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Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica

PIBIC nas Ações Afirmativas - PIBIC - Af


Edital: XII / 2017/ 2018

RELATÓRIO FINAL

O AVANÇO DO NEOCONSERVADORISMO JUNTO AOS JOVENS

Aluna: GABRIELA INÁCIO SANTOS

CPF: 461.442.088-52

Matrícula: 112667

Orientadora: TEREZINHA DE FÁTIMA RODRIGUES

Curso: SERVIÇO SOCIAL

Departamento: POLÍTICAS PÚBLICAS E SAÚDE COLETIVA

/CAMPUS BAIXADA SANTISTA

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SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 03

II. PERCURSO METODOLÓGICO ..................................................................... 07

III. RESULTADOS ................................................................................................ 11

3.1 Referências Teóricas .................................................................................. 11

3.1.1 O Pensamento Conservador ............................................................ 11

3.1.2 A Reatualização do Conservadorismo – Novas bases e sujeitos ...... 17

3.1.3 O avanço do conservadorismo entre os jovens ...................................26

3.2 Jovens nas Redes Sociais: acompanhamento das páginas no Face book ...........30

3.2.1 Concepções sobre Família .................................................................. 35

3.2.2 Pensamento em Relação ao Aborto .................................................... 37

3.2.3 A perspectiva da Religião ................................................................. 40

3.2.4 Perspectivas em relação à Identidade de Gênero .............................. 43

3.2.5 Concepções sobre os Movimentos Sociais ........................................ 46

3.2.6 Pensamento em relação à Economia .................................................. 50

3.2.7 A dimensão da Política ...................................................................... 53

3.3 Jovens e o neoconservadorismo: uma aproximação com os estudantes

do Campus Baixada Santista ................................................................................ 57

IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 68

V. REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 70

VI. ANEXOS/APENDICES .............................................................................................. 75

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I. INTRODUÇÃO

Esse Relatório Final, relativo ao Projeto de Iniciação Científica, na modalidade Ações


Afirmativas (Pibic-af), apresenta os resultados do estudo realizado no Projeto “O avanço do
neoconservadorismo junto aos jovens”
Este tema é oriundo da inserção da estudante Gabriela Inácio Santos, no âmbito da
Universidade com reflexões a partir da observação empírica de diferentes manifestações de jovens
em uma perspectiva conservadora, carregada de preconceitos, sejam os de classe, gênero, raça e
etnia.
Conforme a Organização das Nações Unidas (ONU) jovens estão na faixa etária que
compreende 15 a 24 anos, fase considerada em que o indivíduo está mais sujeito a mudanças, sejam
as corporais sejam as emocionais onde um novo descortinar se coloca.
O jovem é um sujeito com valores, comportamentos, visões de mundo, interesses e
necessidades singulares. Ser Jovem é estar imerso em uma sociedade com
processos transitórios, a partir de uma NOVA conjuntura familiar, política e social
estabelecida. É, portanto, estar em meio a conceitos e formas amplas e diversas de
leitura de mundo. (JARDIM, 2014, pg. 3).

Acreditamos que nesta fase, há possibilidades de busca de conhecimentos, de uma


curiosidade que abre para novas descobertas e não posições fechadas e retrógradas. Com isto, o
interesse em compreender como esses jovens se aproximam de pautas conservadoras? E quais são
essas pautas? Este é o desejo nesta Iniciação Científica, o de conhecer como o
(neo)conservadorismo está presente em jovens.
Consideramos que é um fenômeno interessante ter jovens como protagonistas de um
movimento contrário a sua própria natureza de liberdade e investigação, estando em processo de
desenvolvimento. Acreditamos que, com isto, os jovens limitam seu desenvolvimento por estarem
cerceados por um pensamento fortemente marcado pelas tradições e negação ao novo.
Nesse contexto, consideramos que os jovens estão sendo influenciados por uma ideologia
que aproveita sua inocência e falta de embasamento teórico-social e até mesmo sua posição de
classe e etnia para disseminar o ódio, acirrar a desigualdade social, reforçar a moral e os valores
além de assumir um caráter anti revolucionário.
Acompanhando o intenso debate que ocorre na sociedade atual, onde está presente pautas
que incorporam fortemente o conservadorismo, este tema se torna relevante principalmente para
entender como o jovem é cooptado pela vertente conservadora cada vez mais cedo.

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A sociedade brasileira vivencia um momento de indignação com as inúmeras denúncias e
exploração por parte da mídia, sobre a corrupção, a violência e a desigualdade social. As ruas tem
sido palco de várias manifestações que trazem pautas importantes como as anteriores, mas também
outras que expressam o acirramento de preconceitos e posições extremamente conservadoras.
O acirramento de posições desfocam o campo da política oportunizando diferentes
expressões contraditórias no campo dos direitos sociais e políticos. As imagens a seguir, refletem
posicionamentos que estão no contexto das diferentes manifestações presentes nas ruas e nas redes
de comunicação, que expressam a ideologia que perpassam parcela destes jovens.

Fonte:http://www.camara.gov.br/internet/banco
imagem/banco/img201312041134294166957MED.jpg Acesso em 20/05/2017

Fonte:http://olharatual.com.br/wp-content/uploads/2016/05/05-07-2014 Acesso em 20/05/2017.

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Fonte:http://s2.glbimg.com/NFOLcVjsrnO-77cQNYSWz2vaay4=/620x465/s.glbimg.com/jo/g1/f/
original/2017/02/04/dsc0097.jpg. Acesso em 20/05/2017

Conforme Iamamoto (2007), o conservadorismo é fruto de uma situação histórico-social


específica: a sociedade de classes em que a burguesia emerge como protagonista no mundo
capitalista. Uma das características do pensamento conservador provêm de uma vocação para o
passado, que é resgatado e posto como uma maneira para a interpretação do presente, assim, criam-
se projetos favoráveis a manutenção da ordem.
Há alguns traços que conferem um perfil ao conservadorismo, como por exemplo, a
particularidade dos indivíduos não é levada em conta e a liberdade é subjetivada; assim, considera-
se que cada indivíduo possua habilidades para desenvolver-se de acordo com suas possibilidades.
Tem-se aqui o valor atribuído ao individualismo, gerador de competição.
O ser mais profundo do homem é sua individualidade e sua essência moral. Assim, a
liberdade é levada, restritivamente, à esfera privada e subjetiva da vida, enquanto as
relações “externas” e sociais devem ser subordinadas aos princípios da ordem, da
hierarquia e da disciplina. (IAMAMOTO, 2007, p. 24)

A partir da década de 1970, transformações ocorreram mundialmente pela ofensiva do


capital, “que resultaram no agravamento da desigualdade estrutural e na degradação da vida humana
e da natureza” (Barroco, 2011, p. 206).
A mundialização do capital e a implantação de políticas neoliberais implicou no desemprego
estrutural e conjuntural, surgindo novas formas de trabalho precário e destruindo direitos
historicamente conquistados. A ideologia neoliberal decorrente deste processo e veiculada pelos
meios de comunicação tem ampliado a naturalização das desigualdades e as violências, incitando o
apoio às práticas fascistas, dentre essas, o crescimento da defesa do uso da força e a pena de morte.
O neoconservadorismo busca legitimação pela repressão das pessoas ou pela
criminalização dos movimentos sociais, da pobreza e da militarização da vida
cotidiana. Essas formas de repressão implicam violência contra o outro, e todas são
mediadas moralmente, em diferentes graus, na medida em que se objetiva a negação
do outro: quando o outro é discriminado lhe é negado o direito de existir como tal ou
de existir com as suas diferenças. (BARROCO, 2011, p. 209).

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Com um cenário histórico de crise de hegemonia das esquerdas e dos projetos socialistas
(séc. XX), o conservadorismo conseguiu se reatualizar, com atitudes autoritárias, discriminatórias e
irracionalistas baseado na hierarquia, na moral tradicional, na ordem e autoridade. Esta
reatualização, denominada neoconservadorismo tem sido reforçada cada vez mais entre os jovens e
é este fenômeno que temos a intencionalidade de conhecer com essa Iniciação Científica.
Acreditamos que o cenário político apontado como um governo "comunista" (Governos do
PT – 2002-2016), a crise econômica como culpa do Partido dos Trabalhadores -PT e os escândalos
de corrupção contribuíram para a descredibilidade da população na política, possibilitando assim, o
avanço do conservadorismo como uma solução para a "falha da esquerda" no desenvolvimento do
país. Nesta empreitada em derrubar o governo até então "comunista", diversas instâncias da
sociedade foram mobilizadas para protestar contra a Presidente Dilma e a propagada hegemonia do
PT.
Durante esse processo de manifestações e indignações populares, a Presidente Dilma (2014-
2016) foi destituída do cargo (2016), oportunidade ideal para a “direita” que nesse período
conseguiu se aproximar e mobilizar a população e disseminar o discurso anticorrupção e apresentar
pautas políticas ligadas ao reformismo como solução para os problemas sociais.
Portanto, diante de um contexto histórico-social de intensos acontecimentos, distorções
políticas, golpes, população dividida, disseminação dos discursos de ódio, descrédito na política e
manipulações, muitos jovens se aproximaram de uma pauta política fortemente marcada pelo
neoconservadorismo.
Com este conjunto de reflexões, essa Iniciação Científica tem como objetivo geral verificar
como se configura o (neo)conservadorismo na sociedade atual e seus rebatimentos em jovens.
Dentre os específicos, conhecer como se configura o neoconservadorismo na sociedade atual e
verificar a perspectiva conservadora que marcam diferentes posições de jovens na sociedade atual.
Consideramos essa discussão importante para entender como é absorvida essa ideologia por
jovens e como, por meio dela, os jovens agem na sociedade. Objetivamos contribuir, como jovem e
em formação em Serviço Social, a compreensão de como esse pensamento se forma, é absorvido e
propagado, ampliando os riscos à democracia no país e a destituição de direitos arduamente
conquistados.

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II. PERCURSO METODOLÓGICO

Esta pesquisa tem como suporte metodológico o método materialista histórico-dialético


pelas suas possibilidades de interpretação da realidade, analisando como ocorrem as relações sociais
no modo de produção capitalista, o funcionamento da sociedade contemporânea diante da
reprodução da vida social em sua totalidade.
A pesquisa se classifica como exploratória. Conforme GIL (1987, p.41) “esta pesquisa tem
como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vista a torná-lo mais
explícito ou a constituir hipóteses”.
No percurso metodológico, realizamos os levantamentos bibliográficos, respectiva revisão
temática e a investigação exploratória que deu suporte para o acompanhamento no período de 3/4
meses, de blogs (páginas) de jovens no Facebook.
Inicialmente, o projeto apresentava o objetivo de acompanhar o debate e o posicionamento
político dos jovens nos blogs e observar os rebatimentos do avanço do neoconservadorismo. Neste
contexto, pelos blogs serem ferramentas em constante desuso no mundo digital, tornou-se
necessário trazer alguns debates sobre a possibilidade ou não da utilização dos blogs neste processo
investigativo.
Para isso é importante recuperar algumas informações. Segundo Senra e Baptista (2011,
s/p):
Um blog, blogue, weblog ou caderno digital é uma página da WEB, que
permite o acréscimo de atualizações de tamanho variável chamados artigos
ou posts. Estes podem ser organizados de forma cronológica inversa ou
divididos em links sequenciais, que trazem a temática da página, podendo
ser escritos por várias pessoas, dependendo das suas regras. O blog conta
com algumas ferramentas para classificar informações técnicas a seu
respeito, todas elas são disponibilizadas na internet por servidores e/ou
usuários comuns. As ferramentas abrangem: registro de informações
relativas a um site ou domínio da internet quanto ao número de acessos,
páginas visitadas, tempo gasto, de qual site ou página o visitante veio, para
onde vai do site ou página atual e uma série de outras informações.

Contudo, apesar da multifuncionalidade dos blogs e sua exclusividade no que se refere a


possibilidade de criá-lo e tornar-se dono de fato desta ferramenta, este, vem sendo substituído pelas
redes sociais digitais. O que anteriormente era encontrado apenas nos blogs, hoje, tem se expandido.
Neste contexto, para cada funcionalidade existe uma rede social: as fotos ficam no
Instagram, os vídeos no Youtube, textos longos e virais, debates e informação repercutem no
Facebook, o acesso e o compartilhamento de links são feitos recorrentemente através do Twitter e a

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interatividade e comunicação são facilitadas por meio do WhatSapp. Estas redes sociais dividem-se
em entretenimento, relacionamento, informação, negócios e etc.
Deste modo, a rede social mais acessada no mundo, o Facebook, possui todas essas
funcionalidades que inclusive se assemelha aos recursos que os blogs costumam oferecer. A partir
dessas concepções, identificamos que a maior dificuldade de realizar pesquisas em blogs, é que
estes não estão sendo atualizados na mesma medida quanto as redes sociais, há aqueles que ainda o
prefiram, porém, no mundo virtual já é tido como uma ferramenta digital ultrapassada.
Em contrapartida, a vantagem de realizar pesquisa nos blogs corresponde a maior qualidade
dos artigos disponibilizados e o teor formal dos debates. Com todos os limites possíveis, podemos
afirmar que o facebook é o novo "blog" da atualidade, pois além de contar com mais de 120
milhões de usuários somente no brasil, dispõe de características muito próximas dos blogs,
principalmente por também oferecer recursos que possibilitam fazer registros pessoais diários e
permitir a interatividade coletiva.

O crescimento do uso do Facebook, no Brasil, nos últimos anos, trouxe


novos contextos para os processos de comunicação e para os discursos.
Esses novos contextos permitem também que novas e antigas práticas
sociais emerjam e se popularizem nas redes sociais on-line. (RECUERO,
2013, p. 240).

A rede social digital "Face book” possui um grau de importância muito elevada por ter sido
protagonista na organização e mobilização das manifestações que iniciaram-se em 2013.
Deste modo, revelou-se um recurso essencial para organização dos movimentos sociais e no
aumento de páginas e grupos ligados a assuntos referentes à política, economia, mobilização,
denúncias, violências, tragédias mundiais, questões sociais/raciais e etc.
Estas temáticas são assuntos que fomentam os debates que cada vez mais são crescentes em
páginas e grupos do Facebook, como divulgado no site da própria empresa no ano de 2017. As
páginas ou as fanpages fazem parte de uma funcionalidade disponibilizada pelo Facebook, cuja
intenção é ser um canal de comunicação com grupos e fãs que se interessam em determinados
assuntos, pessoas, causas, personalidades, empresas e marcas, entretenimento, informação e
política, dentre outros. Este recurso permite que seus admiradores possam segui-los sem maiores
compromissos e o mesmo possa escolher que tipo de conteúdo acompanhar.
Nesta rede social as páginas são identificadas logo abaixo de sua nomeação e estas possuem
diferentes objetivos e assuntos em comum, além disso dentre as categorias que as páginas podem se
enquadrar existem as subcategorias, que são específicas aos interesses de seus criadores.
As páginas servem para distinguir os interesses do perfil pessoal para os interesses do
coletivo, pois, em perfis pessoais os limites de amigos não podem ultrapassar a cinco mil, enquanto
que nas páginas não há um tipo de limite estabelecido. Outra característica das páginas é a

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possibilidade de emissão de um relatório com os dados sobre os perfis dos que acompanham seu
conteúdo.
Nesta perspectiva, realizar acompanhamento em fanpage contribui para a reflexão dos
debates que os jovens constroem na rede social e esse acompanhamento será complexo, devido à
quantidade de conteúdo que uma fanpage dispõe, apenas em uma postagem de determinado assunto
ou pessoa pode-se alcançar mais de mil curtidas e comentários.
As páginas escolhidas para o acompanhamento se identificam como "Jovens de Direita" e
"Jovens de Esquerda". Uma possui mais de 300 mil seguidores e outra mais de 800 mil. Nestes
espaços as discussões costumam ser acaloradas, afinal trata-se de um ambiente em que os
seguidores e curtidores das páginas trocam informações, experiências, se identificam com as
postagens ou discordam, constroem suas opiniões, fortalecem e compartilham suas visões de
mundo.
Deste modo, investigamos a contribuição dessas páginas no avanço do neoconservadorismo
junto aos jovens e para isso, analisamos a estrutura, o sentido, a interação e o comportamento social
das publicações, curtidas, comentários e compartilhamentos das páginas selecionadas.
Este acompanhamento foi realizado por meio método de análise das categorias do CMDA,
com pautas diversificadas, sejam as consideradas conservadoras sejam as consideradas no campo do
avanço dos direitos.
Herring (2004 e 2013) defende que o estudo dos discursos on-line deve ser
realizado através de uma perspectiva que chama de CMDA - Computer
Mediated Discourse Analysis (Análise de Discurso Mediada pelo
Computador), cujo foco está na linguagem e na linguagem em uso no
ambiente on-line. A proposta foi construída pela autora como uma forma de
trazer a perspectiva linguística de estudo do discurso para o ambiente on-
line e que nos parece adequada para o estudo a que este trabalho se propõe.
(RECUERO, 2013, p. 243).

Com base nesses níveis da CMDA analisamos as publicações das duas páginas.

Tabela 1. Os quatro níveis da CMDA

Nível Questões Fenômeno Método

Estrutura Oralidade, formalidade, Tipografia, Linguística


eficiência, expressividade, ortografia, estrutural e
complexidade, morfologia, sintaxe, descritiva, Análise
características de gênero e esquema do discurso, textual, Corpus
etc. convenções de linguístico,
formatação e etc. estilística etc.

Sentido Qual é a intenção Sentido de palavras, Semântica e


O que é comunicado atos pragmática.
O que é realizado de fala, locuções,
trocas

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e etc.

Interação Interatividade, tempo, Turnos, Análise da


coerência, reparação, sequenciamentos, Conversação e
interação como construção trocas e etc. etnometodologia.
e etc.

Comporta Dinâmica social, poder, Expressões Sociolinguística


mento influência, identidade, linguísticas intera-
Social comunidade, diferenças de status, negociação cional, Análise
culturais e etc. de Crítica do Discurso,
conflito, Etnografia da
gerenciamento da comunicação.
face, jogos, discurso
e etc.
Fonte: RECUERO, 2013, p. 244.

A partir dessas apreensões, analisamos sete publicações das páginas de acordo com os
seguintes indicadores: família, aborto, religião, identidade de gênero, movimentos sociais,
economia e política. A escolha dos temas refere-se aos assuntos muito debatidos na sociedade a
partir de 2013, início da polarização política e ideológica que acometeu o país. A escolha das
publicações foram realizadas a partir do ano de 2016 quando os debates e os posicionamentos sobre
os assuntos selecionados foram se intensificando nas redes sociais.
Embora haja fatores positivos em fazer pesquisa em redes sociais por ser atualmente uma
das formas principais de comunicação em massa segundo o IBGE, seu acesso ainda é limitado e
desigual em quase metade das residências brasileiras, que não possuem o acesso à internet. Outro
limite é que os usuários emitem opiniões e revelam certos comportamentos que nem sempre
representam o que de fato pensam e realizam em sua realidade, em outras palavras é construído uma
imagem virtual dos jovens nas redes sociais.
Contudo, as pesquisas nas redes não devem ser descartadas pelas possibilidades em analisar
os sujeitos que revelam ideias, atitudes e comportamentos individuais e coletivos sobre os mais
variados assuntos.
Outra etapa do estudo, consistiu na aplicação de um questionário para jovens estudantes do
campus Baixada Santista - questionário que ficou online, no período de 5 dias, na página do
Facebook “Unifespianos”, com seis perguntas para identificar o perfil dos estudantes da Unifesp
Campus Baixada Santista e onze questões fechadas com os temas: família, aborto, religião,
identidade de gênero e movimentos sociais. Deixamos no final do questionário uma questão em
aberto para os estudantes comentar, se assim o desejassem, algumas das questões. A utilização do
questionário online buscou dar a dimensão qualitativa da pesquisa, enquanto a investigação em
páginas do facebook contribuiu para a dimensão quantitativa da pesquisa.

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III. RESULTADOS

3.1 REFERÊNCIAS TEÓRICAS

3.1.1 O pensamento conservador

O pensamento conservador tem se difundido na política brasileira nos últimos anos sendo o
motivo deste crescimento o que representa em sociedades marcada pela exploração e o
autoritarismo.
Historicamente, a América Latina é marcada por dominações estrangeiras, colonizações e
disputas por independência, sucessivamente também protagonizou diversos regimes autoritários e
processos ditatoriais datados ao longo do século XIX e XX.
No entanto é necessário compreender e considerar as experiências de cada país latino-
americano nesse contexto histórico, assim como explicita Santos:
Respeitando as particularidades de cada um, os países da América do Sul
apresentam muitos elementos em comum. Foram colônias europeias desde o
século XVI, conquistaram sua independência política no século XIX, e
depois sofreram preponderância econômica da Inglaterra [...] (2016, p.4).

Durante o processo da independência dos países sul-americanos, determinados grupos


políticos e economicamente importantes formaram uma oligarquia, cujo interesse resumia-se a
hegemonia política e o controle das camadas mais populares da sociedade que eram consideradas
subversivas.
O rompimento das estruturas coloniais gerou um sentimento de liberdade
sobre a parte sul do continente americano, sentimento esse que foi resgatado
pelos heróis da independência. Só que o que se viu foi o mesmo regime de
segregação das massas, pois as elites não estavam dispostas a fazer
concessões e queriam manter seus privilégios e, para isso, os governos que
sucederam os regimes monárquicos tiveram de contar com o apoio das
forças armadas. (SANTOS, 2016, p.5).

Como explica Santos (2016, p.3) "essas ditaduras no pós-segunda guerra visavam combater
um inimigo que ameaçava a hegemonia dos regimes capitalistas, o comunismo". Tais ações eram
usadas também como mecanismo de repressão a grupos que reivindicavam mudanças societárias
que pudessem superar a crescente pobreza e desigualdade social que assolavam a América Latina
naquele período.

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Especificamente na realidade brasileira, este processo histórico figura em um cenário
político, econômico e social muito comprometido com a forma em que a América Latina foi
conduzida.
Em um país de inserção periférica, dependente e heterônoma no circuito da
divisão internacional do trabalho, como o Brasil, as ideologias
conservadoras em geral, e o conservadorismo em particular, tendem a
ressoar e a repercutir com intensidade sobre a cultura, a economia e a
política. (SOUZA, 2016, p. 360).

Essas características estão presentes em praticamente todos os países da América Latina e


representa um histórico de exploração realizado principalmente por países considerados de primeiro
mundo, que prometeram com o avanço das indústrias e o processo de globalização, a superação da
miséria e da desigualdade social.
No entanto, as mudanças que ocorreram em meados de 1970, acerca de muita repressão aos
movimentos sociais e em relação a expansão do capitalismo, ao contrário do previsto resultaram no
acirramento da desigualdade própria de sua estrutura e na degradação e desvalorização da vida
humana e da natureza.
Deste modo, a globalização e a implantação de políticas liberais implicaram em expressões
daquilo que denominamos por "questão social", um conjunto de expressões que definem as
desigualdades da sociedade.
No entanto, a ideologia presente nestes processos possui o objetivo de naturalizar a
desigualdade, pois uma das características estruturais do conservadorismo baseia-se na preservação
de determinados valores, costumes e tradições mantidos estrategicamente para o controle das
camadas mais pobres da sociedade.
Quando falamos em conservadorismo é preciso considerar o debate sobre o substantivo
"conservador" e adjetivo “conservadorismo” aqui tratado. É essencial frisar que estes não
apresentam apenas uma só conceituação, mas carregam importância em termos usuais relacionados
a atitudes, ideias e práticas políticas.

Não são raras as produções que atribuem o conservadorismo a determinados


“traços de personalidade”. Segundo elas, trata-se de tendências subjetivas,
típicas dos indivíduos e grupos que são cautelosos e apegados à situação
social vigente, tal como se apresenta no aqui e agora. Outras caracterizações
qualificam o conservadorismo como “forma de ser”, uma “atitude mental”
que se inclina à crítica de mudanças substantivas. (SOUZA, 2016, p. 360).

Deste modo um indivíduo que se identifica como conservador possui gostos, opiniões e
comportamentos que expressam o apelo à tradição e a ordem, seguido por uma forte resistência ao
que é "desconhecido".

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Tal posição costuma estar associada, também, à adesão à ideologia do mercado, que envolve
desde a defesa da mercantilização cada vez maior da vida social até a agenda de combate ao avanço
dos direitos humanos. (SOUZA, 2016, p. 361).
Em outros termos, acredita-se que o conservadorismo está ligado a essência humana,
portanto, é comum e inevitável que as pessoas tenham determinados receios aos avanços ou
mudanças muito radicais na sociedade.
No entanto, as mudanças podem ser aceitas desde que ocorram de acordo com a dinâmica
social e não advindas por meios revolucionários. No âmbito acadêmico e da produção de
conhecimento, o conservadorismo tem se expandido, mas este não é tratado de uma maneira
unânime, geral ou comum.

Nas instituições de produção de conhecimento, por outro lado, o


conservadorismo é, na maior parte das vezes, tomado genericamente. O
conteúdo político, teórico e social dessa corrente de pensamento e ação com
frequência aparece fundido ao pensamento liberal. [..] . Mas, tal como o
liberalismo, entre outras tradições de pensamento fundadas pela
modernidade, o conservadorismo tem uma trajetória histórica e uma
proposta teórico-política próprias. (SOUZA, 2016, p. 361).

A partir da segunda metade do século XX os Conservadores britânicos e


estadunidenses se aproximaram do Liberalismo econômico de forma
explícita. Isto irá culminar com a ascensão de Margareth Thatcher, como
primeira ministra da Inglaterra, em 1979, e Ronald Reagan, como presidente
dos EUA, em 1980. Esta onda conservadora irá varrer primeiramente os
países desenvolvidos em termos econômicos e, posteriormente, os
subdesenvolvidos. (FILHO, 2016, p. 65).

Se considerarmos o pensamento conservador podemos compreender o surgimento dessa


linha de pensamento com a transição da sociedade tradicional para uma sociedade moderna. Este
período corresponde à passagem do sistema feudal para o modo de produção capitalista.
Historicamente:
O conservadorismo clássico, em sua gênese pós-1789, constituiu-se como
sistema de ideias e posições políticas marcadamente antimodernas,
antirrepublicanas e antiliberais. Em síntese: antiburguesas. É possível
caracterizá-lo como uma reação ideológica e política aos avanços da
modernidade. Avanços esses identificados, naquele momento, no
desenvolvimento das forças produtivas e nas transformações das relações de
produção, que implicaram profundas mudanças sócio institucionais e
culturais. (SOUZA, 2015, p. 4).

O processo de transição ocorreu inicialmente na Europa e depois expandiu-se para o mundo.


Com a implantação do sistema capitalista emerge uma nova classe dominante, nas quais realizam
transformações na ordem societária tradicional através de suas revoluções.

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A emergência desta classe até então autodenominada “burguesa” determina a atenção ao
indivíduo e a priorização do individualismo dos sujeitos, que por sua vez acreditam que com
esforço, autonomia, capacidade e um sistema meritocrático conseguem intervir e mudar sua própria
realidade social.

O conservadorismo constitui, portanto, uma resposta às teorias progressistas


(modernas) que se distanciam da visão tradicional sobre o homem; no lugar
desta, a ideia da história humana enquanto um processo aberto e pleno de
possibilidades para o autodomínio do homem sobre a natureza e uma maior
compreensão de si mesmo, tendo como núcleo central não mais a religião e
os costumes tradicionais, mas o indivíduo que age racionalmente. (SILVA,
2010, p. 54).

Nesta época, em contraposição ao conservadorismo emergiu o pensamento revolucionário,


que define o homem como um sujeito histórico com capacidade de transformar e se adaptar às
mudanças; mudanças fazem parte da própria concepção do ser humano e com isto, sua capacidade
de transformar a si e a natureza tendo como horizonte, a emancipação humana.
Entretanto, para o pensamento conservador, a natureza humana é permanente e isso anula a
concepção do pensamento revolucionário sobre a emancipação humana, tendo como pilar a teoria
de que a sociedade é regida por uma força divina no qual os anseios humanos são naturalmente
subordinados.
A conceituação acerca do conservadorismo não apresenta homogeneidade, para entendê-la é
necessário analisar a perspectiva histórica das experiências de diversos países. As definições
tratadas aqui, correspondem às três abordagens históricas do conservadorismo apresentadas por
Trigueiro. Para ele:
Em primeiro lugar, há o argumento aristocrático, ou teoria aristocrática, para
o qual o conservadorismo moderno poderia ser definido como a reação de
uma nobreza agrária à Revolução Francesa, bem como, aos princípios
liberais e à ascensão da classe burguesa ao longo do século XVIII e meados
do século XIX. Segundo essa chave, o liberalismo seria a ideologia da
burguesia, o socialismo e o marxismo, as ideologias do proletariado e o
conservadorismo, a ideologia da classe aristocrática. (TRIGUEIRO, 2015, p.
106).

Após a Segunda Guerra Mundial o conservadorismo adquiriu outro argumento, pautado em


um sistema filosófico, intelectual e político em que todo indivíduo e de qualquer classe social,
poderia dispor de suas bases filosóficas. Em segundo lugar, “[...] o conservadorismo seria um
sistema autônomo de ideias, definido a partir de alguns valores universais, tais quais, justiça, ordem,
moderação e equilíbrio.” (TRIGUEIRO, 2015, p. 107).

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Em terceiro lugar, há o argumento situacional ou teoria situacional que lê o conservadorismo
como uma resposta ou tática, adotada sempre que as instituições
estabelecidas estão sob alguma ameaça. (TRIGUEIRO, 2015, p. 107).
Estas três teorias possuem pontos em discordância mas em contrapartida possuem pontos em
comum. Todas concordam que o conservadorismo é uma ideologia que se relaciona com o processo
histórico.
De acordo com Silva (2015, p. 5) “[...] podemos primeiramente compreender, que a
ideologia “é um aspecto de massa das concepções filosóficas” existentes”. A ideologia representa
algo que praticamente não se altera no campo de visão de mundo de determinados grupos sociais,
abrangendo as relações políticas, econômicas e culturais. Para Silva (2015, p. 5)

“[...] esta forma de ver e de interpretar o mundo, não é algo homogêneo e


uniforme em todas as camadas de classes sociais, mas sim, é uma expressão
sociocultural extremamente heterogênea e multiforme, mas que se
concretiza nas próprias ações dos sujeitos políticos. A ideologia é algo
possível de ser transformada, recriada, ou até mesmo, de ser reproduzida e
disseminada ao longo dos contextos históricos”.

Neste contexto, Russel Kirk, um importante filósofo, político, historiador, crítico e autor
consagrado por sua influência no conservadorismo americano no século XX, concorda que o
conservadorismo não se assemelha à religião ou a ideologia.
Nesta perspectiva, temos a negação do conservadorismo como uma ideologia, assumindo
então uma abordagem genuína deste como sendo um modo de olhar a ordem social, cuja estrutura é
caracterizada como um conjunto de sentimentos sem inclinações ou dogmas ideológicos, pautados
numa ordem moral duradoura.
Diante desse cenário de disputas conceituais e ideológicas, no auge de movimentos
revolucionários iniciou-se a polarização entre conservadores e progressistas. Em meio às diferentes
definições e conceituações advindas de variados processos históricos, o conservadorismo está
pautado, embora ainda vinculado ao pensamento progressista.
O pensamento conservador é definido por um intenso processo histórico que o classificou
em pelo menos cinco vertentes.
A primeira, corresponde ao conservadorismo tradicionalista, cuja filosofia baseia-se em um
pensamento em que a sociedade é uma criação, portanto, regida por leis naturais. A partir desta
concepção faz-se necessário reconhecer que existe um conjunto de valores, hábitos, tendências e
tradições que devem ser preservadas para que a sociedade mantenha-se equilibrada.
Os tradicionalistas não necessariamente são avessos às mudanças sociais e políticas, desde
que estas não sejam definitivas e radicais a ponto de haver um rompimento que afetem as
construções morais que sustentam a sociedade. Deste modo, as ideias revolucionárias são de

15
imediato repudiadas e tidas como revoluções ideológicas, caracterizadas como uma ameaça às
estruturas sociais e políticas que permaneceram imutáveis durante séculos.
Por outro lado, os revolucionários alegam que tais estruturas não devem ser mantidas,
porque produzem as desigualdades e estas afetam o equilíbrio da sociedade.
A segunda vertente, representa o conservadorismo romântico, que fez parte do pensamento
alemão e desde então se coloca em oposição aos movimentos de resistência como as revoluções
burguesas e francesas que defendiam o rompimento com o antigo modo de sociabilidade, o sistema
feudal.
Os românticos acreditam que uma sociedade conduzida por dissociações das raízes do
passado e o individualismo poderiam enfraquecer as leis que regulam a natureza social através do
pressuposto de uma concepção metafísica que existe independentemente dos indivíduos. Esta
corrente de pensamento realiza ferrenhas críticas aos princípios iluministas que neste período
estavam pautados no princípio da igualdade.
No entanto, para os românticos isso implicaria no enfraquecimento da hierarquia e das
classes sociais que em seu ideário formavam as bases de uma sociedade justa, neste caso a
desigualdade era considerada extremamente necessária.
Este período compreende o início da metade do século XVIII e início do século XIX, onde
foram crescentes as ondas de tiranias modernas contra os movimentos revolucionários que ficaram
conhecidos como o período da origem do totalitarismo.
Em seguida temos um conservadorismo do tipo paternalista, aquele que essencialmente é
estatista e possui alguns traços de populismo, como complementa Schramm,

O termo “paternalismo” remete à atitude de tratar outrem em conformidade


com o que se pensa ser o seu bem, subordinando a esse bem as preferências
eventuais, expressas ou não, dessa pessoa. Em termos políticos,
“paternalismo” é entendido como “paternalismo de Estado” e serve para
indicar o tipo de governo em que os súditos se encontram frente a
governantes na condição de filhos menores frente ao pater famílias. Mas o
conceito “paternalismo de Estado” está inevitavelmente vinculado ao
conceito “poder”, podendo ser entendido como instância desvinculada da
vontade dos súditos [...]. (2014, p. 11).

Temos também um tipo de conservadorismo liberal. As associações entre o


conservadorismo e o liberalismo fazem parte da concepção de que o livre mercado é essencialmente
ligado à natureza humana, assim como o conservadorismo, deste modo acredita-se que o livre
mercado é o sistema que possibilita o desenvolvimento individual e coletivo, o que explica os
interesses presentes nestas conciliações.

16
Em seguida, temos o mais importante para este aparato teórico, as linhas de pensamento que
mais se aproximam do contexto histórico brasileiro, a vertente que pertence ao conservadorismo
que se identifica como uma nova direita.
A nova direita se configura com o agrupamento de conservadores, liberais e anticomunistas
em geral, que ganharam protagonismo a partir das manifestações de 2013 que culminaram no
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (2016), e que, consequentemente, colocaram em
risco as liberdades individuais e alguns projetos de avanço no campo dos direitos.

[...] i) nova direita, formada por dois grupos distintos: o primeiro e


minoritário é neoconservador, defende a intervenção estatal limitada e é
conservador moral; e o segundo é neoliberal, com partidos orientados pelo
mercado, defensores da mínima intervenção do Estado na economia e que
guardam posicionamento libertário em relação ao indivíduo e a questões
morais; ii) velha direita, ou direita tradicional, que apresenta predomínio de
temas econômicos neoliberais, e em relação às questões morais e sociais,
possui um posicionamento conservador; iii) partidos fisiológicos, que não
apresentam posicionamentos programáticos firmes sobre nenhum dos temas
analisados (neoliberalismo e conservadorismo), logo, fazem parte de uma
categoria distinta que os dois primeiros, e não por isso merecem menos
atenção.(ROEDER, 2016, p. 4)

3.1.2 A Reatualização do Conservadorismo – Novas Bases e Sujeitos

O Brasil é um país que pouco vivenciou regimes democráticos, pois em seus 127 anos de
república foi palco de vários períodos ditatoriais: o primeiro, o governo da República Velha de 1989
a 1930; o segundo, o Estado Novo, de 1937 a 1945; o terceiro, a República Populista de 1945 a
1964; e o quarto, a Ditadura Militar de 1964 a 1885.
Apesar do período de redemocratização que iniciou em 1985, o país não conseguiu
consolidar uma democracia com instituições firmes e representativas. Em todo esse percurso
histórico houve o apoio de movimentos conservadores frente as tentativas de um regime
verdadeiramente democrático.
Na luta por uma sociedade mais democrática, diversas frentes de resistências foram
duramente reprimidas e identificadas pelo governo brasileiro como inimigos da nação, mecanismos
que possibilitaram os golpes de Estado no Brasil.
Isso significa que a sociedade brasileira é caracterizada por um capitalismo dependente, e
dentro dele se estabelece um sistema de governo que é democrático, autoritário e dependendo das
circunstâncias, aristocrático. Deste modo, dependendo dos interesses das classes dominantes que

17
são naturalmente antagônicas aos da classe trabalhadora, o resultado desta dinâmica implica em
conflitos e instituições políticas frágeis.
Todo este contexto abre margem para entender o crescimento do conservadorismo que
historicamente se consolida como elemento estrutural da sociedade brasileira.
Em outros termos, a classe dominante pautada na moral conservadora e em planos
neoliberais, utiliza-se de aparatos ideológicos e nacionalistas para impedir os avanços no campo de
direitos e da emancipação humana. Podemos citar como exemplo o teor ideológico presente nas
manifestações de Junho de 2013.

No caso das manifestações brasileiras de junho de 2013, a partir das


demandas e reivindicação, colocam-se entre o progressismo e o
conservadorismo. Ou seja, foram grandes contingentes de pessoas, na
maioria jovens estudantes da classe média, classe popular, classe
trabalhadora, vindo dos bairros e periferias das cidades que organizavam as
manifestações de protesto. Grosso modo, protestavam contra o alto preço e
má qualidade do transporte público das grandes cidades brasileiras, mas não
apresentavam propostas claras de mudança social, nem eram explicitamente
contra os governos. (OLIVEIRA, 2017, p. 5)
.

A imagem a seguir, demonstra uma parte do início das mobilizações do dia 6 de junho de
2013 em São Paulo, motivadas pelo aumento das tarifas de metrô, trem e ônibus. O movimento foi
organizado por grupos que possuem histórico de luta contra as passagens de transportes públicos,
dentre estes grupos, o mais conhecido e que recrutou pessoas nas redes sociais para os protestos
chama-se "Movimento Passe Livre - MPL", fundado em 2005. Estes grupos, em sua maioria
descreveram-se como "apartidário" e declaram injusto o reajuste das tarifas de transporte público.

Fonte: http://thecityfixbrasil.com/2013/06/28/onda-de-manifestacoes-gera-reducao-massiva-das-tarifas-de
-ônibus-no-brasil/ Acesso: 08/10/2017.

18
Entretanto, não foram apenas as manifestações pelo aumento das tarifas de transporte
público que marcaram o ano de 2013. O mês de Junho se tornou palco de uma onda de protestos,
com a incorporação de outras pautas e reivindicações dentre elas, o repúdio pela utilização do
dinheiro público para financiar a Copa do Mundo, cobranças por melhorias na saúde e educação,
combate à corrupção, insatisfação com os governantes e etc.
Estes protestos marcaram a história no país por terem mobilizado milhões de brasileiros em
um movimento também descrito como "apartidário".
Contudo, as ruas também mostraram outras presenças, até então, sem espaço para outras
formas de manifestações mais amplas, os considerados e que se autodenominaram "nacionalistas",
com cartazes e slogans de combate à corrupção, de combate ao governo do PT - Partido dos
Trabalhadores, de cunho nacionalista e moral conservadora.

Fonte: https://outrapolitica.wordpress.com/2013/07/19/manifestacoes-de-rua-acendem-alerta-no-g-20/
Acesso em: 08/10/2017

No dia 15 de março de 2015, após mais ou menos dois meses de Mandato da ex-presidente
Dilma Rousseff que estava em uma disputa por apoio político nas instituições representativas, uma
multidão de pessoas ocuparam as ruas de pelo menos vinte e dois estados brasileiros contra seu
governo.
Os atos contabilizaram mais de 1 milhão de pessoas e teve apoio da mídia, de famosos, do
empresariado, de políticos anti-petistas dentre outros. As manifestações expressaram o objetivo de
afastar o PT e a então presidente Dilma Rousseff do governo do país. As pessoas foram mobilizadas
por meio das redes sociais e organizadas por coletivos distintos como o MBL, o “Vem Pra Rua”, o
“Movimento Passe Livre”, dentre outros. Muitos manifestantes saíram às ruas vestindo verde e
amarelo simbolizando a união dos brasileiros por um Brasil sem corrupção.

19
Fonte: http://blogdoparrini.blogspot.com/2015/03/bomba-jornal-russo-diz-que-eua-esta-por.html
Acesso em: 08/10/2017

Por consequência das manifestações pró impeachment, grupos de apoio ao PT e grupos


direcionados à esquerda também foram às ruas protestar, contra o movimento de golpe institucional
e a ameaça à democracia por meio de um processo de impeachment com motivos e provas
insuficientes.

Fonte: http://blogdomagnodantas.blogspot.com/2015/12/manifestacoes-favor-de-dilma-sao.html?m=1
Acesso em: 08/10/2017

Consequentemente, as Manifestações de 2013 tiveram impacto nas urnas no ano de 2014,


com o resultado acirrado das eleições presidenciais, em que disputava a reeleição Dilma Rousseff
que alcançou 51,54% dos votos, contra 48,6% de Aécio Neves do PSDB. Neste contexto, no
conjunto de análises sobre as manifestações, apontavam características de um “novíssimo
movimento social” no país.

20
Outro grupo denominado novíssimo movimento social, de matriz
assumidamente conservadora, criado no ano de 2014, no calor das
manifestações de junho de 2013 e da campanha eleitoral para presidente da
República realizada nesse mesmo ano é o Vem Prá Rua (VPR). Esse
movimento surge logo após a campanha eleitoral, com apoio dos grupos
políticos aglutinados em torno da chapa do candidato derrotado nas eleições
presidenciais, Aécio Neves, que insatisfeito com a derrota não aceita
totalmente o resultado das urnas, e numa tentativa de demonstração de força
política, por um lado, articula os parlamentares de oposição no congresso
nacional, principalmente parte do grupo do PMDB, para atacar as propostas
do governo no parlamento, por outro lado, estimula seus apoiadores na
sociedade irem às ruas protestar contra o governo da candidata reeleita
Dilma Rousseff. (OLIVEIRA, 2017, p. 6).

A partir desses acontecimentos ficaram claros a polarização política presente no país e a


intenção da classe dominante que se manifestou nas ruas com seus interesses e com apoio das
mídias tradicionais, a fim de conquistar a classe trabalhadora para um novo direcionamento político.
No perfil dos manifestantes pró impeachment, constavam: pertencentes à classe média e
média alta; majoritariamente compostos por adultos e em seguida por jovens; autodeclarados
brancos; com renda entre cinco a vinte salários mínimos; a maioria votaria no candidato Aécio
Neves e se identificava com os planos de governo do PSDB, segundo os dados estatísticos do
Datafolha.
Neste ponto, podemos considerar que foram através dessas manifestações que a nova direita
parou de se esconder, ou começou a se esconder atrás da perspectiva de uma política de centro,
apesar de suas intenções serem bastante claras.
As instituições organizadoras das manifestações ("Movimento Brasil Livre- MBL", "SOS
Forças Armadas" e "Movimento Vem pra Rua") possuem posicionamento político que convergia no
que tange à destituição do governo do PT, reeleito em 2014 nas eleições presidenciais e na
possibilidade de implantação de políticas neoliberais.

Esse movimento ganhou a confiança de expressiva parte da mídia escrita,


televisiva e digital que reproduziu fartamente essa associação da corrupção
aos governos do PT, e setores da classe média da sociedade, principalmente
funcionários públicos, médios empresários, profissionais liberais
estimulados pela mídia e as campanhas nas redes sociais engrossam as
manifestações nas ruas num grito de contra corrupção, impeachment a
Dilma, precisão a Lula e apoio a Lava Jato. (OLIVEIRA, 2017, p. 7).

Um dos pontos divergentes está relacionado à questão da intervenção militar no país.


Estrategicamente, para implantar as políticas governamentais neoliberais, seria necessário que a
classe dominante pudesse fazer alianças na política representativa e conquistar espaço no poder
executivo e assim instaurar um golpe institucional.

21
Os avanços da recém consolidada nova direita seguiram seu curso devido ao impeachment
da Presidente Dilma Rousseff que teve seu início no dia 2 de Dezembro de 2015, através de uma
denúncia sobre crime de responsabilidade fiscal e teve seu encerramento no dia 31 de agosto de
2016, com a cassação de seu mandato.
É importante ressaltar que os protestos da classe média duraram até o encerramento do
processo de impeachment em 2016.

Após o processo de afastamento da presidente, em maio de 2016, o


impeachment em agosto do mesmo ano e o avanço da operação Lava Jato o
VPR arrefeceu e praticamente desapareceu da mídia e das ruas. De certa
forma, ele já havia conseguido seu principal objetivo e também demonstrar
a força do lado conservador da sociedade brasileira, desde o período
colonial, passando pelo governo de Getúlio Vargas, apoio ao golpe político
militar e agora com a derrubada do governo da presidente Dilma, conhecido
como golpe político jurídico midiático, por articular políticos, juristas e a
mídia na defesa do impeachment. (OLIVEIRA, 2017, p. 8).

Fonte: https://br.sputniknews.com/amp/brasil/201603133807377-protesto-dilma-brasil/ Acesso em 08/10/2017.

Durante o processo de julgamento do impeachment, Michel Temer havia assumido a


presidência da república como presidente interino. Esta medida provocou outras manifestações,
pressionando-o para renunciar sua posição. Várias manifestações e protestos ocorreram no país,
organizados pelo Movimento dos Sem Terra – MST e a Central Única dos Trabalhadores - CUT,
O período mais importante dessas manifestações foram nos dias que antecederam a votação
no Senado, em que ocorreu a ação de erguer um muro na Esplanada dos Ministérios, devido a
polarização dos protestos contra e a favor do impeachment de Dilma Rousseff; dias depois, a ex
presidente foi condenada com a maioria absoluta dos votos no senado e seu vice, Michel Temer,
assumiu a presidência no dia 31 de agosto de 2016.

22
O povo brasileiro de modo geral desaprovou a atitude de Michel Temer por assumir o cargo
diante dos pedidos de renúncia que antecederam essa decisão, esperava-se segundo o clamor das
manifestações novas eleições.
Contrariando as expectativas inicia-se o mandato de Michel Temer, com um plano de
governo totalmente diferente do que foi apresentado na campanha de Dilma Rousseff em 2014,
inclusive o próprio Michel Temer afirmou no dia de sua posse que seu governo teria que seguir uma
perspectiva reformista. Contudo, desde que assumiu o mandato, limitou-se a fazer aliados no
parlamento para que pudesse aprovar reformas que possibilitassem o crescimento econômico do
país, com decisões ligadas à redução e corte nos investimentos sociais.
As propostas apresentadas por seu governo como o estabelecimento de um teto dos gastos
públicos - PEC 55, a Reforma Trabalhista, a Lei da Terceirização, a Reforma da Previdência, a
Reforma do Ensino Médio e outras provocaram protestos por todo o país. NO enfrentamento aos
protestos cresceu a repressão aos movimentos sociais.
Este cenário marca também o avanço do conservadorismo na sociedade brasileira, pois
desde que Eduardo Cunha (então Presidente da Câmara no impeachment) e Michel Temer
assumiram seus postos, foi possível o retorno e avanço de pautas conservadoras. Alguns dos
exemplos nesta direção, são projetos de leis que dificultam o aborto legal, como o PL 5069 de 2013;
o estabelecimento de um conceito de família por um "Estatuto da família" previsto no PL 6583 de
2013; a abertura da discussão sobre a redução da maioridade penal por meio da PEC 171 de 1993; o
estabelecimento de um "Estatuto do Nascituro" que determina Proteção Integral ao feto e
transforma aborto em crime hediondo mesmo em casos de violência sexual - PL 478 de 2007,
dentre outros.
Desde então, o Congresso Nacional está ocupado por uma maioria de representantes de
direita, que não hesitam em meio à crise política e econômica de encaminhar e votar projetos
neoliberais e conservadores.
A conciliação entre conservadorismo e capitalismo “[...]implica: desregulamentação,
liberalização, privatizações e reformas tributária, fiscal, monetária, trabalhistas, entre outros [...]”
(SOUZA, 2015, p. 17).
A questão é que esses projetos estão sendo colocados em discussão justamente pela
mudança do posicionamento político da população brasileira nesses últimos anos, com a influência
do crescimento da ideologia conservadora e o ataque aos governos populistas. A mudança no
direcionamento da política brasileira está intrinsecamente ligado ao crescimento da direita,
principalmente nos setores como o Parlamento.
Como afirma Roeder (2016, p. 3) "em 2014, a direita brasileira voltou a crescer no
parlamento, revertendo o movimento de queda constante do número de representantes na Câmara

23
dos Deputados [...]". Este crescimento representa mais ou menos 35,9% de assentos ocupados por
partidos conservadores em 2010 e 42,5% no ano de 2014.
O avanço do conservadorismo está sendo observado até mesmo pelos intelectuais
conservadores da atualidade que consideram que o ano de 2017 foi um importante período para o
conservadorismo brasileiro. De acordo com o conservador Bruno Garschagen:

Por mais que eu desejasse, não poderia imaginar que 2017 seria um ano
importante para o conservadorismo no Brasil. O pensamento conservador
saiu do gueto onde estava e hoje o conservador brasileiro não tem vergonha
de ser o que é. O conservadorismo não é mais sinônimo de regime militar ou
que tais, muito embora ainda haja enormes equívocos ou mesmo ataques
ideológicos ignorantes que tentam fazer do conservadorismo uma espécie de
fascismo et caterva. Ou que tentam reduzi-lo a uma versão renovada e
caricata da antiga Tradição, Família e Propriedade (TFP).(2017,
https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/bruno-
garschagen/2018/01/01/2017-um-ano-importante-para-o-conservadorismo-
no-brasil/).

Seu ponto de vista compreende que o conservadorismo deu pequenos passos na sociedade e
o maior deles representa a participação em massa de conservadores nos espaços culturais,
intelectuais, políticos, econômicos e jornalísticos.
Esta participação mais evidente foram influenciadas pelas manifestações da classe média
nos anos anteriores e pelo rumo político que as mesmas desencadearam no país, principalmente
com o foco para as eleições presidenciais que acontecerão em 2018, em que a direita busca formas
de ter um candidato eleito para mudar definitivamente as diretrizes da sociedade brasileira e
retroceder os direitos sociais conquistados.
Neste contexto, argumenta Bruno Garschagen:

A dimensão moral dessa batalha é fruto disso: a esquerda criou ou cooptou


diversos movimentos (negro, LGBT etc.) para impor agendas políticas
distintas e assim tentar moldar a sociedade de acordo com esse projeto
ideológico usando para isso o Estado. Muitos desses movimentos dizem
querer ser respeitados, mas desrespeitam a sociedade ao pretender impor as
suas bandeiras pela força, pela gritaria e com o dinheiro dos tributos pagos
por todos. Porque o conservador é cético em relação à política formal e aos
políticos, não acha que ambos tenham a capacidade de aperfeiçoar os seres
humanos nem de redimir a natureza humana – e que sequer pretendam fazê-
lo. Nem aceita, por essa razão, que qualquer governo ou grupo de pressão de
militantes queira impor pela via estatal (principalmente jurídica) as suas
agendas para obter direitos especiais e privilégios. A reação virá – como
está vindo. (2017, https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/bruno-
garschagen/2018/01/01/2017-um-ano-importante-para-o-conservadorismo-
no-brasil/).

24
Em tese, os conservadores acreditam que as diferenças entre os seres humanos não devem
ser reconhecidas como os fatores que geram a desigualdade. Para estes, todas as pessoas são
legalmente iguais, portanto, o Estado não deve tratar as pessoas com excepcionalidade. Isso
significa negar aparatos de reparação histórica e social para indivíduos discriminados, excluídos,
marginalizados e “radicalmente” diferentes.
No entanto, o que Bruno Garschagen enfatiza é que os conservadores apareceram e se
impuseram para defender suas ideias, têm sido lançado diversos livros acerca do tema, tem-se
criado espaços presenciais e virtuais para discussão e etc.
Para ele o maior avanço está na própria participação dos conservadores no embate contra a
esquerda e na corrida para as eleições presidenciais. Os principais pré-candidatos para as eleições
presidenciais compreende o ex-presidente Lula e o deputado federal Jair Bolsonaro.
Contudo, as dificuldades aumentam para as duas principais candidaturas, à medida em que
as eleições se aproximam, pois para o ex-presidente Lula condenado em segunda instância no STF
por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, a condenação pode significar um impedimento para
sua candidatura. Por outro lado, temos o candidato Jair Messias Bolsonaro, militar e político
brasileiro, conhecido por suas ideias nacionalistas e conservadoras. Suas declarações de cunho
racista, machista e LGBTQ fóbicas lhes custaram trinta pedidos de cassação e três de condenações
judiciais. Corriqueiramente suas posições políticas e ideológicas são associadas aos discursos da
extrema-direita.
No entanto, estas mesmas posições rendem ao candidato popularidade, principalmente nas
redes sociais junto a pelo menos 6,7 milhões de seguidores.
Vivenciamos uma conjuntura tensa em nosso país em que tais posições ganham cada vez
mais espaço. O conservadorismo atual vem revelando características nocivas à sociedade, suas
novas bases apresentam-se principalmente em um cenário político de crise de uma suposta
hegemonia das esquerdas.
Sendo assim, nestes últimos anos o pensamento conservador tem encontrado terreno fértil
para realizar apologia ao capitalismo e reforçar um Estado Mínimo como os meios capazes de
solucionar os problemas sociais. Com isso almeja-se menos restrições ao mercado e a atribuição ao
Estado de sua função coercitiva, do uso de sua força como legítima para agir violentamente com
todos que forem contra a ordem social vigente e seus costumes tradicionais.

No contexto atual, a moralização das expressões da questão social, típica do


(neo)conservadorismo, não é dirigida prioritariamente ao ajustamento dos
indivíduos, mas à sua punição. Juízes, jornalistas, intelectuais, comentadores
midiáticos definem o que é delito, dando lições de moral e indicando
soluções punitivas. (BARROCO, 2015, p. 629).

25
É nesse contexto que o conservadorismo tem encontrado espaço para se
reatualizar, apoiando-se em mitos, motivando atitudes autoritárias,
discriminatórias e irracionalistas, comportamentos e ideias valorizadoras da
hierarquia, das normas institucionalizadas, da moral tradicional, da ordem e
da autoridade. (BARROCO, 2011, p. 210)

Como consequência desse modo de pensamento, a sociedade é induzida a considerar as


expressões da questão social como simplesmente problemas de ordem moral e que de certa forma
precisam ser reprimidas. O neoconservadorismo tem se difundido através da reprodução do medo
social, assumindo novas faces.

Quando o objeto do medo é tratado moralmente, torna-se sinônimo do


“mal”. Ao mesmo tempo em que a moral serve ideologicamente para dar
identidade ao objeto do medo ela passa a justificar uma inversão na
moralidade do sujeito: na luta contra o “mal” toda moral é suspensa, tudo é
válido: o “mal” acaba justificando o próprio “mal”: a morte, a tortura, a
eliminação do outro. (BARROCO, 2011 p.210).

Este contexto abre margem para a discussão sobre a colaboração das redes de comunicação,
principalmente das redes sociais que exploram a violência em páginas policiais ou na viralização de
conteúdos violentos que são criteriosamente selecionados para chocar e espalhar a sensação de
injustiça e provocar indignação.
Os meios de comunicação, principalmente os relacionados às redes sociais mais usadas
pelos jovens brasileiros (Facebook, WhatsApp, Instagram e Twitter), possuem milhares de
seguidores, nos quais os protagonistas são os jovens que participaram/participam ativamente de
protestos e estão conectados à política por esses meios não convencionais.

3.1.3 O Avanço do Conservadorismo Entre os Jovens

A juventude é entendida como uma construção social, uma fase de transição entre a infância
e a idade adulta em que o “jovem” aos poucos, incorporam-se a um mundo de transformações
biológicas, psicológicas, culturais, adquire responsabilidades, elege novos valores (ou não), forma
sua identidade social.
É, assim, o momento crucial no qual o indivíduo se prepara para se
constituir plenamente como sujeito social, livre, integrando-se à sociedade e
podendo desempenhar os papéis para os quais se tomou apto através da
interiorização dos seus valores, normas e comportamentos. Por isso mesmo
é um momento crucial para a continuidade social: é nesse momento que a

26
integração do indivíduo se efetiva ou não, trazendo consequências para ele
próprio e para a manutenção da coesão social. (ABRAMO, 1997, p. 29).

Sendo assim,

Não existe uma concepção social única que caracterize e delimite o grupo
geracional no qual os jovens estão inseridos, visto que se trata de uma
categoria em permanente construção social e histórica. Assim, cabe falar em
diferentes juventudes, que possuem a construção da identidade como
questão central, mas que se destacam no imaginário social a partir de
múltiplas referências da sociedade (SOUZA e PAIVA, 2012, p. 353-354).

Contudo, existe indicadores que auxiliam na delimitação da “juventude”. Estes indicadores


consideram as particularidades da inserção deste grupo geracional em determinados contextos
históricos e sociais, em que são investigados os ciclos de idade e sua interligação ao
amadurecimento, os graus de autonomia, ingresso no mercado de trabalho, expectativa de vida da
população em geral, dentre outros.
No Brasil, essa delimitação acerca da juventude se deu através da perspectiva dos ciclos de
idade ligado ao amadurecimento e ingresso no mercado de trabalho, fazendo com que a faixa etária
para os jovens de 15 a 24 anos (UNESCO, 2004) tivesse progressão para 29 anos, classificando este
grupo como jovens adultos.
Tal variação é justificada por dois fatores: maior dificuldade dessa população ganhar
autonomia – devido às aceleradas mudanças no mundo do trabalho – e aumento da expectativa de
vida da população em geral (SOUZA e PAIVA, 2012, p. 354).
Nas sociedades consideradas mais antigas, a juventude não era representada ou reconhecida
e não havia diferenciação entre jovens e adultos.
Esta diferenciação, no campo da Sociologia, vincula-se aos mecanismos de socialização dos
jovens, com sua capacidade de integração social e adequação aos papéis adultos. Essa análise
apontou que “falhas” decorrentes deste processo propiciou uma “geração problematíca, termo em
que, muitas vezes, são relacionadas a jovens, propiciando estereótipos.

Nos anos 50, o problema social da juventude era a predisposição


generalizada para a transgressão e a delinquência, quase que inerente à
condição juvenil, corporificados na figura dos “rebeldes sem causa”. De
certa forma, é nesse momento que assume uma dimensão social a noção que
vinha sendo cunhada desde o fim do século passado a respeito da
adolescência como uma fase da vida turbulenta e difícil, inerentemente
perturbadora; como um momento em si patológico, demandando cuidados e
atenção concentrados de adultos para “pastorear” os jovens para um lugar
seguro, para uma integração normal e sadia à sociedade. (ABRAMO, 1997,
p. 30)

De acordo com Aquino (2009), “por volta das décadas de 1950 e 1960, a juventude passa a
ser vista como uma fase preparatória e transitória da vida, que exige da família e da escola uma

27
atenção e esforço contínuos, que visem preparar o jovem para a socialização.” (PAIVA apud
AQUINO, 2012, p. 355). Cresce a preocupação com a “juventude” e são construídas as formas mais
variadas de proteção (repressão).

Nos anos 50, quando os atos de “delinquência juvenil” extravasam os


limites dos setores “socialmente anômalos” (os marginalizados, os
imigrantes nas grandes metrópoles, as “classes perigosas” - como foram
objeto de atenção na passagem do século por criminologista como
Pestalozzi8) e se tomam comuns entre jovens de setores operários
integrados e de classe média, a juventude aparece ela mesma como uma
categoria social potencialmente delinquente, por sua própria condição etária.
O problema passa a ser o fato de que jovens que teriam “condições
objetivas” de ajuste ao mundo adulto manifestarem dificuldades nesse
sentido, gerando angústias quanto ao próprio modelo de integração existente
na sociedade. (ABRAMO, 1997, p. 30)

Se antes a juventude carregava o estereótipo de “transgressora” e “delinquente”, emerge


uma juventude universitária privilegiada, cujo estereótipo marca uma preocupação com o futuro da
sociedade, uma juventude ativa politicamente e alinhada a pensamentos progressistas.

Nos anos 60 e parte dos anos 70, o problema apareceu como sendo o de toda
uma geração de jovens ameaçando a ordem social, nos planos político,
cultural e moral, por uma atitude de crítica à ordem estabelecida e pelo
desencadear de atos concretos em busca de transformação - movimentos
estudantis e de oposição aos regimes autoritários, contra a tecnocracia e
todas as formas de dominação, movimentos pacifistas, as proposições da
contracultura, o movimento hippie. A juventude apareceu como a categoria
portadora da possibilidade de transformação profunda: e para a maior parte
da sociedade, portanto, condensava o pânico da revolução. O medo aqui era
duplo: por um lado?_ q da reversão do sistema , por outro, o medo de que,
não conseguindo mudar o sistema, os jovens condenavam a si próprios a
jamais conseguirem se integrar ao funcionamento normal da sociedade, por
sua própria recusa (os jovens que entram na clandestinidade, por um lado;
por outros, os jovens que se recusam a assumir um emprego formal, que
vivem em comunidades à parte, com formas familiares e de sobrevivência
alternativas etc.) - não mais como uma fase passageira de dificuldades, mas
como uma recusa permanente de se adaptar, de se “enquadrar”.(ABRAMO,
1997, p. 30-31).

A partir da década de 1960, a juventude ganha protagonismo por seu engajamento político e
o questionamento dos valores e costumes que imperavam na sociedade brasileira. Desde então, o
jovem é visto como um agente de transformação social, engajado e revolucionário.

No Brasil, é particularmente neste momento que a questão da juventude


ganha maior visibilidade, exatamente pelo engajamento de jovens de classe
média, do ensino secundário e universitário, na luta contra o regime
autoritário, através de mobilizações de entidades estudantis e do
engajamento nos partidos de esquerda; mas também pelos movimentos

28
culturais que questionavam os padrões de comportamento - sexuais, morais,
na relação com a propriedade e o consumo, etc. (ABRAMO, 1997, p. 31).

Este estereótipo acerca dos jovens vem sendo desconstruído à medida em que uma parcela
significativa de jovens se unem contra as pautas progressistas e se identificam com o pensamento
conservador. Diferente das gerações anteriores,

Nos anos 90 as figuras juvenis mais em evidência são os jovens pobres que
aparecem nas ruas, divididos entre o hedonismo e a violência: meninos de
rua, jovens infratores, gangues, galeras, tribos; e, principalmente, jovens em
“situação de risco” (risco para si próprios e para a ordem social), dos quais
aqueles envolvidos no tráfico, matando e morrendo muito cedo, são uma das
imagens mais dramáticas e ameaçadoras dos nossos tempos. Figuras
paradigmáticas em cada conjuntura histórica, mas também genericamente na
construção social a respeito da juventude no Brasil, diametralmente opostas
nas equações que se montam a respeito da exclusão e da cidadania e na
formulação das esperanças e das angústias neles depositadas: numa ponta,
os jovens estudantes politizados, idealistas e comprometidos com as causas
sociais e políticas da sociedade; na outra, jovens carentes envolvidos com o
mundo da criminalidade. (ABRAMO, 1997, p. 33).

Por outro lado, temos outra parcela da juventude que está se tornando cada vez mais
conservadora, resultados da crise de uma suposta hegemonia das esquerdas e o avanço de projetos e
ideologias neoconservadoras que através do advento da internet puderam agrupar-se, expandir seus
pensamentos e adentrar no imaginário social de uma juventude descrente da política convencional.
Neste contexto, há um crescimento da participação juvenil na política convencional, porém,
não possui comparação com as não convencionais como as redes sociais, organizações culturais,
reuniões juvenis, etc.
Ao analisar o crescimento do conservadorismo na sociedade brasileira podemos considerar o
forte protagonismo de “jovens”, caracterizados pela mídia como “revolucionários ao contrário”, que
investem no resgate do conservadorismo como alternativa aos problemas sociais e com isto,
crescem atitudes, práticas e discursos ferrenhos de defesa de seus valores, crenças e ideologias que
fazem oposição aos direitos sociais.

O mais assustador dessa invasão conservadora e reacionária é sua adesão


por parte dos jovens. Ser de direita virou moda. Dois jovens, de 23 e 26
anos, criaram a marca de camisetas Vista Direita apelando para os jovens
“com ideologia de direita e amantes da liberdade”.14 Comercializada
virtualmente com grande sucesso de vendas, suas estampas repudiam o
bloco selecionado pela direita e pela extrema-direita — o comunismo, os
médicos cubanos, o marxismo etc. —, acrescidos de figuras emblemáticas
como Thatcher e Reagan. Parte dos manifestantes que reeditaram a Marcha
pela Família, de 1964, é de jovens, assim como os que, frequentando escolas
de segundo grau e universidades, se recusam a participar de debates e a
elaborar trabalhos sobre as religiões de matriz afro-brasileiras, acusando-as

29
de pacto com o demônio, ou, ainda, os que cometem atos de justiçamento.
(BARROCO, 2015, p. 632).

Deste modo, nosso interesse em analisar a participação política e social destes


“revolucionários ao contrário” em páginas do Facebook para verificar o crescimento de posições
conservadoras entre os jovens.

3.2 Jovens nas Redes Sociais: Acompanhamento das páginas no Facebook

A página "Jovens de Direita" se identifica como uma Juventude voltada ao conservadorismo


e alinhada a uma perspectiva da nova direita; a maioria das postagens estão em formato de imagem
e compartilhamento de outras páginas.
Quanto ao conteúdo, a página expressa a aproximação dos jovens em discussões de pautas
complexas que significam avanço no campo dos direitos para uma parcela da sociedade e para
outros significam retrocesso moral conservador.

Fanpage: Jovens de Direita


Tabela 2. Agrupamento dos dados recolhidos nas publicações da página “Jovens de Direita”

Nome Imagem Texto Comentários Curtida Compartilhamen


s tos

Publicação Frase 1: “Existem três 873 38 220


1 grupos de pessoas que
votam no Bolsonaro:”
Frase 2: “2% - Fanáticos.”
Frase 3: “10% - Voto de
protesto.”
Frase 4: “88% - Voto de
quem defende a família!”

Publicação Frase 1: “Se você não 1676 99 786


2 concorda com o aborto, não
a norte.”
Frase 2: “Respeite meu
direito de abortar.”
Frase 3: “Soa assim…”
Frase 4: “Está bem se você
quer liberar seus escravos,
mas respeite meu direito de
tê-los.”
Frase 5: “Está bem se você
quer ter amigos judeus, mas

30
deveria respeitar o meu
direito de matá-los.”
Frase 6: “Está bem se quer
respeitar as mulheres, mas
deveriam respeitar meu
direito de bater nelas.
Frase 7: “O corpo do bebê
não é seu.”

Publicação Frase 1: “O amor não 2519 98 472


3 venceu aqui.”
Frase 2: “Pois o verdadeiro
amor já havia vencido
aqui.”

Publicação Frase 1: “Menino de 10 906 147 237


4 anos se maquiando.”
Frase 2: “Eu com 10 anos
tinha medo do gato
“satanas” da dona Clotilde.”

Publicação Frase 1: “Se não existe 2800 53 1037


5 racismo aqui.”
Frase 2: “Mulher preta não
é bagunça, não sou tuas
brancas”
Frase 3: “Aqui também não
tem!”
Frase 4: “Mulher branca
não é bagunça, não sou tuas
negras.”

Publicação Frase 1: “Falcon 9 heavy.” 488 57 191


6 Frase 2: “Custou R$ 1,6
bilhões de dinheiro
privado.”
Frase 3: “Está
revolucionando o setor
aeroespacial.”
Frase 4: “Pode levar a
humanidade a marte.”

Frase 5: “Estádio mané


garrincha.”
Frase 1: “Custou 1,7
bilhões de impostos.”

31
Frase 2: “É um estádio sem
uso.”
Frase 3: “Foi usado na copa
e é isso.”

Publicação Frase 1: “Bolsonaro 1447 134 768


7 defende:” Frase 2: “Menos
impostos;” Frase 3: “Menor
burocracia;” Frase 4:
“Solução para a questão
indígena que não afete o
agronegócio;” Frase 5:
“Parcerias público-
privadas;” Frase 6:
“Abertura para
investimentos dos EUA;”
Frase 7: “Lei antiterrorista
que atinja o MST;” Frase 8:
“Armas melhores para as
polícias;” Frase 9:
“Redução da maioridade
penal;” Frase 10:
“Revogação total do
estatuto do desarmamento;”
Frase 11: “Revisão da
política de direitos
humanos;”
Frase 12: “Fim do auxílio
reclusão;”

Fonte: https://m.facebook.com/profile.php?id=1392558690986399&ref=content_filter

A fanpage “Jovens de Esquerda” se identifica com o pensamento progressista. Possui a


mesma estrutura de publicação da fanpage “Jovens de Direita”; a diferença encontra-se no conteúdo
da página que se identifica como uma empresa de mídia/notícias que se põe na luta por justiça
social, contra o racismo, machismo, homofobia e qualquer tipo de opressão.

32
Fanpage: Jovens de Esquerda
Tabela 3. Agrupamento dos dados recolhidos nas publicações da página “Jovens de Esquerda”

Nome Imagem Texto Comentários Curtidas Compartilha


mentos

Publicação Frase 1: “Pai posta 3106 425 134


1 foto de filho com
namorado e viraliza
nas redes sociais”

Publicação Frase 1: “O homem 5899 364 6384


2 também aborta”.
Frase 2: “Quando
abandona a mulher
grávida, quando não
reconhece o filho e
quando foge da
paternidade”.
Frase 3: “Fruto doce”.
Frase 4: “Fruto do
ofício”.

Publicação Frase 1: “Já usavam a 3301 343 1975


3 Bíblia para justificar
homofobia e
machismo, agora tem
uma galera usando
trechos para justificar
o massacre na Síria.
Se é essa galera aí
que vai pro céu, eu
prefiro queimar no
inferno.”

33
Publicação Frase 1: “Não tenho 797 142 177
4 medo de ter filho gay,
tenho é medo de ter
filho homofóbico que
vai ser agente
causador de
sofrimento alheio!
Frase 2: “Isso sim é
uma vergonha!”

Publicação Imagem sem frase. 336 71 80


5

Publicação Frase 1: “Morte ao 1994 491 1348


6 neoliberalismo.”
Frase 2: “Queremos:”
Frase 3: “SUS forte.”
Frase 4: “Escola
Pública com
qualidade.”
Frase 5: “Soberania
nacional.”

Publicação Frase 1: “Mito 8016 3443 3210


7 miojo!” Frase 2: “Se
desmancha em 3
minutos ao falar de
economia!” Frase 3:
“Mito raiz!” Frase 4:
“Há 30 anos apanha
da mídia, foi capa de
centenas revistas veja,
horas e horas de
jornal nacional, e
continua sendo o mais
amado do povo
brasileiro!”

Fonte: https://m.facebook.com/profile.php?id=665517103649471&ref=content_filter

Dos dados coletados foram analisados três categorias do CMDA- Análise de Discurso
Mediado pelo computador:

34
A. Sentido - a página “Jovens de Direita” expressa a aproximação dos jovens em pautas
diversificadas no campo dos direitos, da vida privada/pública, política e moral, que são discutidas e
propagandas através de uma perspectiva conservadora carregada de ironia, contestação e analogia,
fazendo o uso de frases que remetem a questionamentos, relativismo e negação de conteúdos que
não sejam neoconservadores.
Por outro lado, temos a página “Jovens de Esquerda” que possui características alinhadas a
superação da desigualdade social que estes acreditam ser fruto de uma sociedade capitalista e
extremamente conservadora. Neste sentido, a página faz publicações expressando visões de mundo
e de combate ao conservadorismo por meio de imagens, frases de efeito e compartilhamentos.

B. Interação - A interação dos indivíduos que se colocam em contato com as páginas ocorre
através de curtidas, compartilhamentos e principalmente pelos comentários. Entretanto, na página
“Jovens de Direita” os comentários foram muito inferiores ao alcance das publicações no quesito
curtidas e compartilhamentos; apenas algumas publicações geraram debates mais intensos. A
maioria dos comentários concordavam e buscavam legitimar por meio do discurso, o conteúdo das
publicações. Contudo, a página “Jovens de esquerda” alcançou um número significativo de
comentários; no entanto, a maioria era de pessoas que não concordavam com o conteúdo de suas
publicações e buscavam a todo momento fazer oposição às publicações.

3.2.1 Concepções sobre família

Fig. 1. Comentário da publicação 1.

A abordagem de família no qual a figura 1 faz alusão baseia-se em um conceito de família


“tradicional”, defendida pela página “Jovens de Direita”

Tradicionalmente, compreende-se família como um arranjo baseado na


união de um homem, uma mulher e seus filhos. Entretanto, essa definição

35
cristã, baseada nos preceitos bíblicos, não abarca mais todos os arranjos
contemporâneos. Ela exclui dos direitos estendidos às famílias uma parcela
grande das pessoas que se organizam de formas alternativas. Ao definir
família apenas como aquela que compatível com o arranjo cristão, não se
excluem apenas as uniões homoafetivas, mas também as famílias formadas
por avós que educam os netos, por tios que se responsabilizam pela criação
dos sobrinhos, etc. (POST; COSTA, 2015 s/p)

O modelo de família evidenciado na postagem 1, inclusive é questionado por um homem


através de sua experiência pessoal quando este pergunta “Qual tipo de família? Só tenho amigos
doentes ou fanáticos. Família com amante ou sem amante? Vá para bem longe com esse Papinho.”,
deixando nítido sua intenção de denunciar que a “família tradicional” não é o modelo perfeito como
apresentado à sociedade.
A página “Jovens de Esquerda” se coloca para discutir e desconstruir este conceito de
família e incorpora todas as possibilidades de união afetiva.
Na publicação 1 da tabela número 3, a página se opõe a concepção de família defendida pela
página “Jovens de Direita” e comprova seu compromisso com a desconstrução de um modelo
privilegiado de família.
Entretanto, os comentários da publicação receberam manifestações que discordaram do
apoio da página as famílias, cuja composição afetiva é diferente da considerada “família
tradicional”.

Fig. 2. Comentário da publicação 1.

36
Fig. 3. Comentário da publicação 1.

Outros expressam que “É o fim do mundo mesmo” e “Quem quiser achar a coisa mais
normal do mundo q ache eu tenho dois filhos homem e gostaria muito q eles continue homem pq eu
pari homem”.
Contudo, há também comentários de apoio à publicação “muito mais do que normal, opção
Religiosa e opção sexual cada um escolhe a sua basta o outro Respeitar (Emoticon apaixonado),
“Ninguém tem que aprovar nada. Apenas vejam. E respeite pra ser respeitado.” e “Lindos
(Emoticon apaixonado)”.

3.2.2 Posicionamentos em relação ao aborto

Na publicação 2 referente a tabela número 2, a página “Jovens de Direita” aborda um


assunto que sempre condiciona grandes debates, pois mais de 70% da população brasileira se coloca
contrária ao tema. Este tema sempre foi e é polêmico, com algumas opiniões assentadas no senso
comum e em uma moral conservadora carregada de preceitos religiosos.
Na fanpage “Jovens de Direita” este assunto é debatido por meio da perspectiva do senso
comum, onde a publicação busca relativizar a frase “Se você não concorda com o aborto, não
aborte”.
O aborto é definido pela Medicina como o nascimento de um feto com
menos que 500 g ou antes de 20 semanas completadas de idade gestacional
no momento da expulsão do útero, não possuindo nenhuma probabilidade de
sobrevida. No Brasil, o ato de provocar um aborto é considerado crime
(artigos 124, 125, 126 e 127 do Código Penal Brasileiro) exceto em duas
circunstâncias: quando não há outro meio para salvar a vida da gestante ou é
resultado de estupro (artigo 128). Por outro lado, o aborto no Brasil é
considerado um problema de Saúde Pública, o que significa que devemos
levar em conta a sua dimensão. (VIEIRA, 2010, S/P)

37
Nesta perspectiva, a publicação expressa comentários que reforçam a criminalização do
aborto.

Fig. 1. Comentário da publicação 2.

Fig. 2. Comentário da publicação 2.

Outro aspecto aparece nos comentários: a questão dos meios de prevenção e a culpabilização
da mulher. Consideramos necessário discutir o tema em sua totalidade considerando informações
aprofundadas que não sejam apenas informações incompletas e carregadas de pré-julgamentos.
Deste modo,

A preventabilidade, ou seja, a existência de medidas eficazes de prevenção


de determinados fenômenos mórbidos é o terceiro aspecto a ser considerado
quando pensamos em um problema de Saúde Pública. Quando tratamos do
aborto como problema de Saúde Pública, esses três aspectos estão presentes.
Considerando a sua dimensão, estudos de estimativas utilizando como base
os dados do Sistema Único de Saúde (SUS) de internações por
complicações de aborto afirmam que um grande contingente de cerca de 1
milhão de abortos são realizados por ano no país. Esses dados confirmam os
estudos de série histórica desenvolvidos por Monteiro e Adesse. Esse grande
contingente será provavelmente maior se considerarmos os casos de abortos
em mulheres que não sofrem internações ou são realizados clandestinamente
em clínicas privadas. O aborto provocado no Brasil, devido à sua
criminalização, pode ser considerado como inseguro e figura na lista das
principais causas de mortalidade materna no país. (VIEIRA, 2010, S/P)

38
Mas há também quem discorde da publicação “Post ridículo” e outros que fazem uma
reflexão mais abrangente acerca do assunto, considerando as condições sociais de risco à saúde
feminina, denunciando a institucionalização do corpo da mulher pelo Estado e pela Igreja, que
expõe a realidade social de crianças pobres, o abandono paterno e a hipocrisia de quem defende o
aborto porque está “defendendo uma vida”.
A fanpage “Jovens de Esquerda” se propõe e parecem mais abertos a discutir a questão do
aborto de uma forma mais reflexiva e como problema de saúde pública. Deste modo, nos
comentários da publicação 2 da tabela número 3 são expressas reflexões sobre o assunto, embora
com muitos comentários contrários ao tema.

Fig. 1. Comentário da publicação 2.

39
Fig. 2. Comentário da publicação 2.

As manifestações contrárias à discussão e criminalização do aborto apareceram muito em


forma de crítica ao conteúdo da publicação, onde a maioria dos comentários focalizaram na
culpabilização da mulher.

Fig. 3. Comentário da publicação 2.

3.2.2 A perspectiva da religião

No quesito religião, a publicação 3 da tabela número 2 questiona a representação de amor na


comunidade LGBT, relacionando-a ao amor de Jesus Cristo ao morrer na Cruz. Tal comparação
consideramos, busca deslegitimar a abordagem do amor na comunidade e dizer que o amor
verdadeiro está na ação de Jesus Cristo e não na parada LGBT que acontece todo ano na cidade de

40
São Paulo. É colocada à disposição uma frase que reforça a representação da comunidade como
algo ruim, promíscuo e amaldiçoado que é legitimado com o suporte da religião.
As crenças baseadas em estereótipos LGBT fóbicos vêm este mundo diversificado como um
"pecado", pois existem religiosos que reconhecem apenas um tipo de relação amorosa: aquele que
acontece entre pessoas de sexos opostos e só reconhecem a identidade de gênero daqueles que
biologicamente nascem homem ou mulher.
Neste contexto, a comunidade LGBT é alvo de críticas por não seguir os padrões de
identidade e relacionamento prescritos em um livro sagrado numa sociedade laica, ainda muito
orientada por religiões "cristãs".

Fig. 1. Comentário da publicação 3.

Fig. 2. Comentário da publicação 3.

O comentário a seguir discorda da publicação e ainda enfatiza que “Deus” ama a


comunidade LGBT.

41
Fig. 3. Comentário da publicação 3.
A fanpage "Jovens de Esquerda" procura discutir religião em uma perspectiva de respeito ao
Estado laico; que este não influencie a exclusão de determinados grupos. Isto significa combater a
discriminação e garantir direitos iguais aos demais cidadãos brasileiros, mesmo que estes sejam
contrários a determinados preceitos religiosos.
Um exemplo da influência de determinadas religiões no cerne da sociedade, são algumas
pessoas tentando justificar o massacre que há tempos vem ocorrendo na Síria por meio de passagens
bíblicas, assim como justificam o machismo e a homofobia dentre outros.
A maioria das pessoas concordaram com o conteúdo publicado pela página e escreveram
mensagens em tons de crítica a quem discorda e a ação de utilizar passagens bíblicas para estes fins;
outros discordaram do conteúdo afirmando que as passagens de alguma maneira estão corretas.

Fig. 1. Comentário da publicação 3.

42
Fig. 2. Comentário da publicação 3.

3.2.4 Perspectivas em relação à Identidade de Gênero

A discussão sobre identidade de gênero na página "Jovens de Direita" tendeu a questionar


um menino de 10 anos que viralizou na internet com vídeos fazendo tutoriais de maquiagem. A
página critica a atitude do garoto por considerar que maquiagem é adequada apenas para pessoas do
sexo feminino e com 10 anos deveria ter medo do "gato satanás" da dona Clotilde, uma referência
de um seriado mexicano para crianças.
Conforme Anjos (2000, p. 275)

A noção de gênero é entendida aqui como relações estabelecidas a partir da


percepção social das diferenças biológicas entre os sexos (Scott, 1995). Essa
percepção, por sua vez, está fundada em esquemas classificatórios que
opõem masculino/feminino, sendo esta oposição homóloga e relacionada a
outras: forte/fraco; grande/pequeno; acima/abaixo; dominante/dominado
(Bourdieu, 1999). Essas oposições são hierarquizadas, cabendo ao polo
masculino e seus homólogos a primazia do que é valorizado como positivo,
superior. Essas oposições/hierarquizações são arbitrárias e historicamente
construídas.

Nessa perspectiva, a sociedade tem estabelecido papéis sociais que devem ser exercidos por
homens e mulheres, numa relação em que o papel feminino é passivo e o masculino ativo. Isso

43
significa que os homens devem seguir um padrão de masculinidade sustentado por uma sociedade
machista e religiosa que impõe papéis de gênero e oprime aqueles que não se encaixam.

Fig. 1. Comentário da publicação 4.

Crescemos sendo ensinados que “homens são assim e mulheres são assado”,
porque “é da sua natureza”, e costumamos realmente observar isso na
sociedade. Entretanto, o fato é que a grande diferença que percebemos entre
homens e mulheres é construída socialmente, desde o nascimento, quando
meninos e meninas são ensinados a agir de acordo como são identificadas, a
ter um papel de gênero “adequado” (JESUS, 2012, p. 7-8).

O caso do comentário a seguir expressa como é interpretado esses papéis.

Fig. 2. Comentário da publicação 4.

É comum, nestes comentários, encontrar posicionamentos que tratam o assunto como caso
de correção moral através da violência, que habitualmente faz parte do mecanismo de famílias que
não aceitam a identidade de gênero ou a orientação sexual de seus membros, principalmente de seus
filhos.

44
Fig. 3. Comentário da publicação 4.

Em contrapartida, temos determinados sujeitos que não se importam com o menino gostar
de se maquiar.

Fig. 4. Comentário da publicação 4.

A página "Jovens de Esquerda" segundo seu compromisso de combate à homofobia e


qualquer opressão, coloca-se contrária aos ataques preconceituosos com base na identidade de
gênero e orientação sexual dos indivíduos. A página reforça seu compromisso ao assumir a posição
de que não é ruim ter "um filho gay" mas sim ter um filho homofóbico.
Houve muitos comentários contrários à mensagem, inclusive a discussão sobre o tema
revelou comentários agressivos e intolerantes, pois os indivíduos em sua maioria, acreditam que a
comunidade LGBT possuem privilégios em relação aos cisgêneros e heterossexuais; as maiores
reclamações relacionam-se ao comportamento da comunidade LGBT, que descrevem como
desrespeitoso e promíscuo.

Fig. 1. Comentário da publicação 4.

45
Fig. 2. Comentário da publicação 4.

3.2.5 Concepções sobre os Movimentos Sociais

De forma resumida, os movimentos sociais são agrupamentos organizados da sociedade civil


que agem coletivamente para resistir à repressão, opressão e exclusão. Estes movimentos lutam por
interesses bem distintos que se materializam em diversas formas de manifestações que possam
despertar a consciência da sociedade.
Dessa forma, a página "Jovens de Direita" relativiza a manifestação de uma mulher negra
nas redes sociais, cujo objetivo alertar a sociedade sobre frases racistas usadas cotidianamente e
estereótipos racistas associados às mulheres negras.
A página compara a manifestação da mulher negra com a de uma mulher branca e reescreve
a frase e divulga nas redes sociais "mulher branca não é bagunça, não sou tuas negras" onde a
página afirma que a frase não pode ser considerada racista. Afinal se uma mulher negra pode
divulgar a frase "mulher negra não é bagunça, não sou tuas brancas", uma mulher branca também
pode, pois para a página as duas manifestações são semelhantes.
No entanto, é de conhecimento que

O Brasil foi o último país a abolir a escravidão. Esse fato histórico,


aparentemente longínquo, deixou, na verdade, profundas marcas na
sociedade brasileira. Para entendê-las, é preciso não esquecer os navios
negreiros e os objetos de tortura. É preciso lembrar que a abolição foi lenta.
Mas é preciso também pensar o lugar que a ciência ocupou na consolidação
do preconceito contra os negros. Para que se lute contra o racismo é preciso
primeiramente reconhecer que ele existe. Sem essa “confissão” tira-se do
foco o alvo que se quer atingir (NUNES, 2006, p.90).

E que,

A esperada cidadania após a abolição não aconteceu e, até hoje, é uma luta
constante em uma sociedade em que a desigualdade racial é arraigada e as
tentativas de apagar a memória da barbárie contra os escravos são

46
permanentes, quer pela eliminação de documentos, quer pela disseminação
do mito da democracia racial (NUNES, 2006, p.91).

Deste modo, com essa herança histórica não se pode analisar essas duas manifestações da
mesma maneira e nem considerar algum tipo de racismo que afeta os brancos, pois quando falamos
de racismo a tendência é de pensá-lo na esfera das relações interpessoais traduzindo-o como
preconceito que pode ocorrer com qualquer pessoa através de discriminação e injúria.
O racismo é pouco discutido na esfera estrutural e cultural da sociedade brasileira, onde
segundo dados do IBGE (2017) o racismo é um fator que desencadeia desigualdades sociais e
explica abismos sociais entre brancos e negros.
Dito de outro modo, o racismo se configura como uma forma dos grupos dominantes
manterem “privilégios historicamente adquiridos em detrimentos dos direitos dos grupos
estigmatizados, oprimidos e marginalizados na sociedade brasileira desde a formação do país”.
(ARAÚJO, 2016, p. 465-466).
Com estas constatações, a fanpage faz analogias infundadas que reforçam práticas e atitudes
racistas, além de retirar do sujeito a condição de vítima para vitimar-se quando lhe é apontado
privilégios.
Contudo, os comentários da publicação reforçam a mensagem sobre a questão racial,
fundamentadas no senso comum em que consideram "justo" a comparação, sem dar importância ao
contexto histórico.

Fig. 1. Comentário da publicação 5.

Fig. 2. Comentário da publicação 5.

47
Dos comentários que validaram a publicação da fanpage, apenas um indivíduo se manifestou
de forma contrária, trazendo uma reflexão.

Fig. 3. Comentário da publicação 5.

A página "Jovens de esquerda" discute movimentos sociais por meio de uma foto de uma
artista mexicana chamada Frida Kahlo, defensora dos direitos das mulheres que se tornou um
símbolo do movimento feminista.

Durante muito tempo a mulher foi representada na sociedade como um sexo


frágil, submisso e com um único papel – a reprodução. Desde a Grécia
antiga, grandes filósofos como Aristóteles já sustentavam essa ideia de
submissão da mulher e superioridade do homem e a partir da
institucionalização da família, propriedade privada e acúmulo de bens a
sociedade vai ser caracterizada pelo modelo patriarcal e o papel “doméstico”
da mulher vai ser cada vez mais afirmado (MENDES, VAZ, CARVALHO,
2015, p. 90).

Neste contexto, Frida Kahlo (1907-1954) lutava para desconstruir esse conceito do feminino
por meio de suas atitudes e personalidade forte. Apesar de suas superações pessoais e sua trajetória
na luta feminina, Frida ainda é questionada por diversos movimentos anti feministas sobre o fato de
ser símbolo da luta feminista.

48
Ao contrário da página "Jovens de Direita", a página "Jovens de Esquerda" apoia os
movimentos sociais e reconhece sua importância histórica na luta por uma sociedade mais justa e
igualitária. No entanto, houve comentários questionando a simbologia da artista e o compromisso
da página em lutar contra as opressões.

Fig. 1. Comentário da publicação 5.

Em seguida tem-se um comentário que reduz a mulher aos afazeres domésticos sempre que
esta luta por seus direitos.

Fig. 2. Comentário da publicação 5.

49
A maioria dos comentários foram de homens o que chama a atenção para o teor machista
dos comentários e que tais atitudes foram despertadas porque a organização de mulheres vem
incomodando.

Fig. 3. Comentário da publicação 5.

3.2.6 Pensamento em relação à Economia

No quesito economia, a página "Jovens de Direita" defende uma economia de mercado


pautado na livre concorrência e autorregulação. A lógica de mercado consiste em filiar-se ao
liberalismo, cuja premissa é reduzir a intervenção estatal e privatizar o serviços e empresas
públicas.
Já a premissa da privatização se dá pelo fato dos conservadores e liberais considerarem que
o Estado não é capaz de administrar bens, empresas e serviços públicos, pois são recorrentes os
escândalos de corrupção e negligência.
Neste contexto, afirma Machado:

Houve tremendo inchaço da máquina estatal, que afetou o seu modo de


atuar e a tornou cada vez mais burocrática, presa à letra fria da lei e distante
de preceitos de justiça e equidade, não na acepção relativa ao cometimento
de desvios de conduta, mas sim no sentido de busca e defesa da forma pela
própria forma, e não para que atingidos fins maiores previstos pelo
ordenamento. É o traço da autorreferencialidade, característico do modelo
de gestão estatal burocrático e alvo de crítica pelos gerencialistas, pelo fato
de a Administração Pública voltar-se para dentro de si, e não à coletividade.
(2015, p. 101)

50
De acordo com esta realidade, os liberais defendem a privatização e um Estado menos
intervencionista; de um lado há comentários defendendo a posição da página e de outro há ressalvas
de uma pessoa que acredita que em alguns serviços públicos e o Estado com maior qualidade na
prestação de serviços.

Fig. 1. Comentário da publicação 6.

Fig. 2. Comentário da publicação 6.

A página "Jovens de Esquerda" se opõe ao liberalismo, mais incisivamente contra o


"neoliberalismo" e aposta em um Estado fortalecido, com capacidade plena de oferecer serviços
públicos de qualidade e gerir bens e empresas com responsabilidade.
Na publicação, a página utiliza o símbolo do Libertarianismo para representar o
Neoliberalismo, este erro foi muito apontado nos comentários da página.

51
Fig. 1. Comentário da publicação 6.

É apontado também comentários que reforçam a ideia de que o Estado é negligente, corrupto
e que o mercado é mais capacitado para gerir empresas, bens e serviços.

Fig. 2. Comentário da publicação 6.

De outro lado, tem-se comentários que expressam preocupação com os efeitos do


"neoliberalismo", apontando a necessidade de mobilização para reverter sua ofensiva.

Fig. 3. Comentário da publicação 6.

52
3.2.7 A dimensão da política

Na questão política, a página "Jovens de Direita" investe no candidato à presidência e


conservador, Jair Messias Bolsonaro, conhecido por suas declarações polêmicas e ofensivas para
determinados grupos.
Em sua publicação, a página expõe as propostas defendidas pelo candidato, propostas
consideradas conservadoras, que fere os direitos humanos, baseadas no senso comum e imediatistas.

Como a experiência de governo democrático tem sido curta e os problemas


sociais têm persistido e mesmo se agravado, cresce também a impaciência
popular com o funcionamento geralmente mais lento do mecanismo
democrático de decisão. Daí a busca de soluções mais rápidas por meio de
lideranças carismáticas e messiânicas. (CARVALHO, 2008, p. 221-222)

Deste modo, Jair Bolsonaro com cerca de mais de 4 milhões de seguidores nas mídias
sociais torna-se o "messias", aquele que poderá salvar o povo brasileiro da corrupção, da crise
econômica e política e "afastar a esquerda" do poder.

Fig. 1. Comentário da publicação 7.

De outro ponto de vista, há comentários na publicação que questiona os interesses e projetos


do candidato.

53
Fig. 2. Comentário da publicação 7.

Fig. 3. Comentário da publicação 7.

Quanto a esta questão a página "Jovens de Esquerda" investe em candidatos progressistas


que possam competir com Jair Messias Bolsonaro e conseguir os mecanismos necessários para lutar
contra o avanço da direita na política.
A página “Jovens de Esquerda” acredita que o único candidato com chances reais de vencer
as eleições é o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Neste contexto, a página faz comparações
entre Lula e Bolsonaro nas suas publicações, alegando que o ex-presidente é o ideal para o país. As
comparações renderam muitos comentários contrários.

Fig. 1. Comentário da publicação 7.

54
Fig. 2. Comentário da publicação 7.

Fig. 3. Comentário da publicação 7.

Poucos apresentaram apoio a Lula e ao seu modo de governar.

Fig. 4. Comentário da publicação 7.

Observamos que, com a criação das redes sociais, os debates ideológicos se intensificaram e
os jovens não possuem nenhum constrangimento em se colocarem indignados com o que ou quem
não concorda com seus valores e ideologia.

55
As páginas reforçam através de imagens e textos, ideologias políticas que traduzem-se no
dualismo entre direita e esquerda, conservadores e progressistas, bem e mal.
A era da informação e comunicação digital deu voz aos jovens, sejam os de direita, sejam os
de esquerda.
Nas páginas analisadas, é possível atestar um crescimento significativo de comentários que
expressam posições preconceituosas, discriminatórias, relativizadoras, fundamentados no senso
comum, sem aprofundamento teórico e crítico.
Em contrapartida tem-se a presença de posições mais progressistas, baseadas nos princípios
de igualdade e justiça social que fazem oposição ao crescimento do conservadorismo.
Consideramos que tais comportamentos preconceituosos, criminosos e discriminatórios
possuem presença mais forte nas redes sociais, pois trata-se de um mecanismo onde é permitido de
uma certa maneira expressar e emitir opiniões que nem sempre podem ser ditas na vida offline.
Sobre os indicadores selecionados, constata-se que 98% dos seguidores da fanpage “Jovens
de Direita” colocam-se em um posicionamento contrário às tentativas progressistas de ressignificar
certas temáticas como o conceito de família inclusiva em detrimento da tradicional; o aborto em
uma perspectiva de saúde pública em detrimento do pensamento moral, cristão e machista que cerca
o tema; o Estado Laico e que respeita e representa todas as religiões ou a ausência delas em
detrimento de um Estado cristão e intolerante; pensar a construção de um debate sobre identidade
de gênero e respeito às diferenças humanas em detrimento de crenças que estabelecem e respeitam
apenas o gênero masculino e feminino; considerar válida a luta das minorias por respeito e
igualdade/equidade em detrimento da relativização, individualização, exclusão, opressão e
marginalização.
Ressalta-se que fanpage “Jovens de Esquerda” se coloca na resistência ao crescimento do
pensamento conservador ao discutir esses indicadores em uma perspectiva progressista baseando-se
nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade.

56
3.3 Jovens e o conservadorismo: uma aproximação com os estudantes do Campus Baixada
Santista

57
58
59
60
61
62
63
64
Caso queira, comente as questões.

65
1- Algumas são tendenciosas, tem perguntas quem não dá pra responder só com concordo ou
discordo

2- Acho que vocês estão criando um estudo enviezado, no meu ponto de vista jovens radicais
socialistas e capitalistas são problemas semelhantes, necessidade de atenção, segundo algum
psicólogo que não me recordo.
Ser de esquerda não te torna uma pessoa boa.

3- Cuidado com o público com o qual você está fazendo sua pesquisa. Se esforce para que
outras pessoas de outros ambientes que não o universitário também respondam ao questionário,
para conseguir respostas mais abrangentes e fiéis à população real brasileira que não o âmbito
privilegiado, desconstruído e de uma certa classe social que são em sua maioria os estudantes da
Unifesp

4- A estrutura dualista do questionário opondo dois posicionamentos diametralmente opostos a


respeito das questões colocadas, caracterizada pelas respostas "sim" ou "não", condiciona as
possibilidades de rediscutir e redimensionar tudo o que foi posto em cada questão e encerra
qualquer possibilidade de ponderação de temas complexos, como o ensino de religiões e o
aborto, em um formato fechado (ou se é favorável ou se é contra). Defendo a perspectiva de que
olhar para cada tema complexo que envolve disputas sobre o que é moralmente defensável ou
mesmo o que é desejável ou não significa estar permanentemente aberto a rediscutir a própria
métrica pela qual julgamos questões de interesse coletivo. Tentei responder as questões com um
grau de aproximação daquilo que penso atualmente, mas não dispensando a necessidade de
refletir que o sim ou o não que atribuo a cada questão não são meras respostas positivas ou
negativas, mas são respostas cujas justificativas não aparecerão nesse formato de questionário
por assumir uma polarização que não contempla a todos que preenchem cada item. Inclusive, a
própria a possibilidade de responder apenas "sim" ou "não" para cada item me pareceu
inadequado, até porque cria uma falsa ideia de que já temos que estar plenamente posicionados
referentes a um assunto conforme a orientação com viés da pergunta, como no caso do ensino
religioso - creio que as pessoas deveriam ter direito a acessar a educação que quiserem e que
demandarem, independentemente de regulações de um ministério como o MEC ou de uma
matriz curricular -, nem por isso considero ter associação com valores conservadores como o
enviesamento desta pesquisa parece sugerir a todo tipo de questão que foge de uma matriz de
respostas que chancelam um tipo particular de visão de mundo da pesquisadora, transposta na
pesquisa. No mais, creio que expandir as possibilidades de respostas de cada item qualificaria a
pesquisa ao permitir a geração de mais dados que contemplasse um perfil mais amplo de
estudantes com seus posicionamentos e justificativas.

5- A penúltima questão eu ainda não sei avaliar direito, pois me falta o conhecimento de dados
e argumentos contrários e favoráveis.

6- Falta mais clarificação em algumas questões. Fica uma margem de erro é um maniqueísmo
ao responder algumas questões. Meio que se ficássemos coagidos a responder de uma maneira
específica, senão, seríamos pertencentes a um grupo inimigo.

7- As perguntas estão sugestivas e muitas vezes não indicam algo objetivo. Por exemplo: a do
Bolsonaro que comenta dos valores cristãos, na afirmação não há relacionando religião e estado
somente relacionando os valores que guiam indivíduos, logo isso é muito subjetivo do
indivíduo. Respondi imaginando que a intenção fosse ligar religião e Estado.
Outro comentário: o conservadorismo não se restringe a ações que ocorrem na política e não são
somente ligadas ao setor cristão da sociedade. Grande parte do apresentado tem relação com a
religião cristã, mas podem existir umbandistas que acreditam na pena de morte, ateus que são
contra o aborto e cristãos a favor do casamento de homossexuais. Cuidado para que crenças
internas interfiram na pesquisa. Por fim, bom trabalho e boa sorte.

8- "neoconservadorismo" kkkkkkkkkkkkkj

66
9- Me manda o resultado :D

10- Na questão sobre ideologia de gênero, é difícil entender se a pergunta se refere a posição do
MEC ou a posição dos críticos. Assumi, porém, que referir-se-ia a posição dos críticos.

11- Se houvesse nas opções "concordo parcialmente/discordo parcialmente/neutro" seria mais


perceptível a presença de conservadores moderados, que compõem grande parte da população

Os resultados da aplicação do questionário online (disponibilizado no período de cinco dias


aos estudantes da Unifesp/Campus Baixada) obteve 46 respostas, sendo de Psicologia 43,5%
seguido dos de Serviço Social 32,6%, Fisioterapia 2,2%, Terapia Ocupacional 4,2%, Nutrição 8,7%,
Educação Física 6,5%, Bacharelado Interdisciplinar do Mar 2,2%, notando-se a ausência de
resposta dos estudantes dos cursos de Engenharia de Petróleo e Engenharia Ambiental, 52,2% estão
na faixa etária de 19 a 21 anos, são brancos 63% e se identificam com o gênero feminino 54,6%;
71,7% não possuem religião e dos 28,3% que possuem, informaram ser Católicos e Espíritas.
As perguntas foram de acordo com os indicadores de família, aborto, religião, identidade de
gênero, movimentos sociais, economia e política. Não observamos majoritariamente manifestações
conservadoras acerca dos temas, apenas maior manifestação nos temas como o “Estatuto do
Nascituro” (28,9% são contrários) e sobre a criação de uma delegacia específica para atender ao
crime de intolerância religiosa (33,3% são contrários).
Estes resultados reforçam o estereótipo do jovem universitário crítico e revolucionário dos
anos 60, mas chama a atenção para posicionamentos conservadores minoritários cada vez mais
significativos, que precisam ser levados em consideração e discutidos.

Trata-se aqui de uma juventude que faz parte de um contexto “privilegiado”


por estar em uma universidade pública onde debates políticos e sociais estão
sempre presentes, seja no ambiente de sala de aula, seja nos espaços de
convivência. Além disso, todos esses jovens têm acesso à internet, uma vez
que seu acesso é liberado dentro da universidade. Desse modo, o jovem
participante desta pesquisa recebe inúmeros estímulos para
participar/debater/questionar e, inclusive, abster-se dos debates. (DIAS,
DOULA, CARDOSO, 2017, 131-132).

Justamente por essas características acerca do jovem universitário participante do


questionário, observou-se a necessidade de formular um questionário com questões abertas e não
apenas condicionadas a dualidade de “sim” ou “não”, segundo manifestações acerca do formato do
questionário na pergunta que deixamos em aberto para que os estudantes comentassem as perguntas
anteriores.

67
Na perspectiva dos estudantes, o questionário não os contemplou por não permitir a reflexão
sobre os temas, ou até mesmo a justificação de suas respostas, espaço para debates, tornando assim
em suas visões, um questionário tendencioso e enviesado condicionando a esquerda ou à direita,
conservador ou progressista, sem considerar outras possibilidades de posicionamentos políticos
distintos ou até mesmo moderados, neutros e/ou apáticos. Consideramos tais ponderações como
processos importantes no percurso dos estudos, futuras propostas de estudos/pesquisas.

IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde os anos 1990, a juventude vem se aproximando de pautas cada vez mais conservadoras e
assumindo práticas e posições fechadas e retrógradas que por muitas décadas não se atribuíam aos
jovens.
Entendemos que a juventude é uma condição social que marca o meio entre a infância e a idade
adulta, onde ocorrem as mudanças sociais e biológicas que aproximam os jovens aos diversos
conceitos e formas amplas de leituras de mundo.
Deste modo, o estudo aponta a importância de entender os jovens que expressam uma leitura de
mundo conservadora, ampliando os riscos a democracia no Brasil.
Nas redes sociais, o conservadorismo tem encontrado terreno fértil para realizar a apologia ao
capitalismo, aos discursos de ódio, atitudes autoritárias e discriminatórias e comportamentos que
reforçam a hierarquia, as normas, a ordem, a moral conservadora e as ações punitivistas.
Esse modo de pensar a sociedade induz considerar as expressões da questão social e a luta das
classes oprimidas como problemas de ordem moral e por isso precisam ser reprimidos. Desse modo,
temos cada vez mais jovens investindo na vocação do passado e o resgate da moral tradicional para
solucionar os problemas do presente.
As consequências desse comportamento implicam no embate de conservadores versus avanços
progressistas dos movimentos sociais. Nas redes, observamos que os jovens não possuem mais
nenhum constrangimento em assumir-se conservadores e colocar-se indignados com quem não
concorda com seus valores. Tais comportamentos aparecem recorrentemente nas redes sociais por
ser um mecanismo onde é permitido expressar opiniões que nem sempre podem ser ditas na vida off
line, ser de “direita” virou moda e não mais motivo de constrangimento entre os jovens.

68
As redes sociais tornaram-se meios de participação política não convencional mais usada entre
os jovens, sejam os de “direita”, sejam os de “esquerda”. Nesses espaços os jovens discutem pautas
importantes que possuem um grande impacto na política convencional
No entanto, jovens universitários da Unifesp/campus Baixada Santista possuem aproximação
com o pensamentos progressista e se mostram mais críticos quanto ao avanço do conservadorismo
que apesar de menor predominância no ambiente acadêmico, vem tentando ocupar espaço.
Neste contexto, verificamos que o avanço do neoconservadorismo junto aos jovens está pautado
em um cenário de disputas de projetos societários, queda e crise de uma suposta hegemonia das
esquerdas e apatia política que divide a população brasileira e abre espaço para projetos
conservadores.
Neste cenário o conservadorismo conseguiu se reatualizar, com atitudes autoritárias,
discriminatórias e irracionalistas baseado na hierarquia, na moral tradicional, na ordem e
autoridade. Esta reatualização, denominada neoconservadorismo, tem sido reforçada cada vez mais
entre os jovens nas redes sociais.

69
V. REFERÊNCIAS

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Acesso em 20 de maio de 2017.

74
VI. ANEXOS/APENDICES

1. Quadro de Acompanhamento dos Blogs


O Avanço do Neoconservadorismo Junto aos Jovens (Unifesp / Pibic 2017/2018)
Pesquisadora: Terezinha de Fátima Rodrigues / Gabriela Inácio Santos
Blog de Período / Categorias Notícias
jovens nas Data
Redes
Família

Aborto
Conservador

Blog:
Ideologia de gênero
________

_________ Homossexualidades

Religião

Família

Aborto
Discussões
voltadas aos
direitos
humanos
Blog: Ideologia de
Gênero
______

________

Homossexualidades

Religião

75
2. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Você, na faixa etária de 17 a 29 anos, está sendo convidado(a) a participar voluntariamente do


Projeto “O avanço do neoconservadorismo junto aos jovens”. Projeto de Iniciação Científica da estudante
Gabriela Inácio Santos sob a orientação da Prof.ª Dra. Terezinha de Fátima Rodrigues, ambas do curso de
Serviço Social no Campus Baixada Santista – UNIFESP, sito à R. Silva Jardim, nº 136, Vila Mathias, em
Santos/SP.
O Projeto apresenta como objetivo geral verificar como se configura o (neo) conservadorismo na
sociedade atual e seus rebatimentos em jovens. Dentre os específicos, verificar a perspectiva conservadora
que marca diferentes posições de jovens na sociedade atual e acompanhar, pelos blogs de jovens que se
aproximaram da pauta conservadora, quais as questões que se apresentam.

Concordo voluntariamente em participar do referido Projeto. Confirmo minha faixa etária entre 17 e
29 anos. O preenchimento do questionário online confirma minha anuência quanto a participação. Fui
informado/a que, em qualquer etapa deste estudo, terei acesso às responsáveis, para esclarecimento de
eventuais dúvidas no Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletiva, sito à R. Silva Jardim, 133/166-
Vila Matias - Santos/SP. Responsável: Profa. Terezinha de Fátima Rodrigues, fone: (13) 99793-8793. Caso
tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética na pesquisa, poderei entrar em contato com o Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP) da UNIFESP na Rua Prof. Francisco de Castro, n: 55, - 04020-050, fones (11)
5571-1062, FAX: (11)5539-7162. E-mail: CEP@unifesp.edu.br.
Acredito ter sido suficientemente informada/o a respeito das informações: ficaram claros quais são
os propósitos/objetivos do estudo; a garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes; a
participação que vai ocorrer na forma de respostas a um questionário online, com uma previsão de
aproximadamente cinco a oito minutos para o respectivo preenchimento; que minha participação é isenta de
riscos e ônus financeiros com garantia do anonimato, fidelidade e respeito aos conteúdos abordados.
Concordo voluntariamente em participar e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento,
antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo.

*Obrigatório

Unifesp/Campus Baixada Santista - Iniciação Científica - O avanço do neoconservadorismo junto aos


jovens. Gabriela I. Santos. Terezinha Rodrigues

I. IDENTIFICAÇÃO
Em qual Eixo/curso está matriculado/a? *
Bacharelado Interdisciplinar de Ciência e Tecnologia do Mar
Educação Física
Engenharia Ambiental
Engenharia de Petróleo
Fisioterapia
Nutrição
Psicologia
Serviço Social
Terapia Ocupacional

Qual a sua faixa etária?


17 a 18 anos
19 a 21 anos
22 a 25 anos
26 a 29 anos

Qual sua cor ou raça/etnia?


Amarela
Branca
Indígena
Parda
Preta

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Não quer declarar

Com qual gênero se identifica?


________________________

Tem alguma religião?


Sim. Qual: ________ Não.
II. QUESTÕES:
1. O Estatuto da Família (Projeto de Lei - PL 6583/13) define como família o núcleo social surgido de
união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou união estável. Você concorda com esta
afirmativa ( ) sim ( ) não

2. No ano de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que pessoas do mesmo sexo podem se unir
juridicamente, com os mesmos direitos e deveres de outros casais heterossexuais como pensão, INSS e
licença-maternidade. Você concorda com essa posição? ( ) Sim ( ) Não

3. Tramita na Câmara dos Deputados o Estatuto do Nascituro ((PL 478/2007), projeto que privilegia os
direitos do feto desde o momento da concepção e que transforma o aborto em crime hediondo. Em aprovado,
será considerado crime todas as formas de aborto. Você concorda com esta propositura presente no Estatuto (
) sim ( ) não

4. Como observa a socióloga Maria José Rosado, coordenadora geral do Movimento “Católicas pelo Direito
de Decidir” (2017), “a proposta de dar ao nascituro um ‘estatuto’ é mais uma tentativa dos setores mais
retrógrados da sociedade de impedir a efetivação dos direitos de cidadania das mulheres”. Você concorda
com essa posição? ( ) Sim ( ) Não

5. No Brasil, o debate sobre a "ideologia de gênero" se intensificou com a estruturação do Plano Nacional de
Educação (PNE), em 2014. A proposta do Ministério da Educação (MEC) era incluir temas relacionados
com a identidade de gênero e sexualidade nos planos de educação de todo o país. Porém, críticos à esta
concepção construíram o conceito de "ideologia de gênero" e acusam esta de servir para doutrinação das
crianças, desconstruindo os tradicionais conceitos de família, homem e mulher, baseados em preceitos
religiosos. Você concorda com esta posição? ( ) Sim ( ) Não.

6. O Juiz federal da 14ª Vara do Distrito Federal Waldemar Cláudio de Carvalho concedeu liminar que abre
brecha para que psicólogos ofereçam a terapia de reversão sexual, conhecida como ‘cura gay’, tratamento
proibido pelo Conselho Federal de Psicologia desde 1999. Essa limitar abriu discussões sobre o retorno da
homossexualidade à lista de doenças. Você acredita que a homossexualidade deve ser tratada por psicólogos
ou por entidades religiosas? ( ) Sim ( ) Não

7. O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pelo ensino religioso nas escolas públicas e que o
mesmo pode ter natureza confessional, isto é, que as aulas podem seguir os ensinamentos de uma religião
específica e não de todas. A disciplina será facultativa. Segundo alguns críticos " a decisão favorece algumas
religiões em detrimento de outras, não respeitando o Estado Laico ". Deve haver ensino religioso nas
escolas? ( ) Sim ( ) Não

8. Segundo o Deputado Jair Messias Bolsonaro, a maioria dos brasileiros são "cristãos", por isso em nossa
sociedade deve imperar os valores cristãos, afinal o Estado é laico e não ateu?
Você concorda com a posição do parlamentar? ( ) Sim ( ) Não

9. Tem sido frequentes os ataques às religiões de Matrizes Africanas e Espiritas em determinados Estados
Brasileiros. Os atos chocaram o país pela intolerância religiosa observada. As religiões "afro" e espiritas
devem ter o mesmo direito de manifestação que as demais. Você concorda com esta afirmativa? ( ) Sim (
) Não

10. Os ministérios públicos estadual e federal do Rio de Janeiro vão atuar juntos para acompanhar as
investigações de casos de intolerância religiosa no Estado. Algumas imagens divulgadas nas redes mostram
pessoas coagindo religiosos para destruir imagens em terreiros de religiões de matriz africana. Com isso é
reforçado a necessidade de criar uma delegacia especializada para esses crimes. Você concorda com a

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proposta de criação desta delegacia? ( ) Sim ( ) Não

11. Os movimentos sociais são equivocados e prejudicam a ordem natural e moral das coisas. Sempre trazem
pautas de partidos, principalmente o PT e, na maioria das vezes, fogem totalmente da discussão política,
tornando-se ideológicos. Você concorda com essa afirmativa? ( ) Sim ( ) Não

Caso queira, comente as questões.


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3. Parecer CEP Unifesp /Plataforma Brasil

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP


Pesquisador: Terezinha de Fátima Rodrigues
Título da Pesquisa: O AVANÇO DO NEOCONSERVADORISMO JUNTO AOS JOVENS
Instituição Proponente: Instituto de Saúde e Sociedade
CAAE: 86064318.7.0000.5505

Área Temática:
DADOS DO PROJETO DE PESQUISA
Número do Parecer: 2.726.646
DADOS DO PARECER
Projeto CEP/UNIFESP n:0296/2018 (parecer final). Projeto de Iniciação Cientifica, na modalidade Ações
Afirmativas (Pibic-af) da estudante Gabriela Inácio Santos (CNPq). Busca discutir o avanço do
neoconservadorismo junto aos jovens. Este tema é oriundo da inserção da estudante no âmbito da
Universidade com diferentes reflexões a partir da observação empírica de diferentes manifestações de jovens
em uma perspectiva conservadora, carregada de preconceitos, sejam os de classe, gênero, raça e etnia.
Apresenta como objetivo geral, verificar como se configura o (neo)conservadorismo na sociedade atual e
seus rebatimentos em jovens e, dentre os específicos, conhecer como se configura o neoconservadorismo na
sociedade atual; verificar a perspectiva conservadora que marcam diferentes posições de jovens na sociedade
atual; acompanhar, pelos blogs de jovens que se aproximaram da pauta conservadora, quais as questões que
se apresentam. Objetivamos contribuir, como jovem e em formação em Serviço Social, na compreensão de
como esse pensamento se forma, é absorvido e propagado, ampliando os riscos à democracia no país e a
destituição de direitos arduamente conquistados.

-HIPÓTESE: A pauta neoconservadora tem atingido fortemente os jovens que defendem posições
reacionárias na contramão dos direitos sociais; Muitos jovens se aproximaram das discussões políticas que
envolvem o país, a partir das Manifestações de Junho de 2013 e com o crescimento da crise de hegemonia
das esquerdas no período 2013 -2016 esta aproximação ocorreu/ocorre de maneira a deslocar o lugar da
política para ações imediatistas e de forte cunho moral.

Apresentação do Projeto:
-OBJETIVO PRIMÁRIO: Verificar como se configura o (neo)conservadorismo na sociedade atual e seus
rebatimentos em jovens.

-OBJETIVO SECUNDÁRIO: Conhecer como se configura o neoconservadorismo na sociedade atual;


Verificar a perspectiva conservadora que marcam diferentes posições de jovens na sociedade atual;
Acompanhar, pelos blogs de jovens que se aproximaram da pauta conservadora, quais as questões que se
apresentam.

Objetivo da Pesquisa:
Em relação aos riscos e benefícios, o pesquisador declara:
-RISCOS: Não consideramos que esta Iniciação Científica apresente riscos. Em tese, poderemos no

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questionário online alguns estudantes que não se sintam confortáveis em responder alguma questão e
serão considerados.
-BENEFÍCIOS: Consideramos essa discussão importante para entender como é absorvida essa ideologia
por jovens e como, por meio dela, os jovens agem na sociedade. Objetivamos contribuir, como jovem e em
formação em Serviço Social, na compreensão de como esse pensamento se forma, é absorvido e
propagado, ampliando os riscos à democracia no país e a destituição de direitos arduamente conquistados.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:


Trata-se de Projeto de Iniciação Cientifica, na modalidade Ações Afirmativas (Pibic-af) da estudante
Gabriela Inácio Santos (CNPq), do Curso de Serviço Sociais. Orientadora: Profa. Dra. Terezinha de Fátima
Rodrigues. Projeto vinculado ao Departamento dePolíticas Públicas e Saúde Coletiva, Campus Baixada
Santista, UNIFESP.

TIPO DE ESTUDO: Esta pesquisa tem como suporte metodológico o método materialista histórico-dialético
e classifica como exploratória.
LOCAL: campus Baixada Santista
PARTICIPANTES: estudantes no campus Baixada Santista
PROCEDIMENTOS:
-No percurso metodológico, pretendemos:
1- pesquisa bibliográfica/temática;
2- acompanhamento, no período de 3 meses, dos blogs (redes) de jovens, com pautas diversificadas, sejam
as consideradas conservadoras sejam as consideradas no campo do avanço dos direitos.
3- aplicação de um questionário on line para estudantes no campus Baixada Santista, para verificar como se
posicionam frente a essas pautas.

1- Foram apresentados os principais documentos: folha de rosto; projeto completo; cópia do cadastro
CEP/UNIFESP, orçamento financeiro e cronograma apresentados adequadamente.
2-TCLE a ser aplicado aos participantes
3- O questionário está inserido junto com o TCLE.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:


Nada consta

Recomendações:
Sem inadequações - projeto aprovado
(respostas as pendências atendidas).

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:


Parecer do relator acatado pelo colegiado
O CEP informa que a partir desta data de aprovação, é necessário o envio de relatórios parciais (semestrais),
e o relatório final, quando do término do estudo.

SAO PAULO, 20 de Junho de 2018


Miguel Roberto Jorge
(Coordenador)

Situação do Parecer: Aprovado


Necessita Apreciação da CONEP: Não

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