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PARA ALÉM DO PAPAI-NOEL

Por: Jonas Matheus Sousa da Silva OFM cap

Figura: Nascimento de Jesus (Giotto).

Uma celebração do Natal genuína é a que concede a maior importância à


manutenção da vida plena às pessoas humanas que padecem penúria. Pois a
autenticidade de um fenômeno está na continuidade com o seu objetivo basilar; a
festividade natalina torna viva a memória da fé em Jesus Cristo que, sendo o Filho de
Deus, rebaixou-se e assumiu a condição mortal e nasceu numa família pobre; e o grande
legado moral de Jesus é o amor e a doação ao próximo em prol de que a comunidade
humana tenha vida em plenitude.
Sabe-se que qualquer fenômeno cultural, à medida que se ritualiza e torna a
repetir-se como memorial no ciclo da história, remonta a um evento e a uma sociedade
que se encontrou na sua fundação, donde provêm o seu objetivo. Disto, pode-se haurir
que qualquer fenômeno cultural, que se emoldure neste esquema, para ser genuíno deve
sempre realizar, na dinâmica dos comportamentos individual e social, a finalidade a que
veio. Exemplo recorrente são as festividades natalinas.
Conhece-se, também, que a festa do Natal remonta ao Cristianismo, quando a
Igreja estabeleceu, numa Europa já evangelizada, a solenidade da encarnação do Filho
de Deus, verdadeira luz, em oposição à festividade pagã do “Sol Vencedor”. O Natal
celebra a memória de Jesus Cristo que, sendo Deus, tornou-se homem e nasceu da
Virgem Maria, numa família pobre, com a missão de libertar a humanidade de todo
domínio do mal, inclusive, no campo moral, para que todas as pessoas humanas, como
fraternidade de filhos de Deus, glorifiquem ao Pai celestial através da vivência do amor
que garanta vida plena para todo ser humano.
Nesse sentido, afirmou Santo Irineu de Lyon, no II século, que a glória de Deus
consiste na plenitude de vida do ser humano, ao passo que tal plenitude só é obtida na
amizade e no conhecimento de Deus. Aí está o verdadeiro sentido do Natal. Consiste
em promover a vida plena para todos os seres humanos através de uma doação de si
para o bem de todos, promovendo a justiça, a misericórdia e trabalhando para que todos
sejam amigos de Deus, sobretudo os que padecem nas pobrezas material e espiritual.
Dado o exposto, para se celebrar a solenidade natalina com autenticidade, deve-se
dar prioridade cotidiana a promoção de vida plena ao próximo, sobretudo aos que estão
relegados às periferias geográficas e existenciais, levando todos a uma sólida relação
com Deus. Porque um evento cultural genuíno realiza sempre o seu sentido radical, as
festas natalinas celebram Jesus, o Filho de Deus que se fez homem e propiciou-nos a
vida plena com Deus, e o grande legado de Cristo é a redenção humana, a restituição da
amizade com Deus na filiação e a promoção da dignidade de todos. Assim, o Natal de
Jesus expressa que o motivo de celebração não é o Papai-Noel do mercado, tampouco
os presentes ou a mesa farta, mas, sim, o cultivo da vida plena para toda a pessoa
humana.

REFERÊNCIAS:

IRINEU de Lião. Contra as Heresias. São Paulo: Paulus, 1995. (Col. Patrística).
FRANCISCO, Papa. Lumen Fidei. São Paulo: Paulinas, 2013.

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