Uma celebração do Natal genuína é a que concede a maior importância à
manutenção da vida plena às pessoas humanas que padecem penúria. Pois a autenticidade de um fenômeno está na continuidade com o seu objetivo basilar; a festividade natalina torna viva a memória da fé em Jesus Cristo que, sendo o Filho de Deus, rebaixou-se e assumiu a condição mortal e nasceu numa família pobre; e o grande legado moral de Jesus é o amor e a doação ao próximo em prol de que a comunidade humana tenha vida em plenitude. Sabe-se que qualquer fenômeno cultural, à medida que se ritualiza e torna a repetir-se como memorial no ciclo da história, remonta a um evento e a uma sociedade que se encontrou na sua fundação, donde provêm o seu objetivo. Disto, pode-se haurir que qualquer fenômeno cultural, que se emoldure neste esquema, para ser genuíno deve sempre realizar, na dinâmica dos comportamentos individual e social, a finalidade a que veio. Exemplo recorrente são as festividades natalinas. Conhece-se, também, que a festa do Natal remonta ao Cristianismo, quando a Igreja estabeleceu, numa Europa já evangelizada, a solenidade da encarnação do Filho de Deus, verdadeira luz, em oposição à festividade pagã do “Sol Vencedor”. O Natal celebra a memória de Jesus Cristo que, sendo Deus, tornou-se homem e nasceu da Virgem Maria, numa família pobre, com a missão de libertar a humanidade de todo domínio do mal, inclusive, no campo moral, para que todas as pessoas humanas, como fraternidade de filhos de Deus, glorifiquem ao Pai celestial através da vivência do amor que garanta vida plena para todo ser humano. Nesse sentido, afirmou Santo Irineu de Lyon, no II século, que a glória de Deus consiste na plenitude de vida do ser humano, ao passo que tal plenitude só é obtida na amizade e no conhecimento de Deus. Aí está o verdadeiro sentido do Natal. Consiste em promover a vida plena para todos os seres humanos através de uma doação de si para o bem de todos, promovendo a justiça, a misericórdia e trabalhando para que todos sejam amigos de Deus, sobretudo os que padecem nas pobrezas material e espiritual. Dado o exposto, para se celebrar a solenidade natalina com autenticidade, deve-se dar prioridade cotidiana a promoção de vida plena ao próximo, sobretudo aos que estão relegados às periferias geográficas e existenciais, levando todos a uma sólida relação com Deus. Porque um evento cultural genuíno realiza sempre o seu sentido radical, as festas natalinas celebram Jesus, o Filho de Deus que se fez homem e propiciou-nos a vida plena com Deus, e o grande legado de Cristo é a redenção humana, a restituição da amizade com Deus na filiação e a promoção da dignidade de todos. Assim, o Natal de Jesus expressa que o motivo de celebração não é o Papai-Noel do mercado, tampouco os presentes ou a mesa farta, mas, sim, o cultivo da vida plena para toda a pessoa humana.
REFERÊNCIAS:
IRINEU de Lião. Contra as Heresias. São Paulo: Paulus, 1995. (Col. Patrística). FRANCISCO, Papa. Lumen Fidei. São Paulo: Paulinas, 2013.