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A escritora cearense Isabela Pinho Pessoa Fontenele, por exemplo, possui trajetória
semelhante a do autor paulista – que, neste dia 18 de abril, completaria 137 anos. Feito
Lobato, ela também recebeu o impulso dos pais para ingressar entre diferentes
narrativas, algo iniciado há cinco anos, quando deu os primeiros passos na leitura.
E do assunto Isabela entende bem. Com apenas nove anos de idade, ela tem, no
currículo, a publicação de “Em Jambutim”, obra que percorre um universo mágico de
cores e reflexões, lançada no ano passado pela Aprender Editora.
O livro "Em Jambutim", de Isabela Pinho, narra história atentando para o cuidado com a
natureza Foto: Bruno Mota
Enfatizar o marcar ideias no papel como forma de expressar uma visão de mundo –
enquanto criança que sente, percebe e registra o cotidiano – é oportuno neste 18 de
abril, considerado Dia Nacional do Livro Infantil. A data, instituída em 2002 como
maneira de homenagear o escritor mencionado no início deste texto, é gatilho para
tecermos considerações a respeito de qual é o rosto da literatura voltada para crianças na
contemporaneidade e como elas apreendem aquilo que está nas entrelinhas a partir do
ofício de mediadores e incentivadores do ler.
Estímulo
Para deixar tudo no melhor molde de livros escritos por crianças para crianças, a
recomendação foi que a autora reescrevesse alguns trechos e fizesse ilustrações – estas
ganharam maior amplitude a partir da intervenção sensível de Rafael Barbosa,
ilustrador cearense, e entraram para a obra. O material, não à toa, foi adotado como
livro paradidático em inúmeras escolas da rede pública do Estado, fruto do projeto
Pequenos Grandes Escritores, desenvolvido pela casa de publicação do exemplar.
"Em Jambutim", escrito por Isabela Pinho Pessoa Fontenele, é a primeira obra a integrar
o projeto "Pequenos Grandes Escritores", da Aprender Editora
“A gente fica muito feliz com o alcance porque todos nós, da família, gostamos muito
de ler. Prezamos pelo fato de ela poder se expressar, dar voz ao que pensa. Isso é muito
bacana”, dimensiona Anapaula, afirmando que já foram vendidos mais de 1.700
exemplares da obra e que um lançamento oficial está sendo articulado para acontecer
em breve – até agora, ganhou repercussão apenas no contexto escolar.
“Belinha sempre comenta que outras crianças começaram a escrever depois de conhecer
o livro dela. Pela proximidade etária, elas também acreditam ser possível criar alguma
história no papel”, completa. A mãe adianta ainda que outro projeto da filha está no
prelo, possivelmente caminhando por uma temática que também convide à reflexão.
“Acho, inclusive, que os livros voltados para crianças hoje tratam de assuntos
importantes, como inclusão social, por exemplo, algo que não víamos muito nas
histórias de antigamente”, opina Anapaula.
Por sua vez, Ana Cristina Miranda reflete que o mercado contemporâneo voltado para o
público infantil vem crescendo a passos largos. “É interessante sobretudo destacar o
protagonismo das crianças nas obras. Os temas do dia a dia, permeado pela fantasia e
‘invencionices’ inerentes a elas, são atrativos e despertam o interesse de ler, tanto dos
pequenos quanto dos adultos. Também os clássicos que estão vindo com novas
roupagens encantam e despertam”.
Contribuição
Abaixo, veja vídeo de divulgação do novo livro infantil de Sérgio Magalhães e Kátia
Castelo Branco, "As aventuras da Princesinha Cereja e o Príncipe de Chocolate":
Dia Nacional do Livro Infantil: conheça pessoas que incentivam a literatura entre
crianças https://t.co/I6v8fWQk8J pic.twitter.com/TWeiKL38w6
O primeiro livro gestado desse movimento foi “Romeu e Julieta em cordel”. Na obra,
a clássica história do bardo inglês ganha roupagem regional a partir do olhar de
representantes do litoral oeste e da região da Ibiapaba, onde os dois autores residem.
“Temos também outros seis títulos, que alcançam o infantil I, II, III e Fundamental I e
II, valorizando nossa cultura nordestina”, sublinha Sérgio.
Kátia Castelo igualmente tem fala segura ao afirmar que é preciso sensibilidade para
conduzir a contação das narrativas – estas, nas mãos da dupla, contando até mesmo com
indumentária própria. “Precisamos direcionar as crianças, por meio das histórias, a
sentirem amor pelo próximo, respeitar cada um em sua individualidade e, ao mesmo
tempo, na coletividade. A emoção que devemos cultivar para sentir o melhor o outro”.
Sérgio Magalhães e Kátia Castelo Branco formam dupla desde 2013 e ressoam literatura
para crianças de escolas públicas do Ceará Foto: Inácio Fernandes
Instrumento
Maria Castro tem trajetória profissional ligada ao público infantil Foto: Arquivo Pessoal
Com três obras publicadas – “No Reino dos Panos e das Linhas”, “A Menina
Marilua e Sua Ave Rainha” e “Um Fio de História”, todas voltadas para o público
infantil – e mais três inéditas em ritmo de aguardo do contato de editoras para chegar
aos olhos dos leitores e leitoras, Maria, ao ser questionada sobre o que fica mais
evidente para as crianças brasileiras neste dia de comemoração do Dia Nacional do
Livro Infantil, assegura: “Elas precisam do lúdico, do brincar, do ouvir boas, belas e
verdadeiras histórias”.
“Precisam desenvolver suas imaginações para que possam desenvolver também seus
sonhos. Precisam de adultos criativos em sua volta, que brinquem com elas, que lhes
contem histórias e estórias e versos e canções. Cantem para as crianças, brinquem com
elas, leiam para elas. Renasçamos em nós mesmos nossas próprias crianças e
colaboraremos para um mundo melhor”.