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Lugares para gostar de ler

Arq. Adriana Lima Caversan

Ambientes de Leitura
O espaço é um lugar, que possui posição geográfica, acessos, área
dimensionável, construções, possui dentro e fora, cheio e vazio e que pode
ser preenchido por assim dizer. O ambiente pode ser definido como o espaço
habitado, acrescido de objetos, pessoas e suas relações, seu uso e suas
possibilidades enfim o ambiente possui vida.
Historicamente, conforme Denis (2000), foi no ambiente da cidade que a
leitura se popularizou, durante o século 19 aconteceu um extraordinário
aumento da população urbana, até então inédito na história da humanidade, a
população do Rio de Janeiro, por exemplo, aumentou cerca de seis vezes
chegando a marca de 300 mil habitantes, capitais mundiais como Londres e
Paris chegaram a marca de um milhão de habitantes entre 1800 e 1850.
O homem rural, ainda segundo Denis (2000), vivia no mundo da fala e
da escuta, houve uma grande modificação quando ele passou a viver no
ambiente das cidades, pois todos os atos urbanos desde nomes de ruas,
transportes, cartazes informativos necessitava da comunicação escrita; este
fator acrescido do barateamento do processo de fabricação do papel, que se
generalizou na década de 1840, promoveu uma ampliação do público leitor,
havendo a expansão de meios tradicionais como livros e jornais e também de
outros como o cartaz, a embalagem, e catálogo e a revista ilustrada.
Todo este ambiente da cidade fomentou a necessidade de hábeis
leitores, para que o processo de comunicação fosse eficiente, foi este processo
que impulsionou o enriquecimento cultural, e firmou a comunicação impressa
como um meio de grande atuação social.
Os relatos anteriores nos levam a considerar que quanto mais contato
pessoas tem com a linguagem escrita em seu ambiente, mais ela é estimulada
e a aperfeiçoa. Segundo pesquisa realizada pelo PISA (2011), a quantidade de
livros no ambiente familiar influencia diretamente no rendimento escolar de
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crianças, criança que tem entre 100 e 200 obras literárias em casa tem notas
15% maiores em português e ciências e 17% maiores em matemática.

Ambientes de leitura para crianças em casa e na escola

O grande desafio para pais e educadores é incutir o prazer na leitura,


fornecendo materiais de leitura que os alunos o achem interessante e
relevante. PISA (2011)
As crianças na primeira infância, vivenciam o espaço e aprendem com
ele de uma forma sensorial, segundo Oliveira (1992), tanto os espaços
externos quando os espaços internos devem ser organizados para que haja
campos de exploração e experiências para promover variedades de perguntas
e respostas em cada situação vivida. O contato e as experiências com livros se
iniciam com a criança ainda muito pequena, não significando alfabetizá-la, o
primeiro contato com a literatura pode se dar ouvindo histórias.
Rizolli (2005) explica que as histórias transformam-se em imagens no
nosso ser de forma veloz e direta, tornando-se um exercício para a leitura,
quando houve uma história a criança desenvolve a capacidade de ouvir, com
uma sequencia de idéias e sinais verbais que o narrador transmite,
aumentando seu tempo de atenção, e esta capacidade é um elemento de
grande valia a qualquer leitor.
Ter o exemplo em casa do pai lendo ou ouvindo uma história que o
educador lê segurando um livro, ou ainda, muito pequena manuseando
(possuindo) livros de banho, de tecido que ficam junto com os brinquedos. Por
volta dos 3 anos possuir uma pequena estante de livros, baixa que esteja ao
seu alcance com livros que possam ser folheados e manuseados, no início
aqueles de “folhas” bem espessas, que com a idade vão se afinando. A
familiaridade e a disponibilidade de experimentar o livro desde pequenino,
muda a visão de leitura por obrigação e por estudo, para leitura por prazer e
lazer, que também influencia na formação do leitor e no rendimento escolar.

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Figura 1 - Livros são colocados junto com brinquedos deforma acessível e lúdica, Mostra
Interior Decor (2009), imagem e ambiente da autora.

Os espaços e as experiências proporcionadas na infância marcam nossas


vidas Monteiro Lobado, referencial na literatura infantil nacional, que ao
escrever suas obras literárias, passadas no “Sitio do Pica-pau Amarelo”, se
inspirou em lugares e experiências de sua própria infância na zona rural.
Alguns destes elementos espaciais aparecem em sua obra tais como a
biblioteca do seu avô, o rio de águas claras que passava atrás da casa entre
outros incorporados a sua obra, lugares que fizeram parte do seu convívio
quando criança e o ajudaram a compor as estórias ambientadas no Sitio do
Pica-pau Amarelo.

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Figura 2 – Livros e brinquedos de forma acessível e lúdica. (Fonte: Ludotheque em Paris
2010, imagem do acervo da autora).

Arranjar um lugar em casa destinado a livros, desde que a criança é


pequena, presenteá-la com livros ou criar um ambiente para a leitura ajuda na
formação de futuros leitores, sendo importante que este lugar seja arrumado,
sem luxo, mas com capricho e zelo para que a criança perceba a importância
do livro na vida das pessoas.
Nas creches e pré-escola, em função do número de crianças e da idade,
poderá ter um local para ouvir, contar histórias e “brincar” com livros e objetos
de leitura, um lugar agradável com boas condições de conforto e estéticas,
para que este contato inicial seja um convite à leitura e traga boas recordações,
tanto para as crianças quanto para os educadores.
Um lugar bem planejado num ambiente escolar representa melhores
condições de trabalho para os educadores e quanto melhor a experiência for
para o adulto melhor e mais prazerosa será para a criança, formando assim
uma relação positiva e boa desde o início com os livros e os objetos a serem
lidos, criando a idéia que ler e ouvir histórias vindas de livros é algo bom e
gostoso.

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Criação, execução e avaliação de espaços de ler e brincar

Figura 3 – Bibliobrinquedoteca criada para a creche conveniada em Bauru, projeto e imagem


da autora.

Para que haja uma boa interação entre criança e o objeto lúdico – livro, é
preciso deixá-los acessíveis de forma que a criança possa pegá-lo e,
posteriormente, guardá-lo, realizando assim um exercício de autonomia.
Observar se os mobiliários/estantes estão na altura do olhar da criança, pois
estantes muito altas, grandes armários de aço podem parecer monstros
quando vistos pelo olhar infantil. Se os livros ficarem somente sob o controle
dos adultos dentro de um armário com as portas fechadas, ele fica invisível
para a criança, pois para uma criança pequena quando a coisa não está diante
de seus olhos, devido a sua capacidade de compreensão, ela não existe.
Se quisermos que as crianças gostem de ler, é necessário que elas
tenham contato com “ambiente leitor”, ou seja, que tenham materiais diversos a
sua disposição (deverão se relacionar com livros), vendo-os, pegando-os,
apalpando-os, cabe ao adulto apoiar tais ações. para a ambiente tornar
possível estes atos.
“Uma mala com rodinha, que ao se abrir, se torna uma estante, se presta
a este serviço de levar as histórias de cá para lá” (RIZZOLL, 2005). O uso de

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um carrinho de livros que pode visitar sala a sala, caso a escola não possua
recursos suficientes para prover todas as salas com livros, ou não possua
espaço para uma sala como a mostrada no caso da Bibliobrinquedoteca.
Este sistema permite maior diversidade de livros, pois permite a troca
entre salas, assim as crianças poderão ter acesso a outros livros sem a
necessidade de grandes investimentos por parte da instituição, pode haver
também um carrinho equipado com tecidos, tapetes, fantoches, e assim
provido ser destinado à área externa, e o espaço de leitura ou contação de
estórias num belo dia de sol, pode ser realizado em baixo de uma árvore
promovendo diversidade espacial na escola um dos bons usos espaciais
citados por Forneiro (1998).
Crianças de 7 a 12 estão num patamar de evolução e engajamento com
os livros, devido a alfabetização, e neste momento pode haver uma relação
mágica, pois letras transformam-se em palavras que por sua vez transformam-
se em imagens mentais, este processo acontecerá melhor se a criança já vier
com experiências positivas, vistas anteriormente, na primeira infância.
É nesta idade também que há uma maior e mais intensa relação das
crianças com as mídias, entre elas a televisão, o computador, jogos eletrônicos
que estão disponíveis no mundo contemporâneo, mas que podem tornar-se
grandes “ladrões de atenção” num ambiente onde existem leitores em
formação, que precisam desenvolver atenção e concentração. Tais elementos
devem estar fora do ambiente destinados para leitores nesta faixa etária. O ato
de ler em mídias, celulares, Kindle e tais equipamentos,deve ser
cuidadosamente avaliado pois pode representar um risco, já que facilmente a
criança pode ser levada a distração, caso o equipamento tenha acesso a
internet. Ao usar estes aparelhos deve-se avaliar o tamanho da letra, e a
adaptação visual da criança, entre outros, já que nos encontramos num
momento de transição tecnológica e não se sabe exatamente como ela se
dará, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2011), mostra que menos de
2% dos leitores usam tais equipamentos atualmente.
Por outro lado quanto mais os livros estiverem próximos a pequenos
leitores, mais lhes parecerá normal. Ter um canto de leitura muito bem cuidado
dentro da sala de aula e acessível as crianças, torna-se bom, assim como nas
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horas de lazer visitar ambientes como livrarias e bibliotecas deixando que as
crianças vivenciem a escolha de temas apropriados a sua idade que lhe
agradem que lhe dêem prazer, tirando a visão que leitura não é uma obrigação
escolar e que é necessário ir a uma biblioteca silenciosa e cheia de prateleiras
para ler.
Descobrindo, também, lugares diversos de ler, comprando ou
emprestando um livro e acompanhado dos pais que também levam o seu, a
um parque, sempre fazendo que possível relacionando a leitura, a lugares
bons e prazerosos. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil ( 2011) aponta que
75% da população brasileira jamais pisou em uma biblioteca, visitar uma
biblioteca pode ser um passeio muito interessante para alunos nesta faixa
etária.

Novos lugares para leitura, o planejamento de lugares


agradáveis
Quando construímos uma nova edificação, ou realizamos um loteamento
em uma cidade, estamos transformando um espaço, que antes era natural em
espaço artificial, adaptando-os às necessidades que desejamos ou, ainda, às
expectativas para ele. O grande desafio qualitativo na apropriação do espaço
natural e na construção de uma nova edificação, ou mesmo em uma reforma, é
o de criar um ambiente artificial que seja melhor mais confortável em termos de
temperatura, insolação e ventilação que o ambiente natural, pois assim ele
cumprirá o seu principal papel: o de proteger o homem das situações extremas
da natureza como calor, frio e chuva, tornando as condições internas melhores
que as externas, fazendo com que este lugar proporcione conforto aos seus
usuários.
Podemos considerar como variantes do conforto ambiental: o clima, a
insolação e a ventilação, que influenciam no conforto térmico, a iluminação e as
interações ambientais acústicas internas e externas às edificações, que
influenciam no conforto visual e auditivo Vianna (2001).
A definição de conforto é polêmica, e pode variar de pessoa para
pessoa, consideremos que para o conforto térmico a zona de conforto está
delimitada entre as temperaturas de 20º a 24ºC, com a umidade relativa entre
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40 a 80%, com a velocidade do ar moderada na ordem de 0,2m/s considerando
o clima quente como o nosso com organismos adaptados ao calor.
(ILDA,2005).
Um ambiente com condições desfavoráveis de ventilação, iluminação e
acústica pode gerar em seus usuários problemas de saúde, e no rendimento
escolar.
No mundo contemporâneo discute-se muito a questão do uso de meios
artificiais para atingir os padrões de conforto, pois como as edificações em uso
possuem um gasto energético considerável, os usos desnecessários dos
recursos artificiais representam um incremento ao consumo de energia, o que
os torna assim mais poluentes sob o ponto de vista ambiental.
Edificações completamente vedadas representadas por “peles de vidro”
em países tropicais além de impactarem em altos índices de consumo de
energia podem representar riscos a saúde dos seus usuários se houver uma
deficiência no funcionamento do sistema; um ambiente climatizado
artificialmente pode passar uma falsa impressão de conforto, podendo inclusive
representar perigo a saúde de seus usuários.

Antigamente, conforme Carmo (1999), a maioria dos edifícios possuía


janelas que podiam ser abertas, muitos edifícios novos, no entanto começaram
a ser construídos sem janelas “operáveis”, que são aquelas que não podem ser
abertas, como os que possuem fachadas de vidro, e passaram a ser
climatizados artificialmente. Ocorre que num processo de renovação de ar
artificial, se uma ou mais partes envolvidas no processo do funcionamento dos
equipamentos de ar condicionado não acontecerem da forma esperada,
acontencerá o aumento da concentração de gases tóxicos, que podem
ocasionar dores de cabeça, mal estar, tonturas, dificuldades de concentração,
e absenteísmo(faltas ao trabalho, à aula), edifícios nesta situação são
denominados “edifícios doentes” sendo que a ventilação natural ou mecânica é
uma forma se proporcionar condições aceitáveis de ar interno, sendo que
projetos para bibliotecas devem ser feitos com mais cuidado.
É desejável que haja iluminação suficiente para os trabalhos de leitura, e
como estamos em um país com abundância de sol e, portanto iluminação
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natural, é possível que utilizando de recursos de projeto usá-la, lembrando que
a iluminação é desejável, mas não sol de forma direta, pois em países tropicais
isto representa grande ganho de calor para o ambiente, principalmente se
houver incidência solar direta em áreas envidraçadas o que contribui para o
aquecimento e ofuscamento visual, e também incidência direta de sol nos livros
podem danificá-los, neste caso devem ser usados recursos de projeto e
proteção solar. Mesclar o uso de iluminação natural com o de artificial,
privilegiando a iluminação natural, é uma boa escolha, pois quase toda a vida
existente no planeta depende da luz solar, ela tem influencia fisiológica e regula
ciclos como acordar, dormir, comer e trabalhar tem uma atuação benéfica
melhorando a saúde e o humor. (IIDA, 2005)
A falta de qualidade acústica, também, pode causar diversos problemas
de conforto, sendo que interferências sonoras podem ser altamente
perturbadoras e provocarem dificuldades de concentração. Para bibliotecas o
nível de ruído aceitável para conforto é de 35dB(A) (NBR 10152 ), e podem ser
medidas com o auxílio de um aparelho. As fontes de ruídos podem ser
internas ao ambiente (provenientes de equipamentos ou pessoas) ou externas
(sons gerados fora do prédio, como automóveis, motos, buzinas, etc.). Quando
o ambiente é construído com muitos materiais reflexivos, como revestimentos
lisos de paredes e pisos, aparece um fenômeno chamado reverberação, que
com o tempo, provoca a sensação de cansaço e irritabilidade, entre outros
sintomas. Para evitar a reverberação deve-se usar materiais que absorvam o
som.
Quando o ruído vem de fora, existem algumas soluções, como a de não
haver aberturas diretas para a fonte de ruído, e dependendo do terreno, podem
ser construídas barreiras, como muros, barreiras de vidro, taludes ou
elementos absorventes de ruído.
O lugar para leitura deve ser bonito e agradável, ter mobília que ofereça
conforto e possibilite diversas posições, cadeiras, sofás, pufs e bancos, mesas
com tamanhos variados, há de se pensar também na harmonia de cores.
Entrar num ambiente que ofereça boas condições estéticas, trará aos
pequenos boas recordações. A relação sinestésica provocada por um ambiente

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agradável lhe trará sempre lembranças positivas e prazerosas relacionadas
aos livros.
Os shoppings Centers, são locais atrativos e cheios de sinestesia, e são
pontos de atração de pessoas, os locais de leitura não podem ser velhos
espaços cheios de prateleiras, recheadas de mofo. Ele deve evoluir ser
agradável se quisermos que as pessoas os freqüentem. No caso específico
das crianças e, principalmente, para as crianças pequenas, há uma relação de
sentimentos com os espaços freqüentados por elas na infância, e esta relação
espacial se prolonga por toda a vida, como um bom ou mal sentimento, por
que para a criança existe uma ligação emocional com o espaço podendo
existir o espaço medo, o espaço alegria, o espaço tristeza. Freyberger (2005).

Considerações finais

O desempenho da edificação atua de forma direta na saúde e na


disposição emocional dos usuários sendo um fator relevante, na construção de
ambientes destinados ao desenvolvimento de atividades educacionais que
promovam a formação de leitores, antes de iniciar uma intervenção, seja ela a
construção de um novo edifício, sua reforma ou a colocação de mobília é
necessário a realização de um bom projeto arquitetônico e de interiores, que
pense nos seus usuários, pois ele será o instrumento de transformação do
espaço em ambiente.
Antes de iniciar a construção de um espaço onde há a intenção de criar
um ambiente para crianças, há de se pensar que a construção de edifícios é
um processo sistêmico, no qual os fatores envolvidos trazem conseqüências
diretas no desempenho no seu conjunto.
O ambiente representa um bom instrumento na formação de futuros
leitores .

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Referencias

CARMO, Adriano Trotta [ et. al.]. Qualidade do ar interno. São Paulo:


EPUSP, 1999. 35 p. (Texto técnico da Escola Politécnica da USP,
Departamento de Engenharia de Construção Civil, TT/PCC/23

DENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução a história do design. São Paulo:


Edgard Bucher, 2000. 240p.
FREYBERGER, Adriana. Construção do Ambiente Educativo: Uma
pesquisa-ação colaborativa em um centro de educação infantil. Tese
(Doutorado) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. Ed. Blucher: São Paulo, 2005.
614p. 2ª edição.
OLIVEIRA, Zilma de Moraes. [et al.]. Creches: crianças, faz de conta & Cia.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1992.
PISA: Do students today read for pleasure? Disponível em:
<http://www.pisa.oecd.org/dataoecd/34/50/48624701.pdf>. Acesso em: 4 jul.
2012. Retratos da leitura no Brasil, disponível em:
<http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/2834_10.pdf>. Acesso 4
jul.2012.

RIZZOLI, Maria Cristina. Leitura com letras e sem letras na educação infantil no
norte da Itália. In: FARIA, Ana Lucia Goulart de; MELLO, Suely
Amaral. Linguagens Infantis: Outras Formas de Leitura. Campinas: Autores
Associados, 2005. 5-22 p.

VIANNA, N., GONÇALVES, J. Iluminação e Arquitetura. Ed. Gerus: São


Paulo, 2001.

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