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Informativo 965-STF
Márcio André Lopes Cavalcante

Processos cujo julgamento ainda não foi concluído em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados
assim que chegarem ao fim: HC 176473/RR; ADI 4735/DF; RE 759244/SP; RMS 36231 AgR/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO
▪ Viola a cláusula de reserva de plenário e a SV 10 a decisão de órgão fracionário do Tribunal que permite que
empresa comercialize produtos em desacordo com as regras previstas em Decreto federal, sob o argumento de
que este ato normativo violaria o princípio da livre concorrência.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
▪ O Procurador da Câmara Municipal dispõe de legitimidade para interpor recurso extraordinário contra acórdão de
Tribunal de Justiça proferido em representação de inconstitucionalidade em defesa de lei ou ato normativo
estadual ou municipal.

DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
▪ Não é legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato
de responder a inquérito ou a ação penal, salvo se essa restrição for instituída por lei e se mostrar
constitucionalmente adequada.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


SUSTENTAÇÃO ORAL
▪ Se um processo que estava no Plenário virtual é destacado para julgamento presencial, o julgamento será reiniciado, de
forma que será possível a realização de sustentação oral mesmo que o relator já tivesse votado no ambiente virtual.

DIREITO PENAL
PRESCRIÇÃO
▪ Acórdão que confirma ou reduz a pena interrompe a prescrição?
LEI DE DROGAS
▪ Para fins do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, milita em favor do réu a presunção de que ele é primário, possui bons
antecedentes e não se dedica a atividades criminosas nem integra organização criminosa; o ônus de provar o
contrário é do Ministério Público.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


COLABORAÇÃO PREMIADA
▪ O delatado tem o direito de acesso aos termos de colaboração premiada que mencionem seu nome, desde que já
tenham sido juntados aos autos e não prejudiquem diligências em andamento

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
DESAPOSENTAÇÃO
▪ Não há, por ora, previsão legal do direito à 'desaposentação' ou à ‘reaposentação’, sendo constitucional a regra
do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO


Viola a cláusula de reserva de plenário e a SV 10 a decisão de órgão fracionário do Tribunal que
permite que empresa comercialize produtos em desacordo com as regras previstas em Decreto
federal, sob o argumento de que este ato normativo violaria o princípio da livre concorrência

O afastamento de norma legal por órgão fracionário, de modo a revelar o esvaziamento da


eficácia do preceito, implica contrariedade à cláusula de reserva de plenário e ao Enunciado
10 da Súmula Vinculante.
Caso concreto: a 4ª Turma do TRF da 1ª Região, ou seja, um órgão fracionário do TRF1, ao
julgar apelação, permitiu que uma empresa comercializasse determinada espécie de cigarro
mesmo isso sendo contrário às regras do Decreto nº 7.212/2010. Embora não tenha declarado
expressamente a inconstitucionalidade do Decreto, a 4ª Turma afirmou que ele seria contrário
ao princípio da livre concorrência, que é previsto no art. 170, IV, da CF/88. Ao desobrigar a
empresa de cumprir as regras do decreto afirmando que ele violaria o princípio da livre
iniciativa, o que a 4ª Turma fez foi julgar o decreto inconstitucional. Ocorre que isso deveria
ter sido feito respeitando-se a cláusula de reserva de plenário, conforme explicitado na SV 10:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de
órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade
de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.
STF. 1ª Turma. RE 635088 AgR-segundo/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

REGRA DA RESERVA DE PLENÁRIO


O que significa
No chamado controle difuso de constitucionalidade, também adotado pelo Brasil ao lado do controle
abstrato, qualquer juiz ou Tribunal pode declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo no
caso concreto. No entanto, se o Tribunal for fazer essa declaração, deverá respeitar a cláusula de reserva
de plenário.
A chamada “cláusula de reserva de plenário” significa que, se um Tribunal for declarar a
inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, é obrigatório que essa declaração de
inconstitucionalidade seja feita pelo voto da maioria absoluta do Plenário ou do órgão especial deste
Tribunal.

Segurança jurídica
Esta exigência da cláusula de reserva de plenário tem como objetivo conferir maior segurança jurídica para
as decisões dos Tribunais, evitando que, dentro de um mesmo Tribunal, haja posições divergentes acerca
da constitucionalidade de um dispositivo, gerando instabilidade e incerteza.

Origem
A CF/1934 foi a primeira Constituição brasileira a prever a cláusula de reserva de plenário.
Veja como o tema foi cobrado em prova:
++ (Analista TRT/7 2017 CEBRASPE) A Constituição da República de 1891 foi a primeira a prever a
possibilidade de controle difuso de constitucionalidade, de forma incidental, trazendo também importante
inovação referente à denominada cláusula de reserva de plenário. (ERRADO)

Sinônimos e previsão
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A reserva de plenário é também conhecida como regra do full bench, full court ou julgamento en banc e
está prevista no art. 97 da CF/88 e nos art. 948 e 949 do CPC/2015:
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo
órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do
Poder Público.

Art. 948. Arguida, em controle difuso, a inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do poder
público, o relator, após ouvir o Ministério Público e as partes, submeterá a questão à turma ou à
câmara à qual competir o conhecimento do processo.
Art. 949. Se a arguição for:
I - rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão especial, onde
houver.
Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao órgão
especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento destes ou do
plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.

O que é esse “órgão especial” mencionado no art. 97 da CF/88?


Em regra, o órgão máximo de um Tribunal é o Plenário, chamado de “tribunal pleno” e que é formado,
como o próprio nome diz, pela totalidade dos julgadores.
Ocorre que nos Tribunais maiores (exs.: TJ/SP, TJ/MG) existem centenas de Desembargadores, o que
dificulta a reunião de todos para que tomem as decisões. Diante disso, a fim de facilitar o funcionamento,
a CF/88 previu que, se o Tribunal possuir mais que 25 membros (ex.: um TJ que tenha mais que 25
Desembargadores), poderá ser criado um “órgão especial” para exercer algumas atribuições
administrativas e jurisdicionais que seriam originalmente de competência do tribunal pleno. Veja a
previsão constitucional:
Art. 93 (...)
XI - nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser constituído órgão
especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das
atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-
se metade das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004)

Logo, o órgão especial do Tribunal, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, poderá declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, não sendo necessária maioria absoluta de
todos os membros do Tribunal.
++ (Técnico TRE/GO 2015) A inconstitucionalidade de uma lei pode ser declarada por um tribunal reunido
em maioria simples ou por comissão criada nesse tribunal para julgar o caso. (ERRADO)

Controle difuso e controle concentrado


A exigência da cláusula de reserva de plenário aplica-se tanto no controle difuso como no controle
concentrado de constitucionalidade.
Vale ressaltar, contudo, uma sutil distinção:
• para o STF: só se exige cláusula de reserva de plenário na hipótese de controle concentrado; no caso de
controle difuso, não.
• para os demais Tribunais: exige-se a cláusula de reserva de plenário tanto no caso de controle difuso
como concentrado.

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Não se aplica se o órgão fracionário declarar a constitucionalidade da norma


Se o órgão fracionário do Tribunal for declarar que determinada lei ou ato normativo é constitucional, não
será necessário observar a cláusula de reserva de plenário.

Não se aplica se a lei ou ato normativo for anterior ao texto da Constituição Federal
Se uma lei ou ato normativo anterior à Constituição Federal é contrário ao texto constitucional, não
dizemos que essa lei ou ato normativo é inconstitucional. Dizemos que ele não foi recepcionado pela
Constituição.
Nesse caso, não se está, portanto, fazendo controle (juízo) de constitucionalidade. Trata-se apenas de
discussão em torno de direito pré-constitucional. Logo, não se exige o cumprimento da cláusula de reserva
de plenário.
Assim, por exemplo, o órgão fracionário de um Tribunal poderá decidir que uma lei não foi recepcionada
pela CF/88, não se exigindo uma decisão do plenário ou do órgão especial.
Veja como o tema já foi cobrado em prova:
++ (Juiz Federal TRF5 2015) A cláusula de reserva de plenário deve ser observada nos casos em que o
tribunal conclua que determinada norma pré-constitucional não foi recepcionada pela CF. (ERRADO)
++ (DPU 2015 CEBRASPE) Desde que observem a cláusula de reserva de plenário, os tribunais podem
declarar a revogação de normas legais anteriores à CF com ela materialmente incompatíveis. (ERRADO)

Não se aplica se o órgão fracionário faz apenas uma interpretação conforme


Não se exige o cumprimento da cláusula de reserva de plenário se o órgão fracionário se utiliza da técnica
de interpretação conforme a constituição. Isso porque, neste caso, não haverá declaração de
inconstitucionalidade.

Não se aplica para juízos singulares


O art. 97 da CF/88 exige a cláusula de reserva de plenário apenas para Tribunais. Logo, um juízo singular
(ex: magistrado que atua em 1ª instância em uma vara) pode declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo sem qualquer exigência de quórum especial. Nesse sentido:
A norma inscrita no art. 97 da Carta Federal, porque exclusivamente dirigida aos órgãos colegiados do
Poder Judiciário, não se aplica aos magistrados singulares quando no exercício da jurisdição constitucional.
STF. 1ª Turma. HC 69.921, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 26/3/1993.

Veja como o tema já foi cobrado em prova:


++ (Juiz Federal TRF5 2015 CEBRASPE) Conforme a cláusula de reserva de plenário, o juiz singular de
primeiro grau não pode, incidentalmente, declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo em um
caso concreto, salvo se já houver precedente no mesmo sentido do pleno ou órgão especial do tribunal ao
qual o magistrado se encontre vinculado ou do STF. (ERRADO)
++ (Juiz Federal TRF5 2015 CEBRASPE) A regra da reserva de plenário não se aplica a julgamento de
competência singular, podendo o juiz, mesmo de ofício, deixar de aplicar preceitos normativos que
considere contrários ao texto constitucional. (CERTO)
++ (Analista TRE/MT 2015) Em razão da cláusula de reserva de plenário, o controle de constitucionalidade
incidental não pode ser exercido por juízos singulares de primeiro grau. (ERRADO)

Não se aplica para Turmas Recursais (Colégios Recursais)


Nos Juizados Especiais (antigamente chamados de “Juizados de Pequenas Causas” – não use mais essa
expressão), as causas são examinadas, em 1º grau, por um Juiz do Juizado.
O recurso contra a sentença proferida pelo Juiz do Juizado é julgado pela Turma Recursal (também
chamado de Colégio Recursal).
A Turma Recursal é um colegiado formado por três juízes (não é composta por Desembargadores), que

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tem a função de julgar os recursos contra as decisões proferidas pelo juiz do juizado. Funciona como
instância recursal na estrutura dos Juizados Especiais.
Vale ressaltar, contudo, que a Turma Recursal não é um Tribunal. Logo, não se exige que cumpra a cláusula
de reserva de plenário. Nesse sentido:
O art. 97 da Constituição, ao subordinar o reconhecimento da inconstitucionalidade de preceito normativo
a decisão nesse sentido da “maioria absoluta de seus membros ou dos membros dos respectivos órgãos
especiais”, está se dirigindo aos Tribunais indicados no art. 92 e aos respectivos órgãos especiais de que
trata o art. 93, XI. A referência, portanto, não atinge juizados de pequenas causas (art. 24, X) e juizados
especiais (art. 98, I), os quais, pela configuração atribuída pelo legislador, não funcionam, na esfera
recursal, sob regime de plenário ou de órgão especial. (...)
STF. 2ª Turma. ARE 792562 AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/03/2014.

Veja como o tema foi cobrado em prova:


++ (Analista TRT 7 2017 CEBRASPE) A cláusula de reserva de plenário exige que somente pela maioria
absoluta de seus membros poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou de ato
normativo do poder público; a mesma cláusula aplica-se também às turmas recursais dos juizados
especiais, por serem órgãos colegiados. (ERRADO)
++ (Juiz Federal TRF5 2015 CEBRASPE) A cláusula de reserva de plenário se aplica às turmas recursais dos
juizados especiais. (ERRADO)
++ (Juiz Federal TRF5 2015 CEBRASPE) A cláusula de reserva de plenário não atinge juizados de pequenas
causas e juizados especiais, pois, segundo a configuração que lhes foi atribuída pelo legislador, esses
juizados não funcionam, na esfera recursal, sob o regime de plenário ou de órgão especial. (CERTO)

Quando o STF vai julgar um recurso extraordinário precisa cumprir o art. 97 da CF/88? A cláusula de
reserva de plenário se aplica para o STF quando ele realize o controle difuso de constitucionalidade?
Existem julgados afirmando que não:
A vedação do art. 97 da CF/88 não tem aplicação ao Supremo Tribunal Federal, cuja missão precípua é a
guarda da Constituição.
O STF exerce, por excelência, o controle difuso de constitucionalidade quando do julgamento do recurso
extraordinário, via apropriada à discussão de violação constitucional, ordinariamente realizado por suas
turmas.
STF. 2ª Turma. ARE 1008426 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/05/2017.

O STF exerce, por excelência, o controle difuso de constitucionalidade quando do julgamento do recurso
extraordinário, tendo os seus colegiados fracionários competência regimental para fazê-lo sem ofensa ao
art. 97 da Constituição Federal.
STF. 2ª Turma. RE 361829 ED, Min. Rel. Ellen Gracie, julgado em 02/03/2010.

Súmula vinculante 10
Além da previsão na CF e no CPC, a exigência da cláusula de reserva de plenário é reforçada pela Súmula
Vinculante 10, que tem a seguinte redação:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão
fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.

Essa SV foi editada porque alguns órgãos fracionários dos Tribunais, para tentar escapar da exigência do
art. 97 da CF/88, diziam que estavam afastando a incidência da lei ou ato normativo, sem declarar
expressamente a inconstitucionalidade. Era uma forma de burlar a previsão constitucional. Diante disso, o
STF editou esse enunciado para coibir essa prática.
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É importante saber bem a redação da SV 10 porque sua transcrição é constantemente cobrada nas provas:
++ (Juiz TJ/PR 2019 CEBRASPE) Um órgão fracionário de determinado tribunal afastou a incidência de parte
de ato normativo do poder público, sem declarar expressamente a inconstitucionalidade do ato. Nessa
situação hipotética, segundo a Constituição Federal de 1988 e o entendimento sumulado do STF, a decisão
desse órgão fracionário violou a cláusula de reserva do plenário, uma vez que afastou a incidência, ainda
que em parte, de ato normativo do poder público. (CERTO)
++ (Analista TCE/PA CEBRASPE) De acordo com entendimento do STF consagrado em súmula vinculante, é
correto afirmar que a observância à cláusula de reserva de plenário não é exigida para situações em que
órgão fracionário de tribunal apenas afaste a incidência de lei em caso concreto. (ERRADO)
++ (Analista TJ/AM 2019 CEBRASPE) Órgão fracionário de tribunal de justiça que, por razões de segurança
jurídica, deixar de aplicar lei estadual, sem declarar expressamente a sua inconstitucionalidade, terá
violado a cláusula de reserva de plenário. (CERTO)
++ (Analista STJ 2018 CEBRASPE) Embora não tenha declarado expressamente a inconstitucionalidade de
determinada lei, turma do Superior Tribunal de Justiça determinou sua não incidência parcial em
determinado caso concreto. Nesse caso, fica configurada violação à cláusula de reserva de plenário.
(CERTO)
++ (Analista TRF1 2017 CEBRASPE) Órgão fracionário de tribunal que afaste a incidência, no todo ou em
parte, de lei ou ato normativo, ainda que não declare expressamente a sua inconstitucionalidade, violará a
cláusula de reserva de plenário. (CERTO)
++ (Juiz TJ/AM 2016 CEBRASPE) Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros
do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
do poder público. Por isso, não viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de
tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder
público, afasta sua incidência, no todo ou em parte. (ERRADO)
++ (Auditor TCE/PR 2016 CEBRASPE) Violará a cláusula de reserva de plenário o órgão fracionário de um
tribunal que, ao analisar a aplicação de duas leis no caso concreto, decida pela aplicação de uma em
detrimento da outra, não tendo sido declarada a inconstitucionalidade da não aplicada. (ERRADO)
++ (Juiz Federal TRF5 2015 CEBRASPE) Os órgãos fracionários de tribunais podem afastar, no todo ou em
parte, a incidência de lei ou ato normativo sem obedecer à cláusula de reserva de plenário, desde que não
haja declaração expressa de inconstitucionalidade. (ERRADO)

Exceções à cláusula de reserva de plenário previstas na lei


Existem duas mitigações à cláusula de reserva de plenário, ou seja, duas hipóteses em que o órgão
fracionário poderá decretar a inconstitucionalidade sem necessidade de remessa dos autos ao Plenário (ou
órgão especial):
a) quando o Plenário (ou órgão especial) do Tribunal que estiver decidindo já tiver se manifestado pela
inconstitucionalidade da norma;
b) quando o Plenário do STF já tiver decidido que a norma em análise é inconstitucional.

Essas exceções estão também consagradas no parágrafo único do art. 949 do CPC:
Art. 949 (...)
Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao órgão
especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento destes ou do
plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.

++ (Abin/Oficial/2018) A decisão de órgão fracionário de tribunal de justiça que deixa de aplicar lei por
motivo de inconstitucionalidade não precisa observar a regra da reserva de plenário, caso se baseie em
jurisprudência consolidada do plenário do Supremo Tribunal Federal. (CERTO)
++ (Analista TJDFT 2015 CEBRASPE) O STF, mitigando norma constitucional, entende que é dispensável a

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submissão da demanda judicial à regra da reserva de plenário quando a decisão do tribunal basear-se em
jurisprudência do plenário ou em súmula do STF. (CERTO)

Resumo das hipóteses nas quais não se aplica a cláusula de reserva de plenário:
1) se o órgão fracionário declarar a constitucionalidade da norma;
2) se a lei ou ato normativo for anterior ao texto da Constituição Federal;
3) se o órgão fracionário faz apenas uma interpretação conforme;
4) para juízos singulares;
5) para Turmas Recursais (Colégios Recursais);
6) para o STF no caso de controle difuso;
7) quando o Plenário (ou órgão especial) do Tribunal que estiver decidindo já tiver se manifestado pela
inconstitucionalidade da norma;
8) quando o Plenário do STF já tiver decidido que a norma em análise é inconstitucional.

Veja agora o caso concreto julgado pelo STF (com adaptações):


A 4ª Turma do TRF da 1ª Região, ou seja, um órgão fracionário do TRF1, ao julgar apelação, permitiu que
uma empresa comercializasse determinada espécie de cigarro mesmo isso sendo contrário às regras do
Decreto nº 7.212/2010.
Embora não tenha declarado expressamente a inconstitucionalidade do Decreto, a 4ª Turma afirmou que
ele seria contrário ao princípio da livre concorrência, que é previsto no art. 170, IV, da CF/88.
Veja trecho da decisão do órgão fracionário:
“(...) não se pode chegar a outra conclusão senão a de que o referido Decreto violou o princípio da livre
concorrência (art. 170, IV, CF).”

A decisão da 4ª Turma do TRF1 violou a cláusula de reserva de plenário?


SIM. Ao desobrigar a empresa de cumprir as regras do decreto afirmando que ele violaria o princípio da
livre iniciativa, o que a 4ª Turma fez foi julgar o decreto inconstitucional. Ocorre que isso deveria ter sido
feito respeitando-se a cláusula de reserva de plenário, conforme explicitado na SV 10.
A informação constou assim no Informativo:
O afastamento de norma legal por órgão fracionário, de modo a revelar o esvaziamento da eficácia do
preceito, implica contrariedade à cláusula de reserva de plenário e ao Enunciado 10 da Súmula
Vinculante.
STF. 1ª Turma. RE 635088 AgR-segundo/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

Cuidado para não confundir com esse outro entendimento


Não viola a Súmula Vinculante 10, nem a regra do art. 97 da CF/88, a decisão do órgão fracionário do
Tribunal que deixa de aplicar a norma infraconstitucional por entender não haver subsunção aos fatos ou,
ainda, que a incidência normativa seja resolvida mediante a sua mesma interpretação, sem potencial
ofensa direta à Constituição.
STF. 1ª Turma. Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/11/2016 (Info 848).

A simples ausência de aplicação de uma dada norma jurídica ao caso sob exame não caracteriza, apenas
por isso, violação da orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal. Para caracterização da
contrariedade à súmula vinculante n. 10, do Supremo Tribunal Federal, é necessário que a decisão
fundamente-se na incompatibilidade entre a norma legal tomada como base dos argumentos expostos na
ação e a Constituição (STF. Plenário. Rcl 6944, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/06/2010).
Segundo a Min. Cármen Lúcia, "é possível que dada norma não sirva para desate do quadro submetido ao
crivo jurisdicional pura e simplesmente porque não há subsunção" (Rcl 6944). Em palavras mais simples, a

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lei ou ato normativo não se enquadra no caso concreto.


O tema não é muito simples e pode gerar confusão nos concursos. Portanto, cuidado com as seguintes
afirmações aparentemente contraditórias e que poderão aparecer na sua prova:
• Viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não
declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a sua
incidência no todo ou em parte. (CERTO)
• Não viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal que deixa de aplicar a
norma infraconstitucional por entender não haver subsunção aos fatos ou, ainda, que a incidência normativa
seja resolvida mediante a sua mesma interpretação, sem potencial ofensa direta à Constituição. (CERTO)

Para que haja violação da cláusula de reserva de plenário, é necessário que o órgão fracionário do tribunal
tenha afastado a lei ou ato normativo sob o argumento, expresso ou implícito, de que a norma
infraconstitucional é incompatível com os critérios previstos na Constituição. Se o afastamento da lei ou
ato normativo foi por causa de falta de subsunção, não há ofensa ao art. 97 da CF/88.

Confira como esta sutil diferença já foi cobrada em prova:


++ (PGM Salvador 2015 CESPE) Decisão de órgão fracionário de tribunal que afasta a aplicação de norma
sem declarar expressamente a inconstitucionalidade dessa norma não viola a cláusula de reserva de
plenário. (ERRADO)
++ (PGM Salvador 2015 CESPE) A interpretação realizada pelo tribunal que restringe a aplicação de norma
infraconstitucional a determinados casos, mantendo-a com relação a outros, também exige a sujeição da
matéria ao plenário ou ao órgão especial em decorrência do princípio da reserva de plenário. (ERRADO)

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
O Procurador da Câmara Municipal dispõe de legitimidade para interpor recurso extraordinário
contra acórdão de Tribunal de Justiça proferido em representação de inconstitucionalidade em
defesa de lei ou ato normativo estadual ou municipal

Os Procuradores (do Estado, do Município, da ALE, da Câmara etc.) possuem legitimidade para
a interposição de recursos em ação direta de inconstitucionalidade.
STF. 2ª Turma. RE 1126828 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia,
julgado em 4/2/2020 (Info 965).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O Governador do Estado de São Paulo ajuíza uma ADI no TJ/SP contra determinada lei do Município de São
Paulo (SP).
O TJ/SP julgou procedente o pedido, declarando a inconstitucionalidade da lei.
O acórdão foi publicado e a Câmara Municipal de São Paulo interpôs recurso extraordinário para o STF.

A Câmara Municipal poderia ter interposto o recurso?


SIM. A Mesa da Câmara Municipal possui legitimidade ativa para a propositura de ação direta de
inconstitucionalidade no Tribunal de Justiça, bem para a interposição de recursos decorrentes de eventual
ADI proposta.
Essa legitimidade decorre art. 90, II, da Constituição do Estado de São Paulo, dispositivo que é válido em
virtude de aplicação, por simetria, do art. 103, III, da CF/88:
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de
constitucionalidade:

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(...)
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;

Art. 90. São partes legítimas para propor ação de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
estaduais ou municipais, contestados em face desta Constituição ou por omissão de medida
necessária para tornar efetiva norma ou princípio desta Constituição, no âmbito de seu interesse:
(...)
II - o Prefeito e a Mesa da Câmara Municipal;

O ponto polêmico é que este recurso foi assinado apenas pelo Procurador da Câmara Municipal.

Diante disso, surgiu a dúvida: o Presidente da Mesa da Câmara Municipal de São Paulo também
precisaria ter assinado ou basta o Procurador?
Basta o Procurador.
Os Procuradores (do Estado, do Município, da ALE, da Câmara etc.) possuem legitimidade para a
interposição de recursos em ação direta de inconstitucionalidade.
STF. 2ª Turma. RE 1126828 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 4/2/2020 (Info 965).

Assim, o Procurador da Câmara Municipal dispõe de legitimidade para interpor recurso extraordinário
contra acórdão de Tribunal de Justiça proferido em representação de inconstitucionalidade em defesa de
lei ou ato normativo estadual ou municipal.

Propositura da ação
A ação direta de inconstitucionalidade deve ser, obrigatoriamente, assinada pelos legitimados do art. 103
da CF/88 ou, por simetria, pelos legitimados previstos na Constituição estadual. Isso porque o ajuizamento
ou não da ação é um ato de natureza política.
Assim, em nosso exemplo, o Governador do Estado obrigatoriamente teve que assinar essa ADI.
De igual modo, se a Mesa da Câmara Municipal fosse ajuizar uma ADI, o Presidente da Câmara
obrigatoriamente deveria assinar a petição inicial. Não bastaria a assinatura dos Procuradores.

Recursos em ADI
Por outro lado, os atos subsequentes ao ajuizamento da ação (inclusive a interposição dos recursos) são
atos de natureza técnica. Logo, devem ser assinados, obrigatoriamente, pelos procuradores da parte
legitimada.
Assim, os recursos em ação direta de inconstitucionalidade até podem vir assinados pelo legitimado
conjuntamente com o Procurador, mas é sempre essencial a presença de advogado.

Cuidado
Não confundir com este outro julgado, que trata sobre a legitimidade para figurar como recorrente (e não
sobre assinatura do recurso):
O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de controle
concentrado de constitucionalidade, ainda que a ADI tenha sido ajuizada pelo respectivo Governador.
A legitimidade para recorrer, nestes casos, é do próprio Governador (previsto como legitimado pelo art.
103 da CF/88) e não do Estado-membro.
STF. Plenário. ADI 4420 ED-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 05/04/2018 (Info 896).

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9


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DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCURSO PÚBLICO
Não é legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a participação de candidato
pelo simples fato de responder a inquérito ou a ação penal, salvo se essa restrição for instituída
por lei e se mostrar constitucionalmente adequada

Importante!!!
Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de
edital de concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de
responder a inquérito ou a ação penal.
STF. Plenário. RE 560900/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 5 e 6/2/2020 (repercussão
geral – Tema 22) (Info 965).

Investigação social
Em alguns concursos públicos, o edital prevê que os candidatos serão submetidos a uma fase do certame
denominada de “sindicância da vida pregressa e investigação social”.
Nesta etapa, o órgão ou entidade que está realizando o concurso coleta informações sobre a vida
pregressa, bem como a conduta social e profissional do candidato a fim de avaliar se ele possui
idoneidade moral para exercer o cargo pleiteado.
Em regra, a investigação social é feita mediante a análise das certidões de antecedentes criminais do
candidato. Alguns concursos preveem também que se forneça o nome de autoridades que serão
consultadas sobre a índole do candidato. Existem, por fim, editais que exigem a apresentação de um
“atestado de boa conduta social e moral” subscrito por uma autoridade declarando que desconhece
qualquer fato desabonador na vida do postulante ao cargo.

A investigação social limita-se ao exame da existência de antecedentes criminais ou poderão ser


analisados outros aspectos da vida do candidato?
Entende a jurisprudência do STJ que a investigação social não se resume a analisar a vida pregressa do
candidato quanto às infrações penais que eventualmente tenha praticado. Em precedente da 6ª Turma,
a Corte decidiu que deve ser analisada a conduta moral e social no decorrer de sua vida, visando aferir o
padrão de comportamento diante das normas exigidas ao candidato da carreira policial, em razão das
peculiaridades do cargo que exigem a retidão, lisura e probidade do agente público.
STJ. 6ª Turma. RMS 24.287/RO, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora Convocada do
TJ/PE), julgado em 04/12/2012.

Jurisprudência em Teses do STJ (Ed. 115):


Tese 10: A investigação social em concursos públicos, além de servir à apuração de infrações criminais,
presta-se a avaliar idoneidade moral e lisura daqueles que desejam ingressar nos quadros da
administração pública.

A investigação social poderá ter caráter eliminatório?


SIM. A maioria das leis que rege as carreiras prevê que um dos requisitos para que qualquer pessoa
tome posse no cargo público é a idoneidade moral. Sendo provada a falta dessa condição, é
juridicamente possível a eliminação do candidato. Outro fundamento que pode ser invocado para
justificar essa medida é o princípio constitucional da moralidade (art. 37 da CF/88).
Vale ressaltar que a investigação social não pode ter caráter classificatório, ou seja, não interfere na

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pontuação dos candidatos.


Se o eliminado discordar dos critérios utilizados pela banca poderá buscar auxílio do Poder Judiciário,
que tem competência para analisar o ato de exclusão do candidato, quando houver flagrante ilegalidade
ou descuprimento do edital (STJ. 1a Turma. RMS 44.360/MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 05/12/2013). Isso porque “não viola o princípio da separação dos poderes o controle de
legalidade exercido pelo Poder Judiciário sobre os atos administrativos, incluídos aqueles praticados
durante a realização de concurso público.” (STF. 1a Turma. ARE 753331 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 17/09/2013).

Caso seja constatado, na investigação social, que o candidato responde a um inquérito policial, ação
penal ou tem contra si uma condenação ainda não transitada em julgado, tal circunstância,
obrigatoriamente, implicará a sua eliminação do certame?
NÃO. A jurisprudência entende que o fato de haver instauração de inquérito policial ou propositura de
ação penal contra candidato, por si só, não pode implicar a sua eliminação.
A eliminação nessas circunstâncias, sem o necessário trânsito em julgado da condenação, violaria o
princípio constitucional da presunção de inocência.
O STF reafirmou esse entendimento e fixou a seguinte tese em repercussão geral:
Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de edital de
concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de responder a inquérito
ou a ação penal.
STF. Plenário. RE 560900/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 5 e 6/2/2020 (repercussão geral –
Tema 22) (Info 965).

A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte:


João foi aprovado nas provas do concurso de soldado da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).
Chegou, então, a fase de investigação social.
João estava respondendo a processo penal acusado da prática do delito de falso testemunho. Diante
disso, ele foi excluído do certame. A comissão organizadora fundamentou o ato com base no edital do
concurso que prevê a exclusão do candidato “denunciado por crime de natureza dolosa”.
Diante disso, João impetrou mandado de segurança e conseguiu anular o ato de eliminação
considerando que essa previsão viola o princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88) e os
princípios da liberdade profissional (art. 5º, XIII) e da ampla acessibilidade aos cargos públicos (art. 37, I).
Em reforço, vale ressaltar que João foi beneficiado com a suspensão condicional do processo.

Ponderação entre bens jurídicos


A questão não pode ser solucionada a partir de um tradicional raciocínio silogístico, ou dos critérios
usuais para resolução de antinomias — hierárquico, de especialidade e cronológico —, haja vista que
existem normas de mesma hierarquia indicando soluções diferentes.
Nessas situações, o raciocínio deve percorrer três etapas:
a) identificar as normas que postulam incidência na hipótese;
b) identificar os fatos relevantes ou os contornos fáticos gerais do problema; e
c) harmonizar as normas contrapostas, calibrando o peso de cada qual e restringindo-as no grau mínimo
indispensável, de modo a fazer prevalecer a solução mais adequada à luz de todo o sistema jurídico.

Quais são as normas que incidem na hipótese? Quais os interesesses a serem ponderados?
Em favor da tese do candidato, temos o princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88),
reforçado pelos princípios da liberdade profissional (art. 5º, XIII) e da ampla acessibilidade aos cargos
públicos (art. 37, I):

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Art. 5º (...)
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os
requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;

Por outro lado, a conduta da Administração Pública poderia ser amparada pelo princípio da moralidade
administrativa (art. 37, caput).

Regras de ponderação dos valores


Diante desse conflito, o Min. Relator Luis Roberto Barroso apresentou duas regras para a ponderação
dos valores em jogo e a determinação objetiva de idoneidade moral, quando aplicável ao ingresso no
serviço público mediante concurso:
1ª regra: só se pode eliminar o candidato se houver condenação:
- definitiva (transitada em julgado); ou
- pelo menos a existência de condenação por órgão colegiado (ex: Tribunal de Justiça), aplicando-se por
analogia o que prevê a Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010), critério que já foi aplicado mesmo fora da seara
penal.

2ª regra: é necessário que a necessidade de relação de incompatibilidade entre a natureza do crime e as


atribuições do cargo. Nem toda condenação penal deve ter por consequência direta e imediata impedir
alguém de se candidatar a concurso público.

Entretanto, para concorrer a determinados cargos públicos, pela natureza deles, é possível, por meio de
lei, a exigência de qualificações mais restritas e rígidas ao candidato. Por exemplo, as carreiras da
magistratura, das funções essenciais à justiça — Ministério Público, Advocacia Pública e Defensoria
Pública — e da segurança pública.

O relator concluiu que a solução mediante o emprego dessas regras satisfaz o princípio da razoabilidade
ou proporcionalidade, visto que é:
a) adequada, pois a restrição imposta se mostra idônea para proteger a moralidade administrativa;
b) não excessiva, uma vez que, após a condenação em segundo grau, a probabilidade de manutenção da
condenação é muito grande e a exigência de relação entre a infração e as atribuições do cargo mitiga a
restrição; e
c) proporcional em sentido estrito, na medida em que a atenuação do princípio da presunção de
inocência é compensada pela contrapartida em boa administração e idoneidade dos servidores públicos.

Em suma:
A partir do voto do Min. Roberto Barroso, é possível que apontemos algumas conclusões sobre o tema:
• Em regra, não é permitida a eliminação de candidato a concurso público pelo simples fato de ele
responder a inquérito ou a ação penal. Isso viola os princípios da presunção de inocência, da liberdade
profissional e da ampla acessibilidade aos cargos públicos.
• É possível, no entanto, que a lei preveja, para determinados cargos públicos, a exigência de
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qualificações mais restritas e rígidas ao candidato, como, por exemplo, as carreiras da magistratura, das
funções essenciais à justiça — Ministério Público, Advocacia Pública e Defensoria Pública — e da
segurança pública.
• Para esses cargos, é possível que a lei preveja a eliminação do candidado que tenha contra si
condenação definitiva ou condenação de órgão colegiado (ainda que sujeita a recurso). Vale ressaltar
também que é necessário que exista uma relação de incompatibilidade entre a natureza do crime e as
atribuições do cargo. Logo, a lei não pode prever, de forma genérica, que toda condenação penal deva
ensejar a proibição do indivíduo de se candidatar a concurso público.

Reescrevendo a tese do STF com outras palavras:


Não é legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a participação de candidato pelo
simples fato de responder a inquérito ou a ação penal, salvo se essa restrição for instituída por lei e se
mostrar constitucionalmente adequada.

DOD Plus (informações extras)


Jurisprudência em Teses do STJ (Ed. 9)
Tese 13: O candidato não pode ser eliminado de concurso público, na fase de investigação social, em
virtude da existência de termo circunstanciado, inquérito policial ou ação penal sem trânsito em julgado
ou extinta pela prescrição da pretensão punitiva.
Tese 14: O entendimento de que o candidato não pode ser eliminado de concurso público, na fase de
investigação social, em virtude da existência de termo circunstanciado, inquérito policial ou ação penal
sem trânsito em julgado ou extinta pela prescrição da pretensão punitiva não se aplica aos cargos cujos
ocupantes agem stricto sensu em nome do Estado, como o de delegado de polícia.
Obs: essas teses terão que ser lidas agora em harmonia com o entendimento do STF. Em provas de
concurso, fique com a redação da tese firmada pelo STF.

É possível a eliminação de candidato que tenha celebrado transação penal anteriormente?


NÃO. O STJ recentemente decidiu que um candidato aprovado para agente penitenciário federal não
poderia ser eliminado do concurso pelo simples fato de ter celebrado transação penal. Conforme
afirmou, corretamente, o Min. Relator, a transação penal não pode servir de fundamento para a não
recomendação de candidato em concurso público na fase de investigação social, uma vez que não
importa em condenação do autor do fato (art. 76 da Lei n. 9.099/95).
STJ. 2ª Turma. REsp 1302206/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 17/09/2013.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1453461/GO, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 09/10/2018.
No mesmo sentido: STF. 1ª Turma. ARE 713138 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 20/08/2013.

É possível a eliminação de candidato que tenha, quando adolescente, recebido medida socioeducativa?
NÃO. A utilização de medida socioeducativa para excluir candidato ressocializado é excessiva,
afrontando a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90).
A exclusão do candidato nesses casos desvirtua os objetivos conceituais das medidas socioeducativas, tal
como estão descritos no § 2º do art. 1º da Lei 12.594/2012 (SINASE).
STJ. 2ª Turma. RMS 48.568/RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 17/11/2015.

Se a banca examinadora, na fase de investigação social, determina que o candidato responda a um


formulário sobre sua vida pregressa e este, propositalmente, omite informações, poderá ser eliminado
do concurso por conta dessa conduta?
SIM. A omissão do candidato em prestar informações, conforme determinado pelo edital, na fase de
investigação social ou de sindicância da vida pregressa, enseja a sua eliminação do concurso público.
STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 39.108/PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23/04/2013.

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Jurisprudência em Teses do STJ (ed. 9):


Tese 16: O candidato pode ser eliminado de concurso público quando omitir informações relevantes na
fase de investigação social.

É possível eliminar o candidato pelo simples fato de ele possuir seu nome negativado nos serviços de
proteção de crédito (exs: SPC, SERASA)?
NÃO. É desprovido de razoabilidade e proporcionalidade o ato que, na etapa de investigação social,
exclui candidato de concurso público baseado no registro deste em cadastro de serviço de proteção ao
crédito STJ. 5ª Turma. RMS 30.734/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/09/2011.

Jurisprudência em Teses do STJ (ed. 9):


Tese 15: O candidato não pode ser eliminado de concurso público, na fase de investigação social, em
virtude da existência de registro em órgãos de proteção ao crédito.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

SUSTENTAÇÃO ORAL
Se um processo que estava no Plenário virtual é destacado para julgamento presencial, o
julgamento será reiniciado, de forma que será possível a realização de sustentação oral mesmo
que o relator já tivesse votado no ambiente virtual

O Min. Alexandre de Moraes era relator de uma ação direta de inconstitucionalidade. Ele
incluiu esse processo para ser julgado pelo Plenário Virtual.
O relator apresentou seu voto e os Ministros começaram a votar.
Ocorre que o Min. Marco Aurélio formulou pedido de destaque, requerendo que a referida ADI
fosse julgada presencialmente pelo Plenário físico.
Diante disso, o Min. Alexandre de Moraes retirou o processo da pauta de julgamentos
eletrônicos e o encaminhou ao Plenário físico para julgamento presencial, tendo havido nova
publicação de pauta.
O advogado da parte, quando viu a publicação da pauta, pediu para fazer sustentação oral no
Plenário físico.
O Min. Alexandre de Moraes negou o pedido sob o argumento de que já havia apresentado seu
voto no Plenário Virtual e a sustentação oral ocorre sempre antes de o relator votar. Depois
que o relator vota, não cabe mais sustentação oral.
A maioria dos Ministros, contudo, concordou com o pedido de sustentação oral da parte.
Quando há o deslocamento do Plenário Virtual para o Plenário físico, o julgamento se reinicia,
havendo, portanto, direito de ser formulado pedido de sustentação oral.
Além disso, os advogados somente têm acesso ao que foi deliberado na sessão virtual depois
de prolatados todos os votos. Logo, o advogado da parte não teve acesso ao voto do relator que
foi liberado no Plenário Virtual.
STF. Plenário. ADI 4735/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/2/2020 (Info 965).

Plenário virtual
Se o Plenário do STF fosse se reunir presencialmente para apreciar a existência de todos os recursos

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extraordinários e processos originários que chegam na Corte, isso iria abarrotar a pauta, tornando inviável
o funcionamento do Tribunal.
Pensando nisso, idealizou-se uma forma mais prática de os Ministros julgarem: o julgamento eletrônico
por meio de um “Plenário virtual”.
No Plenário virtual, o Ministro Relator submete, por meio eletrônico, aos demais Ministros, seu voto. Isso
significa que o Relator entra no sistema informatizado do STF e insere seu voto.
Os demais Ministros também possuem acesso ao sistema informatizado e, a partir do momento em que o
Relator inserir seu posicionamento, eles terão um prazo para analisar e para encaminhar, também por
meio eletrônico, manifestação sobre o voto. Exs: “De acordo com o Relator”; “Divirjo do relator...”

Quais processos podem ser julgados pelo Plenário Virtual?


O tema é tratado no art. 1º da Resolução 642/2019. No entanto, em tese, é possível que qualquer
processo seja julgado pelo Plenário Virtual, desde que sobre a matéria nele discutida já exista
jurisprudência dominante no âmbito do STF. Veja a redação do dispositivo:
Art. 1º (...)
§ 1º A critério do relator, poderão ser submetidos a julgamento em ambiente eletrônico,
observadas as respectivas competências das Turmas ou do Plenário, os seguintes processos:
I – agravos internos, agravos regimentais e embargos de declaração;
II – medidas cautelares em ações de controle concentrado;
III - referendum de medidas cautelares e de tutelas provisórias;
IV - recursos extraordinários e agravos, inclusive com repercussão geral reconhecida, cuja matéria
discutida tenha jurisprudência dominante no âmbito do STF;
V – demais classes processuais cuja matéria discutida tenha jurisprudência dominante no âmbito
do STF.
(...)

Sessões do Plenário Virtual acontecem semanalmente


Art. 2º As sessões virtuais serão realizadas semanalmente e terão início às sextas-feiras, respeitado
o prazo de 5 (cinco) dias úteis exigido no art. 935 do Código de Processo Civil entre a data da
publicação da pauta no DJe, com a divulgação das listas no sítio eletrônico do Tribunal, e o início
do julgamento.
§ 1º O relator inserirá ementa, relatório e voto no ambiente virtual; iniciado o julgamento, os
demais ministros terão até 5 (cinco) dias úteis para se manifestar.
§ 2º A conclusão dos votos registrados pelos ministros será disponibilizada automaticamente, na
forma de resumo de julgamento, no sítio eletrônico do STF.
§ 3º Considerar-se-á que acompanhou o relator o ministro que não se pronunciar no prazo
previsto no § 1º.
§ 4º A ementa, o relatório e voto somente serão tornados públicos com a publicação do acórdão
do julgamento.
(...)

Pedido de destaque
Pode acontecer de o Relator inserir um determinado processo para ser julgado pelo Plenário Virtual, no
entanto, um outro Ministro entender que esse caso não se enquadra nas hipóteses previstas na Resolução
ou, então, que se trata de uma situação que merece uma discussão maior, a ser feita presencialmente. Em
tais situações, o Ministro que assim entender poderá formular um “pedido de destaque”.
O pedido de destaque é, portanto, o requerimento formulado pelo Ministro para que um processo que
seria apreciado pelo Plenário Virtual seja submetido a julgamento presencial.

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15


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Isso está previsto no inciso I do art. 4º da Resolução 642/2019:


Art. 4º Não serão julgados em ambiente virtual as listas ou os processos com pedido de:
I – destaque feito por qualquer ministro;
(...)
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, o relator retirará o processo da pauta de julgamentos
eletrônicos e o encaminhará ao órgão colegiado competente para julgamento presencial, com
publicação de nova pauta.
§ 2º Nos casos de destaques, previstos nos incisos I e II, o julgamento será reiniciado.

Obs: esse pedido de destaque pode ser feito também pela parte, mas só ocorrerá se o relator concordar
(art. 4º, II, da Resolução).

Cabe sustentação oral no Plenário Virtual?


NÃO. No Plenário Virtual os Ministros não se reúnem em tempo real nem existe a possibilidade de o advogado
ou defensor público acrescentar um vídeo fazendo sustentação oral para ser assistida posteriormente.

Mas e se o advogado ou defensor público quiser fazer pedido de sustentação oral em um processo que
está pautado para ser julgado pelo Plenário Virtual?
Neste caso, a parte deverá requerer a sustentação oral, após a publicação da pauta de julgamento e até 48
horas antes do início da sessão. Vale ressaltar, contudo, que caberá ao relator decidir se defere ou não o
pedido.

Imagine agora a seguinte situação adaptada:


O Min. Alexandre de Moraes era relator de uma ação direta de inconstitucionalidade. Ele incluiu esse
processo para ser julgado pelo Plenário Virtual.
O relator apresentou seu voto e os Ministros começaram a votar.
Ocorre que o Min. Marco Aurélio formulou pedido de destaque, requerendo que a referida ADI fosse
julgada presencialmente pelo Plenário físico.
Diante disso, o Min. Alexandre de Moraes retirou o processo da pauta de julgamentos eletrônicos e o
encaminhou ao Plenário físico para julgamento presencial, tendo havido nova publicação de pauta.
O advogado da parte, quando viu a publicação da pauta, pediu para fazer sustentação oral no Plenário físico.
O Min. Alexandre de Moraes negou o pedido sob o argumento de que já havia apresentado seu voto no
Plenário Virtual e a sustentação oral ocorre sempre antes de o relator votar. Depois que o relator vota,
não cabe mais sustentação oral.
A maioria dos Ministros, contudo, concordou com o pedido de sustentação oral da parte.
Quando há o deslocamento do Plenário Virtual para o Plenário físico, o julgamento se reinicia, havendo,
portanto, direito de ser formulado pedido de sustentação oral.
Além disso, os advogados somente têm acesso ao que foi deliberado na sessão virtual depois de
prolatados todos os votos. Logo, o advogado da parte não teve acesso ao voto do relator que foi
liberado no Plenário Virtual.
STF. Plenário. ADI 4735/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/2/2020 (Info 965).

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DIREITO PENAL
PRESCRIÇÃO
Acórdão que confirma ou reduz a pena interrompe a prescrição?

Tema polêmico!
Acórdão que confirma ou reduz a pena interrompe a prescrição?
• SIM. É a posição atual da 1ª Turma do STF.
O acórdão confirmatório da sentença implica a interrupção da prescrição.
A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão
executória pela inércia do próprio Estado.
No art. 117 do Código Penal que deve ser interpretado de forma sistemática todas as causas
interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que o Estado não está inerte.
Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão
condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há,
sistematicamente, justificativa para tratamentos díspares.
A ideia de prescrição está vinculada à inércia estatal e o que existe na confirmação da
condenação é a atuação do Tribunal. Consequentemente, se o Estado não está inerte, há
necessidade de se interromper a prescrição para o cumprimento do devido processo legal.
STF. 1ª Turma. RE 1237572 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 26/11/2019.
STF. 1ª Turma. RE 1241683 AgR/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

• NÃO. É a posição da doutrina, do STJ e da 2ª Turma do STF.


O art. 117, IV do CP estabelece que o curso da prescrição interrompe-se pela publicação da
sentença ou acórdão condenatórios recorríveis. Se o acórdão apenas CONFIRMA a
condenação ou então REDUZ a pena do condenado, ele não terá o condão de interromper a
prescrição.
STF. 2ª Turma. RE 1238121 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 06/12/2019.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1557791/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 06/02/2020.
STJ. Corte Especial. AgRg no RE nos EDcl no REsp 1301820/RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado
em 16/11/2016.

O inciso IV do art. 117 do CP prevê que a publicação da sentença condenatória ou do acórdão


condenatório interrompe o prazo prescricional. Esse é um inciso que gera algumas polêmicas na
doutrina e jurisprudência, razão pela qual irei explicá-lo com mais calma.

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, de 19 anos de idade, praticou um furto consumado em 28/03/2008.
Foi denunciado e a denúncia recebida em 28/06/2008.
Foi condenado, em 1ª instância, a uma pena de 2 anos de reclusão, sentença publicada em 28/10/2009.
O Ministério Público não recorreu.
A defesa interpôs apelação e o Tribunal de Justiça manteve a sentença, confirmando a condenação,
acórdão publicado em 28/09/2011.
Contra a decisão do TJ, a defesa interpôs recurso extraordinário ao STF.
No dia 28/05/2013, a 1ª Turma do STF iniciou o julgamento do recurso.

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17


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Vamos verificar se houve prescrição no caso relatado acima.

Início do prazo prescricional


O prazo prescricional do crime cometido por João começou a correr em 28/03/2008, dia em que o crime
se consumou (art. 111, I, do CP).

Como ele foi condenado a uma pena não superior a 2 anos, qual é o prazo prescricional aplicável a este
fato?
O delito praticado por João prescreverá em 4 anos, nos termos do art. 109, V do CP:
Art. 109 (...)
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a
dois;

Vimos acima que existem algumas hipóteses que interrompem o prazo prescricional (art. 117).
Vejamos quais delas se aplicam ao caso de João:
• Início da contagem do prazo prescricional: dia em que o crime se consumou - 28/03/2008.
• Este prazo foi interrompido (recomeçou do zero) quando a denúncia foi recebida: 28/06/2008.
• O prazo foi novamente interrompido (recomeçou) quando a sentença condenatória foi publicada:
28/10/2009.

Confira se houve prescrição:


• Entre a data do fato e o recebimento da denúncia: 3 meses (não houve prescrição).
• Entre a data do recebimento e a publicação da sentença: 1 ano e 4 meses (não houve prescrição).

Logo, até aqui não houve prescrição.

Após a publicação da sentença condenatória, o que acontece com o prazo que já passou?
Ele será interrompido, ou seja, reiniciado. Despreza-se o período anterior (esse 1 ano e 4 meses) e inicia-
se uma nova contagem a partir desta data (28/10/2009).

No dia 28/09/2011 foi publicado um acórdão do TJ confirmando a condenação, ou seja, dizendo que a
sentença deveria ser mantida. Este acórdão interrompeu a prescrição?
O STF está dividido sobre o tema:
• SIM. É a posição atual da 1ª Turma do STF.
O acórdão confirmatório da sentença implica a interrupção da prescrição.
A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão executória pela
inércia do próprio Estado.
No art. 117 do Código Penal que deve ser interpretado de forma sistemática todas as causas
interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que o Estado não está inerte.
Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão
condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente,
justificativa para tratamentos díspares.
A ideia de prescrição está vinculada à inércia estatal e o que existe na confirmação da condenação é a
atuação do Tribunal. Consequentemente, se o Estado não está inerte, há necessidade de se
interromper a prescrição para o cumprimento do devido processo legal.
STF. 1ª Turma. RE 1237572 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 26/11/2019.

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18


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STF. 1ª Turma. RE 1241683 AgR/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

• NÃO. É a posição da doutrina, do STJ e da 2ª Turma do STF.


O art. 117, IV do CP estabelece que o curso da prescrição interrompe-se pela publicação da sentença
ou acórdão condenatórios recorríveis. Se o acórdão apenas CONFIRMA a condenação ou então REDUZ
a pena do condenado, ele não terá o condão de interromper a prescrição.
STF. 2ª Turma. RE 1238121 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 06/12/2019.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1557791/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 06/02/2020.
STJ. Corte Especial. AgRg no RE nos EDcl no REsp 1301820/RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
16/11/2016.

LEI DE DROGAS
Para fins do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, milita em favor do réu a presunção de que ele é
primário, possui bons antecedentes e não se dedica a atividades criminosas nem integra
organização criminosa; o ônus de provar o contrário é do Ministério Público

A previsão da redução de pena contida no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 tem como


fundamento distinguir o traficante contumaz e profissional daquele iniciante na vida
criminosa, bem como do que se aventura na vida da traficância por motivos que, por vezes,
confundem-se com a sua própria sobrevivência e/ou de sua família.
Assim, para legitimar a não aplicação do redutor é essencial a fundamentação corroborada em
elementos capazes de afastar um dos requisitos legais, sob pena de desrespeito ao princípio da
individualização da pena e de fundamentação das decisões judiciais.
Desse modo, a habitualidade e o pertencimento a organizações criminosas deverão ser
comprovados, não valendo a simples presunção. Não havendo prova nesse sentido, o
condenado fará jus à redução de pena.
Em outras palavras, militará em favor do réu a presunção de que é primário e de bons
antecedentes e de que não se dedica a atividades criminosas nem integra organização
criminosa. O ônus de provar o contrário é do Ministério Público.
Assim, o STF considerou preenchidas as condições da aplicação da redução de pena, por se
estar diante de ré primária, com bons antecedentes e sem indicação de pertencimento a
organização criminosa.
STF. 2ª Turma. HC 154694 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 4/2/2020 (Info 965).

Tráfico privilegiado (art. 33, § 4º da Lei nº 11.343/2006)


A Lei de Drogas prevê, em seu art. 33, § 4º, a figura do “traficante privilegiado”, também chamada de
“traficância menor” ou “traficância eventual”:
Art. 33 (...)
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto
a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário,
de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Qual é a natureza jurídica deste § 4º?


Trata-se de uma causa de diminuição de pena.

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


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Redução: de 1/6 a 2/3


O magistrado tem plena autonomia para aplicar a redução no quantum que reputar adequado de acordo
com as peculiaridades do caso concreto. Vale ressaltar, no entanto, que essa fixação deve ser
suficientemente fundamentada e não pode utilizar os mesmos argumentos adotados em outras fases da
dosimetria da pena (STF HC 108387, 06.03.12). Dito de outra forma, não se pode utilizar os mesmos
fundamentos para fixar a pena-base acima do mínimo legal e para definir o quantum da redução prevista neste
dispositivo, sob pena de bis in idem.

Vedação à conversão em penas restritivas de direitos:


O STF já declarou, de forma incidental, a inconstitucionalidade da expressão “vedada a conversão em
penas restritivas de direitos”, constante deste § 4º do art. 33, de modo que é possível, segundo avaliação
do caso concreto, a concessão da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos,
desde que cumpridos os requisitos do art. 44 do CP.

Requisitos:
Para ter direito à minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006, é necessário o
preenchimento de quatro requisitos autônomos:
a) primariedade;
b) bons antecedentes;
c) não dedicação a atividades criminosas; e
d) não integração à organização criminosa.

Se o réu não preencher algum desses requisitos, não terá direito à minorante. São requisitos cumulativos:
Jurisprudência em Teses do STJ
Tese 22: A causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas só pode ser aplicada
se todos os requisitos, cumulativamente, estiverem presentes.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João era traficante e realizava o comércio ilícito de entorpecentes em sua própria residência, onde
funcionava uma “boca-de-fumo”.
João exigia que sua esposa Francisca também o auxiliasse no tráfico, embalando a droga e vendendo para
os usuários que iam até o local.
Houve uma operação policial no local que resultou na prisão de João e Francisca.
Após o processo penal, João e Francisca foram condenados por tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº
11.343/2006) e associação para o tráfico (art. 35).
A defesa de Maria impetrou sucessivos habeas corpus até que a questão chegou ao STF.
No HC, a defesa pediu a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006.

Em um caso semelhante a esse, o STF acolheu o pedido?


SIM. Houve um empate entre os Ministros da 2ª Turma do STF e, diante disso, prevaleceu a posição mais
favorável à ré, tendo sido concedida a ordem.
A paciente foi condenada pelos delitos de tráfico de drogas e associação para o tráfico juntamente com
seu marido, em razão de terem sido encontrados entorpecentes em sua residência.
As testemunhas apontaram que ela somente seguia as ordens do marido, em uma relação de
dependência.
O juiz negou o benefício do art. 33, § 4º da LD sob o único fundamento de que ela teria sido condenada
por associação para o tráfico, de forma que integraria organização criminosa.

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20


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Para o STF, no entanto, não se pode falar que ela integre verdadeira organização criminosa. O que se tem
no caso concreto é que há uma relação doméstica em que a mulher é influenciada a participar do tráfico.
A previsão da redução de pena contida no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 tem como fundamento
distinguir o traficante contumaz e profissional daquele iniciante na vida criminosa, bem como do que se
aventura na vida da traficância por motivos que, por vezes, confundem-se com a sua própria
sobrevivência e/ou de sua família.
Assim, para legitimar a não aplicação do redutor é essencial a fundamentação corroborada em
elementos capazes de afastar um dos requisitos legais, sob pena de desrespeito ao princípio da
individualização da pena e de fundamentação das decisões judiciais.
Desse modo, a habitualidade e o pertencimento a organizações criminosas deverão ser comprovados, não
valendo a simples presunção. Não havendo prova nesse sentido, o condenado fará jus à redução de pena.
Em outras palavras, militará em favor do réu a presunção de que é primário e de bons antecedentes e de
que não se dedica a atividades criminosas nem integra organização criminosa. O ônus de provar o
contrário é do Ministério Público.
Assim, o STF considerou preenchidas as condições da aplicação da redução de pena, por se estar diante
de ré primária, com bons antecedentes e sem indicação de pertencimento a organização criminosa.
STF. 2ª Turma. HC 154694 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 4/2/2020 (Info 965).

Cuidado porque o julgado acima contraria o entendimento consolidado do STJ. Veja:


Jurisprudência em Teses do STJ
Tese 23: É inviável a aplicação da causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei n.
11.343/2006 quando há condenação simultânea do agente nos crimes de tráfico de drogas e de associação
para o tráfico, por evidenciar a sua dedicação a atividades criminosas ou a sua participação em
organização criminosa.

No caso analisado pela 2ª Turma do STF, com base nas peculiaridades da situação concreta, o Tribunal
concedeu o redutor do § 4º do art. 33 da LD mesmo a ré tendo sido condenada simultaneamente por
tráfico e por associação.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


COLABORAÇÃO PREMIADA
O delatado tem o direito de acesso aos termos de colaboração premiada que mencionem seu
nome, desde que já tenham sido juntados aos autos e não prejudiquem diligências em andamento

Importante!!!
O delatado possui o direito de ter acesso às declarações prestadas pelos colaboradores que o
incriminem, desde que já documentadas e que não se refiram à diligência em andamento que
possa ser prejudicada.
STF. 2ª Turma. Rcl 30742 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João e Pedro são investigados pela prática de diversos crimes.
Eles decidem, então, celebrar um acordo de colaboração premiada, que é homologado pelo Juiz da 1ª
vara criminal.

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21


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João e Pedro delataram Luís, afirmando que ele também praticou os mesmos crimes.
Luís, ao tomar conhecimento disso, pediu ao Juiz para ter acesso aos termos da colaboração premiada
que mencionam seu nome. Esse pedido foi fundamentado na SV 14, que tem a seguinte redação:
Súmula vinculante 14-STF: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

O magistrado negou o pedido afirmando que a delação não é um elemento de prova, mas sim um meio
de obtenção de prova. Logo, a situação não se enquadraria na SV 14.
Inconformada, a defesa de Luís apresentou reclamação no STF.
O STF julgou procedente a reclamação?
SIM.
O delatado possui o direito de ter acesso às declarações prestadas pelos colaboradores que o
incriminem, desde que já documentadas e que não se refiram à diligência em andamento que possa
ser prejudicada.
STF. 2ª Turma. Rcl 30742 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

De fato, a colaboração premiada tem natureza jurídica de “meio de obtenção de prova”. A própria Lei nº
12.850/2013, recentemente alterada pelo “Pacote Anticrime”, prevê isso:
Art. 3º-A. O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio de obtenção
de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos. (Incluído pela Lei nº 13.964/2019)

Vale ressaltar, no entanto, que, embora seja meio de obtenção de prova, a colaboração premiada é
fenômeno complexo que envolve diversos atos com naturezas jurídicas distintas. Em conjunto com o
acordo, há elementos de prova relevantes ao exercício do direito de defesa e do contraditório.
Em razão disso, o terceiro delatado por corréu, em termo de colaboração premiada, tem direito de ter
acesso aos trechos nos quais citado, com fundamento na Súmula Vinculante 14.
Segundo essa SV, o acesso deve ser franqueado caso estejam presentes dois requisitos:
• Um, positivo: o ato de colaboração deve apontar a responsabilidade criminal do requerente;
• Outro, negativo: o ato de colaboração não deve referir-se à diligência em andamento.
Nesse sentido:
(...) TJ/SP negou acesso à defesa ao depoimento do colaborador Marcel Ferreira Júlio, nos termos da Lei n.
12.850/13. Ocorre que o art. 7º, § 2º, do mesmo diploma legal consagra o “amplo acesso aos elementos de
prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa”, ressalvados os referentes a diligências em
andamento. É ônus da defesa requerer o acesso ao juiz que supervisiona as investigações. O acesso deve
ser garantido caso estejam presentes dois requisitos. Um, positivo: o ato de colaboração deve apontar a
responsabilidade criminal do requerente (INQ 3.983, rel. min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, julgado em
3.3.2016). Outro, negativo: o ato de colaboração não deve referir-se à diligência em andamento. A defesa
do reclamante postulou ao Relator do processo o acesso aos atos de colaboração do investigado. 4. Direito
de defesa violado. 5. Reclamação julgada procedente, confirmando a liminar deferida.
STF. 2ª Turma. Rcl 24116, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/12/2016.

(...) Tratando-se de colaboração premiada contendo diversos depoimentos, envolvendo diferentes


pessoas e, possivelmente, diferentes organizações criminosas, tendo sido prestados em ocasiões
diferentes, em termos de declaração separados, dando origem a diferentes procedimentos
investigatórios, em diferentes estágios de diligências, não assiste a um determinado denunciado o
acesso universal a todos os depoimentos prestados. O que a lei lhe assegura é o acesso aos elementos

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22


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da colaboração premiada que lhe digam respeito. (...)


STF. Plenário. Inq 3983, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 03/03/2016.

Mas o art. 7º da Lei nº 12.850/2013 não assegura o sigilo prévio?


Veja o que diz o dispositivo:
Art. 7º O pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, contendo apenas
informações que não possam identificar o colaborador e o seu objeto.

Este sigilo tem dois objetivos básicos:


a) preservar os direitos assegurados ao colaborador, dentre os quais o de “ter nome, qualificação,
imagem e demais informações pessoais preservados” (art. 5º, II) e o de “não ter sua identidade revelada
pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito”
(art. 5º, V, da Lei nº 12.850/2013); e
b) garantir o êxito das investigações (art. 7º, § 2º e art. 8, § 3º).

Ocorre que, mesmo antes da retirada do sigilo, será assegurado ao defensor, no interesse do
representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de
defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em
andamento. É o que preconiza o § 2º do art. 7º:
Art. 7º (...)
§ 2º O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia,
como forma de garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no interesse do
representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito
de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às
diligências em andamento.

Assim, a jurisprudência garante o acesso a todos os elementos de prova documentados nos autos dos
acordos de colaboração, incluídas as gravações audiovisuais dos atos de colaboração de corréus, com o
escopo de confrontá-los, e não para impugnar os termos dos acordos propriamente ditos (Rcl 21258 AgR).

Pacote anticrime
Vale ressaltar que a Lei nº 13.964/2019 alterou a redação do § 3º do art. 7º prevendo o seguinte:

Lei nº 12.850/2013
Redação original Redação dada pela Lei 13.964/2019
Art. 7º (...) Art. 7º (...)
§ 3º O acordo de colaboração premiada deixa § 3º O acordo de colaboração premiada e os
de ser sigiloso assim que recebida a denúncia, depoimentos do colaborador serão mantidos em
observado o disposto no art. 5º. sigilo até o recebimento da denúncia ou da queixa-
crime, sendo vedado ao magistrado decidir por sua
publicidade em qualquer hipótese.

A despeito desta nova redação, em tese mais restritiva, penso que o entendimento acima exposto pelo
STF continua válido. Isso porque o objetivo da mudança legislativa não foi o de proibir o acesso dos
depoimentos pelo delatado (até mesmo porque isso seria inconstitucional por violação à ampla defesa).
A finalidade da alteração foi a de evitar que o acordo e os depoimentos fossem divulgados amplamente
para os meios de comunicação, conforme se observou nos últimos anos.

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23


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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

DESAPOSENTAÇÃO
Não há, por ora, previsão legal do direito à 'desaposentação' ou à ‘reaposentação’, sendo
constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91

Em 2016, o STF decidiu que não há previsão legal do direito à “desaposentação”.


Depois da decisão do STF começaram a ser propostas ações alegando que o Supremo havia
decidido apenas sobre a desaposentação, mas não sobre a reaposentação.
• Desaposentação: o segurado, mesmo depois de se aposentar, continua trabalhando e
pagando contribuições previdenciárias. Depois de algum tempo nessa situação, ele renuncia à
aposentadoria que recebe e pede para somar o tempo que contribuiu antes e depois da
aposentadoria com o objetivo de requerer uma nova aposentadoria, desta vez mais vantajosa.
• Reaposentação: o segurado, mesmo depois de se aposentar, continua trabalhando e pagando
contribuições previdenciárias. Depois de algum tempo nessa situação, ele renuncia à
aposentadoria que recebe e pede para que seja concedida uma nova aposentadoria utilizando
unicamente o tempo de contribuição posterior à primeira aposentadoria.
Os Ministros entenderam que o STF já rejeitou a hipótese de reaposentação no primeiro
julgamento ocorrido em 2016. No entanto, para evitar dúvidas, o STF resolveu alterar a tese
anterior para deixar isso mais claro:
Tese original: No âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar
benefícios e vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à
“desaposentação”, sendo constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991.
Tese modificada: No âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode
criar benefícios e vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à
'desaposentação' ou à ‘reaposentação’, sendo constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei nº
8.213/1991.
Por outro lado, o STF deu parcial provimento aos embargos declaratórios para:
• dizer que são irrepetíveis os valores alimentares recebidos de boa-fé por segurados
beneficiados com desaposentação ou reaposentação, até a proclamação do resultado.
• garantir o direito daqueles que usufruem de “desaposentação” ou de “reaposentação” em
decorrência de decisão transitada em julgado, até a proclamação do resultado do julgamento
dos embargos de declaração (06/02/2020).
STF. Plenário. RE 381367 ED/RS e RE 827833 ED/SC, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 6/2/2020 (repercussão geral) (Info 965).

DESAPOSENTAÇÃO E JULGAMENTO DO STF DE 2016


Conceito
A desaposentação consiste no ato do segurado de renunciar à aposentadoria que recebe a fim de que
possa requerer uma nova aposentadoria, desta vez mais vantajosa, no mesmo regime previdenciário ou
em outro.

Hipóteses mais comuns


O pedido de desaposentação ocorre normalmente nos casos em que a pessoa se aposenta, mas continua
trabalhando e, portanto, contribuindo. Assim, este tempo de contribuição após a primeira aposentadoria,
se computado, geraria um provento maior, o que justificaria a renúncia ao benefício que a pessoa estava

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24


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recebendo para que pudesse formular novo pedido de aposentação.


Outra hipótese seria no caso de um aposentado pelo regime geral (INSS) que preste um concurso e, depois
de anos trabalhando no cargo público concursado, requeira a renúncia do benefício no regime geral para
requerer uma nova aposentadoria no regime próprio dos servidores públicos, utilizando o tempo de
contribuição anterior.

Mas, se a pessoa aposentada voltar a trabalhar, deve pagar contribuição previdenciária?


SIM. O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) que estiver exercendo ou que voltar a
exercer atividade remunerada é segurado obrigatório em relação a essa atividade, ficando sujeito ao
pagamento de contribuição previdenciária, para fins de custeio da Seguridade Social (§ 3º do art. 11 da Lei
nº 8.213/91).

O INSS aceita o pedido de desaposentação?


NÃO. Para o INSS, a desaposentação não possui previsão legal. Ao contrário, segundo a autarquia
previdenciária, a desaposentação é proibida pelo § 2º do art. 18 da Lei nº 8.213/91 e pelo art. 181-B do
Regulamento da Previdência Social:
Lei nº 8.213/91:
Art. 18 (...) § 2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS que permanecer em
atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência
Social em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação
profissional, quando empregado.

Decreto nº 3.048/99:
Art. 181-B. As aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas pela
previdência social, na forma deste Regulamento, são irreversíveis e irrenunciáveis.

Assim, quando o segurado formulava requerimento administrativo de desaposentação, este era negado
pelo INSS.

“Ação de desaposentação”
Como o INSS nunca admitiu administrativamente, os segurados passaram a ajuizar ações judiciais
postulando a desaposentação.

Como a jurisprudência se posicionou a respeito do tema?


No dia 27/10/2016, o Plenário do STF analisou o tema e decidiu que, segundo a legislação atualmente em
vigor, não é possível a desaposentação. Entenda abaixo as razões.

Art. 18, § 2º da Lei nº 8.213/91


A desaposentação é expressamente proibida pelo art. 18, § 2º da Lei nº 8.213/91, cuja redação novamente
se transcreve:
Art. 18 (...)
§ 2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS que permanecer em atividade
sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em
decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional,
quando empregado.

Desse modo, o § 2º do art. 18 afirma que se o aposentado voltar a contribuir, mesmo assim não terá
direito a nenhuma prestação da Previdência Social (ex: nova aposentadoria ou melhora da aposentadoria
Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25
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que já recebe). Esta regra só comporta duas exceções: salário-família e reabilitação profissional. Tirando
essas duas situações, o aposentado que volta a trabalhar não possui direito a nenhuma outra vantagem
pelo fato de estar novamente pagando contribuições para a Previdência Social.

Ausência de previsão constitucional


A Constituição, apesar de não vedar expressamente o direito à “desaposentação”, também não a prevê.
Logo, cabe ao legislador ordinário estabelecer ou não essa possibilidade e, no caso, o art. 18, § 2º da Lei nº
8.213/91 proíbe.

Alegação de que o art. 18, § 2º da Lei nº 8.213/91 seria inconstitucional


Os aposentados que queriam a desaposentação alegavam que esse dispositivo seria inconstitucional. Isso
porque se o aposentado voltou a trabalhar e está pagando todos os meses contribuição previdenciária,
seria justo que esse valor recolhido para a Previdência fosse utilizado em seu favor para melhorar a sua
aposentadoria. Assim, se ele estava recebendo aposentadoria de R$ 3 mil e, mesmo depois de
aposentado, trabalhou e contribuiu por mais 10 anos, seria justo que essas contribuições fossem utilizadas
para se fazer um novo cálculo da aposentadoria e o valor de R$ 3 mil fosse aumentado.
O STF, contudo, não concordou com a tese e afirmou que a regra prevista no art. 18, § 2º da Lei nº
8.213/91 não viola a Constituição Federal.

Por que não é inconstitucional?


Porque o sistema previdenciário brasileiro possui uma característica muito importante. Ele é SOLIDÁRIO
(art. 3º, I, da CF/88).

Em que consiste o princípio da solidariedade?


O Prof. Wladimir Novaes Martinez explica em que consiste o princípio da solidariedade:
“161. Princípio da solidariedade social — Na previdência social, a solidariedade é essencial, e,
exatamente por sua posição nuclear, esse preceito sustentáculo distinguiu-se dos básicos e técnicos,
sobrepairando como diretriz elevada. Ausente, será impossível organizar a proteção social.
a) significado: Solidariedade quer dizer cooperação da maioria em favor da minoria, em certos
casos, da totalidade em direção à individualidade. Dinâmica a sociedade, subsiste constante
alteração dessas parcelas e, assim, num dado momento, todos contribuem e, noutro, muitos se
beneficiam da participação da coletividade. Nessa ideia simples, cada um também se apropria de
seu aporte. Financeiramente, o valor não utilizado por uns é canalizado para outros.
Significa a cotização de certas pessoas, com capacidade contributiva, em favor dos despossuídos.
Socialmente considerada, é ajuda marcadamente anônima, traduzindo mútuo auxílio, mesmo
obrigatório, dos indivíduos.” (MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário. São
Paulo: LTr, 5ª ed., 2013, p. 117).

Desse modo, o valor que o indivíduo paga a título de contribuição previdenciária não é empregado apenas
para os seus benefícios, sendo também utilizado para custear os benefícios de outras pessoas que ele nem
conhece. Ex: um jovem de 18 anos começa a trabalhar em seu primeiro emprego; com uma semana de
trabalho, ele sofre acidente e fica total e permanentemente incapacitado para atividades laborais; como
segurado obrigatório do INSS, ele terá direito de receber aposentadoria por invalidez mesmo não tendo
pagado nem mesmo sequer uma contribuição previdenciária. O valor que irá custear esse benefício a ele é
oriundo das contribuições previdenciárias pagas por todos os demais segurados.

Princípio da solidariedade e contribuição dos aposentados


Assim, os aposentados que voltam a trabalhar pagam contribuição previdenciária não porque esses
recursos serão utilizados em seu favor, mas sim para ajudar na concessão de benefícios previdenciários

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26


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que serão concedidos a outras pessoas que eles nem conhecem. Essa "ajuda" ocorre em nome do
princípio da solidariedade. É o que explica Frederico Amado:
“Essa norma principiológica fundamenta a criação de um fundo único de previdência social,
socializando-se os riscos, com contribuições compulsórias, mesmo daquele que já se aposentou,
mas persiste trabalhando, embora este egoisticamente normalmente faça queixas da previdência
por continuar pagando as contribuições.” (AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo
Previdenciário. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 37).

Nesse sentido, votou o Min. Teori Zavascki: “essas contribuições efetuadas pelos aposentados destinam-se
ao custeio atual do sistema de seguridade, e não ao incremento de um benefício para o segurado ou seus
dependentes”.
Desse modo, para o STF, não é inconstitucional o aposentado pagar contribuições para a Previdência Social
e não usufruir uma melhora por causa disso. Não é inconstitucional porque tal contribuição está amparada
pelo princípio da solidariedade (art. 3º, I, da CF/88).

O argumento de que a desaposentação é uma "renúncia" à aposentadoria não foi acolhido


Um dos argumentos dos aposentados para defenderem a desaposentação é o de que ela seria permitida
porque consistiria na renúncia da aposentadoria (que é um direito patrimonial disponível) e, após renunciar,
a pessoa pediria novamente uma nova aposentadoria, agora somando os novos períodos de contribuição.
O STF, contudo, não acolheu esta alegação.
Segundo argumentou o Min. Teori Zavascki, não se trata de uma simples “renúncia”, mas sim uma
verdadeira "substituição" de uma aposentadoria menor por uma maior, ou seja, uma progressão de
escala. Essa "troca" de benefício não tem amparo na lei. Logo, não existe "dever" da Previdência de fazer
essa substituição.
O RGPS tem natureza estatutária ou institucional, e não contratual. Isso significa dizer que a previdência
administrada pelo INSS deve sempre ser baseada na lei, sem qualquer espaço para a aquisição de direitos
subjetivos sem previsão legal. Somente lei pode criar benefícios e vantagens previdenciárias.

Desaposentação prejudica os objetivos do fator previdenciário


Se a “desaposentação” fosse permitida, ela tornaria imprevisíveis e flexíveis os parâmetros utilizados a
título de “expectativa de sobrevida” — elemento do fator previdenciário —, mesmo porque passaria esse
elemento a ser manipulado pelo beneficiário da maneira que melhor o atendesse.
O objetivo de estimular a aposentadoria tardia, estabelecido na lei que instituiu o citado fator, cairia por
terra, visto que a “desaposentação” ampliaria o problema das aposentadorias precoces.

A desaposentação possui vedação constitucional? A CF/88 proíbe a desaposentação?


NÃO. Não existe uma proibição na Constituição Federal para a desaposentação. Quem veda a
desaposentação é o art. 18, § 2º da Lei nº 8.213/91. Isso significa dizer que o Congresso Nacional pode
editar uma lei alterando esse dispositivo e prevendo a desaposentação. Essa mudança seria válida.
Dessa forma, a conclusão do STF foi a de que, atualmente, a lei veda a desaposentação, não havendo
nenhum problema caso a lei seja alterada.

Tese firmada pelo STF


Como a questão foi decidida pelo STF sob a sistemática da repercussão geral, foi fixada uma tese que vale
para todos os processos envolvendo o tema. Confira a tese aprovada na época, ou seja, em 2016:
No âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar benefícios e vantagens
previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à “desaposentação”, sendo constitucional
a regra do art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991.
STF. Plenário. RE 381367/RS, RE 661256/SC e RE 827833/SC, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgados em 26

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27


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e 27/10/2016 (repercussão geral) (Info 845).

Diante da decisão do STF, o STJ também passou a decidir que a legislação não admite a desaposentação:
No âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar benefícios e vantagens
previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à desaposentação, sendo constitucional a
regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.334.488-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/03/2019 (recurso repetitivo)
(Info 649).

ALEGAÇÃO DE QUE A “REAPOSENTAÇÃO” NÃO TERIA SIDO APRECIADA PELO STF EM 2016 E SERIA VÁLIDA
Desaposentação x reaposentação
Depois da decisão do STF de 2016 começaram a ser propostas ações na Justiça Federal alegando que o
Supremo havia decidido apenas sobre a desaposentação, mas não sobre a reaposentação.
A diferença entre os dois institutos seria a seguinte:

DESAPOSENTAÇÃO REAPOSENTAÇÃO
(soma os períodos) (despreza o período anterior)
O segurado, mesmo depois de se aposentar, O segurado, mesmo depois de se aposentar,
continua trabalhando e pagando contribuições continua trabalhando e pagando contribuições
previdenciárias. Depois de algum tempo nessa previdenciárias. Depois de algum tempo nessa
situação, ele renuncia à aposentadoria que recebe e situação, ele renuncia à aposentadoria que
pede para somar o tempo que contribuiu antes e recebe e pede para que seja concedida uma nova
depois da aposentadoria com o objetivo de aposentadoria utilizando unicamente o tempo de
requerer uma nova aposentadoria, desta vez mais contribuição posterior à primeira aposentadoria.
vantajosa.
O segurado quer aproveitar o tempo anterior e o O segurado quer aproveitar unicamente o tempo
tempo posterior à primeira aposentadoria. posterior à primeira aposentadoria. Ele não quer
nada do tempo anterior.
Ex: João, depois de 30 anos de contribuição, Ex: Pedro aposentou-se no RGPS. Contudo, como
aposentou-se no RGPS. Contudo, ele continuou se aposentou cedo, ele continuou trabalhando,
trabalhando e, portanto, pagando contribuições agora em atividades especiais, e ganhando bem
previdenciárias. Essa situação durou mais 5 anos. mais do que recebia na profissão anterior da
Foi aí que João, já cansado, resolveu parar de aposentadoria. Após 15 anos, ele completou os
trabalhar. Ele requereu, então, a desaposentação, requisitos para a aposentadoria especial. Diante
ou seja, pediu para renunciar a aposentadoria disso, pediu para renunciar à aposentadoria que
que está recebendo e que seja concedida a ele está recebendo para que a ele seja concedido um
uma nova aposentadoria, desta vez com 35 anos novo benefício, qual seja, a aposentadoria
de tempo de contribuição (30 anos laborados especial, que será mais alta.
antes da primeira aposentadoria + 5 anos depois). Repare que Pedro não quer aproveitar para nada
Este tempo de contribuição após a primeira do período anterior à primeira aposentadoria.
aposentadoria, se computado, gera um provento
maior, o que justifica a renúncia ao benefício que
a pessoa está recebendo para que possa formular
novo pedido de aposentação.

Embargos de declaração
Diante disso, a Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (COBAP) opôs embargos de
declaração no RE 661256 pedindo que o STF:

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 28


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1) diferenciasse os institutos da desaposentação e reaposentação e afirmasse expressamente que a lei só


não permite a desaposentação.
2) modulasse os efeitos da decisão proferida em 2016.

O STF concordou com os pedidos da embargante?


Com o pedido 1, NÃO.
Com o pedido 2, SIM.

O julgamento do STF de 2016 abrangeu tanto a desaposentação como a reaposentação


A maioria dos ministros entendeu que o STF já rejeitou a hipótese de reaposentação no primeiro
julgamento ocorrido em 2016.
Como é constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91 e como este dispositivo veda
expressamente qualquer nova prestação da Previdência Social em decorrência do exercício dessa nova
atividade após a aposentadoria, conclui-se que tanto a desaposentação como a reaposentação são
proibidos pela legislação atual.
No entanto, para evitar dúvidas, o STF resolveu alterar a tese anterior para deixar isso mais claro:
Tese original Tese modificada
No âmbito do Regime Geral de Previdência Social No âmbito do Regime Geral de Previdência Social
- RGPS, somente lei pode criar benefícios e - RGPS, somente lei pode criar benefícios e
vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, vantagens previdenciárias, não havendo, por ora,
previsão legal do direito à “desaposentação”, previsão legal do direito à 'desaposentação' ou à
sendo constitucional a regra do art. 18, § 2º, da ‘reaposentação’, sendo constitucional a regra do
Lei 8.213/1991. art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/1991.
STF. Plenário. RE 381367/RS, RE 661256/SC e RE STF. Plenário. RE 381367 ED/RS e RE 827833
827833/SC, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, ED/SC, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac.
julgados em 26 e 27/10/2016 (repercussão geral) Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/2/2020
(Info 845). (repercussão geral) (Info 965).

Modulação dos efeitos


Por outro lado, o Plenário deu parcial provimento aos embargos declaratórios para:
• dizer que são irrepetíveis os valores alimentares recebidos de boa-fé por segurados beneficiados com
desaposentação ou reaposentação, até a proclamação do resultado.
• garantir o direito daqueles que usufruem de “desaposentação” ou de “reaposentação” em decorrência
de decisão transitada em julgado, até a proclamação do resultado do julgamento dos embargos de
declaração (06/02/2020).
Essa modulação foi importante e se fez necessária porque houve casos de segurados que tiveram o direito
à “desaposentação” e à “reaposentação” reconhecidos por decisões judiciais transitadas em julgado.
Nessas hipóteses, a decisão do STF, mesmo proferida em recurso extraordinário com repercussão geral
reconhecida, deve preservar o que foi firmado em caráter definitivo pelo Poder Judiciário, em respeito aos
princípios da segurança jurídica e da boa-fé.
STF. Plenário. RE 381367 ED/RS e RE 827833 ED/SC, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 6/2/2020 (repercussão geral) (Info 965).

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EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir:


1) O afastamento de norma legal por órgão fracionário, de modo a revelar o esvaziamento da eficácia do
preceito, implica contrariedade à cláusula de reserva de plenário e ao Enunciado 10 da Súmula
Vinculante. ( )
2) (Analista TRT/7 2017 CEBRASPE) A Constituição da República de 1891 foi a primeira a prever a
possibilidade de controle difuso de constitucional lidade, de forma incidental, trazendo também
importante inovação referente à denominada cláusula de reserva de plenário. ( )
3) (Técnico TRE/GO 2015) A inconstitucionalidade de uma lei pode ser declarada por um tribunal reunido
em maioria simples ou por comissão criada nesse tribunal para julgar o caso. ( )
4) (Juiz Federal TRF5 2015) A cláusula de reserva de plenário deve ser observada nos casos em que o
tribunal conclua que determinada norma pré-constitucional não foi recepcionada pela CF. ( )
5) (DPU 2015 CEBRASPE) Desde que observem a cláusula de reserva de plenário, os tribunais podem
declarar a revogação de normas legais anteriores à CF com ela materialmente incompatíveis. ( )
6) (Juiz Federal TRF5 2015 CEBRASPE) Conforme a cláusula de reserva de plenário, o juiz singular de
primeiro grau não pode, incidentalmente, declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo em
um caso concreto, salvo se já houver precedente no mesmo sentido do pleno ou órgão especial do
tribunal ao qual o magistrado se encontre vinculado ou do STF. ( )
7) (Juiz Federal TRF5 2015 CEBRASPE) A regra da reserva de plenário não se aplica a julgamento de
competência singular, podendo o juiz, mesmo de ofício, deixar de aplicar preceitos normativos que
considere contrários ao texto constitucional. ( )
8) (Analista TRE/MT 2015) Em razão da cláusula de reserva de plenário, o controle de constitucionalidade
incidental não pode ser exercido por juízos singulares de primeiro grau. ( )
9) (Analista TRT 7 2017 CEBRASPE) A cláusula de reserva de plenário exige que somente pela maioria
absoluta de seus membros poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou de ato
normativo do poder público; a mesma cláusula aplica-se também às turmas recursais dos juizados
especiais, por serem órgãos colegiados. ( )
10) (Juiz Federal TRF5 2015 CEBRASPE) A cláusula de reserva de plenário se aplica às turmas recursais dos
juizados especiais. ( )
11) (Juiz Federal TRF5 2015 CEBRASPE) A cláusula de reserva de plenário não atinge juizados de pequenas
causas e juizados especiais, pois, segundo a configuração que lhes foi atribuída pelo legislador, esses
juizados não funcionam, na esfera recursal, sob o regime de plenário ou de órgão especial. ( )
12) (Juiz TJ/PR 2019 CEBRASPE) Um órgão fracionário de determinado tribunal afastou a incidência de
parte de ato normativo do poder público, sem declarar expressamente a inconstitucionalidade do ato.
Nessa situação hipotética, segundo a Constituição Federal de 1988 e o entendimento sumulado do STF,
a decisão desse órgão fracionário violou a cláusula de reserva do plenário, uma vez que afastou a
incidência, ainda que em parte, de ato normativo do poder público. ( )
13) (Analista TCE/PA CEBRASPE) De acordo com entendimento do STF consagrado em súmula vinculante, é
correto afirmar que a observância à cláusula de reserva de plenário não é exigida para situações em
que órgão fracionário de tribunal apenas afaste a incidência de lei em caso concreto. ( )
14) (Analista TJ/AM 2019 CEBRASPE) Órgão fracionário de tribunal de justiça que, por razões de segurança
jurídica, deixar de aplicar lei estadual, sem declarar expressamente a sua inconstitucionalidade, terá
violado a cláusula de reserva de plenário. ( )
15) (Analista STJ 2018 CEBRASPE) Embora não tenha declarado expressamente a inconstitucionalidade de
determinada lei, turma do Superior Tribunal de Justiça determinou sua não incidência parcial em
determinado caso concreto. Nesse caso, fica configurada violação à cláusula de reserva de plenário. ( )

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16) (Abin/Oficial/2018) A decisão de órgão fracionário de tribunal de justiça que deixa de aplicar lei por
motivo de inconstitucionalidade não precisa observar a regra da reserva de plenário, caso se baseie em
jurisprudência consolidada do plenário do Supremo Tribunal Federal. ( )
17) (Analista TJDFT 2015 CEBRASPE) O STF, mitigando norma constitucional, entende que é dispensável a
submissão da demanda judicial à regra da reserva de plenário quando a decisão do tribunal basear-se
em jurisprudência do plenário ou em súmula do STF. ( )
18) Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de edital de
concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de responder a inquérito
ou a ação penal. ( )
19) O delatado possui o direito de ter acesso às declarações prestadas pelos colaboradores que o
incriminem, desde que já documentadas e que não se refiram à diligência em andamento que possa ser
prejudicada. ( )
20) No âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar benefícios e vantagens
previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à 'desaposentação' ou à
‘reaposentação’, sendo constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/1991. ( )

Gabarito
1. C 2. E 3. E 4. E 5. E 6. E 7. C 8. E 9. E 10. E
11. C 12. C 13. E 14. C 15. C 16. C 17. C 18. C 19. C 20. C

OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio


eletrônico*
Em curso Finalizados
Pleno 05.02.2020 06.02.2020 3 4 -
1ª Turma 04.02.2020 - 6 141 -
2ª Turma 04.02.2020 - 7 15 -
* Emenda Regimental 52/2019-STF.

CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS


DJE DE 3 A 7 DE FEVEREIRO DE 2020

ADI 4.714
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 7º, 8º, 9º E 10 DA LEI N. 9.419/2010, DO RIO GRANDE DO
NORTE. FUNDO DE REAPARELHAMENTO DO MINISTÉRIO PÚBLICO – FRMP, COMPOSTO EM PARTE POR RECURSOS
PROVENIENTES DA COBRANÇA EFETUADA EM PROCEDIMENTOS EXTRAJUDICIAIS, SERVIÇOS NOTARIAIS E DE
REGISTRO. ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE FISCALIZAÇÃO DO DEVIDO RECOLHIMENTO DA TAXA. FUNÇÃO
INCOMPATÍVEL COM AS FINALIDADES CONSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO. AÇÃO DIRETA JULGADA
PROCEDENTE. 1. Na Lei estadual n. 9.419/2010 não se trata da atividade notarial e de registro. Cuida-se nela do Fundo
de Reaparelhamento do Ministério Público e das receitas que o compõem. Dentre elas se incluem recursos oriundos
de taxa pelo exercício do poder de polícia incidente sobre a atividade notarial e de registro cuja constitucionalidade foi
reconhecida por este Supremo Tribunal no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3.028 (Relator o
Ministro Marco Aurélio, Redator para o acórdão o Ministro Ayres Britto, Plenário, DJe 1º.7.2010). 2. A fiscalização pelo
Ministério Público não se refere a atos praticados por notários e registradores no exercício da função pública, mas ao
recolhimento de taxa cujas receitas são destinadas ao Fundo de Reaparelhamento do Ministério Público, pelo que não
há interferência na fiscalização da atividade notarial e de registro realizada pelo Poder Judiciário nem ofensa à
competência privativa da União para legislar sobre registros públicos prevista no inc. XXV do art. 22 da Constituição da

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República. 3. Não há reserva absoluta de lei complementar para a fixação das atribuições do Ministério Público, pois
no inc. IX do art. 129 da Constituição se previu a possibilidade de a instituição exercer outras funções que lhe fossem
conferidas e, ao fazê-lo, não se demandou expressamente a edição de lei complementar. Precedente: ADI n. 2.794,
Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, Plenário, DJ 30.3.2007. 4. As atribuições conferidas ao Ministério Público do
Rio Grande do Norte pelos arts. 7º, 8º, 9º e 10 da Lei estadual n. 9.419/2010 são atividades de fiscalização tributária
típicas das Secretarias de Estado de Fazenda, não se relacionando diretamente com as finalidades constitucionais
daquela instituição de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

ADI 5.542
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CRIAÇÃO DE CARGO EM
COMISSÃO. REQUISITOS CONSTITUCIONAIS PARA CRIAÇÃO DE CARGO EM COMISSÃO. ARTS. 1º E 3º AO 9º DA LEI Nº
14.415/2014, DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA E DOMINANTE. PRECEDENTES. 1. A
Associação Nacional dos Servidores do Ministério Público – ANSEMP é entidade de classe de âmbito nacional que
possui por finalidade defender, judicial e extrajudicialmente, direitos e interesses de servidores do Ministério Público
da União e dos Ministérios Públicos dos Estados, ativos e inativos, conforme expresso no art. 2º de seu estatuto social.
Preenchido o critério de pertinência temática 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é pacífica e dominante
no sentido de que os requisitos para criação de cargos em comissão envolvem a aplicação de diversos princípios, tais
como o princípio do concurso público, da moralidade pública, da publicidade, da impessoalidade, da eficiência e da
economicidade, como bem se percebe pela interpretação do art. 37, II e V, da Constituição Federal. A investidura em
cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de
acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações
para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. Os cargos em comissão destinam-se às
atribuições de direção, chefia e assessoramento. 3. Em recente decisão, no julgamento do RE 1.041.210, Rel. Min. Dias
Toffoli, essa Corte fixou tese acerca dos requisitos para a criação de cargos em comissão, quais sejam: a) a criação de
cargos em comissão somente se justifica para o exercício de funções de direção, chefia e assessoramento, não se
prestando ao desempenho de atividades burocráticas, técnicas ou operacionais; b) tal criação deve pressupor a
necessária relação de confiança entre as autoridades nomeante e o servidor nomeado; c) o número de cargos
comissionados criados deve guardar proporcionalidade com a necessidade que eles visam suprir e com o número de
servidores ocupantes de cargos efetivos no ente federativo que os criar; e d) as atribuições dos cargos em comissão
devem estar descritas, de forma clara e objetiva, na própria lei que os instituir. São esses, portanto, os requisitos para
criação de cargos em comissão. Na hipótese, os dispositivos impugnados preenchem todos os requisitos
autorizadores. Nesse sentido, alguns precedentes que contribuíram na formação da tese: ADI 3.706, Rel. Min. Gilmar
Mendes; RE 376.440-ED, Rel. Min. Dias Toffoli; RE 735.788-AgR, Relª. Minª. Rosa Weber; ADI 3.233, Rel. Min. Joaquim
Barbosa; ADI 4.125, Relª. Minª. Cármen Lúcia. 4. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga
improcedente.

ADI 5.940
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES. REDATOR DO ACÓRDÃO: MIN. EDSON FACHIN
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 10.690/2017 DO ESPÍRITO SANTO. OBRIGAÇÃO DE
IDENTIFICAR FUNCIONÁRIOS QUE FOREM PRESTAR SERVIÇOS NO DOMICÍLIO DO CONSUMIDOR. RELAÇÃO DE
CONSUMO. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE. ARTIGO 24, V e VIII, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE. 1. Repartir competências compreende compatibilizar interesses para reforçar o
federalismo em uma dimensão realmente cooperativa e difusa, rechaçando-se a centralização em um ou outro ente e
corroborando para que o funcionamento harmônico das competências legislativas e executivas otimizem os
fundamentos (art. 1º) e objetivos (art. 3º) da Constituição da República. 2. Legislação que impõe obrigação de
informar o consumidor acerca da identidade de funcionários que prestarão serviços em sua residência ou sede
constitui norma reguladora de obrigações e responsabilidades referentes a relação de consumo, inserindo-se na
competência concorrente do artigo 24, V e VIII, da Constituição da República. Precedente: ADI 5745, Relator(a): Min.
ALEXANDRE DE MORAES, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 07/02/2019. 3. Ação
direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.

MANDADO DE SEGURANÇA 30.547


RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

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EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MATO GROSSO. CRIAÇÃO DE VARA ESPECIALIZADA
(PROVIMENTO N. 4/2008). CONCENTRAÇÃO DE AÇÕES JUDICIAIS SOBRE QUESTÕES AGRÁRIAS EM VARA
ESPECIALIZADA (RESOLUÇÃO N. 7/2008). CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA: PRESERVAÇÃO DA COMPETÊNCIA
TERRITORIAL DOS JUÍZOS DAS COMARCAS DO INTERIOR DO ESTADO, CONFORME CRITÉRIOS DOS ARTS. 94 E 95 DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PRELIMINAR DE FALTA DE INTERESSE DE AGIR DO IMPETRANTE REJEITADA. MANDADO
DE SEGURANÇA CONCEDIDO. 1. Não se há cogitar de declaração de inconstitucionalidade de forma direta pelo
Conselho Nacional de Justiça, que fundamentou a preservação da competência territorial dos juízos das comarcas do
interior nos arts. 94 e 95 do Código de Processo Civil. 2. Na Constituição de 1988 se conferiu aos tribunais estaduais
competência para definir a atribuição para ações sobre conflitos fundiários por seus órgãos jurisdicionais (art. 126),
sem exigir ação em que se discute questão agrária no foro da situação da coisa, sob pena de se interpretar a
Constituição da República a partir do Código de Processo Civil. 3. Mandado de segurança concedido.

AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 26.448


RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. NEPOTISMO. SÚMULA
VINCULANTE N. 13. CONCEITO DE PARENTESCO DO CÓDIGO CIVIL. INAPLICABILIDADE. PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE. CARGO DE NATUREZA POLÍTICA. SERVIDOR COM VÍNCULO EFETIVO. CONFLITO DE INTERESSE
CONFIGURADO. APLICABILIDADE DA SÚMULA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O nepotismo
subverte os valores que devem pautar o desempenho das funções administrativas. Ao invés de se avaliar a pessoa
subordinada à autoridade nomeante por critérios de eficiência, privilegiam-se critérios alheios ao bom desempenho
da Administração. 2. A proibição ao nepotismo decorre diretamente dos princípios da impessoalidade, da moralidade
e da eficiência e é evidente que eles também incidem sobre os chamados cargos políticos. Quanto mais próximo da
legitimidade do voto popular, maior a responsabilidade do governante para afastar qualquer conflito de interesse que
possa macular sua atuação. Quanto mais alto o cargo, maior deve ser a exigência pela obediência incondicional à
Constituição e a seus princípios. 3. Quando a nomeação para cargo ou a designação para função recai sobre servidor
que tem relação de parentesco ou relação íntima com a autoridade nomeante, há incidência da Súmula Vinculante n.
13, mesmo se houver vínculo efetivo, pois, nesses casos, tal como se dá com a nomeação de quem não o tem, o
exercício do cargo passa a atender critérios que não são exclusivamente públicos e a confiança que se deve ter no
desempenho da função pública é prejudicada. 4. O conceito de parentesco para efeitos da incidência da Súmula não
coincide com o do Código Civil, pois o problema não é de definir quais são os parentes para efeitos civis, mas definir
quais aquelas pessoas que, sob a classe de parentela, tendem a ser escolhidas, não por interesse público, mas por
interesse de caráter pessoal. Precedentes. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.

AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 34.560


RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. VENDA DE SUBSIDIÁRIA DA PETROBRÁS. LEGISLAÇÃO
INFRACONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA APRECIAR O
PEDIDO DE SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. INOCORRÊNCIA DE USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. ALEGAÇÃO IMPROCEDENTE. 1. Compete ao Presidente do Superior Tribunal de Justiça apreciar pedido de
suspensão de segurança quando a decisão proferida estiver fundamentada em normas infraconstitucionais.
Precedentes. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
3 A 7 DE FEVEREIRO DE 2020

Lei nº 13.979, de 6.2.2020 - Dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019. Publicado no DOU em
07.02.2020, Seção 1, Edição 27, p. 1.

OUTRAS INFORMAÇÕES
3 A 7 DE FEVEREIRO DE 2020

Informativo 965-STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 33


Informativo
comentado

Decreto nº 10.221, de 5.2.2020 - Institui o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica
na Amazônia Legal - Mais Luz para a Amazônia. Publicado no DOU em 06.02.2020, Seção 1, Edição 26, p. 6.
Decreto nº 10.222, de 5.2.2020 - Aprova a Estratégia Nacional de Segurança Cibernética. Publicado no DOU em
06.02.2020, Seção 1, Edição 26, p. 6.
Decreto nº 10.224, de 5.2.2020 - Regulamenta a Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989, que cria o Fundo Nacional do
Meio Ambiente. Publicado no DOU em 06.02.2020, Seção 1, Edição 26, p. 21.
Decreto nº 10.225, de 5.2.2020 - Institui o Comitê Gestor da Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do
Suicídio, regulamenta a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio e estabelece normas relativas à
notificação compulsória de violência autoprovocada. Publicado no DOU em 06.02.2020, Seção 1, Edição 26, p. 21.
Decreto nº 10.226, de 5.2.2020 - Altera o Decreto nº 9.306, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Juventude,
instituído pela Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013. Publicado no DOU em 06.02.2020, Seção 1, Edição 26, p. 22.
Decreto nº 10.228, de 5.2.2020 - Altera o Decreto nº 9.492, de 5 de setembro de 2018, que regulamenta a Lei nº
13.460, de 26 de junho de 2017, para dispor sobre o Sistema de Ouvidoria do Poder Executivo federal e instituir os
conselhos de usuários dos serviços públicos no âmbito da administração pública direta, indireta, autárquica e
fundacional do Poder Executivo federal. Publicado no DOU em 06.02.2020, Seção 1, Edição 26, p. 27.
Decreto nº 10.231, de 6.2.2020 - Distribui o efetivo de Oficiais da Aeronáutica em tempo de paz para 2020. Publicado
no DOU em 07.02.2020, Seção 1, Edição 27, p. 2.
Decreto nº 10.232, de 6.2.2020 - Distribui o efetivo de Oficiais e Praças do Exército em tempo de paz para 2020.
Publicado no DOU em 07.02.2020, Seção 1, Edição 27, p. 3.
Supremo Tribunal Federal – STF
Secretaria de Documentação
Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência
cdju@stf.jus.br

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