∈ U , temos T (u1 + u2 ) = 0 =
0 + 0 = T (u1 ) + T (u2 ) e, dado α ∈ R, temos que T (αu1 ) = 0 = α0 = αT (u1 ).
Exemplo 9.3. Seja V um espaço vetorial. Considere T : V −→ V dada por T (v) := v para
qualquer v ∈ V . Temos que T é linear. De fato, dados v1 , v2 ∈ V , temos que T (v1 + v2 ) =
v1 + v2 = T (v1 ) + T (v2 ) e, dado α ∈ R, temos que T (αv1 ) = αv1 = αT (v1 ).
Exemplo 9.5. Considere Pn+1 e Pn com as operações usuais. Temos que D : Pn+1 −→ Pn
dada por D(p) := p0 (isto é, a derivada1 de p) é uma transformação linear. De fato, sejam
an+1 xn+1 + an xn + · · · + a0 , bn+1 xn+1 + bn xn + · · · + b0 ∈ Pn+1 . Temos
29
O próximo resultado diz que a imagem de uma transformação linear é um espaço vetorial.
Dem.: Temos que T (0) = T (0 · 0) = 0T (0) = 0. Logo, 0 ∈ ImT . Sejam v1 , v2 ∈ ImT . Então
existem u1 , u2 ∈ U tais que T (u1 ) = v1 e T (u2 ) = v2 . Temos que v1 + v2 = T (u1 ) + T (u2 ) =
T (u1 + u2 ) e, como u1 + u2 ∈ U , temos que v1 + v2 ∈ ImT . Sejam v ∈ ImT e α ∈ R. Seja u ∈ U
tal que T (u) = v. Temos que αv = αT (u) = T (αu) e, como αu ∈ U , temos que αv ∈ ImT .
Temos que composta de transformações lineares é uma transformação linear, como mostra o
resultado a seguir.
Dem.: Primeiramente, note que, como T (u) ∈ V , podemos tomar F (T (u)) e, portanto, F ◦ T
está bem definida. Sejam u1 , u2 ∈ U . Temos:
(F ◦ T )(u1 + u2 ) = F (T (u1 + u2 ))
= F (T (u1 ) + T (u2 ))
= F (T (u1 )) + F (T (u2 ))
= (F ◦ T )(u1 ) + (F ◦ T )(u2 )
9.1 Exercı́cios
30
Exercı́cio 9.4. Sejam V um espaço Pnvetorial e BP:= {v1 , ..., vn } uma base ordenada de V . Seja
n
T : V −→ R dada por T (v) := i=1 αi onde i=1 αi vi = v. Considerando R como espaço
vetorial com as operações usuais, mostre:
(a) T está bem definida, isto é, se ni=1 αi vi = ni=1 βi vi então T ( ni=1 αi vi ) = T ( ni=1 βi vi ).
P P P P
Exercı́cio 9.5. Seja V um espaço vetorial finitamente gerado. Seja B := {v1 , ..., vn }Puma base
para V . Para cada i = 1, ..., n considere Πi : V −→ V dada por Πi (v) = αi vi onde v = nj=1 αj vj .
Mostre, para cada i = 1, ..., n:
(a) Πi está bem definida, isto é, se nj=1 αj vj = nj=1 βj vj então Πi ( nj=1 αj vj ) = Πi ( nj=1 βj vj ).
P P P P
Exercı́cio 9.6. Sejam U e V espaços vetoriais. Seja B := {u1 , ..., un } base para U . Mostre que
[T (u1 ), ..., T (un )] = ImT .
Dada uma transformação linear T : U −→ V podemos nos perguntar se conseguimos uma outra
transformação linear que faça o “caminho inverso”, isto é, uma transformação F : V −→ U tal
que F (T (u)) = u para qualquer u ∈ U . Nesta seção vamos ver quando isso é possı́vel e algumas
generalizações.
Definição 10.1. Sejam A e B conjuntos não vazios. Seja f : A −→ B uma função. Dizemos que
f é uma função injetora quando, dados a1 , a2 ∈ A, se f (a1 ) = f (a2 ) então a1 = a2 . Dizemos
que f é uma função sobrejetora se, para qualquer b ∈ B, temos que existe a ∈ A tal que
f (a) = b. Isto é, quando temos que Imf = B. Dizemos que f é uma função bijetora se ela é
injetora e sobrejetora simultaneamente.
Proposição 10.2. Sejam A e B conjuntos. Seja f : A −→ B uma função bijetora. Então existe
uma única função g : B −→ A tal que, para todo a ∈ A, a = g(f (a)).
Dem.: Para cada b ∈ B existe ab ∈ A tal que f (ab ) = b (pois f é sobrejetora). Defina g : B −→ A
dada por g(b) := ab . Seja a ∈ A. Seja b ∈ B tal que f (a) = b. Note que ab = a, pois f é injetora
(isto é, só existe um a0 ∈ A tal que f (a0 ) = b). Assim, g(f (a)) = g(b) = ab = a.
31
Vamos agora mostrar que g é única com tal propriedade. Seja h : B −→ A tal que h(f (a)) = a
para todo a ∈ A. Seja b ∈ B e seja a ∈ A tal que f (a) = b. Temos
Vimos que se uma função qualquer é bijetora, podemos construir uma inversa. Agora, vol-
tando ao nosso problema original, veremos que se T é uma transformação linear bijetora, então
sua inversa também é uma transformação linear.
Dem.: Sejam v1 , v2 ∈ V . Sejam u1 , u2 tais que T (u1 ) = v1 e T (u2 ) = v2 (podemos fazer isso
pois T é sobrejetora). Temos
Associado a uma transformação linear qualquer, temos dois subespaços naturalmente associ-
ados: o núcleo e a imagem da transformação. A imagem nós já vimos que é um subespaço de V .
Vejamos agora o núcleo:
N ucT := {u ∈ U : T (u) = 0}
32
Dem.: Pelo exercı́cio 9.2, temos que 0 ∈ N ucU . Sejam a, b ∈ N ucT . Temos T (a + b) =
T (a) + T (b) = 0, logo, a + b ∈ N ucT . Seja α ∈ R. Temos T (αa) = αT (a) = α0 = 0, logo,
αa ∈ N ucT . Assim, N ucT é um subespaço vetorial de U .
Dem.: Suponha que T é injetora. Temos que mostrar que N ucT = {0}. Como T (0) = 0, temos
que {0} ⊂ N ucT . Suponha que não é verdade que N ucT ⊂ {0}. Então existe u ∈ U com u 6= 0
tal que T (u) = 0 = T (0), contrariando que T é injetora.
Suponha que N ucT = {0}. Sejam u, w ∈ U tais que T (u) = T (w) temos que mostrar que
u = w. De T (u) = T (w), temos que 0 = T (u) − T (w) = T (u − w). Logo, u − w ∈ N ucT = {0}
e, portanto, u − w = 0. Ou seja, u = w.
Exemplo 10.8. Considere U e V espaços vetoriais. Seja T : U −→ V dada por T (u) := 0 para
todo u ∈ U . Temos que N ucT = U . Assim T é injetora se, e somente se, U = {0}. Observe
também que T é sobrejetora se, e somente se, V = {0}.
Exemplo 10.9. Considere U um espaço vetorial. Seja T : U −→ U dada por T (u) := u para
todo u ∈ U . Note que T é bijetora. Observe também que T −1 = T .
Note que T é sobrejetora. De fato, dado (x, y) ∈ R2 , temos que T (x, y, 0) = (x, y).
33
10.1 Exercı́cios
Exercı́cio 10.1. Exiba quatro transformações lineares de R3 em R3 cujos núcleos tenham di-
mensão 0, 1, 2 e 3 respectivamente.
Exercı́cio 10.2. Calcule o núcleo e a imagem de cada transformação (em cada espaço, considere
as operações usuais).
(a) T (a, b, c, d) := (a + b, c)
(b) T (a, b) := a − b
(a) T é injetora se, e somente se, para qualquer A ⊂ U linearmente independente, temos que
T [A] é linearmente independente.
(b) Sejam u1 , ..., un ∈ U . Se T (u1 ), ..., T (un ) são linearmente independentes, então u1 , ..., un são
linearmente independentes.
Exercı́cio 10.5. Considere a transformação linear G obtida no exercı́cio 9.3. Descreva N ucG
em termos de N ucF e N ucT .
O próximo resultado nos dá uma maneira simples de definir uma transformação linear:
Proposição 11.1. Sejam U um espaço vetorial finitamente gerado e V um espaço vetorial qual-
quer. Seja B := {b1 , ..., bn } ⊂ U uma base para U . Para cada bi ∈ B, seja vi ∈ V . Então existe
uma única transformação linear T : U −→ V tal que T (bi ) = vi para todo bi ∈ B.
34
Pn
Dem.: Dado v ∈ U , existem α1 , ...αn ∈ R tais que v = i=1 αi bi (lembre que tais αi ’s são
únicos). Defina
n
X
T (v) := αi T (bi )
i=1
Vamos mostrar
P que T assim P definida é linear. Sejam u, v ∈ U . Sejam α1 , ..., αn , β1 , ..., βn ∈ R
tais que u = ni=1 αi bi e v = ni=1 βi bi . Temos
T (u + v) = Pni=1 (αi + βi )T (b
P
n Pin)
= α
i=1 i T (b i ) + i=1 βi T (bi )
= T (u) + T (v)
Vamos agora mostrar que T é a única transformação linear que satisfaz o enunciado. Seja
F : U −→ V satisfazendo o enunciado. Sejam u ∈ U e α1 , ...αn ∈ R tais que u = ni=1 αi bi .
P
Temos
F (u) = F ( ni=1 αi bi )
P
∗ Pn
= i=1 αi F (bi )
∗∗ Pn
= i=1 αi T (bi )
= T (u)
onde (∗) vale pois F é linear e (∗∗) vale por hipótese.
Dem.: Seja n := dim U . Como N ucT ⊂ U , temos que N ucT é finitamente gerado. Seja
k := dim N ucT . Note que k ≤ n. Note que, se k = n, o resultado vale já que T é a função
constantemente nula. Suponha k = 0. Temos que T é injetora (por 10.7). Seja {a1 , ..., an }
base para U . Pelo exercı́cio 9.6, temos que ImT = [T (a1 ), ..., T (an )]. Pelo exercı́cio 10.4,
como T é injetora, temos que T (a1 ), ..., T (an ) são linearmente independentes. Assim, temos que
dim ImT = n e, portanto, temos o resultado.
Agora suponha que k > 0. Seja {b1 , ..., bk } base para N ucT . Como {b1 , ..., bk } é base,
temos que {b1 , ..., bk } é linearmente independente. Assim, por 7.7, existem u1 , ..., up ∈ U tais
que {b1 , ..., bk , u1 , ..., up } é uma base para U . Note que, assim, p = n − k. Vamos mostrar que
{T (u1 ), ..., T (up )} é base de ImT . Note que, com isso, teremos o resultado.
Pelo exercı́cio 9.6, temos que [T (b1 ), ..., T (bk ), T (u1 ), ..., T (up )] = ImT . Mas temos também
que [T (b1 ), ..., T (bk ), T (u1 ), ..., T (up )] = [T (u1 ), ..., T (up )] já que T (bi ) = 0 para todo i = 1, ..., k
(mostre que de fato vale a igualdade). Assim, temos que [T (u1 ), ..., T (up )] = ImT . Resta,
portanto, mostrar que T (u1 ), ..., T (up ) são linearmente independentes. Sejam α1 , ..., αp ∈ R
35
tais que α1 T (u1 ) + · · · + αp T (up ) = 0. Com isso, temos que 0 = T (α1 u1 ) + · · · + T (αp up ) =
T (α1 u1 + · · · αp up ). Logo, α1 u1 + · · · αp up ∈ N ucT = [b1 , ..., bk ]. Assim, temos que α1 u1 + · · · +
αp up ∈ [u1 , ..., up ] ∩ [b1 , ..., bk ]. Como {b1 , ..., bk , u1 , ..., up } é linearmente independente, temos,
pelo exercı́cio 4.7, α1 u1 + · · · αp up = 0. Como u1 , ..., up é linearmente independente, temos que
α1 = · · · = αp = 0 e, portanto {T (u1 ), ..., T (up )} é linearmente independente.
Exemplo 11.3. Considere M2 e R3 com as operações usuais. Vamos construir uma aplicação
linear T : M2 −→ R3 tal que
a 0
N ucT = A := : a, b ∈ R
0 b
Proposição 11.5. Sejam U e V espaços finitamente gerados tais que dim U = dim V . Seja
T : U −→ V uma transformação linear. As seguintes afirmações são equivalentes:
(i) T é um isomorfismo.
(ii) T é injetora.
(iii) T é sobrejetora.
36
Dem.: É imediato pelas definições que (i) ⇒ (ii) e (i) ⇒ (iii). Resta mostrar que (ii) ⇒ (i) e
(iii) ⇒ (i). Seja n := dim U = dim V .
(ii) ⇒ (i) Suponha que T é injetora. Então, por 10.7, temos que dim N ucT = 0. Por 11.2,
temos que n = dim Im + 0. Logo, ImT = V e, portanto, T é sobrejetora.
(iii) ⇒ (i) Suponha que T é sobrejetora. Então dim T = dim V = n. Assim, por 11.2, temos
que n = n + dim N ucT . Logo, dim N ucT = 0 e, por 10.7, temos que T é injetora.
Os próximos resultados dizem que, do ponto de vista da estrutura de espaço vetorial, dois
espaços com a mesma dimensão finita são iguais.
Teorema 11.6. Sejam U e V espaços vetoriais finitamente gerados de mesma dimensão. Então
U e V são isomorfos.
Dem.: Seja n := dim U = dim V . Sejam {u1 , ..., un } e {v1 , ..., vn } bases para U e V respecti-
vamente. Considere T : U −→ V tal que T (ui ) = vi para todo i = 1, ..., n. Por 11.5, basta
mostrarmos que T é injetora. Para isso, basta mostrarmos que,P se u ∈ N ucT , então u = 0. Seja
u ∈ N ucT . Então T (u) = 0. Sejam α1 , ..., αn ∈ R tais que u = ni=1 αi ui . Temos
0 = T
P(u)
= Pni=1 T (αi ui )
= Pni=1 αi T (ui )
m
= i=1 αi vi
11.1 Exercı́cios
Exercı́cio 11.1. Sejam U e V espaços vetoriais. Seja B := {u1 , ..., un } base para U . Seja T :
U −→ V uma transformação linear. É verdade que N ucT = [C], onde C := {bi ∈ B : T (bi ) = 0}?
Vale que [C] ⊂ N ucT ? Justifique.
37
Exercı́cio 11.3. Considere R4 com as operações usuais. Sejam U := {(a, a2 , a + b, −b) : a, b ∈ R}
e V := {(x, y, z, w) ∈ R4 : x − y = 0 e z + w = 0} subespaços vetoriais de R4 . Defina uma
transformação linear T : R4 −→ R4 tal que N ucT = U e ImT = V .
Exercı́cio 11.6. Seja U espaço vetorial finitamente gerado. Seja T : U −→ U . Suponha que
N ucT = ImT .
Exercı́cio 11.8. Sejam U e V espaços vetoriais finitamente gerados. Suponha que dim U 6=
dim V . Mostre que U e V não são isomorfos.
38
12 Matrizes de transformações lineares
Nesta seção veremos como podemos representar transformações lineares entre espaços de di-
mensão finita usando matrizes reais.
Definição 12.1. Sejam U e V espaços vetoriais. Sejam B := {b1 , ..., bn } e C := {c1 , ..., cm } bases
ordenadas para U e V respectivamente. Seja T : U −→ V uma transformação linear. Para cada
i = 1, ..., n, sejam α1i , ..., αmi ∈ R tais que T (bi ) = α1i c1 + · · · + αmi cm . Considere
α11 α12 · · · α1n
α21 α22 · · · α2n
M := . ∈ Mm×n
..
αm1 αm2 · · · αmn
Tal matriz é chamada de matriz da transformação T nas bases B e C e é denotada por [T ]BC .
O próximo resultado mostra uma utilidade de tal representação: aplicar uma transformação
a um vetor passa a ser mero cálculo matricial.
Proposição 12.2. Sejam U e V espaços vetoriais. Sejam B := {b1 , ..., bn } e C := {c1 , ..., cm }
bases ordenadas para U e V respectivamente. Seja T : U −→ V uma transformação linear. Então
vale a seguinte equação, dado u ∈ U :
Isto é, a matriz de T nas bases B e C multiplicada pelo vetor formado pelas coordenadas de u na
base B é igual ao vetor das coordenadas de T (u) na base C.
Dem.: Para cada i = 1, ..., n, sejam α1i , ..., αmi ∈ R tais que T (bi ) = α1i c1 + · · · + αmi cm . Seja
u ∈ U . Sejam β1 , ..., βn ∈ R tais que u = β1 b1 + · · · βn bn . Temos
Pn
α11 α12 · · · α1n β1 i=1 α1i βi
α21 α22 · · · α2n β2 Pn α2i βi
i=1
.. =
.. ..
. . .
Pn
αm1 αm2 · · · αmn βn i=1 αmi βi
39
Exemplo 12.3. Seja T : M2 −→ R3 dada por
a b
T := (a + b, c, d − c)
c d
Considere B a base canônica de M2 e C := {(1, 1, 0), (0, 1, 0), (0, 1, 1)} base do R3 . Temos
1 0
T = (1, 0, 0) = 1(1, 1, 0) − 1(0, 1, 0) + 0(0, 1, 1) = (1, −1, 0)C
0 0
0 1
T = (1, 0, 0) = 1(1, 1, 0) − 1(0, 1, 0) + 0(0, 1, 1) = (1, −1, 0)C
0 0
0 0
T = (0, 1, −1) = 0(1, 1, 0) + 2(0, 1, 0) − 1(0, 1, 1) = (0, 2, −1)C
1 0
0 0
T = (0, 0, 1) = 0(1, 1, 0) − 1(0, 1, 0) + 1(0, 1, 1) = (0, −1, 1)C
0 1
Assim, temos que
1 1 0 0
[T ]BC = −1 −1 2 −1
0 0 −1 1
1 2
Seja u := ∈ M2 . Vamos calcular T (u) de duas maneiras. Comecemos com a própria
3 4
definição de T . Desta forma, temos
1 2
T = (1 + 2, 3, 4 − 3) = (3, 3, 1)
3 4
Agora, usemos a matriz [T ]BC . Antes, observe que [u]B = (1, 2, 3, 4)B . Assim, temos
1
1 1 0 0 2 1+2 3
−1 −1 2 −1 = −1 − 2 + 2 · 3 − 4 = −1
3
0 0 −1 1 −3 + 4 1
4
Com isso, temos que [T (u)]C = (3, 1, 1)C . Voltando para as coordenadas usuais, temos:
40
Dem.: Considere ei ∈ Rn tal que ei = (0, ..., 1, ..., 0) onde o “1” aparece na i-ésima coordenada.
Note que dada uma matriz M ∈ Mm×n , temos que M ei é igual a i-ésima coluna da matriz M .
Assim, como Au = Bu para qualquer u ∈ Rn , em particular temos que Aei = Bei . Assim, a
i-ésima coluna de A e B são iguais. Como i é qualquer, temos que A = B.
Corolário 12.5. Seja U, V espaços vetoriais finitamente gerados. Sejam B, C bases para U e V
respectivamente. Seja T : U −→ V uma transformação linear. Seja M ∈ MdimV ×dimU tal que,
para qualquer u ∈ U , M [u]B = [T (u)]C . Então M = [T ]BC .
Dem.: Basta notar que M a = [T ]BC a para qualquer a ∈ RdimU .
Finalmente, vamos mostrar que o caminho inverso também é verdadeiro, isto é, dada uma
matriz, existe uma transformação associada.
Proposição 12.7. Sejam U e V espaços vetoriais. Sejam B := {b1 , ..., bn } e C := {c1 , ..., cm }
bases para U e V respectivamente. Então, dada uma matriz A ∈ Mm×n existe uma única trans-
formação linear T : U −→ V tal que [T ]BC = A.
Dem.: Sejam αij com i = 1, ..., m e j = 1, ..., n tais que
α11 α12 · · · α1n
α21 α22 · · · α2n
A= .
..
αm1 αm2 · · · αmn
Por 11.1,Pexiste uma única transformação linear T : U −→ V tal que, para cada j = 1, ..., n,
T (uj ) = m
i=1 αij ci . Observe que [T ]BC = A.
41
12.1 Exercı́cios
a b
Exercı́cio 12.2. Considere T : M2 −→ R2
dada por T := (a + b, 2(c − d)). Encontre
c d
4 4 0 0
uma base C para R2 tal que [T ]BC = , onde B é a base canônica de M2 .
0 0 6 −6
Exercı́cio 12.3. Sejam U e V espaços vetoriais finitamente gerados. Sejam B = {b1 , ..., bn }
e C := {c1 , ..., cm } bases para U e V respectivamente. Sejam T : U −→ V e F : U −→ V
transformações lineares. Considere G : U −→ V dada por G(u) = T (u) + F (u) para todo u ∈ U .
Escreva [G]BC em termos de [T ]BC e [F ]BC .
42
13 Matriz de mudança de base
Nesta seção vamos nos aprofundar um pouco no caso particular de quando queremos usar a
representação matricial apenas para obter uma mudança na base em que os vetores serão escritos.
Definição 13.1. Sejam U um espaço vetorial e B := {b1 , ..., bn } e C := {c1 , ..., cn } bases ordena-
das para U . Chamamos de matriz de mudança de base de C para B a matriz [Id]BC , onde
Id : U −→ U é tal que Id(u) := u para todo u ∈ U .
Proposição 13.2. Sejam U um espaço vetorial e B := {b1 , ..., bn } e C := {c1 , ..., cn } bases
ordenadas para U . Se A é a matriz de mudança de base de C para B, então A−1 (a matriz
inversa de A) existe e é a matriz de mudança de base de B para C.
Dem.: Lembre-se que X é a inversa de A se, e somente se, AX = I onde I é a matriz formada
por aij com i = 1, ..., n e j = 1, ..., n tal que
1 se i = j
aij =
0 se i 6= j
Lembre-se também que Y = I se, e somente se, para todo r ∈ Rn temos que Y r = r. Assim, para
mostrarmos o resultado, basta mostrarmos que AXr = r para todo r ∈ Rn onde X é a matriz de
mudança de base de C para B. Seja r ∈ Rn . Seja u ∈ U tal que [u]C = r. Temos:
AXr = AX[u]C
= A(X[u]C )
= A([u]B )
= [u]C
= r
Assim, temos o resultado.
Corolário 13.3. Sejam U um espaço vetorial e B := {b1 , ..., bn } e C := {c1 , ..., cn } bases orde-
nadas para U . Seja T : U −→ U uma transformação linear. Seja P a matriz de mudança de
base de C para B. Então [T ]BB = P −1 [T ]CC P .
Dem.: Basta mostrarmos que, dado u ∈ U , P −1 [T ]CC P [u]B = [T (u)]B . De fato, temos
P −1 [T ]CC P [u]B = P −1 [T ]CC [u]C
= P −1 [T (u)]C
= [T (u)]B
43
13.1 Exercı́cios
Exercı́cio 13.1. Considere R3 com as operações usuais. Seja B := {(1, 1, 1), (0, 1, 1), (1, 1, 0)}
base do R3 . Calcule:
Exercı́cio 13.2. Considere R4 com as operações usuais. Sejam B := {(1, 0, 1, 0), (0, 1, 0, 1),
(1, −1, 0, 0), (0, 0, 1, 1)} e C := {(2, 1, 0, 0), (1, 0, 2, 0), (0, 4, 6, 0), (0, 0, 2, 8)} bases para R4 . Cal-
cule:
2 1 0
3
Exercı́cio 13.3. Considere R com as operações usuais. Considere A := 0 1 1 e C :=
1 0 0
{(1, 0, 0), (0, 1, 1), (1, 0, 1)}. Sabendo que A é a matriz de mudança de base de B para C, calcule
B.
44
14 O espaço L(U, V )
Nesta seção veremos um importante exemplo de espaço vetorial, o espaço das transformações
lineares entre dois espaços.
Proposição 14.1. Sejam U e V espaços vetoriais. Seja F(U, V ) o conjunto de todas as funções
f : U −→ V . Considere em A as seguintes operações, dadas f, g ∈ F(U, V ), u ∈ U e α ∈ R:
Dem.: Esta demonstração fica como exercı́cio. Repare que não é muito diferente do caso em que
U = V = R que nós já fizemos.
Definição 14.2. Sejam U e V espaços vetoriais. Denotamos por L(U, V ) o conjunto de todas as
transformações lineares T : U −→ V .
Dem.: Note que a função identicamente nula é o elemento neutro de F(U, V ). Como tal função
é linear, temos que ela pertence a L(U, V ). Sejam T, F ∈ L(U, V ). Vamos mostrar que (T + F ) ∈
L(U, V ), isto é, vamos mostrar que (T + F ) é linear. Sejam a, b ∈ U . Temos
(T + F )(a + b) = T (a + b) + F (a + b)
= T (a) + T (b) + F (a) + F (b)
= (T + F )(a) + (T + F )(b)
Sejam α ∈ R. Temos
(λT )(a + b) = λT (a + b)
= λT (a) + λT (b)
= (λT )(a) + (λT )(b)
45
Seja α ∈ R. Temos
Apesar de ter uma construção mais complicada, o espaço L(U, V ), do ponto de vista de
espaços vetoriais, é bem simples1 :
14.1 Exercı́cios
Mostre que {Eij ∈ Mm×n : 1 ≤ i ≤ m e 1 ≤ j ≤ n} é uma base para Mm×n . Conclua que
dim Mm×n = mn.
1
Veja os exercı́cios desta seção para uma demonstração alternativa a este fato.
46
Exercı́cio 14.2. Sejam U e V espaços vetoriais finitamente gerados. Sejam m := dim V e
n := dim U . Sejam B := {u1 , ..., un } e C := {v1 , ..., vm } bases para U e V respectivamente. Para
cada i, j ∈ N tais que 1 ≤ i ≤ m e 1 ≤ j ≤ n, seja Tij : U −→ V tal que
vi se j = k
Tij (uk ) =
0 caso contrário
15 Diagonalização
Nesta seção vamos desenvolver um método em que, quando possı́vel, mudamos a base do espaço
para uma em que a matriz associada a uma transformação dada fique mais fácil de se fazer contas.
Exemplo 15.2. Considere R2 com as operações usuais. Seja T : R2 −→ R2 dada por T (a, b) :=
(4b, 4a). Observe que 4 é um auto valor de T e (1, 1) é um auto vetor associado a 4 já que
T (1, 1) = 4(1, 1).
47
Dem.: Seja u ∈ U , u 6= 0 tal que T (u) = λu. Temos
Logo, u ∈ N uc(λId − T ).
Agora suponha que exista u 6= 0 tal que u ∈ N uc(λId − T ). Então 0 = (λId − T )(u) =
λu − T (u). Portanto, T (u) = λu.
O próximo resultado mostra que a escolha da base B no resultado anterior não influencia o
polinômio.
det[xId − T ]B = det(xI − [T ]B )
= det(xM −1 IM − M −1 [T ]C M )
= det(M −1 (xI − [T ]C )M )
= det(M −1 )det(xI − [T ]C )detM
= det(xI − [T ]C )
= det[xId − T ]C
48
Definição 15.8. Seja U um espaço vetorial finitamente gerado, T : U −→ U uma transformação
linear e B uma base para U . Então p(x) := det[xId − T ]B é dito o polinômio caracterı́stico
de T .
Dem.: Vamos mostrar o resultado por indução sobre n. Caso n = 1, temos o resultado já que
todo auto vetor é não nulo. Suponha que temos o resultado para n e vamos mostrar para n + 1.
Suponha que v1 , ..., vn , vn+1 sejam linearmente dependentes. Então existem i tal que 1 ≤ i ≤ n+1
e α1 , ..., αn+1 tais que
n+1
X
vi = αj vj . (2)
j=1
j 6= i
Aplicando T dos dois lados da equação e usando o fato que cada vj é auto vetor, obtemos:
n+1
X
λi vi = αj λj vj .
j=1
j 6= i
Temos dois casos. Primeiro, suponha que λi = 0. Então, como {vj : j 6= i} é linearmente
independente (pela hipótese de indução), temos que cada αj = 0 para j 6= i (pois todo λj 6= 0
para j 6= i, já que todos os auto valores são distintos). Substituindo tais valores em (2) temos
que vi = 0, contradição.
Agora vamos fazer o caso λi 6= 0. Temos que
n+1
X λj
vi = αj vj .
λi
j=1
j 6= i
Subtraindo esta equação de (2) e novamente usando o fato de {vj : j 6= i} ser linearmente
λ
independente, obtemos que, para cada j 6= i, temos que αj = αj λji . Assim, cada λj = λi ,
contradição com o fato deles serem todos distintos.
49
Dem.: Para cada i = 1, .., n, sejam {b1i , ..., bmi i } = Bi . Sejam α11 , ..., αm1 1 , ..., α1n , ..., αmn n ∈ R
tais que
Xm1 mn
X
αi1 bi1 + · · · + αin bin = 0.
i=1 i=1
Pmj
Para cada i = 1, ..., n, seja vi := j=1 αji bji . Observe que vj é auto vetor associado a λi ou
vi = 0 (por 15.5). Se vi = 0, temos que α1i = · · · = αmi i = 0, já que {b1i , ..., bmi i } é linearmente
independente. Assim, só precisamos cuidar do caso em que algum vi 6= 0. Seja u a soma de todos
os vi tais que vi 6= 0. Observe que u = 0 (pois os que foram ignorados na conta já eram 0). Como
cada vi é auto vetor associado a um auto valor diferente, temos uma contradição com o lema.
Assim, os auto valores de T são 1 e 2. Vamos procurar agora os auto vetores associados. Da
definição de auto vetor, temos que, se (a, b, c) é um auto vetor associado a 1, então T (a, b, c) =
1(a, b, c). Observe que o mesmo vale na base B (veja o exercı́cio 15.1), assim, se (a, b, c) são as
coordenadas de um auto vetor na base B, temos:
1 2 0 a a
0 1 0 b = b
3 −4 2 c c
50
De onde obtemos que b = 0 e c = −3a. Assim, temos que os auto vetores associados a 1 são
da forma (a, 0, −3a). Note que (1, 0, −3) é um auto vetor associado a 1 e que não é possı́vel
encontrar um segundo auto vetor associado a 1 e que seja linearmente independente com esse.
Agora procuremos os auto vetores associados a 2. Temos
1 2 0 a 2a
0 1 0 b = 2b
3 −4 2 c 2c
Assim, temos que os auto vetores associados a 2 são da forma (0, 0, c). Assim, o vetor (0, 0, 1)
é um auto vetor associado a 2. Observe que C = {(1, 0, −3), (0, 0, 1)} nâo é uma base para R3
e não é possı́vel encontrar uma base para R3 formada apenas por auto vetores. Logo, T nâo é
diagonalizável.
51
Assim, obtemos o sistema:
a+b−c=0
2b = 0
−a + b + c = 0
De onde concluimos que b = 0 e a = c. Logo, os auto vetores associados a 0 são da forma (a, 0, a).
Logo, {(1, 0, 1)} é um conjunto linearmente independente maximal de auto vetores associados a
0.
Agora vamos calcular os auto vetores associados a 2. Temos
1 1 −1 a 2a
0 2 0 b = 2b
−1 1 1 c 2c
De onde obtemos que c = b − a. Logo, os auto vetores associados a 2 são da forma (a, b, b − a).
Assim, {(1, 0, −1), (0, 1, 1)} é um conjunto linearmente independente maximal de auto vetores
associados a 2.
Com isso, temos que o conjunto C := {(1, 0, 1), (1, 0, −1), (0, 1, 1)} é uma base para R3 formada
por auto vetores de T . Logo, T é diagonalizável. Temos também que
0 0 0
[T ]C = 0 2 0
0 0 2
15.1 Exercı́cios
Exercı́cio 15.1. Seja U um espaço vetorial finitamente gerado. Sejam B base para U e n :=
dim U . Sejam u, v ∈ U e λ ∈ R. Sejam α1 , ..., αn , β1 , ..., βn ∈ R tais que [u]B = (α1 , ..., αn )B e
[v]B = (β1 , ..., βn )B . Mostre que u = λv se, e somente se, αi = λvi para todo i = 1, ..., n.
52
Exercı́cio 15.2. Sejam U um espaço vetorial e T : U −→ U uma transformação linear. Suponha
que T não é injetora. Mostre que T admite um auto valor.
Exercı́cio 15.3. Seja T : R3 −→ R3 uma transformação linear. Suponha que 1, 2 e 3 sejam auto
valores para T . Suponha também que (1, 1, 0) é um auto vetor associado a 1, (0, 1, 1) é um auto
vetor associado a 2 e que (0, 0, 1) é um auto vetor associado a 3. Seja (a, b, c) ∈ R3 . Calcule
T (a, b, c).
Exercı́cio 15.6. Seja T : U −→ U um operador linear tal que [T ]B é sempre uma matriz diagonal
para toda base B. Mostre que existe λ ∈ R tal que T = λId.
53
16 Funcionais lineares
Nesta seção vamos estudar um caso particular de transformações lineares, a saber, o caso em que
o contra domı́nio é o conjuntos dos números reais.
Definição 16.1. Seja V um espaço vetorial. Considere R com as operações usuais. Dizemos que
f : V −→ R é um funcional linear se f é uma transformação linear.
Note que V ∗ = L(V, R) e, portanto, é um espaço vetorial com as operações usuais de funções.
Proposição 16.3. Seja V um espaço vetorial finitamente gerado. Seja B := {b1 , ..., bn } uma
base para V . Sejam e1 , ..., en ∈ V ∗ tais que
1 se i = j
ei (bj ) =
0 se i 6= j
54
Proposição 16.5. Sejam V um espaço vetorial finitamente gerado e B uma base ordenada
para V . Considere B ∗ = {e1 , ..., en } a base dual de B. Dado v ∈ V temos que [v]B =
(e1 (v), ..., en (v))B .
Dem.: Seja {v1 , ..., vn } = B. Sejam α1 , ..., αn ∈ R tais que v = ni=1 αi vi . Temos que mostrar
P
que, para cada i = 1, ..., n, vale αi = ei (v). Seja i tal que 1 ≤ i ≤ n. Temos
Xn
ei (v) = ei ( αj vj )
j=1
n
X
= αj ej (vj )
j=1
= αi
Proposição 16.6. Sejam V um espaço vetorial finitamente gerado e B = {b1 , ..., bn } base para
V . Seja B ∗ = {e1 , ..., en } a base dual de B. Seja f ∈ V ∗ . Então [f ]B ∗ = (f (b1 ), ..., f (bn ))B ∗ .
Dem.: Seja f ∈ V ∗ . Sejam α1 , ..., αn ∈ R tais que, para qualquer v ∈ V , temos que f (v) =
α1 e1 (v) + · · · αn en (v). Temos que mostrar que, para cada i = 1, ..., n, αi = f (bi ). Seja i = 1.
Temos
f (bi ) = α1 e1 (bi ) + · · · αn en (bi )
= αi ei (bi )
= αi
Proposição 16.7. Sejam U e V espaços vetoriais. Seja B := {b1 , ..., bn } uma base para V
e B ∗ := {e1 , ..., en } base dual para B. Seja T : U −→ V uma função. Temos que T é uma
transformação linear, se, e somente se, para cada i = 1, ..., n temos que ei ◦ T : U −→ R é um
elemento de U ∗ .
Dem.: ⇒) Como cada ei é uma transformação linear, temos que ei ◦ T é uma transformação
linear e, portanto, elemento de U ∗ .
⇐) Vamos mostrar que T é uma transformação linear. Observe que, dado u ∈ U temos que
T (u) = e1 (T (u))b1 + · · · + en (T (u))bn . Assim, sejam u, v ∈ U . Temos
T (u + v) = e1 (T (u + v))b1 + · · · en (T (u + v))bn
= e1 (T (u))b1 + · · · en (T (u))bn + e1 (T (v))b1 + · · · en (T (v))bn
= T (u) + T (v)
55
Agora sejam u ∈ U e α ∈ R. Temos
Definição 16.8. Seja V um espaço vetorial. Seja H ⊂ V um subespaço vetorial tal que existe
v∈
/ H tal que [H ∪ v] = V . Neste caso, dizemos que H é um hiperplano de V .
Dem.: ⇒) Como S é hiperplano, existe v ∈ / S tal que V = [{v} ∪ S]. Seja {b1 , ..., bn } base para
S. Note v ∈ / [b1 , ..., bn ] e, portanto, {v, b1 , ..., bn } é linearmente independente. Note também
que V = [{v} ∪ S] = [v, b1 , ..., bn ]. Assim, {v, b1 , ..., bn } é base para V . Defina f : V −→ R
tal que, f (v) = 1 e f (bi ) = 0 para todo i = 1, ..., n. Vamos verificar que N ucf = S. Seja
u ∈ N ucf . Sejam α0 , ..., αn ∈ R tais que u = α0 v + α1 b1 + · · · + αn bn . Aplicando T em
ambos os lados, temos que 0 = α0 . Logo, u ∈ [b1 , ..., bn ] = S. Assim, temos que N ucf ⊂ S.
Por outro lado, temos que, dado u ∈ S, existem α1 , ..., αn ∈ R tais que u = α1 b1 +· · ·+αn bn .
Aplicando f em ambos os lados, obtemos que f (u) = α1 f (b1 ) + · · · + αn f (bn ) = 0. Logo,
S ⊂ N ucf .
Já vimos que, em espaços de dimensão finita, dada uma base, podemos encontrar uma base
para o espaço dual. Vamos terminar esta seção mostrando que o caminho inverso também pode
ser feito. Mais que isso, vamos mostrar que ao se tomar a base dual para a base encontrada,
recuperamos a base original.
Proposição 16.11. Seja V espaço vetorial. Seja v ∈ V . Temos que gv : V ∗ −→ R dada por
gv (f ) = f (v) é um elemento de (V ∗ )∗ .
56
Dem.: Observe que, de fato, gv tem domı́nio V ∗ e contra domı́nio R. Resta verificarmos se gv é
linear. Sejam f, h ∈ V ∗ . Temos que mostrar que gv (f + h) = gv (f ) + gv (h).
gv (f + h) = (f + h)(v)
= f (v) + h(v)
= gv (f ) + gv (h)
A demonstração de que, dado α ∈ R temos que αgv (f ) = gv (αf ) para qualquer f ∈ V ∗ fica como
exercı́cio.
Proposição 16.12. Seja V espaço vetorial de dimensão finita. Seja B = {f1 , ..., fn } base para
V ∗ . Então existe A ⊂ V base para V tal que A∗ = B.
Dem.: Defina T : V −→ (V ∗ )∗ tal que, dado v ∈ V temos que T (v) = gv (onde gv é a função
definida no resultado anterior). Observe que, de fato, T é uma função com domı́nio V e contra
domı́nio (V ∗ )∗ . Vamos mostrar que T é um isomorfismo. Começamos mostrando que ela é linear.
Sejam α ∈ R, f ∈ V ∗ e u, w ∈ V . Temos
(T (u + w))(f ) = gu+w (f )
= f (u + w)
= f (u) + f (w)
= gu (f ) + gw (f )
= (T (u))(f ) + (T (w))(f )
(T (αu))(f ) = gαu (f )
= f (αu)
= αf (u)
= (αT (u))(f )
Vamos agora mostrar que ela é bijetora. Como temos que dim V = dim V ∗ = dim(V ∗ )∗ , basta
mostrar que T é injetora. Para isso, basta notar que gv (f ) = 0 para toda f ∈ V ∗ implica que
v = 0 (exercı́cio).
Vamos agora mostrar o resultado. Seja B ∗ = {w1 , ..., wn } base dual de B (ou seja, é uma
base para (V ∗ )∗ . Seja A = {b1 , ..., bn } onde, para cada i = 1, ..., n temos que bi = T −1 (wi ).
Podemos fazer isso já que T é um isomorfismo. Como T −1 é injetora, temos que A é linearmente
independente e, portanto, base para V . Vamos mostrar que A∗ = B. Sejam i, j = 1, ..., n. Temos:
57
16.1 Exercı́cios
Exercı́cio 16.1. Mostre que todo funcional linear não nulo é sobrejetor (mesmo para espaços de
dimensão infinita).
Exercı́cio 16.2. Seja V um espaço vetorial finitamente gerado. Seja v ∈ V tal que f (v) = 0
para todo f ∈ V ∗ . Mostre que v = 0.
Exercı́cio 16.3. Seja B = {b1, b2 , b3 } onde b1 := (2, 2, 0), b2 := (0, 3, 3) e b3 := (0, −1, 0) base
para R3 . Seja B ∗ = {e1 , e2 , e3 } base dual de B. Seja (a, b, c) ∈ R3 . Calcule e1 (a, b, c), e2 (a, b, c)
e e3 (a, b, c).
Exercı́cio 16.4. Considere R com as operações usuais. Mostre que toda transformação linear
T : R −→ R é da forma T (x) = rx onde r ∈ R.
Definição 17.1. Seja V um espaço vetorial. Um produto interno sobre V é uma função
h·, ·i : V × V −→ R que satisfaz as seguintes condições, dados u, v, w ∈ V e λ ∈ R:
58
(i) h0, vi = 0
(ii) Suponha que hv, vi = 0. Pela propriedade (d) da definição de produto interno, temos que
v = 0. Por outro lado, temos que, se v = 0, então hv, vi = h0, 0i = 0.
Exemplo 17.3. Considere Rn com as operações usuais. Sejam a := (a1 , ..., an ), b := (b1 , ..., bn ) ∈
Rn . Definimos
Xn
ha, bi := ai bi
i=1
Vamos mostrar que h·, ·i assim definido é de fato um produto interno. Sejam a := (a1 , ..., an ), b :=
(b1 , ..., bn ), c := (c1 , ..., cn ) ∈ Rn e λ ∈ R. Temos
(a) ha + b, ci = ni=1 (ai + bi )ci = ni=1 ai ci + ni=1 bi ci = ha, ci + hb, ci.
P P P
Proposição 17.4. Sejam U e V espaços vetoriais. Sejam h·, ·i um produto interno sobre V e
T : U −→ V uma transformação linear injetora. Então h·, ·iT : U × U −→ R dada por
59
(a) ha + b, ciT = hT (a + b), T (c)i = hT (a) + T (b), T (c)i = hT (a), T (c)i + hT (b), T (c)i = ha, ciT +
hb, ciT .
(b) hλa, biT = hT (λa), T (b)i = hλT (a), T (b)i = λhT (a), T (b)i = λha, biT .
(d) Suponha a 6= 0. Temos que T (a) 6= 0, pois T é injetora. Logo, hT (a), T (a)i > 0. Assim
ha, aiT = hT (a), T (a)i > 0.
Proposição 17.5. Sejam V um espaço vetorial e h·, ·i um produto interno sobre V . Dados
u, v ∈ V , temos que vale a seguinte desigualdade:
Como hv, vi > 0, temos que hv, vihu, ui − hu, vi2 ≥ 0. Isto é, temos hu, vi2 ≤ hv, vihu, ui.
Definição 17.6. Seja V um espaço vetorial. Dizemos que ||·|| : V −→ R é uma norma sobre V
se, dados u, v ∈ V e α ∈ R são satisfeitas as seguintes condições:
(a) ||v|| ≥ 0.
60
Exemplo 17.7. Considere em R2 a seguinte norma:
Vejamos que ela, de fato, é uma norma. Sejam (a, b), (c, d) ∈ R2 e λ ∈ R.
(c) ||λ(a, b)|| = ||(λa, λb)|| = |λa| + |λb| = |λ||a| + |λ||b| = |λ|(|a| + |b|) = |λ|||(a, b)||.
(d) ||(a, b) + (c, d)|| = ||(a + c, b + d)|| = |a + c| + |b + d| ≤ |a| + |b| + |c| + |d| = ||(a, b)|| + ||(c, d)||.
Teorema 17.8. Sejam V um espaço vetorial e h·, ·i um produto interno sobre V . Então ||·|| :
V −→ R dado por p
||v|| := hv, vi
para v ∈ V é uma norma sobre V . Chamamos ||·|| de norma induzida por h·, ·i.
Exemplo 17.9. Considere h(a, b), (c, d)i := ac + bd o produto interno usual em R2 . Temos que
a norma induzida por tal produto interno é
p p
||(a, b)|| := h(a, b), (a, b)i = a2 + b2
61
17.1 Exercı́cios
Exercı́cio 17.1. Considere R3 com as operações usuais. Verifique se h·, ·i é um produto interno,
justificando suas respostas, onde, dados (a, b, c), (d, e, f ) ∈ R3 :
Exercı́cio 17.2. Seja V um espaço vetorial com um produto interno h·, ·i.
Exercı́cio 17.3. Seja V um espaço vetorial com produto interno h·, ·i e com ||·|| a norma induzida.
Mostre que, dados u, v ∈ V , temos
1 1
hu, vi = ||u + v||2 − ||u − v||2
4 4
Exercı́cio 17.4. Seja V um espaço vetorial de dimensão finita. Mostre que V admite uma norma
induzida por um produto interno.
Definição 18.1. Sejam V um espaço vetorial e h·, ·i um produto interno sobre V . Dizemos que
u, v ∈ V são ortogonais se hu, vi = 0. Notação u⊥v.
Proposição 18.2. Sejam V um espaço vetorial e seja h·, ·i um produto interno sobre V . Seja
A ⊂ V tal que 0 ∈/ A e, dados u, v ∈ A distintos, temos que u e v são ortogonais. Então A é
linearmente independente.
62
Dem.: Suponha
Pn que não vale o resultado. Então existem v, v1 , ..., vn ∈ A e α1 , ..., αn ∈ R tais
que v = i=1 αi vi = 0 e v 6= vi para i = 1, ..., n. Considere ||·|| a norma induzida pelo produto
interno. Temos
||v||2 = hv, vi
Xn
= hv, αi vi i
i=1
n
X
= hv, αi vi i
i=1
Xn
= αi hv, vi i
i=1
= 0
Assim, pela hipótese de indução, temos que bi e bj são ortogonais para todo i, j = 1, ..., n + 1 com
i 6= j. E, como cada bi 6= 0, temos que {b1 , ..., bn+1 } é linearmente independente. Observe que
[B] ⊂ [A]. Como dim B = dim A, temos que [A] = [B].
63
Definição 18.4. Seja V um espaço vetorial de dimensão finita n ≥ 1. Dizemos que B :=
{b1 , ..., bn } é uma base ortonormal se seus elementos são ortogonais entre si e, dado bi ∈ B
temos ||b|| = 1.
Corolário 18.5. Seja V um espaço vetorial de dimensão finita n ≥ 1 com um produto interno
h·, ·i. Então V tem uma base ortonormal.
Dem.: Seja B = {b1 , ..., bb } uma base para V . Por 18.3, existe C = {c1 , ..., cn } tal que [C] = [B]
e os elementos de C são ortogonais entre si. Considere D := {d1 , ..., dn } onde, dado i = 1, ..., n
temos:
1
di := ci
||ci ||
Sejam i e j distintos. Temos que hdi , dj i = h ||c1i || ci , ||c1j || cj i = ||ci ||||c
1
j ||
hci , cj i = 0. Seja i = 1, ..., n.
q
1 1 1
p
Temos ||di || = hci , ci i = h ||ci || ci , ||ci || ci i = ||ci || ||ci || = 1. Assim, temos que C é um conjunto for-
mado por n elementos ortogonais entre si e todos não nulos. Assim, C é linearmente independente
e, portanto, é base para V .
Proposição 18.6. Seja V um espaço vetorial de dimensão finita n ≥ 1 com um produto interno
h·, ·i. Seja B : {b1 , ..., bn } uma base ortonormal para V . Sejam u, v ∈ V . Então hu, vi =
P n
i=1 αi βi , onde [u]B = (α1 , ..., αn )B e [v]B = (β1 , ..., βn )B .
Dem.: Sejam u, v ∈ V . Sejam α1 , ..., αn , β1 , ..., βn ∈ R tais que [u]B = (α1 , ..., αn )B e [v]B =
(β1 , ..., βn )B . Temos
Xn n
X
hu, vi = h αi bi , βi bi i
i=1 i=1
n
X n
X
= αi hbi , βj bj i
i=1 j=1
Xn
= αi βi
i=1
Proposição 18.7. Seja V um espaço vetorial com um produto interno h·, ·i. Seja v ∈ V . Então
f : V −→ R dada por
f (u) := hu, vi
para u ∈ V é um funcional linear.
64
Dem.: Seja a, b ∈ V e λ ∈ R. Temos
f (a + b) = ha + b, vi
= ha, vi + hb, vi
= f (a) + f (b)
f (λa) = hλa, vi
= λha, vi
= λf (a)
Teorema 18.8. Seja V um espaço vetorial de dimensão finita n ≥ 1. Seja f ∈ V ∗ . Então existe
v ∈ V tal que, para todo u ∈ V , f (u) = hu, vi.
Pn
Dem.: Seja B = {b1 , ..., bn } uma base ortonormal para V . Seja v := i=1 f (bi )bi . Vamos
mostrar que v satisfaz o enunciado. Para isso, vamos mostrar que g(bi ) = f (bi ) para todo
i = 1, ..., n onde g(u) := hu, vi para u ∈ V . Note que isso é suficiente pois B é base. Seja bi ∈ B.
g(bi ) = hbi , vi
Xn
= hbi , f (bj )bj i
j=1
= f (bi )
18.1 Exercı́cios
Exercı́cio 18.2. Mostre que a base canônica do R3 , com relação ao produto interno usual, é
uma base ortonormal.
Exercı́cio 18.3. Seja V um espaço vetorial e A = {a1 , ..., an } um conjunto cujos elementos são
ortogonais entre si. Seja λ ∈ R, com λ 6= 0. Mostre que B := {λa1 , ..., λan } também é um
conjunto cujos elementos são ortogonais entre si.
65
Exercı́cio 18.4. Considere R3 com as operações usuais. Seja f : R3 −→ R um funcional linear
tal que f (a, b, c) := a + 2b − 3c para a, b, c ∈ R. Encontre v ∈ R3 tal que f (u) = hu, vi onde h·, ·i
é o produto interno usual de R3 .
Começamos esta seção definindo uma forma de se obter um subespaço vetorial a partir de outros
dados.
a + b = (s1 + w1 ) + (s2 + w2 )
= (s1 + s2 ) + (w1 + w2 )
66
Dem.: Sejam v ∈ S ⊕ W , s1 , s2 ∈ S e w1 , w2 ∈ W tais que v = s1 + w1 = s2 + w2 . Temos
s1 − s2 = s1 − s2 + v − v
= s1 − s2 + s2 + w2 − s1 − w1
= w2 − w1
Proposição 19.5. Seja V espaço vetorial de dimensão finita. Suponha que V = S ⊕ W . Então
dim V = dim S + dim W .
Dem.: Sejam {s1 , ..., sn } base para S e {w1 , ..., wm } base para W . Vamos provar que {s1 , ..., sn ,
w1 , ..., wm } é base para S ⊕ W = V . Note que isso mostra o resultado.
Seja v ∈ V . Temos que existem s P ∈ S e w ∈ W tais Pmque v = s + w. Assim, existem
n
α
Pn 1 , ..., αn , β
Pm1 , ..., β m ∈ R tais que s = i=1 α i si e w = i=1 βi w1 . Assim, temos que v =
i=1 i α + β
i=1 i 1 w e, portanto, {s1 , ..., sn , w 1 , ..., w m } gera V . Resta mostrar que é linearmente
independente. Suponha que não, então existe algum elemento em {s1 , ..., sn , w1 , ..., wm } que pode
ser escrito como combinação linear dos outros. Vamos supor que seja um dos si ’s (o outro caso
é análogo). Assim, temos que si = s + w, onde s ∈ [{s1 , ..., sn } r {si }] e w ∈ [w1 , ..., wm ]. Por
outro lado, sabemos que si = si + 0, onde si ∈ S e 0 ∈ W . Assim, pelo resultado anterior, s = si
e w = 0. Ou seja, temos que si ∈ [{s1 , ..., sn } r {si }], contradição com o fato de {s1 , ..., sn } ser
base.
Definição 19.6. Seja V um espaço vetorial com um produto interno. Seja S subespaço de V .
Denotamos por S ⊥ o espaço ortogonal a S, isto é, o conjunto {v ∈ V : ∀s ∈ S v⊥s}.
Proposição 19.7. Seja V um espaço vetorial com um produto interno. Seja S subespaço de V .
Então S ⊥ é um subespaço de V .
Dem.: Note que 0 ∈ S ⊥ . Sejam a, b ∈ S ⊥ . Vamos mostrar que a + b ∈ S ⊥ . Para isso, seja s ∈ S.
Precisamos mostrar que (a + b)⊥s. De fato, temos ha + b, si = ha, si + hb, si = 0 + 0 = 0. Seja
a ∈ S ⊥ e α ∈ R. Temos que αa ∈ S ⊥ pois, dado s ∈ S temos hαa, si = αha, si = α0 = 0.
Proposição 19.8. Seja V espaço vetorial com produto interno. Seja S subespaço de V . Então
valem as seguintes propriedades:
(i) S ⊂ (S ⊥ )⊥ ;
67
(ii) S ∩ S ⊥ = {0}.
Proposição 19.9. Seja V espaço vetorial de dimensão finita com produto interno. Seja S
subespaço de V . Temos que V = S ⊕ S ⊥ .
Dem.: Temos que S ∩ S ⊥ = {0} pelo resultado anterior. Resta mostrar que, dado v ∈ V exitem
s ∈ S e t ∈ S ⊥ tais que v = s + t. Seja B1 base para S e B2 conjunto linearmente independente
tal que B1 ∪ B2 seja uma base para V . Por 18.3, existe C = C1 ∪ C2 base ortogonal para V
tal que C1 é base para S. Assim, temos que, dado v ∈ V , existem s ∈ [C1 ] e t ∈ [C2 ] tais que
v = s + t. Note que s ∈ S, já que C1 é base para S. Resta mostrar que t ∈ S ⊥ . O exercı́cio 19.4
diz que t é ortogonal a qualquer elemento de [C1 ] = S, logo t ∈ S ⊥ .
Corolário 19.10. Seja V espaço vetorial de dimensão finita e com produto interno. Seja S ⊂ V .
Então temos que (S ⊥ )⊥ = S.
Dem.: Já temos que S ⊂ (S ⊥ )⊥ . Resta mostrar a outra inclusão. Seja v ∈ (S ⊥ )⊥ . Pelo resultado
anterior, temos que existem s ∈ S e t ∈ S ⊥ tais que v = s + t. Se mostrarmos que t = 0, teremos
o resultado. Para isso, vamos mostrar que ht, ti = 0. Como s ∈ S e t ∈ S ⊥ , temos que ht, si = 0.
E, como t ∈ S t e v ∈ (S ⊥ )t , temos que ht, vi = 0. Assim
ht, ti = ht, v − si
= ht, vi − ht, si
= 0+0
= 0
19.1 Exercı́cios
Exercı́cio 19.1. Mostre que a condição de que S ∩ W = {0} em 19.4 é necessária. Isto é, dê um
exemplo de um espaço V , S, W ⊂ V subespaços e v ∈ V que possa ser escrito de duas maneiras
distintas na forma v = s + w com s ∈ S e w ∈ W .
68
Exercı́cio 19.3. Use o exercı́cio anterior e o exercı́cio 7.8 para mostra que, dados V espaço
vetorial de dimensão finita e S, W ⊂ V temos que dim(S + W ) = dim S + dim W − dim(S ∩ W ).
Use este resultado para dar outra demonstração do caso particular de 19.5.
Exercı́cio 19.4. Seja V espaço vetorial com produto interno. Sejam A, B ⊂ V tais que, para
quaisquer a ∈ A e b ∈ B temos que a⊥b. Então, dado v ∈ [B] temos que v⊥w para qualquer
w ∈ [A].
Exercı́cio 19.5. Seja V um espaço vetorial de dimensão finita e com produto interno. Seja
S ⊂ V subespaço vetorial. Considere T : V −→ S e F : V −→ S ⊥ dadas por T (v) = s e F (v) = t
para v = s + t onde s ∈ S e t ∈ S ⊥ .
69
20 Grafos
Nesta seção vamos fazer uma aplicação de álgebra linear à teoria dos grafos. Um grafo, informal-
mente falando, é uma coleção de pontos que podem, ou não, ser ligados por arestas. É comum
tais arestas terem uma direção, isto é, a aresta que sai de um ponto A e chega num ponto B é
diferente da aresta que sai do ponto B e chega no ponto A. Vejamos uma maneira mais formal
de se definir um grafo.
Definição 20.2. Seja G = (P, A) um grafo. Dizemos que C = {a1 , ..., an } ⊂ A é um caminho de
g1 para g2 em G se a1 (i) = g1 , an (f ) = g2 e, para todo j = 1, ..., n − 1 temos que aj (f ) = aj+1 (i).
Neste caso, dizemos que {a1 , ..., an } é um caminho de tamanho n. Dizemos que G é conexo
se, para dados g, h ∈ G, existe um caminho de g para h.
Definição 20.3. Seja G = (P, A) um grafo finito (isto é, tanto P como A são finitos). Fixamos
{p1 , ..., pn } uma ordem para P . Chamamos de matriz de conectividade de G a matriz M ∈
Mn×n onde cada elemento mjk da matriz é dado por
Ou seja, na linha j pela coluna k fica o número de arestas que saem de pj e chegam em pk .
Dem.: Por indução sobre r. Caso r = 1, segue diretamente da definição de matriz de conectivi-
dade. Agora suponha que já temos o caso r e vamos provar o caso r + 1. Sejam (ust )s,t=1,...,n e
(vst )s,t=1,...,n as matrizes M r e M respectivamente. Observe que o elemento na linha j da coluna
da k de M r+1 é dado por
Xn
ujs vsk
s=1
Pela hipótese se indução, ujs representa quantos caminhos de tamanho r existem ligando pj e
ps . E note que vsk representa quantas arestas existem ligando ps e pk . Temos que vsk = 0 se,
e somente se não existe uma aresta ligando ps e pk . Assim, ujs vsk representa quantos caminhos
existem de tamanho r saindo de pj e chegando em ps e que podem ser extendidos (com mais
uma aresta só) para pk . Como somamos o resultado para todos os ps possı́veis, temos o que
desejamos.
70
Corolário 20.5. Seja G um grafo com n pontos. Então G é conexo se, e somente se, M + M 2 +
· · · + M n−1 , onde M é a matriz de incidência de G, tem todos os seus elementos não nulos.
Dem.: Se todos os elementos de tal matriz são não nulos, é claro que o grafo é conexo. Por outro
lado, se G é conexo, dados dois pontos seus, existe um caminho que os une com no máximo n − 1
pontos (pois, se o caminho tiver mais pontos que isso, ele passa duas vezes por um mesmo ponto,
podendo assim ser encurtado). Assim, o elemento da matriz correspondente a esse caminho é
não nulo.
21 Continuidade
Note que essa definição coincide com a usual para funções de R em R (quando tomamos em
R a norma usual).
(ii) ⇒ (iii): Seja u ∈ U . Vamos mostrar que T é contı́nua em u. Seja ε > 0. Seja M como no
ε
item anterior. Considere δ = M . Seja a ∈ U tal que ||u − a|| < δ. Note que podemos supor
a 6= u. Temos:
||T (u) − T (a)|| = ||T (u − a)||
≤ M ||u − a||
< Mδ
ε
= MM
= ε
71
(iii) ⇒ (i): Imediato.
Proposição 21.3. Seja V um espaço vetorial de dimensão finita. Sejam || · ||1 e || · ||2 duas
normas sobre V . Então existem α, β > 0 tais que, para qualquer v ∈ V , temos:
Dem.: Seja B := {b1 , ..., bn } uma base para U . Considere || · ||0 : U −→ R dada por
n
X
0
||u|| := |αi |
i=1
onde [u]B = (α1 , ..., αn )B . Note que || · ||0 definida assim é uma norma sobre U . Seja α tal
que para qualquer u ∈ U temos que ||u||0 < α||u||. Seja A := max{||T (b1 )||, ..., ||T (bn )||} + 1.
Considere M := Aα. Seja u ∈ U . Vamos mostrar que ||T (u)|| < M ||u||. Temos
Referências
[1] M. Barone. Álgebra Linear. IME-USP, 1998.
[3] F. U. Coelho and M. L. Lourenço. Um curso de Álgebra Linear. Edusp, São Paulo, 2005.
[4] T. Lawson. Álgebra Linear. Editora Edgard Blücher, São Paulo, 1997.
72
Notação
(a1 , ..., an )B , 27
L(U, V ), 45
M2 , 5
N ucT , 32
S + W , 66
S ⊕ W , 66
S ⊥ , 67
Sol(E), 20
[A], 13
[v]B , 27
dim V , 24
u⊥v, 62
73
Índice Remissivo
arestas, 70 direta
auto soma, 66
valor, 47 dual
vetor, 47 base, 54
espaço, 54
base, 19
base elemento
dual, 54 neutro, 3
ordenada, 27 oposto, 4
ortonormal, 64 escalar
bijetora, 32 multiplicação por, 1
bijetora espaço
função, 31 dual, 54
ortogonal, 67
caminho, 70 solução, 20
caminho vetorial, 1
tamanho, de, 70
caracterı́stico finitamente
polinômio, 49 gerado, 23
combinação forma
linear, 12 diagonal, 52
completamento de base função
teorema do, 24 bijetora, 31
conectividade injetora, 31
matriz de, 70 inversa, 32
conjunto sobrejetora, 31
gerador, 13 funcional
contı́nua, 71 linear, 54
contı́nua
ponto, no, 71 gerado
coordenadas finitamente, 23
sistema de, 27 gerador
conjunto, 13
de grau menor ou igual a n grafo, 70
polinômios, 19 Gram-Schimdt
dependentes Processo de ortogonalização de, 63
linearmente, 15
diagonal hiperplano, 56
forma, 52 homogêneo
diagonalizável, 50 sistema linear, 20
dimensão, 24
independentes
dimensão
linearmente, 15
infinita, 24
74
induzida ortogonal
norma, 61 espaço, 67
induzidas ortonormal
operações, 7 base, 64
infinita
dimensão, 24 polinômio
injetora caracterı́stico, 49
função, 31 polinômios
interno de grau menor ou igual a n, 19
produto, 58 ponto
inversa contı́nua no, 71
função, 32 Processo de ortogonalização
isomorfismo, 36 Gram-Schimdt, de, 63
isomorfos, 36 produto
interno, 58
linear
combinação, 12 sistema
funcional, 54 coordenadas, de, 27
transformação, 28 sistema linear
linearmente homogêneo, 20
dependentes, 15 sobrejetora
independentes, 15 função, 31
solução, 20
matriz solução
conectividade, de, 70 espaço, 20
mudança de base, de, 43 soma, 1, 66
transformação, da, 39 soma
mudança de base direta, 66
matriz de, 43 subespaço
multiplicação vetorial, 7
escalar, por, 1 vetorial gerado, 13
núcleo, 32 tamanho
neutro caminho de, 70
elemento, 3 teorema
norma, 60 completamento de base, do, 24
norma transformação
induzida, 61 linear, 28
matriz da, 39
operações
induzidas, 7 valor
oposto auto, 47
elemento, 4 vetor, 1
ordenada vetor
base, 27 auto, 47
ortogonais, 62 vetorial
75
espaço, 1
subespaço, 7
vetorial gerado
subespaço, 13
76