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A PRECARIEDADE DO TRABALHO DOS CATADORES DE MATERIAIS

RECICLÁVEIS EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON E SUAS FORMAS DE


ORGANIZAÇÃO COLETIVA: O CASO DA COOPERATIVA DE AGENTES
AMBIENTAIS – COOPERAGIR
Adriana Eliane Casagrande1
Djeovani Roos2
Maicol Rafael Bade3

Eixo Temático: CONFLITOS E MOVIMENTOS SOCIAIS

RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar a territorialização da organização do trabalho dos
catadores de materiais recicláveis da Cooperativa de Agentes Ambientais de Marechal Cândido
Rondon – Cooperagir, do Município de Marechal Cândido Rondon – Paraná. Pode-se compreender
que os catadores de material reciclável, organizados em cooperativa, podem melhorar as suas
condições de trabalho e de vida. Isto é percebido já que essa configuração os possibilita uma maior
organização do trabalho, bem como minimiza as grandes dificuldades encontradas no circuito
mercantil da reciclagem, do qual o metabolismo do capital se apodera. Além disso, a cooperativa
permite que trabalhadores reduzam a exploração exercida sobre eles pela ação dos atravessadores e
intermediários. Dessa forma, a organização em cooperativas ou associações surge como uma
oportunidade de os catadores trabalharem de forma mais digna, garantindo a sua sobrevivência, sendo
menos explorados pelo atual modelo econômico capitalista.

PALAVRAS-CHAVE: Trabalho precário, informalidade, cooperativa, organização coletiva.

1 INTRODUÇÃO
Na atual sociedade capitalista prevalece a subordinação do trabalho perante o capital,
uma divisão social hierarquizada, em que o trabalho se subsume a regras do capitalismo. Uma

1
Acadêmica do 4º ano do curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/
campus de Marechal Cândido Rondon. Membro do LABER – Laboratório de Estudos Regionais. E-mail:
adri_casagrande@yahoo.com.br
2
Acadêmico do 4º ano do curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/
campus de Marechal Cândido Rondon. Membro do GEOLUTAS – Laboratório e Grupo de Pesquisa de
Geografia das Lutas no Campo e na Cidade. E-mail: djeovani_roos@yahoo.com.br
3
Acadêmico do 4º ano do curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/
campus de Marechal Cândido Rondon. E-mail: maicolbade@yahoo.com.br
forma de reprodução do capitalismo se dá por meio da produção de mercadorias, que não são
produzidas com o objetivo de atender às necessidades humanas, mas sim, para expandir o seu
valor de troca. Essas mercadorias se submetem a uma tendência decrescente do valor de uso,
reduzindo a vida útil destes produtos, para agilizar, cada vez mais, o ciclo produtivo.
As funções do trabalho passam a se dividir entre quem produz e quem controla; no
caso, quem controla são aqueles que possuem os meios de produção, as matérias primas, e
quem compra a força de trabalho. Quem produz são os trabalhadores, que possuem apenas a
sua força de trabalho para sobreviver vendendo-a para o capital. As consequências desse
sistema se revertem para a deterioração ou precarização da força de trabalho e também uma
crescente degradação do meio ambiente, já que a natureza é tomada como recurso natural,
portanto, passível de ser explorada para a acumulação capital.
O capital busca sempre formas intensificadas para a exploração do trabalho, pois,
quanto mais precária for à situação do trabalhador, maior será a lucratividade para o capital.
Devido ao avanço tecnológico no processo produtivo das indústrias, com a substituição do
homem pela máquina no âmbito da produção, há o aumento da produtividade com a
diminuição da utilização quantitativa da força de trabalho. Passa-se a utilizar do trabalho
intelectual do operário, no qual este passa a interagir com a máquina informatizada. Há a
necessidade de encontrar uma força de trabalho complexa, multifuncional e fragilizada, que
deve ser explorada de forma mais intensa.
Quanto aos trabalhadores que não possuem uma qualificação exigida para lidar com
essas tecnologias, sendo mais um discurso do capital para a sua reprodução, na maioria das
vezes, estes são “excluídos” do mercado de trabalho formal, podendo ser caracterizado como
um vínculo legal a uma empresa ou entidade empregatícia, que devem ser respeitados os
direitos conquistados pelos trabalhadores, como jornada de trabalho definida por lei, direitos a
férias, a décimo terceiro salário, seguro desemprego, como todos os direitos garantidos por
leis aos trabalhadores ditos formais.
É importante ressaltar que o desemprego não é provocado pela introdução da máquina
no chão da fábrica, mas sim por uma opção neoliberal (novo mecanismo de reprodução da
força de trabalho) em transformar o trabalho em uma ocupação instável e desprotegida.
Segundo Vasapollo (2005):
A nova organização capitalista do trabalho é caracterizada cada vez mais
pela precariedade, pela flexibilização e desregulamentação, de maneira sem
precedentes para os assalariados. É o mal-estar do trabalho, o medo de
perder seu próprio posto, de não poder ter mais uma vida social e de viver
apenas do trabalho e para o trabalho, com a angústia vinculada à consciência
de um avanço tecnológico que não resolve as necessidades sociais. É o
processo que precariza a totalidade do viver social (p. 27).

Atualmente há um aumento significativo do número de trabalhadores no mercado de


trabalho brasileiro, principalmente devido ao processo acelerado do crescimento demográfico
urbano, determinado pela migração da força de trabalho do campo para as cidades, que se deu
principalmente entre as décadas de sessenta e setenta.
Assim, há grande massa de trabalhadores disponível no mercado, no qual acarreta
maior precarização das relações do trabalho. Essa precarização se dá através da flexibilização
dos contratos, redução do poder sindical, subtraindo-se os direitos dos trabalhadores e corte de
salários, devido ao aumento expressivo do excedente de mão de obra mundial, exército
industrial de reserva de mão de obra.
Por conseguinte, muitas pessoas acabam desempregadas e, como meio de
sobrevivência, buscam trabalho nos setores informais, que são as ocupações sem registro em
carteira, portanto, os trabalhadores não pagam ao Instituto Nacional de Seguro Social – INSS,
e em consequência não possuem nenhum direito trabalhista, como carteira assinada, seguro
desemprego, seguro saúde, férias, e aposentadoria dentre outros. Essa busca pelo trabalho
informal ocorre, principalmente, nos países denominados de Terceiro Mundo, pelo fato de
estes possuírem uma industrialização intermediária e grande desigualdade econômica e social.
Como enfatiza Antunes (1999):
O mundo do trabalho viveu, como resultado das transformações e
metamorfoses em curso nas últimas décadas, particularmente nos países
capitalistas avançados, com repercussões significativas nos países de
Terceiro Mundo dotados de uma industrialização intermediária, um processo
múltiplo: de um lado verificou-se uma desproletarização do trabalho
industrial, fabril, nos países de capitalismo avançado. [...] Mas,
paralelamente, efetivou-se uma significativa subproletarização do trabalho,
decorrência das formas diversas de trabalho parcial, precário, terceirizado,
subcontratado, vinculado a economia informal, ao setor de serviços, etc., etc.
Verificou-se, portanto, uma significativa heterogeneização, complexificação
e fragmentação do trabalho (p. 209).

O Brasil é um exemplo destes países, ele está se adequando à nova ordem econômica
mundial. Após a década de 1990, com a abertura do mercado nacional e maior integração à
nova ordem internacional ditada pelo capital, o país deixou de se preocupar com os problemas
socioeconômicos existentes que se acentuam principalmente nos grandes centros urbanos. As
políticas de privatização de instituições que antes eram estatais acirram ainda mais o
desemprego e a informalidade. O modelo político econômico centrado no neoliberalismo, tem
tornado a relação entre capital e trabalho mais injusta no Brasil, favorecendo o capitalismo.
Nesse sentido Gonçalves (2001) enfatiza:
De um lado as economias destes países se voltam para o mercado mundial,
como projeto das elites e de governo, e por “incentivos” de órgãos
econômicos internacionais como FMI, BIRD, apoiados no discurso da
liberalização da economia, de que se torna necessário competir na economia
mundial para chegar ao primeiro mundo, de outro lado estão os
trabalhadores, os excluídos de tudo, ou os mal incluídos em quase nada,
socializando o prejuízo destas ações para uma brilhante participação
nacional na economia mundial. Afinal torna-se necessário que “todos” façam
um sacrifício para tornar o mercado um campo livre, de acordo com o
neoliberalismo, em que todos possam concorrer, competir para que os mais
aptos e fortes vencer (p. 4).

O aumento do trabalho informal não indica que este esteja desligado do circuito de
acumulação capitalista, pelo contrário, faz parte de uma estratégia de explorar ainda mais a
força de trabalho. Percebemos que ocorre uma articulação entre o formal e o informal, um
dinamismo que levou muitas funções produtivas a serem externalizadas, terceirizadas e
recontratadas sem responsabilidades sociais, sem vínculo empregatício direto, o que significa
a introdução de traços de informalidade no setor formal.
Podemos entender que o trabalho precário é uma consequência principalmente da
desregulamentação das leis trabalhistas, da terceirização, da reestruturação produtiva do
capital. A precarização do trabalho, que atinge parte das firmas de subcontratação da cadeia
produtiva está relacionada à necessidade das grandes empresas de descentralizar a produção,
de forma a reduzir custos, repassando essas atividades para as pequenas empresas, assim
como questões relativas à contratação e salário dos trabalhadores.
Ocorre uma divisão na classe dos trabalhadores, entre os operários polivalentes, com
qualificação profissional, capacidade de autonomia, e os demais trabalhadores, que são
incorporados à periferia da produção, representada pelos empregos precários, temporários e
com níveis salariais inferiores.
É importante analisar que nas pequenas empresas se concentram grandes índices de
trabalho informal. Conforme Malaguti (2000, p. 85), dados do SEBRAE indicam que 70%
dos empregos existentes estão nas pequenas e micro empresas, mas as pequenas empresas são
responsáveis por apenas 13% do emprego formal total. Essas empresas pequenas também são
responsáveis pela precarização das condições de trabalho, onde geralmente a jornada de
trabalho é intensificada e estabelecida em lei, de seis a sete dias por semana.
O trabalho se torna flexível, portanto, precário. É adotada uma nova legislação
trabalhista que reverte os direitos dos trabalhadores anteriormente conquistados, como, por
exemplo, a Lei do Contrato Temporário. “Surge um novo proletariado industrial, complexo e
heterogêneo, cuja redução numérica em seu centro produtivo tende cada vez mais a ocultar
sua expansão periférica, interpenetrada por unidades de subcontratação industrial e serviços”
(ALVES, 2005, p. 67).

2 A COOPERATIVA DE AGENTES AMBIENTAIS DE MARECHAL CÂNDIDO


RONDON – COOPERAGIR
Dentro deste contexto de exploração, precarização do trabalho e de elevadas taxas de
desemprego, um personagem de grande importância neste contexto é o catador de materiais
recicláveis, uma consequência do atual quadro imposto pelo capital. De acordo com
Gonçalves (2006):
A miséria que se aprofunda com o desemprego e obriga estes trabalhadores a
viverem do/no lixo é um dos aspectos mais cruéis da sociedade capitalista,
que se fundamenta na lógica da produção/consumo de mercadorias, na
efetivação do valor de troca em detrimento do valor de uso, objetivando a
reprodução ampliada do capital e não a satisfação das necessidades dos
homens e das mulheres que produzem estas mesmas mercadorias (p. 21).

Esses trabalhadores geralmente são pessoas excluídas do trabalho formal, por serem
analfabetas ou apresentarem baixa escolaridade e ainda por questões de saúde e idade,
principalmente, pelo desemprego de longa duração. São desempregados também pela
substituição do homem pela máquina ou por pessoas mais qualificadas. Portanto, a catação
surge como meio de garantir sua sobrevivência e se reproduzir enquanto força de trabalho.
No entanto, a catação de materiais recicláveis pode ser considerada como uma
condição de trabalho extremamente precário. Ao procurar por materiais como papel,
alumínio, plástico vidro, etc., esses trabalhadores estão expostos a riscos de acidentes e até de
contaminação por dejetos químicos. Ao abrir os sacos de lixo os trabalhadores podem se
machucar com materiais perfurantes ou cortantes, como agulhas, vidros quebrados, materiais
enferrujados, entre outros. Esses não detêm de nenhum tipo de proteção para exercer a
catação de material reciclável, sendo considerado um trabalho extremamente insalubre e
degradante.
Além disso, há a questão de que os materiais recicláveis são vendidos por quantidade,
por peso, o que significa extensas jornadas de trabalho, tornando ainda mais precário à
situação dos trabalhadores catadores. Esses trabalhadores desenvolvem suas atividades sem
nenhum tipo de vínculo empregatício com comerciantes ou com as indústrias recicladoras.
Como já foi descrito acima, um dos principais objetivos do capitalismo é a produção
em massa das mercadorias, devido ao avanço tecnológico, os bens de consumo são
produzidos cada vez em maior escala. Além do mais, essas mercadorias são produzidas com
seu tempo de vida útil reduzida, favorecendo desta forma um ciclo mais rápido de compra e
venda no capitalismo. O lixo é símbolo do crescente desperdício, e o processo de reciclagem
aparece como a capacidade de redimir a sociedade capitalista do processo destrutivo gerado
pelo consumismo e descarte de resíduos.
Todos esses materiais vão parar no lixo, contribuindo para a degradação do meio
ambiente. De tal forma, os catadores de material reciclável acabam contribuindo
indiretamente para a preservação do meio ambiente, pois ao coletar os resíduos dos lixões, das
ruas e de aterros sanitários estão contribuindo na diminuição dos resíduos jogados em valas,
etc., além do mais diminui ônus maiores ao poder público, ao desempenhar a atividade de
catação sem nenhum vínculo empregatício estão desempenhando um trabalho não pago.
Conforme Alvares (2006):
O problema de diminuir a quantidade de lixo produzido está longe de acabar,
como não se pode parar, o alcance global da modernização, aqueles que não
conseguiram inserir-se no sistema, são sujeitos a trabalhos informais, assim
como os Catadores de Papel, objeto do presente estudo. Os catadores se
oferecem com seu trabalho na catação e posteriormente com a reciclagem à
diminuição de lixo bom que iriam parar nos lixos e nos aterros sanitários,
mas apesar desses benefícios que a reciclagem proporciona para redução do
lixo, ela não dá conta de resolver o crescente problema da geração de lixo
(p.12).

Além de contribuírem na questão ambiental, há a questão da economia de energia e


materiais. No caso de indústrias recicladoras, seu objetivo não está na preservação do meio
ambiente, essa atividade só se realiza através da garantia do lucro e da reprodução ampliada
do capital. Como argumenta Gonçalves (2001):
O crescimento da atividade fabril no reaproveitamento dos diversos
materiais recicláveis é concomitante à expansão de toda uma estrutura que
dá suporte e sustenta esse circuito econômico, de maneira que vemos a
ampliação do número e a diversificação dos demais agentes econômicos que
dele fazem parte, sejam os comerciantes de pequenas ou grandes quantidades
de resíduos recicláveis, conhecidos como sucateiros ou atravessadores,
sejam os trabalhadores catadores, envolvidos nesta atividade das mais
diversas formas e situações, nos lixões, nas ruas, nas centrais de triagem,
organizados autonomamente, ou em cooperativas, associações, etc. (p.101).

Estes catadores de papel são vistos como trabalhadores autônomos, mas na realidade,
representam a maior forma de precarização do trabalho, eles trabalham de forma indireta para
os atravessadores e para as indústrias de reciclagem sem receber nada a mais por isso ou sem
receber o que seria de seu direito pelo trabalho prestado. Como enfatiza Vasapollo, (2005):
Por trás da ilusão do trabalho autônomo, de auto-empresário, de liberdade
econômica e social, existe sempre uma nova forma de trabalho subordinado,
sem normas trabalhistas, uma exploração por empreitada, sem quaisquer
garantias sociais (...) (p. 37).

Através dessa precarização, é possível que as mercadorias recolhidas pelos catadores


retornem ao circuito mercantil, e possa ser comprada por um preço que permita seu
processamento e comercialização, mantendo uma grande margem de lucro. Esta forma de
precarização é que garante a reprodução ampliada do capital, se a mão de obra envolvida na
catação fosse regulamentada, com direitos garantidos, tornaria inviável para o capital, assim
seria melhor produzir a partir da matéria bruta.
A precarização do trabalho do catador se faz então fato marcante nesse
circuito econômico. Quanto mais precária a situação em que se realiza essa
atividade, quanto mais próximo ao limite da sobrevivência ela se estabelecer,
maior será a lucratividade do capital aplicado nesse setor. O trabalho do
catador nos lixões é simplesmente um meio que, se não produz diretamente
valor, ajuda a recuperar para o circuito econômico os valores que haviam se
transformado em lixo. Assim, como elemento que atua entre o processo que
gera desperdício e o que se ocupa da revalorização de algumas mercadorias,
o trabalhador catador é colocado no mesmo patamar que o lixo e ali muitas
vezes se confunde com ele. (GONÇALVES, 2001, p. 285).

Outra questão que favorece as más condições desse trabalho é que, muitas vezes, esses
trabalhadores não recebem nenhum tipo de apoio das entidades governentais, como, por
exemplo, as prefeituras, ou também a falta de colaboração da sociedade em geral, que poderia
ajudar na separação entre materiais recicláveis e orgânicos, mas muitas vezes não o faz. Os
catadores de material reciclável, ao coletarem materiais que podem ser reaproveitados,
colaboram com a diminuição da ocupação do espaço nos aterros sanitários, o que acaba sendo
bom ou torna negócio viável para as prefeituras, pois acaba aumentando a vida útil dos aterros
sanitários.
A Cooperagir (Cooperativa de Agentes Ambientais de Marechal Cândido Rondon), foi
criada no dia 10 de Janeiro de 2008, surgiu inicialmente como uma associação da qual faziam
parte quinze pessoas. A iniciativa do programa de coleta seletiva se deu através da ONG
Amparo e da Prefeitura Municipal da Cidade, no qual esta ofereceu apoio financeiro e a
estrutura para os catadores. Houve também apoio da Itaipu, que forneceu a balança, a prensa,
carrinhos e cursos aos trabalhadores. Algumas empresas da cidade também contribuíram,
doando os seus materiais recicláveis.
Quando se consolidou como cooperativa, havia quinze cooperados. Atualmente a
cooperativa é formada por cerca de quarenta catadores, sendo vinte homens e vinte e duas
mulheres. O trabalho na cooperativa inicia as 07h30min da manhã e finaliza às 17h30min,
com uma carga horária de trabalho de oito horas por dia para os catadores.
A Cooperagir, objeto de nosso estudo, está organizada sob os princípios de uma
cooperativa. Também está voltada aos princípios da Economia Solidária, assim, conforme
Margareth, coordenadora da Cooperagir, este tipo de organização incita o trabalho em equipe,
em que todos lutam pelos mesmos objetivos, que seriam de reconhecimento e a
sustentabilidade.
Numa empresa solidária os sócios possuem a mesma parcela de capital, mesmo direito
de votos nas decisões, portanto, todos participam igualmente dos lucros e dos prejuízos
obtidos pela cooperativa. A Economia Solidária prega a propriedade coletiva e o direito à
liberdade individual, produzindo uma única classe de trabalhadores possuidores de capital em
cada cooperativa, resultando na igualdade e solidariedade através da redistribuição solidária
da renda.
O objetivo principal da cooperativa não está na apropriação da mais-valia, está na
oportunidade de trabalho e de renda, tendo o aumento da produtividade a finalidade de
proporcionar melhores condições de vida aos trabalhadores, ela rompe com as amarras
existentes no circuito da separação e comercialização.
O trabalho como cooperado coloca esses trabalhadores em uma outra condição no
circuito da reciclagem. Eles deixam de serem trabalhadores informais e passam à condição de
trabalhadores autônomos, podendo pagar a seguridade social e garantindo, desta forma,
benefícios futuros, como aposentadoria, por exemplo.
A tendência à organização dos trabalhadores catadores em
cooperativas/associações coloca um novo elemento no mercado de resíduos
recicláveis, o que implica também em uma nova territorialidade e em
modificações no processo de trabalho na atividade da catação, acabando por
trazer mudanças para o funcionamento da coleta de lixo domiciliar urbano
quando a organização destes está associada à instalação de um programa de
coleta seletiva de resíduos recicláveis domiciliares. (GONÇALVES, 2001, p.
287).

Portanto, uma saída para as pessoas que são marginalizadas pelo processo atual de
exploração do trabalho é fazer parte da Economia Solidária, que busca articular comunidades
a partir de princípios solidários, promovendo a inclusão social de seus agentes. A economia
solidária faz parte das lutas históricas dos trabalhadores contra a exploração do trabalho
humano. As práticas solidárias são inspiradas por valores culturais que visam colocar o
humano como sujeito e finalidade da atividade econômica, ao invés da acumulação privada de
riqueza em geral e de capital em particular. A economia solidária surge como um modo de
produção e distribuição alternativo ao capitalismo.
Além disso, a Cooperagir participa do Movimento Nacional de Catadores de Materiais
Recicláveis (MNCR), de forma que haja um fortalecimento e união dos catadores, juntando
forças e alcançando parcerias e reconhecimento pelo seu trabalho tão importante nos dias
atuais.
O trabalho na cooperativa é realizado por meio de equipamentos, como carrinhos
manuais e elétricos, caminhão, esteira, prensa e balança. A coleta é realizada nos bairros, no
centro, e em alguns distritos. Quanto ao valor dos reciclados, podemos analisar a tabela
abaixo (Tabela 01) contendo o preço dos principais materiais coletados:

Tabela 01: Valor dos materiais recicláveis coletados pelos catadores


Tipo de Material Preços – R$ Quantidade Comercializada
Kg/mês
PET 0,90 4.441
PET (óleo) 0,25 316
Garrafinha 0,90 1.580
Plástico Duro 0,45 2.660
Papel fino branco 0,25 3.434
Papel fino colorido 0,15 11.960
Papelão 0,19 18.500
Alumínio 2,50 5.70
Sucata 0,30 5.770
Cobre 10,00 227
Tetra Pack 0,18 775
Vidro 0,07 3.790
Garrafas inteiras 0,20 45 unidades
Outros - -
Ferro 0,12 8.030
Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org.: CASAGRANDE, A. E.; BADE, M. R. & ROOS, Dj., 2011.

Estes materiais são comercializados com atravessadores, pois a cooperativa não possui
o montante suficiente para vender diretamente as indústrias recicladoras. Todo mês é
realizada uma cotação de preço, assim, os materiais são vendidos para quem oferece a melhor
oferta. A venda é efetuada mensalmente e o pagamento é a vista.
Segundo a coordenadora da cooperativa, Margareth, as principais dificuldades
enfrentadas pela cooperativa são: a estrutura precária, a falta de caminhão e a não separação
dos resíduos pela comunidade.
Já entre as conquistas alcançadas pela Cooperagir, está o aumento de renda dos
trabalhadores, o reconhecimento social, o aumento da recolha de materiais e os cursos de
aperfeiçoamento oferecidos.

3 PERFIL DOS TRABALHADORES DA COOPERATIVA DE AGENTES


AMBIENTAIS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON.
Na Cooperagir todos os catadores são cooperados, desde aqueles que trabalham
recolhendo materiais recicláveis nas ruas, até as pessoas que trabalham na usina de triagem
dos materiais.
Destes trabalhadores, muitos são advindos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, do
próprio Paraná e alguns do Paraguai. Vinte e seis catadores responderam ao questionário
aplicado em fevereiro de 2011. A seguir apresenta-se um quadro (Quadro 01) com a idade dos
trabalhadores:

Quadro 1. Faixa etária dos trabalhadores catadores de materiais recicláveis


FAIXA ETÁRIA NÚMERO DE CATADORES
De 15 a 30 anos 03
De 30 a 45 anos 08
De 45 a 60 anos 10
Acima de 60 anos 05
Fonte: Trabalho de campo, Marechal Cândido Rondon – PR, 2011. Org.: CASAGRANDE, A. E.

Desta forma, percebe-se que a maior parte dos catadores possui idade avançada, o que
pode ser compreendido como uma das razões para estes estarem inseridos no circuito da
reciclagem. Quando questionados sobre as razões para não conseguirem outra modalidade de
emprego, as principais respostas foram com relação à idade avançada e a falta de estudo.
Com relação ao nível de escolaridade, doze catadores possuem o ensino fundamental,
cinco possuem ensino médio, cinco são analfabetos e o restante possui outra modalidade de
estudo ou não responderam à questão. Atualmente apenas dois cooperados estão estudando.
Antes de trabalhar como catador, dez dos entrevistados trabalhavam na agricultura,
possuíam sítio ou trabalhavam como bóias-frias; cinco trabalhavam como
domésticas/diaristas; trabalhavam como donas de casa e em empresas privadas, como no
frigorífico, da empresa Copagril, situada no perímetro urbano do município de Marechal
Cândido Rondon. A maioria dos cooperados trabalha entre 02 até 11 anos na atividade de
catação de materiais recicláveis.
Os principais motivos apontados pelos catadores para ingressarem na reciclagem
foram à falta de empego, a idade avançada, a busca de uma renda maior e a consciência
ambiental. A renda mensal dos catadores fica em torno dos R$ 700,00 por mês. Além disso,
muitos deles recebem auxílios, como Bolsa Família, Cesta Básica, Vale Leite. Praticamente
todos afirmaram que suas condições de vida melhoraram depois de entrar na cooperativa, pois
aumentaram sua renda, e obtiveram reconhecimento pelo seu trabalho. Além do mais, agora
estes trabalhadores pagam INSS, garantindo sua seguridade social.
Desses catadores entrevistados, doze deles trabalham na usina, na separação dos
materiais na esteira, enquanto o restante trabalha recolhendo material reciclável nos bairros,
no comércio e em indústrias. Entre os que recolhem o material reciclável, onze trabalham com
o carrinho, um com o carrinho elétrico e um com o caminhão.
Quando questionados sobre as principais dificuldades de se trabalhar como catador de
recicláveis, as principais apontadas foram: trabalhar em dia de chuva, a falta de separação do
lixo pela população entre o material reciclável e o orgânico, trabalhar com materiais de vidro,
o sol forte e o calor que sofrem nas ruas e a estrutura ainda precária da cooperativa.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho como catador de material reciclável sem dúvida ainda é um trabalho
extremamente precário e degradante, além disso, não recebe o seu devido reconhecimento,
pois sabemos que este trabalho trás inúmeros benefícios para a sociedade como um todo,
como a diminuição da disposição final do lixo em lixões e mesmo no meio ambiente.
Este trabalho é precário, pois constitui extensa jornada de trabalho com baixa
remuneração e em condições insalubre. Além disso, estes trabalhadores estão expostos a
vários tipos de riscos ao lidar com resíduos químicos, materiais cortantes, podendo contrair
doenças e machucar-se, sem falar nos maus odores aos quais os catadores estão expostos.
Estando desprovidos de equipamentos de segurança para a sua proteção na lida da atividade
de catação de resíduos recicláveis.
No entanto, através da organização dos catadores de materiais recicláveis em
associações e cooperativas, estes podem ser colocados em condições mais favoráveis no
mercado da reciclagem, melhorando suas condições de trabalho e assim buscando melhores
condições de vida.
No caso da Cooperativa de Agentes Ambientais de Marechal Cândido Rondon,
podemos perceber que a situação de trabalho como cooperado melhorou a situação de vida
dos catadores. A jornada de trabalho destes catadores não passa de oito horas diárias, a sua
renda mensal aumentou, podendo pagar a sua seguridade social, sem falar que há um maior
reconhecimento social a respeito do trabalho dos catadores. Com a organização em
cooperativa, cada catador possui determinados pontos para coleta, o que evita a concorrência
e os conflitos entre seus pares.
É claro que ainda há muitas dificuldades no circuito da reciclagem, pois se trata de um
trabalho árduo, em que muitas vezes, a população não colabora nem na separação do seu lixo
doméstico, entre os que são recicláveis e os que não são recicláveis. É preciso que haja uma
maior conscientização sobre este trabalho tão importante nos dias atuais, de forma a se
valorizar o trabalho e a figura do catador de material reciclável, que limpa a cidade e protege
o meio ambiente e diminui ônus maiores aos órgãos públicos, principalmente aos da esfera
municipal.

REFERÊNCIAS
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na cidade de Guaíra. Marechal Cândido Rondon, 2006. Monografia (graduação em
Geografia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
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crise do sindicalismo. São Paulo: Boitempo, 2005.
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GONÇALVES, M. A. Trabalho no Lixo. Presidente Prudente, 2006. Tese (Doutorado em
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SINGER. Paul. Introdução à Economia Solidária. 1ª ed. São Paulo: Fundação Perseu
Abramo, 2002.
VASAPOLLO, Luciano. O Trabalho Atípico e a Precariedade. São Paulo: Expressão
Popular, 2005. 117 p.

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