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Profº Octavio – GEOGRAFIA – 3º A-F - Globalização

RESUMO

A globalização é sobretudo um fenômeno que acompanha a trajetória e


desenvolvimento do próprio capitalismo. Em sua simplificação, a globalização é a
mundialização do capitalismo, através de um processo de integração cultural,
política, econômica, social, financeira e monetária de vários países – sob a égide de
hegemonias – com o uso e o destaque para o suporte das tecnologias de informação,
comunicação e transporte.

O QUE É?

A globalização se tornou um evento diluído no cotidiano e é, como tudo


ligado ao capitalismo, uma construção de relações de inclusão e exclusão. Quando
estudamos esse fenômeno, o foco é analisar a contemporaneidade – do fim do século
XX até o presente momento – um período que se caracteriza pela instalação do Meio
Técnico Científico-Informacional – uma forma de visualizar as relações e
necessidades contemporâneas a partir da mercantilização, especulação e valoração de
ideias, marcas, criação e trabalho sob a ideai de integração.

A globalização contemporânea é fruto do acúmulo de relações históricas


sobre as ações humanas de transformação espacial, logo a relação entre nações vista
hoje é fruto de processos espaciais que se desenvolvem ao longo de vários séculos. A
globalização, como parte do sistema capitalista, é também o fenômeno de
desenvolvimento da Sociedade Judaico-Cristã Ocidental, nosso modelo de
sociedade hegemônico que remete sua formação a cultura greco-helenística, império
romano e nascimento das principais religiões monoteístas. Desta forma, hoje, ainda
repetimos e recriamos a partir de idealizações que datam da antiguidade clássica.

O próprio desenvolvimento do conceito de capital acompanha o


desenvolvimento do ser humano em seu aspecto globalizatório – dominador e
integrador - tendo em vista que capital é sobretudo fruto da atribuição de valor sobre
o trabalho e o trabalho surge quando o ser humano passa a territorializar o espaço de
acordo com sua produção e propriedade. Desta maneira a sociedade se forma de
maneira hierárquica, sob a perspectiva judaico-cristã ocidental, em que são
considerados diferentes níveis de desenvolvimento e integração ao sistema de capital.

CONTEXTOS DA GLOBALIZAÇÃO MODERNA

A globalização moderna é a percepção da integração e imposição de modos


de vida oriunda do renascimento comercial europeu. Sua lógica é baseada no
desenvolvimento do capitalismo moderno e sua disseminação sobre o mundo, logo

Professor Octavio Schwenck Amorelli


temos uma caracterização em fases que acompanha a colonização, industrialização,
grandes guerras e tensões do mundo.

Fases da Globalização Moderna:

• PRIMEIRA FASE - 1450 – 1850:


É a fase de expansionismo mercantilista, das grandes navegações e
descobrimentos a partir das missões inauguradas por Portugal e Espanha em
busca de novos territórios e fontes de recursos, novos acessos a Ásia. Nesse
período a globalização vai levar produção, prática e consumo comercial para
América, África e Ásia, junto a disseminação do cristianismo, e cada uma
dessas regiões será posicionada de uma forma diferente para o sistema de
capital. América é a terra de colonização primária, tanto para a extração e
produção de recursos, como par a instalação de novos processos civilizatórios.
As inúmeras nações africanas são subjugadas, principalmente pela pele preta,
e seus povos passam séculos dominados e sequestrados como mão de obra
escrava. A Ásia se torna um ponto de exploração secundário, como fonte de
recursos exóticos. As grandes hegemonias dessa fase são Portugal e
Espanha, na colonização inicial da América e depois a Inglaterra, que se torna
a grande centralidade com seu domínio dos mares e desenvolvimento das
primeiras tecnologias industriais.

IMAGEM MAPA DO TRAFICO ESCRAVOS.jpg

• SEGUNDA FASE – 1850 - 1945:


É a fase industrial, imperialista e neocolonialista. Inglaterra e Estados
Unidos da América assumem uma posição central em relação a cultura
industrial. Nesta fase de industrialização os EUA, a Europa e o Japão
começam a se tornar grandes polos de tecnologia e desenvolvimento fabril.
Esta fase é marcada pelas disputas territoriais das metrópoles europeias, pois
ao mesmo tempo que as colônias americanas ganham independência, Ásia e
África são arbitrariamente partilhados entre Inglaterra, França, Bélgica,
Holanda etc. A colonização realizada neste período deixa marcas até hoje nas
relações entre os povos árabes, islâmicos e subsaarianos e suas tensas ligações
com países como Inglaterra e França. Esse período é marcado também pela
ocorrência das duas Grandes Guerras Mundiais, que terminam com EUA e
União Soviética assumindo a centralidade do sistema de influências políticas e
econômicas global.

IMAGEM TEMPOS MODERNOS.jpg

• FASE DE TRANSIÇÃO - 1945 – 1991:


O período da GUERRA FRIA é marcado pela expansão contra socialismo. É a
denominação de um agrupamento de acontecimentos que marcaram o século

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XX, entre 1945 e 1991, baseados em conflitos ideológicos entre a prática
Capitalista de cunho Liberalista Civil, dos EUA, e a crescente dos ideais
Socialistas de origem Ateísta-Marxista, da URSS. Ao longo desse embate
ideológico o mundo fica divido, a influência sobre territórios, bem como a
ostentação de poder se tornam marcantes numa disputa arriscada que
potencializou conflitos bélicos, econômicos, políticos e culturais em diversas
regiões.

• GLOBALIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA - 1991-HOJE:


É a era de informação, tecnologia, cibernética, consagração dos blocos e
associações. A fase contemporânea é o momento de grande mundialização do
modelo capitalista financeiro sobre todo o mundo. Os países que aboliram o
sistema socialista com a finalização da Guerra Fria apresentaram inúmeras
consequências inicialmente positivas tais como reestruturação econômica
(entrada de multinacionais, geração de emprego, livre iniciativa, liberdade de
consumo) e abertura política (pluripartidarismo e democracia). Ao mesmo o
sistema se consolidou de maneira cada vez mais acelerada e integrada,
tornando a informação em tempo real cada vez mais alcançável pela
disseminação da internet, dos mecanismos digitais e das redes sociais.

ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO

O fenômeno da globalização – principalmente em sua fase contemporânea – se


caracteriza pela multipolaridade – sua centralidade e seus personagens não se
caracterizam mais pelo embate Socialismo X Capitalismo, esses múltiplos polos de
orientação e interesses se firmam em diversos tipos de iniciativas privadas (empresas,
sociedades multinacionais e grandes conglomerados), iniciativas supragovernamentais
(organizações, blocos e associações entre países) e questões governamentais diversas,
como o posicionamento de nações acerca de políticas, crises econômicas, convenções
ambientais e intervenções militares.

A dinâmica de relações da globalização forma uma aldeia global, visto que a


proximidade das relações é tão instantânea, imediata e, por vezes efêmera, como seria
para uma pequena população de aldeia. Contudo é importante notar que a
globalização não é apenas um fenômeno de integração, mas também de exclusão e da
mesma forma que fazem parte dessa aldeia global um grupo de países privilegiados,
também são excluídos dessa aldeia uma população que o próprio sistema hierárquico
posiciona como periféricos.

Portanto é um fenômeno capitalista que acompanha a era dos descobrimentos, e se


desenvolveu muito quando começaram as revoluções industriais. A globalização

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como vemos hoje é fruto de tudo que aconteceu antes. Estudamos globalização após
guerra fria pois é mais compreensível entender a geopolítica contemporânea dessa
forma. Configurada a partir da mundialização do capitalismo. Inicia-se na fase
comercial, com as grandes navegações e apresenta-se melhor configurada com o fim
da guerra fria. Caracteriza-se pela integração econômica, política e cultural entre
vários países, viabilizada pela evolução dos meios de transporte e comunicação.

Integração Econômica

Na perspectiva econômica percebemos as empresas transnacionais se


espalhando pelo mundo com seus conceitos e produtos em busca de uma constante
ampliação do mercado consumidor bem como proximidade com as fontes de matéria
prima e mão de obra barata. Nessa vertente empresas de origem estadunidense ou
europeia se instalam na Ásia, na América Latina e no continente Africano, inclusive
adaptando seus produtos as formas de consumo local, em busca dos melhores
resultados de mercado. Muito além de espalhar seus produtos essas empresas se
vendem como estilos de vida e experiências.

Integração Político-Econômica

O viés político-econômica se dá pela firmação de acordos e associações


comerciais entre países, desde pequenas formas de integração até a criação de
entidades gigantescas como a Organização das Nações Unidas, que possui em suas
diretivas questões culturais, políticas e sociais entre as nações. Há de se destacar nesse
braço de globalização a formação de blocos econômicos e acordos de fortalecimento
financeiro com destaque para a União Européia, MercoSul, NAFTA além de
personagens econômicos de grande importância como o Japão e os Tigres Asiáticos,
o G20 e o BRICS. O Processo de integração econômica está baseado no
neoliberalismo - quando o Estado não intervém na economia, na desregulamentação
dos mercados - as grandes corporações atuam livremente e nas privatizações das
empresas estatais.

ONU - A Organização das Nações Unidas foi fundada no dia 24 de outubro


de 1945, em São Francisco, Estados Unidos. O encontro intitulado de
Conferência de São Francisco, realizado entre os dias 25 e 26 de abril de 1945,
tinha como finalidade debater acerca da substituição da Liga das Nações por
um organismo mais completo e contar com a participação de todos os Estados
independentes. No dia 10 de dezembro de 1948, uma Assembleia das Nações
Unidas realizou a Declaração Universal de Direitos Humanos. Os principais
objetivos da ONU são:
- Manter a paz internacional.
- Garantir os Direitos Humanos.
- Promover o desenvolvimento socioeconômico das nações.
- Incentivar a autonomia das etnias dependentes.

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- Tornar mais fortes os laços entre os países soberanos.

União Europeia - As raízes históricas da União Europeia residem na


Segunda Guerra Mundial. A ideia de integração europeia surgiu para impedir
novos conflitos na região. O bloco se formou pela necessidade de se
reestruturar economicamente. Hoje o bloco é uma União Econômica e
Monetária dotada de Conselho, Comissão, Parlamento, Banco Central,
Moeda e Tribunal de Justiça.

MercoSul - Surge como um acordo comercial entre Argentina e Brasil em


meados da década de 1980 com o objetivo de facilitar a troca de algumas
mercadorias entre as nações. Em 1991, junto a Paraguai e Uruguai, é assinado
o Tratado de Assunção que formaliza a criação do bloco. Hoje o bloco é uma
União Aduaneira composta por 12 países, com 4 membros plenos (Brasil,
Argentina, Paraguai e Uruguai), 5 membros associados (Chile, Bolívia,
Colômbia, Peru e Equador, 1 membro suspenso (Venezuela) e 2 membros
observadores (México e Nova Zelândia).

NAFTA - Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (North American


Free Trade Agreement) é um bloco surgido em 1994 composto por Canadá,
EUA e México. Funciona em uma atmosfera de livre comércio com o custo
reduzido para troca de mercadorias entre os três países. O bloco tende a
oficializar por meio de acordos comerciais o domínio que os EUA exercem
sobre os vizinhos imediatos.

G20 – O Grupo dos 20 é um grupo formado por 20 representações das


maiores economias do mundo. É composto por chefes de estado e da
economia dos seguintes membros: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita,
Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos da
América, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia,
Turquia e União Europeia. O maior objetivo do grupo e analisar e promover
práticas que mantenham a estabilidade financeira e ordem entre nações.

BRICS – Formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, é uma
espécie de fenômeno econômico e politico de países emergentes, pois pesar de
o grupo ainda não ser um bloco econômico ou uma associação de comércio
formal, como no caso da União Europeia, existem fortes indicadores de que os
países do BRICS têm formado um "clube político" ou uma "aliança” com seu
crescente poder econômico em uma maior influência geopolítica. Desde 2009,
os líderes do grupo realizam cúpulas anuais. Os cinco membros correspondem
a cerca de 20% do PIB mundial e criaram em 2014 o Acordo de Reservas
de Contingências, que originou o Novo Banco De Desenvolvimento - uma
alternativa ao FMI e o Banco Mundial para economias em desenvolvimento.

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Globalização Cultural

É na questão cultural que a análise da globalização se torna mais palpável,


prática e direta. O fenômeno integra e se apropria de cultura, desenvolvendo padrões
de pensamento e percepção do espaço geográfico e dos modos de vida. Nessa
perspectiva temos a grande importância dos idiomas derivados do latim e do grego
como disseminadores culturais seculares. Temos na contemporaneidade a integração
da indústria cultural, que pelo aporte tecnológico da internet, consegue criar padrões
de consumo de música, cinema, artes, vestuário, alimentação pelo mundo.

A integração cultural promove a homogeneização de culturas. Elementos


culturais são pasteurizados de acordo com a perspectiva do mercado e levados ao
mundo através do turismo e da mídia. Mais do que isso, há uma adaptação de
produtos culturais aos meio locais para expansão das marcas em prioridade ao
produto, a música ou os programas de televisão e filmes são traduzidos, adaptados e
recontados de acordo com a geografia de cada localização em que se encontram, a fim
de ganhar maior empatia do mercado. Dessa forma os grandes sucessos são repetidos
de inúmeras maneiras por traduções, dublagens e versões de roteiro.

A indústria cultural através de música ou cinema funciona como meio de


aproximação entre países, empresas e populações pelo mundo. Esse efeito é notável,
por exemplo, com a disseminação do gênero fast food pelo planeta, levado antes de
tudo pelo cinema dos EUA, que através de suas narrativas embutiu no imaginário de
diversas nações o estilo de vida americano, suas marcas e sua orientação de
consumo. Um exemplo notável está na estética da musica brasileira contemporânea,
em que o ritmo sertanejo passou a incorporar elementos de música House, Techno,
Pop e Ritmos Latinos como a Lambada, a Salsa e o Reggaeton.

CONSEQUÊNCIAS DA GLOBALIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

O estágio alcançado pelo fenômeno de globalização no século XX e XXI nos


coloca diversos conceitos importantes sobre as relações políticas, econômicas e
sociais. Com o fim da Guerra Fria, o presidente George H. W. Bush – que governou
os EUA entre 1989 e 1993 – disse que estava instaurada uma Nova Ordem Mundial
e é nessa constatação que percebemos a globalização contemporânea ordenada nos
seus aspectos de inclusão e exclusão em Países Centrais, Emergentes e Periféricos.

O fenômeno acompanha em na perspectiva econômica uma ampla Expansão


das Transnacionais – e essa lógica de mercado tende a promover a derrubada da
livre concorrência, pois apesar do sistema capitalista pregar esse conceito a
competitividade se torna mais dura com a chegada de megacorporações ao comércio
local. Esse efeito é acompanhado da Política do Estado Mínimo – em que as
privatizações de empresas públicas se tornam mecanismos de manobra para os
interesses da hegemonias de capital.

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Apesar de ser um fenômeno de integração é notável também o aumento das
disparidades sociais, pois a dinâmica das centralidades envolve áreas de inclusão e
exclusão do capital. Essa dinâmica de capitalismo financeiro torna o fenômeno do
desemprego mais evidente nas nações, pois a disseminação dos modelos industrias
requer automação e mão-de-obra qualificada, o que antes de causar
desenvolvimento em comunidades pode causar exclusão pelos requerimentos do
mercado de trabalho.

A dinâmica de globalização envolve também uma grande modificação das


paisagens, estamos vivendo uma era de construção das megacidades e ampliação
das monoculturas sob o pretexto de produzir alimentos para toda a população.

Como a globalização é um fenômeno orientado por uma hegemonia uma das


consequências mais fáceis de ser percebida no cotidiano é a americanização dos
dialetos e dos hábitos de consumo, seja nas práticas alimentares, o consumo de cultura
ou o modo de se vestir, o consumismo estadunidense é um modelo prejudicial ao
meio que ainda assim se espalha pelos mecanismos de integração e imposição. Esse
encurtamento das distâncias ao mesmo tempo que promove a aproximação de
povos, culturas e modos de vida também causa o aumento de atividades ilegais –
como tráfico e lavagem de dinheiro, que usam o suporte da rede mundial de
computadores para se desenvolver.

Pelo sentido oposto da quebra de barreiras entre nações, alguns povos


começaram a desenvolver questões de nacionalismo exacerbado, incluindo práticas
terroristas e xenófobas. Essa aversão ao estrangeiro se desenvolve pelo medo de
perder espaço em seu próprio país para migrantes. O mundo vive em constantes
fluxos de pessoas e a manutenção de posturas antimigração tende a promover um
retrocesso na integração e no fluxo de pessoas, além de dificultar a sobrevivência de
refugiados. Um exemplo recente é oriundo do alto índice de migração dos povos
árabes em fuga das revoluções e guerras que se instalaram em seus países, o
fechamento das fronteiras de algumas nações provocou perdas irreparáveis.

Necessidade de atuação de organismos supranacionais é cada vez mais


recorrente pelo grande fluxo de integração econômica, politica e social. Órgãos como
a OMC – Organização Mundial do Comércio precisam intervir em questões de veto,
boicote e golpe comercial entre nações, pela ampla disputa do mercado internacional.
Dispositivos da ONU passam a atuar em intervenções pacíficas, distribuição de
recursos médicos e alimentares para países em crise e regiões de risco.

Professor Octavio Schwenck Amorelli

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