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Farmácia Hospitalar

Implantação e desenvolvimento
de Centro de Informação
sobre Medicamentos em hospital
como estratégia para
melhorar a farmacoterapia
Carlos Cezar Flores Vidotti (1)
Emília Vitória da Silva (2, 3)
Rogério Hoefler (3)
Contatos: emilia@cff.org.br, hoefler@cff.org.br

(1) Mestre em Farmacologia e Doutor em Ciências da Saúde.


(2) Mestre e Doutora em Ciências da Saúde.
(3) Farmacêuticos, Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos, Conselho Federal de Farmácia.
Centro de Informação sobre Medicamentos – Como implantar

Objetivos de aprendizagem
Ao final da leitura deste texto, o farma‑ 4. Distinguir os tipos de fontes de infor‑
cêutico deverá: mação sobre medicamentos, com suas
vantagens e limitações, e listar exemplos
1. Reconhecer a necessidade de informação utilizados em CIM.
independente para promover o uso ra‑ 5. Entender os princípios de avaliação crítica
cional dos medicamentos. da qualidade de informação sobre medi‑
2. Identificar benefícios de um Centro de camentos.
Informação sobre Medicamentos (CIM) 6. Identificar os passos a serem seguidos
hospitalar, histórico e conceitos. para responder a um questionamento de
3. Caracterizar a estruturação de um CIM usuário do serviço, justificando‑os.
em termos de comprometimento ins‑ 7. Compreender a importância de progra‑
titucional, formação do farmacêutico, ma de garantia de qualidade e relacionar
infra‑estrutura e atividades desenvol­ parâmetros e atividades a serem acompa‑
vidas. nhados.

1. Introdução
O desequilíbrio no binômio benefício‑ris‑ foram responsáveis por 4% da ocupa‑
co está presente no cotidiano da farmacotera‑ ção hospitalar e 0,15% das mortes; 70%
pia hospitalar, incluindo reações adversas a me‑ seriam evitáveis e teriam um custo anu‑
dicamentos e interações medicamentosas, que al para o sistema de saúde inglês da or‑
causam significativa morbimortalidade, dimi‑ dem de 466 milhões de libras esterlinas
nuem a qualidade de vida, apresentam aumen‑ (cerca de R$1,27 bilhões).3
to relevante nos custos da saúde e, portanto, As interações medicamento‑medica‑
é problema de grande dimensão em hospitais. mento tiveram potencial de ocorrer
Estudos, alguns ambientados em hospitais bra‑ em 37% dos pacientes internados e, em
sileiros, têm descrito, por exemplo, que: 12% dos casos, foram consideradas gra‑
As reações adversas a medicamentos ves (p.ex., que podem provocar morte).
(RAM) foram responsáveis por, ou con‑ Estas interações estão fortemente asso‑
tribuíram para, 6,6% das internações ciadas à duplicação do tempo de per‑
hospitalares1 e ocorreram quatro vezes manência no hospital e ao aumento do
mais durante a internação.2 As RAM custo da internação.4

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Os erros de medicação foram iden‑ compulsiva na prescrição médica, evitando a


tificados em 44% das prescrições de análise objetiva e científica que se requer na
medicamentos de alto risco (principal‑ consideração das alternativas de tratamento.9
mente heparina, fentanila e midazo‑ Por isso, medidas devem ser adotadas
lam) e, em média, ocorreram 3,3 erros para melhorar a farmacoterapia. A disponi‑
por prescrição.5 bilidade, acessibilidade e uso de informação
A Organização Mundial da Saúde reco‑ independente sobre medicamentos, em for‑
nhece que os Centros de Informação sobre mato apropriado e relevante para a prática clí‑
Medicamentos (CIM) estão entre as ativida‑ nica atual, estão entre essas medidas, o que é
des efetivas para promover o uso racional de fundamental para o uso racional e efetivo de
medicamentos.6,7 Um medicamento deve ser medicamentos. No contexto brasileiro, a Po‑
acompanhado de informação apropriada. A lítica Nacional de Medicamentos e a Política
qualidade desta é tão importante quanto a Nacional de Assistência Farmacêutica preveem
qualidade do produto farmacêutico pois, as‑ a revisão permanente da Relação Nacional de
sim como a promoção dos medicamentos, Medicamentos Essenciais e a publicação do
pode influenciar em grande medida a forma Formulário Terapêutico Nacional como estra‑
em que os mesmos são utilizados. O moni‑ tégias para a promoção do uso racional de me‑
toramento e o controle destas atividades são dicamentos.10
partes essenciais de uma política nacional de Por essas razões, neste texto serão abor‑
medicamentos.8 dados os objetivos, funções e estruturação dos
A necessidade de serviços de informação Centros de Informação sobre Medicamentos
sobre medicamentos é mais evidente quando em hospitais, os quais apóiam as práticas clí‑
se considera que a documentação que fre‑ nicas dos profissionais da saúde relativas à far‑
quentemente está ao alcance dos profissionais macoterapia. A aplicação dos princípios aqui
da saúde é aquela proporcionada pela indús‑ apresentados irá variar conforme a localização,
tria farmacêutica e, portanto, com alto com‑ pessoas, recursos e políticas institucionais. Para
ponente publicitário e comercial. Além disso, serem efetivos, os CIM devem estar integrados
a entrega de amostras grátis para os médicos, aos serviços clínicos e adequadamente estru‑
as quais geralmente acompanham a publicida‑ turados em termos de capacitação do pessoal,
de dos medicamentos, influi de forma quase instalações e recursos financeiros e materiais.

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2. Breve histórico de CIM


hospitalares, desempenho
econômico, terapêutico e
acreditação
O primeiro CIM, no mundo, foi implan‑ por evitar o prolongamento de internações
tado em um hospital, em 1962, no Centro Mé‑ devido a RAM e erros de medicação. Estudo
dico da Universidade de Kentucky, nos EUA.11 norte‑americano concluiu que a redução de
O sucesso da experiência resultou na abertura custos pelo uso de informação apropriada,
de novos CIM pelos EUA e, depois, em outros provida por CIM hospitalar e utilizada pelos
países.12,13 Nos EUA, em 2004, 57 CIM hospita‑ profissionais, supera os custos de manutenção
lares responderam a um levantamento.14 No do CIM, de 3 a 13 vezes.17
Brasil, o primeiro CIM foi instalado no Hospital A equipe de saúde e os pacientes de
Onofre Lopes, da Universidade Federal do Rio um hospital devem contar com informação
Grande do Norte, em Natal. Atualmente, há objetiva e independente sobre medicamen‑
vários CIM no Brasil, instalados principalmente tos, o que pode ser feito por um Centro de
em universidades e hospitais.15 Não há dados Informação sobre Medicamentos.18 Em estu‑
atuais sobre a quantidade de CIM no Brasil; do realizado na Noruega, 100% dos médicos
estima‑se cerca de 20. No sítio do CFF, www. opinaram que os CIM forneceram informa‑
cff.org.br, em “Cebrim” e “Outros CIM”, consta ção de alta qualidade sobre medicamentos
relação de alguns CIM brasileiros. utilizados durante a gravidez e, em 92% dos
Tradicionalmente, os farmacêuticos são casos, essa informação teve impacto clínico
disseminadores de informação sobre medica‑ positivo.19
mentos, estejam em farmácias comunitárias O uso da informação sobre medicamen‑
ou hospitalares, de modo informal.12 Nos EUA, tos em hospitais é bastante alto, podendo ser
os farmacêuticos são os profissionais que mais estimado pela quantidade de consultas recebi‑
atuam nos Centros de Informação sobre Medi‑ das pelo Cebrim/CFF – um CIM não hospitalar
camentos,14 o que também se observa no Bra‑ – que, em 2009, foi de cerca de 27%. As con‑
sil,16 uma vez que, como categoria profissional, sultas foram, principalmente, sobre interações
são eles que têm a formação mais abrangente medicamentosas e reações adversas a medica‑
sobre medicamentos.12 mentos, com cerca de 14% e 12%, respectiva‑
O CIM é uma alternativa para facilitar o mente. Esse tipo de questionamento pode ter
acesso e a disponibilidade da informação, dimi‑ relação, também, com a avaliação hospitalar já
nuindo os custos hospitalares pela racionaliza‑ que estas são duas das áreas de atuação da as‑
ção do uso dos medicamentos, por exemplo, sistência farmacêutica hospitalar que constam

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no Manual Brasileiro de Acreditação de Or‑ dequada do médico prescritor; falta de conhe‑


ganizações Prestadoras de Serviços de Saúde, cimento sobre as características farmacocinéti‑
adotado pela Anvisa, por meio da Resolução cas dos medicamentos; pressão mercadológica
RDC nº93/2006. da indústria farmacêutica, que leva à seleção
Fatores causadores de problemas na far‑ inadequada de medicamentos; ausência ou
macoterapia em hospital incluem: sistemas atuação não efetiva da Comissão de Farmácia e
deficientes de distribuição e de administração Terapêutica.20,21,22 Nestes casos, o CIM tem pa‑
de medicamentos; aplicação inadequada da pel fundamental para melhorar a terapêutica
informação do produto no que se refere à sua e, consequentemente, o cuidado de saúde do
preparação e administração; informação ina‑ paciente.

3. Estruturação de um CIM hospitalar


Centro de Informação sobre Medica‑ vidade é de cerca de 35% e, em segundo
mentos (CIM) é o local que reúne, analisa, ava‑ lugar, com 14% do tempo dedicado, está a
lia e fornece informação sobre medicamentos, participação em Comissões de Farmácia e
visando o seu uso racional.16 Principalmente, Terapêutica.14
o CIM apoia a prática clínica de profissionais A estruturação de um CIM deve con‑
da saúde na terapêutica medicamentosa de templar dois aspectos essenciais: (a) contar
um paciente específico. Para isso, deve prover com um farmacêutico especialista em in‑
informações claras, precisas, imparciais, em formação sobre medicamentos, com treina‑
tempo hábil e aplicáveis sobre medicamen‑ mento, experiência clínica e as competências
tos, de modo a promover seu uso racional.23 e habilidades descritas no Quadro 2, desta‑
Para alcançar este objetivo, utiliza informação cando aquela relativa a seleção, utilização e
técnico‑científica objetiva, atualizada e perti‑ avaliação crítica da literatura, e participação
nente, devidamente processada e avaliada cri‑ nas Comissões de Farmácia e Terapêutica;24,25
ticamente.24 e (b) ter bibliografia sobre medicamentos,
As atividades praticadas em um CIM reconhecida internacionalmente, e a mais
estão relacionadas no Quadro 1. É impor‑ atualizada possível.25 Deve‑se notar, entre‑
tante notar que a primeira atividade, res‑ tanto, que a maturidade do Centro só po‑
ponder perguntas, é a principal delas, ou derá ser alcançada com trabalho multipro‑
seja, a maior parte do tempo é dedicada à fissional efetivo e a execução de atividades
mesma. Por exemplo, nos EUA, consideran‑ de garantia de qualidade (v. seção específica,
do 68 CIM, o tempo dedicado a esta ati‑ adiante), em benefício do paciente.

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Quadro 1 – Atividades de um Centro de Informação sobre Medicamentos

Responder perguntas relacionadas ao uso de medicamentos (informação reativa).


Participação efetiva em comissões, tais como de Farmácia & Terapêutica e de Infecção
Hospitalar.
Publicação de material educativo / informativo, como boletins, alertas, colunas em
jornais, etc.
Educação: estágio, cursos sobre temas específicos da farmacoterapia.
Revisão do uso de medicamentos.
Atividades de pesquisa sobre o uso de medicamentos.
Coordenação de programas de farmacovigilância.

Fonte: Vidotti et al., 2000b

Quadro 2 – Habilidades do farmacêutico especialista em informação sobre medicamentos

Habilidade e competência para a seleção, utilização e avaliação crítica da literatura.


Habilidade e competência para apresentação da máxima informação relevante com
um mínimo de documentação de suporte.
Conhecimento de disponibilidade de literatura, assim como de bibliotecas, centros de
documentação, etc.
Capacidade para comunicar‑se sobre farmacoterapia nas formas verbal e escrita.
Destreza no processamento eletrônico dos dados.
Habilidade e competência para participar em Comissão de Farmácia e Terapêutica.

Fonte: adaptado de Vidotti et al., 2000b

Requisitos para a implantação de um mendável que este profissional tenha


Centro de Informação sobre Medicamentos as habilidades descritas no Quadro 2;
incluem:11,16,18,23,24,25 2. Área física: deve estar de acordo com
1. Pessoal: pelo menos um farmacêutico as atividades propostas. Sugere‑se uma
com treinamento específico. É reco‑ área mínima de cerca de 30 m2;

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3. Equipamento e mobiliário: micro‑ 4. Bibliografia: as fontes de informa‑


computador, impressora, telefone, ção indicadas para o funcionamen‑
fax, acesso à Internet, fotocopia‑ to de um CIM estão descritas na
dora (ou acesso), mobiliário de es‑ seção “Fontes de informação sobre
critório (mesas, cadeiras, armários, medicamentos”, a seguir, nos Qua‑
estantes, arquivos, etc.). dros 3, 4 e 5.

Quadro 3 – Fontes terciárias de informação sobre medicamentos utilizáveis em CIM

Título Classificação
ASHP – AHFS Drug Information
British National Formulary (BNF)
Dorland’s Medical Dictionary
Farmacologia Clínica
Essencial
Formulário Terapêutico Nacional (FTN)
Martindale – The Extra Pharmacopoeia
Medicina Interna
Trissel – Handbook on Injectable Drugs
Briggs – Drugs in Pregnancy and Lactation
Drug Facts and Comparisons
Farmacologia
Aronson – Meyler’s side efects of drugs Recomendada
Stockley – Drug Interactions ou Tatro – Drug Interaction Facts
Remington – A Ciência e a Prática da Farmácia
Rowe – Handbook of Pharmaceutical Excipients
Farmacopéia Brasileira
Guia de especialidades farmacêuticas Útil
The Merck Index

Ordem decrescente de importância: essencial, recomendada, útil.


Fonte: Elaborado pelos autores

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Quadro 4 – Fontes primárias de informação sobre medicamentos utilizáveis em CIM

American Journal of Health‑System Pharmacists


British Medical Journal
Journal of American Medical Association
New England Journal of Medicine
The Lancet

Fonte: Elaborado pelos autores

Quadro 5 – Exemplos de sítios onde encontrar informação sobre medicamentos

Formulário Terapêutico Nacional 2008


http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/multimedia/paginacartilha/iniciar.html
Boletim Farmacoterapêutica
www.cff.org.br/
Formulário Modelo da Organização Mundial da Saúde
http://mednet3.who.int/EMLib/modelFormulary/modelFormulary.asp
MedlinePlus – Drug Information – EUA
www.nlm.nih.gov/medlineplus/druginformation.html
Ficha de Novidade Terapêutica do Cadime – Espanha
www.easp.es/web/cadime/index.asp?idSub=303&idSec=303&idCab=303
Australian Prescriber
http://www.australianprescriber.com
Radar – Austrália
www.nps.org.au/health_professionals/publications/nps_radar
Prescrire – França
http://english.prescrire.org/ (mediante assinatura)
Livro eletrônico “Fundamentos Farmacológicos Clínicos dos Medicamentos de Uso Corrente”
www.anvisa.gov.br/farmacovigilancia/trabalhos/index.htm
BIREME – Biblioteca Regional de Medicina (acesso ao Medline, Lilacs, Scielo, etc)
www.bireme.br
Fármacos (Boletín electrónico latinoamericano)
www.lanic.utexas.edu/project/farmacos
Acesso a artigos científicos, protocolos e diretrizes:
www.pubmedcentral.nih.gov
www.tripdatabase.com
Biblioteca Cochrane, Scielo e Portal de Evidências, via Bireme: www.bireme.br
www.projetodiretrizes.org.br

Fonte: elaborado pelos autores

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5. Financiamento: são necessários recur‑ um estado, uma região), e os Serviços são insti‑
sos financeiros para, pelo menos, o pa‑ tucionais, por exemplo, atendendo à demanda
gamento do salário do farmacêutico, de um hospital.15,25,26 Enfatiza‑se, porém, que
aquisição e renovação das instalações mais importante que sua designação, Centro
e das fontes bibliográficas e despesas ou Serviço, são as atividades desenvolvidas.25
de custeio. Além desses aspectos gerais, reconheci‑
Um aspecto imprescindível dentro da dos internacionalmente, os farmacêuticos que
concepção filosófica de um CIM é sua inde‑ atuam em CIM no Brasil deveriam, também, se
pendência. Como existe a possibilidade de suas ocupar com a promoção do serviço, o ensino
informações, baseadas em evidências científi‑ e a busca de parcerias. No nosso País, a promo‑
cas, contrariarem interesses comerciais, a sua ção é recomendável pois poucos profissionais
previsão orçamentária deve levar em conta de da saúde têm consciência da existência e dos
que não é aconselhável subsídios, diretos ou serviços providos pelos CIM e menos ainda in‑
indiretos, de empresas farmacêuticas. corporaram o uso do serviço na sua prática. O
Os termos Centro de Informação sobre ensino é essencial para que esse quadro pos‑
Medicamentos (CIM) e Serviço de Informa‑ sa ser modificado. De modo geral, os serviços
ção sobre Medicamentos (SIM) são, às vezes, providos pelos CIM não são ensinados para
usados como se fossem sinônimos, embora os estudantes de profissões da saúde e, infeliz‑
existam diferenças. A literatura sugere que CIM mente, nem mesmo para os de farmácia. Final‑
deve denotar o local físico, e SIM a atividade de‑ mente, a busca de parcerias é necessária para
senvolvida neste local.26 Entretanto, é conven‑ difusão e fortalecimento dos serviços, em am‑
cionada uma hierarquia onde os Centros têm biente com pouco desenvolvimento dos servi‑
uma abrangência maior (por exemplo, um país, ços clínicos providos pelos farmacêuticos.27

4. Fontes de informação sobre


medicamentos
Um dos maiores desafios dos profissionais da mesma têm custo elevado. Com o avanço da
da saúde, no apoio às suas práticas, é o acesso e internet, este quadro tem mudado. Porém, gran‑
o uso de informação apropriada e independente de parcela da informação gratuita e de boa qua‑
sobre medicamentos, sobretudo, considerando lidade disponível está escrita na língua inglesa.
a facilidade de acesso à informação promocional Em português, a principal exceção, atualmente,
da indústria farmacêutica. No Brasil, o problema é o Formulário Terapêutico Nacional (FTN), po‑
é mais grave, pois a informação, em geral, é de rém limitado aos fármacos da Relação Nacional
difícil acesso porque a aquisição e a manutenção de Medicamentos Essenciais (Rename).

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Os aspectos mais importantes na escolha sítio da Biblioteca Regional de Medici‑


de uma fonte de informação sobre medica‑ na (Bireme), www.bireme.br.
mentos são: imparcialidade, padrão científi‑ As fontes terciárias apresentam infor‑
co, atualização, língua e custo. Como muitas mação documentada no formato con‑
fontes utilizadas são internacionais, principal‑ densado. São livros‑texto (p.ex., Good‑
mente em inglês, o farmacêutico que atua em man e Gilman: As Bases Farmacológicas
CIM deve ter capacidade para leitura e inter‑ da Terapêutica), livros de monografias
pretação de textos escritos nessa língua, pelo (p.ex., o American Hospital Formulary
menos. Os demais aspectos, citados anterior‑ Service – AHFS Drug Information) e ba‑
mente, serão detalhados na seção de avaliação ses de dados eletrônicas (p.ex., o Drug‑
crítica da literatura. dex®/Micromedex). Além destas, os ar‑
As fontes de informação podem ser clas‑ tigos de revisão e meta‑análise também
sificadas em primárias, secundárias e terciárias, são considerados literatura terciária.
como a seguir:15,23,26 Exemplos de fontes terciárias utilizadas
As fontes primárias (ou literatura pri‑ em CIM estão listados no Quadro 3.
mária) – são constituídas por artigos Analisando esses três tipos de fontes bi‑
científicos que relatam, principalmente, bliográficas, as primárias têm a vantagem de
ensaios clínicos randomizados, estudos serem mais atualizadas pois são onde, de modo
de coorte, estudos de caso‑controle, geral, surge o conhecimento. Porém requerem
referentes a pesquisas publicados em leitura mais cuidadosa e crítica e são publicadas
revistas biomédicas, ou seja, onde ge‑ em grande quantidade – 1.800 entradas diárias,
ralmente surge pela primeira vez na li‑ no Medline (v. seção 5), o que dificulta a sele‑
teratura qualquer informação científica ção, aquisição, leitura e utilização da informa‑
nova. Por isto, são utilizadas para a fun‑ ção. Por outro lado, as fontes terciárias são mais
damentação de outros tipos de fontes condensadas, apresentando, em geral, informa‑
de informação sobre medicamentos. ções de consenso e são em número muito me‑
Como exemplos, podemos citar os arti‑ nor. Não obstante, tem a desvantagem de não
gos científicos publicados no Journal of serem constantemente atualizadas, pois sua
American Medical Association (JAMA). O periodicidade varia, em média, de dois a cinco
Quadro 4 cita algumas fontes primárias. anos. Por isso, é recomendável que o CIM tenha
As fontes secundárias consistem em disponibilidade de fontes terciárias essenciais e
serviços de indexação e resumo da li‑ acesso a fontes secundárias que permitam bus‑
teratura primária e servem como orien‑ ca na literatura primária e solicitação de cópias
tadores na busca destas últimas. O de artigos originais, quando necessário.
Medline (Index Medicus on‑line) é um A quantidade de revistas com acesso gra‑
exemplo e é uma das fontes secundá‑ tuito ao conteúdo integral de artigos tem cres‑
rias mais utilizadas em CIM. Pode ser cido. Isso representa um salto imenso na quanti‑
acessado, gratuitamente, por meio do dade de informação acessível. Até então, e ainda

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hoje, o principal acesso é via Medline, que inclui que são híbridas, pois apresentam, ao mesmo
apenas informação bibliográfica e os resumos, tempo, características de mais de um tipo de
apesar de seus números grandiosos: 16 milhões fonte bibliográfica. Por exemplo, o Iowa Drug
de publicações indexadas. Atualmente, além Information System – IDIS apresenta artigos se‑
dos textos integrais, incluindo gráficos e figuras, lecionados na íntegra e possui índices de loca‑
há também os hiperlinks. Ainda é prevalente o lização dos mesmos, sendo considerado uma
modelo de pagamento por acesso aos artigos fonte secundária e primária. O Martindale traz
integrais, mas têm surgido, desde 2003, inicia‑ monografias de medicamentos e cita artigos
tivas do modelo “Acesso Livre” (Open Access) sobre os mesmos, sendo considerado uma
a publicações científicas. Em 2004, foi criado o fonte terciária e secundária.
PubMedCentral (PMC, www.pubmedcentral. O Quadro 3 discrimina as fontes biblio‑
gov), por iniciativa da National Library of Medi‑ gráficas terciárias que devem estar disponíveis
cine (NLM), EUA. Desde 2005, o National Insti‑ em um Centro de Informação sobre Medica‑
tutes of Health – NIH, EUA, tem exigido que as mentos, classificadas de acordo com o seu grau
publicações resultantes de pesquisas parcial ou de importância, em ordem decrescente: essen‑
totalmente financiadas pelo mesmo sejam dis‑ ciais, recomendadas e úteis. No Quadro 4 estão
ponibilizadas nesse sítio. Seis meses depois, ha‑ listadas algumas revistas (fontes primárias) que
via mais de 430.000 artigos integrais disponíveis poderiam ser utilizadas pelo CIM.
gratuitamente. O modelo de acesso livre a publi‑ Adicionalmente a esta classificação, exis‑
cações científicas é utilizado, na América Latina, tem as chamadas fontes alternativas, das quais
pelo Scielo, www.scielo.org, no qual, até 2008, ha‑ são exemplos a Internet, organizações profis‑
via mais de 170 mil artigos gratuitos.28,29 sionais, agências regulatórias, agências de ava‑
Outras fontes gratuitas relativas à infor‑ liação de tecnologias em saúde, boletins inde‑
mação sobre medicamentos podem ser en‑ pendentes sobre medicamentos, indústrias far‑
contradas no sítio do Pharmabridge, projeto da macêuticas e centros de informação toxicoló‑
Federação Farmacêutica Internacional – FIP, em gica e de medicamentos.26 Com o crescimento
http://www.fip.org/pharmabridge_free. Está em exponencial da Internet, as fontes alternativas
construção uma lista de fontes recomendadas ganham dimensão, sendo que no Quadro 5
para CIM, incluindo fontes gratuitas, também constam algumas sugestões de sítios.
no âmbito da FIP, pelo Grupo de Trabalho Aces‑ Uma das bases de dados mais difundida
so a Informação sobre Medicamentos (Access mundialmente, que contém monografias ex‑
to Medicines Information Working Group), da tensas sobre medicamentos, é o Drugdex® (Mi‑
Seção de Informação em Farmácia (Pharmacy cromedex). Ela é acessível por meio da Internet,
Information Section – PIS), que estará disponibi‑ mediante assinatura. No Brasil, as universidades
lizado na página da PIS/FIP, em www.fip.org. públicas têm acesso gratuito ao mesmo por
A classificação das fontes em primárias, meio do sítio da Coordenação de Aperfeiçoa‑
secundárias e terciárias tem caráter didático, mento de Pessoal de Nível Superior – CAPES,
não sendo estática. Existem algumas fontes em http://www.periodicos.capes.gov.br/.

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5. Avaliação crítica da
qualidade da informação
sobre medicamentos
Para muitos farmacêuticos, é necessário das revistas nacionais e, muito especialmente,
desenvolver habilidades em avaliação crítica dos periódicos estrangeiros, foram capazes de
o que o ajudaria no discernimento de quais separar o joio do trigo, só permitindo a divul‑
medicamentos representam avanços terapêu‑ gação de artigos baseados em sólidas evidên‑
ticos e quais mostram deficiência na melhora cias científicas. Entretanto, revisões realizadas
do cuidado ao paciente e, talvez, causem dano. nas últimas décadas contradizem o exposto
Porém, a avaliação crítica da qualidade da in‑ acima. Constatou‑se em tais estudos que cerca
formação que se publica sobre medicamentos da metade dos artigos publicados em revistas
é um imperativo dentre as habilidades do pro‑ de renome utilizaram métodos estatísticos ina‑
fissional que trabalha em um CIM. dequados. Se, à inadequação dos testes quan‑
A literatura biomédica cresce a taxas titativos, acrescentarmos outras fontes de in‑
exponenciais e tem passado por revolução consistências e imprecisões a que estão sujeitos
na forma de acesso e integração das infor‑ os estudos epidemiológicos, tais como o seu
mações provenientes de várias fontes. Nos desenho, definição da amostra, escolha de in‑
últimos 20 anos, a quantidade de artigos in‑ dicadores e instrumentos, poderemos concluir
dexados no Medline (a base de dados pes‑ que todo e qualquer artigo, independente do
quisada por meio do Pubmed) cresce a uma periódico ou idioma em que esteja publicado,
taxa média anual de cerca de 3,1%. Em 2006, deve ser lido criticamente.30
havia mais de 16 milhões de publicações Algumas razões que ajudam a explicar os
indexadas, das quais mais de três milhões problemas frequentes com a qualidade da in‑
tinham sido publicadas nos cinco anos ante‑ formação são, por exemplo: publicar somente
riores. Em 2005, houve mais de 1800 registros aspectos positivos; pressão para publicar; exa‑
diários e um total e 666.029 registros no ano. gerar os resultados encontrados; fragmentar os
Cresce também as possibilidades de ligações resultados, publicando‑os em várias revistas;
(hiperlink) entre documentos, o que aumen‑ descrever incompletamente os métodos e/ou
ta enormemente a quantidade de informa‑ resultados e, o que é menos comum, fraude
ção a que se tem acesso.28 científica.
Infelizmente, esse crescimento é acompa‑ Ao analisar artigos científicos, é comum
nhado por uma ampla variação da qualidade o profissional encontrar resultados conflitan‑
das evidências científicas disponibilizadas e, tes ou contraditórios que são atribuídos, na
consequentemente, no trabalho do profissio‑ maioria das vezes, a diferenças metodológicas,
nal da saúde. Em geral, aceita‑se que os editores definições, etc., o que é entendido como uma

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Centro de Informação sobre Medicamentos – Como implantar

limitação para a extrapolação dos resultados Você só pode aceitar a validade da con‑
encontrados para a prática, ou seja, podem clusão se conhecer e aceitar o método
não ter aplicação clínica.12 da pesquisa.
Além disso, quando se soma o interes‑ Quem financiou o estudo? Pode existir
se comercial aos problemas metodológicos, um possível conflito de interesses?
aumenta a necessidade da avaliação crítica Verifique as “referências”. Se você co‑
como, por exemplo, na farta promoção de me‑ nhece o assunto, provavelmente pode‑
dicamentos, pela indústria farmacêutica, com rá julgar se foram incluídas as referên‑
exemplos claros de alteração da informação cias fundamentais na área. Caso contrá‑
sobre o medicamento, notadamente das rea‑ rio, cuidado com o artigo.
ções adversas e contraindicações, enfatizando Questões do tipo “o estudo foi bem
apenas aspectos positivos dos medicamentos desenhado?”, “os dados são estatistica‑
e dando pouco ou nenhum destaque aos ne‑ mente significativos?” e “os desfechos
gativos.31 avaliados são clinicamente relevantes?”,
As habilidades para busca, análise e jul‑ demandam um conhecimento mais
gamento das evidências capazes de dar funda‑ profundo e, para isto, deve ser feito
mento científico às decisões clínicas são essen‑ uma capacitação específica, em curso
ciais para os profissionais da saúde. Porém, em de avaliação crítica da literatura científi‑
especial, para os farmacêuticos que atuam em
ca (v. a seguir).
CIM. Estes devem ser capazes de discriminar,
Quando as informações forem providas
dentre as informações disponíveis, quais são
pelo fabricante, devem ser feitas outras per‑
as que representam as mais sólidas evidências
guntas, que incluem, por exemplo:23
científicas e, destas, as que são passíveis de se‑
A informação foi aprovada pelo órgão
rem incorporadas à prática.
governamental competente?
Em uma primeira abordagem aos arti‑
gos científicos, dever‑se‑ia fazer perguntas tais Foram fornecidas referências da litera‑
como:23,30 tura médica ou estas estão disponíveis?
O artigo foi publicado em revista que A publicidade do medicamento parece
adota a revisão por pares? excessivamente positiva?
Quem é(são) e qual a filiação do(s) São feitas comparações de custo?
autor(es)? A necessidade de escolher entre essa
As informações do resumo e da con‑ variedade de resultados incompletos ou con‑
clusão são úteis para você? Se não for, flitantes pode causar confusão entre os profis‑
passe para o próximo artigo. sionais da saúde em relação à farmacoterapia
As conclusões são (bem) fundamenta‑ ótima para uma doença específica em um pa‑
das nos resultados e são aplicáveis? Ve‑ ciente.12
rifique a seção “Materiais e Métodos”. O farmacêutico também está enfrentan‑

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Centro de Informação sobre Medicamentos – Como implantar

do um aumento na quantidade de pacientes tes para a atuação no CIM. No sítio da Uni‑


que se educam sobre farmacoterapia por meio versidade Federal de São Paulo – Unifesp,
da consulta a outras pessoas (p.ex., família e onde está instalado o Centro Cochrane do
amigos), literatura médica, imprensa leiga e Brasil, é disponibilizado curso gratuito on‑li‑
da Internet. Estes pacientes podem procurar o ne sobre revisão sistemática e meta‑análise:
farmacêutico para esclarecer a informação que www.virtual.epm.br/cursos/metanalise e
obtiveram.26 www.centrocochranedobrasil.org.br. Nos
A avaliação crítica da literatura é uma cursos de epidemiologia clínica, geralmente,
matéria complexa, repleta de «consideran‑ o tema é abordado e, mais recentemente e
dos» e «armadilhas» e extensamente abor‑ mais profundamente, nos cursos de revisão
dada na literatura.26,30 Os primeiros passos sistemática e meta‑análise, decorrentes do
da avaliação crítica da literatura foram apre‑ “boom” da medicina ou condutas baseadas
sentados anteriormente, mas são insuficien‑ em evidências.

6. A utilização e produção da
informação sobre medicamentos
pelo CIM
A informação sobre medicamentos é Responder questionamentos (também
essencial para o desenvolvimento dos instru‑ denominada informação reativa ou
mentos imprescindíveis para utilização racio‑ passiva) – serviço oferecido em res‑
nal desses produtos. Dentre estes, podemos posta à pergunta de um solicitante. O
citar, formulários, guias de tratamento padro‑ farmacêutico do CIM espera, passiva‑
nizados e informação para consumidores, os mente, que o interessado lhe faça a per‑
quais só poderão ser desenvolvidos com infor‑ gunta. Desencadear a comunicação é
mação confiável. Os CIM têm papel importan‑ iniciativa do solicitante. Esta é conside‑
te na elaboração desses instrumentos, que está rada a principal atividade de um CIM;
no escopo de suas atividades. Informação proativa (também deno‑
As atividades típicas de um CIM, relacio‑ minada de ativa) – neste grupo de ati‑
nadas no Quadro 1, podem ser divididas em vidades, a iniciativa da comunicação é
dois grandes grupos, de acordo com a forma do farmacêutico do CIM, o qual analisa
de atuação dos profissionais do CIM em rela‑ que tipo de informação pode necessi‑
ção às mesmas:16,23,26 tar seus possíveis usuários (p.ex., farma‑

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Centro de Informação sobre Medicamentos – Como implantar

cêuticos, médicos, enfermeiros, pacien‑ A avaliação crítica da literatura pelo farmacêu‑


tes) e encontra uma via de comunica‑ tico especialista em informação sobre medica‑
ção para suprir as necessidades. Tam‑ mentos deverá ser utilizada neste momento
bém estão incluídas aqui as atividades para fornecer a informação mais atual de forma
colaborativas, como participação em objetiva e ágil.
Comissão de Farmácia e Terapêutica. Os CIM podem ser consultados por te‑
O grupo de atividades proativas, geral‑ lefone, pessoalmente, fax, correspondência,
mente, provê mais visibilidade e causa correio eletrônico, ou formulário na Internet.
maior impacto junto aos usuários. Além de formular o questionamento, é neces‑
sário que o usuário identifique‑se e forneça seu
endereço, número de telefone, etc., a fim de
6.1. Respondendo questionamentos estabelecer uma via de comunicação que será
utilizada na resposta, se esta não for imedia‑
Típica e filosoficamente, responder a ta, ou caso um novo contato seja necessário.
questionamentos é um serviço gratuito ofe‑ Quando estiver envolvido um paciente, é de
recido pelos CIM aos profissionais da saúde. grande importância o fornecimento de dados
Quando um usuário formula uma questão relativos ao mesmo, como gênero, idade, peso,
para o CIM, o recebimento da pergunta, sua doença(s) de base e medicamento(s) em uso,
análise, elaboração da resposta, comunicação de tal forma que a resposta seja adequada às
ao solicitante e o arquivamento estão repre‑ necessidades e características particulares da‑
sentados na Figura 1, com destaque para o quela pessoa.
momento‑chave, onde o farmacêutico do CIM A título de exemplo, abaixo constam al‑
compreende a real necessidade de informação gumas categorias de perguntas respondidas
do solicitante. Na resposta a questionamentos pelos CIM:
feitos por usuários do CIM, levando‑se em con‑ Identificação de fármacos e medica‑
ta as vantagens e limitações das fontes de in‑ mentos nacionais e estrangeiros, em‑
formação sobre medicamentos, sugere‑se que pregados na clínica; sua disponibilidade
a busca de dados obedeça a seguinte sequên‑ e/ou equivalência no mercado nacional
cia de fontes: terciárias, secundárias e primá‑ e internacional;
rias. As fontes terciárias são as mais utilizadas Mecanismo de ação, usos clínicos, efi‑
por vários fatores, tais como: disponibilidade, cácia, reações adversas e toxicidade;
facilidade de manuseio, agilidade no uso, ob‑ Posologia, duração e uso correto dos
jetividade, variedade de informação; contudo medicamentos, em especial para pa‑
podem estar desatualizadas. Dependendo da cientes pediátricos, idosos, diabéticos,
complexidade e da natureza da pergunta, p.ex. cardiopatas, nefropatas, etc;
em novidades terapêuticas, será necessário a Liberação, absorção, distribuição, bio‑
utilização das fontes secundárias e primárias. transformação e excreção;

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Centro de Informação sobre Medicamentos – Como implantar

Possíveis interações dos medicamentos Interferência dos medicamentos nos


com outros medicamentos, álcool e ali‑ parâmetros e exames de análises labo‑
mentos; ratoriais;

INFORMAÇÃO REATIVA (Responder perguntas)


fluxograma

Dados circunstanciais de uma solicitação de informação


Envolvimento ou não de paciente
Doenças diagnosticadas no paciente
Medicamentos utilizados pelo paciente
Dados clínicos, incluindo laboratoriais
Urgência requerida
Fontes previamente consultadas
Contexto no qual surgiu a dúvida

“Por que a informação está sendo solicitada?”

Figura 1 – Fluxo de pergunta e resposta a uma questão


Fonte: Elaborada pelos autores com base em Malone, 2006

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Centro de Informação sobre Medicamentos – Como implantar

Uso de medicamentos durante a gravi‑ ículo de divulgação do CIM; por isso mesmo
dez e a lactação; deve ter qualidade, periodicidade (pelo menos
Conservação dos medicamentos, prin‑ 4 por ano) e ser bem difundido.23 No contexto
cipalmente quando se requer condi‑ do Cebrim/CFF, algumas das consultas prove‑
ções especiais; nientes de hospitais sugeriram a necessidade
Compatibilidade de misturas parente‑ de esclarecimentos técnicos sobre as melhores
rais. práticas correntes em determinados aspectos
Perguntas ao Cebrim/CFF podem ser en‑ e foram desencadeadoras da elaboração de
caminhadas por meio do formulário de per‑ artigos publicados no boletim Farmacotera‑
guntas on‑line, em www.cff.org.br, em “Cebrim”. pêutica, acessível por meio do sítio do CFF,
www.cff.org.br, como: partição de comprimi‑
dos (boletim 4‑5 de 2007), administração de
6.2. Informação proativa medicamentos por sonda (boletim 3‑4, de
2009), estabilidade (várias edições), etc. A Inter‑
A produção de informação em um CIM national Society of Drug Bulletins (ISDB) publi‑
obedece procedimento que abrange desde cou, em 2005, em parceria com a Organização
a pesquisa em fontes bibliográficas para res‑ Mundial da Saúde (OMS), o manual “Starting
ponder perguntas até a escolha dos temas a or Strengthening a Drug Bulletin” (Iniciando ou
serem abordados em boletins, formulários, Fortalecendo um Boletim sobre Medicamen‑
revisão de uso de medicamentos, farmacovi‑ tos), disponível em http://www.isdbweb.org/
gilância, etc. As respostas a questionamentos documents/uploads/manual_full_text.pdf
deverão ser utilizadas como “termômetro”, Ainda que responder a questionamentos
mostrando quais as principais dúvidas dos seja a principal atividade de um CIM, outras
solicitantes do serviço que poderão servir de atividades expandem as suas áreas de atuação,
orientação para a elaboração de material in‑ como informar aos usuários sobre novos usos
formativo escrito – artigos, boletins, folders, ou restrições de um medicamento ou sobre
etc. – ou sugestão para programas de apren‑ novos fármacos. Por isso, a informação proati‑
dizado permanente. va pode ser aquela que cause maior impacto
Um aspecto de destaque dentro da ativi‑ ou reconhecimento do serviço junto à comu‑
dade proativa é a publicação de um boletim. nidade, seja de profissionais da saúde ou pa‑
Seu papel básico é a disseminação de informa‑ cientes.
ção imparcial, científica e avaliada sobre o uso Em síntese, existe estreita relação entre
de medicamentos, seja de novidades terapêu‑ as atividades praticadas no CIM e somente a
ticas, novos usos, alertas sobre reações adver‑ experiência acumulada poderá determinar o
sas, publicar perguntas e respostas fornecidas equilíbrio das mesmas, ou seja, quais serão exe‑
na informação reativa que possam ter interesse cutadas e quanto tempo será dedicado a cada
geral, entre outras. O boletim é importante ve‑ uma delas.

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Centro de Informação sobre Medicamentos – Como implantar

7. Garantia de qualidade
Garantir a qualidade dos serviços providos
é uma tarefa fundamental. É útil garantir que
o desempenho do serviço de informação
sobre medicamentos seja continuamente
monitorado e comparado com um padrão de
boa qualidade.27 Na literatura, são encontrados
muitos exemplos de indicadores de garantia
de qualidade em CIM.15,16,18,26,32 Estes devem
priorizar atividades chave, como a quantidade
de questões respondidas por ano, proporção
de questões respondidas em até 24 horas,
satisfação do usuário com as respostas
providas, capacidade de editar um boletim
e sua frequência, participação em comissões
(p.ex., Comissão de Farmácia e Terapêutica –
CFT), atualização das fontes de informação,
atualização do farmacêutico que atua no CIM
e a quantidade de atividades desenvolvidas.
A Figura 2 mostra, na sua parte inferior,
os aspectos de qualidade dos serviços do CIM
relativos a resposta a questionamentos. No es‑
quema apresentado, somente serviços de qua‑
lidade poderão levar à credibilidade junto aos Figura 2 – Fundamentos da consolidação do
usuários, com o consequente prestígio do qual Centro de Informação sobre Medicamentos
decorrerá a consolidação do CIM. Fonte: Vidotti, 1999
As atividades do CIM devem ser cuida‑
dosamente documentadas. Formulários pa‑
drão ou sistemas eletrônicos podem facilitar o tões deve garantir segurança, arquivamento de
registro de perguntas. Um sistema eficiente de longo prazo e assegurar a confidencialidade
recuperação é essencial para localizar questões dos solicitantes.18
anteriores, monitorar a quantidade de traba‑ Os CIM têm a responsabilidade de pro‑
lho e categorizar os tipos de questões recebi‑ ver o mais alto padrão possível de serviço. Isto
das. Este pode, também, facilitar a execução de inclui a avaliação dos profissionais, revisão re‑
programas de garantia de qualidade pela aná‑ gular das solicitações feitas e das respostas pro‑
lise de solicitações selecionadas e por prazos vidas e revisão periódica dos recursos e proce‑
não cumpridos. O sistema de registro das ques‑ dimentos. Este processo deve, continuamente,

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Centro de Informação sobre Medicamentos – Como implantar

identificar melhoras potenciais, documentar tões previamente elaboradas, o que pode ser
os progressos até a implementação e avaliação feito por telefone ou remessa de perguntas por
das mudanças instituídas, a posteriori.18 correio eletrônico.18
Um processo de revisão por pares pode A qualidade dos serviços providos foi ve‑
ser aplicado a perguntas selecionadas. Quando rificada junto aos usuários dos CIM, no Brasil,33
possível, o processo de revisão por pares deve Índia34 e Sudão.35 No Brasil, a resposta foi com‑
incluir os comentários de um ou mais espe‑ pleta para 87% dos respondentes e 99% tem
cialistas externos, e.g., um farmacêutico espe‑ a intenção de usar o serviço novamente. Na
cialista em informação sobre medicamentos Índia, 95% acreditam ter recebido a resposta
ou farmacologista clínico. Usuários podem ser apropriada e 100% usam o CIM regularmente.
selecionados randomicamente para obtenção No Sudão, 90% classificaram o serviço como
da opinião sobre os serviços providos e/ou da bom a excelente e 95% afirmaram a intenção
resposta recebida, por meio de roteiro de ques‑ de continuar a usar o centro.

8. Lições aprendidas
1. Os CIM provêem informação independente sição e atualização de fontes de informação
sobre o uso clínico de medicamentos, pro‑ sobre medicamentos, equipamentos e mo‑
movendo o uso racional desses produtos. biliário.
2. Os CIM ajudam a melhorar a terapêutica 5. A principal atividade do CIM é responder
farmacológica e são custo‑efetivos. perguntas sobre o uso de medicamentos.
3. O farmacêutico que atua no CIM deve ter 6. Publicação de boletim e participação em
capacitação específica. Comissão de Farmácia e Terapêutica são
4. A estruturação do CIM requer comprome‑ outras atividades importantes.
timento institucional com sua instalação, 7. Execução de programa de garantia de qua‑
desenvolvimento e manutenção, incluindo lidade é essencial para avaliação e aperfei‑
recursos para pagamento de salários, aqui‑ çoamento dos serviços.

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Centro de Informação sobre Medicamentos – Como implantar

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Marco Aurélio Ilenir Leão Tuma Eugenie Desireé José Ferreira Marcos George Washington
Schramm Ribeiro Rabelo Neri Bezerra da Cunha

Este encarte foi idealizado e organizado pela Comissão de Farmácia Hospitalar do Conselho Federal de Far-
mácia (Comfarhosp), composta pelos farmacêuticos hospitalares Marco Aurélio Schramm Ribeiro, Presidente
(CE), Ilenir Leão Tuma (GO), Eugenie Desireé Rabelo Nery (CE), José Ferreira Marcos (SP) e George Washing-
ton Bezerra da Cunha (SP). O e-mail da Comissão é comfarhosp@cff.org.br

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