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A F ormação dos C ontratos

Mas os contratos celebrados por e-mail serão contratos “entre ausentes”, posto não
se evidenciar a comunicação de forma imediata. Falta a instantaneidade. De fato, há
um hiato entre a declaração de uma parte e a recepção desta pelo outro contratante. Em
analogia com as correspondências escritas, os questionamentos não são prontamente
respondidos, pode haver uma certa demora na resposta do destinatário, até mesmo pela
necessidade de uma reflexão ponderada sobre a contratação.
Aliás, aplica-se aqui o Enunciado 173 do Conselho de Justiça Federal: “A formação
dos contratos realizados entre pessoas ausentes por meio eletrônico completa-se com
a recepção da aceitação pelo proponente". A adoção da teoria da recepção, para os
contratos firmados pelo correio eletrônico, se justifica como protetiva ao consumidor
aderente, afastando a insegurança da teoria da expedição, quanto à chegada da comuni­
cação eletrônica ao seu destino. À luz da teoria da recepção o contrato somente se repu­
tará formado quando a aceitação for recebida pelo proponente, não bastando o simples
envio. Derroga-se, no particular, a posição do Código Civil de opção pela teoria da ex­
pedição para os contratos entre ausentes (artigo 434 do Código Civil, que “Os contratos
entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida"). Caso aplicada
esta teoria ao meio eletrônico, o contrato seria concluído quando o declaratário mani­
festasse a aceitação e a remetesse ao proponente, despojando-se do documento portador
dela, independente de se apurar se chegou ou não ao destinatário.
Lembramos que o policitante não se obriga quando lança a oferta ao público. Isto só
ocorrerá após a aceitação pelo consumidor. Contudo, antes da aquiescência, já se vin­
cula à oferta perante a coletividade, tomando-se irrevogável a declaração unilateral. No
contrato eletrônico o binômio aparência/confiança reforça esta vinculatividade.
Desta maneira, a revogação da oferta antes do decurso do prazo para a aceitação
(ou, caso tal prazo não seja fixado, por um período razoável ou termo moral, observadas
as circunstâncias do caso) é passível de acarretar para o proponente, a reparação dos da­
nos causados à outra parte em virtude da prematura revogação. Tal obrigatoriedade foi
criada por lei tendo em vista a seriedade da proposição feita, bem como a necessidade
de assegurar o destinatário de boa-fé. Nosso sistema se filia à sistemática dominante nos
paises do civil law, na forma do artigo 427 do Código Civil.70
As contratações pela Internet provocam um abalo nas tradicionais regras quanto ao
local da contratação. Estatui o artigo 435 do Código Civil: “reputar-se-á celebrado o
contrato no lugar em quefor proposto”. Vigora a ressalva de que a regra tem sentido su-
pletório e não cogente, prevendo o que vier estipulado por expresso. Assim, exemplificati-
vamente, poderá o fornecedor reputar o local da aceitação como o de seu domicílio, desde
que o aderente tenha ciência plena da incorporação da cláusula, sob pena de abusividade.
Quanto ao local de contratação, o art. 9. da LICC prescreve a regra do locus regis
actum, prevalecendo a lei do país em que se estabeleceram as obrigações. Culmina o

70. MARTINS, Guilherme Magalhães, cf. Formação dos Contratos Eletrônicos..., cit., p. 145.
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