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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA INFANTIL E JUVENIL: DA COMPOSIÇÃO À


EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Olívia Yumi Iwasaki da Silva

PROPOSTA DE PRÁTICA DE MEDIAÇÃO LITERÁRIA


Caça ao tesouro na biblioteca: Onde foi parar os felizes para sempre?

Caxias do Sul, RS
2023
Em se tratando de ambiente escolar, a biblioteca é um espaço que visa a
construção e ampliação da cultura e conhecimento do aluno. Além disso, os habilita
para a “aprendizagem ao longo da vida e desenvolve sua imaginação, preparando-os
para viver como cidadãos responsáveis” (IFLA, 2005). Para que isso seja possível, é
necessário que todos da escola (e principalmente os diretores e coordenadores)
compreendam a importância desse espaço e trabalhem para torná-lo funcional e
atraente para os alunos.

O espaço, ao disponibilizar uma coleção variada e atualizada, com


bibliotecários e auxiliares que realizam a mediação informacional correta, fornecem
informação e ideias fundamentais para o sucesso dos alunos na sociedade atual, onde
há uma gama infinita de informações e é necessária a capacidade de leitura crítica da
informação.

De acordo com Silveira e Bernardi (2021), falta à escola compreender as


potencialidades da biblioteca e como ela pode agregar à comunidade escolar. Na
maioria das escolas vemos que, na prática, os espaços são utilizados como meros
depósitos de livros, com um acervo malcuidado e desatualizado; sob supervisão de
funcionários despreparados ou realocados de outras funções e de forma punitivista
para com o aluno, que geralmente é enviado à biblioteca/ sala de leitura após ser
expulso da sala de aula.

Para que as bibliotecas escolares sejam definitivamente integradas ao


ambiente escolar, é necessária uma mudança de mentalidade quanto à funcionalidade
do espaço, que não deve ser lugar sagrado e silencioso, nem apenas um ambiente
de pesquisa e estudo. Biblioteca escolar deve ser uma biblioteca viva, onde os alunos
frequentam para ler, brincar, sanar suas inquietações, fazer pesquisas e aprender
coisas novas. “Não há como ter uma biblioteca que contribua com os processos de
ensino e aprendizagem sem diálogos e trocas” (SILVEIRA; BERNARDI, 2021).

Partindo desse pressuposto, meu objetivo com a atividade aqui apresentada,


foi primeiramente a de trazer esses alunos para a biblioteca, para que conhecessem
o espaço e se apropriassem dele de uma forma diferente que não a do estudo formal.
Mesmo que não seja uma aula de leitura, o contato desses alunos com o ambiente e
os livros pode instigar as crianças.
A atividade apresentada foi realizada no ano de 2018, em uma biblioteca
escolar de educação básica (ensino infantil ao ensino médio) com as turmas do 2º ano
do ensino fundamental I. Nessa escola os segundos anos estudam ao final do
segundo semestre sobre contos de fadas e suas diferentes versões e como trabalho
final elaboram uma história em conjunto, que é doada posteriormente à biblioteca.

Figura 1 – Livros feitos pelos alunos

Fonte: A autora

Pensando nisso, visando unir e complementar o que foi trabalhado em sala de


aula sobre contos de fadas, decidimos fazer alguma atividade relacionada com esse
tema. À época, eu e a minha colega bibliotecária estávamos angariando ideias para o
Halloween, até que pensamos na caça ao tesouro de contos de fadas, para mostrar
as crianças, através de uma atividade lúdica, que é possível se divertir e aprender na
biblioteca para além da leitura silenciosa que normalmente fazem. De acordo com o
Instituto Quindim (2022):
[A] caça ao tesouro é uma brincadeira divertida, interativa, que
estimula o raciocínio e auxilia as crianças no “desenvolvimento motor,
melhora a atenção, a capacidade de ouvir e seguir instruções, estimula
a autonomia, interação e ainda proporciona bem-estar físico e mental”
(QUINDIM, 2022).

Desta forma, de maneira divertida e que estimula os pequenos, buscamos


trabalhar na biblioteca o mesmo tema abordado em sala de aula. Outra motivação
para escolhermos os 2. anos para a atividade é por ser a partir dessa série que
passam a frequentar mais a biblioteca, pois passam a ler e escrever com mais
facilidade e as professoras os levam com maior frequência.

Como já comentei um pouco anteriormente, o objetivo era também de fazê-los


se apropriar do espaço, visto que passaram a frequentar mais assiduamente a
biblioteca neste ano, fazendo-os conhecer melhor o lugar e as bibliotecárias, dando
mais autonomia e deixando-os mais confortáveis no ambiente.

Para a realização da atividade, contamos com as funcionárias da biblioteca (eu


e minha colega bibliotecária), tanto na elaboração e confecção das pistas, quanto no
auxílio aos alunos durante a brincadeira. As duas professoras de cada turma também
ajudaram tirando fotos e ajudando os alunos quando estes apresentavam alguma
dificuldade.

Os materiais utilizados foram fantasias para mim e a minha colega, papeis


impressos para as pistas, papeis impressos e plastificados para os quebra-cabeças,
códigos e artefatos e lápis grafite; e por fim, balas e chocolates, que separamos para
cada aluno em saquinhos entregues ao final da atividade.

O espaço da biblioteca em questão reúne 6 espaços distintos: biblioteca infantil,


área de estudos/ obras de ficção, hemeroteca, acervo geral, área de CDs/DVDs e Hall
de exposições, como segue:
Figura 2 – Mapa da biblioteca

Fonte: Elaborado pela autora

A brincadeira foi realizada nesse espaço, tendo início na bolinha preta com
um x, onde fica a bancada das bibliotecárias, as demais pistas foram colocadas nas
bolinhas pretas numeradas de 1 a 5, sendo a 5 alocada no segundo andar perto do
tesouro, no lugar onde fica a nossa reserva técnica.

No início reunimos os alunos em frente a nossa bancada e explicamos a


regras:

- Grupos de 5 alunos (escolhidos pelas professoras);

- Pistas estão espalhadas apenas na biblioteca;

- Professoras e bibliotecárias podem ajudá-los.

Serão 5 pistas que, além de dar dicas para encontrar o próximo conto de fadas,
também conterá uma imagem de objeto importante de cada conto de fadas. Eles
precisam reunir esses objetos todos e mostrar às bibliotecárias ao final para ganhar
os doces! No roteiro contamos às crianças que sem esses cinco artefatos, é
impossível que os contos tenham um felizes para sempre:

Sapatinho da cinderela;
Doces de João e Maria;
O anão Dunga da Branca de neve
Bota do gato de botas;
Casa de tijolos dos três porquinhos.

Em cada ponto da biblioteca (marcado com a bolinha no mapa) existe uma folha
colada com os desenhos de um conto de fadas específico. Em cada pista eles terão
que adivinhar qual é conto de fadas em questão para procurar pelo espaço a imagem
que condiz com a próxima pista. As pistas são rimadas e possuem além do pequeno
texto indicando o conto de fadas, o artefato deste conto. A pista estará ou em forma
de quebra cabeça ou código, para que tenham que desvendar.

A última pista os leva para o segundo andar da biblioteca como já mencionado,


um lugar em que eles sempre têm muita curiosidade de ir (pois veem a escada e
sabem que não podem subir). Lá se depararam com guloseimas em pacotinhos para
cada um, e para finalizar, uma das bibliotecárias conta a história dos três porquinhos
na visão do Lobo Mau, que é um livro que faz muito sucesso na biblioteca: “A
verdadeira história dos 3 porquinhos” de Jon Scieszka.

Figura 3 – Livro “A verdadeira história dos três porquinhos”

Fonte: (COMPANHIA DAS LETRAS, 2023)


Quando fizemos essa atividade na biblioteca, nosso objetivo era que eles
pudessem ter o contato com os contos de fadas de uma outra forma, que não a
contada e trabalhada pelas professoras em sala de aula, mas que também pudesse
auxiliar no trabalho final deles, a confecção do livro. A mediação de uma versão
diferente de um conto de fadas já muito conhecido foi escolhido por ser um livro
divertido e para mostrar que não há um conto “verdadeiro”, que existem diversas
versões e que eles também podem criar a versão deles.

Originalmente nós não contamos a história ao final da atividade, apenas


conversamos sobre os contos de fadas e as ideias deles dos livros, entretanto, a partir
das aulas de mediação de leitura e dos vídeos assistidos vejo que teria sido algo muito
enriquecedor, pois seria mais uma oportunidade de conversar com eles sobre o tema,
além de mostrar o mundo dos livros para as crianças partindo de uma história
superengraçada.

Acredito que em grande parte os objetivos foram alcançados. As


professoras gostaram muito da atividade, e conseguimos tocar alguns alunos. Essas
turmas que eram do 2. ano à época, hoje estão no sétimo, e muitos deles são
figurinhas carimbadas na biblioteca e são exímios leitores.

REFERÊNCIAS
COMPANHIA DAS LETRAS. A verdadeira história dos três porquinhos.
IFLA /UNESCO. Diretrizes para a biblioteca escolar. 2005. Disponível em:
https://archive.ifla.org/VII/s11/pubs/portuguese-brazil.pdf. Acesso em 06 jun. 2023.
INSTITUTO QUINDIM.
SILVEIRA, J. P. B. DA; BERNARDI, M. C. A biblioteca escolar e sua integração aos
processos de ensino e aprendizagem na escola. Em: RÜCKERT, F. Q.; SOUZA, J. E.
DE (Eds.). A escola pública no Brasil : temas em debate. Caxias do Sul: Educs,
2021. p. 239–250.

ANEXOS – Fotografias da atividade


Fonte: A autora

Fonte: A autora
Fonte: A autora

Fonte: A autora
Fonte: A autora

Fonte: A autora
Fonte: A autora

Fonte: A autora
Fonte: A autora

Fonte: A autora
Fonte: A autora

Fonte: A autora
Fonte: A autora

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