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Instituto Politécnico de Viseu

Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu


Departamento de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial
Mestrado em Engenharia Mecânica e Gestão Industrial

Juntas Adesivas

Tecnologia das Ligações


Ano Letivo 2019/2020
1. Objetivo

O presente trabalho experimental teve como objetivo analisar o efeito do tipo de


adesivo e do comprimento de sobreposição na resistência da junta adesiva de
sobreposição simples. Utilizou-se dois tipos de adesivos: Adesivo Frágil
(AV138/HV998, Huntsman) e um Adesivo Dúctil (SikaForce 7817 L7), em
ambos os adesivos fez-se juntas com dois comprimentos de sobreposição
distintos de 12.5 mm e 50 mm.

Tabela 1 - Propriedades dos adesivos

Os substratos utilizados para o experimento, são de aço duro (DIN 55 Si 7


tratado), com 25 mm de largura, uma espessura de 2mm e comprimentos
distintos, de acordo com o comprimento de sobreposição (CS). Para um CS de
12.5 mm, temos um comprimento de 107.5 mm para o substrato, e para um CS
de 50 mm, um comprimento de 145 mm para o substrato.

Tabela 2 - Propriedades dos substratos

Para fins comparativos, fez-se previsões das forças de rotura segundo o modelo
de Volkersen, o critério de cedência generalizada do adesivo e segundo o critério
de cedência do substrato.

2. Experimento realizado

Inicialmente lixou-se a superfície de colagem dos substratos, sempre à um


movimento com angulação de +45º/-45º. Após isso, limpamos as superfícies
com papel e acetona, colocamos os substratos no molde, no qual já foi aplicado
um desmoldante a fim de que o excesso de adesivo não cole no molde, e os
fixamos com o auxílio dos pinos e espaçadores/calços que também auxiliam no
controle da espessura do adesivo (0.2 mm).
Figura 1 – Substratos utilizados após o processo de lixagem da superfície de colagem

Para o preparo do adesivo frágil, utilizamos uma combinação entre uma Resina e
um endurecedor, na proporção de 100 para 40 partes. A mistura é realizada
através do processo de centrifugação à 2500 rpm, por 1 minuto, para obter uma
mistura homogênea. Já o adesivo dúctil é composto por um poliuretano de 2
componentes, no qual a mistura ocorre dentro do próprio tubo no momento da
aplicação.

(a) (b)
Figura 2 – Adesivo Frágil (Resina + Endurecedor) (a) e Adesivo Dúctil (b) utilizados no experimento
Para aplicar os adesivos nos substratos, optamos por uma forma que evitasse o
acúmulo de ar durante a colagem. Depois de aplicados, unimos os substratos
através da técnica do basculamento, aplicamos uma pressão fora da área de
colagem para retirar o excesso de adesivo e fechamos o molde.

(a) (b)

Figura 3– Substratos unidos com a técnica do basculamento após a aplicação dos adesivos (a)
Molde Fechado (b)

O tempo de cura é de aproximadamente 24 horas, e por esse motivo utilizamos


para os ensaios de tração provetes previamente preparados nas mesmas
condições a que preparamos os provetes do trabalho realizado.
Figura 4 – Ensaios de tração realizados nos provetes com diferentes tipos de adesivos e CS.

3. Análise Experimental

 Resultados obtidos

Mediante aos ensaios realizados com os provetes, obtivemos valores máximos


de força a ser aplicado e os deslocamentos correspondentes, até a rotura no
adesivo. Para melhor análise do comportamento de cada provete com os
diferentes comprimentos de sobreposição e de adesivos, realizamos um gráfico
que relaciona esses valores máximos.
Figura 5 – Gráfico que relaciona a força aplicada vs. o deslocamentos para os diferentes tipos de adesivos e
CS.

Desse modo, temos que:

Tipo de Adesivo Dúctil Frágil


CS 12.5 mm 50mm 12.5mm 50mm
Força de rotura 6775,892 N 26848,58 N 6874,385 N 15523,62 N
(Fmáx)
Extensão 1,11005 mm 2,19166 mm 0,78166 mm 1,27495 mm
correspondente

Além disso, fizemos um comparativo do comportamento dos diferentes tipos de


adesivos com relação à força de rotura e os respetivos comprimentos de sobreposição.
No qual podemos perceber que inicialmente para um CS de 12.5 mm, a força de rotura é
superior para os adesivos frágeis e conforme aumenta o comprimento de sobreposição a
força aumenta linearmente, pois toda a área ao redor contribui, fazendo com que o
adesivo dúctil consiga aproveitar todo o comprimento de sobreposição. Fato este
justificado através da diferença da distribuição das tensões de corte da junta de
sobreposição simples, em que para os adesivos frágeis as tensões são máximas nas
extremidades e mínimas no centro, e para a junta de adesivo dúctil as tensões são
distribuídas de forma mais uniforme.
Figura 6 - Distribuição das tensões de corte em juntas de sobreposição simples para adesivos
frágeis (a) e dúcteis (b).

O
adesivo frágil na junta de 50 mm de CS, rompeu em força de rotura muito menor se
comparado ao adesivo dúctil para o mesmo CS. Isso se dá devido à não capacidade de
deformação plástica que o adesivo frágil possui, apesar de possuir uma maior tensão de
cedência ao corte (τy = 32 MPa), o que o diferencia do adesivo dúctil.

Figura 7 - Gráfico comparativo entre o comprimento de sobreposição e a força de rotura para


diferentes tipos de adesivos.

Vale ressaltar que o aço duro não deforma plasticamente, e sendo o substrato um aço
duro de elevada resistência, consideramos que a rotura é controlada apenas pelos
adesivos e que não houve deformação plástica no substrato.
 Análise das superfícies de rotura

Verificou-se que nos adesivos dúcteis, a rotura ocorreu de forma coesiva no adesivo, em
ambos os comprimentos de sobreposição, visto que em ambos os substratos, nas duas
variantes de CS, há adesivo remanescente. O que demonstra a boa preparação da
superfície que se traduziu em uma boa adesão entre o adesivo e o substrato.

No provete com um comprimento de sobreposição de 50 mm observa-se que o adesivo


se encontra distribuído mais uniformemente, o que não acontece no provete com
comprimento de sobreposição de 12.5 mm, no qual o adesivo está presente
maioritariamente em apenas um lado do provete e podemos considerar a rotura coesiva
no adesivo junto à interface.

Figura 8 - Rotura coesiva no adesivo dúctil para um CS de 12.5 mm e 50 mm.

Nos adesivos frágeis, a rotura ocorreu também de forma coesiva no adesivo junto à
interface, em ambos os comprimentos de sobreposição. Da mesma forma que ocorreu
nos adesivos dúcteis, há adesivo remanescente em ambos os substratos de cada provete,
só que no caso desse adesivo, observa-se que o adesivo se encontra distribuído de forma
semelhante em ambos os provetes e está presente em maior parte em um dos substratos
de cada par de substratos.
Figura 9- Rotura coesiva no adesivo frágil para um CS de 12.5 mm e 50 mm.

Figura 10- Exemplificação de uma rotura coesiva no adesivo

4. Previsão das Forças de Rotura das juntas adesivas:

 Modelo de Volkersen

A partir da equação 14 do enunciado conseguimos determinar o Pmáx (força de rotura)


pretendido.

τ λl
=
τ́ ϕ sinh ( λl )
[ ( ϕ−1 ) cosh ( λ ( l−x ) ) +cosh ( λx ) ] ; Equação 14

Sabe-se que :
P máx E1 t 1
τ́ = , Equação 1 ϕ= +1
bl E2t 2

G 1 1
λ=
√ t

( +
E 1 t 1 E2 t 2 )
E
G a=
2 ( 1+ ϑ )

Sendo assim, substituindo estas quatro equações na equação 14, conseguimos


determinar o Pmáx .

Para o adesivo dúctil SikaForce 7818 L7 :

 Comprimento de sobreposição 12,5mm

2,5 ×109
G a= =905,8 MPa
2 ( 1+ 0.38 )

905,8 ×106
λ=
√( 0,0002

( 1
+
1
210× 10 ×0,002 210 ×10 9 × 0,002
9 ))
=146,86

210× 109 × 0,002


ϕ= +71=2
210× 109 × 0,002

Substituindo na equação 14 e considerando x=0 , temos que:

20 ×106
146,86 ×0,0125
Pmáx ¿
2sinh ( 146,86 ×0,0125 )
[ ( 2−1 ) cosh ( 146,86 ( 0.0125−0 ) ) +cosh ( 0 ) ]
0,025 × 0,0125

20× 106 × 0,025 ×0,0125


Pmáx = =4935,93 N
1,26623

 Comprimento de sobreposição 50 mm
2,5 ×109
G a= =905,8 MPa
2 ( 1+ 0.38 )

905,8 ×106
λ=
√( 0,0002 (

1
+
1
210× 10 ×0,002 210 ×10 9 × 0,002
9
=146,86
))
210× 109 × 0,002
ϕ= +71=2
210× 109 × 0,002

Substituindo na equação 14 e considerando x=0 , temos que:

20 ×106
146,86 ×0,05
Pmáx ¿
2sinh ( 146,86 ×0,05 )
[ ( 2−1 ) cosh ( 146,86 ( 0.05−0 ) ) + cosh ( 0 ) ]
0,025 × 0,05

6
20× 10 × 0,025 ×0,05
Pmáx = =6800,4 N
3,676

Para o adesivo frágil AV138/HV998:

 Comprimento de sobreposição 12,5mm

4,59 ×10 9
G a= =1700 MPa
2 ( 1+ 0.35 )

1700 ×106
λ=
√( 0,0002

( 1
+
1
210 × 10 × 0,002 210 ×109 ×0,002
9
=201,19
))
210× 109 × 0,002
ϕ= +71=2
210× 109 × 0,002

Substituindo na equação 14 e considerando x=0 , temos que :

32× 106
201,19 ×0,0125
Pmáx ¿
2sinh ( 201,19 ×0,0125 )
[ ( 2−1 ) cosh ( 201,19 ( 0.0125−0 ) ) +cosh ( 0 ) ]
0,025 × 0,0125
32×10 6 × 0,025× 0,0125
Pmáx = =6762.61 N
1,47872

 Comprimento de sobreposição 50 mm

4,59 ×10 9
G a= =1700 MPa
2 ( 1+ 0.35 )

1700 ×106
λ=
√( 0,0002 (

1
9
+
1
9
210 × 10 × 0,002 210 ×10 ×0,002
=201,19
))
210× 109 × 0,002
ϕ= +71=2
210× 109 × 0,002

Substituindo na equação 14 e considerando x=0 , temos que:

32× 106
201,19 ×0,05
Pmáx ¿
2sinh ( 201,19 ×0,05 )
[ ( 2−1 ) cosh ( 201,19 ( 0.05−0 ) ) +cosh ( 0 ) ]
0,025 × 0,05

32×10 6 × 0,025× 0,05


Pmáx = =7952,00 N
5,0302

  Volkersen
Dúctil Frágil
CS (mm) 12,5 50 12,5 50
Pmáx(N) 4935,912 6800,871 6762,61 7951,97

 Critério de cedência generalizada no adesivo

Para prever a força de rotura segundo o critério de cedência generalizada no adesivo,


utilizamos a equação 15.

Pmáx =τ y bl , Equação 15

Para o adesivo dúctil SikaForce 7818 L7 :

 Comprimento de sobreposição 12,5mm


Pmáx =( 20 ×106 ) × 0,025× 0,0125
Pmáx =6250 N

 Comprimento de sobreposição 50 mm

Pmáx =( 20 ×106 ) × 0,025× 0,050


Pmáx =25000 N

Para o adesivo frágil AV138/HV998:

 Comprimento de sobreposição 12,5mm

Pmáx =( 32 ×106 ) ×0,025 × 0,0125


Pmáx =10000 N

 Comprimento de sobreposição 50 mm

Pmáx =( 32 ×106 ) ×0,025 × 0,050


Pmáx =40000 N

  Critério Cedência Generalizada


Dúctil Frágil
CS (mm) 12,5 50 12,5 50
Pmáx(N) 6250 25000 10000 40000

 Critério de cedência do substrato

Baseado na Equação 21, conseguimos obter a força máxima que o substrato pode
suportar, tendo em consideração os diferentes comprimentos de sobreposição.

σ y bt
Pmáx = , Equação 21
(1+3 k )

Para um comprimento de sobreposição igual a 12.5 mm:

σ ybt
Pmáx = , Equação22
4
l
≤ 20 ; k ≈ 1
t
12,5
Logo, =6,25<20
2

( 1100 ×106 ) × 0,025× 0,002


Pmáx =
4
Pmáx =13750 N

Para um comprimento de sobreposição igual a 50 mm:

Pmáx =σ y bt , Equação 23

l
≥ 20 ; k ≈ 0
t
50
Logo =25>20
2

Pmáx =( 1100 × 106 ) × 0,025 ×0.002


Pmáx =55000 N

Critério Cedência Substrato


CS(mm) 12,5 50
Pmáx(N) 13750 55000

5. Comparação dos valores previstos vs. Experimentais

Para fins comparativos, realizamos dois gráficos que relaciona as forças de rotura
previstas e os valores experimentais obtidos nos ensaios de tração.

No adesivo dúctil representado na figura 11, verificámos que o critério de cedência


generalizada no adesivo é o que mais se aproxima do valor experimental.

Já no adesivo frágil, de acordo com o gráfico representado na figura 12, a previsão de


forças mais semelhante aos resultados obtidos com o experimento é o modelo de
Volkersen.
Figura 11 - Gráfico comparativo entre valores teóricos e experimentais da força de rotura para o
adesivo dúctil

Figura 12 - Gráfico comparativo entre valores teóricos e experimentais da força de rotura para o
adesivo frágil
6. Conclusão

Após a análise dos resultados obtidos e das previsões realizadas, concluímos que
devido à natureza do tipo de adesivo podemos indicar quais os critérios mais
adequados a cada caso.

O modelo de Volkersen é mais indicado para previsões das forças de rotura de


adesivos frágeis. Isto porque, este modelo estuda o comportamento do adesivo
no regime elástico, o mesmo regime onde o adesivo frágil atua visto que este
não consegue se deformar plasticamente. Além disso, através dos cálculos
efetuados, o modelo de Volkersen é o que mais se aproxima dos resultados
experimentais em ambos os comprimentos de sobreposição.

Já para o adesivo dúctil, o modelo mais indicado para as previsões das forças de
rotura é o critério de cedência generalizada no adesivo. Visto que o critério foi
especificamente criado para adesivos dúcteis em que o todo o comprimento de
sobreposição se deforma plasticamente, é natural que os resultados
experimentais de ambos os comprimentos de sobreposição sejam bastante
próximos a aqueles previstos pelo critério.

Vale a pena notar que o modelo de Volkersen prevê resultados muito próximos
aos experimentais para o comprimento de sobreposição de 12,5 mm para o
adesivo dúctil. Podemos explicar este fenómeno devido ao facto de o
comprimento não ser grande o suficiente para que a rotura ocorra no regime
plástico.

Quanto ao critério da cedência do substrato, os valores das forças máximas


calculados foram iguais para o mesmo comprimento de sobreposição
independentemente do tipo de adesivo, pois o substrato utilizado não variou ao
longo do experimento. Uma vez que não houve rotura no aderente, este critério
torna-se menos indicado para a previsão das forças nesta situação.

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