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TRANSMISSÃO DE CALOR

PROF. HUGO LAGRECA FILHO

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I) INTRODUÇÃO

È a ciência que estuda as transferências de energia entre materiais, causadas por


diferenças de temperatura. Essa transferência de energia é definida como calor.
A transferência de calor é um dos fenômenos de transporte que também incluem
transferência de massa, quantidade de movimento e condução elétrica.
Fenômenos de transporte têm equações basicamente semelhantes: o fluxo é proporcional
a uma diferença de potencial. Na transferência de calor o potencial é a diferença de temperatura.
O objetivo do estudo da transferência de calor é explicar como essa energia pode ser
transferida e avaliar as taxas em que essa energia é transferida.
Diferentemente da termodinâmica - que permite calcular a quantidade de energia
necessária para que um sistema passe de um estado de equilíbrio para outro – a transferência de
calor pode prever a rapidez com que essa mudança pode ocorrer durante um desequilíbrio do
sistema considerado.

II) MODOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR

Os modos de transferência de calor:

CONDUÇÃO
CONVECÇÃO
RADIAÇÃO

Todos são importantes nas aplicações da refrigeração e do ar condicionado.

CONDUÇÃO

É o mecanismo no qual a energia é transportada entre partes de um meio contínuo devido


à transferência de energia cinética entre as partículas a nível atômico (difusão).
Nos metais a transferência é devido à movimentação de elétrons livres. Nos gases é
devido à colisão elástica de moléculas. Nos líquidos é devido à oscilação da estrutura molecular.
Nos sólidos em geral o mecanismo de transferência de calor é a condução.Nos fluxos de
fluido a condução domina na região próxima a uma superfície sólida onde o fluxo é laminar
(camadas), sem turbulências.

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A taxa de calor transferida por condução em regime permanente, unidirecional é dada
pela equação de FOURIER:

q = - kA T/ x (W) (1)

k – condutividade térmica do meio ( W/m.K) K ou oC


A – área de troca de calor (m2 )
T/ x – gradiente de temperatura ( K/m)

x
A

q
n Orientação positiva da normal

T T + T T < 0

A equação pode ser integrada ao longo do percurso do calor na direção normal:

q = k (An / Ln ) T (2)

An– seção normal ao fluxo de calor


Ln – comprimento do percurso
Define-se resistência térmica à relação:

R = Ln / k.An (K/W) (3)


e portanto:

q = T / R ( W ) (4)

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Para fluxos radiais em cilindros, a resistência é dada por:R = ln (re / ri ) /2k L (6)

Cilindro de comprimento L

ri
re

Aplicações:

1) Parede plana. - Calcular a resistência e a quantidade de calor transferida por m2.

1 2 K médio = 370 W/ m.K


t1 = 400 0 C

Calcular a resistência térmica e


a quantidade de calor
0
t2 = 100 C transferida por m2.

R = 8,1 * 10-5 K / W
Placa de cobre

q = 3700000 W / m2

L = 3 cm

Verifique a nova quantidade de calor trocada colocando-se um isolamento térmico com


as características: e = 30mm, K isolante = 0,06 W /m.K.
No caso de associação de paredes em série vale q = (to - tn ) / Ri , i = 1 a n, onde n é o
número de paredes em série

No caso Risol. = 0,03/ (0,06 *1) = 0,5 K/W q = (400-100) / (8,1* 10-5 + 0,5) =
= 600 W /m2. Observa-se, portanto, a importância do isolamento.

CONVECÇÂO

É sabido que uma superfície metálica aquecida irá se resfriar mais rapidamente quando
sobre ela passar ar com velocidade elevada se comparado com o ar parado. Isso mostra que a
velocidade do fluido influencia na velocidade da transferência de calor da superfície ao fluido.

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Esse processo de transferência que considera a interação térmica entre uma superfície e
um fluxo de fluido é chamado convecção e envolve o movimento do fluido sobre a superfície.
Se o movimento do fluido for realizado por uma fonte externa de movimentação, como
um ventilador, a convecção é chamada de forçada.Se o movimento sem uma fonte externa,
somente por diferença de densidade entre duas regiões do fluxo, o processo é chamado de
convecção natural.
Entre os tipos de equipamentos de interesse cujos processos são por convecção estão os
resfriadores e aquecedores de ar ou água, os condensadores, evaporadores e trocadores de calor
típicos.
A convecção está relacionada de alguma forma com o processo de desenvolvimento do
escoamento do fluido seja sobre uma superfície plana seja dentro ou fora de tubos.
Quando um fluido escoa sobre uma superfície plana, uma camada, onde os efeitos da
viscosidade do fluido são observados, se forma com regiões distintas Essa camada é chamada de
camada limite. Sua extensão e espessura estão em função das características de escoamento.

No desenho aparece a distribuição de velocidades na camada limite laminar (escoamento


em camadas ou filetes) e turbulento ( vórtices) onde uoo é a velocidade do fluxo principal acima
da camada limite ( fluxo em corrente livre não afetado pela parede) Assim como o perfil das
velocidades,acontece o perfil de distribuição de temperaturas nessa camada, semelhante ao da
velocidade.A camada limite laminar cresce até um valor crítico.Então vórtices (turbulências) se
desenvolvem dentro da camada limite exceto para uma fina subcamada laminar adjacente à
superfície.Os vórtices aceleram bastante o transporte de calor até a região de corrente livre,
aumentando consideravelmente a transmissão.
Quando a camada limite, principalmente na região laminar, é grossa a resistência à
passagem de calor é grande e a transferência de calor aí acontece como condução dependendo,
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portanto, da condutibilidade do fluido e do gradiente de temperatura. O aumento da velocidade
na corrente livre aumenta o gradiente de temperatura na camada o que permite uma troca de
calor mais rápida.
O efeito global da convecção pode ser expresso através da lei de Newton de resfriamento:

Q = h.A.( tp – too) (7)

A quantidade h é chamada de coeficiente de transferência de calor por convecção ou


coeficiente de película (fina camada junto à superfície) cujo valor é determinado analiticamente
nos casos mais simples ou por métodos experimentais. A unidade de h é W/m2.K quando o fluxo
de calor é em watt.
Deve ser lembrado que o mecanismo de troca de calor junto à parede é um processo em
parte por condução que depende das propriedades do fluido como viscosidade, condutividade
térmica, calor específico densidade e do gradiente de temperatura nessa camada.
A determinação analítica do coeficiente de película envolve o uso de adimensionais e
suas relações.Alguns adimensionais típicos:

Nº de Símbolo Expressão Usos


GRASHOF NGR L3gt /  Convecção natural
NUSSELT NN hL/k Convecção forçada e natural
PRANDT NPR CP k Convecção forçada e natural
REINOLDS NR Lv/ Convecção forçada e escoamento

L – dimensão linear característica. (m)


 - massa específica do fluido ( kg/m3)
g – aceleração da gravidade ( m / s2 )
 - coeficiente de expansão volumétrica. (1 / K)
 - viscosidade dinâmica (absoluta) (N.s / m2 ou kg / m.s)
- viscosidade cinemática =   ( m2 / s)
k – condutibilidade térmica do fluido ( W / m.K)
Cp – calor específico. ( J / kg.K)
v - velocidade ( m / s)

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Para o caso de fluido escoando no interior de tubos, em regime turbulento( NR > 2300),
com propriedades do fluido baseadas na corrente (massa) principal do fluido:

h = 0,023 k/d (NR)0,8 (NPR) n (8)

n = 0,4 para fluido aquecendo; n = 0,3 para resfriando.

APLICAÇÃO
Calcular o coeficiente de película, em kcal/h.m2.°C, para água a 10°C fluindo dentro de
um tubo de diâmetro interno 34 mm com a velocidade de 1,1 m/s e se aquecendo.
Dados:
kg/m³
 = 1,31*10-3 kg/m.s
k = 0,5031 kcal / h.m.°C
Cp = 1,0 kcal /kg.°C

Resp: 3053 kcal / h.m².°C

Na maioria dos casos de transferência de calor de interesse na refrigeração e ar


condicionado aparecem fluidos trocando calor entre si por meio de uma superfície. É ocaso de
paredes sujeitas à circulação de ar interno de um ambiente e do ar externo ao ambiente. Nesses
casos mais de um modo de transferência estão envolvidos como convecções do lado do ar e
condução pelo material da parede.
É conveniente combinar os vários coeficientes em um único coeficiente global de
maneira que a quantidade de calor possa ser calculada através das temperaturas terminais.
O coeficiente global de transmissão de calor (U – kcal/m².h.°C) pode ser calculado por
meio dos coeficientes de película e das condutividades do matérias que compõem a superfície, na
forma:

1 / U = 1 / hi + eis / kis + ep / kp + 1 / he (9)

para uma superfície (p) com isolamento térmico (is) onde e são as espessuras das superfícies
envolvidas e h os respectivos coeficientes de película interno e externo. O regime é permanente e
as temperaturas portanto consideradas fixas no tempo.

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APLICAÇÃO

Calcular a transferência de calor através de uma parede de 4 m² considerando:


hi = 8,26 W/m².K
he = 16,9 W/m².K
kis = 0,043 W/m.K eis = 50 mm
kp = 1,332 W/m.K ep = 100 mm

exterior interior

t = 32 °C t = 25 °C

parede isolamento

Resp:

Quando o calor é trocado entre dois fluidos através de uma superfície (trocador de calor)
a diferença de temperatura local varia ao longo do percurso dos fluidos.A quantidade de calor
trocada nesse caso pode ser calculada por meio de uma diferença média de temperatura na
equação:

Q = U.A.t m (10)

U – coeficiente global de transferência


A – área associada ao coeficiente global
t m – média de temperatura apropriada
Para fluidos em correntes paralelas, em contra corrente ou quando a temperatura de um
dos fluidos é constante (evaporação, condensação), tm é calculada por:

tm l =  ln (diferença média logarítmica


ln – logaritmo neperiano

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t maior

t menor

Contra corrente Correntes paralelas Fluido a t = cte

Para outras configurações o tm l deve ser corrigido por um fator F apresentado em
gráficos como o abaixo.

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RADIAÇÃO

Radiação é a propagação de calor por ondas eletromagnéticas da mesma natureza que a


luz. A radiação atravessa um meio diatérmico (não absorve radiação como o ar puro e seco).A
radiação obedece às mesmas leis de propagação da luz: propagação em linha reta, reflexão e
refração.A energia de radiação pode ser visível ou não dependendo do meio onde se propaga e
do comprimento de onda.As ondas de radiação se propagam na velocidade da luz e a freqüência
(f - número de oscilações produzidos por uma fonte, na unidade de tempo) da radiação depende
somente da fonte de radiação não variando com o meio.
Defini-se comprimento de onda à relação:
c / f (11)
c - velocidade da luz (luz é a energia radiante, de comprimentos de onda aos quais o
homem é sensitivo).
A transmissão de calor por radiação adquire maior importância no resfriamento ou
aquecimento por painéis, nas fornalhas e na insolação sobre superfícies (ar condicionado), mas
tem menor importância diante da transferência de calor por convecção em trocadores de calor
tipo carcaça e tubos (shell and tube).
Todos os corpos têm a propriedade de emitir e absorver energia radiante na quantidade
que depende da temperatura e natureza da matéria que constitui o corpo. Um corpo sólido emite
radiação em vários comprimentos de onda. A quantidade emitida é diferente para os vários
comprimentos de onda. Chama-se poder emissivo no comprimento de onda e  ) a energia
radiante emitida por corpo com comprimento de onda , por unidade de área e tempo:

e

T2 > T1

T1

max max 

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Observam-se:
a) Um aumento da temperatura produz uma diminuição no comprimento de onda
máximo.
b) Um aumento da temperatura produz um aumento do poder emissivo para
qualquer comprimento de onda.
c) A energia radiante total emitida pelo corpo em qualquer temperatura e em
quaisquer faixas de comprimento de onda é dada pela área abaixo da onda

e


1 d 

e = ed

Por definição corpo negro é um corpo hipotético cuja superfície absorve toda a radiação
incidente sobre ele.A taxa total de emissão de um corpo negro para a região hemisférica acima
dele é dada pela fórmula analítica de Stefan-Boltzmann:

eB =  T 4 (13)

= 5,6697*10-8 W/m2K4


T – temperatura K

A potencia emissiva de uma superfície não negra deve ser corrigida pela emissividade -
um valor típico de cada material da superfície função da condição da superfície e da temperatura.

e = eB (14)
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Alguns valores da emissividade:
Tijolo vermelho – 0,85 a 0,90
Cromo – 0,02 a 0,04
Asfalto – 0,90 a 0,98

Quando a energia radiante incide sobre uma superfície parte pode ser absorvida, parte
refletida e parte transmitida (atravessa a superfície)

Q
Qr

Qa

Qt

Q = Qr + Qa + Qt 1 = Qr/Q + Qa/Q + Qt/Q = r + a + t (15)

r – fração refletida
a – fração absorvida
t – fração transmitida
Se o material que constitui a superfície é opaco como muitos sólidos t = 0. Um corpo
negro: a = 1, r = 0, t = 0 ou seja absorção total da radiação incidente.Chama-se corpo cinzento
aquele que tem a = constante para qualquer que seja o comprimento de onda.Para corpos
cinzentos a(emissividade).A maioria das superfícies usadas industrialmente é considerada
corpo cinzento e assim tratada nos cálculos.
A transmissão de calor entre duas superfícies não negras diretamente dispostas e
separadas por um meio diatérmico é calculada por:

Q =  Fe .Fa .A (T14 – T24) (16)

Fe fator que considera as emissividades das superfícies.


Fa é um fator de configuração que considera a posição relativa das superfícies radiantes

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Alguns valores de Fé e Fa:

Superfícies entre as quais há troca de calor


Área Fa Fé

A1 ou 1 / (1/e1 + 1/e2 –
Planos paralelos infinitos 1
A2 1)
Corpo 1 completamente envolvido e pequeno em relação ao
A1 1 e1
envolvente 2
1 / (1/e1 + 1/e2 –
Corpo 1 completamente envolvido mas grande em relação a 2 A1 1
1)
A1 ou
Dois retângulos com lado comum em planos perpendiculares Fig e1 . e2
A2

Aplicação
Calcular a quantidade de calor trocada por radiação entre duas paredes de 20 m2 com
emissividade 0,8 e 0,6 e cujas temperaturas são 100°C e 20°C.

Resp. 7092 W

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TROCADORES DE CALOR MAIS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

A – Recipiente encamisado

Fluido A líquido com agitação ou não

Fluido B gás ou líquido

Aplicações:
 Aquecimento ou resfriamento de líquidos
 Aquecimento ou resfriamento de produtos como cera, aparas de borracha.

Fluido A gás ou líquido.Fluido B gás ou líquido. Sempre com circulação forçada dos
fluidos.Aplicações: aquecimento e resfriamento de líquidos por líquidos ou gases, condensadores
de instalações de refrigeração.

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Aplicações:
 Aquecimento de líquidos por vapor de água
 Resfriamento de líquidos por água fria, salmouras,ou evaporação de fluidos
frigoríficos (amônia).

O fluido A pode ser gás ou líquido (circulação forçada).Os tubos podem ser lisos ou
aletados externamente.

Aplicações:

 Aquecedor de ar por gases de combustão.

 Resfriadores de ar por água gelada ou por evaporação de fluidos frigoríficos.

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Fluido A – líquido ou fluido frigorífico evaporando.
Fluido B – líquido ou fluido frigorífico evaporando ou condensando

Aplicações:

 Condensadores de vapor de água por meio de água fria.


 Condensadores de instalações frigoríficas.
 Resfriamento ou aquecimento de líquidos por meio de líquidos.
 Resfriamento de líquidos por evaporação de fluidos frigoríficos

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Fluido A – líquido ou fluido frigorífico evaporando.
Fluido B – líquido ou fluido frigorífico evaporando ou condensando.

Aplicações:

 Condensadores de instalações frigoríficas.


 Resfriadores de líquidos.

Fluidos A e B líquidos, gases ou fluidos frigoríficos evaporando.

Aplicações:

 Aquecedor de ar por meio de gases de combustão.


 Resfriadores de líquidos por líquidos frios.
 Resfriadores de líquidos por evaporação de fluido frigorífico.

Características gerais a serem exigidas de um trocador de calor:


 Superfície mínima (custo menor)
 Volume pequeno
 Facilidade de limpeza
 Durabilidade
 Construção simples
 Facilidade de substituição de componentes
 Não introduzir grandes perdas de pressão para ambos os fluidos.
 Materiais de construção devem ser resistentes física e quimicamente aos fluidos.

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Referências:
 ASHRAE Fundamentals
 TRANSMISSÃO DE CALOR – KREITH
 HEAT TRANSMISSION Mc ADAMS
 MANUAL TERMOTÉCNICO – TREVIZAN

FIM

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