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Editado e publicado no Brasil por:
VINHA Editora
Av T-7, 1361 Setor Bueno CEP: 74.210.260
Goiânia – GO – Brasil
Telefone: (62) 3534-8850
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Curso Pastoral Vinha – Sistema Vinha de Ensino

Direção Geral Aluízio A. Silva


Direção Acadêmica Marcos Nogueira
Direção Administrativa Messias Lino de Paula Filho

Edição e revisão de texto Aline Monteiro e Thaís Monteiro de França


Projeto gráfico e diagramação Michele Araújo Fogaça

Exceto as de outra forma indicadas, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Sagrada, Edição Revista e Atualizada
(RA), trad. João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), São Paulo, SP, 1993.

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio sem a
autorização prévia e por escrito do autor. A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9610/98) é crime estabelecido pelo
artigo 48 do Código Penal.

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2010
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Introdução 5
Cap 1 – O que é aconselhamento cristão? 9
Cap 2 – A constituição humana segundo a Bíblia 11
Cap 3 – O alvo do aconselhamento cristão 19
Cap 4 – Discernindo o nível da maturidade do aconselhado 25
Cap 5 – Saiba do que as pessoas necessitam 27
Cap 6 – A natureza de Deus 33
Cap 7 – A Bíblia e o aconselhamento 43
Cap 8 – O Espírito Santo e o aconselhamento 47
Cap 9 – Oração e aconselhamento 51
Cap 10 – Desenvolva as qualidades essenciais de um conselheiro 53
Cap 11 – Técnicas do aconselhamento 55
Cap 12 – A motivação do conselheiro 59
Cap 13 – Níveis e fases de aconselhamento 63
Cap 14 – Ética e excelência no aconselhamento 67

Cap 15 – A sexualidade do conselheiro 69


Cap 16 – Como Deus trabalha em relação à cura e ao crescimento 71
Cap 17 – O poder sobrenatural de Deus 83
Cap 18 – Ferramentas de aconselhamento 85
Cap 19 – Versículos para aconselhamento 91
INTRODUÇÃO

Então, na sua angústia, clamaram ao SENHOR, e ele os livrou das suas


tribulações. Enviou-lhes a sua palavra, e os sarou, e os livrou do que lhes
era mortal. (Sl 107.19-20)

...e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te
sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspi-
rada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito
e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (2 Tm 3.15-17)

Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de


que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. (2 Tm 2.15)

Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da


justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para
aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discer-
nir não somente o bem, mas também o mal. (Hb 5.13-14)
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Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não


se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos es-
carnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei
medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente
de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não
murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido. (Sl 1.1-3)

Aqueles que se interessam em tornar-se conselheiros precisam ter uma boa base bíblica para
evitar as ciladas que encontram enquanto estudam os conceitos de aconselhamento. Há gran-
des riscos de erros teológicos no campo do aconselhamento. O conselheiro deve ser maduro e
viver sob uma base alimentar espiritual sólida, além do leite, tornando-se apto para discernir
o bem do mal (Hb 5.13-14).

O aconselhamento cristão, algumas vezes, tem avançado além dos fundamentos bíblicos e
teológicos. Muitos têm tomado emprestados conceitos de modelos seculares a respeito de áre-
as como emoção, autoestima, relacionamentos, sexualidade, casamento e outros. Uma ênfase
maior deve ser colocada na redenção e regeneração, que são centrais na obra de Deus.

É fortemente recomendado, portanto, que todo aquele que deseja atuar seriamente como
conselheiro seja devidamente treinado em aconselhamento, mas também em estudos bíblicos,
e seja excelente em ambos.

Não é a intenção esgotar o assunto sobre aconselhamento neste material. Os objetivos desta
ministração são trazer uma visão sobre aconselhamento coerente com o propósito bíblico e
colocar à disposição os princípios básicos deste tema para que eles sirvam de ferramentas utili-
zadas no cuidado pastoral eficaz e na edificação da Igreja.

Trataremos de alguns conceitos, princípios e orientações que são indispensáveis para aqueles
que almejam saber utilizar eficazmente o aconselhamento bíblico em sua prática ministerial.

A IGREJA: UM POTENCIAL DE CURA, EDIFICAÇÃO E CRESCIMENTO


Como povo de Deus, somos chamados a cumprir o propósito do gerar, que envolve o evan-
gelismo, o ensino, o discipulado e o serviço da ajuda mútua. Dentro desse propósito, em algum
momento iremos servir às pessoas através do aconselhamento.

As igrejas locais, em especial as que estabeleceram o paradigma celular como meio de edi-
ficação, possuem um potencial muito maior de vivenciar o projeto de comunidades onde o
aconselhamento eficaz pode ser maximizado para que ocorra a edificação de um povo saudável.
Através das células (grupos menores), os processos de transformação da alma (cura interior) e
de transformação do caráter podem acontecer com muito mais eficácia à medida que houver a
consciência e o treinamento que desenvolva a prática do aconselhamento bíblico por meio da
comunhão responsável (Ef 4.11-16).

A igreja precisa perseguir o alvo de produzir um crescimento ajustado, por meio de vín-
culos saudáveis entre os seus membros. O padrão de uma comunidade composta de pessoas
I N T R O D U Ç Ã O      7

indiferentes, estranhas, solitárias, que jamais admite ter necessidades ou problemas, assistindo
aos cultos por simples hábito e deixando a maior parte das atividades a cargo de um pastor ou
líder sobrecarregado, não é e nunca foi o propósito da igreja ao ser estabelecida.

A igreja não é o prédio, ela é constituída pelas pessoas que tiveram a experiência do novo
nascimento. Logo, se estas pessoas forem saudáveis, a igreja será saudável. Ela é uma comunida-
de de pessoas que estão em “construção” constante, que necessitam de cura e de transformação.
O trabalho de aconselhamento dentro dessa comunidade, feito com unção e eficácia, se torna
um grande aliado do processo de edificação de um corpo que se desenvolve saudavelmente.

Vejamos alguns textos que exprimem a ideia de uma comunidade que trata o caráter, ensina
a disciplina, que molda e amadurece as vidas:
! Mateus 18.15-17 – O ato de disciplinar quando houver recusa de escutar conselhos
para mudar;
! Romanos 15.14 – Com bondade e conhecimento, é possível que cada crente admoeste outros;
! Gálatas 6.2 – As cargas são compartilhadas entre irmãos, inclusive as emocionais;
! 1 Tessalonicenses 5.11 – Exortar e edificar uns aos outros. Acompanhar e edificar juntos;
! 1 Tessalonicenses 4.18 – O consolo nas crises e frustrações gera paz e segurança;
! 1 Tessalonicenses 5.14 – As formas de agir diante dos três grupos especiais de mem-
bros da igreja:

*Os desordeiros ou insubmissos: admoestar, repreender com o fim de curar não apenas eles,
mas também o rebanho;

*Os de pouco ânimo ou desanimados: sustentar através do ensino e acompanhamento;

*Os fracos ou débeis: ter paciência até que os mesmos reajam e se fortaleçam no Senhor.
Tiago 5.16 – ensinar a igreja a praticar discipulado.
Capítulo

1
O QUE É ACONSELHAMENTO CRISTÃO

Meu é o conselho e a verdadeira sabedoria, eu sou o Entendimento,


minha é a fortaleza. (Pv 8.14)

Bendigo o SENHOR, que me aconselha; pois até durante a noite o meu


coração me ensina. (Sl 16.7)

Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não


há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o
princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas
que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de
pé, farei toda a minha vontade; (Is 46.9-10)

O aconselhamento cristão pode ser definido de três maneiras:

1. Aconselhamento de acordo com a Palavra de Deus, a revelação divina e o poder sobrena-


tural do Senhor;

2. É uma abordagem compreensiva de toda a pessoa – espírito (pessoal, relacional), alma


(mente, vontade e emoções) e corpo (físico);
10     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

3. É também uma abordagem eclética, sendo orientada por: análise (passado – entendi-
mento do background da pessoa), cognitivo-comportamental (a mente – mudança de crenças
erradas), experiencial (os sentimentos) e médica (uso de medicações, quando indicadas).

Sendo assim, podemos definir resumidamente o aconselhamento cristão como sendo uma
relação em que uma pessoa, o conselheiro, busca assistir outra pessoa nos problemas e desafios
que está enfrentando em sua vida. O aconselhamento é caracterizado pelo objetivo funda-
mental de ajudar o aconselhado a desenvolver a maturidade cristã, a partir da mudança de sua
forma de pensar. Consequentemente, as demais mudanças ocorrerão na medida em que for
ocorrendo a renovação da mente pelos princípios da Palavra (Rm 12.10,18; 14.19; 15.7,14; Ef
4.32; Gl 5.13).
Capítulo

2
A CONSTITUIÇÃO HUMANA SEGUNDO A BÍBLIA

Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas
que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres. E o filho do
homem, que o visites? Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do
que Deus e de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as
obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste. (Sl 8.3-6)

O estudo e a prática do aconselhamento requerem que tenhamos uma compreensão bíblica


da constituição e da natureza do homem.

Existem muitas visões errôneas e incompletas sobre a natureza do homem, e o conselheiro


cristão precisa ter um sólido entendimento bíblico a respeito disso.

2.1 A NATUREZA E A CONSTITUIÇÃO HUMANA


A natureza do homem deve ser entendida em três contextos:

1. O estado do homem quando foi criado – este contexto envolve os aspectos da inocência,
inteligência, do domínio, da imagem de Deus, da composição do homem, responsabilidade,
livre arbítrio e moralidade;
12     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

2. O estado do homem após a queda – envolve a natureza e os efeitos do pecado, o pecado


e a liberdade humana;

3. O homem no seu estado redimido – inclui a centralidade da redenção e a nova criação


(Fp 3.8-10).

O conselheiro eficaz precisa ter uma compreensão ampla e bíblica da constituição do ho-
mem. Saber distinguir e ensinar ao aconselhado o que tem procedência da alma e do espírito é
fator determinante para prover um trabalho eficaz no aconselhamento.

O conceito bíblico sobre a constituição do homem é o de que ele é um ser triuno:

O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma


e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo. (1 Ts 5.23)

O que também é visto na passagem a seguir: “Então, formou o Senhor Deus ao homem do
pó da terra [físico], e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida [espírito], e o homem passou a
ser alma vivente [psicológico]” [grifos meus] (Gn 2.7). No aconselhamento cristão, nenhum
aspecto deve ser esquecido. Deve haver um entendimento claro do que cada parte envolve.

Todo homem é espírito, alma e corpo. Espírito e alma não são a mesma coisa, pois, se fos-
sem, a Palavra de Deus não usaria duas palavras diferentes para designá-los. Em Hebreus 4.12,
por exemplo, lemos também que a Palavra de Deus é viva e eficaz e penetra até ao ponto de
dividir alma e espírito. Alma e espírito, portanto, são partes distintas.

É absolutamente importante para a vida cristã e para a realização de um aconselhamento


com alvo bíblico sabermos distinguir entre alma e espírito. Pela Palavra de Deus e pela experi-
ência, podemos ver que o homem possui três partes:

O corpo é a parte material, onde estão os nossos sentidos físicos. A sua função básica é
manter contato com o mundo material através dos cinco sentidos.

A alma é a parte que nos permite ter contato conosco mesmos. É a parte que nos permite ter
consciência de nós mesmos. A alma é o “eu”, e, portanto, o centro da personalidade.

O espírito é a parte pela qual temos comunhão com Deus. É o elemento que nos dá cons-
ciência de Deus.

ESPÍRITO INTUIÇÃO CONSCIÊNCIA COMUNHÃO


ALMA MENTE VONTADE EMOÇÃO
CORPO LOCOMOÇÃO INSTINTO SENTIDOS

Essas partes também podem receber os nomes espiritual, psicológica e fisiológica. A espiri-
tual envolve o nosso relacionamento com Deus, a psicológica envolve o nosso relacionamento
com os outros, e a fisiológica envolve o nosso relacionamento com o ambiente.
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2.2 AS FUNÇÕES DO ESPÍRITO


O espírito humano possui três funções básicas: intuição, consciência e comunhão.

a) Intuição – 1 Jo 1.20; 2.27; Jr 31.34


Nós vivemos hoje debaixo da aliança na qual todos são ensinados do Senhor (Jr 31.34).
Você não sabe como chegou a saber disso, mas há algo em seu interior que diz que certas coisas
não são verdadeiras e outras são. Chamamos isso de intuição.

A intuição é a capacidade do espírito humano de conhecer ou de saber algo, independen-


temente de qualquer influência exterior. É o conhecimento que chega até nós sem qualquer
ajuda da mente ou da emoção; ele chega intuitivamente. As revelações de Deus e todas as ações
do Espírito Santo se tornam conhecidas por nós pela intuição do espírito. Intuição é um saber
que não tem origem na mente e nem nas circunstâncias ao redor.

As coisas do Espírito têm de ser discernidas pelo nosso espírito (1 Co 2.14). Jesus sabia,
no seu espírito, o que os outros arrazoavam (Mc 2.8). Paulo foi constrangido no espírito (At
20.22). Em todas essas referências, temos a forma como se manifesta a intuição do espírito.

A intuição se manifesta pela restrição e pelo constrangimento. A restrição é uma sensação


que às vezes parece opor-se ao que a nossa mente pensou, nossa emoção aceitou e a nossa von-
tade decidiu. É uma sensação de que algo não deve ser feito. O constrangimento é um impulso,
um estímulo para que façamos algo que parece irracional e até contrário à nossa vontade.

Há uma diferença entre o conhecer e o entender. O conhecer está no espírito, enquanto o


entender está na mente. Conhecemos algo através da intuição do espírito, a nossa mente é então
iluminada para entender e traduzir o que a intuição conheceu. Na intuição do espírito conhece-
mos a persuasão do Espírito Santo, na mente entendemos a orientação do Espírito Santo.

b) Consciência
Consciência é a capacidade de discernir entre o certo e o errado, não segundo os critérios da
mente, mas segundo a sensação do espírito (Rm 9.1; At 17,16).

Comparando Romanos 9.1 e Atos 17.16, concluímos que a consciência está localizada no
espírito humano. Testificar, confirmar, recusar, acusar, são manifestações da consciência. Em 1
Coríntios 5.3, Paulo diz que, em seu espírito, julgou uma pessoa pecaminosa. Ele usou a cons-
ciência do espírito para julgar. Frequentemente a consciência condena coisas que a nossa mente
aprova. O julgamento da consciência não é segundo o conhecimento mental, mas segundo a
direção do próprio Espírito Santo.

Há dois princípios pelos quais podemos andar: o princípio da árvore da vida e o princípio
da do conhecimento do bem e do mal (certo e errado). Contudo, não somos exortados na
Palavra a andarmos segundo o padrão moral de certo ou errado, mas sim a sermos guiados pelo
14     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

espírito. A mente faz ponderações sobre certo e errado, mas a consciência não faz ponderações,
apenas decide.

Precisamos ser absolutos para com aquilo que Deus condena em nossa consciência. Nunca
devemos tentar explicar o pecado, justificando-o. Sempre que a nossa consciência recusar algo,
devemos parar imediatamente. Se você não tem convicção não faça, porque tudo o que não
vem de plena certeza e fé é pecado (Rm 14.23). Só podemos servir a Deus estando com a nossa
consciência limpa. A ação da nossa consciência não depende de nosso conhecimento da Bíblia.
Sem que ninguém nos ensinasse, sabíamos que o nosso namoro estava errado ou que as nossas
finanças estavam desajustadas.

Aquele que é nascido de Deus tem, no seu espírito, a voz do Espírito Santo a falar pela sua
consciência. Ninguém jamais poderá dizer que não sabia. A nossa consciência tem a função de
testificar em nós a vontade de Deus.

c) Comunhão – Lc 1,47; 1 Co 6.17

Toda comunhão genuína com Deus é feita no nível do nosso espírito. Deus não é percebido
pelos nossos pensamentos, sentimentos e intenções. Ele só pode ser conhecido diretamente em
nosso espírito. Deus é espírito e somente o nosso espírito pode entrar em comunhão com Ele.
É no nosso espírito que nos unimos ao Senhor e mantemos comunhão com Ele. Comunhão é
adorar a Deus.

Tudo o que Deus faz, Ele o faz a partir do nosso espírito. É sempre de dentro para fora. O
diabo, por sua vez, sempre age a partir do corpo, de fora, tentando atingir nossa alma.

Sempre que formos adorar a Deus, devemos nos voltar para o nosso coração, pois é no nosso
coração que percebemos o nosso espírito. Não procure exercitar a mente, mas exercite o espí-
rito, mediante o coração. É por isso que a adoração com cânticos em línguas é mais eficiente,
pois a nossa mente fica infrutífera e podemos exercitar o espírito livremente.

2.3 AS FUNÇÕES DA ALMA


A alma humana é composta por três partes: a mente, a vontade e a emoção. A alma é a sede
da nossa personalidade, é o nosso “Eu”. É por esse motivo que, em muitos lugares, a Palavra de
Deus chama o homem de “alma”.

A personalidade do homem é constituída pelas três funções da alma: mente, vontade e emoções.

a) Mente

Provérbios 2.10, 19.2 e 24.14 mostram que a alma necessita de conhecimento. O conheci-
mento é uma função da mente, logo, a mente é uma função da alma.
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“As suas obras são admiráveis e a minha alma o sabe muito bem” (Sl 139.14). Saber é uma
função da mente, e, portanto, também da alma. Lamentações 3.20 diz que a alma pode se
lembrar e a lembrança é uma função da mente. Podemos assim afirmar que a mente é uma
função da nossa alma.

A mente é a função mais importante da alma. Se a nossa mente for obscurecida, nunca
poderemos chegar ao pleno conhecimento da verdade. A nossa mente deve ser renovada para
poder experimentar e entender a vontade de Deus, que é revelada em nosso espírito.

b) Vontade
A vontade é o instrumento para nossas decisões e indisposições: se queremos ou não que-
remos algo. Sem ela o homem seria reduzido a um ser autômato. É a vontade do homem que
resolve pecar ou servir a Deus. É na nossa alma onde está o nosso poder de escolha.

“Disponha agora o vosso coração e a vossa alma para buscardes o Senhor Deus” (1 Cr
22.19). Buscar é uma função da vontade e a vontade está na alma. Em Jó 6.7, lemos “...aquilo
que minha alma recusava em tocar...” Recusar é uma função da vontade. “Pelo que a minha
alma escolheria, antes ser estrangulada...” (Jó 7.17). Escolher também é uma função da vonta-
de. A vontade então é uma função da alma.

c) Emoção
A emoção é uma parte importante da experiência humana. Nossas emoções se manifestam
de muitas formas: amor, ódio, alegria, tristeza, pesar, saudade, desejo, etc. As emoções dão cor
à nossa vida, todavia jamais podemos nos deixar ser guiados por elas, porque a emoção é uma
parte da alma.

Em 1 Samuel 18.1, Cantares 1.7 e Salmos 42.1, percebemos que o amor é algo que surge
em nossa alma. Provando, portanto, que dentro da alma existe uma função como a emoção.
Podemos ver em 2 Samuel 5,8, Ezequiel 36.5 e Salmos 117.18 expressões tais como: menos-
prezo, aborrecimento e desprezo. Essas são emoções que procedem da alma. Poderíamos citar
ainda a alegria em Isaías 61.10 e Salmos 86.4 como uma emoção da alma e ainda a angústia,
como está em 1 Samuel 30,6 e 20.4, Ezequiel 24.25 e Jeremias 44.14.

2.4 AS FUNÇÕES DO CORPO


O nosso corpo é apenas o lugar onde moramos neste mundo (2 Co 5.1-4).

A função básica do corpo é ter contato com o mundo físico. Nosso corpo não tem conserto
nem salvação, por isso receberemos outro corpo, glorificado. No céu não teremos uma nova
alma, mas teremos um novo corpo. O nosso espírito foi regenerado, a nossa alma está sendo
transformada e o nosso corpo será glorificado. Esses são os três tempos da nossa salvação.
16     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

a) Sensação

A sensação é a porta do nosso ser. Ela se constitui nos cinco sentidos do corpo. Tudo o que
entra em nossa alma entra através dos cinco sentidos.

Se desejamos obter vitória sobre o pecado, precisamos disciplinar o nosso corpo para que,
através dele, não entre nada sujo ou pecaminoso.

b) Locomoção

O nosso corpo é a parte mais inferior, pois é ele que tem contato com o mundo físico. Para
o corpo é impossível perceber as coisas espirituais.

c) Instinto

Os instintos são reações inatas do organismo, que não dependem do comando da nossa
alma. São reações automáticas e em si mesmas não são pecaminosas. Entretanto, elas são a base
da concupiscência da carne.

Deus criou os instintos bons, mas, por causa do pecado, eles foram degenerados e hoje
precisamos exercer domínio sobre eles.

Há três grupos de instintos básicos: de sobrevivência, de defesa e sexual.

O instinto de sobrevivência inclui o comer, o beber e as necessidades fisiológicas. O pecado


transformou esse instinto natural em glutonaria e bebedices.

O instinto de defesa inclui os atos-reflexos de proteção, como esquivar-se, esconder-se, pro-


teger-se. O pecado o transformou em brigas, facções, iras e todo tipo de violência.

O instinto sexual foi corrompido para se transformar em adultério, fornicação, prostituição,


sodomia e coisas parecidas.

Não devemos permitir que esses instintos naturais, que permanecem em nós mesmo depois
de convertidos, nos controlem. O corpo deve ser um servo e não um senhor.

d) Disciplina do corpo

Tudo o que é do diabo vem de fora para dentro e tudo o que é de Deus vem de dentro (do
nosso espírito) para fora. O inimigo primeiro procura entrar pelas portas da alma, que são os
sentidos do corpo. O processo sempre começa com o inimigo tentando chamar a nossa aten-
ção. Uma vez que ele a tenha, tentará despertar algum instinto básico do nosso corpo. Nossos
instintos foram corrompidos pelo pecado e tornaram-se aliados do diabo. Quando ele desperta
um instinto em nós, dizemos que estamos sendo tentados.
A   C O N S T I T U I Ç Ã O   H U M A N A   S E G U N D O   A   B Í B L I A      17

Uma vez que o instinto é despertado, o próximo passo é produzir um desejo. O desejo ainda
não é pecado se for apenas uma forte tentação, e ser tentado ainda não é pecar. O pecado acon-
tece quando o nosso desejo se transforma em intenção. Jesus disse que qualquer um que olhar
com intenção impura para uma mulher já adulterou com ela (Mt 5.28).

Quando compreendemos a forma como o diabo age, fica mais simples alcançar vitória
sobre ele.

A Palavra de Deus diz que há algo que devemos fazer com o nosso corpo: ofertá-lo po a Deus
e trazê-lo debaixo de disciplina (Rm 12.1). Disciplinar não é usar de ascetismo, mas Paulo
disse que esmurrava o seu corpo para reduzi-lo à escravidão (1Co 9.27). Esmurrar o corpo é
simplesmente não fazer a sua vontade.

O nosso corpo e a nossa alma são a parte do nosso ser natural chamada de carne no Novo
Testamento. O carnal, então, é aquele que vive no nível do natural, ou seja, no nível da alma
e do corpo.
Capítulo

3
O ALVO DO ACONSELHAMENTO CRISTÃO

É preciso ter clareza sobre o que normalmente leva as pessoas a procurar um conselheiro e
saber conduzi-las para o alvo bíblico. Um conselheiro se deparará constantemente com os mais
diversos tipos de problemas que envolvem vida matrimonial, conflitos pessoais, depressão,
culpa, medo, angústias, confusões das mais diversas e outros dramas do cotidiano. Além dessas
questões, ele também encontrará nos seus aconselhamentos os conflitos que envolvem falta de
fé, oração, sentimentos de culpa por causa de algum pecado, estagnação espiritual, etc.

Qualquer que seja a necessidade que o aconselhado tenha, o conselheiro constatará que as
pessoas têm um objetivo comum que é fundamentalmente egocêntrico e gerador dos demais
problemas: a felicidade pessoal em primeiro lugar. Os aconselhados dizem: “Quero me sentir
bem”, ou então: “Quero ser feliz“. Não é errado desejar a felicidade pessoal. Mas sabemos que
uma busca exacerbada por ela pode se tornar muitas vezes um obstáculo que obscurece a visão
correta do propósito e do caminho bíblico para se experimentar uma vida de prazer profundo e
duradouro. Jesus afirmou que veio para dar vida, e vida em abundância (Jo 10.10). Ele também
foi enviado pelo Pai ao mundo com o propósito de prover a vida eterna para todos aqueles que
cressem nEle (Jo 3.16). O apóstolo Paulo nos diz que Cristo foi exaltado à destra de Deus (Ef
1.20).Esses e outros textos revelam que se desejamos uma vida em abundância, se queremos a
vida eterna, se queremos usufruir de uma vida com prazer profundo, será necessário aprender
a desejar acima de tudo tornar-se mais como o Senhor, viver em submissão à vontade de Deus,
conforme ele e Jesus fizeram.
20     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

A maioria das pessoas (cristãs e não cristãs) estabelece como prioridade não o ser discípula (ser
como Jesus) em meio aos seus problemas, mas o encontrar a felicidade. Nunca seremos felizes se
a nossa preocupação primordial for a busca pela felicidade. Será como buscar o sono: quanto mais
nos aplicamos consciente e zelosamente a esse objetivo, menos conseguimos encontrá-lo.

O alvo supremo deve ser o de, em todas as circunstâncias, reagir de acordo com os princípios
da Palavra, colocar o Senhor em primeiro lugar, procurar dar as respostas que Ele espera que
sejam dadas. Quando mais direcionarmos a nossa energia para o propósito de sermos conforme
Ele quer que sejamos, mais Ele nos encherá de prazer indizível e da paz que está acima de tudo
o que o mundo possa oferecer. O resultado será a experiência de usufruir a felicidade que vem
do fato de habitarmos à mão direita de Deus, em comunhão com Cristo. A felicidade será uma
consequência de sermos e agirmos como o Senhor, e não um alvo.

Com esse entendimento, o conselheiro poderá alcançar o alvo de levar o aconselhado a


viver de acordo com os princípios da Palavra para experimentar uma vida vencedora. É preciso
também estar atento à profundidade do egoísmo da natureza humana para não ajudar alguém
a atingir um alvo não-bíblico. É responsabilidade do conselheiro manter o alvo do verdadeiro
aconselhamento, que é o de libertar as pessoas para que elas possam melhor adorar e servir
a Deus, ajudando-as a se tornar mais semelhantes ao Senhor. Em suma, o alvo é ajudá-las a
desenvolver maturidade espiritual e psicológica.

3.1 MATURIDADE ESPIRITUAL E PSICOLÓGICA


Assim nós anunciamos Cristo a todas as pessoas. Com toda a sabedoria possível, aconselha-
mos e ensinamos cada pessoa, a fim de levar todos à presença de Deus como pessoas espiritu-
almente adultas e unidas com Cristo. (Cl 1.28)

Por isso, por meio de Jesus Cristo, ofereçamos sempre louvor a Deus. Esse louvor é o
sacrifício que apresentamos, a oferta que é dada por lábios que confessam a sua fé nele. Não
deixem de fazer o bem e de ajudar uns aos outros, pois são esses os sacrifícios que agradam
a Deus. (Hb 13.16,16)

Nesses textos, vemos que Paulo, através do aconselhamento, teve como objetivo promover
a maturidade cristã. Somente a pessoa que está desenvolvendo maturidade cristã vai desen-
volver um relacionamento mais profundo com Deus, agradando-O mais efetivamente através
da adoração e do serviço, desenvolvendo profundamente o propósito supremo da sua vida.
Nesta perspectiva, o aconselhamento adotará como objetivo principal o desenvolvimento da
maturidade espiritual e emocional, auxiliando a pessoa a tornar-se mais madura para que possa
melhor agradar e servir a Deus.

a) Maturidade
Uma pessoa madura é, simplesmente, alguém que cresceu. Ela é madura em todas as áreas
da sua vida e relacionamentos. A maturidade em Cristo quer dizer deixar de ser criança e avan-
O   A L V O   D O   A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O      21

çar rumo à imagem de Jesus. O aconselhamento pode ser considerado um ministério de apoio
ao crescimento e maturidade das pessoas. (Ef 4.13-15)

O aconselhamento é também importante no processo de discipulado. Discípulo é aquele


que anda no caminho do crescimento. Ide, portanto, e fazei discípulos de todas as nações,
ensinando-as a guardar as coisas que ordenei (Mt 28.19-20).

A maturidade pode ser resumida na seguinte afirmação:


É a habilidade de lidar com a frustração, com a raiva, e viver com as diferenças sem violência
ou destruição. Maturidade é paciência. É a disposição de abrir mão da gratificação, do prazer
imediato em função de um ganho futuro. Maturidade é perseverança, trabalhar num projeto
mesmo que haja oposição.

É a capacidade de enfrentar o desprazer e a decepção sem se tornar amargo. É o dom de estar


calmo frente ao caos. Quer dizer paz, não apenas para nós mesmos, mas para aqueles que estão
conosco. É a habilidade de discordar sem ser desagradável. É humildade. Uma pessoa madura
é capaz de dizer “Desculpa-me!”. E quando sua sabedoria é provada, o maduro não diz “Eu te
disse!”.

É a habilidade de tomar decisões, e agir de acordo com essa decisão, e aceitar toda a respon-
sabilidade pelos resultados. Significa confiança, integridade, manter uma palavra. O imaturo
tem desculpas para tudo. É cronicamente tardio, aquilo que não se deve mostrar numa crise.
Sua vida é um labirinto de promessas desfeitas, negócios mal inacabados e amigos formais.
Maturidade é a habilidade de se viver em paz com aqueles que não podemos mudar. (Anônimo)

A maturidade é um processo que começa com a nossa conversão e se estende durante toda
a nossa vida. Por meio da santificação somos amadurecidos em Cristo.

b) Santificação
A santificação (ser santo, separado, consagrado) existe em três aspectos: inicial, progressivo
e final. Esses aspectos devem ser entendidos apropriadamente, pois todos têm uma carga espe-
cífica no aconselhamento.

Como ministro da Nova Aliança, o conselheiro assiste ao aconselhando para que ele receba
os dois dons de Deus – o perdão dos pecados, sob a base da obra de Jesus na cruz, e o Espírito
Santo. Ambos são partes integrantes da santificação.

Santificação inicial (posicional)


Quer dizer ser feito perfeito em Cristo por causa da Sua obra. A justiça é imputada ao crente
pela fé – justificação. A justificação é o ponto de partida bíblico em busca da maturidade.
Nada é mais importante para uma vida cristã vencedora do que uma consciência clara de seu
fundamento. A experiência cristã começa com a justificação, o ato pelo qual Deus declara que
sou aceitável. Isso ocorre no novo nascimento, regeneração e conversão. O perdão dos pecados
22     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

e a paz com Deus são recebidos. Há uma nova posição em Cristo (Rm 5.1; 1Co 1.2-2; 2 Co
5.17; Ef 1.3-7; Hb 10.10).

Se eu quiser ser psicologicamente íntegro e espiritualmente maduro, tenho de ter revelação


clara de que a minha aceitabilidade por Deus não se baseia no meu comportamento, mas no
comportamento de Jesus (Tt 3.5). Ele olha para nós, cristãos, e vê o Seu filho Jesus. Ele foi (e
é) perfeito, porque Ele nunca pecou, jamais mereceu a morte. Voluntariamente foi à cruz. Sua
morte foi o castigo que os meus pecados mereciam. No Seu amor Ele ofereceu uma troca.

Quando eu entrego os meus pecados a Jesus, Ele os paga a fim de me perdoar segundo as
exigências da justiça divina, e então Ele me oferece o dom da sua retidão. Sou declarado justo
por Deus com base na obra de Jesus realizada a meu favor. Fui declarado justo. Sou justifica-
do. Sou aceito como eu sou porque a base dessa aceitação nada tem a ver com o modo como
eu sou, ou como fui, ou como serei. Depende exclusivamente da perfeição de Jesus. Isso não
é uma mera questão de teologia seca. Tem implicações práticas e profundas no processo de
crescimento espiritual.

Grande parte de nossa atividade cristã é motivada por um desejo pessoal de ganhar apro-
vação de alguém e assim tornarmo-nos aceitáveis! Toda dor, confusão e problemas resultantes
dessa espécie de motivação são desnecessários por causa desta verdade acerca da nossa justifica-
ção pela fé em Cristo. Somos aceitos. Deus já declarou que somos aptos. Quando entendemos
que, mesmo fracos, essa é a nossa situação, nossa resposta será: “Obrigado, Senhor — quero
agradá-lo”. Paulo fala que ele era constrangido não pela pressão para ser aceitável, mas pelo
amor insondável de Cristo (2 Co 5.14). Sua motivação básica era o amor pelo Senhor. Ele
focou a sua vida para agradar a Deus.

Uma ênfase exagerada na santificação inicial pode levar a um senso de defeição e também de
orgulho, doença, luta, negação do pecado, falta de confissão diária e arrependimento contínuo,
hipocrisia, ansiedade, falta de confiança em Deus e descrença. A falta de ênfase leva à insegu-
rança, medo, incerteza, e autocentrismo.

Santificação progressiva (experiencial)


Envolve nosso ser sendo aperfeiçoado em Cristo. É a obra do Espírito Santo em nós; um
processo para toda a vida, enquanto nos tornamos cada vez mais parecidos com o Filho de
Deus. Há crescimento na santidade e maturidade. É nossa condição em Cristo (Rm 6-8; Cl
1.28; Ef 4.2-15; Mt 5; Fp 3). Depois de sermos aceitos e enquanto não chega o dia em que
seremos glorificados, as nossas imperfeições não serão de todo removidas. Precisamos respon-
der no processo de transformação do nosso caráter e da nossa alma, a santificação. Através da
Palavra e do Espírito Santo, somos chamados para desenvolver uma vida vencedora, uma vida
que trilhe o caminho da obediência. Esse é o tempo entre a nossa justificação e a nossa glori-
ficação. A maturidade cristã implica que devemos nos tornar a cada dia mais semelhantes ao
Senhor Jesus, através da submissão da nossa vontade à vontade do Pai.
O   A L V O   D O   A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O      23

Cabe salientarmos que a ênfase exagerada na santificação progressiva pode levar a uma falta
de entendimento daquilo que a cruz trouxe consigo para nós, além de incerteza, dúvida, intros-
pecção, força própria na busca pela santificação e atraso no envolvimento do ministério até que
haja maturidade suficiente. A falta de ênfase leva ao atrofiamento do crescimento espiritual.

Santificação final (glorificação)


Essa é a nossa mudança para a vinda do Senhor ou na morte, quando seremos feitos perfei-
tos em Cristo. É uma perfeição final e completa (1 Co 14.10-12; Fp 3.12; 1 Jo 3.1-3).

A ênfase demasiada na santificação final pode resultar numa falta de apropriação do poder
da cruz e crescimento no Espírito agora, preocupação com os eventos futuros, apatia em rela-
ção ao cumprimento da Grande Comissão, e uma obsessão pela vinda do Senhor. A falta de
ênfase pode levar à falta de esperança e de preparo para a vinda do Senhor.
Capítulo

4
DISCERNINDO O NÍVEL DA
MATURIDADE DO ACONSELHADO

Em um aconselhamento o conselheiro precisará discernir com que tipo de pessoa está tra-
tando, e sempre ter como objetivo levá-la para o alvo da maturidade cristã.

4.1 TRÊS TIPOS DE PESSOAS


Os homens podem ser divididos em três grupos:

a) Os não-cristãos
Os que não foram regenerados, os não-cristãos, estão no governo de suas vidas, das quais Cristo
está excluído. Os não-cristãos são caracterizados por serem autocentristas, confiarem na sua justiça e
serem governados pelos seus instintos. Estes não podem entender as coisas de Deus (1 Co 2.14). A
vida deste tipo de pessoa se encontra num estado permanente de confusão e desarmonia.

b) O crente carnal
A pessoa regenerada é aquela que aceitou a Cristo como salvador, mas não entregou o go-
verno de sua vida ao Seu senhorio. Paulo chama esta pessoa de carnal (1 Co 3.1-3) e aqui estão
26     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

os crentes nominais, descompromissados e mundanos. Este tipo de pessoa é caracterizado pela


ignorância da sua posição, pela incredulidade, desobediência, ressentimento, falta de amor
pelos outros, pobre vida devocional, legalismo, pensamentos impuros, culpa, críticas, preocu-
pação, ciúmes, falta de coragem e falta de direção. Sua vida também se encontra num estado de
confusão e desarmonia. A multidão da igreja está nesta categoria. Esta era a realidade da igreja
de Laodicéia, a mornidão (Apocalipse 3).

A pessoa que professa ser cristã, porém continua no pecado, precisa checar se realmente é
cristã (1 Jo 2.3; 3.6-10; Gl 5.18-25; 1 Co 6.9-10; Ef 5.5; Ap 22.15).

c) O crente espiritual
É o crente que aceitou Jesus como salvador e senhor, é o crente espiritual (Ef 5.18; 1 Co
2.15; Gl 5.22-23). Esta pessoa tem Cristo no centro de sua vida e depende dele, é cheia e capa-
citada pelo Espírito Santo, confia e obedece ao Senhor, manifesta os frutos do Espírito, deseja
os dons do Espírito Santo, tem uma vida devocional efetiva e dá bom testemunho. O alcançar
essas coisas depende do quanto o crente é cheio do Espírito e do quanto ele é maduro em Deus.
Esta pessoa conhece a liberdade (Jo 8.32, 36), a vida abundante (Jo 10.10) e o dar frutos (Jo
15) a que Jesus se referiu.

No aconselhamento, é importante estabelecer em qual dessas três categorias a pessoa está e


aconselhá-la de acordo com o seu nível de maturidade. Um princípio fundamental do aconse-
lhamento é que você não pode tratar uma pessoa num nível que ela ainda não tenha alcançado.
Você somente pode facilitar o trabalho de Deus naqueles que quiserem.
Capítulo

5
SAIBA DO QUE AS PESSOAS NECESSITAM

Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que
todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da
verdade. (1 Tm 2.3-4)

...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe:


Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém;
como dizes tu: Sereis livres?Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verda-
de vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. O escravo
não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se, pois, o Filho vos
libertar, verdadeiramente sereis livres. (Jo 8.32, 36)

Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim
como é próspera a tua alma. (3 Jo 2)

5.1 NECESSIDADES BÁSICAS


Os conselheiros também devem entender que cada um possui necessidades básicas que, se
não supridas, podem causar grandes problemas.
28     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

a) Regeneração
A necessidade primária do homem é a regeneração e um relacionamento vivo com Jesus
como Senhor. De certo modo, isso é tudo o que conta. Por outro lado, somos seres humanos e
há outras necessidades básicas que devem ser levadas em conta.

Devemos começar observando as necessidades que a humanidade tem nas áreas em que foi
criada à semelhança de Deus: espírito, alma e corpo. Todos fomos seriamente afetados pela
queda nessas áreas.

Espiritual (pessoal e relacional)


Deus colocou em cada pessoa profundas necessidades espirituais relacionadas a:

– Segurança: o sentimento de ser amado;

– Autovalor: o sentimento de ser valorizado;

– Significância: o senso do significado e propósito da vida.

Há diferentes níveis de necessidade, algumas podem ser supridas por outras pessoas, en-
quanto outras necessidades somente por Deus.

Somos seres espirituais, mas também somos seres relacionais. Todos temos um desejo inato
de voltar ao Éden, onde poderíamos nos relacionar com o Senhor. Todos desejam também
amar e ser amados (Jr 2.4-13). Essa necessidade é chamada codependência pela terminologia
popular da psicologia.

Racional (pensamentos)
A racionalização é pensar apropriadamente acerca de nós mesmos e do mundo ao nosso re-
dor. É também pensar de acordo com a realidade e a verdade. Nós nascemos com um modo de
pensar insensato – Provérbios 22.15 ensina que a insensatez está ligada ao coração da criança.
Por isso, tendemos sempre a jogar jogos infantis. O pensamento positivo, otimista, uma atitu-
de mental correta, a autoafirmação e outros recursos apenas nos ajudam a crescer um pouco,
mas o que realmente muda o pensamento sobre o pecado é o arrependimento. É preciso ter a
experiência de que somos pecadores e precisamos de arrependimento.

Há também muitas ideias irracionais e errôneas na mente das pessoas, frequentemente ab-
sorvidas durante a infância, e que devem ser transformadas por uma renovação da mente pela
Palavra ( Rm 12.2).

Vontades (escolha, objetivo)


Aquilo em que cremos se tornará o que necessitamos e, depois, o que almejamos, nossos obje-
tivos. Deus pretende que sejamos responsáveis, mas nossa habilidade de escolher corretamente foi
danificada pela nossa natureza pecaminosa, levando-nos a um estado de confusão interna.
S A I B A   D O   Q U E   A S   P E S S O A S   N E C E S S I T A M      29

O quanto poderemos ser livres longe de Deus? Quando nos distanciamos de Deus, caímos
nas garras do pecado e de Satanás, sendo por ele escravizados – isso é particularmente visto no
comportamento compulsivo e de viciados. Mas Deus, em Sua graça, gera em nós o desejo de
realizar a Sua vontade.

Somos o resultado de nossas escolhas, o que nos torna responsáveis por elas.

Emocional (sentimentos)
A estabilidade emocional é algo desejado. É estar em contato com as emoções, mas não
ser governado por elas. As emoções podem ser prazerosas, desagradáveis, construtivas ou
destrutivas.

As emoções destrutivas podem ser classificadas de três maneiras:

– Raiva (ressentimento e amargura) quando um objetivo não é alcançado;

– Culpa (e vergonha) quando um objetivo é inalcançável;

– Ansiedade (ou medo) quando objetivos são evitados.

Negar as emoções é um problema que acontece com muitas pessoas. Esse ato está usualmen-
te ligado à autoproteção e rejeição. As emoções em si mesmas não são o problema, mas como
lidamos com elas.

Físico
O bem-estar físico é desejado por todos. Ele pode ser afetado por todas as outras áreas e não
deve ser supervalorizado no aconselhamento.

b) Identidade

Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu cora-


ção, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. (Mt 22.37)

As pessoas querem saber quem são e o que é a vida. Elas querem segurança em relação a seu
senso de identidade. Procuram respostas para muitas questões filosóficas que surgem em torno
desse tópico. Pessoas que estão longe de Deus, inclusive cristãos, estão em confusão e crise de
identidade. Não sabem de onde vieram, por que estão aqui e para onde estão indo, não sabem
quem são.

A confusão de identidade se manifesta de diversas maneiras: rejeição, baixa autoestima,


apatia, suicídio, rebelião, hostilidade, dependência, vícios, comportamentos compulsivos e
confusão generalizada. A origem da identidade está em Deus e devemos relacioná-la a Ele se
quisermos ser estáveis e seguros de quem somos.
30     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

c) Aceitação

Porque eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que mudarei a sorte do
meu povo de Israel e de Judá, diz o SENHOR; fá-los-ei voltar para a
terra que dei a seus pais, e a possuirão. (Jr 30.3)

Todos temos uma profunda necessidade de ser aceitos por outros e muitos precisam sentir-se
aceitos por Deus. Quando essa necessidade não é suprida, aparece o sentimento de rejeição.

A rejeição é comum, quase universal, enraizada profundamente e algumas vezes causa desor-
dem geral. As causas da rejeição são muitas e podem acontecer antes do nascimento, no nasci-
mento, imediatamente após o nascimento, abusos na infância, traumas em relacionamentos,
no trabalho e ainda na igreja.

d) Paz, alegria e felicidade

Para os perversos, todavia, não há paz, diz o SENHOR. (Is 48.22)

Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz. (Is 57.21)

A boa inteligência consegue favor, mas o caminho dos pérfidos é intran-


sitável. (Pv 13.15)

Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e
alegria no Espírito Santo. (Rm 14.17)

Todos procuram paz, alegria e felicidade, normalmente nos lugares errados. Esses senti-
mentos são destruídos pela ansiedade, vergonha, culpa, depressão, assim como vícios, psicoses,
desordens de personalidade e sexuais, entre outros. A ansiedade (medo), a vergonha, a culpa e
outros problemas emocionais têm aspectos positivos e negativos.

Ansiedade é a falta de calma antes de eventos. É uma emoção primária que produz senti-
mento de incapacidade. Inclui também as fobias.

A vergonha é a falta de coragem diante de pessoas significantes. É uma emoção que envolve
medo e rejeição, quando uma pessoa é exposta à humilhação, desonra, autonegação e o ódio a
si mesma. Leva a pessoa a se esconder, cobrir e condenar.

A culpa é a falta da integridade na consciência de uma pessoa, causando a autocondenação.


É uma emoção específica que produz medo de punições ou de revelações humilhantes. Produz
o impulso para se justificar, racionalizar e se desculpar.
S A I B A   D O   Q U E   A S   P E S S O A S   N E C E S S I T A M      31

A depressão é a maior doença psicológica do mundo de hoje. É dez vezes mais comum hoje
que nos dias da Segunda Guerra Mundial, e é mais comum entre as mulheres. Apenas uma
pequena porcentagem dos casos de depressão se relaciona com problemas orgânicos.

Solitude
Associado a tudo o que foi dito acima está o fato de que todo homem precisa e procura a so-
litude. É aí que a paz, alegria e felicidade encontram suas raízes. Jesus frequentemente praticava
a solitude e todos precisam fazer o mesmo. É o lugar onde escapamos da correria do dia-a-dia
da vida e dos efeitos do mundo, sendo renovados e revigorados e também onde diminuímos o
crescente ritmo de vida.

A solitude deve ser regularmente praticada, de preferência todos os dias e, algumas vezes,
deve ter seu tempo estendido. A solitude está relacionada à quietude diária diante de Deus e
não é um desperdício de tempo.

e) Relacionamentos

O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mes-


mo. (Mt 22.39)

Os seres humanos não foram feitos para viver isolados, mas para se relacionar com outros e
com Deus. Muitas coisas interferem nos relacionamentos, como pecado, falta de compromisso
e ausência do amor, confiança, respeito e compreensão. Raiva e ressentimento são particular-
mente danosos aos relacionamentos.

A raiva pode ser de si próprio ou até de Deus, sendo que esta última é um problema comum
e é a causa de dificuldades no relacionamento com o Senhor. Após ser ferido por outros, a
sequência natural dos sentimentos é raiva, ressentimento, amargura, ódio e morte. A raiva é
normalmente associada ao ressentimento e à amargura, que são grandes problemas, mesmo
entre cristãos.
Capítulo

6
A NATUREZA DE DEUS

Mas Jesus, ouvindo, disse: Os sãos não precisam de médico, e sim os


doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e
não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores ao arre-
pendimento. (Mt 9.12-13)

Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o


forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; ...mas o que se gloriar,
glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço
misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz
o SENHOR. (Jr 9.23-24)

É impossível ser um conselheiro efetivo sem ter um claro entendimento bíblico da natureza
e do caráter de Deus.

O conselheiro cristão é um embaixador e ministro da nova aliança e da reconciliação (2 Co


3; 5) e, portanto, deve representar realmente o Senhor no aconselhamento. Uma parte impor-
tante do aconselhamento é mostrar e ensinar por meio dos conselhos o caráter de Deus.

É essencial entender desde o princípio que o comportamento de uma pessoa é determinado


pelo seu entendimento da pessoa do Senhor.
34     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

6.1 NOMES DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO


Os nomes e atributos de Deus no Antigo Testamento nos ajudam a entender o Seu caráter.

a) Elohim (Todo-Poderoso)
Elohim é o plural de Eloah, que aparece cerca de 2500 vezes, sendo a primeira vez em
Gênesis 1.1. A mesma palavra é usada em Gênesis 1.26, “Façamos”, dando uma clara indicação
do mistério da triunidade de Deus. O nome significa grandeza e glória e é muito usado em
relação à criação.

b) El (O Forte)
Este é um nome singular de Deus, usado cerca de 250 vezes. Indica a força e o poder de
Deus e que Ele é a primeira razão. É frequentemente ligado a atributos divinos, como podero-
so, eterno e fiel (Gn 17.1; 21.33; Js 3.10 e Dt 7.9).

c) Eloah (O Único Poderoso)


Outro título singular, aparece 50 vezes e é derivado de AHLAH, que significa louvor e ado-
ração. Deus é apresentado como o supremo objeto de louvor (Ne 9.17 e em todo o livro de Jó).

d) Jeová (YHWH) (Ele é ou o Autoexistente)


Este é o nome de Deus mais usado no Antigo Testamento, aparecendo cerca de 6000 vezes.
Aparece pela primeira vez em Gn 2.4 (O Senhor Deus fez). O Senhor significa Jeová Elohim.
No nome Jeová, estão juntos passado, presente e futuro. JAH indica existência contínua a
absoluta (Ex 15.2; Sl 68.4).

e) Adonai (Senhor)
A forma singular do nome Adonai que significa senhor, mestre, possuidor ou proprietário.
É encontrado 30 vezes no Antigo Testamento e é primeiramente usado em Ex 23.17 como
Jeová Adonai.

No plural, é usado somente como Senhor ou Mestre em referência a um título divino.


Aparece cerca de 290 vezes, a primeira em Gn 15.2 (Abraão disse: Soberano Senhor!).

f ) Nomes combinados de Deus


– Jeová Adonai (O Senhor Deus) – Sl 62.20; Hc 3.19;

– Jeová Elohim (Jeová é Deus) – Gn 2.4; 3.9; 2 Sm 7.22;


A   N A T U R E Z A   D E   D E U S      35

– Jeová Sabaoth (O Senhor dos Exércitos) – 1 Sm 1.3; Is 31.4; Sl 24.10; 46.7; 84.1

– Adonai Jeová (O Senhor é Jeová) – Gn 15.2; Dt 3.24; Sl 73.28

– El Betel (Deus de Paz) – Gn 35.7. Também pode ser usado como Deus revelado em Betel

– Eliom (O Deus mais Elevado) – Gn 14.18; Sl 78.35; Dn 3.26; 5.18, 21

– Rohi (O Senhor é aquele que me vê) – Gn 16.13

– El Shaddai (O Deus Todo-Poderoso) – Gn 17.1; 43.14; Jó 8.5

– Olam (O Deus Eterno) – Gn 21.33; Dt 33.27; Sl 146.10

– Gibor (O Deus Guerreiro) – Is 9.6; 10.21

g) Outros nomes descritivos de Deus

– Jeová Jireh (O Senhor que Provê) – Gn 22.14

– Jeová Rafá (O Senhor que Cura) – Ex 15.26

– Jeová Nissi (A Minha Bandeira) – Ex 17.15

– Jeová Tsidkenu (A Nossa Justiça) – Jr 23.6

– Jeová Shalom (O Senhor é a minha paz) – Jz 6.24

– Jeová Rohi (O Senhor é o meu pastor) – Sl 23.1

– CHAI (O Deus Vivente) – Dt 5.25

– KANA (O Deus Zeloso) – Ex 20.5

– HANNUN (O Deus Misericordioso) – Dt 4.31

6.2 ATRIBUTOS DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO


Deus é mencionado no Antigo Testamento como Criador, Todo-Poderoso (Onipotente),
sempre presente (Onipresente), todo sábio (Onisciente), santo, invisível, imutável, vivente, o
único Deus, amoroso, bendito, majestoso, imortal, zeloso, justo, fiel, que cura, reto, perdoa-
dor, misericordioso, gracioso e tardio no irar-se.

O principal aspecto do caráter de Deus é Sua santidade. É a base para tudo o mais, inclusive
seu infindável amor e graça.
36     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

6.3 O TEMOR DO SENHOR

Tema ao SENHOR toda a terra, temam-no todos os habitantes do


mundo. Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir.
O SENHOR frustra os desígnios das nações e anula os intentos dos
povos. O conselho do SENHOR dura para sempre; os desígnios do seu
coração, por todas as gerações. Feliz a nação cujo Deus é o SENHOR,
e o povo que ele escolheu para sua herança. O SENHOR olha dos
céus; vê todos os filhos dos homens; do lugar de sua morada, observa
todos os moradores da terra, ele, que forma o coração de todos eles, que
contempla todas as suas obras. Não há rei que se salve com o poder dos
seus exércitos; nem por sua muita força se livra o valente. O cavalo não
garante vitória; a despeito de sua grande força, a ninguém pode livrar.
Eis que os olhos do SENHOR estão sobre os que o temem, sobre os que
esperam na sua misericórdia, (Sl 33.8-18)

Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR. (Sl 34.11)

O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam


a sabedoria e o ensino. (Pv 1.7)

O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arro-


gância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço. (Pv 8.13)

O temor do SENHOR é fonte de vida para evitar os laços da morte.


(Pv 14.27)

Melhor é o pouco, havendo o temor do SENHOR, do que grande te-


souro onde há inquietação. (Pv 15.16)

Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei.
(1 Pe 2.17)

A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria,


edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do
Espírito Santo, crescia em número. (At 9.31)

Quem teme ao homem arma ciladas, mas o que confia no SENHOR


está seguro. (Pv 29.25)
A   N A T U R E Z A   D E   D E U S      37

A palavra temor não é usada aqui com o sentido de estarmos com medo de Deus e fugir
dele, mas simplesmente significando reverência por aquilo que Deus é, e também com o senti-
do de respeitá-lo e ter o cuidado de não fazer qualquer coisa que possa desagradá-lo.

A única resposta ao temor do povo é o temor do Senhor (Pv 29.25). João ilustra muito bem
o temor do Senhor. Ele pode deitar no peito de Jesus, como aquele a quem Jesus amava, mas
quando o Senhor apareceu em Sua majestade, João caiu aos Seus pés como morto (Ap 1.1-18).

6.4 GRAÇA (MISERICÓRDIA) E VERDADE

Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram.


(Sl 85.10)

Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor
da tua misericórdia e da tua fidelidade. (Sl 115.1)

E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade,


e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. João testemunha
a respeito dele e exclama: Este é o de quem eu disse: o que vem depois
de mim tem, contudo, a primazia, porquanto já existia antes de mim.
Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça.
Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade
vieram por meio de Jesus Cristo. (Jo 1.14-17)

Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de
misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo. (Tg 2.13)

Graça é o favor imerecido de Deus. A misericórdia é bastante similar, pois é o fato de rece-
bermos de Deus o que não merecemos. A misericórdia (graça) de Deus é um tema presente em
toda a Bíblia. Deus se alegra em mostrar misericórdia (Mq 7.18). Da mesma maneira, Ele é o
Deus Verdadeiro, portanto deve ser fiel à Sua natureza e santidade.

Há em Deus um equilíbrio perfeito entre a misericórdia (graça) e a verdade, e entre o Seu


amor e santidade. No aconselhamento tanto a graça quanto a verdade devem ser mantidas e
valorizadas, pois quem está sendo representado é o Senhor. O conselheiro que é efetivo refletirá
a maravilhosa graça e misericórdia de Deus em tudo o que fizer com as pessoas necessitadas. A
misericórdia sempre triunfa sobre o julgamento.

6.5 RAZÕES DA VINDA DE JESUS


As razões da vinda de Jesus são as seguintes:
38     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

– Pela sua graça, buscar e salvar aqueles que estão perdidos (Lc 19.10)

– Chamar pecadores ao arrependimento (Lc 5.32)

– Destruir as obras do diabo (1 Jo 3.8)

– Mostrar-nos como viver (1 Pe 2.21; Gl 5.22, 23; Ef 5.1, 2)

– Pregar o evangelho aos pobres, curar os quebrantados de coração, libertar os cativos, res-
taurar a visão aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor
(Lc 4.18)

– Tornar o Pai conhecido (Jo 3.16, 14-17)

– Buscar adoradores para o Pai (Jo 4.20-24; Ef 2.18)

6.6 DEUS É POR NÓS


Deus é malvisto, mal entendido e mal interpretado por muitos. Isso acontece como resul-
tado de um ensino pobre por parte da igreja e dos pais. Muitos são desapontados e chateados
com Deus por causa de aparentes injustiças. Outros esperam que Deus faça coisas, por exem-
plo, que sempre opere curas. Sua disposição é de curar e nós precisamos orar em fé por curas,
mas Deus é soberano. Seus caminhos são misteriosos e inescrutáveis. Deus é Deus e o homem
é homem! Ele permitiu que Tiago morresse, mas que Pedro fosse livrado da morte (At 12.2-8).
Por quê? Nós não sabemos!

A fuga de Deus, por parte de algumas pessoas, relacionada a mágoas que elas guardam dEle,
muitas vezes é a maior causa de problemas emocionais e bloqueio para cura. Quando a raiva
que essas pessoas têm de Deus se manifestar, é muito importante que o conselheiro manifeste
o caráter do Senhor. Não importa qual seja o nosso estado, a atitude de Deus para conosco é
sempre de amor incondicional e aceitação sem julgamentos. A mensagem explícita em toda a
Bíblia é a de que Deus não é contra nós, mas por nós (Rm 8.31). Podemos ver que Deus é
por nós pelos seguintes fatores:

– Ele é misericordioso (Sl 103.4, 8, 11, 17; 107.1; Rm 11.32; Ef 2.4-10)

– Ele nos ama (Jo 3.16; Rm 5.8; Jr 31.3)

– Ele é justo em todos os seus caminhos (Rm 3.26; At 3.14; Ap 15.3)

– Ele odeia o pecado, mas ama o pecador (Jo 3.16; Rm 5.8)

– Ele se entristece com a nossa desobediência (Gn 6.6; Rm 8.32)

–Tudo o que nos oferece é salvação, restauração, reconciliação, cura, liberdade e vida abun-
dante (1 Tm 2.4; Ef 2.14-16; Lc 4.18; Jo 8.32, 36; 10.10)

– Pai, Filho e Espírito Santo fazem o papel de consoladores (2 Co 1.3; Mt 11.28, 29; Jo 14.16)
A   N A T U R E Z A   D E   D E U S      39

– É um Deus de esperança (Rm 15.13)

– Ele é um Pai perfeito, em toda a extensão desta palavra (Jo 20.17)

O conselheiro efetivo convencerá o aconselhando de que Deus não é contra, mas por ele.
Convencerá também de que ele próprio não é contra, mas a favor daquele que está recebendo
conselho. Isso instiga um sentimento poderoso de esperança na vida do aconselhando.

6.7 A PATERNIDADE DE DEUS


A principal razão da vinda de Jesus foi revelar Deus como Pai. A revelação da paternidade
de Deus apresentada no Novo Testamento supera e transcende tudo aquilo que foi dito sobre
Ele antes.

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos


pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem
constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.
(Hb 1.1-2)

...porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. (Ef 2.18)

Por causa dos conceitos errados de Deus como Pai, tendemos a nos identificar mais com
Jesus – a maioria das vezes falamos e cantamos somente para Ele. Isso é bom, mas cumprimos
pouco do objetivo divino. Jesus nos disse que aquele que o vê, vê também o Pai, e que Ele é o
caminho, a verdade e a vida e que ninguém pode ir ao Pai senão por Ele (Jo 14.6), falou ainda
que Ele e o Pai são um (Jo 10.30).

Em adição à descrição de Deus feita no Antigo Testamento como santo, perdoador, miseri-
cordioso, gracioso, tardio no irar-se, paciente e justo, Seu amor parece aumentar com o envio
do Seu amado filho no Novo Testamento, para revelá-lo como um Pai perfeito e real.

Deus é um Pai perfeito que:

– Tem filhos (Jo 1.12, 13), uma família (Ef 3.14, 15) e uma casa (Jo 14.2, Ef 2.19)

– Tem filhos e vive com eles eternamente (Gl 3.26; Ef 1.3-7)

– Tem um amor incondicional (ágape) por nós (Jo 3.16; Rm 5.8)

– Tem um amor fraterno (fileo) por nós (Jo 16.27)

– Nos aceita como somos (Rm 5.8; Lc 15)

– Não nos julga (Jo 5.22)


40     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

– Nos dá:
! Perdão pelos pecados (Lc 23.34)
! Vida eterna (Jo 3.26)
! O Espírito Santo, consolador (Jo 1.416; Lc 11.11-13)
! Boas dádivas (Mt 7.11; Tg 1.17)
! Sabedoria (Tg 1.5, 17)
! Todas as bênçãos espirituais (Ef 1)
! Tudo o que pedirmos no Nome de Jesus (Jo 15.16; 16.23)

– Quer ser conhecido e amado (Jo 17.3, 26; 20.17; Mt 6.9)

– Deseja a nossa companhia mais do que poderíamos desejar a Sua (Jo 14.23; Gl 4.6)

– Nos dá o Espírito Santo, assim podemos chamá-lo de Aba Pai (Gl 4.6; Rm 8.15)

– Nos afirma e encoraja (2 Co 1.3, 4)

– Cuida de nós e provê tudo que necessitamos (1 Pe 5.7)

– Nos liberta de toda ansiedade (1 Pe 5.7)

– Nos cura por meio de Cristo Jesus (Ex 15.26; Lc 4.18, 19)

– Nos disciplina amorosamente para que sejamos mais frutíferos e mais parecidos com Ele
(Jo 15; Hb 12.3-11).

Joy Dawson escreveu as seguintes palavras sobre o caráter de Deus:

Ele é supremo em autoridade, deslumbrante em Sua beleza, impecável


no Seu caráter, genial em Sua criatividade, sereno em Sua existência, Ele
é a pessoa mais interessante do universo, inabalável em Sua fidelidade,
incomparável em Sua graça, resplandecente em Sua glória, único em
Sua grandeza, assombroso em Sua santidade, incompreendido em Sua
humildade, o autor do humor, o maior em intensidade, absoluto em
Sua justiça, infinito em Seu conhecimento e sabedoria, infindável em
Seu amor, a fonte da vida, interminável em sua misericórdia, tem to-
tal domínio, ilimitado em Seu poder, fascinante em Sua personalidade,
majestoso em Seu esplendor, inquestionável em Sua soberania, indescri-
tível em Sua ternura, a personificação da verdade, de inescrutável enten-
dimento, terrível em Sua ira, Ele tem um reino eterno e indestrutível,
é o monarca governante do universo, é o Deus Rei, o amado da minha
alma, aquele que me cativou completamente, o único que pode me
preencher e que me destruiu para a mediocridade!
A   N A T U R E Z A   D E   D E U S      41

6.8 NOSSO CONHECIMENTO DE DEUS DETERMINA NOSSO COMPORTAMENTO


Essa afirmação deve ser cuidadosamente ponderada no que concerne a nós enquanto busca-
mos ajudar outros. Se em nosso entendimento de Deus o vemos como alguém bravo, áspero,
julgador e pronto para nos corrigir sempre que errarmos, isso nos fará querer fugir dEle, desis-
tir, nos rebelar e ser como outros que não o conhecem.

Se o vemos como alguém que ama incondicionalmente e que nos aceita sem julgamentos,
que se deleita em nossa companhia, que quer curar, restaurar e abençoar, isso nos atrairá para
Ele e produzirá em nós o desejo de agradá-lo e servi-lo. Portanto, nossa resposta ao único Deus
vivo e verdadeiro (Jo 17.3) deve ser de total rendição e compromisso.

O fundador da Worldwide Evangelical Crusade – WEC (Cruzada Evangélica Mundial) fez


a seguinte afirmação:

Se Jesus é Deus e morreu por mim, então nenhum sacrifício é tão gran-
de que eu não possa fazê-lo por Ele.
Capítulo

7
A BÍBLIA E O ACONSELHAMENTO

Os conselheiros devem manter cuidadosamente as seguintes ideias:

– A Bíblia é o maior guia do comportamento humano (psicologia)

– A Bíblia provê sistemas para todo tipo de aconselhamento

– Jesus e o Espírito Santo proveem poder sobrenatural de cura

– A igreja, funcionando adequadamente, é o contexto primário para cura (por exemplo:


durante a adoração e comunhão, ensino, batismo, amor, aceitação, perdão, orações, fé, grupos
pequenos etc.)

– A psicologia pode servir de algum auxílio, se não entrar em conflito com a Bíblia.

A Bíblia sempre é mais importante que a psicologia. Esta deve ser olhada com lentes da
Escritura e não as Escrituras com lentes da psicologia. Muitos cristãos pensam que o aconselha-
mento cristão é simplesmente um aconselhamento comum acompanhado de oração e alguns
versículos da Palavra.

Os conselheiros devem ser cuidadosos em não permitir que livros de psicologia lhes tomem o
lugar do estudo regular do texto mais importante sobre o assunto, a Bíblia. Isso pode acontecer
facilmente. Possuir discernimento aguçado é essencial para conselheiros e requer maturidade
na Palavra de Deus. Muitos cristãos vivem de leite, o conselheiro deve viver de comida sólida.
44     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática,
têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem,
mas também o mal. (Hb 5.14)

É impossível discernir a verdade da mentira se não for por meio da Palavra.

7.1 O USO CORRETO DAS ESCRITURAS NO ACONSELHAMENTO

E prosseguiu: Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima; vós sois deste


mundo, eu deste mundo não sou. (Jo 8.23)

...e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te
sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. (2 Tm 3.15)

Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia
e de noite. (Sl 1.2)

Meditarei nos teus preceitos e às tuas veredas terei respeito. (Sl 119.15)

Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia! (Sl 119.97)

E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que


estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para
vos admoestardes uns aos outros. (Rm 15.4)

As Escrituras declaram os pensamentos e caminhos de Deus. Elas nos dão acesso ao conhe-
cimento do Senhor e de nós mesmos. Nos trazem conforto e esperança. E nos falam das muitas
promessas de Deus.

Como a Bíblia pode ser utilizada efetivamente?

No aconselhamento, a Bíblia pode ser usada das seguintes maneiras:

– Como um guia na mente do conselheiro

– Sendo citada pelo conselheiro

– Como meditação pelo aconselhando

– Sendo memorizada pelo aconselhando.


A   B Í B L I A   E   O   A C O N S E L H A M E N T O      45

A meditação regular das Escrituras tem sido comprovadamente um meio muito eficiente
para a cura. O Salmo 1 diz claramente que aqueles que meditam na Palavra de Deus irão flo-
rescer e prosperar.

Perigos
Há sempre o perigo da interpretação errada. Ninguém é infalível ou tem um perfeito enten-
dimento da Bíblia. Portanto, isso requer humildade por parte do conselheiro.

Citar a Palavra pode se tornar uma mania de dar soluções prontas. Pode também tem um
efeito oposto. É possível citar um versículo aplicável de uma maneira que se ministre morte ao
invés de vida (Pv 18.21).

Muitos aconselhandos sabem que a Bíblia é aplicada. Citar a Palavra não é o que eles procu-
ram, mas simplesmente serem ouvidos sem um pré-julgamento.

7.2 ESTUDOS DA PALAVRA


Há muitas palavras na Bíblia relacionadas ao aconselhamento, geralmente no Novo
Testamento. A seguir, alguns exemplos:

– Conselho – Sumbuleuo

– Apoiar, estar junto, confortar – Parakletos

– Edificar – Oikodome

– Encorajar – Paramutheomai

– Confrontar, admoestar, advertir – Noutheteo

– Ensinar, treinar – Paidoua (modelar), Didasko (ensinar a Palavra de Deus)

– Carregar fardos – Baros, Phortion

– Discipular – Matheteuo

– Comunhão – Koinonia

Em resumo, as principais palavras no Novo Testamento relacionadas ao aconselhamento são:


! Parakaleo, paraklesis, parakletos – Essas palavras aparecem 70 vezes no Novo Testamento,
significando: estar junto, ajudar, apoiar, confortar, consolar, defender.
! Noutheteo – essa palavra aparece 13 vezes no Novo Testamento e significa: advertir,
admoestar, confrontar e colocar na mente.
! Paramutheomai – essa palavra significa encorajar, consolar, alegrar.
Capítulo

8
O ESPÍRITO SANTO E O ACONSELHAMENTO

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo


o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á.
(Mt 7.7-8)

Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a


lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; (Tg 4.2)

A Bíblia indica, claramente, que Jesus aconselhou pelo Espírito Santo, e é bom que os
conselheiros meditem nisso e imitem o que Ele fez. Duas belas passagens de Isaías falam a
respeito disso:

Repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o Espírito de sabedoria e de


entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhe-
cimento e de temor do SENHOR. Deleitar-se-á no temor do SENHOR;
não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o
ouvir dos seus ouvidos; mas julgará com justiça os pobres e decidirá com
equidade a favor dos mansos da terra; ferirá a terra com a vara de sua boca
e com o sopro dos seus lábios matará o perverso. (Is 11.2-4)
48     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me


ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os
quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em
liberdade os algemados. (Is 61.1)

O Espírito Santo desempenha um papel essencial no aconselhamento efetivo. Primeiramente,


o conselheiro deve se render e ser um vaso limpo para ser usado pelo Espírito.

Henri Nouwen, em seu livro Memória viva: apostolado e oração em memória de Jesus
Cristo, diz que o ministério genuíno nasce das feridas. Todos somos “curandeiros de feridas”.
Mas isso não significa que não devemos nos preocupar com o espiritual em nossa abordagem
no aconselhamento. Ele segue dizendo que a intimidade com Cristo mantém os conselheiros...
vivos, enérgicos e efetivos. Para sermos uma presença curadora, é necessária a espiritualidade,
uma ligação espiritual, um modo de viver unido a Deus (p. 30).

O conselheiro também precisa reconhecer e ser liderado pelo Espírito nos seguintes pontos:

8.1 PREPARO ESPIRITUAL


É importante que os conselheiros considerem e procurem as seguintes prioridades
ao aconselhar:
! Jesus disse: Sem mim, nada podeis fazer. Isso significa uma completa dependência de
Deus em tudo o que fazemos (Jo 15.5);
! A necessidade de purificar seu coração remove bloqueios do canal da cura de Deus
para fluir através deles na vida de outros;
! Clamar pelo Espírito Santo (Lc 11.13);
! Ser cheio com o Espírito – é uma questão de prática contínua (Ef 5.18).

8.2 DEMONSTRAR O FRUTO DO ESPÍRITO


Os nove atributos do fruto do Espírito, que são de fato o caráter de Cristo – amor, alegria,
paz, longanimidade, bondade, amabilidade, fidelidade, mansidão e domínio próprio – devem
ser demonstrados na maneira de aconselhar, para que o aconselhamento seja realmente efetivo
(Gl 5.22-23).

8.3 EXERCITAR OS DONS DO ESPÍRITO


Os dons do Espírito, relacionados em 1 Coríntios 12.8-10, estão disponíveis ao conselheiro.
São eles: palavra de sabedoria, palavra de conhecimento, fé, cura, milagres, profecia, discerni-
mento de espírito, línguas e interpretação de línguas. Quando a Bíblia declara que “devemos
buscar com zelo os melhores dons” (1 Co 12.31), significa que devemos buscar com zelo o dom
O   E S P Í R I T O   S A N T O   E   O   A C O N S E L H A M E N T O      49

necessário para cada momento. Se tivermos essa atitude e disposição, o Senhor nos honrará.
Apenas peça e você receberá o que Jesus disse.

8.4 PROCURE O DISCERNIMENTO DE ESPÍRITO


Paulo nos diz que o espiritual discerne todas as coisas (1 Co 2.14, 15). Essa pessoa será hábil
para discernir desde o que está por trás das palavras até a raiz dos problemas.

8.5 SEJA GUIADO PELO ESPÍRITO


O conselheiro não deve confiar em sua própria habilidade, mas ser sensível às direções do
Espírito durante o aconselhamento (Rm 8.14; Gl 5.18).

8.6 PEÇA SABEDORIA


Peça pelo espírito de sabedoria – o espírito do alto (Tg 1.5-6, 17; 3.17). Definitivamente
precisamos dessa ajuda para enfrentar os problemas.

A sabedoria do alto
As características da sabedoria do alto, referidas por Tiago, podem ser todas relacionadas ao
aconselhamento:
! Puro – não ser contaminado com conceitos que não são da Bíblia. O conselheiro
precisa saber os princípios de Deus e viver por eles;
! Pacífico – ser paciente e não argumentador. Alguém já descobriu a verdadeira paz
sendo um pacificador;
! Gentil – a gentileza é força controlada e não fraqueza. Não ser áspero, dominador ou
manipulador, mas ouvir e atender aos aconselhandos, para ter peso nas suas vidas;
! Cheio de misericórdia – não julgar, condenar ou criticar;
! Bons frutos – o fruto do Espírito demonstrado na vida do conselheiro;
! Sem parcialidade (sincero) – simplesmente significa equidade no aconselhamento.
Não existe parcialidade com Deus (Rm 2.11). Deus não faz acepção de pessoas (2 Sm
14.14; At 10.34; Dt 1.17; 16.19).

Peça e receberá
Jesus nos encoraja a pedir por todas essas coisas (Mt 7.7). Ele é fiel à sua promessa e a dará
se pedirmos em simples dependência e fé. Um dos versículos mais tristes da Bíblia é Tiago 4.2,
“você não tem porque não pede”.
Capítulo

9
ORAÇÃO E ACONSELHAMENTO

Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra,
concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem,
ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus. (Mt 18.19)

Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que rece-
bestes, e será assim convosco. (Mc 11.24)

Naquele dia, nada me perguntareis. Em verdade, em verdade vos digo: se


pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome. (Jo 16.23)

E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma
coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. (1 Jo 5.14)

Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações,


intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, (1 Tm 2.1)
52     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver


cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai, pois, os vossos pe-
cados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito
pode, por sua eficácia, a súplica do justo. (Tg 5.15-16)

Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido.


(Sl 66.18)

Deus, claramente, ouve e responde à oração de fé, como as passagens acima nos dizem. Isso
traz o poder sobrenatural de Deus sobre as situações de dificuldade.

A oração é primária para o crescimento cristão. É mais do que pedir ao Senhor por coisas. A
comunhão com o Senhor em oração é mais importante que as simples petições. Entretanto, a
maioria dos conselheiros concordaria que o uso da oração e da Palavra, mesmo que de grande
auxílio, não são suficientes para a cura de muitos problemas emocionais. Da mesma maneira,
eles concordariam que problemas emocionais não são, necessariamente, espirituais.

No aconselhamento, precisamos avaliar qual é o tipo de oração apropriada, para quais acon-
selhandos, e quando fazê-las. Também é bom orarmos com os olhos abertos para observar os
aconselhandos.

9.1 TIPOS DE ORAÇÃO


O conselheiro pode orar efetivamente de diversas maneiras, como:

– Oração privada antes da sessão de aconselhamento

– Invocar a presença do Senhor e abençoar no início do momento de aconselhamento

– Orar pela cura do aconselhando

– Orar para que o aconselhando tenha certeza do perdão de Deus

– Pela graça para uma ação específica pelo aconselhando

– Oração de renúncia e entrega

– Oração silenciosa durante as sessões

– Oração silenciosa em línguas durante os períodos de dificuldade no aconselhamento

– Oração reclusa

– Oração pelo aconselhando após as conversas.


Capítulo

10
DESENVOLVA AS QUALIDADES
ESSENCIAIS DE UM CONSELHEIRO

As seguintes qualidades são consideradas essenciais na vida do conselheiro que busca ser um
canal desimpedido para o fluir da graça de Deus:

1- Atitude de aceitação e cuidado.

2- Respeito ao aconselhando e suas crenças.

3- Compromisso com a excelência e ética, integridade e confiança no aconselhamento.

4- Compromisso com Jesus Cristo.

5- Entendimento da doutrina cristã.

6- Conhecimento da unção do Espírito Santo.

7- Ser confiável.

8- Ser imparcial.

9- Ser hábil para desafiar.

10- Ser hábil em outras técnicas básicas do aconselhamento.


54     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

11- Fazer uso apropriado das Escrituras e da oração.

12 - Exercitar os dons espirituais.

13- Não temer a guerra espiritual.

14- Dar respostas corretas.

15- Ter alcançado um bom nível de estabilidade emocional e espiritual.

16- Possuir autoconfiança (que vem do conhecimento e da experiência).

17- Ter humildade (entender que não é Deus e que não sabe de tudo).

18- Deve ser capaz de se desligar quando necessário.

19- Senso de humor no dia-a-dia.

Algumas dessas qualidades são indispensáveis, como as cinco primeiras e as habilidades nas
técnicas básicas do aconselhamento. Outras são mais relacionadas com o crescimento espiritual
do conselheiro.
Capítulo

11
TÉCNICAS DO ACONSELHAMENTO

1. Prestar atenção – o conselheiro deve tentar conceder atenção integral ao aconselhado.


Isso é feito mediante: (a) Contato de olhos – olhar sem arregalar os olhos, como um meio de
transmitir interesse e compreensão; (b) Postura, que deve ser relaxada e não tensa; (c) Gestos
naturais, mas não excessivos ou que provoquem distração.

2. Ouvir – isso abrange mais do que uma recepção passiva de mensagens. Ouvir eficazmente
envolve:
! Percepção suficiente e soluções dos próprios conflitos a fim de evitar reagir de modo a
interferir com a livre expressão dos pensamentos e sentimentos do aconselhado;
! Evitar impressões verbais ou não verbais dissimuladas de desprezo ou juízo em relação
ao conteúdo da história do aconselhado, mesmo quando esse conteúdo ofenda a sen-
sibilidade do conselheiro;
! Aguardar pacientemente durante períodos de silêncio ou lágrimas, enquanto o aconse-
lhado se enche de coragem para aprofundar-se em assuntos penosos ou faz pausa para
reunir seus pensamentos ou recuperar a compostura;
! Ouvir não apenas o que aconselhado diz, mas aquilo que ele ou ela está tentando dizer
ou deixou de dizer;
! Usar os olhos e ouvidos para captar as mensagens transmitidas pelo tom de voz, pos-
tura, e outras pistas não verbais;
56     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

! Analisar as próprias reações quanto ao aconselhado;


! Evitar desviar os olhos do aconselhado enquanto este fala;
! Sentar-se imóvel;
! Limitar o número de excursões mentais às próprias fantasias;
! Controlar os sentimentos em relação ao aconselhado que possam interferir com uma
atitude de aceitação, simpatia, que não faz juízos antecipados; e
! Compreender que é possível aceitar plenamente o aconselhado sem aprovar ou sancio-
nar atitudes e comportamentos destrutivos para ele ou para outros.

É fácil ignorar tudo isso e escorregar rapidamente para a oferta de conselhos e a falação
excessiva, o que impede o aconselhado de expressar realmente suas mágoas, esclarecer um pro-
blema através da conversa, partilhar todos os detalhes de uma questão ou experimentar o alívio
que vem com o desabafo. Ouvir com paciência é como dizer-lhe: “Eu me interesso”.

3. Responder – não se deve supor, porém, que o conselheiro nada faça além de ouvir. Jesus
era um bom ouvinte (lembre-se do Seu encontro com os discípulos no caminho de Emaús),
mas a Sua ajuda também se caracterizara pela ação e respostas verbais específicas.

4. Orientar ou liderar – é uma habilidade mediante a qual o conselheiro prevê a direção


dos pensamentos do aconselhado e responde de maneira a redirecionar a conversação: “Você
pode dar mais detalhes...?”; “O que aconteceu então...?”; “O que você estava querendo dizer
com...?” – todas essas perguntas breves que, espera-se, irão orientar ao máximo a discussão em
direções produtivas.

5. Refletir – é um modo de permitir que os aconselhados saibam que “estamos com eles” e
podemos compreender seus sentimentos ou pensamentos. “Você deve sentir-se...”, ou “Tenho
certeza de que isso o frustrou”, ou “Acho que foi mesmo divertido!”; essas frases refletem o que
está acontecendo no aconselhamento. Um breve resumo da entrevista pode ser também um
meio de refletir, estimular maior exploração por parte do aconselhado. Esse resumo pode servir
também como sondagem exploratória dos fatos.

6. Perguntar – caso sejam feitas com habilidade, algumas perguntas poderão extrair muitas
informações úteis. As melhores perguntas são aquelas que exigem pelo menos uma sentença ou
duas como respostas, tais como: “Fale-me sobre o seu casamento”, em lugar de “Você é casado?
Qual a sua idade?”, pois estas perguntas podem ser respondidas com apenas uma palavra.

7. Confrontar – significa apresentar uma ideia ao aconselhado, a qual ele ou ela talvez não
percebesse de outro modo. Os aconselhados podem ser confrontados com o pecado em sua
vida, a inconsistência ou o comportamento derrotista devendo ser encorajados a modificar o
seu comportamento ou atitudes. O confronto é mais bem aceito quando apresentado de ma-
neira sugestiva, cheia de amor e sem uma atitude de julgamento. Todavia, ele com frequência
provoca resistência, culpa e algumas vezes ira por parte do aconselhado. Torna-se importante,
pois, que o conselheiro dê tempo ao aconselhado para responder verbalmente ao confronto e
discutir maneiras alternativas de se comportar.
T É C N I C A S   D O   A C O N S E L H A M E N T O      57

8. Informar – abrange a apresentação de fatos aos que precisam de informação. Isso difere da
ideia do conselheiro partilhar suas opiniões ou dar conselhos. Informar é uma parte comum e
aceita no aconselhamento; oferecer conselhos é bem mais controverso, portanto, toda vez que
lhe pedirem conselhos ou sentir-se inclinado a aconselhar, certifique-se de que conhece bem a
situação. Caso positivo, ofereça conselho na forma de sugestão, dê ao aconselhado tempo para
reagir e falar a respeito de sua sugestão e informe-se depois para ver até que ponto o conselho
foi proveitoso.

9. Interpretar – envolve a ideia de explicar ao aconselhado o que seu comportamento ou


outros eventos significam. Esta é uma habilidade altamente técnica com grande potencial para
capacitar os aconselhados a verem a si mesmos e suas circunstâncias mais claramente. Use
expressões tais como: “Não será que...?”; “Você não acha que isso...?”

10. Apoiar e encorajar – são partes importantes de qualquer situação de aconselhamento,


especialmente no início. Quando as pessoas estão sobrecarregadas por necessidades e conflitos,
elas podem tirar proveito da estabilidade. Cuidado com uma pessoa empática que mostre
aceitação e lhe forneça uma sensação de segurança. Isto, porém, é mais do que assistir aos
oprimidos. Apoio inclui a orientação do aconselhado no sentido de fazer uma avaliação de seus
recursos espirituais e psicológicos, encorajá-lo à ação e ajudar com quaisquer problemas ou
fracassos que possam resultar desta ação.

11. Ensinar – todas essas técnicas são, na verdade, formas especializadas de educação psicoló-
gica. O conselheiro é um educador, ensinando o aconselhado através da instrução e orientação
à medida que ele ou ela aprende a enfrentar os problemas da vida. Da mesma forma que outros
tipos pessoais de educação, o aconselhamento é mais eficaz quando as discussões são específicas
e não vagas, focalizando situações concretas (“Como posso controlar meu gênio quando sou
criticado por minha esposa?”) em lugar de alvos nebulosos (“Quero ser mais feliz”).

Um dos instrumentos de aprendizado mais poderosos é o que os psicólogos chamam de


respostas imediatas. Isso envolve a capacidade de conselheiro e aconselhado discutirem direta e
abertamente o que está acontecendo no aqui e agora de sua relação. Por isso o conselheiro dever
mostrar elevado nível em: OUVIR, REFLETIR E CONFRONTAR.

CONSELHEIRO: Aperfeiçoe-se em melhor desempenhar as funções de OUVIR,


REFLETIR E CONFRONTAR.
Capítulo

12
A MOTIVAÇÃO DO CONSELHEIRO

Por que você quer aconselhar? Um desejo sincero de auxiliar as pessoas a se desenvolverem
é uma razão válida para tornar-se um conselheiro, mas existem as motivações errôneas que
impedem a eficácia do aconselhamento:

1. Curiosidade ou necessidade de informação – Ao descrever seus problemas, os aconselha-


dos, no geral, oferecem certas informações que não contariam a mais ninguém de outra forma.
Quando o conselheiro é “curioso”, ele ou ela algumas vezes esquece o aconselhado, pressiona-o
para obter mais detalhes e com frequência não consegue manter segredo. Por essa razão, as
pessoas preferem evitar os “ajudadores curiosos”.

2. Necessidade de manter relacionamentos – Se você procura oportunidades para prolongar


o período de aconselhamento, para se aproximar mais do aconselhado ou reunir-se com ele so-
cialmente, a relação pode estar satisfazendo suas necessidades de companhia. Isto nem sempre
é negativo, mas os amigos também nem sempre são os melhores conselheiros.

3. Necessidade de poder – O conselheiro autoritário gosta de “endireitar” os outros, dar


conselhos (mesmo quando não solicitado), e desempenhar o papel de “solucionador de proble-
mas”. A maioria das pessoas, no entanto, irá eventualmente fazer resistência a um conselheiro
autoritário, e este não será um verdadeiro ajudador.

4. Necessidade de socorrer – O conselheiro deste tipo tira a responsabilidade do aconselhado


ao demonstrar uma atitude que diz claramente: “Você não é capaz de resolver isso, deixe tudo
60     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

comigo”. É provável que todo conselheiro perspicaz experimente por vezes tais tendências, mas
não dever ceder às mesmas.

O aconselhamento, especialmente o pastoral, torna-se às vezes ineficaz por falta de uma


ideia clara do seu papel e responsabilidade. Vejamos algumas confusões de papéis:

1. Visita em lugar de aconselhamento – A visita é uma troca mútua e amigável de informa-


ções, e o aconselhamento é uma conversa centralizada num problema e necessidade de uma
pessoa, o aconselhado. Ao visitar alguém nem sempre é possível fazer um aconselhamento
eficaz.

2. Pressa em lugar de deliberação – Grande parte do sucesso de qualquer conselheiro está


baseada em sua atenção tranquila e refletida, concentrada nas palavras do aconselhado. Uma
entrevista descontraída e deliberada também faz com que o aconselhado sinta que está rece-
bendo toda a atenção do conselheiro. Quando este se mostra apressado e impaciente, tende a
formular julgamentos baseados em impressões precipitadas. A deliberação não pode ser exerci-
da se a pessoa estiver com pressa em acabar com o problema imediatamente.

3. Desrespeito em lugar de simpatia – Alguns conselheiros classificam rapidamente as pes-


soas (Ex: fleumático, cristão carnal, rebelde, etc.) e depois despedem os indivíduos com um
confronto rápido ou um conselho rígido. Ninguém quer ser tratado com tanto desrespeito e o
ajudador que não ouve com simpatia provavelmente não dará conselhos eficazes.

4. Condenação em lugar de imparcialidade – Há ocasiões em que os aconselhados precisam


enfrentar seu pecado ou mau comportamento, mas isto não é o mesmo que condená-lo no
aconselhamento. Quando os aconselhados se sentem atacados, ou eles se defendem, ou aceitam
as palavras do conselheiro temporariamente e sob protesto. Nenhum desses tipos de reação
contribui para o amadurecimento do aconselhado e todos são respostas a uma técnica de acon-
selhamento que geralmente reflete a ansiedade, incerteza e necessidade do próprio conselheiro.

5. Sobrecarregar a sessão em lugar de moderar o aconselhamento – Se existem várias faces


do aconselhado que precisam ser tratadas, então o melhor é dividir as sessões em blocos. Ex.:
1º dia – sexualidade; 2º dia – finanças; etc.

6. Ser diretivo em vez de interpretativo – Em vez de apenas dar ordens, ajude seu aconselha-
do a interpretar o problema, enxergar suas causas e interagir com a finalidade de solucioná-lo.
A finalidade de ser interpretativo e não diretivo é que o conselheiro poderá ensinar o aconse-
lhado como amadurecer espiritualmente e emocionalmente até o ponto em que possa tomar
decisões sozinho.

7. Envolver-se emocionalmente em vez de permanecer objetivo – As pessoas compassivas


não conseguem, com frequência, evitar o envolvimento emocional, mas o conselheiro cristão
pode evitar esta tendência considerando o aconselhamento como uma relação de ajuda pro-
fissional, claramente limitada em seus termos, tais como duração das entrevistas, numero de
sessões, resistência ao toque, etc. Isto não tem como propósito isolar o conselheiro, mas ajudá-
lo a manter-se suficientemente objetivo para prestar auxílio.
A   M O T I V A Ç Ã O   D O   C O N S E L H E I R O      61

8. Atitude de defesa em lugar de empatia – A maioria dos conselheiros sente-se, às vezes,


ameaçada durante o aconselhamento, Quando somos criticados, nos sentimos incapazes de
ajudar, sentimos culpa, ansiedade, ou estamos em perigo, nossa capacidade de ouvir com em-
patia é prejudicada. Quando a empatia não está presente, também desaparece nossa eficácia no
aconselhamento. Por isso é importante que o conselheiro “se resolva” em algumas áreas para
não sentir-se pressionado por alguma situação/problema da vida do aconselhado. No entanto,
vale lembrar que a Palavra de Deus sempre será o árbitro para tudo.
Capítulo

13
NÍVEIS E FASES DE ACONSELHAMENTO

O aconselhamento não deve ser evitado. Todos serão chamados, uma vez ou outra, para
ajudar o próximo, mesmo que seja simplesmente um pai aconselhando sua criança.

13.1 NÍVEIS DE ACONSELHAMENTO


Há diferentes níveis de aconselhamento, em alguns todos os crentes encontram-se engaja-
dos, outros requerem um treinamento especializado.

a) Encorajamento (conforto)

...graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor


Jesus Cristo. Sempre dou graças a meu Deus a vosso respeito, a propósi-
to da sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus... (1 Co 1.3-4)

O encorajamento (ou afirmação) é algo que todos os cristãos podem ou devem estar en-
volvidos. Neste sentido, todo crente é um conselheiro. Agindo assim, ele é um bom ouvinte
e encorajador. Quando encorajamos e confortamos uma pessoa, estamos fazendo o que Deus
faz, pois Ele é o grande encorajador. Para fazer esse tipo de trabalho é necessário romper com
a apatia e as cadeias culturais.
64     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

b) Edificação (construção, fortalecimento, instrução)

Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edifi-


cação. (Rm 15.2)

...por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de ma-


neira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho di-
vulgado o evangelho de Cristo... (Rm 15.19)

Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como


também estais fazendo. (1 Ts 5.11)

A edificação vai um pouco além do encorajamento e conforto, mas também é algo em que
todos os cristãos podem se envolver. O elemento instrução aparece aqui.

c) Exortação (apelo fervoroso, ensino, desafio)


A exortação vai ainda além e inclui a habilidade de admoestar e desafiar com senso de
urgência. Isto requer um nível mais alto de habilidade e aqueles que são capazes de fazê-lo
efetivamente são menos limitados.

d) Esclarecimento
Envolve um aconselhamento exaustivo para problemas mais sérios, e requer treinamento especializado.

e) Terapia extensiva
Este nível é comumente chamado de terapia, como se fosse distinto do aconselhamento. A
terapia vai mais fundo em questões e problemas envolvendo trabalhos extensivos com famílias,
traumas da infância, raízes de vergonha, raiva, ressentimento, rejeição profunda, abuso, vícios
e outros. Esta requer ainda mais treinamento especializado.

13.2 AS FASES DO ACONSELHAMENTO


O aconselhamento apropriadamente estruturado envolve duas fases, de uma maneira simi-
lar à utilizada no tratamento médico profissional.

a) Fase do diagnóstico
O diagnóstico, ou avaliação, inclui o estabelecimento de um bom relacionamento com o
aconselhado, boas estratégias para ouvir, aceitação sem julgamentos e amor incondicional,
permitindo uma autoexploração.
N Í V E I S   E   F A S E S   D E   A C O N S E L H A M E N T O      65

O conselheiro então busca chegar a um diagnóstico do problema, realizando uma avaliação


acurada do problema do aconselhando. Esta avaliação é feita além do discernimento espiritual,
com questionamentos, resumos, provas, autorrevelação, acesso ao compromisso espiritual do
aconselhando e talvez alguns testes.

b) Fase da resolução
A resolução, ou tratamento, inclui facilitação de mudanças nas atitudes e comportamentos
por meio da aplicação do poder sobrenatural de Deus, estabelecimento de alvos, ensino, um
maior conhecimento de si e desafios. O conselheiro tem muitas ferramentas à sua disposição
para ajudá-lo nisso.

c) Avaliação espiritual
Como parte importante do diagnóstico (avaliação), esta fase do aconselhamento serve para
avaliar o aconselhando no que se refere ao seu comprometimento espiritual, e como isso vai
determinar o alcance do aconselhamento. As pessoas devem ser aceitas com base no seu nível
de comprometimento espiritual. Não podem ser cobradas além disso.
Perguntas típicas que podem ser feitas para o aconselhando:
– Como você descreveria sua ligação com Deus?
– Como você descreveria seu relacionamento com Jesus Cristo?
– Você vai sempre à igreja?
– Você é comprometido com as atividades da igreja?

– Você tem um tempo de devocional?

O Crente nominal ou descomprometido


O crente nominal ou descomprometido se apresentará com um background bem diferente
do cristão. Alguns virão de famílias legalistas e autoritárias, outros de famílias mais liberais;
alguns terão sido magoados pela igreja, outros ainda podem ter mergulhado no materialismo;
e outros podem ter apenas se rebelado ou distanciado da igreja.

É necessário ter cuidado ao usar as Escrituras e a oração com esse tipo de pessoa. Como
a sensibilidade ao Espírito Santo é necessária para se falar das verdades do cristianismo, esse
tipo de ação deve ser realizada se houver abertura e desejo claros por parte do aconselhando. A
pregação deve ser evitada.

O não-cristão
Não há razão para que o aconselhamento com não-cristãos não seja tão efetivo quanto
aquele que é realizado com os crentes. Na verdade, o conselheiro deveria partir para essa área,
66     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

uma vez que ele tem maior entendimento da natureza humana e das leis de Deus que afetam
o homem.

Primeiramente, é importante não estigmatizar uma pessoa como sendo não-cristã, a não
ser que ela o diga. Não somos Deus e não podemos saber aquilo que se passa no interior dos
aconselhandos. Pode haver um reconhecimento do Senhor Jesus na vida da pessoa, mesmo que
sua vida indique o contrário. As pessoas que se declaram não-cristãs frequentemente vêm de
uma base cristã e não são inteiramente ignorantes dos princípios bíblicos (como o perdão). Isso
pode ser utilizado como uma vantagem.

No aconselhamento com não-cristãos é necessário cuidado sobre onde a pessoa se encontra


e evitar jargões evangélicos. A sensibilidade ao Espírito Santo deve ser trabalhada para se in-
troduzir conceitos do Evangelho de Jesus (o melhor é por meio do testemunho pessoal), que
somente deve ser feito se houver uma abertura clara para tal, se o aconselhando o desejar. A
pregação deve ser evitada.

Essas pessoas, normalmente, são afetadas pela maneira e abordagem do conselheiro (o


fruto do Espírito, amor incondicional, aceitação sem julgamentos e afins) bem mais que por
meras palavras.
Capítulo

14
ÉTICA E EXCELÊNCIA NO ACONSELHAMENTO

No geral, nós cristãos devemos cumprir esses códigos éticos mas, desde que consideramos
a Bíblia como a Palavra de Deus, as Escrituras se tornam o padrão final ao tomarmos todas as
nossas decisões morais.

O conselheiro cristão respeita cada indivíduo como uma pessoa de valor, criada por Deus à
imagem divina, manchada pela queda da humanidade no pecado, mas amada por Deus e ob-
jeto da redenção divina. Então, como servo (a) de Deus, o conselheiro tem a responsabilidade
de viver, agir e aconselhar de acordo com os princípios bíblicos.

Quando não existem conflitos entre a ética humana e a Bíblia, o trabalho do conselheiro
pode prosseguir tranquilamente. Os problemas éticos surgem quando há conflito de valores
e decisões devem ser tomadas. Muitas, embora não todas, dessas decisões envolvem questões
confidencias. Consideremos os seguintes pressupostos:

1) Um aconselhado confessa ter matado alguém ou que pretende atentar contra a vida de
alguém. Você conta à polícia ou à vítima em potencial?

2) A filha de um líder da igreja revela estar grávida e que pretende abortar. O que você faria?

3) Um jovem vem pedir-lhe ajuda a fim de obter maior autoconfiança com as mulheres
de modo a poder encorajar suas “amiguinhas” a manterem relação sexual com ele. Qual a sua
responsabilidade como conselheiro, tendo em vista que considera errado o sexo pré-conjugal?
68     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

4) Um aluno formado no Seminário está buscando empregar-se como pastor, porém revela
no aconselhamento que é um homossexual praticante. Como membro da igreja, você revela
isso ou não faz nada ao preencher um formulário de recomendação?

O conselheiro tem a obrigação ética de manter em segredo as informações confidencias, a


não ser quando haja risco para o bem-estar do aconselhado ou de outra pessoa. Em tais ocasi-
ões, o aconselhado dever ser orientado no sentido de transmitir a informação diretamente às
pessoas envolvidas (polícia, empregadores, pais, pastor, etc.) e, como regra geral, a informação
não deve ser divulgada pelo conselheiro sem conhecimento do aconselhado.

Em toda decisão moral, o conselheiro procura agir de modo a honrar a Deus, manter-se
conforme o ensino bíblico e respeitar o bem-estar do aconselhado e de outros. Quando de-
cisões diferentes precisam ser tomadas, os conselheiros têm a obrigação de discutir a situação
confidencialmente com um ou dois conselheiros cristãos e/ou especialistas, tais como: advoga-
do, médico, que não precisam saber a identidade do aconselhado, mas que podem auxiliar nas
decisões éticas. Tais decisões não são fáceis, mas o conselheiro cristão obtém o máximo de fatos
possíveis (inclusive dados bíblicos), confiando sinceramente em que Deus irá orientá-lo, e em
seguida toma a decisão mais sábia possível baseada na melhor evidência a seu dispor.
Capítulo

15
A SEXUALIDADE DO CONSELHEIRO

É preciso estarmos atentos ao aspecto da atração sexual entre conselheiro e aconselhado,


especialmente quando são do sexo oposto. Trata-se porém de um problema que quase todos os
conselheiros enfrentam, quer falem ou não sobre ele com outros. Certamente você já ouviu de
conselheiros, inclusive pastores, que transigiram com seus padrões “a favor de uma experiência
agradável” e descobriram que seus ministérios, reputação, eficácia de aconselhamento e talvez
seu casamento acabaram destruídos como um resultado disso – sem falar dos efeitos negativos
que isso pode ter no aconselhado.

Vejamos alguns cuidados com a sexualidade, que ajudarão você a ter prudência nesta área:

1. Proteção espiritual – Meditação sobre a Palavra de Deus, oração particular no momento


devocional diário. Além disso, deve-se vigiar a mente, alimentando-a do que é bom, amável,
puro, respeitável, justo e verdadeiro. (Fl 4.8)

2. Humildade e vigilância – Achar que o que aconteceu com os outros jamais acontecerá
conosco é atitude de soberba. A Bíblia nos adverte que o orgulho precede a queda e todo aquele
que pensa estar de pé deve cuidar para não cair. (Pv 16.18; 1Co 10.12)

3. Percepção dos sinais de perigo – Algumas pistas podem apontar para uma mudança
potencial do nível do aconselhamento para uma intimidade perigosa. Isto inclui:
! Comunicação com mensagens sutis mais íntimas (sorriso, sobrancelhas, toques, etc.);
! O desejo do conselheiro e aconselhado de manterem o relacionamento próximo;
70     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

! Ansiedade, por parte do aconselhado para divulgar detalhes de experiências ou


fantasias sexuais;
! Permissão do conselheiro para que o aconselhado o toque;
! Reconhecimento de que ambos precisam se ver com frequência;
! Frustrações crescentes na vida conjugal do conselheiro (espírito de inveja); e
! O prolongamento do tempo e frequência das entrevistas, algumas vezes suplementa-
das por chamadas telefônicas, e-mails, etc.

4. Estabelecimento de limites – Quando a atração sexual se faz presente e é reconhecida,


o conselheiro poderá interromper o aconselhamento, transferir o trabalho para outra pessoa,
ou até mesmo terminar o aconselhamento. Caso escolha este último, alguns cuidados devem
ser tomados: ambos não precisam se tocar; as roupas do aconselhando devem ser descentes e
passar pela aprovação do conselheiro; conversas telefônicas prolongadas devem ser evitadas,
assim como as discussões detalhadas sobre tópicos sexuais, etc.

5. Análise de atitudes – Não existe proveito algum em negar os seus instintos sexuais. Eles
são comuns, com frequência embaraçosos e, estimulantes, mas controláveis.

Lembre-se do seguinte:
! Das consequências sociais – Sua vida pessoal e seu casamento podem ser arruinados
e, é claro, sua eficácia no ministério;
! Da imagem profissional – Ninguém espera de você um(a) galanteador(a). As intimi-
dades sexuais jamais ajudam ou beneficiam um trabalho profissional;
! Responsabilidade pessoal (verdade bíblica) – O envolvimento sexual fora do casa-
mento é pecaminoso e deve ser evitado. Depois de pecar não adianta culpar Satanás ou
seu cônjuge, pois quando pecamos aceitamos a “sugestão” do diabo, mas damos lugar
à nossa própria concupiscência. (Tg 1.14-1)
Capítulo

16
COMO DEUS TRABALHA EM
RELAÇÃO À CURA E AO CRESCIMENTO

E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como cres-


cem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. (Mt 6.28)

Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto
aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem con-
formes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre
muitos irmãos. (Rm 8.28-29)

Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há
de completá-la até o Dia de Cristo Jesus. (Fp 1.6)

E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribula-
ções, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança,
experiência; e a experiência, esperança. (Rm 5.3-4)
72     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de


alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos
que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça. (Hb 12.11)

Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em


tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade,
porque ele tem cuidado de vós. (1 Pe 5.6-7)

Deus trabalha de diversas maneiras na vida das pessoas. Ele é soberano e age de acordo com
Sua vontade. Seus caminhos são frequentemente misteriosos e, algumas vezes, incompreensí-
veis. Seu grande objetivo é sempre conformar Seus filhos à imagem do Seu Filho.

Muitos cristãos crescem gradualmente sem que grandes crises sejam necessárias para produ-
zir tal crescimento, como a primeira passagem acima poderia indicar (Mt 6.28). Entretanto,
cremos que este não é o padrão mais comum de cura e crescimento. Deus normalmente usa
dor, sofrimento, enfermidades e outras crises para acompanhar Sua vontade em nossas vidas.
Nem toda dor e sofrimento significam maldade.

As pessoas se movem numa posição de autossuficiência e independência de Deus, o que


resulta em crises (enfermidades, relacionamentos desfeitos, falta de cônjuges, dívidas etc.), que
produzem dor e rendição a Deus num estado de quebrantamento. Deus pode fazer qualquer
coisa com alguém quebrantado. Isso resultará então em crescimento e cura. Entretanto, alguns
não se renderão apesar da dor. Ao contrário, se rebelarão e se distanciarão ainda mais de Deus.
Muitos tentarão fugir de Deus e alguns chegarão ao suicídio.

Vemos o padrão usual de cura e crescimento no esquema abaixo:


C O M O   D E U S   T R A B A L H A   E M   R E L A Ç Ã O   À   C U R A   E   A O   C R E S C I M E N T O      73

Outro problema que se levanta aqui é a disponibilidade de “resoluções rápidas” (medica-


mentos etc.), que tendem a minimizar o impacto da dor e, portanto diminuir os resultados.

Algumas pessoas se recusam a render-se e se rebelam da seguinte maneira:

Conselheiros devem respeitar os caminhos de Deus com as pessoas, e sensivelmente permitir


que sintam a sua dor e quebrantamento.

16.1 BLOQUEIOS PARA A CURA


Conselheiros cristãos frequentemente encontram casos em que a cura e o crescimento espi-
ritual cessam. Isso é principalmente resultado de um ou mais de sete bloqueios. Tudo o que o
conselheiro pode fazer é trabalhar esse problema no relacionamento com o Senhor. O conse-
lheiro não pode empurrar o aconselhando além daquilo que ele consegue ir.

a) Negação
A negação é um mecanismo de defesa inconsciente levantado pela pessoa para evitar a dor,
isto é, a negação da existência de um problema. O aconselhando está cego sobre seu problema.
Isto ocorre frequentemente, e é particularmente comum nos comportamentos de vício. É um
bloqueio real porque até que o aconselhando veja algo do problema, ele não buscará ajuda e o
conselheiro não poderá fazer coisa alguma. Se o aconselhando tiver disposição, o conselheiro
pode construir um relacionamento de confiança por meio de questionamentos e sugestões que
possam gradativamente quebrar a negação. As terapias de grupo são também de grande valia.
Encorajar o aconselhando a buscar o Senhor com a fervorosa oração do salmista, Sonda-me
ó Deus e conhece o meu coração; e vê se há em mim algum caminho mau (Sl 139.23-24),
certamente quebrará essa negação.

b) Ignorância
Uma pessoa pode não estar negando seu problema e ter consciência dele, mas não saber
onde buscar ajuda. Estes são desinformados, não instruídos ou simplesmente ignorantes sobre
74     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

o processo da cura. Eles têm um sentimento de inabilidade para encontrar mudança. Junto
com isso, pode haver um grande medo de mudanças. Há um sentimento de impotência.

O Senhor tem muitos meios de ajudar e instruir seus filhos no caminho certo para a cura.
Ele pode falar por meio de muitas fontes, como Sua Palavra e outros livros, o púlpito, outras
pessoas, seminários e um terapeuta.

Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas


vistas, te darei conselho. (Sl 32.8)

O conhecimento faz de nós responsáveis, e Deus espera que obedeçamos à verdade enquan-
to ela nos é revelada.

c) Medo
O medo de mudar é algo que realmente acomete algumas pessoas. Todos somos resistentes a
mudanças, e elas normalmente requerem uma crise para nos motivar a considerá-las seriamen-
te. Então, o desejo de mudar vence o medo de mudar. Deus frequentemente permite as crises
para que cheguemos nesse ponto.

O medo de sair da zona de conforto para o desconhecido detém muitos. Isso se aplica,
especialmente, ao medo das consequências, por exemplo, de ficar magoado, ou de magoar,
impopularidade e rejeição. Se há temor dos homens, a única resposta para isso é o temor do
Senhor. A palavra de Deus diz:

Quem teme ao homem arma ciladas, mas o que confia no SENHOR


está seguro. (Pv 29.25)

O medo paralisa. Vejamos o que aconteceu quando Jesus ressuscitou:

E os guardas tremeram espavoridos e ficaram como se estivessem mor-


tos. Mas o anjo, dirigindo-se às mulheres, disse: Não temais; porque sei
que buscais Jesus, que foi crucificado. (Mt 28.4-5)

Por toda a Bíblia, a palavra de Deus para nós é: Não temas! O medo não vem de Deus, mas
do inimigo das nossas almas. É uma consequência do pecado, que apareceu logo após a queda,
quando Adão e Eva ficaram com medo da voz de Deus e se esconderam.

Mudança e crescimento devem envolver a dor. Não pode haver ganho sem dor. O medo da
dor da mudança é outro problema que causa grande resistência às mudanças, pois ele leva as
pessoas a evitar problemas. Nós esperamos que eles vão embora com o tempo, os ignoramos
ou fingimos que não existem. Há ainda aqueles que começam a usar drogas como o álcool e
tranquilizantes, para se esconder deles. Esta esquiva do medo, como o renomado psiquiatra
C O M O   D E U S   T R A B A L H A   E M   R E L A Ç Ã O   À   C U R A   E   A O   C R E S C I M E N T O      75

Scott Peck comenta em seu livro O Caminho Menos Percorrido, é a maior causa de problemas
mentais e relacionamentos medíocres hoje em dia.

Estamos em construção, em constantes mudanças para nos conformar a Jesus, e isso é o que
Deus deseja para nós. Também precisamos mudar para ter um melhor entendimento de nós
mesmos, melhorar nossa habilidade de ser mais íntimos e ter relacionamentos mais saudáveis.
Sim, todos precisamos desesperadamente de mudar e de permanecer mudando.

A Palavra de Deus nos diz:

Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de
amor e de moderação. (2 Tm 1.7)

No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo.
Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiço-
ado no amor. (1 Jo 4.18)

Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez,


atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual
clamamos: Aba, Pai. (Rm 8.15)

Qualquer movimento em direção à cura e à restauração deve envolver um passo de fé. Outra
palavra para fé é risco. As pessoas dizem: Tome cuidado! Eu prefiro dizer: Corra o risco!

Abraão, o pai da fé, correu um risco quando andou pela obediência, não sabendo aonde
estava indo (Gn 12, Hb 1.8). Deus se alegrou muito por Abraão ter feito isso; Ele se alegrará
conosco também se decidirmos dar o passo da fé em obediência a Ele, com relação ao nosso
crescimento e restauração.

Os conselheiros devem ajudar os aconselhandos a dar esses passos de fé.

d) Incredulidade
Este ponto envolve a incredulidade em relação a Deus, Sua Palavra e promessas.

Isto foi o que Jesus mais repreendeu em Seus discípulos. Antes da ascensão, depois de terem
testemunhado os notáveis eventos da cruz e da ressurreição, Jesus censurou-lhes a incredulidade e
dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado (Mc 16.14).

Isto foi também o que deixou os milhares de hebreus, exceto dois, fora da terra prometida.

Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós


perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo
contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se
76     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano
do pecado. Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de
fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio,
tivemos. Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o
vosso coração, como foi na provocação. Ora, quais os que, tendo ouvi-
do, se rebelaram? Não foram, de fato, todos os que saíram do Egito por
intermédio de Moisés? E contra quem se indignou por quarenta anos?
Não foi contra os que pecaram, cujos cadáveres caíram no deserto? E
contra quem jurou que não entrariam no seu descanso, senão contra
os que foram desobedientes? Vemos, pois, que não puderam entrar por
causa da incredulidade. (Hb 3.12-19)

A preocupação é uma manifestação de incredulidade. Preocupação é se afligir com algo que


não se pode controlar. O Senhor quer nos libertar da preocupação e ansiedade. Ansiedade é,
senão o principal, um dos principais problemas emocionais do mundo de hoje. E cresce, assim
como a pressão da vida moderna.

O Salmista diz: Descansa no Senhor (Sl 37); e Jesus diz: Não se turbe (Mt 6.25-34). Paulo
disse aos filipenses:

Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conheci-


das, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com
ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento,
guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus. (Fp 4.6-7)

Se a Palavra de Deus diz essas coisas, elas são possíveis. Contudo, muitos crentes vivem num
permanente estado de preocupação. Todos temos problemas com a incredulidade. E aqueles
que tiveram a sua confiança básica danificada na infância por causa de abusos têm maiores
problemas para confiar em Deus e nos outros.

Os conselheiros encontrarão várias formas de ansiedade (generalizada, fobia, desordem de


pânico, desordem obsessiva/compulsiva). Como esses problemas são bastante complexos, a
incredulidade não é a grande vilã. A incredulidade é um pecado profundamente implícito e
deve ser constantemente renunciada.

e) Apatia

O Senhor recompensa e é comprometido com aqueles que o buscam diligentemente com


todo o coração e que se esforçam confiadamente para entrar na bênção. Ele não se agrada da-
queles que são apáticos, preguiçosos e passivos. Por isso, não deve haver espaço para a apatia na
caminhada cristã. Se o cristianismo é válido e certo, só há um caminho para andar e é a total
rendição e o comprometimento com o Senhor Jesus Cristo.
C O M O   D E U S   T R A B A L H A   E M   R E L A Ç Ã O   À   C U R A   E   A O   C R E S C I M E N T O      77

Na Europa, a palavra passividade é frequentemente usada no lugar de apatia. Já na Austrália,


a apatia é uma fraqueza cultural. Os discursos normalmente são: Não se preocupe, amigo, ela
vai melhorar!

Alguns anos atrás, quando estava numa conferência internacional no meio da Amazônia,
fiz um passeio pela floresta. Enquanto caminhava, passei por uma preguiça, animal um pouco
parecido com um macaco sem rabo, que se move muito lentamente, tão lentamente que é
possível ter lodo crescendo em seu pelo!

A palavra preguiça aparece frequentemente na Palavra de Deus e é usada para descrever


aqueles que são preguiçosos e passivos. A preguiça é também um dos Sete Pecados Mortais. Na
verdade, na lista original desses pecados, ela era colocada em primeiro lugar e considerada o
mais sério deles. Alguns ainda a consideram assim.

A Palavra de Deus diz:

O caminho do preguiçoso é como que cercado de espinhos, mas a vere-


da dos retos é plana. Pv 15.19

Isso certamente indica uma barreira para receber estímulos e produzir mudanças.

Em O Peregrino, de John Bunyan, Cristão, em sua jornada para a cidade celestial, escalou
uma montanha chamada Dificuldade e, depois da metade do caminho, descansou num lugar
chamado Pavilhão. Contudo, ele descansou por muito tempo, caiu no sono e parou sua jorna-
da até a noite. Enquanto estava dormindo, outra pessoa veio até ele e o acordou dizendo: Vai
ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio (Pv 6.6). Enquanto es-
tava dormindo, Cristão perdeu seu propósito (ir à cidade celestial) e, depois de viajar por mais
algum tempo, teve que voltar ao Pavilhão para se encontrar. A preguiça o impediu de progredir
e lhe causou enorme arrependimento e agonia de alma.

Jesus nos ensina que são bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
fartos (Mt 5.6). Isso quer dizer a fome e a sede pela verdade é o que irá nos libertar.

O Senhor quer nos abençoar e nos libertar de todo cativeiro, mas a restauração é impossível
se permanecermos apáticos. A Palavra fala claramente a respeito disso:

Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o SENHOR;


pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Então,
me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis e
me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. (Jr 29.11-13)

f ) Desobediência

Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em


holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis
78     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que


a gordura de carneiros. (1 Sm 15.22)

A desobediência a uma verdade já revelada é um bloqueio sério para a cura, mas é comum.
Pode ser bem associada com outros bloqueios, como o medo e a apatia. Ao completar este
curso, você terá sido exposto a muitas verdades, o que o torna responsável por aplicá-las na sua
vida. Jesus disse:

Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes. (Jo 13.17)

Isso significa que não haverá bênção se você não praticar as verdades que conhece. Progressos
além disso serão impossíveis.

Os problemas sempre perseguem os cristãos, mesmo quando eles já leram tudo sobre o as-
sunto, tiveram aconselhamento e oraram muito a respeito! Isso é resultado de desobediência a
algo que receberam do Senhor. O Senhor não pode prosseguir com Seu processo de restauração
em nossa vida enquanto não nos submetermos em obediência a Ele.

Muitos fazem toda a oração por cura que conseguem porque isso os faz sentir-se bem, mas
apenas pequenas mudanças acontecem, pois não estão preparados para, de fato, se esforçar e
trabalhar na sua restauração. Isso se aplica, particularmente, na mudança de falsas crenças.

Se uma pessoa não é obediente às palavras que já recebeu, novas revelações não acontecerão
(2 Rs 6.5-7). A submissão ao Espírito Santo e à graça de Deus deve ser trabalhada na vida dos
aconselhandos. Deve haver uma volta à revelação primária da Palavra e submissão a essa reve-
lação. Deus, em Sua graça, o ajudará.

Muitos aconselhandos querem aliviar-se de sua dor, mas não estão preparados para andar em
obediência e fé, o que os leva a perpetuar seus problemas. Somente o amor pelo Senhor pode
produzir obediência (Jo 14.15; Lc 7.36-50), e nós, como conselheiros, não podemos produzir
esse sentimento na vida dos aconselhandos.

Orgulho e incredulidade são dois pecados básicos que produzem a desobediência e impe-
dem os aconselhandos de entrar na liberdade.

A recusa em confessar pecados conhecidos é outra situação comum de desobediência, que é


um bloqueio ainda maior.

Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido.


(Sl 66.18)

O envolvimento com práticas ocultas que não foram renunciadas, ou o ato de manter objetos
ocultos em casa, também podem servir de bloqueio para o agir do Senhor, e atraem a Sua ira.

Não meterás, pois, coisa abominável em tua casa, para que não sejas
amaldiçoado, semelhante a ela; de todo, a detestarás e, de todo, a abo-
minarás, pois é amaldiçoada. (Dt 7.26)
C O M O   D E U S   T R A B A L H A   E M   R E L A Ç Ã O   À   C U R A   E   A O   C R E S C I M E N T O      79

g) Mágoa
A indisposição de perdoar aqueles que causaram mágoas associada ao ressentimento e à
amargura é um problema comum. Na verdade, é um dos problemas mais frequentes que o
conselheiro encontrará na vida dos seus aconselhandos.

O perdão tem um lugar especial na Oração do Senhor. Jesus disse, logo após ensinar seus
discípulos sobre como orar, que “se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tam-
pouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mt 6.15). Essa é uma linguagem forte. O que
significa? Cremos que quer dizer que haverá um impedimento para qualquer cura ou cresci-
mento espiritual. Muitos dizem que perdoaram, mas na verdade o que aconteceu foi somente
algo na mente. Jesus nos diz que o perdão deve ser de coração (Mt 18.35).

16.2 AS TRÊS IMUTÁVEIS LEIS DIVINAS DA MORALIDADE E O PROCESSO


DE TRANSFORMAÇÃO

A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do


SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. (Sl 19.7)

As leis de Deus a respeito da moralidade são imutáveis, absolutamente inflexíveis e se apli-


cam a todos, sejam cristãos ou não. Elas são como as leis naturais, por exemplo, a lei da gra-
vidade. São imutáveis e perfeitas. Os Dez Mandamentos e o Sermão do Monte dão as chaves
básicas, que quando violadas geram somente destruição e morte.

Três leis morais de Deus são particularmente relevantes para o aconselhamento e devem ser
mantidas na mente.

a) A Lei do Plantio e da Colheita

Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem
semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria
carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do
Espírito colherá vida eterna. (Gl 6.7-8)

Esta é a lei básica de causa e efeito. Se violarmos as leis de Deus, teremos que viver com as
consequências. O perdão de Deus é pleno e completo, e ele redime e restaura após a confissão,
mas as consequências do pecado permanecem. Entretanto, isso serve para nos ajudar a apren-
der com nossos erros e não repeti-los. Com intercessão e humildade, as consequências podem
ser reduzidas.

Os conselheiros precisam ser cuidadosos em não interferir no que Deus pode estar fazendo
na vida dos aconselhandos, ao tentar minimizar as consequências. A maravilha do proces-
80     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

so redentivo de Deus é que mesmo as falhas podem se tornar algo bom para aqueles que hu-
mildemente aprenderem.

Restituir-vos-ei os anos que foram consumidos pelo gafanhoto migra-


dor, pelo destruidor e pelo cortador, o meu grande exército que enviei
contra vós outros. Comereis abundantemente, e vos fartareis, e louva-
reis o nome do SENHOR, vosso Deus, que se houve maravilhosamente
convosco; e o meu povo jamais será envergonhado. Sabereis que estou
no meio de Israel e que eu sou o SENHOR, vosso Deus, e não há outro;
e o meu povo jamais será envergonhado. (Jl 2.25-27)

b) A Lei do Julgamento

Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que
julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido,
vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão,
porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a
teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave
no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás cla-
ramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão. (Mt 7.1-5)

Nós sofreremos em nossas vidas nas mesmas áreas em que julgamos os outros. Isto é visto
particularmente na vida das pessoas que, quando crianças, dizem que não serão como seus pais
quando crescerem. Esta é uma receita certa para cair no mesmo erro, ou ainda em erros piores.
Neste caso, um julgamento é feito com amargura e é associado com um voto. Esses votos podem
ser vistos como algo bom, mas na verdade são da carne. Jesus proíbe os votos (juramentos):

Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cum-
prirás rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos. Eu, po-
rém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de
Deus... (Mt 5.33-34)

Ademais, a raiz de amargura que causou o julgamento irá se espalhar e contaminar muitos.

...atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se


da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos
perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados... (Hb 12.15)

c) O quinto mandamento

Honra a teu pai e a tua mãe, como o SENHOR, teu Deus, te ordenou,
para que se prolonguem os teus dias e para que te vá bem na terra que o
SENHOR, teu Deus, te dá. Dt 5.16
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Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com pro-
messa, para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra. Ef 6.2-3

O quinto mandamento é o único com promessa. O corolário disso é, simplesmente, que se


não honrarmos nossos pais teremos uma vida difícil. Esta pode muito bem ser a raiz principal
de muitos problemas emocionais, morais, matrimoniais e de relacionamento.

16.3 OS DOIS VS E OS TRÊS RS


a) Os dois Vs
Todos somos vítimas e também vitimamos outros. Todos fomos vítimas de algum tipo
de injustiça, assim como vitimamos (magoamos) outros. Ambos os problemas precisam ser
abordados no aconselhamento. É como os dois lados de uma moeda, mas muitos apenas con-
seguem ver que foram machucados e falham em enxergar toda a destruição que deixaram atrás
de si, por onde quer que tenham ido. Conselheiros devem ajudar nessa mentalidade de vítima
dos aconselhandos e levá-los a ver a realidade, não ver somente suas mágoas, mas acertar as
coisas com aqueles a quem magoaram.

O aconselhamento será defeituoso, a não ser que sejam tratados tanto o mal sofrido quanto
o causado a outros.

b) Os três Rs
Os três Rs da restauração que devem ser abordados no aconselhamento são:

– Realidade vista: os conselheiros têm a responsabilidade de ajudar seus aconselhandos a


verem a realidade;

– Responsabilidade: tomada pela restauração, pelas escolhas erradas e pelo comportamento;

– Respeito: por si e pelos outros no processo de restauração.

16.4 OS PROBLEMAS NÃO ACABAM FACILMENTE


Os problemas não vêm e vão simplesmente. O tempo não os cura. Os problemas devem ser
enfrentados se quisermos realmente crescer e ser curados. Devemos saber que, mesmo sendo
novas criaturas em Cristo (2 Co 5.17), ainda somos muito afetados pelo nosso passado, espe-
cialmente por nossa família.

A repressão à dor de traumas do passado, raiva, ressentimento e culpa pode funcionar por
um tempo, mas vai se manifestar cedo ou tarde como ansiedade, depressão, vício, relaciona-
mentos desfeitos ou doenças psicossomáticas.
Capítulo

17
O PODER SOBRENATURAL DE DEUS

O aconselhamento cristão é, de longe, superior a qualquer um que seja secular, pois tem acesso
ao poder sobrenatural de Deus. Somente Ele pode trazer completa cura, restauração e mudança.

Sob esse olhar, o conselheiro cristão e o aconselhando têm à sua disposição:

– O fato de que Deus é por nós e não contra nós (Rm 8.28, 31)

– Revelação divina

– O Sangue e a Cruz

– O fruto do Espírito Santo

– Os dons do Espírito Santo

– A liderança do Espírito Santo

– A verdade, que nos liberta (Jo 8.32, 36)

– Fé, esperança e amor

– Renovação da mente (Rm 12.2)

– Oração
84     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

– Cura sobrenatural imediata

– Perdão

– Identidade cristã

– Guerra espiritual

– Quebra de cadeias

– Expulsão de demônios

– Meditação na Palavra de Deus

– Visão da glória de Deus (2 Co 3.18)

– A comunidade cristã (amor, aceitação, perdão, adoração, comunhão, ensino, grupos, compar-
tilhamento, estudo da Bíblia, dons espirituais, a ceia do Senhor, batismo, oração, serviço a outros).

O conselheiro cristão carrega consigo uma bolsa com ferramentas de aconselhamento, como
a bolsa de Davi com as cinco pedras lisas (1 Sm 17.40). Essas ferramentas são as mencionadas
acima e outras.
Capítulo

18
FERRAMENTAS DE ACONSELHAMENTO

Uma das mais valiosas ferramentas do conselheiro cristão é a sua habilidade de mudar falsas
crenças na vida dos seus aconselhandos (pensamento irracional, mentiras do inimigo) e aliar
seus sistemas de crenças à realidade e às verdades bíblicas. Isso simplesmente é o conceito de
renovação da mente (Rm 12.2). Renovar a mente é o trabalho do Espírito Santo, mas o uso de
outras habilidades também pode ajudar.

18.1 UM PLANO DE ACONSELHAMENTO


É ser natural seguir um plano e um modelo de aconselhamento. Na verdade, o aconse-
lhamento será inadequado se não estiver sendo levado em conta um plano. Não é bom o
suficiente que o conselheiro diga simplesmente que está sendo guiado pelo Espírito Santo.
Um plano é recomendado, mas deve ser flexível o bastante para permitir que haja a liderança
do Espírito Santo.

Todo conselheiro deve saber o que está fazendo e para onde está indo. Evite ser um con-
selheiro “Cristóvão Colombo”. O pobre Cristóvão saiu à deriva sem saber aonde estava indo;
quando chegou, não sabia onde estava; e quando retornou, não sabia onde havia estado.

Um plano de aconselhamento deve conter:


86     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

Esses passos serão examinados mais detalhadamente abaixo:

a) Desejos
Os desejos do aconselhando devem ser esclarecidos. O conselheiro pode ajudar com deci-
sões racionais, então o aconselhando poderá tomar decisões sábias e se mover das possibilidades
para as escolhas.

No processo de esclarecimento dos desejos e expectativas, estas perguntas podem ser feitas
e respondidas:

— Quais são as vantagens e desvantagens disso para mim?

— Quais são as vantagens e desvantagens disso para as pessoas que são significantes para mim?

b) Alvos
Uma vez que os desejos foram esclarecidos, então alvos específicos, possíveis, alcançáveis, ou
objetivos, precisam ser identificados e adotados pelo aconselhando.

c) Estratégias
Realizar brainstorms para poder visualizar muitas opções é algo necessário para formar as es-
tratégias e o passo-a-passo, para ajudar o aconselhando a alcançar seus objetivos. O conselheiro
pode ajudar determinando quais são as melhores estratégias.
F E R R A M E N T A S   D E   A C O N S E L H A M E N T O      87

Os riscos devem ser considerados. O aconselhando pode viver com as mudanças? E as pes-
soas à sua volta? A paciência é necessária aqui, bem mais que soluções imediatas.

d) Compromisso

As estratégias devem ser convertidas num plano definitivo, o que requer compromisso por
parte do aconselhando. Meras palavras não são suficientes, mas motivação e ação para estar
com os alvos até o final. Muitos são fracos nesta área. O conselheiro tem uma responsabilidade
maior para estimular o aconselhando rumo ao compromisso e ação.

e) Ação

Depois de ter um alvo determinado, uma estratégia e um compromisso para alcançá-lo, o


próximo passo é a ação. O método e o tempo são importantes aqui. O conselheiro ajuda o
aconselhando a agir em função do alvo e nas habilidades necessárias para alcançá-lo. Grupos de
autoajuda podem ser um grande auxílio em alguns casos, como os vícios.

f ) Avaliação

Depois que a ação for tomada, todo o processo precisa ser cuidadosamente avaliado.
Funcionou? Se não, outra estratégia pode ser necessária.

O uso de um registro é recomendado neste processo, para gravar os detalhes de cada passo.

18.2 REVELAÇÃO E OBEDIÊNCIA

Eu amo os que me amam; os que me procuram me acham. (Pv 8.17)

...invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.


(Sl 50.15)

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. (Mt 7.7)

Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso co-


ração. (Jr 29.13)

Invoca-me, e te responderei; anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que


não sabes. (Jr 33.3)
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Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão far-


tos. (Mt 5.6)

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os


meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me
pelo caminho eterno. (Sl 139.23-24)

...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem
jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para
aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o
Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.
(1 Co 2.9-10)

Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em


holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis
que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que
a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria,
e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejei-
taste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não
sejas rei. (1 Sm 15.22-23)

Se me amais, guardareis os meus mandamentos. (Jo 14.15)

Receber revelação divina (percepção) é um sinal primário para a mudança do cristão. A


mudança é dependente da verdade divina e da revelação contida no coração do aconselhando
(Mt 16.17). A revelação torna o conhecimento da mente em experiência no coração; é propor-
cionada pelo Espírito Santo e vem como resultado de um desejo.

Enquanto o aconselhando vai à presença de Deus em fé e expectativa pedindo por uma visão
e ajuda, e para que Deus fale com ele, o Senhor é fiel e mostrará (revelará) aquilo que ele (o
aconselhando) é capaz de fazer para alcançar um nível mais profundo de cura.

A questão então será a obediência à revelação. A revelação não tem importância sem obedi-
ência (Rm 1.5; 16.26). A desobediência à revelação da verdade divina é uma grande causa da
falta de cura e crescimento.

18.3 AQUIETE-SE E SAIBA QUE EU SOU DEUS


Na fase da resolução, nós, os conselheiros, podemos procurar uns aos outros, se nos encon-
trarmos em agonia por pensar que nada aconteceu. Tendemos a nos responsabilizar e nos sentir
culpados quando as mudanças não acontecem. Depois de termos feito o melhor que podíamos,
F E R R A M E N T A S   D E   A C O N S E L H A M E N T O      89

em obediência ao Senhor, devemos deixar os resultados com Ele, pois são Sua responsabilidade.
Nossa responsabilidade é obedecê-lo em nosso ministério.

Quando perguntaram a Madre Teresa por que despendia tanto tempo, energia e compaixão
pelas pessoas mais pobres de Calcutá, enquanto sabia que muitos morreriam de qualquer manei-
ra, ela respondeu que Deus não a chamou para ter sucesso, mas para ser obediente. Os atos de
compaixão eram ministrados no amor de Cristo com fé que Deus poderia prover os resultados.

As palavras Aquiete-se e saiba que Eu Sou Deus (Sl 46.10) querem dizer que não devemos
tomar a responsabilidade final pelos resultados. Isso é uma questão do Senhor. Se nos tor-
narmos demasiadamente preocupados com os resultados, eles podem virar idolatria no nosso
ministério.

Não podemos forçar a obra de Deus na vida de outras pessoas. Podemos guiá-las, mas os
resultados estão associados ao relacionamento dessas pessoas com o Senhor, tem a ver com o
quanto elas são íntimas de Deus (Gl 2.20) e o quanto elas o buscam para auxílio e conforto
(Mt 11.28).

...logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver
que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou
e a si mesmo se entregou por mim. (Gl 2.20)

Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos ali-


viarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso
e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. (Mt 11.28.19)

Recomendações para iniciantes no aconselhamento


As recomendações a seguir são para aqueles que estão iniciando no aconselhamento
para cristãos:

– Encontre um aconselhando apropriado (alguém cujos problemas não sejam tão profundos
e que você não conheça);

– Encontre um supervisor apropriado;

– Aconselhe somente cristãos neste momento;

– Aconselhe uma pessoa do mesmo sexo;

– Inicie e encerre com oração;

– Não hesite em recomendar o aconselhando a outra pessoa se seus problemas forem muito
complicados;

– Mantenha este material com você o máximo possível;


90     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

– Observe os comentários sobre as qualidades essenciais do conselheiro, sobre excelência e ética;

– Entenda e aplique o modelo geral de aconselhamento;

– Evite intervenções periféricas não ensinadas neste material;

– Vista-se apropriadamente;

– Lide com o aconselhamento seriamente;

– Tente alcançar algo tangível a cada encontro;

– Mantenha breves registros confidenciais.


VERSÍCULOS PARA ACONSELHAMENTO

Abatimento Sl 42.5; Pv 15.13; 17.22; 18.14; Is 57.15; Is 66.2; 2Co 4.8-9; 4.16-
18; Hb 12.3
Aborto Sl 139.13-16; Is 43.1; 44.2,24; 49.1,5; 64.8; Jr 1.5
Acusação Jo 3.17; Rm 8.1; 8.31-34; 1Jo 3.20-21; Ap 12.10-11
Adivinhação Lv 19.26; Nm 23.23; 2Rs 21.6; Is 19.3; At 16.16-18
Aflição Ne.9:27; Sl.34:17-22; Sl. 50:15-16; 119:67,71 e 75; 145:14 Is 43:2;
Rm. 8:28; 2Co. 1:4; 2Co. 4:17-18; Hb 4.15-16; 1Pe 5.6-9
Alcoolismo Pv 20.1; 23.20-21; 23.29-32; 31.4-6; Is 5-11; Lc 21-34; Rm 13.13;
Gl 5.19-21
Amizade Pv 17.17; 18.24; 27.9,17; Jo 15.13-14; Tg 2.23
Amor 1Co 13
Amor a Deus Dt 10.12; Pv 8.17; Mt 10.37; 22.36-40
Amor de Deus Jo 3.16; 16.27; Rm 5.8; 1Jo 4.8-10 e 18-19
Amor ao próximo Lc.6:31-33; Jo 13:34-35; Rm .13:8-10; 2Tm.2:24-25; Gl 5.14; 1Pe
3.8; 4.8; 1Jo 3.11, 14-18; 1Jo 4.20-21
Angústia Gn 35.3; Dt 4.29-31; 2Sm 22.7; 2Cr 15.4; Jó 7.11; Sl 60.11; 86.7-
8; 91.15; 119.50; Pv 11.8; 24.10; Is 25.4; Is 25.4; Jr 16.19; Na
1.7-8; 2Co 1.4
Ansiedade Ex 6.9; Sl 34.17; Sl 55.22; Pv 16.3; Is 26.3; 43.2; Mt 6.25-34; Lc
21.34; Fl 4.6-7; 1Pe 5.6-7
Batismo Mt 3.13-16; 28.19; Rm 6.4; Mc 16.16; Jo 3.5; At 2.38-41; Rm 6.4;
Cl 2.12
Bíblia (palavra de Gl 1.11-12; 2Tm 3.16; 2Pe 1.21
Deus)
Bíblia (irrevogável) Mt 5.18; Mc 13.31; Ap 22.18-19
Bíblia (dever de ler Dt.12:28; Jesus 1.7-9; Sl 119.11-18, 105; Pv 4.20-22; Mt 4.4; Jo
e obedecer) 5.39; Rm 15.4; 2Tm 2.5; Ap 1.3
Blasfêmia Sl 74.10; Dn 3.29; Mc 3.28-29
Bloqueio de Ec 2.14; Is 44.18; Mt 13.19; At 28.27; Rm 1.21-22; 2Co 3.14-16;
raciocínio 2Co 4.4; Ef 4.18; Cl 2.2-4
Contenda Pv 6.16-19; 22.10-12; 26.20-21; 28.25; 2Co 12.10
Conversação suja Pv 21.23-24; 1Co 15.33; Ef 4.29-31; Cl 3.8; Cl 4.6; 1Pe 3.10
Correção Jó 5:17; Sl 94.12-13; Sl 119.67, 71; Pv 3.11-12; 1Co 11.32; Hb
12.5,11; Ap 3.19
Culpa Sl 31.22; 32.3; 51.3; Sl 138.8; Is 44.22; 53.5;
Cura como ordem Mt 10.1 e 7-8[NÃO ENTENDI]; Mc 16.14-20; Lc 9.1-2,6
de Cristo
Cura como nossa Sl 103.3; Is 53.5; Mt 8.16-17; 1Pe 2.24;
herança
92     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

Cura impedida pela Mt 13.54-58; Mt 17.14-20


incredulidade
Dar Dt 15.11; Pv 3.9-10; Pv 11.24-25; Pv 19.17; 21.13; 28.27; Ml
3.10; Mt 6.1-4; Lc 6.38; Rm 12.8; 1Co 6.1,2; 2Co 9.6-12
Depressão Sl 9.9-10; Sl 31.22,24; Sl 42.5; 146.8; Is 35.3,4; 50.10; Jr 29.11-13;
Hb 12.12,13
Desânimo 2Cr 15.7; Sl 27.14; 37.23,24; 42.5; 138.8; 142.3,6; Pv 24.16; Is
7.4; 40.31; 50.7; Mt 11.28-30; 1Co 15.58; 2Co 4.7,8; 2Co 4.16-
18; Gl 6.9,10; 2Ts 3.13; Hb 4.15,16; 12.3; Tg 4.8
Desobediência 1Sm 15.22,23; Rm 2.7,8; 5.19; 2Co 10.4-6; Ef 2.2; Hb 2.2-3
Divórcio Mt 5.32; 19.3-9; 1Co 7.10-17,20,24
Doença Ex 15.26; 23.25; Pv 18.14; Is 38.1-5; 53.4,5; Mt 10.1; Mc 6.12,13;
Gl 3.13; Tg 5.14-16
Doutrinas falsas Pv 16.25; Mc 13.21-23; 1Co 11.19; Gl 1.8; Cl 2.8; 1Tm 4.1-3; 2Pe
2.1,2; 1Jo 4.1-3
Dúvida Mt 21.21,22; 28.17,18; Rm 4.18-21; Tg 1.6-8
Engano Ex 34.12; 1Rs 22.21-23; Jr 37.9; Ez 13.3,6,10; Am 2.4; Zc 8.16;
Mt 22.29; Mt 24.11; Mt 24.24; 1Co 3.18,19; Gl 6.3; 2Ts 2.9-11;
2Tm 3.13; Hb 3.13; Tg 1.22; 1Jo 1.8; 4.6;
Escravidão Ex 6.5-9; 2Cr 5.26; 12.8; At 7.6,7; Rm 6.6,16-19; 8.15
Espiritismo Ex 7.11,12; Ex 22.18; Lv 7.17; 19.26,31; 20.6,27; Dt 18.9-14; 1Sm
28.5-7; 2Rs 21.5,6; 1Cr 10.13,14; 2Cr 33.5-7; Jó 7.9; Ec 9.5,6; Is
2.6; Is 8.19,20; 26.14; Jr 27.9,10; Mq 5.12,13; Zc 10.2; Ml 3.5;
At 8.11,12; At 16.16,18; 19.19; Gl 5.19,20; 2Tm 3.8; Hb 9.27; Ap
20.5,6; 21.8; 22.15
Espírito Santo Lc 11.13; At 2.38,39
(dons)
Espírito Santo Gl 3.2; Jo 14.26;15.26; 16.7-14; At 1.8; Rm 5.5; 8.11; 12.5-8;
aceito pela fé 16.26; 1Co 2.10-14; 12.4-11; 2Co 3.17; 2Pe 1.21; Gl 5.22,23;
Fé Hb 11.1; 12.1,2; Rm 10.17; 12.3
Fé aplicada Mt 17.20; Rm 1.17; 2Co 5.7; Gl 3.11; Hb 10.38; 11.6; Tg 1.2-7
Fé provada Mt 8.23-26; 14.25-31; 1Pe 1.7,8; 1Jo 5.4
Fé recompensada Mt 9.20-22; 9.27-30; 15.28; Mc 9.23; 11.20-24; Lc 17.11-19;
18.35-43; At 14.8-10; Hb 11.1-6; Tg 5.15
Filhos Dt 12.28; Sl 103.17,18; Pv 13.24; 19.18; 22.6,15; 23.13,14; Is
44.3; 54.13; Ef 6.4; Cl 3.21
Fofoca Lv 19.16; Pv 26.20-28; Ec 10.12-14; Tg 4.11,12; 1Pe 3.10
Força Dt 33.25; Sl 31.24; Pv 24.10; Is 40.28-31; 2Co 12.9,10; Fl 4.13
Frustração Pv 13.12; Is7.4; 2Co 4.8
Fuga Lv 26.17; Pv 24.20; 28.1; Jn 1.3; Mt 3.7; Jo 10.13; Tg 4-7
Gratidão Sl 50.14; 100.4; 105.1; Ef 5.20; Fl 4.6,7; Cl 3.15-17; 1Ts 5.18; Hb
3.15
V E R S Í C U L O S   P A R A   A C O N S E L H A M E N T O      93

Herança 1Rs 12.16; Jó 7.3; 13.26; Pv 3.35; 14.18; 1Pe 1.23; Tt 3.7;
Homossexualismo Gn 19.4,5,10,11; Lv 18.22; 20.13; Rm 1.23-27; 2Tm 3.1-5
Humildade Pv 15.33; 18.22; 22.4; Is 57.15; 66.2; Mt 20.26-28; Lc 14.11; Tg
4.6-10
Idolatria Ex 20.21-6; 22.20; Lv 19.4; Dt 4.16-19; 12.3; 13.1-3; 27.15;
32.17,21; Js 23.7; 2Cr 33.5-7; Sl 16.4; 97.7; 106.36-38; 115.1-9; Is
2.8,9,18-20; 10.10,11; 19.3; 37.19; 40.19,20; 42.8,17; 44.9-11,15;
45.20; 46.1,2; 57.13; Jr 10.3-5,14,15; 50.38; Ez 6.6; 7.20; 21.21;
23.37-39; Os 4.12; Ha 2.18,19; Sf 1.4,9; Zc 10.2; 1Co 10.14,19-
21; Ap 1.8
Incredulidade Pv 24.17,18; Mt 13.58; Mc 9.24; Mc 16.14; Jo 20.27; Rm 4.18-22;
1Tm 1.13; Hb 3.12,13,19; Pv 24.17,18; Mt 5.44-46
Inveja Sl 37.1; Pv 14.30; 19.19; Ec 7.9; Mc 7.20-23; Rm 1.29; Tg 3.16;
1Pe 2.8; Gl 5.19,20; Ef 4.26,31; Cl 3.8; 1Ts 1.10
Jejum 2Sm 12.15-23; 2Cr 20.1-3; Jn 3.1-10; Mt 4.2; 6.16-18; 17.21
Jesus (profecias) Is 7.14; 9.6; 53.1-12
Jesus Jo 1.1-3; 8.58; 17.5; Cl 1.15-17
(pré-existência)
Jesus (divindade) Mt 1.18-25; Lc 4.18,19; Jo 1.1-4; 3.16,17; 17.1-3,10,11,21-26; Gl
1.3,4; 1Tm 1.15; Hb 2.14; 4.15; 1Jo 3.5,8
Jesus (segunda Dn 7.13; Mt 24.1-3; 24.30; Lc 17.26,27; At 1.11; 1Ts 4.16,17; 2Ts
vinda) 2.1-4; 2Tm 3.1-5; 2Pe 3.3-10
Louvor Sl 22.3; 34.1; 50.23; 100.4; Pv 27.21; Is 42.8; 43.21; Hb 13.15; 1Pe
2.9
Maldição Dt 23.5; Jó 7.3; 20.28,29; Sl 16.4-6; Pv 3.33-35; Is 14.21; 54.17;
Gl 3.13
Medo Dt 31.8; Sl 23.6; 27.1-6; 34.4; 56.11; 57.3; 112.1,7; 118.6;
121.7,8; Pv 1.33; Is 35.3,4; 41.10; 43.2; 45.2,3; 51.12,13; Rm 8.15;
2Tm 1.7; Hb 13.5,6; 1Pe 3.12,13; 1Jo 4.18
Mentira 1Rs 22.21-23; Pv 19.5; 30.7,8; Zc 8.16,17; Jo 8.44; Ef 4.25; Cl 3.9.
Moda Lv 20.23,24; Dt 18.9; Jz 14.10,11; Jr 10.3
Morte Ex 12.22,23; Sl 116.15; Ec 12.7; Is 57.1,2; Lc 16.19-31; At 7.59;
1Co 15.26; 2Co 1.9,10; 2Co 7.10; 1Ts 4.13,18; Hb 2.15; 1Jo 3.14;
Ap 14.13
Murmuração Ex 16.8; 1Co 10.10; 1Pe 2.1; Jd 1.6; Fp 2.14
Novo nascimento Jo 1.12,13; 3.3-7; 1Pe 1.22,23; 1Jo 5.4
Necessidades Dt 30.9,10; Sl 23.1; 37.4,5,25; 84.11; Is 41.17-20; Mt 6.25,34; Fp
materiais 4.19; Hb 13.5,6
Necessidades Dt 4.29; Sl 37.4-6; Pv 8.19; 10.24; Is 44.3; 55.1; Jr 29.11-13; Mt
espirituais 5.6; Jo 6.35; Hb 4.16; Tg 4.8
Obediência a Deus Dt 11.26-28; 1Sm 15.22; Is 48.18; Jr 7.23; Jo 14.15,21; At 5.29;
1Jo 2.3-6; Ap 22.14
94     A C O N S E L H A M E N T O   C R I S T Ã O

Obediência às Mt 22.17-21; Rm 13.1-7; Cl 3.22-24; Tt 3.1; 1Pe 2.13,20; 4.17


autoridades
Obediência aos pais Ef 6.1; Cl 3.20
Ódio Pv 10.12; 15.17; Mt 5.44; Tg 2.8; 1Jo 4.18
Oração Jó 42.10; Sl 42.5; 50.15; 62.5; 55.6,7; Jr 29.12,13; 33.3; Dn
10.12,13; Mt 6.5-8; 18.19; 21.21,22; 26.41; Mc 9.23; 11.21-24; Lc
18.1; 21.36; Jo 9.31; 15.7; Fp 4.6,7; 1Ts 5.17; 1Tm 2.8; Hb 11.6;
Tg 1.6-8; 1Pe 3.7; 1Jo 3.21,22; 5.14,15
Oração não Sl 66.18; Pv 28.9; Is 1.11-15; 59.1,2; Jo 9.31; 1Pe 4.12
respondida
Orgulho Dt 8.10-18; 1Sm 15.23; 1Cr 29.11,12; Pv 6.16-19; 11.2; 13.10;
16.18; 21.4; 29.23; Jr 9.23; Dn 5.20; Mt 5.3,5; 6.1-4; 18.1-4;
20.26,27; 23.12; Lc 14.11; 18.9-14; 1Co 4.7; Tg 4.6; 1Pe 5.5,6
Orientação Dt 31.8; Sl 25.12; 32.8; Sl 37.23; 48.14; 73.21; Is 30.21; Is 42.16;
45.2; 58.11; Jr 10.23; Jo 10.1-5; Jo 16.3
Paciência Sl 37.7; 40.1; Rm 5.3-5; 12.10-12; Fp 4.11; Hb 6.12; 10.35,36; Tg
1.3,4; Tg 5.7,8; 2Pe 1.5-9
Paz Sl 119.165; Is 26.3; 32.17; 48.18; Jo 14.27; Jo 16.33; Rm 8.8; Fp
4.5-8
Pecados sexuais Ex 20.14; Pv 6.32,33; Ml 3.5; Mt 5.27,28,32; 1Co 6.15-18; Gl
5.16-21; Tg 4.4; Rm 1.24-32; 1Co 6.9,10; Ef 5.5; Ap 21.8
Perdão de Deus 2Cr 7.14; Sl 32.1,2; 85.2; 86.5; 103.3,12; Is 1.18; 43.25; Cl 2.13;
Hb 8.12; 10.17; 1Jo 1.9; 2.12
Perdão aos Mt 6.14,15; 18.21,22; Mc 11.25,26; Lc 17.3,4; Ef 4.32; Cl 3.12,13
semelhantes
Perseguição Is 51.12,13,21,23; Jr 20.11; Mt 5.10-12; Rm 8.35-39; Rm 12.14;
2Co 12.10; 2Tm 3.12
Preguiça Pv 6.6-11; 13.4; 19.15; 21.25,26; 24.33,34; Ec 10.18; Ez 2.1
Prosperidade Dt 28.1-14; Js 1.7-9; 1Sm 2.7; 1Cr 29.12; Sl 112.1-3; 3Jo 1.2
Prostituição Ez 16.30-32; Os 4.1,2,12; At 15.20; Gl 5.19; Cl 3.5
Proteção Sl 7.10; 91; 121; Pv 3.24-26; Pv 29.25; Is 43.2; Is 59.19; Jr
15.20,21
Rebeldia Dt 31.27; 1sm 15.22,23; Sl 68.6; Is 30.1; Is 65,2; Jr 14.7; Ez 17.20
Sabedoria 2Cr 1.7-12; Sl 111.10; Pv 2.6-11; 3.13-18; 4.5-9; 16.16; Dn 2.20-
23; Lc 21.15; 1Co 3.18-20; Tg 1.5-7
Salvação Mt 3.1,2; 10.32,33; Mc 13.13; Lc 15,10; Jo 3.16; 5.24; 10.27,28;
At 2.38,39; 3.19; Rm 2.4; 5.1; 6.23; 10.9,10; Ef 2.8,9; 2Tm 1.9;
1Pe 1.3-5; 2Pe 3.9; 1Jo 1.9; 2.25; 5.13; Ap 3.20,21
Sofrimento Rm 8.16-18; 1Co 12.25-27; 2Tm 2.12; 2Tm 3.12; 1Pe 2.19,20;
4.12-16,19
Solidão Sl 25.16; 68.6; 4.8; 121.3; 127.2; Pv 3.24; Is 54.1; Lm 3.25-29;
Tentação Mc 14.38; 1Tm 6.9,10; Tg 1.13-15
V E R S Í C U L O S   P A R A   A C O N S E L H A M E N T O      95

Tribulação 1Co 10.13; Tg 1.2-4,12; 1Pe 1.6,7; 1Pe 4.12,13; 2Pe 2.9
Timidez Dt 20.8; Jz 7.3; Mc 4.40; Ap 21.8
Tristeza Sl 30.5; 126.5,6; 127.2; Pv 17.22,25; Ec 7.1-6; Is 35.10; Mt 5.4;
2Co 7.10; Ap 21.4
Vaidade 1sm 12.21; Sl 4.2; Ec 1.2; Ec 3.19; Jr10.3
Verdade Jo 8.31,32; 14.6; 16.3; 2Tm 2.15; 1Jo 4.5,6
Vida eterna Jo 3.15,16,36; 6,40,47; 10.27-29; 1Jo 2.25; 5.11-13
Vingança Dt 32.35,43; Pv 20.22; 24.29; Lc 18.7,8; Rm.12:17-19; Hb 10.30
Violência Sl 11.5; Pv 10.6; 21.7

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