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Empresa deve funcionar como uma

orquestra
Consultor de empresas e professor convidado da Fundação Getúlio Vargas
Alexander Baer destaca que as organizações precisam 'afinar' melhor seus
profissionais e instrumentos de trabalho para sobreviver e crescer

Para emocionar e conquistar o público, arrancar aplausos e, quem sabe, um


pedido de bis, uma orquestra precisa se apresentar em perfeita sintonia. Todos
os músicos têm de estar bem treinados, concentrados e focados em fazer a
sua parte com excelência, atentos ao comando do maestro, que faz com que
todos os integrantes atuem de forma harmoniosa. Mas, o que uma orquestra e
uma empresa têm em comum?

As empresas do século 21 têm muitos desafios em suas gestões, sendo que


um deles implica em como obter a sintonia desejada entre todos os setores,
para com isso alcançar os melhores resultados. Da mesma forma que em uma
orquestra, é preciso que todos os setores trabalhem no mesmo ritmo e
afinados. Líderes são como os maestros, já os músicos são como
colaboradores e a plateia, o cliente. Essa é a analogia feita pelo consultor de
empresas e professor convidado da Fundação Getúlio Vargas Alexander Baer,
que esteve em Maringá na última sexta-feira.

Baer conta que Peter Drukcer, o pai da Administração, já em 1988, dizia que as
empresas do próximo século deveriam ser como as orquestras, que atuam em
perfeita sintonia. Ele lembra que em uma orquestra não se toleram falhas. "Não
há uma segunda chance, errou, errou. Podem até repetir a apresentação, mas
o erro fica. As empresas e os profissionais, pela competitividade existente, não
têm uma segunda chance", diz. Ele acrescenta que todo desenvolvimento tem
que buscar efetivamente o aprimoramento para o alcance da plena sintonia. E
sintonia, como explica Baer, é sinônimo de excelência. E conquistá-la exige
diálogo, um trabalho de equipe.

Os elementos fundamentais que um líder e uma empresa têm que usar para
chegar à sintonia plena são: ritmo, pulsar do colaborador é a energia que ele
usa; melodia, o talento individual deste colaborador; e harmonia, no caso o
talento coletivo e integrado.

O especialista ressalta que ao executar as obras musicais com total excelência,


a marca de uma orquestra ganha valor. À mesma maneira, acontece com as
empresas no mercado, que precisam oferecer produtos e serviços
diferenciados.

Para ganhar competitividade, que é uma característica de empresas bem-


sucedidas, é preciso trabalhar com uma estratégia - que, segundo Baer, se
chama "gente". Por essa razão, não só a busca por profissionais bem
preparados é importante. Também é preciso investir nos colaboradores da
empresa. "Inovação vem através de conhecimento. Conhecimento e inovação
vêm de pessoas", diz ele, completando que a principal busca das empresas é
pelos melhores profissionais, da mesma forma que uma orquestra seleciona os
melhores músicos.

O consultor ressalta que as pessoas, dentro de uma empresa, orquestra, ou


outro tipo de organização, é que fazem com que as estratégias deem certo. No
entanto, elas são as mesmas que fazem com que as estratégias não sejam
executadas. Por esse motivo é preciso investir em treinamento.

Além de capacitação oferecida pela empresa, é necessário ainda que os


colaboradores se sintam motivados. E dar à equipe motivos para produzir mais
e melhor vem através do reconhecimento, seja por meio de prêmios individuais
ou para a equipe, somando a um ambiente de trabalho saudável e estimulante.
"Uma pesquisa da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH)
mostrou que na lista das atitudes que mais motivam os funcionários o salário
ficou em quarto lugar. Em primeiro, o funcionário espera reconhecimento
profissional, depois, um excelente ambiente de trabalho e em terceiro,
desafios", diz. Ele acrescenta que um 'plus' no salário não compensa o
desânimo que uma pessoa tem de trabalhar em um local que não gosta.

Da mesma forma que os colaboradores, os maestros, ou líderes nas empresas,


precisam estar bem preparados. "O maestro tem em sua frente a partitura, com
tudo o que todos têm que fazer", diz Baer. Já para uma empresa, "a partitura
seria o planejamento estratégico nas mãos do líder, assim como as partituras
individuais dos integrantes da orquestra são como os planos de ação de cada
funcionário", diz.

O papel do líder é repassar a perfeição da técnica com emoção ao colaborador.


"Ele já escolheu a melhor equipe, mas também é preciso que seja repassada a
emoção, o amor, assim como a mão direita do maestro repassa as técnicas e,
geralmente, a mão esquerda, a intensidade".

Baer conta que nos anos marcados por instabilidade no País, por causa da alta
inflação, os departamentos da área financeira ganharam destaque nas
empresas. Posteriormente, com o Plano Real, ganharam visibilidade os
departamentos de vendas e marketing e, em seguida, foi a vez dos
departamentos de recursos humanos. No entanto, agora as empresas vivem o
momento em que todos os setores trabalham - ou deveriam trabalhar - de
forma sistêmica, mais integrados - e aqui cabe mais uma vez a analogia com a
integração existente em uma orquestra. "Essa é grande sacada".

O principal erro das empresas hoje, na sua opinião, é a falta de planejamento


estratégico. O outro é a falta de gestão, que começa, muitas vezes na
graduação. Ele explica que nas faculdades de medicina, engenharia e outros,
os alunos não aprendem a gerir seus negócios, e que por esse motivo, hoje os
cursos de gestão têm tido grande adesão.

Somente gerindo todos os setores para que eles operem em sintonia, uma
empresa avança com segurança. Como Baer explica, quando uma orquestra
recebe aplausos sentados, em pé e o pedido de "mais um", então tem
reconhecido o trabalho de excelência. Da mesma forma, o resultado de uma
grande organização depende das pessoas levarem adiante a marca da
empresa, através da famosa propaganda boca a boca. Ele ressalta que no
marketing tradicional, quando um cliente era mal atendido, ele falava para 12
pessoas, e que quando era bem atendido, repassava a apenas 5, o que hoje
não se aplica. É preciso ter ainda mais cuidado. "As pessoas vão direto para a
rede social, onde o alcance é bem mais amplo tanto para o bem quanto para o
mal".

Proatividade
Também é preciso haver visão moderna, o que inclui capacidade de mudança -
e isso serve tanto para empresas quanto para profissionais. "Existe risco para
todos, mas se não arriscar, nada acontece".

Sob essa perspectiva, os profissionais, além de receberem o incentivo da


empresa em treinamentos, ambiente de trabalho saudável, e outras demandas
atendidas, precisam sair em busca de melhoria. "Em vez de ficar assistindo a
novela à noite, por que não estudar? Isso é se mexer", diz. Ele lembra que os
músicos que integram uma orquestra, além do treinamento em conjunto,
ensaiam em casa no mínimo três horas por dia. "As pessoas têm que ir para a
ação. Não podem pensar que o que estão fazendo sempre deu certo e ficar
paradas no mesmo lugar. Assim, as oportunidades passam, quando poderiam
ser aproveitadas".

SEMELHANÇA
"[para empresa] a partitura funciona como planejamento estratégico nas mãos
do líder, assim como as partituras individuais dos integrantes da orquestra são
como os planos de ação de cada funcionário"
ALEXANDER BAER
Consultor e professor da FGV

PARA LEMBRAR
O professor Baer esteve em Maringá a convite da Unicesumar, para o
lançamento de novos cursos de pós-graduação na área de gestão e negócios.
Em suas palestras, Baer utiliza a plateia como sua orquestra. O objetivo é fazer
com que os participantes percebam que transferir a prática do meio musical
para o organizacional pode ajudar a vencer desafios.

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