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Há algum tempo, depois de eu ter conquistado um importante concurso para

orquestra, um colega me perguntou qual teria sido o segredo de meu sucesso.


Depois de breve pensar, respondi: "Deixa teu coração tocar com extrema
exatidão". Esta é naturalmente uma afirmação abrangente, mas que no fundo deixa
aberta a pergunta: "como se faz isso?"

Os tempos mais difíceis e mais estressantes na carreira de um músico de orquestra


são provavelmente os concursos. Em nenhuma outra situação de sua profissão,
quando tanta coisa está em jogo, ele tem de se confrontar em tão pouco tempo
simultaneamente com tantas músicas diferentes e difíceis.
Como se administra este stress? Como a gente pode se preparar para, no
"momento da verdade", tocar no seu nível mais elevado? Tenho dois pensamentos
decisivos que podem orientar Você na preparação de um concurso:
1. não deixe de testar nenhum ítem durante a preparação;
2. não tenha preocupações desnecessárias em coisas sobre as quais Você não tem
influência.
Neste artigo vou abordar, além de outros aspectos, estes dois pontos.
Participei de mais de vinte concursos de orquestra, venci três deles, e assim estou
há 26 anos nesta profissão. Também participei como jurado de muitos concursos e
fiquei em parte chocado com a falta de preparo de alguns candidatos.
Os passos a seguir são destinados especialmente aos oboistas, mas outros
instrumentistas de madeira podem se aproveitar igualmente da maioria dessas
dicas.
Obs: na tradução a seguir, (com a devida licença) foi feita a substituição/adaptação
para o fagote, pois é num site especializado ao fagote que está incluído este artigo!
- Também, com a devida licença, o tradutor se pergunta: não seria a maioria
dessas dicas também válida para a realização dos concertos sinfônicos, dos recitais
de fagote, música de câmara e audições, uma vez que a cada concerto tocamos
para uma banca bem mais numerosa, composta de um público também muito
atento e crítico ao que lhe oferecemos?

O INSTRUMENTO
Tão logo Você tome conhecimento das datas de seu concurso, entre em contato
com seu construtor de instrumentos ou com a pessoa que faz a manutenção do seu
instrumento, para agendar uma revisão. Na hora do concurso não basta que seu
instrumento esteja em "boa forma"; ele precisa funcionar com perfeição. Não
desconsidere isso! O que acontece se seu instrumento está ajustado apenas
superficialmente ou até com pequenos vazamentos, que no dia a dia podem até
parecer insignificantes? Algumas notas vão responder com dificuldade e então Você
vai tentar apertar o mecanismo com mais força que o necessário. A maior tensão
nos dedos vai se espalhar a partir dos braços e ombros a todo o corpo e vai criar
uma atmosfera tensa e um esforço que vai se tornar perceptível. Esta tensão
adicional pode desencadear um pânico de sobrevivência, que pode não ser a
situação emocional ideal para Você poder mostrar toda sua capacidade de
interpretação. Você terá de renunciar a uma flexibilidade dinâmica, pois Você não
terá a certeza se seu instrumento vai responder bem nas passagens suaves e em
piano. É certeza que para o dia do concurso Você vai ter escolhido "a" palheta,
aquela que responda melhor; assim, com seu instrumento vazando, suas notas
graves serão mais baixas do que o normal, pois Você não vai arriscar de tocá-las
mais forte, por medo que elas falhem. Portanto, quanto melhor a vedação de seu
instrumento, tanto maior e melhor a flexibilidade sonora, sobretudo nos graves.
PALHETAS
A pergunta, se no dia do concurso Você vai ter uma excelente palheta, não deveria
sequer existir. Se Você normalmente prepara uma palheta por dia, durante a
preparação para o concurso, algumas semanas antes de ele acontecer, Você deverá
preparar pelo menos três palhetas diariamente. Escolha cuidadosamente o material
e descarte tudo que não seja de primeira linha. Escolha canas dentre aqueles
molhos que ultimamente lhe permitiram fazer boas palhetas. Isso significa que
Você tem de ter à mão muitas canas de diversos fornecedores.
Eu recomendo que, três dias antes do concurso, Você tenha à escolha
aproximadamente 12 palhetas de primeira qualidade. Se Você enfrenta um
concurso com a sensação de ter uma boa escolha de ótimas palhetas, Você tira um
peso enorme da consciência. Peneire nos últimos dois dias ainda aquelas que Você
acha que não tenham ótimas chances de bons resultados, de tal maneira que a
escolha final fique entre três ou quatro palhetas extraordinárias, para quando Você
estiver já no local do concurso.
Não se prenda demais emocionalmente a uma única palheta. Quase sempre em
algum momento o coração dela pode "falhar"....
Decida-se pela palheta do concurso não muito tempo antes de ele acontecer e use
aquela que, no momento da apresentação, melhor responda, ainda que não seja
uma daquelas que Você tenha escolhido como a palheta ideal.
Providencie que as palhetas antes da prova tenham sido devidamente
experimentadas. Cada uma delas deve ter passado por três ou quatro sessões de
uso, com tempo para secar e posterior aclimatização. Pode acontecer que nas
provas Você fique muito tempo sentado esperando sua vez; assim, considerando
que sua palheta foi cuidadosamente preparada, Você não vai ter de se preocupar
como seria com uma palheta mal saída do forno, que eventualmente pudesse ficar
muito dura.

ESCOLHA DOS ANDAMENTOS


Se na lista das obras do repertório existirem algumas que Você ainda não conheça,
é preciso prepará-las de tal maneira que pareçam serem músicas de sua
intimidade. Você deveria ouvir pelo menos três gravações diferentes da obra. Por
que três? Por que é importante tomar conhecimento de diferentes concepções de
andamento e de diferentes possibilidades de interpretação. Talvez não exista o
andamento correto, mas muitos que podem ser definidos como falsos. Cada
passagem que Você toca numa prova de concurso tem uma variação de andamento
aceitável. É dentro dela que sua escolha deve ficar. O andamento tem de parecer
razoável. Se Você toca muito rapidamente uma passagem rápida, isso pode causar
uma impressão boba de que Você quer se mostrar. Se numa passagem rápida seu
andamento é lento demais, pode dar a impressão de insegurança técnica. Tenha
também o cuidado para que uma passagem lenta não chegue a soar muito pesada.
Os jurados já naturalmente cansados vão se aborrecer. Condicione seus
andamentos de tal maneira como os imaginou, que os consiga executar também
numa situação de stress. Encontre um ou dois compassos apropriados e
experimente, baseado neles, fazer deles uma referência para o andamento. Cante
estes compassos mentalmente antes de começar a tocar a peça. Os compassos
iniciais nem sempre são os mais apropriados para este exercício, mas alguns
compassos tirados do meio da música.
Quando Você for ouvir as passagens exigidas para a prova, é importante não se
limitar somente a ela, mas ouvi-la em todo seu contexto; ou melhor ainda, toda a
parte de seu instrumento. Use para seu estudo não aquelas edições especiais para
concursos, mas procure obter a parte completa. Se lhe for possível, ouça a peça
acompanhando pela partitura. Distinga onde estão as passagens em solo e as
passagens em tutti. Se, por exemplo, Você toca em uníssono com a clarineta,
defina-se por uma modulação com pouco ou mesmo sem nenhum vibrato. Quando
a parte da clarineta termina e o seu instrumento continua com o solo, Você pode
mudar a intensidade da cor de seu som e a intensidade de seu vibrato. Algumas
anotações de dinâmica em piano devem ser tocadas com muita sutileza, enquanto
outras, em obras com uma instrumentação mais carregada, mas que também
tenham também a indicação em piano, devem ser tocadas e ouvidas por sobre esta
instrumentação cheia.
Se é a instituição que lhe envia os trechos da prova, concentre-se naturalmente
neles. Mas é coisa sábia, estudar toda a obra ou pelo menos dar nela uma olhada
mais profunda. Certa vez eu fui convidado a tocar um trecho que não estava na
lista do repertório. Fazer uma observação como "mas isso não é leal!" não é coisa
que se faça.

TÉCNICA
Eu sempre digo a meus alunos: "aquele que toca bem solos lentos, tem chance de
vencer um concurso. Aquele, porém, que toca passagens rápidas com restrições,
jamais vencerá". Com outras palavras: uma técnica limpa não garante o sucesso,
mas com uma técnica defeituosa Você perde com certeza.
Uma preparação básica com o metrônomo é essencial! Existem muitos bons
caminhos de treinar a técnica, e de maneira nenhuma quero afirmar que eu tenha o
único método correto. Eu penso, não importa como treinemos a técnica, ela sempre
deveria ser rítmica e a partir de um impulso interno. Toque no mesmo estilo e com
a mesma energia, não importa se esteja tocando num andamento lento ou rápido.
Nunca seja desleixado ao estudar técnica. Se ela não estiver limpa, o andamento
está rápido demais.
Quando músicos estudam técnica, seguidamente eles caem numa certa rotina. Isto
é, que as mesmas notas sempre ou são muito fracas, ou muito curtas ou muito
rachadas e alunos estudam estas desigualdades de tal forma que elas ficam
viciadas com a constante repetição. Procure novos caminhos ao tomar uma
passagem técnica que lhe seja conhecida, e enxergá-la de maneira nova. Toque,
por exemplo, as semicolcheias como tercinas e vice-versa; mude a sequência da
nota inicial das tercinas; isso fará mudar os acentos de tal maneira que nem
sempre as mesmas notas sejam aquelas cabeça de compasso. Toque também a
passagem em ritmos pontuados e inverta o ritmo. Existem muitos meios de
reavivar uma passagem muitas vezes (mal)tocada.
Através de exercícios técnicos a gente chega num ponto que, em vez
de esperar que a passagem saia perfeita, a gente chegue à certeza que a passagem
sairá bem. Em algumas passagens isso acontece com certa rapidez, em outras são
necessárias semanas ou até meses de um estudo diário até que o mesmo ocorra. É
importante atingir este ponto da certeza antes de enfrentar um concurso.
Eu falo seguidamente com meus alunos sobre seus "inner-Freak-Out Metter". Este é
um método de questionar seus medos ou sua situação de stress. Se a gente
quisesse visualizar esta situação através de uma escala, escalonando-a de "um a
dez", onde o nível "um" seja a situação na qual nos sintamos bem, "cool" e
confiantes de que o solo vai ser 100%. Na nível "dez" perderíamos os nervos e
piraríamos.
Por exemplo, defina o andamento que Você consiga tocar no nível "um". Não
importa se Você tenha de tocar a passagem mais lentamente para encontrar este
nível "um". Ao aumentar o andamento tenha sempre em mente este sentimento do
"um", (ou pelo menos 1,5). Se interiormente Você sentir os níveis aumentarem,
piora o resultado; Você está estudando rápido demais. Se Você conseguir manter a
sensação do "um", Você nunca terá medo diante desta mesma passagem. Isto é
importante pois montar uma técnica deveria ser simultaneamente um processo de
confiança, quando os dedos estão devidamente treinados.
Se sua execução na seu entender está perfeita, mas o valor mental se situa no
nível 4 ou 5, Você certamente está estudando muito rápido, pois a confiança ainda
não se estabeleceu. Agora imagine que, durante seis meses Você tocou a Noiva
Vendida de Smetana (o texto original oferece aqui como exemplo para os oboistas
a peça "Le Tombeau de Couperin"), conseguindo sempre manter o nível "um" da
escala. Pode até ser que Você também demore os seis meses para chegar à
velocidade ideal da peça; mas durante este processo Você construiu (montou)
mentalmente um super-homem. Se um dia Você tocar esta mesma peça numa
prova de concurso então Você poderá dizer: "Eu nunca senti coisa diferente do que
uma confiança total nesta obra e nunca a toquei menos do que perfeita". Você vai
ter a confiança, Você vai superar a situação. Imagine a situação de vantagem que
Você terá em relação a colegas seus que, tremendo, sempre tiveram uma nota
abaixo de "um" naquela sua escala.

SEJA SENSÍVEL ÀS NUANCES


Se Você conseguir tocar bonito e com uma técnica sem problemas Você já estará
em vantagem em relação a muitos concorrentes. Mas isto não basta. Cada peça da
prova exige uma estilo diferenciado e uma cor própria. O que pode significar que o
som que Você usa em La Mer (Debussy) deva ser diferente do som
da Eroica (Beethoven). Na música francesa exige-se um som mais tênue e mais
etéreo do que na música alemã. O vibrato deverá variar de um rápido e apaixonado
até um lento e pesado até ao inexistente, assim como a natureza da obra o exija.
Também as notas em staccato não são todas iguais. Numa abertura de Rossini eles
deverão ser curtos e "crocantes". Ao contrário em Wagner o mesmo sinal de
articulação deverá ser interpretado mais longo e mais massudo (um regente certa
vez comparou o staccato de Wagner com a gordura de uma linguiça pingando). A
maioria dos instrumentistas são possessos em produzir um som "escuro", mas
deveriam ter sempre um som bonito oscilando com timbres claros e escuros,
sublinhando a qualidade da música.
Cada passagem das peças de concurso tem sua marca característica própria. A
gente pode conseguir isso de um lado com uma palheta muito flexível, de outro
quando a gente, com toda a calma e longe do instrumento reflete sobre a
passagem. Você deveria gastar um certo tempo sem o instrumento nas mãos em
refletir como cada passagem poderia soar se Você tivesse possibilidades ilimitadas.
É também de grande valia ouvir grandes cantores e violinistas, que normalmente
tem muito maior capacidade expressiva do que no nosso instrumento. Imagine
como seria a passagem que Você está tocando se ela fosse cantada como o faz
JESSYE NORMAN ou se ela fosse tocada por YO YO MA. Imite seus estilos,
sonoridades e seu poder de convencimento musical e tenha diante dos olhos uma
palheta que tenha a capacidade de realizar isso. Não perca as oportunidades de
ouvir outros fagotistas. Meu professor RAY STILL recomendava ouvir grandes
jazzistas. Segundo a opinião dele os mais completos e mais experientes
instrumentistas de sopro de nosso planeta eram os saxofonistas de jazz.
Você deveria gravar cada passagem de seu concurso antes do concurso. Isso pode
ser desgastante, mas é sempre melhor Você poder ouvir e corrigir seus erros antes
que os jurados o façam. Confie no seu instinto. Se Você tem a sensação que uma
passagem não funciona, tente a entender o porquê. Poderia ser, por. exemplo, algo
muito simples, que uma única nota esteja destoando do contexto.
Gaste tempo com o afinador. Esteja seguro que intervalos maiores soem afinados.
Você precisa saber que uma nota que constantemente é tocada "suja", parece
normal se ela foi suficientemente repetida. Tenha intimidade com as tendências de
afinação de seu instrumento e conheça aquelas notas que frequentemente tem a
tendência de soar mais agudas ou mais graves, de tal maneira que Você possa
fazer a compensação, sem cair no lado oposto. Use o afinador para conferir com os
olhos e utilize o som do seu afinador para, a partir da nota fixa dele, construir
intervalos inferiores e superiores.
Você deveria ter para cada passagem um plano. Cada frase precisa ser pensada
antecipadamente para que ela possa atingir sempre seu clímax. Você precisa ter a
consciência para onde cada frase vai. Direcione-se a este ponto (este não precisa
necessariamente ser a nota mais aguda) e retorne a partir daí. Um bom
pensamento é também, durante este plano de execução se ocupar com a situação
nervosa.
Se Você tiver um plano para cada peça, Você poderá se concentrar totalmente na
peça e não precisa se preocupar, o quão nervoso Você vai estar. Por outro lado
seus nervos, que são sensíveis, podem levar a uma interpretação mais acurada.
Nervos nos permitem sentir que nós vivemos e nos lembram da vontade que temos
de nos apresentar de maneira impecável. Eles não são sintomas de doença, mas
um sinal que a gente se preocupa em render o melhor que pode.
Conte através de grandes solos românticos uma história e pinte um quadro. Tantos
músicos tocam apenas notas bonitas ao invés de ter o público nas mãos e levá-lo a
algum lugar. Imagine uma história e a transmita àqueles que o estão ouvindo.
Você precisa irradiar grande energia, mas se acalmar quando a música assim o
exige. Quando Larry Combs ganhou a cadeira de clarineta solista da Orquestra de
Chicago, um de seus colegas opinou sopre aquela prova: "Larry tocou em cores,
todos os demais tocaram em preto e branco". Lhes dou o mesmo
conselho: "toquem colorido". Não tenha receio nem hesitem demonstrar segurança
ao tocar. Assuma para si a iniciativa musical. Sempre vão existir dezenas de
candidatos seguros e conservadores que sempre perdem. Toque para vencer e não
para evitar a derrota.

MEREÇO VENCER?
Se Você ainda não se ocupou mentalmente com este tema, não vai nem entender a
pergunta. Ou então vejamos: De uma certa maneira todos somos até certo ponto
instáveis ou inseguros e é fácil cair na armadilha e se perguntar se somos
realmente merecedores de vencer. Tenho muitos alunos, talentosos, empenhados,
aparentemente seguros, que me fazem tal pergunta.

Eu vejo isso da seguinte maneira: todo aquele que gastou anos com seus estudos e

dispendeu muito dinheiro para pagá-los, todo aquele que com sua família passou
por sacrifícios para realizar este sonho, todo aquele que deixou de se divertir para
estudar, todo aquele que desesperadamente procurou fazer sempre melhores
palhetas, todo aquele que negociou e pechinchou para comprar um novo
instrumento... Você conhece alguém assim? Com certeza Você não é o único que
merece ganhar, mas se Você se encaixa em algum dos ítens acima, com certeza
Você o merece!
ENSAIAR A PROVA DO CONCURSO

Você deveria tocar (ensaiar) pelo menos três provas de concurso perante amigos e
colegas em quem Você confia. Mas não toque perante alguém a quem Você não é
muito chegado ou que poderia eventualmente fazer mau uso dessa situação.
Algumas pessoas se aproveitam da abertura de sua psique, para lhe falar coisas
que já há tempos gostariam de lhe falar. Elas trazem isso escondido dentro delas
com a finalidade de lhe ofender ou prejudicar. Procure pessoas prestativas, que o
escutem com bons propósitos e faça um quase-concurso bastante formal e até
desconfortável. Tanto quanto possível tente reproduzir a atmosfera da prova do
concurso. Não faça aquecimento no ambiente onde vão estar os jurados. Quando
Você estiver pronto, entre e deixe que os jurados escolham a sequência das peças.
Não converse nem faça brincadeiras! O júri deve poder anotar as coisas que queira.
Mas isso só vai ser discutido depois da prova. Copie suas notas. Grave a prova e
ouça a gravação somente mais tarde depois de ter ouvido os comentários.

COISAS QUE VOCÊ NÃO PODE CONTROLAR

Muitas pessoas gastam um tempo inútil se preocupando com coisas sobre as quais
não tem controle. Por exemplo:

 quem vai estar na banca;


 quantos serão os participantes;
 qual senha vai ser a sua e o que ela pode significar;
 a temperatura da sala;
 a acústica da sala;
 o que a banca vai querer ouvir;
 o clima;
 sua saúde no dia da prova;

Este é um dado que em parte pode ser previsto e previamente controlado, mas no
dia da prova é preciso aceitar-se da exata maneira como Você se sente. Se Você
não estiver realmente passando mal, Você vai ficar admirado do quanto Você pode
render no tão curto espaço de tempo de uma prova.

 se a banca gosta de Você ou não;


 se o vencedor vai ser Você.

Você não tem a mínima influencia sobre nenhum destes pontos, portanto não gaste
sua energia com eles. Condicione-se de tal forma que tais pensamentos nem
cheguem perto de Você. Você vai ficar surpreso o quanto é de bom efeito Você
poder dizer: " não posso fazer nada, por que quebrar a cabeça e gastar tempo com
isso?"

COISAS QUE VOCÊ PODE CONTROLAR

 a postura;
 a preparação;
 as palhetas;
 sua performance.

isso é o bastante para ocupar seus pensamentos, mas deveria lhe ocupar por
inteiro!
NO LOCAL DA PROVA

Se a cidade onde Você vai fazer a prova lhe é estranha, faça um passeio ao local da
prova um dia antes da mesma. Assim Você vai saber onde deve ir, o local se torna
familiar. Durante a prova Você com certeza vai encontrar amigos de velhos tempos,
companheiros de classe ou outros colegas. Não é esta a hora de reavivar amizades
e comentar histórias passadas. Para isso espere a prova passar. Cumprimente
simplesmente as pessoas e procure não comentar com seus concorrentes sobre o
estado emocional de cada um. Lembre que toda sua energia e concentração deve
estar direcionada para sua melhor e mais perfeita interpretação.

Acho bom, um ou dois dias antes da prova, providenciar um bloco de notas como
apoio. Você vai passar por suas próprias experiências diante de um concurso.
Esteja familiarizado com um bloco de notas já antes da prova. No caso de uma
espera demasiado longa, este bloco de notas poderá ser seu confidente....

Preste atenção a suas palhetas para saber quão molhadas elas devam estar.
Algumas palhetas funcionam melhor quando Você as mantém na água; outras
ficam intocáveis, pois incham quando molhadas. Algumas deveriam secar na caixa
de palhetas, outras deveriam secar ao ar livre e somente voltar a ser umedecidas
quando forem usadas. Uma palheta úmida numa caixa de palhetas fechada seca
sempre mais lentamente e fica mais aberta do que aquela palheta que secou ao ar
livre. A administração da palheta é fundamental para que a palheta esteja no ponto
certo na hora certa. Afie sua faca antes de ir ao concurso para poder fazer
correções mínimas ainda de última hora, se necessário. Cheque duas vezes se Você
tem várias linguetas. Já imaginou se Você só leva só uma e, por acaso, esta única
lingueta cai entre as teclas do piano? e leve também um bloco de madeira.

A PROVA PROPRIAMENTE DITA

Não faça seu aquecimento no palco. Se tiver que experimentar sua palheta, faça-o
de modo suave, discreto e rápido. É melhor experimentá-la rapidamente antes de
entrar em cena na esperança que aqueles poucos segundos de distância não a
façam mudar demais. Tocar escalas ou firulas diversas diante da banca não o vai
ajudar além de logo deixar uma imagem negativa, antes mesmo de Você começar a
prova. É incrível quantos candidatos tentam se produzir com tais demonstrações.
Começar uma prova sem este expediente deixa uma impressão de conhecimento e
confiança. Gaste um tempinho antes de tocar a peça, para poder penetrar nela. Já
desde a emissão do primeiro som Você precisa estar na atmosfera da obra. Os
primeiros compassos também já definem para a banca se o veredito é um "não", ou
um "sim, pode continuar a tocar". Você não tem tempo para ir se encontrando
lentamente enquanto toca. Você tem de impressionar de imediato.
MANTRA DA PROVA

GLADYS ELLIOT, minha professora, me convenceu a repetir sempre o seguinte


mantra. A mim ajudou:

 sem medo;
 sem contrações;
 sem vontade de agradar;
 nada deve interferir entre mim e a tarefa que estou realizando.

Observação ao item 2: através de uma concentração intensa as contrações se


desfazem e Você estará livre para tocar sem os grilhões da insegurança.

Observação ao item 3: é de grande valia para muitos candidatos. Não tente


agradar a banca. Você não pode levá-la a gostar de Você. Conforme a ironia-Zen a
melhor chance que Você tem de agradar a banca é não prestar atenção se a banca
gosta de Você.

E SE NÃO GANHAR...

Não é vergonha perder um concurso. Muitos grandes músicos perderam não só


uma vez. Evite aquele sensação passageira do "bálsamo" da amargura; nem saia
dizendo que foi desleal ou manipulação. Ninguém vence sempre. Pode ter a
certeza, que nesta preparação Você cresceu. Não foi tempo perdido ter estudado
correta e conscientemente. Procure perguntar-se, o que, se realmente for o caso,
saiu errado e como Você pode valorizar essa experiência para, na próxima vez, se
preparar melhor. Sempre vão existir concursos. Se Você conseguir enxergar estas
situações de um maneira positiva e crescer com isso, Você vai poder se apresentar
ao próximo "cadafalso" fortalecido e encarar as próximas ocasiões com entusiasmo
e decisão.

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* Artigo publicado em IDRS 30/2007 (Some Thoughts on Auditions), e em


ROHRBLATT 4/2008 (Wie bereite ich mich auf ein Probespiel vor?)

** Peter W. Cooper é oboé solista Orquestra Sinfônica de Colorado e professor de


oboé na Universidade de Colorado em Boulder

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