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Safo e o páthos

Safo nasceu por volta de 630 a.C. em Lesbos, mais especificamente em Erésos
ou Mitilene, cidades que constituem tal ilha. O conteúdo que existe sobre a vida de Safo
é retirado de fragmentos escritos por outras pessoas, entretanto, tudo indica que a
poetisa, tão renomada que, séculos depois de sua morte, foi chamada por Platão de “a
décima musa”, vinha de família rica, casou-se cedo com Cercilas e teve uma filha
chamada Cleis. Também é sabido que a poetisa permaneceu parte de sua vida na Sicília,
exilada por razões políticas ou simplesmente por ter se casado. Ademais, diz-se que
Safo teria se envolvido com mulheres no culto à Afrodite. Nunca foi comprovado,
porém, o suposto romance com o poeta Alceu.

Considerada a maior poetisa grega do gênero lírico, Safo destaca-se por ser um
nome feminino na poesia arcaica da Grécia. Seu local de origem, a ilha de Lesbos,
considerada o centro da cultura Eólica, proporcionava mais liberdade feminina do que
os outros lugares da Grécia Antiga, de modo que as mulheres de Lesbos começaram a
ser vistas de modo pejorativo. Apesar disso, esse contexto possibilitou o nascimento de
Safo como um fenômeno literário.

De acordo com Tullius Laurea, Safo escreveu nove livros de odes, epitalâmios,
elegias e hinos, contudo, pouco de tais obras chegou à contemporaneidade. Os livros
parecem ter sido organizados de acordo com a métrica da poesia. Por exemplo, o
primeiro livro, só contém poemas escritos em sáfico, um tipo de verso que ela inventou.
O sáfico consiste em uma estrofe de quatro linhas, sendo que as três primeiras linhas
têm onze sílabas cada e a quarta linha, cinco.

Os poemas pessoais e amorosos de Safo evidenciam a vida próspera que ela


vivia. Esses eram, em sua maioria, dedicados de forma terna à sua filha ou à suas
companheiras, além de serem compostos em dialeto eólico e vários tipos de metro,
dirigidos à declamação individual. Outrossim, eles deixavam claro o talento e o grande
conhecimento da mousiké, ou seja, a arte das musas, por parte da poetisa. Safo, além de
compor poemas, também era professora para jovens mulheres. Nessa função, ela
ensinava música, canto, dança e maneiras de viver feliz com o marido, isto é, a arte do
bem viver. Nesse núcleo, a maternidade não era tão celebrada, e sim o prazer, o
erotismo e o amor, temas presentes em sua poesia.
Diz-se que Safo era, indubitavelmente, mestra na arte da poesia, já que abordou
o amor melhor que outros poetas, exatamente por nunca ter o definido em uma sentença.
Nesse sentido, o papel da poetisa era apresentar o páthos que aflorava durante as
situações de intimidade abordadas em seus poemas. Tal conceito de páthos possui uma
multiplicidade de sentidos positivos e negativos, de maneira que se apresenta nos
poemas de Safo como uma paixão (positivo) que é tão avassaladora e intensa que causa
sofrimento, chegando a se manifestar como sintomas de uma doença misteriosa e
angustiante (negativo). De acordo com Meneses (2013), “Pathos, assim, é o que se
experimenta, por oposição ao que se faz, isto é, tudo o que afeta o corpo ou a alma, no
bem e no mal. Põe-se à luz a ligação entre afeto e afetado”.

Desse modo, pode-se exemplificar as expressões do páthos na poesia de Safo


em diversos momentos. No fragmento 75, a poetisa escreve: “os que são meu bem-
querer,/ esses me trazem dores”, clara expressão da paixão que irrompe como uma
doença. O mesmo ocorre no poema A Átis, um dos poucos que restaram praticamente
completos: “me faz com pavor bater o coração no peito;/ eu te vejo um instante apenas e
as palavras/ todas me abandonam;”. Fica perceptível que o tema e a multiplicidade de
sentidos desse conceito é recorrente na poesia de Safo.

É possível afirmar que há uma impressionante originalidade na obra de Safo,


aclamada pela beleza de sua expressão das emoções, intensas e profundas. Não se sabe
ao certo a data e o motivo de sua morte, apesar de existirem lendas sobre tal
circunstância. O que é indiscutível é sua tamanha relevância para a poesia Lírica e para
a história da Literatura como um todo.

Referências:

NOGUEIRA, Ricardo de Souza. AS EXPRESSÕES DO PÁTHOS NO FRAGMENTO 31


(PAGE), DE SAFO. ΤΟ ΕΛΛΗΝΙΚΟ ΒΛΕΜΜΑ – O OLHAR GREGO - No.1/2016 –
UERJ – Brasil. URL: https:///e-
publicacoes.uerj.br/index.php/ellinikovlemma/article/view/27334

RIBEIRO, JR. W.A. Safo. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. URL:
http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0201. Consulta: 20/11/2019.
MENESES, Adélia Bezerra de. Mito e paixão: o ciúme. Safo, Lupicínio, Caetano. Ide
(São Paulo) [online]. 2013, vol.35, n.55 [citado  2019-11-20], pp. 219-233. URL:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
31062013000100018&lng=pt&nrm=iso. ISSN 0101-3106.

MENDONÇA, William. Coletânea Histórias de Poetas. Rio de Janeiro, 2009. URL:


http://recantodasletras.com.br/biografias/1551946. Consulta: 20/11/2019.

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