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Eco(arqueo)log

histórica
Lavras do Ab
Patrimônio cult
e nat

38 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 5 (1):


gia
a nas Eco(arqueo)logia
bade; histórica nas
Lavras do Abade:
tural Patrimônio cultural
e natural
tural

DIOGO MENEZES COSTA


Universidade Federal do Pará, Brasil

39
Costa, D. M.

ECO(ARQUEO)LOGIA HISTÓRICA NAS LAVRAS DO ABADE:


PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL
Resumo
A ecologia estuda as relações no mundo natural, enquanto a arqueologia es-
tuda a construção de mundos artificiais. O estudo ecológico e arqueológico
histórico apresentado aqui pretende combinar ambas as perspectivas, através
de pesquisas no rio das Almas, paisagem de ligação entre o sítio arqueológico
histórico das Lavras do Abade e a cidade de Pirenópolis, no centro-oeste
brasileiro.
Palavras-Chave: Ecologia histórica, arqueologia histórica, patrimônio cultural
e natural

HISTORICAL ECO(ARCHAEO)LOGY IN THE LAVRAS DO


ABADE: CULTURAL AND NATURAL HERITAGE
Abstract
Ecology studies the relations in the natural world, while archaeology
studies the construction of artificial worlds. The ecological and archaeo-
logical historical study presented here intend to combine both perspec-
tives, through the research in Almas river, a landscape of connection
between the historical archaeological site of Lavras do Abade and the city
of Pirenópolis, in the Brazilian middle-western.
Keywords: Historical ecology, historical archaeology, cultural and natural heritage

ÉCO(ARCHÉO)LOGIE HISTORIQUE DANS LES LAVRAS DO ABADE:


PATRIMOINE CULTUREL ET NATUREL
Résumé
L’Écologie étudie les relations dans le monde naturel, tandis que
l’Archéologie étudie la construction de mondes artificiels. L’étude
écologique et d’archéologie historique présentée içi essaie d’intégrer les
deux perspectives, par le biais de la recherches conduite au Rio das Almas,
un paysage qui relie l’histoire archéologique de Lavras do Abade avec la
ville de Pirenópolis, au centre-ouest du Brésil.
Mots-clés: Écologie historique, archéologie historique, patrimoine cul-
turel and naturel

Endereço para correspondência: Universidade Federal do Pará, Programa de


Pós-Graduação em Antropologia. Rua Augusto Correa 1, Campus Guamá,
Belém, PA. CEP 66075-110. E-mail: dmcosta@ufpa.br

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Eco(arqueo)logia histórica nas Lavras do Abade

INTRODUÇÃO gação sobre as adaptações dos seres


humanos ao ambiente natural, mas
O rio das Almas, que nasce na Serra dos
sim uma pesquisa material sobre os
Pirineus, no estado de Goiás, teve seus
impactos ambientais causados pelo ser
depósitos auríferos explorados desde o
humano em um determinado espaço
século XVIII com a fundação do Ar-
durante determinado tempo. Segundo,
raial de Meia Ponte, hoje cidade de Pi-
porque a análise proposta não é sobre a
renópolis. Fundado em 1727, o arraial
formação histórica do ambiente natural
de Meia Ponte exerceu enorme im-
e nem suas transformações ao longo
portância econômica e política durante
do tempo, mas sim sobre os vestígios
os séculos XVIII e XIX no contexto
da relação entre os seres humanos e a
regional, rivalizando inclusive com
natureza e o impacto dessas ações até
Vila Boa de Goiás, a antiga capital da
os dias de hoje. Por fim, porque um
província. No início do século XIX, a
estudo ecológico e arqueológico de
exploração do ouro em Meia Ponte de-
um sítio histórico não é somente uma
cresce, quando, em concordância com
pesquisa particular sobre um passado
a diminuição dos depósitos auríferos
qualquer, mas sim uma forma atual de
no local, também ocorre uma substi-
investigar problemas contemporâneos
tuição da matriz econômica da região
que atingem várias sociedades modernas
pelo sistema agropastoril. Porém, a ex-
em diversas partes do mundo (Costa
ploração do ouro é retomada na Serra
2010a).
dos Pireneus no final do século XIX
com a instalação nas Lavras do Abade
de uma companhia de mineração es- ECOLOGIA E ARQUEOLOGIA EM
trangeira e de uma vila de mineradores SÍTIOS HISTÓRICOS
que mais tarde foi destruída pelos ar-
raiais do entorno em consequência da O valor dos estudos ecológicos e ar-
poluição do rio das Almas (Costa 2003, queológicos no período histórico está
2006, 2010b). na inclusão das interações entre os
seres humanos e o ambiente em diver-
O estudo ecológico e arqueológico sas escalas, sejam elas locais, regionais
histórico de uma exploração de ouro ou mesmo mundiais (Hardesty e Fowler
como as Lavras do Abade é um espaço 2002). O principal elemento para uma
fértil para entender a construção de pesquisa ecológica e arqueológica de
uma paisagem extrativista, assim como um sítio histórico é que o depósito
o controle e uso dos recursos naturais arqueológico é um acervo particular-
no final do século XIX no Cerrado mente rico sobre as mudanças ambi-
brasileiro. Entretanto, no caso das entais, e um registro único do efeito
Lavras do Abade, uma abordagem ex- destas mudanças sobre a sociedade
clusiva por uma antropologia ecológi- moderna. Por outro lado, se levarmos
ca ou por uma história ambiental não em consideração que a maioria dos im-
seriam as melhores opções. Primeiro, pactos ambientais ocorreu principal-
porque o estudo não é uma investi- mente nos últimos 300 anos, podemos

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também perceber o quanto contem- fauna e flora. Entretanto, “é um tanto


porâneo é o assunto, e a importância quanto surpreendente que o estudo
dessas pesquisas para a nossa própria sobre paleopoluição tenha se mantido
sociedade atual. Entretanto, uma abor- inexplorado em um campo como a
dagem ecológica e arqueológica sobre arqueologia”(Nriagu 1996:224). Neste
sítios históricos precisa concatenar três caso, a ecologia e arqueologia histórica
tipos de argumentos: no espaço, no apresentam não só a melhor metodo-
tempo e sobre a ação humana. logia de coleta para esses dados, mas
também uma teoria de investigação
Primeiro, de que a paisagem também
para estes depósitos.
é uma construção histórica, porque
“o produto da colisão entre natureza E em terceiro, o principal argumento
e cultura, onde quer que ocorra, é uma para as pesquisas ecológicas e arque-
paisagem” (Balée e Erickson 2006:2).1 ológicas em sítios do período histórico
Conforme Crumley (2006), a perspec- é a de que não estamos mais vivendo
tiva de paisagem como uma unidade na época do Holoceno, mas sim em um
de análise em diversas disciplinas é estrato geológico superior chamado de
amplamente definida como uma mani- Antropoceno (Borrero 2007). Con-
festação temporal e espacial da relação forme Zalasiewicz e outros (2008) as
entre os seres humanos e a natureza. ações humanas desde a revolução in-
Desta forma, um particular conceito de dustrial tem mudado a estratigrafia da
paisagem histórica pode ser utilizado, terra; esta afirmação é alicerçada pela
o qual relaciona a homogeneidade do coleta e apresentação de uma profusão
espaço estudado como um reflexo das de dados sobre a constituição de uma
transformações ocorridas em diversos nova era geológica no mundo contem-
ecossistemas pelas ações humanas e ao porâneo. Os estudos de Crutzen (2002a,
longo de um determinado tempo. 2002b) sobre a concentração de dióxido
de carbono e metano em núcleos glaciais
Em segundo, como Swetnam, Allen &
de gelo têm demonstrado o feito global
Betancourt (1999) argumentam, uma
das mudanças ambientais ocasionadas
característica fundamental em estudos
pelo homem nos últimos duzentos
sobre ecologia é o longo período de
anos. Em outro trabalho, Crutzen
observação necessário para a coleta de
(2003) apresenta como as mudanças
informação confiável sobre mudanças
ambientais feitas pelo homem foram
na população, ecossistemas, distúrbios
intensificadas a partir da invenção do
e dinâmicas. Ainda conforme os au-
motor à combustão em 1784. Portan-
tores citados, os dados para esta inves-
to, a pesquisa ecológica e arqueológica
tigação podem ser obtidos em diversas
histórica nas Lavras do Abade é parte
fontes, com diferentes escalas tempo-
desta iniciativa, como uma referência
rais, incluindo arquivos documentários
global ao estudo dos impactos causa-
e naturais. Os arquivos naturais incluem
dos pela mineração de ouro no Cer-
todos os processos envolvendo a terra,
rado brasileiro.
como a sedimentação e vestígios de

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Eco(arqueo)logia histórica nas Lavras do Abade

PESQUISA DE METAIS PESADOS rante a coleta, o solo foi armazenado


NO RIO DAS ALMAS em sacos plásticos com sua localização
anotada através do uso de GPS, e após
O estudo de solos foi realizado na
a coleta as amostras foram secas sob a
área do rio das Almas entre o sítio ar-
luz solar por aproximadamente 8h para
queológico histórico das Lavras do
eliminar o excesso de água.
Abade, a montante, e a atual cidade de
Pirenópolis, a jusante. A pesquisa teve O primeiro ponto de coleta ou PC foi
como objetivo identificar elementos da localizado dentro da estrutura iden-
poluição por metais pesados em decor- tificada como a fundição do sítio ar-
rência da exploração mineral na área; queológico. O PC-01 não apresentou
para tanto foram selecionados dez pon- vegetação densa; o solo é basicamente
tos de coleta entre o sítio arqueológico composto por areia com uma colo-
das Lavras do Abade e a cidade de Pi- ração marrom e sem cascalho. O se-
renópolis, seguindo o curso do rio das gundo ponto de coleta localizou-se no
Almas e seus afluentes (Costa 2011a). início da área de mineração, próximo
ao portão de liberação da água. O PC-
Os restos de metais pesados na área
02 apresentou uma vegetação muito
foram coletados através de amostras de
densa e um solo formado basicamente
solo provenientes desde o sítio arque-
por cascalho com areia com uma
ológico histórico das Lavras do Abade
coloração marrom-amarelado. O ter-
até a cidade de Pirenópolis, seguindo o
ceiro ponto de coleta foi realizado no
curso do rio das Almas. Os pontos de
meio da área de extração do minério,
coleta foram selecionados conforme
próximo às paredes da mina. O PC-
sua proximidade com o leito do rio, se-
03 também apresentou uma vegetação
guindo a indicação de bancos de areia
bastante fechada com cascalho e areia
e pouca vegetação, propícios para a de-
formando um tipo de solo com colo-
posição de solo aluvial. A metodologia
ração marrom-amarelada. O quarto
empregada foi a de pequenos pontos
ponto de coleta foi feito no final da
de coleta escavados com colher de pe-
área de mineração, dentro de um dos
dreiro até aproximadamente 10 cm de
pátios de decantação. O PC-04 estava
profundidade ou a rocha matriz. Du-

Figura 1 – Pontos de coleta no rio das Almas.

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em ponto de vegetação mais dispersa, foi também às margens do rio das Al-
com o solo composto basicamente por mas, abaixo de uma ponte na saída da
pouco cascalho e areia, com coloração cidade de Pirenópolis. O PC-10 apre-
marrom-avermelhada. sentou uma densa vegetação com um
solo de coloração marrom e arenoso
O quinto ponto de coleta foi feito
com pequenos afloramentos rochosos.
no início do córrego Barriguda – um
tributário do rio das Almas, em um As amostras de solo foram analisadas
banco de areia às margens do córrego. pelo Prof. Dr. Carlos A. B. Garcia do
O PC-05 apresentou uma vegetação Departamento de Química da Univer-
bem menos densa do que dentro da sidade Federal de Sergipe. A metodolo-
mina e solo quase todo composto por gia utilizada para determinação da con-
areia com coloração marrom-avermelha- centração de metais pesados nos solos
da. O sexto ponto de coleta localizou- coletados foi através da dissolução
se no meio do córrego da Barriguda, de parte das amostras em ácido e a
próximo à área de captação de água da medição do produto em um espec-
cidade de Pirenópolis. No PC-06 a vegeta- trômetro de absorção atômica (Alves,
ção também se apresentou dispersa e o Garcia & Xavier 2006). Em seguida,
solo esteve caracterizado por uma areia as concentrações de metais pesados
húmica com rochas expostas e colora- foram calculadas em mg/kg conforme
ção marrom. O sétimo ponto de coleta as massas do solo amostrado, e o re-
foi no início do rio das Almas e final sultado foi comparado com referência
do córrego da Barriguda. No PC-07 a aos valores estipulados para poluição
vegetação era pouco densa, com algu- de solos no Brasil.
mas plantas dispersas; o solo também
Conforme a Companhia de Saneamen-
apresentou coloração avermelhada e
to de São Paulo, o Valor de Referên-
areia húmica com rochas expostas. O
cia de Qualidade ou VRQ (CETESB
oitavo ponto de coleta foi em uma
2005) é a quantidade de concentração
praia do rio das Almas na entrada da
de uma determinada substância em
cidade de Pirenópolis. O PC-08 não
solo ou água subterrânea, que define a
apresentou nenhuma vegetação e solo
limpeza de um solo ou a qualidade de
quase todo composto de areia marrom-
consumo da água. O VRQ é estatistica-
avermelhada com rochas expostas. O
mente estabelecido conforme análises
nono ponto de coleta foi localizado às
químico-físicas de diversas amostras
margens do rio das Almas, próximo
de solo e água. O VRQ é regularmente
a algumas construções históricas no
utilizado como referencial para tomada
meio da cidade de Pirenópolis. O PC-
de medidas preventivas contra a con-
09 apresentou uma pequena vegetação
taminação de solos e águas. No caso
com um solo de coloração marrom-
das Lavras do Abade, a área estudada
amarelado e formado basicamente por
não apresentou valores superiores aos
areia húmica e grandes rochas expos-
estabelecidos pelo VRQ para poluição
tas. O décimo e último ponto de coleta
de uma determinada área.

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Eco(arqueo)logia histórica nas Lavras do Abade

Por outro lado, as concentrações apre- Abade também podem ser associadas
sentadas de Cu, Zn, Pb, Ni e Hg tam- aos depósitos de ouro na área, enquan-
bém apresentaram outros padrões que to em outras áreas esta concentração se
merecem ser considerados. O cobre, manteve estável. O chumbo também
por exemplo, apresentou uma concen- esteve presente na amostra e com uma
tração três vezes maior no PC-02 e PC- distribuição similar ao cobre e zinco,
01 do que nos outros oitos pontos de ou seja, concentrado nos PC-01 e PC-
coleta. A alta presença do cobre nestes 02 do sítio com um leve decréscimo no
dois pontos de controle pode ser inter- PC-07. Da mesma forma, o chumbo
pretada como uma associação direta à também apresentou um acréscimo no
presença do minério aurífero do sítio. PC-08 e PC-10, o que pode ser com-
Por outro lado, uma pequena compa- parado à distribuição do cobre na
ração entre os padrões estabelecidos área da cidade. Assim como o cobre
com a presença de cobre entre os PC- e o zinco, o chumbo também pode
03 e PC-04, e ainda os PC-09 e PC-10 ser associado à presença dos depósi-
pode indicar outros depósitos de ouro tos auríferos na área. Por outro lado,
na região. a distribuição do níquel foi diferente
dos outros minerais; sua concentração
Similar com a distribuição de cobre na
ocorreu em maior número no PC-04
área, o zinco também apresentou um
e posteriormente nos pontos PC-05 e
padrão de concentração que indica
PC-03. Outras informações que po-
os pontos de controle PC-04, PC-02
dem ser destacadas sobre o níquel é
e PC-01 com três vezes mais que os
que este metal sempre ocorre associa-
outros pontos. Neste caso, as concen-
do com depósitos de ouro, assim como
trações de zinco na área das Lavras do
o cobre, zinco e chumbo; porém a dis-
Tabela 1
Análise das amostras coletadas
Pontos de Concentração de Metais em mg/kg
Coleta Cd Cu Zn Pb Ni Hg
PC-01 0.00 19.99 15.98 4.49 4.16 0.04
PC-02 0.00 22.95 16.49 3.49 4.49 0.05
PC-03 0.00 6.99 11.48 2.50 5.49 0.04
PC-04 0.00 6.50 18.49 2.50 8.49 0.02
PC-05 0.00 4.00 11.50 2.00 6.00 0.01
PC-06 0.00 3.49 9.98 2.00 4.49 0.01
PC-07 0.00 2.99 7.48 1.00 2.49 0.01
PC-08 0.00 3.00 9.00 1.50 2.00 0.02
PC-09 0.00 6.00 8.00 2.50 3.00 0.02
PC-10 0.00 5.00 9.50 3.00 3.50 0.03
VRQ <0,5 35 60 17 13 0.05

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tribuição do níquel na área das Lavras intervalo apontado, foram encontradas


do Abade foi atípica. as menores quantidades de mercúrio em
toda a região estudada, conforme a tabela
Finalmente, a concentração de mer-
apresentada. Neste caso, a poluição por
cúrio na área seguiu as concentrações
mercúrio realizada nas Lavras do Abade
de cobre, zinco e chumbo, com pre-
não teria alcançado o antigo Arraial de
sença massiva entre o PC-01 ao PC-03
Meia Ponte e hoje cidade de Pirenópolis,
nas Lavras do Abade. Em seguida o
que por sua vez também apresenta um
mercúrio apresenta uma taxa decres-
taxa de concentração de mercúrio infe-
cente até o PC-07, no meio do rio das
rior a das Lavras do Abade.
Almas, e volta a crescer entre os PC-08
e PC-10. O mercúrio é um elemento Por outro lado, é também relevante
absolutamente intrusivo e não é na- notar que existe uma taxa de decrés-
tivo dos depósitos auríferos da área, cimo de mercúrio da ordem de 33,3%
nem mesmo como cinábrio sendo im- entre cada área de mineração – Lavras
portado e, portanto, um subproduto do Abade e Pirenópolis – e da sua
da exploração humana do ouro. Con- taxa mais baixa no rio das Almas, con-
sequentemente, a presença de mer- forme a tabela apresentada. Com base
cúrio nas áreas das Lavras do Abade nesses dados, foi elaborada uma fór-
e na cidade de Pirenópolis serve como mula matemática para explicação dessa
indicador dos locais de exploração de taxa de decréscimo constante de mer-
ouro na região. cúrio para a área. A fórmula permitiu
a datação das duas áreas de exploração
Embora a presença do mercúrio na
através do cálculo da concentração de
área seja historicamente explicada, a
mercúrio remanescente das atividades
quase ausência de concentração de
de mineração. Sendo T o resultado da
mercúrio do PC-05 ao PC-07 esta-
fórmula, T0 é a variável da data em que
belece um novo entendimento sobre
a coleta foi feita, N0 é a variável da mais
os fatos anteriormente apontados. A
alta concentração de mercúrio na área
deposição do mercúrio em áreas de
em T0 ou o índice de poluição de Hg
mineração ocorre majoritariamente
para a área, Nv a variável de quantidade
no solo das encostas ou no leito dos
de mercúrio em cada ponte de coleta
rios (Kelly 1998), fragmentando-se de
a ser datado, e C é a constante de de-
forma coloidal, ou seja, em partículas
créscimo do mercúrio para a área em
que não se dissolvem no meio (Hadley
específico, o que neste caso é de 1/3 a
e Snow 1974); o mercúrio mantém-se
cada 100 anos.
presente em sua forma pura mesmo
durante muito tempo após seu uso. Esta taxa de decréscimo também cor-
Desta forma, a melhor técnica para responde a um hiato temporal de
estudo dos depósitos em áreas afeta- aproximadamente 100 anos entre cada
das é a coleta dessas gotículas que po- uma das áreas pesquisadas, embora al-
dem variar de 1nm a 1µm de tamanho gumas outras variáveis possam expli-
(Miller e Lechler 1998). Portanto, no car esses padrões de concentração de

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Eco(arqueo)logia histórica nas Lavras do Abade

mercúrio na área de estudo, como a in- PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL


tensidade ou duração das explorações. NAS LAVRAS DO ABADE
Um fator persistente diz respeito à re-
Conforme Lansing e outros (1998)
sposta ambiental dada a um fenômeno
paisagens podem adquirir o valor de
humano, o que neste caso demonstra
“capital natural” ao incluírem a com-
ser de 1/3 de decréscimo de mercúrio
plexidade de suas ecologias aos proces-
a cada 100 anos.
sos históricos de determinadas socie-
dades. Similar com o acontecido no rio
Skokomish no nordeste dos Estados
Unidos, o rio das Almas somente ad-
quiriu um capital natural total após sua
degradação. Em ambos os casos, as co-
munidades tradicionais mediram suas
Para tanto, a fórmula foi aplicada em perdas pela diminuição da pureza am-
cada um dos pontos de coleta, apre- biental dos seus recursos. Além disso,
sentando uma consistência para com em ambos os casos, a memórias partilhadas
os períodos históricos de exploração pela população também demonstraram
de ouro na região. qual era o capital natural dos recursos
Consequentemente, as Lavras do Abade hídricos, algumas vezes recuperados
e a cidade de Pirenópolis dividem não so- somente através de trabalhos arque-
mente uma história de conflito e abuso ológicos como no rio Skokomish, ou
dos recursos naturais, mas também uma também através da tradição oral como
existência simbiótica com o rio das Al- no caso do rio das Almas.
mas e o bioma do Cerrado. As mudanças dos sistemas socio-

Figura 2 – Datação dos pontos de coleta

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ambientais ao longo do tempo é um da ecologia da região, podemos ob-


fenômeno que pode ser investigado servar que esta paisagem cultural trata
pela ecologia e arqueologia histórica. hoje do registro de uma visão capitalis-
Conforme Redman e outros (2004) os ta e ainda muito empregada sobre os
impactos humanos sobre o meio am- recursos naturais do país. A paisagem
biente nunca podem ser creditados a cultural das Lavras do Abade é desta
um único fator, tal como o aumento forma a consequência de uma recém-
da população ou mesmo pressões nascida sociedade industrial no final do
econômicas. Neste caso, tanto indi- século XIX no sertão brasileiro, e que
víduos, grupos, ou mesmo sociedades via o espaço natural como algo a ser
inteiras tomam certas decisões que usado para o desenvolvimento do país.
inicialmente são ambas produtivas e
Desta forma, o sítio histórico das Lavras
lógicas naquele momento, mas em
do Abade não é somente um destaque
longo prazo apresentam negativas ou
para estudos ecológicos e arqueológicos
mesmo desastrosas repercussões sobre
sobre a degradação ambiental causada
o ambiente. Desta forma, um estudo
pela exploração mineradora no centro-
ecológico e arqueológico histórico pre-
oeste brasileiro, mas também um fér-
tende investigar tanto a previsibilidade
til acervo de transformações culturais
quanto a resiliência das ações humanas
ocasionadas com o surgimento da so-
sobre o meio ambiente. Previsibilidade,
ciedade industrial no Brasil do século
pois o resultado das forças impac-
XIX. Na sua paisagem estão presentes
tantes sobre um determinado sistema
os vestígios de impactos ambientais
pode ser antecipado pelo estudo de
ligados à ascensão e queda do mundo
experiências passadas. Resiliência, pois
capitalista sobre o mundo natural em
estuda a habilidade de um determinado
uma economia rural no final do século
sistema de resistir ou acomodar-se às
XIX, onde o conflito ocasionado pela
mudanças provocadas.
poluição da água nas Lavras do Abade
Segundo Greenberg e Park (1994) é também um fator de estudo e com-
existe, porém, a necessidade de in- preensão das contradições na forma-
cluir perspectivas culturais, políticas e ção de um novo mundo surgido a par-
econômicas nas análises de sistemas tir da revolução industrial.
ecológicos que foram socialmente
construídos. No estudo de caso das
Lavras do Abade, os efeitos de destru- PENSAMENTO AMBIENTAL
ição do meio ambiente na área são mais BRASILEIRO NO SÉCULO XIX
do que restos notáveis de um passado Externamente, a degradação ambiental
distante, eles são parte de uma paisa- no Brasil é atualmente relacionada ao
gem histórica e socialmente construída, desmatamento da Amazônia (Kirby et
e de um legado deixado para gerações al. 2006 , Laurance et al. 2002, Malhi
futuras. Partindo, portanto, de uma et al. 2008). Porém, esta visão é ali-
perspectiva de análise socioeconômica mentada pelo mito de que a população

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Eco(arqueo)logia histórica nas Lavras do Abade

brasileira é historicamente desprovida grandes plantações de cana, e depois


de uma consciência ambiental sobre de café.
os recursos naturais. Segundo Martins
Todavia, é realmente durante o século
(2007), desde o período colonial já é
XIX que o discurso ecológico toma
possível observar algumas manifesta-
corpo no Brasil através principalmente
ções ambientalistas, normalmente to-
das ações de José Bonifácio, o qual
madas por viajantes estrangeiros que
embora fosse um político conserva-
já observavam a degradação do ambi-
cionista e também um progressista
ente devido à exploração mineradora e
econômico e social (Costa 1985), era
agropecuária na colônia. Martins (op.
também um ambientalista. Segundo
cit.) argumenta que os primeiros pensa-
Pádua (2002) uma das maiores con-
mentos sobre ecologia no Brasil nas-
tribuições de José Bonifácio para a
cem no século XIX, quando começa,
causa foi a conexão entre preservação
patrocinada pelo Império, uma cam-
da natureza e necessidade de uso so-
panha de “conhecimento ambiental”.
cial da terra durante seu curto minis-
Conforme Pádua (2002) as origens do tério no século XIX. Após sua morte,
pensamento ambientalista no Brasil a discussão sobre ecologia no Brasil
têm raízes no próprio tratamento que foi marcada pelo surgimento de dois
a sociedade portuguesa dispensava à segmentos antagônicos: um primeiro
natureza. Essa percepção portuguesa grupo marcado pelos oponentes de
sobre o ambiente nasce nos meados Bonifácio, que não viam relação entre
do século XVIII na Europa, com o sistema escravista e a preservação de
as ideias iluministas da “economia recursos naturais, e outro, mais tardio,
natural”. Na concepção da economia que, seguindo as ideias de Bonifácio,
natural estão presentes pensamentos clamava pelo fim da escravidão e pela
tanto fisiocráticos – a riqueza do solo implantação da reforma agrária.
-, quanto românticos – de idealização
Infelizmente o pensamento ambien-
da natureza. Porém, é interessante
talista até o final do século XIX no
notar que, transferidos para a reali-
Brasil foi um mosaico de aspirações
dade brasileira colonial, estes ideários
e ações não totalmente coesas ou efe-
ecológicos também vão incorporar
tivas, pois, se de um lado o discurso
o discurso de independência, onde
ecológico no meio intelectual brasileiro
a problemática da terra está ligada às
pregava o uso racional dos recursos
questões indígenas e dos escravos.
naturais no país, o fazia somente para
Outra característica deste período é
criticar o uso de tecnologias defasadas
também a incorporação do discurso
e clamar por uma forma mais eficiente
ecológico por parte da igreja católica,
de exploração. Por outro lado, outra
assim como as principais ações orga-
parte da sociedade que, alheia aos dis-
nizadas por intelectuais brasileiros no
cursos academicistas, só vai obter uma
Pará, em Pernambuco e na Bahia e con-
forma de expressão a partir dos movi-
tra o desperdício de recursos naturais nas
mentos sociais do século XX, pode ter

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Costa, D. M.

encontrado no conflito ocorrido nas mineração, a dispersão de metais pesa-


Lavras do Abade uma das primeiras dos liberados e usados no processo
manifestações do movimento ambien- contaminam as águas do entorno por
talista na América Latina.2 enormes extensões e comprometem a
fauna e flora por décadas. Como exem-
plo, Whol comenta que na Califórnia
CONSIDERAÇÕES FINAIS o sistema de mineração hidráulica, o
Um estudo ecológico e arqueológico mesmo tipo utilizado nas Lavras do
histórico sobre a poluição de um re- Abade (Costa 2012), foi inventado
curso como a água no Brasil, e o con- em 1853 e empregado em larga escala
flito gerado em função disso é tanto em Sierra Nevada durante a segunda
um conceito inovador quanto contem- metade do século XIX. Uma decisão
porâneo em várias partes do mundo.3 judicial de 1884 baniu completamente
Como exemplo, o trabalho de Villarro- as operações com mineração hidráulica
el e Peredo (2006) apresenta o quanto na área em função da contaminação
as culturas andinas desde os indígenas dos rios na região. Entretanto, os efei-
antigos até os modernos camponeses tos residuais deste tipo de mineração
são sociedades extremamente hidráu- do século XIX se mantêm até hoje nos
licas, e que tem seus costumes am- leitos dos rios e suas margens, como
plamente alicerçados em conceitos de no caso do Rio Yuba.
uso e controle da água. Por outro lado, O estudo ecológico e arqueológico
o trabalho de Bustamenta e outros das Lavras do Abade foi realizado
(2004) expõe os conflitos gerados so- em um termo mais regressivo do que
bre a gestão da água na cidade de Tara- retrospectivo, conforme a proposta
ta, na Bolívia, onde dois grupos rurais de Whitehead (1998). Isto quer dizer
similares competem pelos recursos hí- que a pesquisa teve como objetivo
dricos da região. Estes dois exemplos entender o passado ambiental da área
da América do Sul são citados somente que produziu a ecologia presente hoje
para apresentar a universalidade e atu- no local, e não somente um conhe-
alidade do assunto, e que no caso das cimento processual sobre as respostas
Lavras do Abade foi historicamente apresentadas pelo meio às mudanças
constituído no final do século XIX históricas. Entretanto, este objetivo só
com a exploração de ouro no Cerrado foi alcançado após o engajamento de
brasileiro e a poluição da água do rio uma série transdisciplinar de estudos,
das Almas. os quais combinaram uma diversidade
Conforme Whol (2004), o prolonga- de resultados na pesquisa ecológica e
mento, a extensão, ou intensidade de arqueológica histórica. Desta forma, o
um impacto ambiental podem ocasionar sítio arqueológico histórico das Lavras
uma perda permanente e irreversível do Abade providenciou uma realidade
na diversidade biológica de qualquer local sobre a poluição da água por mais
ecossistema. No caso das atividades de de 250 anos em uma mesma atividade

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Eco(arqueo)logia histórica nas Lavras do Abade

e comunidade. se no entendimento de que o evento


ocorrido na Serra dos Pireneus não
Mesmo que o senso comum aponte
foi somente um conflito ambiental,
uma pesquisa ecológica e arqueológica
mas também a soma de disparidades
histórica como somente interessada
econômicas e disputas políticas na
nas marcas deixadas pelo homem so-
região (Costa 2011b). A poluição minera-
bre o meio, é interessante notar tam-
dora do rio não ocorreu somente em
bém as respostas do ambiente, e neste
um determinado tempo e espaço, mas
caso até a própria adaptação humana às
sim ao longo de quase um quarto de
mudanças naturais (Bawden e Reycraft
milênio e foi conduzida tanto pela co-
2001). O estudo aqui apresentado foi
munidade das Lavras do Abade quanto
focado sobre a relação dialética entre
pela sociedade de Meia Ponte. Portan-
o homem e a natureza na construção
to, o estudo ecológico e arqueológico
de paisagens históricas. Lembrando
histórico nas Lavras do Abade é tam-
também que o conceito de criação de
bém um exercício de práxis, e aqui
uma paisagem histórica não é somente
entendido como um “instrumento
a mera conexão entre as ações huma-
científico” que revela o jogo implícito
nas e as respostas naturais, ou vice
de metonímias e metáforas em repen-
versa, mas sim um intricado sistema
sar nossa contemporânea relação com
heterárquico.
a natureza.
Não é intenção desta pesquisa interpre-
tar a paisagem histórica das Lavras
do Abade de um ponto de vista es- NOTAS
tritamente evolucionista, ou mesmo 1
Embora este seja também um conceito
através de um puro argumento ma- criticado; ver por exemplo, Oyuela-Cayce-
terialista de “razão prática”, mas sim do (2007).
considerar o conceito marxista de que 2
Para melhor avaliação, ver o projeto “Wa-
o trabalho é também o resultado da rela- ter Conflict Chronology” do Pacific Insti-
ção entre o homem e a natureza (Patterson tute em: http://www.worldwater.org/con-
2003). Portanto, a paisagem das Lavras flict/list/, acessado em: 07/09/2010.
do Abade pode ser interpretada como 3
O programa das Nações Unidas para o
um remanescente de decisões históri-
Meio Ambiente publicou 14 estudos de
cas da sociedade industrial capitalista, caso sobre conflitos ao longo do globo
e um teatro da memória (Costa 2012 que foram iniciados ou se mantém pela
no prelo). Pois, conforme Hecken- competição acirrada de recursos naturais
berger (2005) a história é expressa, (UNEP 2009).
produzida e reproduzida nas paisagens
onde ocorre um encontro entre a na-
tureza e a cultura criando os lugares de REFERÊNCIAS
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