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ITALIANAS
São Paulo
2019
1. Exórdio
1
“Ripetiamo comunque che l’obiettivo del viaggio di Michelstaedter fu quello di
studiare pittura e di familiarizzarsi con un ambiente artístico capace di valorizzare il suo
talento di pittore. (Michelstaedter, 1975 p. XII)
FIGURA 1. “L’uomo nella notte accende una luce a se stesso”
Além de diferenciar a lida com o real do ensaísta daquela operada pelos jornalistas –
que prescindem das contradições entre palavra e referente –, Berardinelli completa a sua
definição do gênero quando mostra onde estão a força e a habilidade do escritor de
ensaios, isto é, no jogo formal com as modalidades variadas de escrita e na vitalidade
estilística do texto animado pelas ambiguidades dos sentidos literais e metafóricos. O
filósofo Max Bense também destaca essa prerrogativa:
Escreve ensaisticamente aquele que compõe experimentando; quem,
portanto, vira e revira seu objeto, quem o questiona, apalpa, prova,
reflete; quem o ataca de diversos lados e reúne em seu olhar espiritual
aquilo que ele vê e põe em palavra: tudo o que o objeto permite ver
sob as condições criadas durante o escrever. (BENSE, apud
ADORNO, 1986)
Primeiro surgem figuras vivas de crianças ligadas a um aposto incorpóreo “– quasi vite
in provvisorio”, que logo são isoladas “nelle tregue delle loro imprese, quando sono
soli”, em um cenário cujo vazio é acentuado pela neutralização da função dos objetos “e
da nessuna cosa di ciò che li attornia sono attratti”. Estão olhando para a escuridão. No
escuro, aparecem mais formas de estranho aspecto, “occhi che guardano”, “braccia che
si tendono”, e ecoam sons terrificantes vindos de um quarto escuro que “con mille
mani” suga a criança aturdida. São quadros montados em uma sequência, em uma cena
que se conclui com o grito - a condensação em imagem-som de uma interioridade e uma
exterioridade oscilantes entre luz e escuridão.
Problematização das fraturas entre o eu e as coisas, entre eu e os outros. É ponto
central da crítica à afirmação da individualidade ilusória – a retórica. Michelstaedter
desenvolve seu juízo filosófico além das margens da discursividade; suas reflexões se
consubstancializam em expressões faciais, membros, movimentos, corpos vivos e
gestos concebidos cenicamente, seus raciocínios, na prática, são amálgamas onde
pensamento e imagem interpenetram-se.
O sentido da visão, não apenas como na construção da precedente, é acionado a
todo o momento em modos diversos. Olho, olhar, luminosidade, luz, escuridão, trevas,
são palavras estão presentes do início ao fim do livro, com peso definitivo em
momentos centrais2. O persuadido, por conseguinte:
Chi vuol aver un attimo solo sua la sua vita, esser un attimo solo
persuaso di ciò che fa – deve impossessarsi del presente; vedere ogni
presente come l’ultimo, come se fosse certa dopo la morte: e
nell’oscurità crearsi da sé la vita. [os itálicos são do autor]
(MICHELSTAEDTER, 1990 p.70)
A mesma escuridão da qual a criança fugiu gritando e que os adultos, por sua vez,
comodamente ignoram, deve ser encarada de modo ativo; a partir dela deve-se criar a
própria vida. O argumento, em crescendo, culmina na combustão total da existência,
então o olho que vê, o sujeito implicado, o mundo visto, e o próprio tempo, perdem seus
limites:
Solo, nel deserto egli [l’uomo] vive una vertiginosa vastità e
profondità di vita... Ogni suo attimo é un secolo della degli altri, -
finché egli faccia di se stesso fiamma e giunga a consistere nell’ultimo
presente. In questo egli sarà persuaso ed avrà nella persuasione la
pace. (MICHELSTAEDTER, p.88 - 89)
2
Como nota Stefania Rutigliano (2014) em “Potere della retorica e crisi del linguaggio:
l’iconicità espressiva di Carlo Michelstaedter”.
3
“Platone vide questa meravigliosa fine del maestro e si turbò. E poiché egli aveva lo stesso
grande amore, pur non essendo d’una disperata devozione, si concentrò a meditare. Conveniva
trovare un mechanema per sollevarsi fino al sole ... La parte principale della strana macchina era
Procuramos demonstrar, portanto, como variados modos de conceber desenho e
escrita são articulados no pensamento filosófico de Michelstaedter. Estamos diante de
um estilo misto. Tendo em vista que o autor executa um ato criativo ao incorporar à
forma do texto ousadas experimentações entre linguagens, podemos localizar uma forte
de inflexão diante do cenário do ensaísmo italiano do início do século XX. Giorgio
Agamben levanta uma consideração sobre estilo e maneira a partir do questionamento
dos sentidos de próprio e impróprio. visto, e o próprio tempo, perdem seus limites:
Solo nella loro reciproca relazione stile e maniera acquistano il
loro vero senso al di là del proprio e dell’improprio. Essi sono i
due poli, nella cui tensione vive il libero gesto dello scrittore: lo
stile è un’appropriazione disappropriante (una negligenza
sublime un dimenticarsi nel proprio), la maniera una
disappropriazione appropriante, un presentirsi o un ricordar sé
nell’improprio. E non soltanto nel poeta vecchio, ma in ogni
grande scrittore (Shakespeare!) vi è sempre una maniera che
prende le distanze dallo stile, uno stile che si disappropria in
maniera. (AGAMBEN, 1996 p.100)
un grande globo rigido, d’acciaio, che con le sue cure più affettuose per l’alto Platone aveva
riempito d’Assoluto... La partenza fu lieta d’ardite speranze, e l’aerostato si sollevò rapidamente
dai bassi strati dell’atmosfera. “Vedete come noi saliamo per la sola volontà dell’assoluto”
esclamava Platone ai suoi discepoli ch’erano con lui e accennava al globo scintillante che li
trascinava nella sua rapida salita”. (MICHELSTAEDTER, 1990 p. 109 – 110).
3. Bibliografia
ADORNO, Theodor (1986). O ensaio como forma. In: COHN, Gabriel. Theodor
Adorno. São Paulo: Ática