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Material Digital do Professor

AUTORIA
Juliana Teixeira Ligorio
Especialista do Instituto Avisa Lá
COORDENAÇÃO
Ana Carolina Carvalho
Coordenadora do Instituto Avisa Lá
Material Digital do Professor

AUTORIA
Juliana Teixeira Ligorio
Especialista do Instituto Avisa Lá
COORDENAÇÃO
Ana Carolina Carvalho
Coordenadora do Instituto Avisa Lá

LIVRO
Os vizinhos
AUTORA E ILUSTRADORA
Einat Tsarfati
TRADUTOR
George Schlesinger
CATEGORIA
Creche II
ESPECIFICAÇÃO DE USO
Para que o professor leia para crianças bem pequenas
TEMAS
Diversidade cultural; Relacionamento pessoal e
desenvolvimento de sentimentos de crianças nas escolas,
nas famílias e nas comunidades (urbanas e rurais);
Aventuras em contextos imaginários ou realistas,
urbanos, rurais, locais, internacionais
GÊNERO LITERÁRIO
Narrativos: fábulas originais, da literatura
universal e da tradição popular, etc.
Conteúdo
Instituto Avisa Lá — Formação Continuada de Educadores

Coordenação
Ana Carolina Carvalho

Revisão
Ana Luiza Couto
Aminah Haman

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)


Angélica Ilacqua crb-8/7057
Ligorio, Juliana Teixeira
Material digital do professor : Os vizinhos / Juliana
Teixeira Ligorio ; coordenação de Ana Carolina Carvalho,
Instituto Avisa Lá. — 1a ed. — Rio de Janeiro : Pequena
Zahar, 2021.

Bibliografia
isbn 978-65-88899-13-7

1. Literatura infantil — Estudo e ensino 2. Material de


apoio ao professor i. Título ii. Tsarfati, Einat. Os vizinhos
iii. Carvalho, Ana Carolina iv. Instituto Avisa Lá

21-1765 cdd 372.64044


Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura infantil — Estudo e ensino 372.64044

2021
Todos os direitos desta edição reservados à
editora pequena zahar ltda.
Praça Floriano, 19, sala 3001, parte C — Cinelândia
20031-050 — Rio de Janeiro — rj
Telefone: (21) 3993-7510
Carta

Cara educadora, caro educador,

Neste material você vai encontrar apoio para trabalhar com o livro Os vi-
zinhos. Desde já, enfatizamos que as propostas aqui apresentadas são sobre-
tudo sugestões e não pretendem esgotar as possibilidades de leitura da obra.
Ele é composto dos seguintes itens:
Contextualização da obra: informações e aspectos importantes sobre
o livro, a autora e ilustradora e o tradutor.
Por que ler este livro na Educação Infantil?: relações com competên-
cias gerais e campos de experiência da Base Nacional Comum Curricular
(bncc), reforçando como a obra contribui para a formação leitora das
crianças nessa etapa escolar.
Conversas em torno da leitura deste livro: aspectos importantes pa-
ra a experiência literária, assim como para o planejamento de uma leitu-
ra dialogada com as crianças.
Outras propostas de leitura com as crianças: sugestões para explo-
rar a literacia familiar, para trabalhar a leitura pelas próprias crianças e
para ampliar os laços com outros leitores.
Bibliografia comentada: obras usadas para elaborar este material,
com um breve comentário.
Indicação de leituras complementares: sugestão de materiais que
dialogam com os conteúdos e temas abordados e contribuem para o tra-
balho do(a) educador(a).

Este Material digital do professor foi produzido com a supervisão do Ins-


tituto Avisa Lá — Formação Continuada de Educadores, organização da so-

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ciedade civil sem fins lucrativos que vem contribuindo, desde 1986, para
qualificar a prática educativa nos centros de Educação Infantil, creches e
pré-escolas públicas. Junto com as redes de Ensino Fundamental, o Insti-
tuto Avisa Lá desenvolve ações de formação para profissionais de educação
visando à competência da leitura, escrita e matemática dos estudantes nos
anos iniciais.
A coordenação pedagógica do Avisa Lá acompanhou a redação e a edição
do material escrito por especialistas em leitura e escrita. O manual também
contou com a leitura crítica de toda a equipe envolvida na produção editorial.
Nossa intenção foi indicar caminhos para que você, educador(a), possa
mediar uma experiência literária significativa para bebês e crianças da Edu-
cação Infantil, contribuindo para que eles possam construir sentidos na leitu-
ra, ampliando suas referências estéticas e literárias.

Bom trabalho!

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Contextualização da obra

Em Os vizinhos acompanhamos uma menina curiosa subindo os degraus do


prédio onde mora. Seguindo pistas encontradas na porta dos apartamentos,
ela cria histórias e mundos para os moradores, imaginando o que fazem den-
tro de casa. Junto com a representação das possíveis vidas de seus vizinhos
criada pela menina, nós também ampliamos nossa imaginação ao entrar em
contato com a diversidade de personagens e seus ambientes, ilustrados com
uma infinidade de detalhes, cores e objetos interessantes. E, no fim desse tra-
jeto, também conhecemos a casa da protagonista.
O mundo criado para cada vizinho também estabelece pontes com um
repertório comum de histórias que povoam o mundo infantil: traz como

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personagens piratas, caçadores, vampiros e super-heróis e possibilita relações
de intertextualidade com outras narrativas, além de possibilitar que as crian-
ças lancem mão de seu repertório acerca dos mundos habitados por esses
personagens. E, ainda que apresente referências conhecidas para as crianças,
a narrativa não deixa de ser permeada pelo elemento surpresa: a cada por-
ta um jogo de adivinhação é proposto ao leitor. Que mundo encontrará em
seguida? Quais pistas a porta de entrada lhe dá? Por todos esses aspectos, o
livro foi muito aclamado pela crítica em diferentes lugares do mundo.
O livro ilustrado Os vizinhos possibilita muitas leituras e conversas, pois
traz grande riqueza de elementos no diálogo que propõe entre o texto, as
imagens e o design gráfico, além de oferecer uma entrada para temas diver-
sos, como a diferença entre as pessoas e a forma de morar, o que de incrível
tem na casa de cada um e os mundos que habitam. É um convite que tem mui-
to a ver com a própria experiência de leitura literária, que tanto nos instiga a
imaginar outros mundos possíveis, para além da nossa existência.
Nessa obra de Einat Tsarfati, as ilustrações constituem uma verdadeira
brincadeira. O título certamente se encaixa na categoria de livro álbum ou
ilustrado, mas também convida o leitor para um jogo de procure e ache, ha-
ja vista a quantidade de detalhes nos cenários de cada casa — o que, além
de instigar a curiosidade do leitor em relação aos ambientes, contribui para
tornar ainda mais desafiadora a proposta de encontrar o pequeno animal em
todos os apartamentos (ver p. 7). Procurar o bichinho apresentado no início
do livro, assim como procurar os elementos do quarto da menina no apar-
tamento dos vizinhos, ou até mesmo procurar na ilustração a dica do que
haverá dentro de cada porta (na casa dos ladrões: as trancas e a câmera de se-
gurança; na casa do caçador: pegadas de lama e plantas, a menina lendo um
livro sobre a selva; na casa dos acrobatas: a mola descendo a escada, dando
piruetas e se equilibrando; na casa do vampiro: o estilista vestindo quimono
com asa de morcego, a luz apagada; na casa do pirata e da sereia: água e la-
gosta na porta etc.).

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Livro ilustrado

De imediato, o livro ilustrado evoca duas linguagens: o texto e a ima-


gem. Quando as imagens propõem uma significação articulada com
a do texto, ou seja, não são redundantes à narrativa, a leitura do livro
ilustrado solicita apreensão conjunta daquilo que está escrito e daqui-
lo que é mostrado. (van der linden, Sophie. Para ler o livro ilustrado. São
Paulo: sesi-sp Editora, 2018, p. 8.)

A organização em duplas favorece a fruição da leitura. O livro ilustra-


do, de um modo particular, se baseia nesse encadeamento mais que
qualquer outro suporte, o discurso completo é percebido na escala do
livro, na sequência das páginas viradas. (Ibidem, p. 87.)

A autora, Einat Tsarfati, nasceu em Israel e formou-se em comunicação


visual pela Academia Bezalel de Artes e Design, em Jerusalém. É autora de
livros infantis e produz ilustrações não só para seus livros, mas também para
de outros autores, assim como para revistas, brinquedos, aplicativos e outros
suportes digitais. O livro Os vizinhos ganhou o prêmio israelense Ha-Pinkas
e já foi traduzido para mais de dez idiomas. A edição brasileira foi traduzida
direto do hebraico por George Schlesinger, que tem muitos outros títulos tra-
duzidos no Brasil. Também do hebraico, ele traduziu, entre outros livros, Ga-
roto zigue-zague, de David Grossman, Eu sou proibida, de Anouk Markovitz, e
Os judeus e as palavras, de Amós Oz e Fania Oz-Salzberger. E do inglês tradu-
ziu, entre outros, romances de Henning Mankell (como O guerreiro solitário
e O homem de Beijing) e o livro Desvendando o cosmo: Como a matemática nos
ajuda a compreender o Universo, de Ian Stewart.

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Por que ler este livro
na Educação Infantil?

A leitura em voz alta de Os vizinhos feita pelo(a) educador(a) possibilita que


as crianças acompanhem o texto verbal narrando o que a menina vê e imagi-
na, enquanto elas observam as ilustrações, que retratam, com humor e mui-
tos detalhes, todo um universo criado pela protagonista.
O texto enxuto versus uma ilustração exuberante coloca o leitor em posi-
ção de observador extremamente atento aos cenários, renovando de um jeito
muito particular a relação entre as linguagens verbal e visual. O projeto gráfico
da obra também contribui para a construção de sentidos, já que o espaço nar-
rativo é inteiramente composto de páginas duplas, tanto na composição do hall
como no interior dos apartamentos. Isso permite marcar um contraponto entre
dentro (imaginação, profusão de elementos) e fora (aspectos mais colados na
realidade, porém com detalhes e pistas disparadoras da imaginação) dos apar-
tamentos. Faz-se, desse modo, uma ponte entre o real e o imaginário e um con-
vite para o leitor habitar esse mundo — e para criar outros. Convivendo com as
crianças da Educação Infantil, percebemos o quanto elas constroem uma noção
de mundo com base em paradigmas imaginários deslumbrantes, uma noção
que lhes permite pensar e considerar novas maneiras de estar no mundo.

A primeira infância é a etapa da vida em que se aprende a simbolizar, e


simbolizar é a base da experiência de pensamento. Sem brincar, sem
cantar, sem ler ou ouvir histórias ficcionais é difícil enriquecer a capaci-
dade de pensar. Que lugar conferimos à palavra lúdica e poética, à lei-
tura e à presença dos livros na vida das crianças é uma questão sobre a
capacidade de pensamento de uma sociedade, por sua habilidade para
inventar e reverter o estado das coisas. (lópez, María Emilia. Um mundo
aberto: Cultura e primeira infância. São Paulo: Selo Emília, 2018, p. 78.)

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Com a leitura desse livro na Educação Infantil, podem ser contempladas
pelo menos duas competências gerais da Educação Básica propostas pela Ba-
se Nacional Comum Curricular (bncc).

Competência 3
Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das
locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da
produção artístico-cultural.

Competência 4
Utilizar diferentes linguagens — verbal (oral ou visual-motora, como
Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital —, bem como co-
nhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se
expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos
em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendi-
mento mútuo.

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Além disso, a condução da leitura da narrativa feita por um adulto e o
contato individual de cada criança com o livro possibilita trabalhar diversos
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento relacionados aos campos de
experiência da bncc.

O eu, o outro e o nós


(EI02EO03) Compartilhar os objetos e os espaços com crianças
da mesma faixa etária e adultos.
(EI02EO04) Comunicar-se com os colegas e os adultos, buscan-
do compreendê-los e fazendo-se compreender.
(EI02EO06) Respeitar regras básicas de convívio social nas intera-
ções e brincadeiras.

Corpo, gestos e movimentos


(EI02CG05) Desenvolver progressivamente as habilidades manuais,
adquirindo controle para desenhar, pintar, rasgar, folhear, entre outros.

Escuta, fala, pensamento e imaginação


(EI02EF01) Dialogar com crianças e adultos, expressando seus
desejos, necessidades, sentimentos e opiniões.
(EI02EF03) Demonstrar interesse e atenção ao ouvir a leitura de
histórias e outros textos, diferenciando escrita de ilustrações, e
acompanhando, com orientação do adulto-leitor, a direção da
leitura (de cima para baixo, da esquerda para a direita).
(EI02EF04) Formular e responder perguntas sobre fatos da his-
tória narrada, identificando cenários, personagens e principais
acontecimentos.
(EI02EF08) Manipular textos e participar de situações de escuta
para ampliar seu contato com diferentes gêneros textuais (par-
lendas, histórias de aventura, tirinhas, cartazes de sala, cardápios,
notícias etc.).

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Conversas em torno
da leitura deste livro

Para que as crianças tenham de fato uma experiência com a leitura literária,
é preciso considerar alguns aspectos importantes no planejamento da leitu-
ra dialogada que você realizará com o grupo. Um deles é a organização
do espaço: convém deixar o ambiente aconchegante e convidativo (com os
recursos disponíveis na escola), mas ao mesmo tempo, se possível, com al-
gum espaço para circulação, caso elas queiram se movimentar e se levantar.
Quando estiver lendo o livro e mostrando as páginas, é importante que todas
as crianças consigam ver as ilustrações, uma vez que, além de serem funda-
mentais para a compreensão da história, criam uma relação especial com a
leitura e desenvolvem competências importantes para o leitor, que passa a
considerar essas duas linguagens para a construção de sentidos.

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Procure estimular as crianças a expressarem suas ideias e opiniões sobre
a história. Acolher e valorizar o que comentam, discutir suas dúvidas, ajudá-
-las a ouvir a opinião dos colegas e pensar sobre o que ouvem contribui para
que uma possa ser beneficiada pela competência da outra e que, assim, sejam
capazes de ampliar a própria compreensão da narrativa. Ao mesmo tempo,
desse modo, os pequenos vão aprendendo comportamentos leitores típicos
dessas situações de leitura.

De acordo com a educadora argentina Delia Lerner, comportamen-


tos leitores são as ações que os leitores fazem quando leem — e
podem ser ensinados às crianças. Entre esses comportamentos, há
aqueles que são compartilhados com outros leitores (como a con-
versa sobre o lido), ao passo que outros ocorrem em uma esfera mais
íntima (como pular trechos que não interessam em uma leitura).
Em Ler e escrever na escola: O real, o possível e o necessário
(Porto Alegre: Artmed, 2002, pp. 62-3), ela apresenta alguns exem-
plos de comportamentos do leitor:

• Comentar ou recomendar o que leu.


• Compartilhar a leitura.
• Confrontar com outros leitores sua interpretação sobre um livro
ou uma notícia.
• Antecipar o conteúdo do texto com base na foto.
• Reler para verificar o que foi compreendido.
• Saltar o que não se entende ou não interessa.

Os vizinhos possibilita muitas interações verbais, pois desperta a curio-


sidade e diferentes olhares sobre cada ilustração, sugerindo boas situações
de leitura dialogada, a começar pela da capa. Em uma primeira leitura com
a turma, a porta de entrada para o livro pode ser a observação da capa e do
título, seguida de alguns questionamentos:

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O meu prédio tem sete andares. Cada andar tem uma porta
um pouquinho diferente. E atrás de cada porta se esconde uma surpresa.
Venha comigo e você verá!

Os vizinhos
Enquanto sobe os andares de seu prédio, uma menina imagina o que está
por trás das portas dos apartamentos de seus vizinhos. Será que a porta
cheia de fechaduras pertence a uma família de ladrões? E a porta com
pegadas de lama, pode esconder um tigre de estimação? Mas a coisa mais

Einat Tsarfati
incrível talvez esteja em sua própria casa.

Uma deliciosa viagem que, a cada página, apresenta um novo mundo de


infinitos detalhes e surpresas criados com singular delicadeza pela autora e
ilustradora israelense Einat Tsarfati.
Tradução: George Schlesinger

Livro vencedor do prêmio Ha-Pinkas, de Israel


Traduzido para mais de dez idiomas

Osvizinhos_CAPA_LP_PNLD2022.indd 1 12/08/2021 18:06

• Qual história vocês acham que é contada neste livro, que se chama
Os vizinhos?
• Como imaginam que é essa menina que aparece na capa?
• Onde acham que estão todas essas coisas atrás da menina? E ela,
onde parece estar?

Nas páginas iniciais do livro (pp. 1 e 4), encontramos a menina andando


com seu guarda-chuva e depois o fechando. O fundo é branco. Importante
chamar a atenção para o fato de a narrativa ter início com as ilustrações,
antes mesmo da folha de rosto. Essa é uma característica do livro ilustra-
do contemporâneo, que nem sempre segue a ordem tradicional dos livros.
Aqui mais perguntas podem ser feitas para antecipar a história, ajudando as
crianças a criar hipóteses para a narrativa:

• Será que ela saiu de casa?


• Onde será que ela vai?

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Logo depois encontramos a página com uma dedicatória, onde há tam-
bém um convite para que os leitores encontrem um bichinho ao longo do
livro. Nesse momento, sugere-se instigar as crianças:

• Vamos ficar atentos durante a leitura para encontrar esse bichinho?

Na folha de rosto, a menina está com uma chave na mão (p. 5). Na p. 36
do livro, essa chave será usada. Esse detalhe pode ser um elemento a ser ex-
plorado em uma nova leitura da obra.
Nas páginas duplas 8-9, a menina anda com seu guarda-chuva aberto na
calçada e nos conta, pelo texto verbal, que seu prédio tem sete andares. Nas
páginas seguintes, ela entra no prédio e ficamos sabendo que cada andar tem
uma porta um pouquinho diferente, e então seguimos para acompanhá-la
pelos andares e pelo mundo que imagina por detrás de cada porta. Esse é
um bom momento para questionar os pequenos sobre como é o lugar que
moram, estimulando assim que desenvolvam a fala e a construção de um dis-
curso visando contar coisas que observam e vivem.

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• Vocês moram em casa ou apartamento?
• Como é a entrada da casa de vocês?
• Quem tem vizinho? Como eles são?

Nas pp. 12-3 vemos a entrada do primeiro apartamento e a menina vai


descrever como é a porta, contar sobre a família de ladrões que moram lá e o
que eles guardam. E segue assim por todos os andares, por isso pode ser in-
teressante formular perguntas para que as crianças imaginem, com as pistas
da entrada, quem mora em cada apartamento e como pode ser o ambiente. A
criação de hipótese sobre os moradores e o ambiente estimula o envolvimen-
to da turma com a narrativa e contribui para a leitura dialogada.

• Como é essa entrada do apartamento?


• Quem será que mora nele?
• Por que você acha isso?
• O que deve ter lá dentro?
• O que os moradores devem estar fazendo?

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A leitura prévia do livro, feita pelo(a) mediador(a), e um detalhado pla-
nejamento para a leitura dialogada possibilitam elaborar ou selecionar per-
guntas que podem instigar a participação do grupo. Ouvir as crianças e aju-
dá-las a encontrar no texto ou nas ilustrações a justificativa para as hipóteses
delas ou confrontar-se com caminhos diversos na narrativa é extremamente
importante para a formação leitora, na medida em que aciona estratégias
de antecipação, inferência e verificação, que são aprendizagens cruciais na
leitura, bem como contribui para que os leitores possam aprender a consoli-
dar suas hipóteses baseando-se no texto e na ilustração.

Quando o professor recorre ao próprio texto para que seja ele a


responder às novas perguntas ou, mesmo que as deixe em aber-
to, estará indicando aos leitores o caminho para que consolidem
sua argumentação a partir da materialidade do que as palavras e as
ilustrações dizem ou calam. (bajour, Cecilia. Ouvir nas entrelinhas:
O valor da escuta nas práticas de leitura. São Paulo: Pulo do Gato,
2020, p. 68.)

A partir da imaginação da menina e instigados pela observação dos deta-


lhes na porta dos vizinhos, conhecemos os moradores de seis apartamentos e
o ambiente deles. São muitos os elementos em cada apartamento, e em todos
temos o desafio de encontrar o animalzinho perdido. Essa busca pode ser feita
durante a leitura dialogada e coletiva ou ser deixada para o momento da lei-
tura individual, na qual cada criança vai estar com seu livro em mãos.
Chegamos ao sétimo andar (pp. 36-7) e à casa da menina e de seus pais
(pp. 38-9).

• Como deve ser a casa desta menina?


• A porta da casa nos dá alguma dica do que vamos encontrar lá den-
tro? Existe algum detalhe que nos revela que alguma coisa pode ser
diferente na casa da menina?
• O que vocês acham que os pais dela estão fazendo lá dentro?

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Vemos a cozinha e parte da sala, com uma mesa com comida, sofá, gato,
flores... E a menina nos conta que os pais são sem graça. Serão mesmo? Po-
de-se instigar as crianças a procurar elementos curiosos nessa sala aparente-
mente comum: quais seriam eles? Essa é uma chave de leitura importante
nessa narrativa, pois o fim do livro surpreende o leitor, que estava sendo le-
vado a acreditar que a vida da menina era completamente normal em relação
à vida imaginada para os vizinhos. Na última página, o cenário mistura fan-
tasia com objetos da realidade: pais super-heróis, mãe voando, nave espacial,
patins, telefone, caixa de costura e... uma fantasia sendo feita para a menina,
coroando esse limite tênue entre real e imaginário, entre sonho e realidade.
Nesse momento, pode-se perguntar:

• Vocês imaginaram que os pais da menina eram super-heróis?


• E a menina, será que sabe o que seus pais fazem enquanto ela dorme?
• Para quem será essa fantasia que os pais estão costurando? Por que
acham isso?

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Outro aspecto que pode ser explorado nesse final é o cenário do quarto,
repleto de referências aos objetos que vimos na casa dos vizinhos, o que é
uma boa oportunidade para estimular a observação das crianças:

• Quanta coisa vemos no quarto da menina! Será que conseguimos en-


contrar objetos parecidos com os que apareceram nos vizinhos?

Após terminar a leitura, você pode perguntar aos pequenos onde vivem e
como é a casa onde moram e a dos vizinhos. Dessa forma, podem conversar
um pouco sobre as diferenças entre as pessoas e as diversas formas de morar
e também sobre o que há de incrível e importante no mundo delas.
Os vizinhos é um livro ilustrado com imensa riqueza de detalhes, o que
possibilita que a cada nova leitura se possa ter um novo olhar e ampliar ain-
da mais a compreensão da narrativa. É, portanto, um livro para ler muitas e
muitas vezes!
Importante lembrar que esse momento de leitura compartilhada propor-
ciona colocar em prática alguns direitos de aprendizagem e desenvolvimento
que a bncc propõe para a Educação Infantil: conviver, brincar, participar, ex-
plorar, expressar e conhecer-se.

19
Outras propostas de leitura
com as crianças

LEITURA PELA CRIANÇA


Até aqui enfatizamos a leitura feita pelo(a) educador(a), que atua como um
modelo, explicitando comportamentos leitores, mediando a leitura e a con-
versa entre leitores, a fim de ampliar a experiência leitora das crianças. No
entanto, essa não é a única prática importante a ser realizada com crianças
pequenas. Após a leitura de Os vizinhos, é fundamental que elas manipulem
o livro, explorando-o com o próprio corpo, vendo de perto aspectos e de-
talhes das ilustrações, retomando trechos mais emocionantes ou divertidos
da história, aventurando-se na leitura mesmo antes de saber ler de forma
autônoma. Nesse momento, por exemplo, elas buscam estabelecer uma rela-
ção entre o texto e a ilustração, ao rememorar a frase que ouviram e fazer a
correspondência do oral com o escrito — o que possibilita assim uma reflexão
sobre a escrita.
O momento da leitura individual dessa obra e o convite à contemplação
das diferentes casas e de seus habitantes possibilitam que os pequenos per-
cebam a diversidade de pessoas e famílias, ampliando assim seu repertório
social e incluindo de modo positivo a enorme diversidade de jeitos de viver e
estar no mundo.
Os livros podem ser dispostos num canto de leitura, num tapete com
almofadas, e você pode incentivar as crianças a olhar seu exemplar indivi-
dualmente ou em duplas. Com o livro em mãos, as crianças podem reviver
momentos da roda, impor seu próprio ritmo de leitura, ocupar seu lugar
de leitor, observar mais de perto detalhes que na roda haviam passado des-
percebidos.
Além disso, a relação do leitor com a leitura é atravessada pelo objeto
livro; por isso, quando o leitor gostou da história, tê-la por mais tempo e de
forma mais próxima é sempre uma situação vivida com prazer.

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LEITURA EM CASA/ LITERACIA FAMILIAR
Levar o livro Os vizinhos para casa e compartilhar a leitura com os familiares
pode ser uma boa proposta a se fazer com as crianças. Além de prolongar
uma situação vivida na escola, as práticas de literacia familiar podem refor-
çar vínculos entre a criança e as pessoas do grupo familiar, além de possibili-
tar que ela apresente e comente um livro que já conhece. Isso vale não só para
essa obra, mas para qualquer livro que queiram levar para casa.

DESDOBRAMENTO DA LEITURA EM CASA


Que tal tornar a leitura com as famílias uma prática cotidiana?
Os familiares e responsáveis podem ser aliados importantes nesse proces-
so: escreva para eles, mande um bilhete falando sobre a importância dos mo-
mentos de leitura e pontuando o papel da literacia familiar como momento
essencial de interação — uma oportunidade para a criança conversar sobre
si, sobre a escola e sobre o mundo ao lado dos familiares.
Quando os pequenos levarem o livro para casa, você pode enviar um bi-
lhete aos familiares sugerindo que, antes de ler, convidem a criança a falar

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sobre o que é a história e quais são os personagens. Após a leitura, você pode
sugerir que os familiares e responsáveis façam junto com as crianças um de-
senho detalhado de como imaginam que é a casa de algum vizinho.
Quando os livros voltarem para a escola, organize uma roda para que as
crianças compartilhem seus desenhos e contem um pouco da experiência em
casa. Como imaginaram a casa do vizinho? Usaram como base algum ele-
mento especial, como fez a menina da história?
Sempre que as crianças levarem livros para casa, quando esses livros vol-
tarem para a escola seria interessante fazer uma roda para que as crianças
compartilhem com os colegas a experiência vivida em casa, comentando as-
pectos da narrativa, dos personagens e da própria leitura com os familiares.
Pensar sobre o que leram e expressar sentimentos e opiniões sobre suas ex-
periências leitoras contribui muito para o desenvolvimento da oralidade. Por
isso, você pode ajudar as crianças a falar sobre a leitura em casa, fazendo
perguntas: quem leu com ela, do que gostaram mais, como foi ler o livro em
casa... As crianças podem contar coisas simples como essas ou simplesmente
mostrar uma página da qual gostem muito.
Nesse momento, é fundamental que a roda não seja impositiva — a ideia
não é falar sobre o livro como uma checagem de conhecimentos, por exem-
plo, ou ter que fazer o resumo da história —, mas que flua muito mais como
uma conversa entre leitores, que sugerem leituras entre si e comentam sobre
o que estão lendo e as relações que fizeram com base na leitura.

INDICANDO O LIVRO A OUTRAS TURMAS


Para fazer uma indicação, algo que faz parte do mundo dos leitores, as crian-
ças precisarão pensar nos motivos para terem gostado do livro e porque ele
poderá interessar a outras crianças. A indicação poderá ser feita oralmente,
em uma roda compartilhada com outra turma, ou mesmo por escrito.
No caso de Os vizinhos, por exemplo, há muito a falar! O livro é diver-
tido e possibilita que as crianças contem como entenderam a narrativa e o

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que lhes chamou mais a atenção. Quais são os personagens? Quem conta a
história? Por que essa história é boa? É divertida? Por quê? Faz a gente ficar
curiosa sobre os vizinhos? Ajuda a imaginar como é a vida deles?
Ajude o grupo a gradativamente construir elementos para indicar um li-
vro aos amigos, a familiares, a outras turmas da escola. Para isso, uma su-
gestão é conversar com as crianças depois que levarem a obra para casa e a
trouxerem de volta:

• Conhece alguém que gostaria de ler esse livro?


• O que este livro tem que fez você pensar nessa pessoa?
• Há alguma página em especial que você gostaria de indicar?
• Por que você gostaria de indicar esse livro?
Em momentos como esse, as crianças aprendem a considerar os moti-
vos que fazem desse título uma boa experiência de leitura e aprendem como
podem comunicar isso a outras pessoas, seja oralmente, seja ditando ao(à)
educador(a) o texto da indicação literária. Com essa prática, ampliam seus
laços com outros leitores e aprendem algo muito caro aos leitores mais expe-
rientes: o compartilhamento das leituras queridas.

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Bibliografia comentada

bajour, Cecilia. Ouvir nas entrelinhas: O valor da escuta nas práticas de leitu-
ra. São Paulo: Pulo do Gato, 2020.
Cecilia Bajour fala da importância da conversa para a formação do lei-
tor e como essa troca entre leitores amplia as construções de sentido
em uma leitura. A autora também traz exemplos práticos, refletindo
sobre o papel do adulto na mediação da conversa e a importância do
registro desse momento para que seja possível identificar e acompa-
nhar as aprendizagens dos leitores. O livro é composto de quatro textos
sobre a importância da “escuta”, da “conversação literária” e do “regis-
tro” para o êxito no trabalho com a leitura literária.

brasil. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília,


mec/Consed/Undime, 2018. Disponível em: http://bit.ly/BaseBNCC.
Acesso em: 10 maio 2021.
A Base Nacional Comum Curricular (bncc) é um documento de caráter
normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendiza-
gens essenciais, competências e habilidades que todos os estudantes
devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação
Básica. Orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos traçados
pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, a bncc so-
ma-se aos propósitos que direcionam a educação brasileira para a for-
mação humana integral e para a construção de uma sociedade justa,
democrática e inclusiva.

lerner, Delia. Ler e escrever na escola: O real, o possível e o necessário. Porto


Alegre: Artmed, 2002.
Quais são as tensões envolvidas no ensino da leitura e da escrita na es-
cola? Nessa obra, a pesquisadora argentina visa explicar aos(às) edu-
cadores(as) o que precisa ser ensinado para formar leitores e escritores

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de fato. Para isso, oferece exemplos de propostas de leitura e escrita.
Lerner também mostra como é importante criar condições para que os
estudantes participem ativamente da cultura escrita desde a alfabeti-
zação inicial, uma vez que constroem simultaneamente conhecimen-
tos sobre o sistema de escrita e a linguagem que usamos para escrever.

lópez, María Emilia. Um mundo aberto: Cultura e primeira infância. São Pau-
lo: Selo Emília, 2018.
Neste livro, a autora apresenta reflexões e práticas que sustentam a
importância da cultura na primeira infância, desde a mais tenra idade,
e a importância da construção de experiências e bens culturais como
um direito. Trata-se de uma obra que convoca a todos, familiares, edu-
cadores, gestores das escolas e leitores em geral a assumirem a respon-
sabilidade de criar condições para a formação cultural dos bebês.

van der linden, Sophie. Para ler o livro ilustrado. São Paulo: sesi-sp Editora,
2018.
Neste livro, a autora analisa o livro ilustrado ou livro-álbum, que nasce
no século xix com o britânico Randolph Caldecott e se consolida com
a publicação de Onde vivem os monstros (1963), do norte-americano
Maurice Sendak. Para além da reflexão teórica, a obra discute, por
meio de muitos exemplos e depoimentos de editores, autores e dire-
tores de arte, as principais características dessa forma de expressão,
esmiuçando processos criativos e fornecendo muitos elementos para
que os leitores aprofundem suas leituras de livros ilustrados.

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Indicações de leituras complementares

baroukh, J.; carvalho, A. C. Ler antes de saber ler: Oito mitos escolares sobre
a leitura literária. São Paulo: Panda Books, 2018.
As autoras refletem nesta obra sobre as condições para a formação de
leitores na escola, desde a Educação Infantil até os anos iniciais do En-
sino Fundamental, discutindo alguns mitos em torno da leitura literária
na escola. Com exemplos da prática escolar e de situações de formação
de educadores, as autoras propõem um debate sobre a escolha de livros
de qualidade, as diferenças entre ler e contar histórias e a importância
da conversa para a formação de leitores, entre outros aspectos.

colomer, Teresa. Andar entre livros: A leitura literária na escola. São Paulo:
Global, 2007.
A autora, renomada pesquisadora catalã, coordenadora do Grupo de
Pesquisa de Literatura Infantil e Juvenil e de Educação Literária (Gre-
tel) da Universidade Autônoma de Barcelona, discute questões funda-
mentais para todos que desejam se aprofundar na formação de leitores
na escola, tanto na teoria como na prática. Na primeira parte do livro
ela se dedica a três aspectos que interagem no processo da educação
literária: a escola, os leitores e os livros; na segunda, expõe a inter-re-
lação desses elementos com propostas de leitura planejadas pelos(as)
educadores(as).

_____. Introdução à literatura infantil e juvenil atual. São Paulo; Global, 2017.
Aliando a teoria e a prática docente, Colomer nos faz refletir sobre di-
versos pontos importantes para o trabalho da literatura na escola: para
que servem os livros dirigidos às crianças e jovens; como podemos faci-
litar a leitura desses livros; quais são as características da literatura in-
fantil e juvenil; e quais os critérios de avaliação e seleção dessas obras.

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oliveira, Zilma R. de. (org). O trabalho do professor de educação infantil. São
Paulo: Biruta, 2012.
Várias especialistas abordam o papel fundamental do professor de
Educação Infantil na escolha de atividades promotoras de desenvol-
vimento e na mediação das interações das crianças com outras crian-
ças, adultos, o ambiente e o conhecimento. A publicação aborda como
diferentes concepções de infância e criança fizeram e fazem parte do
campo da Educação Infantil, analisa as condições para a construção
de ambientes de convivência e de aprendizagem, enfoca questões rela-
cionadas aos cuidados de si e do outro, além de trazer reflexões sobre
boas práticas pedagógicas com as crianças de 0 a 5 anos, consideran-
do-as seres capazes, inteligentes e produtores de cultura.

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