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Entre os Métodos de Ensino e o Planejamento do Espaço

Escolar: apontamentos sobre os Grupos Escolares


Hugo Sefrian Peinado*

Resumo: O presente artigo objetiva estabelecer um paralelo entre o


planejamento espacial e os métodos de ensino adotados nos grupos escolares –
modalidades educacionais instituídas pelos reformadores da instrução pública
no início do período republicano brasileiro. Para tanto, realizou-se um breve
estudo sobre as escolas unitárias (ou escolas de primeiras letras) do período
imperial, objetivando estabelecer comparações entre estas e os Grupos
Escolares, tanto no aspecto pedagógico, quanto no arquitetônico, verificando,
desse modo, algumas transformações na instrução primária brasileira.
Palavras-chave: Ensino Primário Brasileiro, Metodologia de Ensino,
Planejamento Espacial.

Between the Methods of Teaching and the Planning of the School Space:
Notes on the School Groups
Abstract: The present paper has as objective to establish a parallel between the
space planning and the teaching methods adopted in the school groups –
education modalities instituted by the reformers of the public instruction in the
beginning of the Brazilian republican period. For so much, we accomplished an
abbreviation study above the unitary schools (or schools of first letters) of the
imperial period, aiming at to establish comparisons between these and the
school groups, so much in the pedagogic aspect, as in the architectural,
verifying, this way, some transformations in the Brazilian primary instruction.
Key words: Brazilian Primary Teaching, Methodology of Teaching, Space
Planning.

*
HUGO SEFRIAN PEINADO é acadêmico de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Maringá e integrante de Projeto de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq).

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Grupo Escolar do Brás. Fonte: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/neh/1897-1903/1898-Primeiro_Grupo_Escolar_do_Braz.pdf

Introdução âmbito da educação para os outros


A implantação dos Grupos Escolares estados brasileiros. “(...) essa
teve implicações profundas na história modalidade de escola primária implicou
da educação do Brasil. Segundo Souza uma nova concepção arquitetônica. Pela
(1998), repercutiu em uma série de primeira vez, surge a escola como lugar,
modificações e inovações na instrução a exigência do edifício-escola como um
primária, auxiliou na produção de uma aspecto imprescindível para o seu
nova cultura escolar, interferiu na funcionamento, dotada de uma
cultura da sociedade mais ampla e identidade” (SOUZA, 1998: 16).
encarnou vários sentidos simbólicos da Nesse contexto, ao estabelecer
educação no meio urbano, entre eles, a considerações sobre as Escolas
consagração da República. Além disso, Unitárias do período imperial, as quais
introduziu no âmbito do ensino público, pertencem a um momento histórico em
muitas práticas escolares em uso nas que a difusão da instrução popular não
escolas particulares e circunscritas a um era um objetivo do poder público,
grupo social restrito. vislumbramos as transformações
Um outro aspecto que merece destaque ocorridas na educação primária
particular é que, com a aplicação de brasileira com a implantação dos
inovadores métodos de ensino, os Grupos Escolares.
Grupos Escolares começam a organizar- Contextualização histórica
se em salas seqüenciais, passando a
A escola graduada, ou como ficou
exigir uma nova organização do espaço
conhecida nacionalmente, grupo escolar,
escolar. Esse é um dos fatores que
surge no Brasil quando, no início do
levaram estas instituições de ensino,
período republicano, os reformadores da
surgidos no Brasil na década de 1890,
no estado de São Paulo, a se tornarem
uma escola modelo, referencial no

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instrução pública1 buscam instituir uma sala de aula uma classe referente a uma
nova realidade educacional para o país. série; para cada classe, um professor”
Até então, as escolas que estavam (SOUZA, 2006: 114), foi um processo
também presente nos países europeus e
acessíveis à parcela da população no
nos Estados Unidos. Era divulgada uma
período imperial eram as escolas de
nova concepção, de que os prédios
primeiras letras ou escolas unitárias de
escolares deveriam ser criteriosamente
ler, escrever e contar, as quais atendiam
planejados e, ainda, com a participação
alunos de idades diferentes e
dos educadores.
adiantamentos escolares distintos na
mesma sala de aula. Além disso, eram
de acesso limitado e não possuíam
propriamente uma uniformidade em
suas diretrizes pedagógicas. Na maioria
das vezes, funcionavam na extensão da
casa do professor, ou em paróquias,
cômodos de comércio, salas pouco
arejadas e com iluminação precária,
com o aluguel pago pelo mestre escola.
As escolas unitárias pertencem a um Planta (Nível Térreo) do Grupo Escolar do Brás. Legenda: 1
momento histórico no qual o poder – Sala de Aula; 2 – Circulação; 3 – Hall de Entrada. Fonte:
BUFFA & PINTO, 2002, p. 36.
público não se interessava pela
educação popular.
Então, no final do século XIX,
educadores, políticos republicanos e
elites intelectuais iniciaram à defesa a
necessidade de espaços especialmente
construídos para comportar
estabelecimentos de ensino. Eram
necessários “prédios grandes, arejados e
bonitos” (BUFFA, PINTO, 2002: 32),
componentes da paisagem urbana, os Planta (Nível Térreo) da Escola Modelo da Luz. Legenda: 1
quais cumpririam sua função primordial, – Sala de Aula; 2 – Circulação; 3 – Entrada Principal. Fonte:
BUFFA & PINTO, 2002, p. 36.
tornarem-se escolas. Além disso,
segundo Buffa & Pinto (2002), esses
edifícios serviriam para testemunhar a A partir destes critérios, o planejamento
valorização dada pelos setores dos grupos escolares compreendia
governamentais à educação. múltiplas salas de aula, diversas classes
de alunos e um professor para cada uma
A necessidade de uma nova organização delas. O primeiro edifício projetado no
do espaço escolar a partir do novo intuito de abrigar uma escola primária
modelo educacional, o qual “colocava desse período foi a Escola Modelo da
em correspondência a distribuição do Luz 2 na cidade de São Paulo (SP),
espaço com os elementos da época na qual o Departamento de Obras
racionalização pedagógica – em cada Públicas (DOP) estava encarregado da

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Segundo SOUZA (1998: 18), os reformadores O nome da escola foi mudado, tempos depois,
da instrução pública foram os “políticos para Grupo Escolar Prudente de Moraes
republicanos, elites intelectuais e educadores”. (BUFFA, PINTO, 2002).

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construção dos prédios escolares no materiais importados. É possível
estado de São Paulo. compreender a dimensão e a qualidade
A pujança da economia cafeeira e das construções escolares desse período,
os incipientes processos de partindo de alguns aspectos como a
industrialização e urbanização representativa riqueza econômica
permitiram aos reformadores da propiciado pela cafeicultura.
instrução pública vislumbrar as
Em se tratando da arquitetura utilizada
escolas graduadas como um
melhoramento e um fator de
na edificação dos grupos escolares,
modernização cultural e devido à urgência em construir um
educacional. (BUFFA, PINTO, grande número de edifícios escolares
2002: 33-34) com prazos mínimos e baixo custo,
optou-se pela alternativa da utilização
do projeto-tipo na construção dessas
edificações, projeto este caracterizado
como genérico. Um aspecto importante
do projeto-tipo é que, devido ao uso de
porões, esses edifícios poderiam ser
implantados em diversas situações
topográficas.
O que identificava cada tipo de grupo
escolar era, basicamente, o número de
salas de aula (tamanho), o planejamento
Grupo Escolar Prudente de Moraes (antiga Escola Modelo da circulação (projeto espacial) e uma
da Luz). Fonte:
http://www.poli.usp.br/Organizacao/Historia/ramosazevedo/
fachada específica. Devida à alta
obras/escPMoraes.html demanda e ao ritmo acelerado nas
construções dos grupos escolares,
Foi neste contexto em que os grupos alguns arquitetos simplesmente re-
escolares foram projetados, já que a aproveitavam o projeto espacial de
implantação efetiva da educação outros arquitetos ou deles mesmos e
popular no Brasil durante os séculos apenas desenhavam fachadas novas,
anteriores fora barrada pela estrutura aspecto marcante que proporcionou a
sócio-econômica e sócio-política em muitos edifícios escolares uma tipologia
que estava inserido o país. Para tanto, definida.
diversos arquitetos foram chamados Os projetos espaciais para os grupos
para efetuar o planejamento dos espaços escolares do período pioneiro de
escolares. Entre os arquitetos brasileiros, atuação dessas escolas de ensino
merece destaque Francisco de Paula primário constituíam-se basicamente de
Ramos de Azevedo, responsável pela edifícios, na maioria das vezes térreos,
grande quantidade e qualidade de seus divididos em duas alas, uma para
projetos. meninos e a outra para meninas,
Dados do estado de São Paulo segundo exigência do regimento dos
propiciados por Buffa & Pinto (2002) grupos escolares, com entradas
expõem que, devido ao vigor independentes para ambos e muros que
econômico em que se encontrava o se prolongavam até o fundo do lote,
estado, em algumas das construções dos proporcionando também a separação
espaços escolares, geralmente entre os recreios. Em escolas de dois
requintados, foram usados até mesmo andares, a divisão dos alunos por sexo

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era feita por pavimentos. As edificações primária brasileira a partir da última
eram simétricas, compostas, década do século XIX.
basicamente, por oito salas de aula, O professor da escola unitária – Mestre
conforme o programa arquitetônico dos Escola –, mesmo sendo possuidor de
Grupos Escolares, quatro para cada sexo certa cultura, não possuía preparo
e um número reduzido de ambientes específico para a atuação no magistério
administrativos. Destinado ao recreio, à e, além disso, recebia baixo salário.
ginástica e às festas cívicas, o galpão Mesmo assim, esmerava-se na tarefa
coberto era construído isoladamente no que lhe era conferida: transferir a seus
fundo ou nas laterais do terreno, ligado
alunos conhecimentos de leitura, escrita,
por passadiços cobertos ao prédio cálculo e doutrina cristã. A escola
principal. Os sanitários, ligados ao utilizada era, apenas, uma sala de aula,
galpão, eram também instalados que compreendia alunos de idades
isolados do prédio principal (BUFFA, diferentes e adiantamentos escolares
PINTO, 2002). diversos. Adequando-se a esse sistema
Houve, ainda, alguns poucos projetos de supracitado, o ensino ministrado pelo
grupos escolares elaborados por um professor era individualizado, ou seja,
profissional com características mesmo havendo vários alunos na sala
personalizadas, portanto, diferentes dos de aula, o professor ensinava a cada um
projetos-tipo. Planejamento de autoria individualmente. Esse método de ensino
era uma característica peculiar às utilizado nas escolas unitárias fazia com
Escolas Normais, com “projetos únicos, que os alunos ficassem grande parte do
adaptados à topografia e ao sítio, de tempo sem atenção direta do professor,
elaboração sofisticada e inegável o que acarretava em perda de tempo e
requinte de acabamento” (BUFFA, indisciplina.
PINTO, 2002: 37). Esse método de ensino individual foi
O Grupo Escolar se constitui uma típica duramente criticado no Brasil nas
escola urbana destinada à instrução das primeiras décadas do século XIX. Uma
crianças da cidade e, inegavelmente, tentativa de promover a mudança do
constitui um marco para a educação método de ensino foi a implantação do
infantil. Apesar de não ter extinguido as Método Lancasteriano ou se Ensino
escolas pré-existentes, fez com que a Mútuo. Esse método é caracterizado
escola primária fosse extremamente pelo uso de alunos adiantados que
modificada. Nesse contexto, vale exerceriam uma forma de monitoria a
considerar que, mesmo com a outros alunos, ajudando, desse modo, o
magnitude dos grupos escolares, as professor e, ainda, resultando em
escolas unitárias permaneceram e, economia de tempo e de recursos. Esse
segundo Souza (2006), foram método foi implantado no Brasil, no
responsáveis pela educação infantil de estado de São Paulo, nas décadas de 20
bairros populares e zonas rurais. e 30 do século XIX, no entanto,
segundo Buffa & Pinto (2002), sem
Comparação entre as Escolas
sucesso.
Unitárias e os Grupos Escolares
O método de ensino individual das
Verifiquemos que, a partir da
escolas unitárias fundamentava-se na
comparação entre grupos escolares e
memorização e na repetição. “Recitar e
escolas unitárias, evidenciam-se as
aprender de cor eram práticas
transformações ocorridas na instrução
pedagógicas usuais para a aprendizagem.

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Nessa época, não se pensava, ainda, em relacionada à consolidação da
adequar o ensino às características do República. O novo projeto de educação
desenvolvimento infantil” (BUFFA, partia do pressuposto de que era
PINTO, 2002: 40). Marco das escolas necessária a criação de uma escola
unitárias era que, por ser de ensino primária graduada, com diversas classes
individual, o tempo era marcado pelo e um professor para cada uma delas.
ritmo de aprendizagem do aluno, o que Essa escola, denominada Grupo Escolar,
tornava a avaliação assistemática, por exigiu, inicialmente, um lugar adequado
isso, precária. Não haviam exames para seu funcionamento.
regulares e, quanto à verificação final,
Os edifícios construídos, imponentes,
quando o aluno concluía a
eram situados em regiões nobres. No
aprendizagem, já era considerado apto a caso do estado de São Paulo, estas
ler, escrever e contar sem a aplicação de
edificações eram localizadas ao lado de
uma avaliação. Além disso, o ensino importantes edifícios públicos,
primário não era obrigatório.
proporcionando ao aluno do grupo
Enquanto no Brasil dos finais do escolar reconhecimento da cidade, antes
Império, a situação das escolas mesmo de chegar à escola. Em cidades
elementares era precária, nos países do estado de São Paulo, o grupo escolar
europeus e também nos Estados foi integrado a um conjunto composto
Unidos, a universalização do ensino pela Prefeitura, Correios, Casas
primário estava consolidada, isto é,
obrigatória por lei e politicamente
Bancárias, praça central e a Igreja
implementada. Ao mesmo tempo Matriz, distinguindo-se das demais
em que se tornava universal, a construções que constituíam a cidade.
escola primária era, de fato, Para a construção do edifício escolar, a
(re)inventada: outros objetivos, seleção do terreno era criteriosa.
outra concepção educacional e
Normalmente utilizavam-se quadras
outra organização do ensino.
Nesses países, o século XIX foi,
inteiras ou lotes grandes de esquina os
pois, o cenário da construção de quais propiciavam visão completa do
uma escola graduada dotada de uma edifício escolar e diversos acessos.
estrutura adequada à Havia a entrada principal do edifício,
universalização do ensino primário. utilizada para dias de festa, e as entradas
Além disso, a crença no poder da secundárias laterais divididas entre
escola de instruir e de, ao mesmo meninos e meninas, para dias comuns.
tempo, moralizar, civilizar e
consolidar a ordem social difundiu- “A nova configuração que a escola
se a ponto de tornar-se a principal primária assume nesse período exige, ao
justificativa ideológica para a mesmo tempo, uma nova configuração
constituição dos sistemas públicos espacial” (BUFFA, PINTO, 2002: 45).
de ensino. (BUFFA, PINTO, 2002: O projeto arquitetônico dessas escolas
42-43) começa a obedecer algumas
No advento da República, elites determinações da nova realidade escolar,
intelectuais, políticos republicanos e como classes seqüenciais, ambiente
educadores, influenciados pelos ideais administrativo, valorização do professor
europeus e norte-americanos de e novas relações entre os alunos.
educação supracitados, passaram a A simetria aplicada no projeto dos
defender um projeto de educação grupos escolares proporcionava a
popular por acreditarem que a difusão perfeita divisão entre as alas dos
do ensino primária estava intimamente

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meninos e das meninas. Esses edifícios escolaridade para as camadas populares.
eram, normalmente, construídos com O método intuitivo valoriza a intuição
telhas e tijolos de barro, uma vez que como fundamento de todo o
mantinham a tradição construtiva do conhecimento, ou seja, o conhecimento
período colonial. Nos pisos, divisões e é adquirido por meio dos sentidos e da
portas normalmente eram empregadas observação. Desse modo, o professor
madeiras. Em algumas escolas eram partiria da curiosidade infantil para
usados mármores importados e, ainda, ensinar, valorizando a observação e a
eram empregados ferros e vidros. Não experiência, procurando desenvolver no
eram feitas economias nas construções aluno o raciocínio. Esse método tornou-
em se tratando de higiene e salubridade, se conhecido no Brasil como Lições de
portanto, vidros e aberturas eram Coisas.
largamente empregados, permitindo, O grupo escolar também inaugurou uma
ainda, luminosidade e ventilação nova ordenação do tempo escolar. Foi
adequada. instituída a presença obrigatória, o
No que se refere aos saberes calendário escolar, as férias, feriados,
transmitidos, os grupos escolares, horário das aulas e as paradas para
diferentemente do currículo restrito das descanso. Estas medidas tomadas
escolas de primeiras letras, segundo evidenciam que o uso do tempo ganha
Souza (1998), tomam um currículo importância e significado na
enciclopédico, o qual abrangia noções organização racional do ensino da
sobre o homem, a sociedade e o mundo escola primária do período republicano.
com as seguintes matérias: aritmética e Foi implantado, ainda, o exame
geometria, linguagem, leitura, gramática, normatizado como atividade contínua e
escrita, caligrafia, história e geografia, sistemática do ensino primário, não
ciências físicas, químicas e naturais, apenas no âmbito de avaliação, mas
higiene, desenho, exercícios ginásticos e também, em algumas modalidades, no
trabalhos manuais. Doutrina cristã sentido de ensinar a falar em público
estava excluída do currículo devido ao corretamente.
caráter laico da escola. É perceptível Dessa forma, estes
que o novo currículo não pretendia estabelecimentos de ensino
apenas ensinar as primeiras letras e sim tornaram-se (...) escolas públicas de
a educação integral, física, intelectual e grande prestígio social. Atendiam,
moral dos alunos. pois, uma população heterogênea
que incluía setores da classe média,
“O que verdadeiramente caracteriza a
profissionais liberais e das camadas
modernidade pedagógica que se populares – filhos de trabalhadores
pretendia com os grupos escolares é a urbanos mais bem inseridos no
definição do método de ensino” mercado de trabalho (SOUZA,
(BUFFA, PINTO, 2002: 49). A adoção 1998: 284).
do método intuitivo estreitamente ligado
Apesar da expressiva expansão dos
à formação do professor era a renovação
grupos escolares, não foi possível
almejada pelos reformadores da
atender a demanda crescente por
instrução pública. Acreditava-se que “o
educação elementar. “Não é difícil
método era um guia, o caminho seguro
entender isso, se pensarmos que uma
para alcançar objetivos e metas
sociedade urbano industrial exige uma
estabelecidas” (SOUZA, 1998: 159), no
escolarização que a velha sociedade
caso, o objetivo era estender a
agrário comercial podia dispensar”

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(BUFFA, PINTO, 2002: 55). Esse fator escolares como fruto da preocupação
foi ainda mais agravado devido ao dos reformadores da instrução pública.
crescente aumento da população em Essas escolas possuíam agrupamentos
idade escolar. em classes, cada qual com seu professor,
o que permitia um ensino simultâneo e
Algo que contribuiu ainda mais para a
não mais individual, possuíam também
queda do imaginário idealizado dos
uma exuberância arquitetônica, uma
grupos escolares foi a falta de material
nova sistematização do tempo,
necessário para a aplicação do método
aplicação do método intuitivo, novo
inovador de ensino.
currículo escolar – o qual procurava
Na tentativa de sanar esses problemas, promover a educação integral, física,
houve a duplicação dos turnos de aula, a moral e intelectual –, uma
triplicação e, em alguns lugares até administração racional, inspeção,
mesmo a quadruplicação dos turnos. relatórios, diários de classe, mapas de
“Nessas condições, é certo que o grupo freqüência, rituais escolares, festas e
escolar foi deixando de ser uma comemorações cívicas.
instituição modelar (...)” (COSTA, 1983:
A questão do planejamento
121).
arquitetônico associado à racionalização
Considerações finais pedagógica é algo também presente nos
Em linhas gerais, uma elucidação sobre grupos escolares, sendo este um dos
as escolas unitárias do período Imperial aspectos que elevaram a imagem dessas
permitem, com maior clareza, observar escolas de ensino primário. No entanto,
a situação em que se inseriu a educação com o aumento do contingente por
brasileira com a instituição dos grupos educação dentre outras questões, as
escolares. deficiências da instrução pública foram
se apresentando novamente, fazendo
As escolas unitárias, ou escolas de ler, ruir a figura do grupo escolar como uma
escrever e contar, eram de acesso instituição modelar.
limitado, desprovidas de um conjunto
de diretrizes pedagógicas uniformes, o
que apresenta o descaso com a instrução Referências
popular por parte do Império. Isso é BUFFA, E.; PINTO, G. A. Arquitetura e
justificado quando evidenciam-se que a Educação: Organização do Espaço e Propostas
estrutura econômico social brasileira era Pedagógicas dos Grupos Escolares Paulistas,
de base escravista e a estrutura política 1893/1971. São Carlos: Brasília: EduFSCAR,
INEP, 2002.
concentrava-se nas mãos de uma
oligarquia, fatores que acabavam COSTA, A. M. C. I. A escola da República
impedindo a concretização da educação Velha – Expansão do Ensino Primário em São
Paulo. São Paulo: EDEC, 1983.
popular.
SOUZA, R. F. Lições da Escola Primária. In:
No início do período republicano, estes, SAVIANI, Dermeval et. al. O Legado
logo deram atenção à educação popular, Educacional do Século XX no Brasil. Campinas:
preocupando-se em difundir as escolas Autores Associados, 2006.
primárias, pois se acreditava que, com SOUZA, R. F. Templos de Civilização: A
isso, haveria não apenas a consolidação Implantação da Escola Primária Graduada no
do regime republicano, como também a Estado de São Paulo (1890-1910). São Paulo:
regeneração da nação. Em contrapartida Fundação Editora da UNESP, 1998.
às escolas do Império, surgem os grupos

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