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GT 14: Antropología de los desechos: Detritus del consumo e insumos industriales,

modalidades organizativas del reciclaje con inclusión social en América Latina

Modalidades antinômicas do trabalho na reciclagem


Mario Ricardo Guadagnin 1
Alexandro Cardoso 2
Camilla Helena Guimarães da Silva Rostas 3
Cristiano Benites Oliveira4

Doutor em Ciências Ambientais (UNESC), Universidade do extremo Sul catarinense, mrguadagnin@hotmail.com, 48 99964-0638
Mestrando em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), alexmncr@gmail.com, 51 989226565
Doutoranda em Educação Ambiental (PPGEA/FURG), Universidade Federal do Rio Grande (FURG), camilla.rostas@gmail.com, 53 981141987
Doutor em Ciências Sociais (Unisinos), Professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS - Campus Rio Grande), cristiano.oliveira@riogrande.ifrs.edu.br, 51
999131629
RESUMO
Para refletir sobre as políticas de gestão integrada de resíduos é importante concebê-las como
conglomerados entre conjuntos heterogêneos de elementos que passam a compartilhar
referências comuns. Esse compartilhamento é que pode integrar distintos âmbitos sociais,
ambientais e econômicos voltados à inclusão de catadoras/es e à minimização de impactos
ambientais. Certos modelos gerenciais e organizativos não contribuem para a integração entre as
dimensões sociais, ambientais e econômicas da reciclagem. Isso ocorre pois, catadoras/es, que
representam uma cultura social da reciclagem, pela ressignificação dos resíduos recicláveis,
permanecem excluídos pelas novas rotas tecnológicas de gerenciamento dos resíduos, ou são
incluídos de modo perverso em modalidades de organização que os individualizam como a
uberização da coleta seletiva. A individualização diminui o protagonismo da categoria, o modelo
privatista de gerenciamento de resíduos usa o discurso ambiental que mantém o o método de
extração de recursos naturais com a inclusão perversa, apagando o papel desempenhado por
catadoras/es na cadeia da reciclagem. A participação de catadoras/es na implementação de
políticas públicas perpassa o olhar para a antonímia inclusão/exclusão e pelo resgate de
momentos cruciais da organização de lutas coletivas na conquista da inclusão social efetiva com
minimização de injustiças ambientais. A metodologia consiste em autoetnografia e estudo
documental.
Conjuntos heterogêneos de elementos
Âmbitos voltados à inclusão de catadoras/es e à
minimização de impactos ambientais

Aterro “(Des)controlado da Santa Libera - Forquilhinha - SC

A participação de catadoras/es na implementação de políticas públicas de gestão de resíduos perpassa o olhar


para a antonímia inclusão/exclusão e pelo resgate de momentos cruciais da organização de lutas coletivas de
movimentos de base na conquista da inclusão social efetiva com minimização de injustiças socioambientais.
Definindo antinomias
Guareschi (1992) e Sawaia (2001) afirma que o "excluído" não existe por si
mesmo, mas é resultante de uma realidade ou situação ligada a outra. Se a/o
catadora/or é excluída/o surgem os questionamentos:
Excluída/o de onde?
Ou: excluída/o por quem?
“O ser excluído de algum lugar, implica que exista esse outro lugar”
Pode-se falar dos diversos tipos de excluídos: “o excluído economicamente, o
favelado, o mendigo, o empobrecido, é condição necessária da existência do
incluído.”
Certos modelos gerenciais e organizativos não contribuem para
a integração entre as dimensões sociais, ambientais e
econômicas da reciclagem.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/07/16/plano-de-transicao-ecologica-do-governo-tera-seis-eixos.ghtml
Cultura social da reciclagem

https://sul21.com.br/caminhos-do-lixoz_areazero/2020/02/caminhos-do-lixo-em-porto-alegre-quais-sao-os-tipos-de-descarte-quem-opera-a-coleta-e-a-que-custo/
https://cruzaltaonline.com.br/portal/2023/01/16/calendario-ambiental-2023-janeiro-e-o-mes-da-sustentabilidade-dedicado-a-coleta-seletiva-solidaria-no-municipio/

Calendário ambiental 2023: Janeiro é o mês da sustentabilidade A Coleta Seletiva Mecanizada funciona como um projeto
piloto em algumas regiões centrais de Porto Alegre. Foto: Ivo
dedicado a coleta seletiva solidária no município Gonçalves/PMPA

A cultura social da reciclagem é a ligação entre os geradores, na qual é mediada pelos resíduos. A partir deste elo,
primeiramente são geradas a solidariedade e a empatia. Os geradores recebem as(os) catadoras(es), estes geram satisfação
e alegria àqueles. Desse modo, se colocam (imaginam) como é dura a vida de uma(m) catadora(r). A(o) catadora(r), por sua
vez, ressignifica a coleta de resíduos, deslocando-os para algo útil, gerador de renda e postos de trabalho, e ainda contribui
com a proteção da natureza. Essa relação surge então como uma ligação direta entre os catadores. Trabalho completamente
diferente do que vem a ser a coleta seletiva mecanizada realizada pela prefeitura nos dias atuais, sem ligação entre o gerador
de resíduos e o gari coletor (CARDOSO, p. 158. 2021a)
Cultura empresarial da reciclagem
Concebe os resíduos recicláveis como
mercadoria e se apropria dele visando a
acumulação de lucros, que podem ser
provenientes da sua comercialização
enquanto matéria-prima, ou
simplesmente da sua destinação final
como “lixo” a ser aterrado ou incinerado.

As catadoras/es, permanecem excluídos pelas novas rotas tecnológicas de


gerenciamento dos resíduos, ou são incluídos de modo perverso em modalidades
de organização que os individualizam como a uberização da coleta seletiva.
A ação coletiva de catadoras/es: da gênese
as lutas atuais do MNCR
A modalidade inclusiva do trabalho na
reciclagem remonta as interlocuções
ocorridas em 1998, quando foi instituído o
Programa Nacional “Lixo e Cidadania” que
propôs a integração das dimensões social e
ambiental para formulação de políticas de
gestão de resíduos sólidos urbanos
(CAMPOS, 2014), deixando de olhar o
desenvolvimento apenas pelo viés
economicista, e claro, como fórum, ter em
sua gênese, a participação e controle social.
A criação do FNLC serviu como um
catalisador para o ativismo social entre
as/os trabalhadoras/es que levou à criação
do Movimento Nacional dos Catadores de
Materiais Recicláveis (MNCR), surgindo
em 1999, através do 1º Encontro Nacional
de Catadores de Papel e se consolidando
em junho de 2001 no 1º Congresso
Nacional dos Catadores(as) de Materiais
Recicláveis em Brasília, evento que reuniu
mais de 1.700 catadores e catadoras
(MNCR, 2021).
A organização coletiva do MNCR, fundada em
2001, a atividade das/os catadoras/es passaram a
entrar na pauta socioambiental e econômica em
várias cidades brasileiras, com a categoria se
organizando coletivamente em CAs, os municípios
implantando coleta seletiva, as empresas
separando e destinando resíduos para a
reciclagem, garantidos através de leis nacionais,
estaduais e municipais, assim, a categoria passou
a não mais vista como resultado de um problema
social, mas sim como uma solução de um
problema socioambiental (GONÇALVES-DIAS et.
al., 2010).
Institui o Programa Diogo de
Linha do tempo da legislação de resíduos sólidos Sant’Ana Pró-Catadoras e
Pró-Catadores para a
Reciclagem Popular e o
● Interfaces entre catadores – resíduos e logística reversa: edições e revogações Comitê Interministerial para
Inclusão Socioeconômica de
Catadoras e Catadores de
A participação de catadoras/es na implementação da política nacional de Materiais Reutilizáveis e
Recicláveis.
resíduos sólidos perpassa o olhar para a antonímia inclusão/exclusão. Decreto 11.044

Institui o Certificado de
implementação Crédito de Reciclagem
de sistema de de Logística Reversa, o
Projeto Interministerial Permissão para a
contratação de logística Certificado de
Lixo e Cidadania:
Cooperativas e reversa de Estruturação e
Combate à Fome Acordo setorial para
Associações de Catadores produtos Reciclagem de
Associado à Inclusão implantação do
eletroeletrônico Embalagens em Geral e
de Catadores e à sistema de logística
Lei 11445 em seu art. 57 s e seus o Certificado de Crédito
Erradicação de Lixões reversa de embalagens
que modifica o inciso componentes de Massa Futura,
em geral
XXVII do art. 24 da Lei de uso
Decreto 11/2003 8666/1993 25/11/2015 Decreto 10.240
doméstico. Decreto 11.043

2002 2003 2006 2007 2010 2015 2017 2020 2022 2023

Decreto 9.177 Decreto 10.936


Portaria n.º Decreto nº 5.940 Lei Nº 12.305 Decreto 7.404 Decreto 7.405
397/2002 MTE Institui o Programa
estruturação e
Código n.º Coleta Seletiva Política Nacional diretrizes para Instituiu o Nacional de Logística
regulamentação
5.192-05 Solidária de Resíduos gestão integrada e Programa Reversa
da Logística
Sólidos ao gerenciamento Pró-Catador e
Reversa
Reconhecimento a de resíduos reestruturou o Decreto 11.043
Categoria sólidos Comitê
profissional de Interministerial Aprova o PLANARES
Catador de Material
Reciclável Decreto 11.043
Revogaço: Dec. 10936/2022
Dec. 10473/2020 Institui o Certificado
de Reciclagem –
Recicla+
Linha do tempo da legislação de resíduos sólidos Institui o Programa Diogo de
Sant’Ana Pró-Catadoras e
Interfaces entre catadores – resíduos e logística reversa: normas em vigor Pró-Catadores para a
Reciclagem Popular e o Comitê
Interministerial para Inclusão
Socioeconômica de Catadoras e
Catadores de Materiais
Reutilizáveis e Recicláveis.

Decreto 11.044
implementação
Permissão para a de sistema de
contratação de Institui o Certificado de
logística Crédito de Reciclagem de
Cooperativas e
reversa de Logística Reversa, o
Associações de
Catadores produtos Certificado de Estruturação
Acordo setorial para eletroeletrônico e Reciclagem de
Lei 11445 em seu art. 57 implantação do s e seus Embalagens em Geral e o
que modifica o inciso sistema de logística componentes Certificado de Crédito de
XXVII do art. 24 da Lei reversa de embalagens de uso Massa Futura,
8666/1993 em geral doméstico.
Decreto 10.240 Decreto 11.043

2002 2007 2010 2015 2020 2022 2023


Portaria n.º
397/2002 MTE Decreto 10.936
Lei Nº 12.305
Código n.º
Institui o Programa
5.192-05
Nacional de Logística
Política Nacional
Reversa
de Resíduos
Reconhecimento a
Sólidos
Categoria Decreto 11.043
profissional de
Catador de Material Aprova o PLANARES
Reciclável
Mapa conceitual das
modalidades antinômicas
do trabalho na reciclagem
A modalidade excludente movida por
sentidos economicistas mantém o
modelo de extração de recursos
naturais, a geração de embalagens
descartáveis, mas recicláveis, pelo
retorno a cadeia produtiva com a
inclusão perversa de catadoras/es,
quando o faz, ou pelo apagamento e
esquecimento do papel desempenhado
por elas e eles na cadeia da
reciclagem.
O contato entre modalidades com sentidos distintos e conflitivos
formam um panorama de antinomias que ajudam a descrever as
complexidades presentes no trabalho da reciclagem. A crítica em
relação às modalidades excludentes evidenciam processos de injustiça
socioambiental, o mecanismo pelo qual sociedades desiguais, do ponto
de vista econômico e social, destinam a maior carga dos danos
econômicos e socioambientais do desenvolvimento às populações de
baixa renda, aos grupos raciais discriminados, aos povos étnicos
tradicionais, aos bairros operários, às populações marginalizadas e
vulneráveis (ACSELRAD; MELLO; BEZERRA, 2009, p.40), tais como
as catadoras e catadores de materiais recicláveis.
A ação coletiva desses atores pautada por uma agenda de solidariedade e
inclusão social promove a crítica às modalidades excludentes, ainda que, no
tocante ao envolvimento formal dos catadores na gestão municipal de resíduos
sólidos, o pagamento pelos serviços prestados na coleta seletiva para
organizações de catadores é uma realidade ainda incipiente no Brasil (BRASIL,
2022). Por fim, a busca por ressignificação sociocultural das ideias e das
práticas relativas a catadoras e catadores e aos resíduos sólidos, a partir de
uma agenda de políticas públicas que promova a recuperação dos materiais
descartados para sua reciclagem, juntamente com a inclusão social deste setor
consistem em um horizonte de protagonismo pelo seu reconhecimento e
valorização profissional.
OBRIGADA/O!
mrguadagnin@hotmail.com

alexmncr@gmail.com

camilla.rostas@gmail.com

cbenitesoliveira@gmail.com

#MNCRPRESENTE

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