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Direito Tributário

Direito Tributário Nacional e Princípios Fundamentais Constitucionais


do Estado Brasileiro com Repercussão no Campo Tributário
Direito
Tributário
Direito Tributário Nacional
e Princípios Fundamentais
Constitucionais do Estado
Brasileiro com Repercussão no
Campo Tributário

Nathalia Correia Pompeu

Editora

1a Edição / Abril / 2013


Impressão em São Paulo - SP
Direito Tributário Nacional e Princípios
Fundamentais Constitucionais do Estado
Brasileiro com Repercussão no Campo Tributário

Coordenação Geral Nelson Boni

Coordenação de Projetos Leandro Lousada

Professor Responsável Nathalia Correia Pompeu

Projeto Gráfico e Diagramação Erick Genaro

Capa Wagner Boni

Revisão Ortográfica e Coordenação


Pedagógica de Cursos EaD Célia Ferreira Pinto

1ª Edição: Abril de 2013


Impressão em São Paulo/SP

Copyright © EaD KnowHow 2011


Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a
prévia autorização desta instituição.

P788d Pompeu, Nathalia Correia.


Direito tributário. / Nathalia Correia Pompeu. – São
Paulo : Know How, 2012.
168 p. : 21 cm.

Inclui bibliografia

1. Direito tributário. 2. Princípio constitucional.


3. Imunidade tributária. 4. Tributos. 5. Brasil. I. Título.

CDD 343.04

Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8 / 6353


Sumário

Capítulo 1 Direito Tributário Nacional 5

1.1. Introdução
1.2. Conceituação do Direito Tributário
1.3. Sistema Jurídico e Sistema Jurídico Tributário Nacional
1.4. Normas gerais de Direito Tributário e o Poder de Tributar
1.5. Funções das Principais Normas Tributárias
Síntese do capítulo
Jurisprudência sobre o tema
Questões

Capítulo 2 Princípios Fundamentais Constitucionais


do Estado Brasileiro com repercussão no
campo Tributário 15

2.1. Estado Democrático de Direito e o Princípio Democrático


2.2. Princípio Republicano
2.3. Princípio Federativo
2.4. Princípio da Autonomia Municipal
2.5. Princípio da Lei Complementar em Matéria Tributária
Síntese do capítulo
Jurisprudência sobre o tema
Questões

Gabarito 27

Referências Bibliográficas 29
CAPÍTULO 1
DIREITO TRIBUTÁRIO
NACIONAL

1.1. Introdução

É possível detectar, dentro do ordenamento brasileiro como um todo e uma


série de normas jurídicas, todas concatenadas, formando um sistema.
Sistema Jurídico é o conjunto de normas jurídicas conectadas logicamente entre
si, de tal forma que as normas especiais, devam atuar como derivadas das normas gerais.
Nos sistemas jurídicos em geral, e no Sistema Jurídico Brasileiro em particular, os
princípios jurídicos fundamentais são aqueles instituídos no sistema constitucional, isto
é, os firmados no texto da Constituição da República Federativa do Brasil.
Os princípios constitucionais são os mais importantes do ordenamento jurídico
nacional. Tal importância justifica-se em virtude da posição que ocupa, pois ao estarem
inseridos na CRFB, são o alicerce e o fundamento das demais normas existentes dentro
do sistema brasileiro. Ou seja, são as bases mais importantes do sistema normativo, pois
dão estrutura e coesão ao edifício jurídico como um todo. Assim, deve ser estritamente
obedecido, sob pena de todo o ordenamento jurídico se corromper. Pois, violar um
princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer.
E por que violar um princípio pode ser mais grave do que violar uma norma?
Essa “gravidade” traduz-se no próprio conceito de princípio. Para Celso Antônio Ban-
deira de Mello (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo.
28.ª ed. São Paulo: Malheiros, 2011) princípio é:

(...) “mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição


fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e ser-
vindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir
a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá
sentido harmônico.”

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Assim é que, princípios são conhecidos como “mestres das regras” dentro do sistema
das normas como um todo, aqui considerando normas lato senso, nos quais são espécies, por
exemplo, as leis, os princípios, as portarias, cabendo ao intérprete do sistema jurídico, buscar
identificar as estruturas básicas, os fundamentos, os alicerces do sistema em análise.
No momento, importa-nos dar destaque aos princípios constitucionais, para, a par-
tir deles, compreender a função do sistema jurídico tributário e seus princípios basilares.
Isto porque, no Brasil o sistema tributário é constitucional e, portanto, é um sis-
tema rígido. Tal afirmação quer dizer que para que haja qualquer alteração é necessário
um procedimento mais solene e complexo, do que o exigido na confecção de outras leis.
Nesse sentido, Sacha Calmon (COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Di-
reito Tributário Brasileiro. 10.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2.009) aduz que são três as
consequências desta constitucionalização:

a) os fundamentos do direito tributário são de origem constitucional;


b) o direito tributário deve merecer total atenção dos operadores do direito (administra-
ção, judiciário e contribuintes);
c) as doutrinas do direito comparado devem ser estudadas com cautela, tendo em vista
as diversidades constitucionais.

1.2. Conceituação do Direito Tributário

Em resumo, podemos estabelecer a seguinte construção evolutiva da ciência do


Direito Tributário:

A- É o ramo das Ciências Jurídicas que estuda o surgi-


mento, as modificações e a extinção da relação jurídica
do tributo.

B- É o ramo do Direito Público que rege as relações entre


Conceito de Direito o Estado e os particulares, decorrentes da atividade finan-
Tributário: ceira do Estado, no que concerne à obtenção das receitas
que correspondam ao conceito de tributo.

C- É o ramo do Direito Público que regula as relações


entre o Fisco e o Contribuinte, concernentes à imposição,
à arrecadação e à fiscalização de tributos.

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No primeiro contato com o Direito Tributário, o foco será o “Direito Constitu-
cional Tributário”, assim entendido como o conjunto de princípios e normas de Direito
Constitucional que regulam o poder impositivo do Estado, tanto no que se refere à ação
estatal dirigida à percepção e lançamento dos tributos, como as correlativas garantias
jurisdicionais dos contribuintes.
Posteriormente, trataremos do Direito Tributário tendo como foco o Código Tribu-
tário Nacional e suas imposições legais, relativamente às normas gerais do Direito Tributário.

1.3. Sistema Jurídico e Sistema Jurídico


Tributário Nacional

Neste contexto, o Sistema Jurídico Tributário está fundamentado no Sistema Ju-


rídico Nacional, do qual se extrai os fundamentos, os princípios e conceitos.
Falar de sistema, como já foi asseverado, é conceber um conjunto de normas. No
Direito Tributário as principais normas são: a Constituição da República Federativa do
Brasil, a Lei Complementar e a Lei Ordinária. Cada qual com suas funções pré-estabele-
cidas no ordenamento, como serão explanadas em aulas posteriores.
Ademais, para complementar o Sistema Tributário como um todo, necessário
lembrar-se da vinculação do Sistema Tributário com o Sistema Financeiro, origem do
Direito Tributário.
O Estado necessita de recursos financeiros para fazer funcionar sua estrutura,
seus mecanismos, seus agentes, além de gerenciar suas múltiplas atividades.
Os recursos entram nos cofres públicos, principalmente, por meio das receitas.
Tais receitas, no geral, decorrem de duas fontes, aqui classificadas como:

a) Receitas Originárias
As receitas originárias são representadas, em sua maioria, pelos chamados preços
públicos, entendidos como a remuneração paga pelo uso de bens e serviços estatais, assim
como pela produção, industrialização e comercialização de mercadorias, por meio de em-
presas e instituições públicas. Exemplos: as rendas de bancos estatais e receita da Petrobrás.

b) Receitas Derivadas
As receitas derivadas são chamadas de compulsórias. Ou seja, é obrigatório o ato
de exigi-las pelo Estado, forçosa é sua exigibilidade sem necessariamente uma contra-
prestação direta de serviços prestados, sob pena de descumprimento do dever estatal.
Neste caso, o contribuinte, que é o sujeito passivo inter-relacionado com o Esta-
do, por força do disposto em Lei, está sujeito a suportar o ônus da criação dessas receitas.

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Exemplos de receitas derivadas: os tributos e as penalidades pecuniárias.
É sobre essas receitas que iremos abordar durante todo esse curso. As receitas
tributárias – preocupação do Direito Tributário como um todo.

1.4. Normas gerais de Direito Tributário e o Poder de


Tributar

Além do estabelecimento dos limites de atuação das pessoas jurídicas de direito


Público, a própria Constituição, por meio das limitações constitucionais ao poder de
tributar, coloca os instrumentos necessários à defesa das pessoas, físicas ou jurídicas,
contribuintes dos tributos.
A CRFB demonstra a importância do conhecimento das regras e princípios constitu-
cionais aplicáveis ao Direito Tributário, pois praticamente, esgota as matérias fundamentais.
O Sistema Constitucional Tributário está sujeito a uma série de Princípios cons-
titucionais, os quais serão objeto de capítulo próprio, tais como:

- Princípio da Legalidade - significa que não pode ser exigido ou aumentado tributo sem
que haja estipulação de lei (Art.5.º, II e Art.150, I da CF).
- Princípio da Isonomia - todos os contribuintes são iguais perante o fisco (Art.5.º e
Art.150, I da CF).
- Princípio da Anterioridade - proíbe a União, os Estados e os Municípios de cobrar
tributos no mesmo exercício de sua instituição (ou seja, os impostos só podem ser co-
brados no ano seguinte de sua aprovação em lei). As exceções para esse princípio são o
Imposto de Importação, o Imposto de Exportação, o IPI, o IOF e os impostos extraor-
dinários (em caso de guerra) (Art. 150, III a, da CF).
- Princípio da Irretroatividade da lei - proíbe a lei de retroagir, ou seja, não podem ser
exigidos tributos sobre fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que
instituiu ou aumentou algum tributo (Art.150, III a, da CF).
- Princípio da Capacidade Tributária - os impostos serão graduados conforme a capaci-
dade econômica do contribuinte (Art.145, parágrafo I da CF).
- Princípio da Uniformidade - os tributos instituídos pela União serão uniformes em
todo o território nacional (Art.151, I da CF).
- Princípio da Inconstitucionalidade - a lei tributária será inconstitucional, quando emanar
contra os contribuintes faltosos, prevendo pena de prisão civil (Art. 5°, LXII da CF).
- Princípio de Proteção Fiscal - concessão de mandado de segurança para proteger o
direito fiscal líquido e certo do contribuinte (Art.5.º, LXIX, da CF).

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1.5. Funções das Principais Normas Tributárias

O Código Tributário Nacional é a lei complementar que disciplina o Sistema Tribu-


tário Nacional, em seu Livro I e traça as normas gerais de Direito Tributário no Livro II.
Tem como conteúdo “regras jurídicas sobre tributos e sobre conflitos de competên-
cia entre as entidades estatais, bem como sobre limites constitucionais do poder tributário”.
O CTN nasceu como Lei Ordinária, entretanto foi recepcionada pela Constitui-
ção de 1.988, como Lei Complementar pela função que exerce no Direito Tributário.
Exemplo de sua função, e motivo pelo qual foi recepcionada como lei complementar,
foi a capacidade de dispor sobre conflitos de competência tributária, afastando dúvidas
ou interpretações discordantes. (MIRANDA, Pontes de. Comentários à Constituição de
1.967, com a emenda n.º 1 de 1.969. 2.ª ed. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1970).
Assim, além da Constituição Federal que tem a função de estabelecer compe-
tências tributárias, limitar o poder de tributar e dispor os princípios constitucionais apli-
cáveis ao Direito Tributário, o Sistema Jurídico Tributário engloba também o Código
Tributário Nacional, com suas alterações, como complementação ou instrumento de
explicitação da ordem constitucional tributária e de garantias do cidadão-contribuinte.
Observe o que dispõe a CRFB a respeito do Sistema Tributário e suas funções:

DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
Art. 1.º. Esta Lei regula com fundamento na Emenda Constitucional n.º 18 de 1.º
de dezembro de 1965 o Sistema Tributário Nacional e estabelece, com fundamento no art.
5.º, inciso XV, alínea b, da Constituição Federal, as normas gerais de Direito Tributário
aplicáveis à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, sem prejuízo
da respectiva legislação complementar, supletiva ou regulamentar (g.n.).

LIVRO PRIMEIRO - SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL - TÍTULO I


Disposições Gerais:
Art. 2.º. O Sistema Tributário Nacional é regido pelo disposto na Emenda Cons-
titucional n.º 18, de 1.º de dezembro de 1965, em leis complementares, em resolu-
ções do Senado Federal e, nos limites das respectivas competências, em leis federais,
nas Constituições e em leis estaduais, e em leis municipais.
Tanto a Constituição como a Legislação Complementar, ora por normas gerais,
especiais e mesmo específicas, traça a ordenação do Sistema Tributário Nacional.
Por fim, a Lei ordinária tem a função de criação dos tributos. Essa criação, na
verdade instituição de tributos está fincada de acordo com a competência já estabelecida
na CRFB, bem como de acordo com as normas gerais de matéria tributária - CTN.
Quando se ler que determinado tributo para ser cobrado necessita de lei anterior

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que o estabeleça (Princípio da Legalidade), essa lei que a Constituição Federal refere-se
é a Lei Ordinária.
A respeito dessas funções, passamos a dispor mais especificamente em momento
oportuno. Assim, podemos afirmar que:

O CTN regula o sistema tributário nacional e estabelece


como fundamento no atual art. 146, III da CRFB as nor-
mas gerais de Direito Tributário aplicáveis à União, Esta-
dos, Distrito Federal e Municípios, sem prejuízo da respec-
tiva legislação complementar, supletiva ou regulamentar.

O Sistema Tributário Nacional é regido pelo disposto nos


Arts. 145 e 162 da CRFB, em lei complementar, leis fede-
rais, em resoluções do Senado Federal e, nos limites das
respectivas competências, em leis federais, nas Constitui-
ções e em leis estaduais, e em leis municipais.

Logo, entre as principais disposições permanentes contidas na Constituição Fe-


deral, encontra-se o denominado Sistema Tributário Nacional (STN), que se constitui
de um conjunto de normas e princípios gerais, dispostos entre os artigos 145 e 162, nos
quais são estabelecidos os princípios de Direito Tributário e as limitações ao poder de
tributar, assim como a competência tributária das pessoas jurídicas de direito público,
especificando-lhes quais os impostos que por elas podem ser instituídos.
Dessa forma, tão logo nas disposições iniciais, são enunciados os tipos de tribu-
tos existentes no sistema (art. 145 da CF), abdicando a norma constitucional de traçar
regras e princípios mais específicos sobre tributação, determinando que lei complemen-
tar o faça (art. 146 da CF).
Assim, transfere ao CTN e às outras leis complementares tarefas específicas como:

- Estabelecer um tratamento tributário especial para os atos cooperativos praticados


pelas sociedades cooperativas;
- Dirimir conflitos tributários entre as áreas federal, estadual e municipal;
- Regular as limitações constitucionais da competência tributária;

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- Estabelecer normas gerais sobre legislação tributária, definindo tributos e as suas espé-
cies, prefixando fato gerador, contribuinte e base de cálculo de cada imposto, e delinean-
do as regras e os procedimentos aplicáveis às obrigações e ao crédito tributário.

A Lei Complementar mais importante para o Sistema Tributário Nacional é o pró-


prio Código Tributário Nacional, que apesar de ser formalmente uma Lei Ordinária, como
já fora explanado, foi recepcionado pela Constituição Federal de 1.988, como Lei Comple-
mentar, em virtude de sua função, aqui também já referida, ou seja, o CTN dispõe sobre
as normas gerais em matérias tributárias, conforme o art. 146 da CRFB, abaixo disposto:

“Art. 146. Cabe à Lei complementar:


I-disporsobreconflitosdecompetência,emmatériatributária,entreaUnião,osEstados,o
Distrito Federal e os Municípios;
II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;
III–estabelecernormasgeraisemmatériadeLegislaçãoTributária,especialmentesobre:
a)definiçãodetributosedesuasespécies,bemcomo,emrelaçãoaosimpostosdiscriminados
nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes;
b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;
c)adequadotratamentotributárioaoatocooperativopraticadopelassociedadescooperativas.
d)definiçãodetratamentodiferenciadoefavorecidoparaasmicroempresaseparaasempresas
depequenoporte,inclusiveregimesespeciaisousimplificadosnocasodoimpostoprevistonoart.155,II,
das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239.”

SÍNTESE DO CAPÍTULO

I. Sistema é um conjunto de normas organizadas por princípios.


II. Princípio é uma norma basilar de um sistema, que dá origem e sustentação às
outras normas.
III. Sistema Jurídico Tributário é o conjunto das principais normas do Direi-
to Tributário.
IV. Direito Tributário é uma ciência dentro do Direito Público, que se preocupa
com as relações jurídico-tributárias do Contribuinte com o poder Público, no que se re-
fere às suas receitas derivadas, correspondente à arrecadação tributária.
V. Principais Normas:
CRFB: dar competência, descrever fatos geradores, fornecer os princípios e limi-
tação do poder de tributar.
Lei Ordinária: criação dos tributos, art.150, I CF.
Lei Complementar: tratar de normas gerais em matéria tributária,
art. 146, CF.

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Jurisprudência sobre o Tema

TRIBUTÁRIO.COMPENSAÇÃO.ART.66DALEI8.383/1991.ART.170,
DO CTN. ART. 146, III, B, CF/1988.

1. (...).
6. O art. 146, iii, “b”, da CF/1988, dispõe que somente lei complementar pode tra-
tar de obrigação, lançamento e crédito tributários. O art. 170, do CTN, ao exigir liquidez e
certeza para ser efetivada a compensação e lei complementar. Ainda mais, quando diz que a
compensação só pode ser feita nos termos da lei ordinária. Fixa, assim, pressuposto nucle-
ar a ser cumprido pelas partes, não dispensável pela lei ordinária, que e existência de crédito
líquido e certo. A seguir exige que a lei ordinária autorize a compensação e fixe garantias e o
modo da mesma se proceder. O art. 66 da lei 8.383/1991, em consequência e derivado do
art. 170, do CTN. Não criou um novo tipo de compensação. Se o fizesse, não seria acolhi-
do pelo Sistema Jurídico Tributário, por violar norma hierarquicamente superior.
7. Recurso conhecido, porém improvido. (resp. 109.531/ mg., rel. Ministro José
Delgado, primeira turma, julgado em 06/02/1997, dj 07/04/1997, p. 11073)

TRIBUTÁRIO-TAXA-EMPRESAPRESTADORADESERVIÇODETVA
CABO - SÚMULAS 280, 282 e 284 DO STF - RECURSO ESPECIAL NÃO-CONHE-
CIDO-QUESTÕESDEBATIDASDEDIREITOLOCALECONSTITUCIONAL.

1. Hipótese em que, na origem, a ora agravante impetrou mandado de segurança


para questionar a cobrança de retribuição pecuniária instituída pelo Decreto n.º 18.627, de
24.5.2000, do Município do Rio de Janeiro, objetivando remunerar e ordenar a utilização do
subsolo, mediante permissão de uso, para passagem de cabos de fibra ótica. Sustenta a agra-
vante que o referido Decreto seria ilegal e inconstitucional, pois violaria princípios tributários
constitucionais, além de invadir a competência da União para regular o assunto.
2. (...).
6. Registro, en passant, de que o STJ vem decidindo em grau de recurso ordiná-
rio em mandado de segurança, no qual a matéria constitucional pode ser analisada, no
sentido de que a cobrança de retribuição pecuniária pela utilização do solo urbano para
passagem dos cabos e equipamentos de telecomunicações não representa invasão da
competência da União para regular os serviços de telecomunicações.
Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 599.046/RJ, Rel. Ministro HUM-
BERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/08/2008, DJe 20/08/2008).

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QUESTÕES

1. A União, por meio de Lei Complementar, passa a dispor sobre regras gerais do ICMS,
estabelecendo alíquotas, mudando base de cálculo, bem como o destino do recurso. Tal
fato, à luz do sistema e dos princípios do direito tributário é:

a) Um caso de bitributação, que apesar de não permitido pela legislação infraconstitu-


cional, é perfeitamente permitido nos princípios dispostos na Carta Magna de 1.988.
b) Um caso de Bis in idem, portanto permitido na legislação tributária.
c) Exercício regular de sua competência, em razão da superioridade da União em relação aos
demais entes tributários e da função da lei complementar, que aqui traduz sua eficácia.
d) Invasão de competência, conforme princípios constitucionais pré-estabelecidos.

2. As limitações constitucionais ao poder de tributar devem ser reguladas por meio de:

a) lei complementar.
b) lei ordinária.
c) resolução do Senado Federal.
d) decreto-legislativo.
e) decreto regulamentar.

3. Se o Município X instituir imposto sobre o serviço de energia elétrica, prestado den-


tro do âmbito estritamente municipal dar-se-á:
a) exercício legítimo de sua competência privativa.
b) bitributação, constitucionalmente consentida.
c) bis in idem, constitucionalmente consentida.
d) invasão da competência federal.
e) invasão da competência estadual.

- 15 -
CAPÍTULO 2
Princípios Fundamentais
Constitucionais do Estado
Brasileiro com repercussão no
campo Tributário

2.1. Estado Democrático de Direito e o Princípio Democrático

É sabido que o Direito Constitucional é um conjunto de normas destinadas a


estruturar a forma do Estado e a forma do governo, dispondo também sobre a limitação
dos poderes estatais e as garantias dos direitos fundamentais.
Nesse sentido, a Constituição da República Federativa do Brasil é expressa
em dispor:

Art. 1.º – A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, e combinado com o art. 18.º – que prevê
que a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compre-
ende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Todos autônomos e possui-
dores da tríplice capacidade de auto-organização e normatização própria, autogoverno
e auto-administração, constituindo assim o Estado Democrático de Direito.

Assim, oportuno trazer à baila, que, dispondo sobre as competências de cada


ente federal e confirmando sua autonomia, tal assertiva define também as competências
tributárias, na medida em que, cada ente federado tem autonomia para criar os tributos
já definidos na própria CFRB.
Dalmo de Abreu Dallari, a respeito da divisão e da estrutura do Estado Demo-
crático brasileiro aduz:

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“Na Federação, não existe direito de secessão. Uma vez efetivada a adesão de
um Estado, este não pode mais se retirar por meios legais. Em algumas Constituições, é
expressa tal proibição, mas ainda que não o seja ela é implícita.” (DALLARI, Dalmo de
Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 11.ª ed.. São Paulo: Saraiva, 1985. p. 227).

Pelo Princípio da Indissolubilidade, é inadmissível qualquer pretensão de separa-


ção de um estado-membro, do Distrito Federal ou de qualquer município da federação,
inexistindo em nosso ordenamento jurídico o denominado direito de secessão.

Fundamentos do Estado Brasileiro


O Estado Democrático Brasileiro está envolto sob os seguintes fundamentos: sobe-
rania, cidadania, dignidade da pessoa humana e pluralismo político. A seguir, tais fundamen-
tos serão sintetizados, a fim de elucidar algumas questões principiológicas na seara tributária.

a. A Soberania
O sentido democrático previsto no § 1.º da CFRB, ao proclamar que todo poder
emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos
termos lá expostos, consiste que a titularidade dos mandatos – executivo ou legislativo
– somente se materializa mediante a um ato concreto de expressão popular.
A soberania, nas palavras de Marcelo Caetano consiste em:

“um poder político, suprema e independente, entendendo-se por poder supremo


aquele que não está limitado por nenhum outro na ordem interna e por poder indepen-
dente aquele que, na sociedade internacional, não tem de acatar regras que não sejam
voluntariamente aceitas e está em pé de igualdade com os poderes supremos dos outros
povos.” (CAETANO, Marcelo. Direito Constitucional. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
1987. vol. 1, p. 169).

b. A Cidadania
A cidadania representa um status do ser humano – tanto como objeto como de
direito fundamental das pessoas – e no sentido lato, qualifica os participantes da vida do
Estado http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=997 - _ftn3#_ftn3,
reconhecendo-os como pessoas integradas na sociedade estatal e onde esse Estado está
submetido à vontade popular dos seus cidadãos.

c. A dignidade da pessoa humana


A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual, supremo e moral inerente à

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pessoa, que se manifesta na autodeterminação consciente e responsável da própria vida
e que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o direito à
vida privada, à intimidade, à honra, à imagem – é a consagração da dignidade da pessoa
humana como fundamento da República Federativa do Brasil – com total aplicação em
relação ao planejamento familiar – derivada do casamento estável entre homem e mu-
lher, da paternidade responsável – competindo ao Estado propiciar recursos educacio-
nais e científicos – art. 226, § 7.º, in verbis:

“Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.”


(...)
“§ 7.º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternida-
de responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado
propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qual-
quer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.”

Daí decorre que a ordem econômica há de ter por fim assegurar a todos exis-
tência digna a uma ordem social ligada a uma justiça social (art. 170) e a Educação com
o desenvolvimento da pessoa e de seu preparo para o exercício da cidadania (art. 205).
Todos alicerçados não como meros enunciados formais, mas como indicadores do con-
teúdo normativo, positivado, eficaz da dignidade da pessoa humana.

d. O Pluralismo Político
O legislador constituinte consagrou o pluralismo político como fundamento do
Estado brasileiro, ao afirmar, considerar, a ampla e livre participação popular nos desti-
nos políticos do país, garantindo a liberdade de convicção filosófica e política, asseguran-
do a possibilidade de organização e participação em partidos políticos.

2.2. Princípio Republicano

O Brasil tem como princípio constitucional o Princípio Republicano, com base


neste princípio há a exigência de que todos que realizam o fato imponível tributário ve-
nham a ser tributados com igualdade.
O artigo 1.º da Constituição Federal prescreve que a República Federativa do
Brasil é um Estado Democrático de Direito, razão por que em seu parágrafo único
enuncia que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

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O ideal Republicano permeia todo o ordenamento jurídico, condicionando a
produção normativa, pelos agentes credenciados, a estrita observância de seus ditames,
sejam eles implícitos ou explícitos.
O Princípio Republicano é o princípio informador de todo nosso sistema jurídi-
co e também do subsistema do Direito Constitucional Tributário, influenciando a inter-
pretação de todos os demais princípios constitucionais.
E a posição de primazia deste sobreprincípio em relação aos demais prestigia-
dos pelo constituinte, encontra-se vivificada ao longo do Texto Constitucional, tendo
diversos dos elementos republicanos sido alçados à condição de cláusulas pétreas pelo
parágrafo 4.º do artigo 60 da Constituição.
A Lei Tributária deve ser igual para todos e a todos deve ser aplicada com igual-
dade. Todos devem receber o mesmo tratamento tributário.

2.3. Princípio Federativo

O Estado Federal ou Federação é uma forma de Estado que o Brasil assumiu


desde a proclamação da República em 1.889, e está lastreado na união de coletividades
regionais políticas autônomas, denominadas Estados federados ou Estados-membros
ou simplesmente Estados. Acrescenta-se dentro do nosso contexto, o Distrito Federal e
também os Municípios – incluídos nessa estrutura político-administrativa pelos arts. 1.º
e 20.º como entes federados.

a. Características
- descentralização política ou repartição constitucional de competências;
- repartição constitucional de rendas – Título-VI e arts. 153 a 162;
- participação da vontade das entidades locais – ordens jurídicas parciais – na
formação da vontade nacional – ordem jurídica central;
- possibilidade de autoconstituição – em que os Estados-membros podem elaborar
suas próprias Constituições, respeitando os princípios básicos da Constituição Federal e
aos Municípios elaborarem sua própria lei orgânica, como mera manifestação do poder
legislativo municipal ou local;
- autonomia administrativa;
- autonomia política.

b. Aspectos
- rigidez constitucional;
- indissolubilidade do pacto federativo;

- 20 -
- o STF é o guardião da Constituição – dirimindo qualquer dúvida relativa à distribuição de
competências, fazendo cumprir a partir de sua interpretação, o pacto federalista;
- intervenção federal nos Estados-membros – no exercício de algumas prerrogativas
expressamente anunciados na Constituição.

A ideia de Federação envolve, ainda, outro conceito fundamental que é o de repar-


tição de competências. União, Estados e Municípios têm suas atribuições demarcadas pela
Constituição Federal e estabelecem entre si relações que não têm a marca da hierarquia, mas
a do desempenho por legitimação própria das funções constitucionalmente estabelecidas.
O estabelecimento do Sistema Tributário Nacional é de suma importância, por
trazer os princípios gerais em matéria tributária, dispor a respeito de competência, limi-
tações à imposição tributária, discriminação das rendas, imunidades, isenções e outras
questões de suma importância para a matéria.
Em seu Título VI - Da Tributação e do Orçamento, arts. 145 a 159, determinam
implicitamente em seu conteúdo os princípios de tributação e os elementos delimitado-
res da atividade de tributar, funcionando como elemento disciplinador do poder de tri-
butar. "Sistema Tributário Nacional é o conjunto de princípios constitucionais que rege
o poder de tributar, as limitações do poder e a repartição das correspondentes receitas.”
Nesse sentido, aduz Roque Carrazza:

"Competência tributária é a aptidão para criar, in abstracto, tributos. No Bra-


sil, por injunção do princípio da legalidade, os tributos são criados, in abstracto, por
meio de lei (art. 150, I da CF), que deve descrever todos os elementos essências da norma
jurídica tributária. Consideram-se elementos essências da norma jurídica tributária
os que, de algum modo, influem no am e no quantum do tributo; a saber: a hipótese
de incidência do tributo, seu sujeito ativo, seu sujeito passivo, sua base de cálculo e sua
alíquota. Estes elementos essenciais só podem ser veiculados por lei.”
(Roque Carrazza - Curso de Direito Constitucional Tributário, p.344)

2.4. Princípio da Autonomia Municipal

As prescrições da CRFB a respeito da autonomia dos entes federados, inclusive


dos municípios configuram o mais considerável avanço de proteção, abrangência e refor-
ço de jurisdicidade concernente a esse instituto.
Sob o aspecto formal, o Município brasileiro certamente é a entidade territorial
local investida da autonomia mais abrangente no mundo inteiro. No exercício das suas
atribuições, atua em absoluta igualdade de condições com os demais entes federativos.

- 21 -
O Brasil é uma República Federativa, e sendo a Federação uma forma complexa
de organização política, é, na verdade, forma de descentralização do poder, de descen-
tralização geográfica do poder do Estado, consubstanciado pelo princípio da autonomia
dos entes parciais que o formam, sendo que suas competências e limitações decorrem
tão somente das prescrições normativas do Texto Constitucional de 1.988.
O art. 1.º da CRFB proclama que a República Federativa do Brasil é formada
pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, determinando-se,
assim, a existência de várias ordens na composição de nossa Federação: a União – ordem
total, os Estados – ordens regionais e os Municípios – ordens locais; ficando assim o
poder político repartido entre os entes coletivos que compõem a Federação.
A equiparação formal dos Municípios com os Estados-membros e a União me-
diante a sua elevação para a terceira esfera estatal da Federação foi ainda fortalecida pelas
prescrições contidas nos arts. 18, 29 e 30 da Constituição Federal.
Vê-se que ficou garantida a autonomia aos Estados Federados e aos Municípios,
que se consubstancia na sua capacidade de auto-organização, de autolegislação, de auto-
governo e de autoadministração, modificando, dessa forma, profundamente a posição
do Município na Federação, porque o considera componente da estrutura federativa, en-
tidade estatal integrante da Federação, entidade político-administrativa, dotada, inclusive,
de autonomia política.
Autonomia significa capacidade ou poder de gerir os próprios negócios, den-
tro de um círculo prefixado por entidade superior, detendo a Constituição Fede-
ral, exclusivamente, o poder de distribuir as competências e impor limites às três
esferas de governo.
Criou-se assim uma nova instituição municipal no Brasil, sendo-lhe reconhecido
o poder de auto-organização, ao lado de governo próprio e de competências exclusivas.
Ficaram ainda estipulados na Constituição Brasileira de 1.988 os limites do poder
constituinte decorrente para a promulgação das Constituições Estaduais e das Leis Or-
gânicas Municipais – espécie de Constituição Municipal, sendo que estas deverão atender
os princípios estabelecidos na Constituição Federal e na Constituição Estadual respectivas.
A obediência será aos princípios.
A autonomia das coletividades parciais é essencial para a existência de uma Fe-
deração, a tal ponto que sem ela a organização federal não se distinguiria de um Estado
unitário complexo.
Observa-se, então, que a autonomia dos Estados e dos Municípios está na base
do princípio republicano, sendo um dos mais importantes princípios do nosso direito públi-
co, que na pena de GERALDO ATALIBA ganha o seguinte destaque:

“Posta a autonomia municipal como princípio constitucional dos mais eminentes


- ao lado da forma republicana representativa e democrática (art. 34, VII, “a”) e da indepen-

- 22 -
dência dos poderes (inciso IV) –, protegido pela mais drástica das sanções institucionalmente
previstas (a intervenção federal, art. 34), é, no Brasil, ingrediente necessário e ínsito da pró-
pria República; é decorrência imediata e indissociável do princípio republicano.”

Tem-se assim que o princípio da autonomia dos entes federados (Estados e Mu-
nicípios) é uma derivação dos princípios fundamentais da República e da Federação.
Ou seja, a República Federativa do Brasil estabeleceu-se em um trinômio inte-
grado, pois além do Governo Central e dos Estados-membros, também, em um terceiro
nível, trouxe os Municípios.
Conquanto ocupe um terceiro nível na escala constitucional federativa, estabe-
lece a Constituição plena igualdade entre os entes federados, não se permitindo falar
em supremacia de um sobre qualquer dos outros, pois todos dispõem de autonomia, e
limitados aos ditames vicejados pela Carta Magna.
Vê-se ainda que o art. 35, caput da Constituição Federal, é taxativo ao asseve-
rar que o Estado-membro não intervirá no Município, ressalvados os casos em que a
própria Carta Fundamental especifica, não prestando a cláusula aparentemente aberta
do art. 35, IV, que fala da observância de "princípios indicados na Constituição Esta-
dual" a fim de criar novas hipóteses de intervenção. Isto porque os princípios da cons-
tituição estadual não são nada mais que os princípios da própria Constituição Federal,
a ela incorporados automaticamente.
Nada mais é observado de que como a entidade municipal integra a Federação
Brasileira, na condição de pessoa política autônoma (arts. 1.º e 18 da Constituição Fede-
ral) não se pode ter como válida qualquer norma estadual, inclusive de sua Constituição,
que, ao cuidar, do tema, agrida, restrinja ou anule a autonomia municipal. Tudo o que
exceder à condição constitucional autônoma do município é contrário à organização
federativa adotada pelo poder constituinte originário e não deve subsistir validamente no
Sistema Jurídico Brasileiro.

2.5. Princípio da Lei Complementar em Matéria Tributária

A Lei Complementar tem a finalidade de servir de guia para normas gerais, ou


seja, traçar as diretrizes básicas, os princípios que devem orientar as normas tributárias
que lhe devam a obediência.
Segundo Ives Gandra, a Lei Complementar complementa o texto constitucional,
"esclarecendo, tornando clara a intenção do constituinte".
Sendo ato normativo primário, assim como a Lei Ordinária, a Lei Complemen-

- 23 -
tar deve se conformar, formal e materialmente ao texto constitucional, como diz José
Afonso da Silva.
Embora seja possível, não é papel da Lei Complementar estabelecer minúcias,
ainda que digam respeito aos tributos da União. Exemplo: a Constituição funciona
como um cliente que encomenda o quadro a um artista, dando as especificações que
quer, tamanho da tela, motivo, cores e tintas. A moldura do quadro, ou seus limites,
são como a Lei Complementar. O preenchimento do quadro, o trabalho do artista é
reservado à Lei Ordinária.
Com relação à Lei Ordinária e a Lei Complementar, cada uma deve atuar dentro
de seu campo material exclusivo, não havendo que se falar em hierarquia.
A Lei Ordinária é obrigada a respeitar o campo privativo da legislação comple-
mentar, tal como esta não pode invadir o campo da Lei Ordinária.
É a Lei Complementar que determina a elaboração da Lei Ordinária? Resposta:
Não. É a Constituição.
O teor da Lei Ordinária é ditado pela Lei Complementar? Resposta: Não. Quem
diz isto é a Constituição.
O conflito entre a Lei Ordinária e a Lei Complementar é uma violação desta úl-
tima? Resposta: Não. É uma violação à Constituição.
A Constituição estabelece em seu artigo 146, inciso I, que a Lei Complemen-
tar é competente para dispor sobre conflitos de competência em matéria tributária,
entre os entes federados. Desta forma, qualquer conflito existente nessa área, a Lei
Complementar irá estabelecer os critérios para sua solução, respeitando sempre o
princípio federativo.
O inciso II, do artigo acima mencionado, dispõe sobre regulação às limi-
tações constitucionais ao poder de tributar.
O Código Tributário Nacional, embora tenha sido formalmente editado como
Lei Ordinária, entende-se que foi recepcionado com status de Lei Complementar, por-
tanto, só podendo ser alterado ou revogado por meio de outra Lei Complementar. Em
2.001, houve a edição da Lei Complementar n.º 104, que alterou e acrescentou alguns
dispositivos do CTN.
Definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos dis-
criminados na Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contri-
buintes, cabe à Lei Complementar, conforme dispõe o art. 146, III, "a". Deixando claro
que, em regra, a instituição de um tributo é feita por meio de Lei Ordinária.
Excepcionalmente, Lei Complementar poderá instituir alguns tributos:

- empréstimos compulsórios (art. 148);


- contribuições sociais (art. 149);
- alguns impostos (art. 154 e art. 153).

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Outros dispositivos constitucionais prescrevem que Lei Complementar deve re-
gular alguns aspectos dos arts. 155, 156 e 161. Esses tributos só podem ser instituídos
em casos de relevância e urgência.

SÍNTESE DO CAPÍTULO

- O princípio republicano leva à igualdade, pois exige que os contribuintes recebam tra-
tamento isonômico.
- A Constituição Federal consagrou o princípio do federalismo delimitando e dividindo
entre os entes políticos (União, Estados-Membros, Distrito Federal e Município) o po-
der de tributar.
- A CF não cria efetivamente tributos, apenas outorga competência tributária para as
pessoas políticas, ou seja, confere aos entes políticos a aptidão para criar, modificar, e
extinguir, por meio de lei, tributos. A repartição da competência esta disciplinada nos
artigos 153 a 156 da CF.
- A autonomia municipal decorre então do princípio federativo, logo qualquer violação
à autonomia do Município ter-se-á também a intromissão ao pacto federativo, já que a
existência de múltiplas ordens jurídicas dentro de um mesmo Estado Federal exige uma
compatibilidade entre elas.
- A Lei Complementar em matéria tributária possui relevante importância, enquanto
norma geral, pois não possui função precípua de criar tributos, os institui apenas em si-
tuações excepcionais, constantes da própria CRFB, sob pena de desvirtuar sua natureza.
- O Código Tributário Nacional não institui nenhum tributo, deve apenas defini-los,
como no caso dos impostos, que estabelece os fatos geradores, bases de cálculo e con-
tribuintes a serem descritos na Lei Ordinária que os instituirá.

Jurisprudência sobre o tema

TRIBUTÁRIO. PROCESSO CIVIL. AÇÃO CAUTELAR. SUSPENSÃO DO


CRÉDITO TRIBUTÁRIO. CAUÇÃO DE TÍTULOS DA DÍVIDA AGRÁRIA. IM-
POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA ESTRITA LEGALIDADE.

1. Nos casos de extinção do crédito tributário, há de ser observado o princípio da es-


trita legalidade.

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2. Ante a falta de previsão legal, não se admite a quitação do tributo por meio de dação
em pagamento de Títulos da Dívida Agrária, quer por compensação, quer por ação de
consignação. Precedentes do STJ.

3. Apelação a que se nega provimento.

AC 15937 MG 2000.38.00.015937-1
EMENTA TRIBUTÁRIA - ISS - SERVIÇOS DE COMPOSIÇÃO GRÁFICA
- MUNICÍPIO COMPETENTE PARA EXIGIR - LOCAL DA REALIZAÇÃO DO
FATO GERADOR - INTERPRETAÇÃO DO ART. 12 DO DECRETO-LEI 406/68
- PRECEDENTES - Consoante iterativa jurisprudência desta eg. Corte, o Município
competente para a cobrança do ISS é aquele em cujo território realizou-se o fato gera-
dor, em atendimento ao princípio constitucional implícito, que atribui àquele Município,
o poder de tributar os serviços ocorridos em seu território. Executados os serviços de
composição gráfica em estabelecimentos localizados em outros Municípios, não tem a
Municipalidade de Curitiba competência para exigir ISS referente a esses fatos geradores.
Recurso especial não conhecido.
Roque Carrazza defende ponto de vista similar, lembrando que o art. 12 do DL
406 é válido nos casos em que o serviço é prestado no próprio Município. Afirma o jurista:

“Aantinomiaconstitucional,porque,sedeumladoprestigiaoprincípiodaterritorialidadeda
tributação,harmonizando-secomoprincípiodaautonomiamunicipal(competênciaparaexigibilidadede
seusprópriosimpostos),deoutro,implicaofensaaoDL406/68,facemesmomunicípioemqueestáo
estabelecimentoprestador.Criticaorenomadomestreasoluçãodanormainfraconstitucional.”
“Assim,afastam-seporinconsistência,ascríticasàjurisprudênciadoSTJ,dentreasquaisestáado
ProfessorJoséEduardoMelo,quandoafirmacaberaoSTFojulgamentodaquerelaemnívelconstitucional.”

QUESTÕES

1. Constitui exceção ao Princípio Constitucional da Legalidade Tributária o aumento da


alíquota (ISS/RJ):

a) do imposto predial e territorial urbano, por ato do poder executivo.


b) do imposto sobre transmissão de bens imóveis, por ato do poder executivo.
c) da taxa de limpeza pública, por ato do poder executivo.
d) do imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza, por ato do poder executivo federal.
e) do imposto de importação, por ato do poder executivo federal.

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2. A competência tributária da União, Estados e Municípios é definida:

a) na Constituição Federal.
b) em Lei Complementar.
c) em Lei Ordinária.
d) nos decretos regulamentares.
e) nas resoluções do Senado Federal.

3. Examine as proposições abaixo e escolha a alternativa correta.

I. Cabe somente ao decreto executivo dirimir conflitos de competência tributária.

II. O Princípio da Legalidade em matéria tributária comporta exceções, sendo possível,


por exemplo, quanto ao Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI e ao Imposto
sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros– IOF, a modificação de alíquotas por
ato do Poder Executivo.

III. O Princípio da Anterioridade nonagesimal aplica-se a algumas contribuições e a


alguns impostos, mas, não, às taxas.

a) Somente a afirmativa I está correta.


b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
d) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.

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GABARITO

Capítulo 1

1-D│2-A│3-E

Capítulo 2

1-E│2-A│3-B

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