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PORTUGAL
Resumo - o presente trabalho pretende fazer uma breve analise quanto às mudanças consequentes
do ingresso de um individuo no Ensino Superior, especificamente na Universidade. O estudo se
baseará em conceitos do sociólogo Anthony Giddens, sociólogo britânico que propõe a Teoria da
Estruturação. Para complementar a discussão, através de uma critica no que tange o acesso ao
Ensino Superior, usar-se-á a teoria de Pierre Bourdieu, principalmente o conceito proposto pelo autor
de Capital Cultural. O parecer sobre a acessibilidade do Ensino Superior será corroborada com o uso
de dados do Brasil e Portugal, traçando uma breve comparação dessa área nos dois Estados.
Introdução
Dessa forma, é possível compreender que o ensino universitário visa agregar conhecimentos para
o exercício profissional, mas também difundir conhecimento que aprimoraram o indivíduo no exercício
da sua cidadania. No entanto, verifica-se certa complexidade no acesso a esse nível educacional por
parte de alguns grupos sociais.
Leandro Almeida e col (2012), numa reflexão sobre a democratização do Ensino Superior em
Portugal e no Brasil, coloca que no país o capital social e cultural das famílias “está igualmente
presente na escolha do tipo de instituição e de curso por parte dos alunos” (ALMEIDA e col,
2012:903). Verifica-se uma tendência no sentindo de
No cenário brasileiro, Cibele Yahn de Andrade, num estudo acerca do acesso ao Ensino Superior
no Brasil, constata “que o ingresso sequencial para o ensino superior tem ocorrido para grande
parcela da população mais rica.” (ANDRADE, 2012:21),
Diante desse cenário, torna-se imperativo entender que fatos contribuem para tal diferenciação no
acesso ao Ensino Superior, tanto no Brasil quanto em Portugal.
XXII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XVIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e
VIII Encontro de Iniciação à Docência - Universidade do Vale do Paraíba.
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Metodologia
Discussão
Anthony Giddens, sociólogo britânico, em sua Teoria da Estruturação traz o individuo como ator
reflexivo e intencional, que tem consciência das suas ações e pode enuncia-las (PENNA, 2012, p.5).
A ideia do individuo como ator reflexivo refere-se ao conceito de reflexividade, conceito chave dentro
da teoria. Para o autor, esta “[...] deve ser entendida não meramente como autoconsciência, mas
como o caráter monitorado do fluxo contínuo da vida social” (Giddens, 2009, p. 3). Permeada pela
ideia de desencaixe do espaço-tempo, característica das sociedades modernas, a reflexividade:
Para Giddens, a relação entre a sociologia e seu objeto de estudo deve ser entendida como
"hermenêutica dupla". Nas palavras do autor, “o conhecimento sociológico espirala dentro e fora do
universo da vida social, reconstituindo tanto este universo como a si mesmo como uma parte integral
deste processo.” (GIDDENS, 1991, p. 20). A correspondência da Sociologia com o mundo social pode
ser ilustrada conforme o esquema a baixo:
O movimento acontece da seguinte forma: ao ter acesso a um estudo científico, o individuo acaba
por apropriar-se e incorporar informações que este possuía. Essa incorporação acontece de tal forma
que essa nova informação configura-se em valores que, por sua vez, resultam numa mudança de
comportamento. Tal mudança servirá de objeto para um novo estudo cientifico, reiniciando o ciclo. A
partir desse conceito giddeniano, torna-se mais compreensível à mudança da qual os universitários
são sujeitos.
No entanto, ao analisar o ensino universitário e as implicações deste nas ações do individuo, não
se pode deixar de estabelecer uma crítica ao acesso a esse nível educacional. Segundo Casimiro
Balsa, em sua obra Perfil dos Estudantes do Ensino Superior Desigualdades e diferenciação, “o
momento de acesso ao ensino superior representa a última etapa de um processo ao longo do qual
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se produzem complexas formas de selecção sócio-cultural” (BALSA, 2001 p.43). Alinha com esse
pensamento, Maria Lourde Gisi, ao analisar o ensino superior no Brasil, apontando que “a trajetória
histórica da educação superior não é uma história à parte, integra o contexto socioeconômico e é
determinado, em grande parte, por este” (GISI, 2006 p.2).
No que diz respeito ao acesso à educação, a teoria sociológica de Pierre Bourdieu encontra-se
como uma das bases da temática. Segundo a teoria do autor, os indivíduos posicionam-se nos
campos, nichos de atividade humana, onde são estabelecidos conforme o capital que tem
acumulado, podendo ser de caráter econômico, social, simbólico ou cultural (FERRARI, 2008). Ao
tratar do ingresso no ensino universitário, o capital cultural distingui-se dos demais, pois como
entende Gisi:
Os elementos constitutivos da dita “cultural geral”, para Bourdieu, seriam impostos pela classe
dominante, que acaba por legitimar e defini-los como aquilo que baseia o sistema de ensino. Nesse
ponto surge o problema, uma vez que nem todos os indivíduos terão acesso a “cultura geral”, seja por
questão da posição que a família ocupa, meio social ou poder econômico, fatores intimamente
relacionados. No entanto, são conhecimentos que se fazem necessários, dado que o sistema
educacional se pauta nestes.
Como em qualquer sistema de comunicação, é fundamental que o receptor domine o código
utilizado na mensagem transmitida. Na esfera pedagógica, a compreensão e aproveitamento do
aluno, no sistema de ensino, dependem deste possuir os elementos da “cultura geral”, o que varia
conforme a distância existente entre a cultura familiar deste e a cultura escolar.
Entendendo, basicamente, do que se trata o capital cultural e como a acumulação deste está
sujeita a diversos fatores, torna-se claro o quão restrito o ensino universitário pode ser. E mesmo
quando indivíduos desfavorecidos, no que tange o acúmulo de capital cultural, tem acesso a esse
nível educacional, acabam por terem de optar por universidades menos renomadas, cursos de menor
prestigio e horários que possibilitem ter um trabalho.
Em estudo feito acerca do acesso e sucesso no ensino superior em Portugal, constatou-se que “os
estudantes de famílias com níveis socioculturais mais reduzidos frequentam preferencialmente cursos
de ciências sociais (34.4%), enquanto que os alunos com uma origem sociocultural elevada se
orientam predominantemente para os cursos de engenharia (43.4%).”(ALMEIDA et al, 2006 p. 510).
Nesse mesmo estudo tabularam-se dados a partir dos resultados obtidos pelos estudantes na nota de
acesso ao Ensino Superior e na média obtida no final do 1º ano considerando o gênero e a origem
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sociocultural. Em relação a origem sociocultural, “verifica-se também uma diferença estatisticamente
significativa [...] favorável aos alunos dos níveis mais favorecidos” (ALMEIDA et al, 2006 p. 510).
Um estudo do mesmo gênero foi feito no Brasil, apresentando dados referentes a duas
universidades, uma publica e outra comunitária, com um grupo de 390 alunos. Quanto a classe social
e o acesso ao ensino superior, constatou-se:
Os dados apresentados atestam o posicionamento de Gisi de que “os alunos que vêm de classes
menos favorecidas dificilmente conseguem uma vaga em instituição pública e para frequentar uma
instituição particular torna-se necessário trabalhar durante o dia.”Em busca do sonho dourado do
diploma universitário, os alunos de classes menos favorecidas são forçados a optar pelo turno
noturno.
Os estudos apresentados acima vêm no sentido de evidenciar a realidade que se conhece
empiricamente. Realidade esta de que um jovem de uma classe social menos favorecida encontrará
obstáculos maiores, em relação àqueles de classe social mais favorecida, na entrada no Ensino
Superior e obtenção do diploma.
Conclusão
Neste trabalho buscou-se explicar como conceitos giddenianos, tais como reflexividade e
hermenêutica dupla, auxiliam no entendimento acerca do processo que acontece na mudança do
comportamento de indivíduos que ingressam no Ensino Universitário. Ademais, apresentou-se uma
critica quanto ao acesso a tal nível escolar, através do conceito bourdiniano de capital cultural. No
sentido de validar o parecer apresentado, dados do Ensino Superior brasileiro e português foram
apresentados, demonstrando como a obtenção do diploma universitário pode ser dificultada por
motivos de caráter diverso.
Referências
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“[...] AS DECLARAÇÕES DA OFENDIDA NÃO MERECEM FÉ ” A CONDIÇÃO
DA MULHER NOS PROCESSOS CRIMES DE ESTUPRO E DEFLORAMENTO EM
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS ( 1906 - 1922)
Resumo – O presente artigo busca discutir a existência de um discurso que transfere para a mulher
a culpabilidade sobre ocorrências criminais, contida nos processos crimes de estupro e defloramento
em São José dos Campos - SP. Para tanto, serão utilizados cinco processos crimes entre os anos de
1906 e 1922, que se encontram no Arquivo Público de São José dos Campos. Será feita uma análise
do conteúdo apresentado em tais ações judiciais, principalmente no que se refere aos depoimentos
prestados pelas testemunhas e declarações de oficiais de Justiça. Busca-se averiguar o discurso
patriarcal em relação à situação da mulher, ressaltando condutas tidas como “desonrosas” para
moças, estabelecendo-se um entendimento de culpabilização das mesmas.
Introdução
O Brasil, no final do século XIX, passou por grandes mudanças, como abolição da escravidão e
Proclamação da Republica, e adentrou o século XX adotando ações na busca de se igualar as
grandes potências europeias, que desfrutavam da Belle èpoque, num forte discurso de modernização
e higienização dos centros urbanos As grandes cidades da época, como São Paulo e Rio de Janeiro,
foram palco de grandes intervenções estatais com o propósito de reformular visualmente as cidades,
sob os moldes europeus. (PADILHA, 2001:18).
São José dos Campos, embora não fosse um grande centro urbano, não fugiu as tendências de
busca por modernidade, higienização e embelezamento da época. Exemplo disso foi a construção do
Theatro São José na década de 1920, atualmente ocupado pela Biblioteca Cassiano Ricardo, que,
como aponta Antonio Carlos Silva e Estefânia Fraga ao estudar o prédio, almejava exalar ares de
progresso e glamour. (SILVA; FRAGA, 2008;99). Unindo-se a essa predisposição que vigorava, a
cidade entrou na Fase Sanatorial, período no qual ficou conhecida pelos seus “bons ares” para o
tratamento de tuberculosos, fato que veio a colaborar no projeto de higienização da cidade. (LESSA,
2008)
Diante de tantas mudanças na organização e planejamento da urbanização das cidades, os meios
sociais foram induzidos, de modo a terem de se adequar a um novo modelo, como constata Padilha
ao estudar a cidade de São Paulo na virada do século, “a essas transformações sociais e urbanas
correspondia uma nova experimentação do viver na cidade”. (PADILHA, 2011:21). Uma das formas
de entender essa “nova experimentação do viver na cidade” da qual Padilha fala, refere-se ao lugar
que os indivíduos vão ocupar nessa nova organização dos meios sociais, em especial, o da mulher.
Carla Pinsky ao estudar a mulher na primeira metade do século XX, entende que houve uma
necessidade de demarcar lugares e condutas aceitáveis e distinguir mulheres que seriam dignas do
respeito social. Uma vez que se iniciava um processo de distanciamento do ideal de mulher perfeita,
aquela que cuidaria da casa, sempre submissa, entendedora de que não estaria apta a ocupar os
espaços públicos uma vez que tais espaços pertenciam aos homens, mantêm-se virgem até o
casamento, andando sempre acompanhada ao sair de casa, obediente e não fazendo nada que
pudesse corromper sua reputação (PINSKY, 2012:472). A partir desse conceito, traça-se o perfil da
mulher perdida, ou seja, aquela que não seguia com os bons costumes, não sendo honrada ou digna
do respeito da sociedade. E essas determinações de boa e ruim eram tão fortes que estavam
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presentes até mesmo no Código Penal vigente, de 1890, que no caso de estupro diferenciava a
intensidade da pena dependendo se a ofendida fosse “mulher honesta” ou prostitua. (FAUSTO,
2001;206).
Metodologia
Discussão
Em uma análise na qual o sujeito de estudo é a mulher dentro da legislação brasileira, Iáris Cortês
discorre sobre o Código Civil de 1916, que “esbanjou em discriminações, tratando-a como um ser
inferior, 'relativamente incapaz’, necessitada da proteção, orientação e aprovação masculina
(CORTÊS, 2012: 265). Essa mesma tendência preconceituosa com relação à mulher é observada no
Código Penal de 1890, que baseia os processos criminais analisados para este estudo. Seguindo as
tendências sociais, o Código Penal fazia diferenciação entre a “mulher honesta” e a desonesta:
Mas como aponta Cortês, a concepção de honra no sentido de “pureza, discrição, vida sexual
restrita ao casamento” só se aplicava à mulher, ou seja, questões que competiam a vida privada. Já
para o homem, honra relacionava-se à vida pública, ao seu proceder nos espaços públicos.
(CORTÊS, 2012: 266).
Para a sociedade da época, a diferenciação da mulher “santa” ou “pecadora” era feita pela
presença do hímen intacto ou pela falta deste (PINSKY, 2012:471). Esse ideal era ensinado às
moças desde seu nascimento, de forma a ser internalizado pelas mulheres o “dever de proteger o
‘selo’, a flor da virgindade [...]” (FAUSTO, 2001:201). No intento de manter a imagem de “moça de
bem”, as famílias não mediam esforços para proteger suas mulheres daqueles que poderiam vir a
desgraça-las, e até de seus próprios desejos sexuais. Para tanto, havia constante vigia sobre as
mesmas, cuidados sobre seu:
Para tanto cuidado com a virgindade há de se pensar que as moças tinham grande apreço sobre
essa condição , mas segundo Boris Fausto em seu estudo sobre crimes sexuais, a proteção da
“honra” estava ligada ao fato desta ser entendida como propriedade da família ou marido da mulher
em questão (FAUSTO, 2001;195-196).
Explorando o Código Penal de 1890, o autor faz diferenciação de estupro (artigo 269) – “ato pelo
qual o homem abusa com violência de uma mulher, seja virgem ou não” – e defloramento (artigo 267)
– que seria desvirginar uma mulher virgem, menor de idade, empregando sedução, engano ou
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fraude. Levando em conta os documentos analisados para esta pesquisa, observou-se a maior
incidência de casos de defloramento, principalmente sob promessas de casamento, como alegaram
as ofendidas nos depoimentos prestados. Foram encontrados casos também de jovens defloradas
sob promessas de adquirirem uma propriedade, quantia de dinheiro e um casamento arranjado
vantajoso.
No entanto, para ambos os delitos a apuração de denuncias era, e ainda é, caracterizada pela
diferença entre o real e o apurado. Considerando a época estudada, isso se devia a vergonha da
moça e da família de levar a conhecimento publico a desonra ou agressão sexual sofrida ou mesmo a
expectativa da promessa de casamento ou pagamento feita na hora do defloramento (FAUSTO,
2001; 198). Em relação aos documentos analisados nota-se um grande período de tempo
transcorrido entre o ato de desvirginamento e a prestação de denuncia na delegacia de polícia, como
é o caso da jovem Idalina Maria Benedicta, em processo de 1918, que só presta queixa três anos
após ter sido deflorada. Em mais de um caso há a fala da ofendida alegando não ter ido a juízo antes
por vergonha do ocorrido.
Como aponta Fausto (2001), o processo crime de um defloramento ou estupro se dava de forma
muito específica. Iniciado com uma denuncia, logo partia para o exame de corpo de delito, “nos
defloramentos, os peritos devem esclarecer se o fato ocorreu, se é recente ou remoto.” (FAUSTO,
2001:203). Mas o que mais desperta interesse é a existência da fala de qualquer indivíduo citado no
processo, em especial a fala da ofendida, que nos casos estudados era o primeiro depoimento a ser
colhido. Entretanto, ao falar de como aconteciam os processos, o autor destaca que a declaração da
vitima, por vezes, era “um campo aberto onde os advogados dos acusados recolhem contradições
maiores ou menores”. (p.203). Essas inconsistências no testemunho da ofendida poderiam ser
atribuídas a contradição do exame médico, imprecisões quanto ao dia do desvirginamento ou mesmo
a mudança da autoria da desonra para outra pessoa que não a mencionada na denuncia, como
aconteceu com a menor Isaura Maria do Carmo de 14/15 anos, em documento de 1922. Alegando
primeiramente ter sido deflorada por Joaquim Augusto de Andrade, vulgo Joaquim Bingo, sob
promessa de “quinhentos mil reis, um terreno no logar chamado Tanque, no referido bairro e, ainda,
promover o seu casamento com Waldomiro Diogo Pinto” (Processo Crime – 1922; 4), depois mudou
seu depoimento dizendo ter sido Waldomiro Diogo Pinto o autor de sua desonra.
Contudo, o que mais se observou nos depoimentos que constavam nas ações foi o discurso
identificando a conduta da ofendida como desonrosa, conduzindo sua identificação à da mulher fácil,
desfrutável, numa justificativa ao ato praticado. A mesma constatação é observada por Kety March
em estudo feito sobre o estupro, entendendo-o como problemática histórica:
Estudando processos do fim do século XIX e inicio do século XX, Fausto averigua o mesmo
discurso de estigmatização da vítima:
No caso de Anna Francisca, 13 anos em 1913, alegando ter sido deflorada por Dolor Rodrigues
Leite, 15 anos, ao ir comprar açúcar no armazém, consta no depoimento de mais de uma testemunha
falas como “ ouviu dizer por diversas vezes que alguns rapazes desta cidade, [...] faziam troça com
Anna Francisca [...]” (Defloramento – 1913; 33) ou como conta o empregador da menor sobre quando
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foi viajar para o Rio e a deixou com a cozinheira da casa, e ao voltar soube que Anna não comportou-
se bem, saltando pela janela a noite (p.28-29). A conduta apresentada nesses fragmentos pela
ofendida não reflete a que era esperado da “moça de bem”, de forma que o depoimento da mesma
passa a ser desacreditado.
Em outro caso, de 1914, em que Silvina Maria da Luz, 17 anos, atribui sua desonra a Carlino
Santos, encontra-se que:
A Maria Antonia citada aparece no processo como a “escória”, “mulher da vida” retratada por
Pinsky em seu estudo (2012: 472), e por associar-se a esse “tipo” de mulher, a denuncia de Silvina
perde a credibilidade no tribunal. Sendo assim, entende-se que as relações pessoais que a ofendida
possuía poderia influenciar na fidedignidade que seu depoimento teria junto a Justiça. Quando a
“mácula” social encontrava-se em alguém do circulo familiar, o estigma também englobava a vítima.
(FAUSTO,2001;208).
Foi o que aconteceu com a menor Donaria da Silva, 16 anos em 1906, deflorada por Rozendo
Moreira. Mas no depoimento das testemunhas percebe-se o mesmo discurso:
Conclusão
Neste trabalho observou-se que a cidade de São José dos Campos, embora não se constituisse
como um dos maiores centros urbanos de seu período, não fugiu às tendências modernizadoras e
higienistas de seu tempo. Em relação às mulheres , percebe-se a permanência da dicotomia mulher
“santa” ou “pecadora” e constante patrulha sobre a conduta das moças, principalmente de suas
famílias, para assegurar sua “honra”. Tal dicotomização é percebida, inclusive, no Código Penal de
1890.
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O discurso de “moça de bem” era tão difundido na sociedade que é possível encontrar em
processos criminais de delitos sexuais a fala de promotores públicos justificando o descredito da
declaração da ofendida por conta da conduta que esta teria, segundo o depoimento das testemunhas.
E, regularmente, esse discurso era corroborado com a falta de provas ou testemunhas o que é
característico desse tipo de delito, como aponta March (2017), devido a “intimidade do crime” (p.107).
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Fontes Primárias
Arquivo Público da Cidade de São José dos Campos/SP.
Inquérito Policial: 2º Oficio Cível – Caixa: 793 – Controle: 15 – Ano : 1918
Sumário Crime: 1º Oficio Cível – Caixa: 2909 – Controle: 646 – Ano : 1922
Defloramento: 1º Oficio Cível – Caixa: 2895 – Controle: 447 – Ano : 1913
Sumário Crime - Defloramento: 1º Oficio Cível – Caixa: 2885 – Controle: 534 – Ano : 1906
Sumário: 1º Oficio Cível – Caixa: 2895 – Controle: 572 – Ano : 1914
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