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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

PRO-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


PROGRAMAÇÃO INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA - PROBIC/UEFS

A psicanálise freudiana como uma Ciência da Natureza: investigação sobre a


posição de Heidegger e de Binswanger em relação à ciência de Freud

AUTOR – BOLSISTA: Rafael Souza


Dantas
ORIENTADOR: Caroline Vasconcelos
Ribeiro
MODALIDADE: PROBIC/UEFS
Maio de 2013
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA - PROBIC/UEFS

A psicanálise freudiana como uma Ciência da Natureza: investigação sobre a


posição de Heidegger e de Binswanger em relação à ciência de Freud

Relatório final sobre as atividades desenvolvidas como bolsista do PROBIC apresentado à


coordenação do Programa, como parte dos requisitos exigidos.

AUTOR: Rafael Souza Dantas


ORIENTADOR: Caroline Vasconcelos
Ribeiro
MODALIDADE: PROBIC/UEFS

Feira de Santana (BA), Maio de 2013


3. Apresentação

APRESENTAÇÃO
4. resumo

RESUMO
SUMÁRIO

Lista de Figuras
Lista de Tabelas
Resumo
1. Introdução
2. Revisão da Literatura
3. Material e Método
4. Resultado
5. Discussão
6. Conclusão
7. Anexos
8. Agradecimentos
9. Referências Bibliográficas
Glossário
INTRODUÇÃO

Ludwig Binswanger (2001) realizou uma apropriação da filosofia de Martin


Heidegger e a partir dela empreendeu uma reestruturação da teoria psicopatológica
denominando-a Daseinsanalyse. Esta foi criada pelo psiquiatra como uma alternativa à
psicanálise freudiana, amplamente criticada tanto por Heidegger quanto por ele, e
classificada por ambos como uma ciência natural incapaz de pensar o homem de modo
fundamental.

Nesta pesquisa investigamos se a classificação da psicanálise freudiana como


uma ciência da natureza, operada por Heidegger e por Binswanger, parte dos mesmos
princípios, ou seja, se o conceito de Ciência Natural que os orienta na crítica a Freud
tem os mesmos fundamentos filosóficos ou são distintos entre si. Num segundo
momento partimos para a análise da crítica do próprio Heidegger, a partir da obra
Seminários de Zollikon (2009), à apropriação de sua filosofia feita por Binswanger, no
sentido de vislumbrarmos em que medida a Daseinsanalyse do psiquiatra não
corresponde estritamente aos pressupostos da fenomenologia heideggeriana.

A partir do inventário levantado por Luiz Roberto Monzani (1989), em seu


livro Freud: o movimento de um pensamento, percebemos que Binswanger,
influenciado pelo pensamento heideggeriano, advoga que o trabalho de Freud teria se
constituído a partir de uma determinação naturalista do homem, reduzindo-o a um
conjunto de massas pulsionais que respondem a impulsos mecânicos. Como destaca
Monzani (1989, p.67), para Binswanger, a psicanálise de Freud é um todo coeso que se
enquadra na constelação das ciências da natureza, na qual o reducionismo e o
mecanicismo andam juntos.

A partir do exposto poderíamos nos convencer de que existe uma explícita


afinidade entre as perspectivas de Heidegger e Binswanger. No entanto, salienta Zeljko
Loparic (2002, p.402), a Daseinsanalyse elaborada por Binswanger se apresenta como
“uma construção que não pertence nem à ciência nem à filosofia; ela é
pseudocientífica, por não ser capaz de definir cientificamente seus problemas factuais;
e pseudofilosófica, por ser baseada em erros filosóficos categoriais graves”. Esta
afirmação põe em perspectiva um estranhamento, quer dizer, um questionamento
acerca do “lugar” a que pertence a Daseinsanalyse – criada como alternativa ao
cientificismo da psicanálise freudiana – no campo epistemológico. Consistiu tarefa
desta pesquisa investigar quais são estes “erros filosóficos categoriais”, a que se refere
Loparic, e determinar se eles encontram-se presentes também na posição do psiquiatra
em relação à psicanálise freudiana.
REVISÃO DE LITERATURA

Nosso primeiro projeto de pesquisa, financiado pelo programa PROBIC/UEFS,


consistiu em analisar os fundamentos epistemológicos subjacentes à teoria
psicanalítica freudiana, explicitando as referências básicas que orientam as definições
de ciência e homem presentes em sua construção. Como foi demonstrado, a partir da
filosofia de Martin Heidegger (2009), a teoria psicanalítica freudiana é elaborada com
base no método arquitetado para as ciências naturais, tributário da filosofia metafísica
moderna, o que equivale dizer que a psicanálise é uma ciência natural. Ao forjar uma
imagem objetivada de homem – pensado como um aparelho movido por forças
pulsionais – Freud acaba por produzir, de acordo com a perspectiva heideggeriana, um
tipo de saber incapaz de pensar genuinamente os fenômenos humanos, saudáveis ou
patológicos.

Essa nova etapa da pesquisa teve como escopo analisar a composição de uma
teoria analítica formulada com base numa concepção de homem e visão de mundo que
se distanciam fundamentalmente da construção freudiana de um aparelho psíquico
mobilizado por pulsões que se dirigem a objetos. Elaborada pelo psiquiatra suíço
Ludwig Binswanger, e denominada por ele como Daseinsanalyse, esta teoria visa
estabelecer um método de análise que questione os fundamentos das teorias
psiquiátricas e psicanalítica clássicas, e que compreenda uma abordagem antropológica
da essência individual do ser humano, tomado como Dasein. Tal concepção é oriunda
da analítica existencial formulada por Martin Heidegger na obra Ser e Tempo.

Para darmos conta do proposto, iniciaremos nossa análise a partir da


explicitação das diferenças fundamentais entre a Psicanálise e a Daseinsanalyse, no
que tange às suas concepções norteadoras de homem e de ciência.
1- Concepção de ciência, de homem e heranças filosóficas da teoria
psicanalítica.1

Em sua teoria psicanalítica, Freud entende o funcionamento psíquico como algo


que corresponde a um artefato ou a uma máquina. Alicerçado pela visão de mundo
oferecida pelo método científico-natural, Freud concebeu o homem como um aparelho
psíquico mobilizado por forças pulsionais que se dirigem a objetos, sejam do mundo
externo, seja o próprio corpo do sujeito. Essas cargas de energia endossomática
(pulsões) circulam no interior deste homem-aparelho, e, muito embora não possam ser
medidas, funcionam, por analogia, à maneira de uma carga elétrica ou hidráulica

1
Em certo sentido, estes conceitos já foram abordados no relatório anterior, quando da discussão a respeito
do lugar epistemológico ocupado pelo saber psicanalítico, de modo que, neste momento, não discorreremos
pormenorizadamente sobre seus fundamentos, por entendermos que a pesquisa agora desenvolvida pode ser
considerada como uma continuação da primeira.
porque são formuladas a partir de características quantitativas, ou seja, podem
diminuir, aumentar, se deslocar, se converter, descarregar, etc. De acordo com Garcia-
Roza:

O que o aparato psíquico recebe a partir da exterioridade (e


neste caso tanto o mundo externo quanto o corpo são
exteriores) é Q (quantidade) dispersa e de magnitude diversa,
e a função do aparato é ordenar este caos de intensidades
dispersas, transformá-las e tornar possível a ação específica a
fim de evitar um acúmulo de tensão interna. (GARCIA-
ROZA, 1995, pp. 83-84)

Esse procedimento explicativo do funcionamento de um aparato anímico


tem como principal fundamento a determinação teórica da essência humana enquanto ente
da natureza, e afina-se com os procedimentos elaborados para as ciências naturais. A partir
da perspectiva heideggeriana, podemos dizer que Freud concebe o psiquismo segundo
uma ótica naturalizante e objetificante. Os postulados da existência de cargas energéticas,
bem como do aparelho psíquico e suas funções de acúmulo e descarga de energia, não
derivam da observação empírica dos fenômenos psíquicos, mas são definidos enquanto
conceitos especulativos auxiliares, enquanto constructos que são formulados para explicar
fenômenos empíricos. O uso de tal expediente, como veremos, é comum a todos os
campos das ciências naturais.2

2
Vimos, em nosso relatório anterior, que os conceitos especulativos auxiliares podem ser qualificados
como entidades da razão que não possuem um referente adequado na realidade fenomênica. Como diz
Fulgencio (2003), são apenas convenções, princípios de intelecção válidos somente pelo que tornam
possível compreender um fenômeno e suas relações, não em si mesmos. Cf. DANTAS, 2012, p.22
No livro O método especulativo em Freud, Fulgencio (2008) nos assegura
que o uso de construções auxiliares ou ficções é algo autorizado pelo programa kantiano
para a pesquisa nas ciências da natureza. Os conceitos especulativos auxiliares podem se
aplicar à matéria empírica por meio de analogias e, apesar de não serem verificáveis na
empiria, podem ser frutíferos para a explicação de fenômenos empíricos. Enquanto
herdeiro desse modo de compreender a ciência da natureza, Freud postula o psiquismo em
analogia com aparelhos e a pulsão em analogia com forças físico-químicas. Na obra
Esboço de psicanálise, Freud (1996a, p.172) esclarece que os processos que interessam à
sua ciência são tão incognoscíveis quanto aqueles que tratam a Química ou a Física, mas
adverte que é possível estabelecer as leis a que obedecem. Quer dizer: apesar de lidar com
constructos não verificáveis na empiria – inconsciente, aparelho psíquico, pulsão, etc –
Freud se empenha em estabelecer as leis que regem o funcionamento psíquico, tornando-o
explicável. O pai da psicanálise precisa construir conceitos especulativos auxiliares, tanto
quanto o físico e o químico precisam construir os seus. Um exemplo dessa opção
metodológica é dado por Fulgencio em relação ao conceito de força na física:

É assim, por exemplo, que o conceito de força, que é apenas uma


ideia sem correspondente (referente) empírico, é tomado como se
tivesse uma realidade análoga à da pressão que sentimos quando
algo toca nosso corpo ou quando colocamos o nosso corpo em
movimento. (FULGENCIO, 2008, p.368)

O aparelho psíquico atribuído ao homem, bem como a energia pulsional que o


movimenta, são tomados como constructos, ficções explicativas dos fenômenos
psíquicos, tal como a força é tomada pela física como uma ficção para explicar
fenômenos físicos. Vimos, em nosso relatório de pesquisa anterior, que os conceitos
puros da razão sem referentes empíricos são denominados, por Kant, como ideias. Tais
ideias não encontram equivalência na realidade fenomênica, mas servem para
organizar o que se apresenta nessa realidade. De acordo com Heidegger, Kant entende
que a natureza deve responder no modo da legalidade, ou seja, deve responder à
necessidade de estabelecimento de leis. Sendo assim, cabe à ciência estruturar os
fenômenos numa cadeia de determinações causais, sem lacunas, ainda que, para isso,
tenha que lançar mão de conceitos puros da razão (as ideias). Com o intuito de
organizar objetivamente os fenômenos, a ciência força a natureza responder em
conformidade com leis universais. Com o objetivo de enquadrar o seu saber no rol das
ciências de seu tempo, Freud empreende uma busca das leis que regem o
funcionamento psíquico. O conceito de inconsciente e a suposição de tensões
pulsionais que se estabelecem no interior dessa instância do aparelho psíquico são
exemplos do uso, pelo pai da psicanálise, de elementos que atuam como fator causal na
formação de sintomas, atos falhos e sonhos. No texto Determinismo, crença no acaso
e superstição – alguns pontos de vista, Freud (1996b, p.250) defende que não existe
arbitrariedades na vida psíquica, sendo assim, afirma que sua convicção o informa que
a motivação consciente não se estende a todas as nossas decisões motoras, por isso
postula que boa parte dos fenômenos psíquicos são constituídos por uma motivação
inconsciente. Com a suposição dessa motivação inconsciente, diz Freud, “(...) o
determinismo prossegue ainda sem nenhuma lacuna.” (FREUD, 1996b, p.250)

A ausência de lacunas, a pretensão de estabelecimento de leis e a certeza de um


determinismo regendo a vida psíquica são elementos que certificam a identidade
científica de Freud. A ciência assenta-se numa segurança e na legalidade oriundas da
legitimidade de seu saber. Enquanto herdeira da metafísica moderna, a observação
científica fundamenta-se na possibilidade da realidade objetiva das coisas, constitutiva
de um modo de conceber a estrutura ontológica do mundo (HEIDEGGER, 2009, p.
61).3 Trata-se do modo moderno de apreender tudo que há como objeto, como algo
passível de explicação e objetificação. Para Renato Mezan, Freud se serve das
garantias modernas, cujo corolário é a crença na legalidade da natureza, na
racionalidade do real. Na obra Que tipo de ciência é, afinal, a psicanálise?, Mezan
afirma:

Primeiramente, toda Weltanschauung se caracteriza por uma


‘suposição fundamental’, e a ciência também comporta uma,
embora Freud não a mencione explicitamente: trata-se da
crença na racionalidade do real, ou seja, na existência de leis
que governam os fatos e de causas que o determinam segundo
essas leis. Essa crença tem um corolário: em princípio, está ao
alcance da inteligência humana descobrir tais causas e
formular tais leis. (MEZAN, 2007, p. 325)

Neste modelo de cientificidade, a suposição fundamental da objetividade do


mundo e dos entes que o compõem adquire importância decisiva, no sentido de
garantir a possibilidade de medição e mensuração do que é antecipadamente posto
como o real, a partir de um procedimento calculador. Este procedimento, como indica
Heidegger, consiste no método, que não apenas antecede, mas também fundamenta as
ciências particulares que se dispõem à investigação objetiva dos entes.4 Tais entes são
3
Expusemos, em nosso relatório anterior, que a “legalidade” a que se refere Heidegger, faz menção à
pressuposição filosófica elaborada pela metafísica moderna, a qual postula um modo de instauração da
verdade do ente enquanto objeto. Para Heidegger, a metafísica que estabelece o homem como sub-iectum,
ou seja, a metafísica da subjetividade, contém, enquanto teoria da representação, os elementos
fundamentais de objetificação da natureza. O projeto de objetificação da realidade, apontado pelo filósofo
alemão como consequência da metafísica moderna, consiste no pressuposto que institui e assegura a
mensurabilidade e a manipulabilidade dos fenômenos por operações de cálculo, postura metodológica que
compõe o quadro teórico de toda ciência da natureza. A intrínseca relação entre metafísica moderna e a
ciência natural, tal como definida por Heidegger, foi trabalhada em nosso relatório de pesquisa anterior. Cf.:
DANTAS, 2012.
abordados em um âmbito de observação delimitado por um esquema categorial,
decodificados numa inequívoca cadeia de relações causais. O calcular e o mensurar,
diz Heidegger nos Seminários de Zollikon, só é possível quando a coisa – o fenômeno
– é pensada como um objeto e teorizada em sua objetividade. (HEIDEGGER, 2009, p.
135). Ao dizer isso, o filósofo alemão ressalta que o calcular não se reduz a uma
operação numérica, mas equivale a um “contar com” que obriga o ente a responder às
condições de objetividade. Na perspectiva heideggeriana, todo ente, com o qual desde
sempre “já se conta”, deve mostrar-se como objeto. (HEIDEGGER, 2009, p. 135)

No caso específico da Psicanálise, o objeto de investigação é o próprio ser-


homem em suas relações com o mundo e com os outros. Do que foi dito depreende-se
que a existência mesma do ser humano é determinada, em Freud, a partir de leis gerais
que regem o funcionamento da vida psíquica, leis submetidas ao princípio de
causalidade. É precisamente no emprego desta suposição que repousa a possibilidade
da psicanálise freudiana se estruturar enquanto ciência. A ciência de Freud “conta
com” a possibilidade de explicar o psiquismo como um aparato composto por
instâncias e mobilizado por forças pulsionais.

A partir de garantias fundamentais postuladas pela metafísica moderna, foi


assegurado a Freud o direito de investigar as leis causais que regem os fenômenos
psíquicos. Caberia, então, ao saber psicanalítico, a tarefa de produzir um conhecimento
teórico que fosse capaz de organizá-los sistematicamente numa cadeia de relações
causais sem lacunas e com vistas à totalidade objetiva. Sobre este esforço, Fulgencio
(2003) comenta:

Neste trabalho metódico, há uma parte que se refere à escolha

4
À luz do pensamento heideggeriano, o conceito de método não é utilizado, aqui, enquanto definidor de
uma técnica de pesquisa. Usamos a referida palavra em seu sentido original, explicitado por Heidegger
(2009, p. 148), enquanto um “caminho para...”. Segundo o filósofo: “Método é o caminho que leva a algo,
uma área, o caminho pelo qual estudamos um assunto. Não se pode estabelecer de antemão, sem mais nem
menos, de que maneira o assunto determina a espécie de caminho que a ele conduz, de que maneira a
espécie do caminho para o assunto permite alcança-lo. Estas relações dependem do modo de ser do ente
[das Thema werden soll], da mesma forma que a espécie de caminhos possíveis, que levem à área
correspondente do ente. Isso mostra uma conexão direta entre a questão da mensurabilidade como tal e a
questão do método.” (HEIDEGGER, 2009, p. 139) [grifos do autor]
e à delimitação do que é importante ser considerado no
campo dos fenômenos e outra, que corresponde ao uso de um
conjunto de conceitos auxiliares [metapsicológicos], que
ajudam a relacionar e organizar os fatos na busca da resolução
dos problemas. Com o auxílio destas ficções, Freud espera
obter um controle do material empírico de modo que ele
possa procurar as explicações que venham completar as
lacunas que ficam no entendimento dos fenômenos quando o
cientista fica restrito apenas ao campo descritivo, buscando,
pois, descobrir séries completas sobre as determinações
causais que os produzem. (FULGENCIO, 2003, pp. 05-06)

Da citação acima podemos inferir que o corpo teórico da psicanálise é


composto por duas instâncias: uma estrutura baseada nos conceitos empíricos e uma
superestrutura modulada a partir de conceitos especulativos. Entre os conceitos
especulativos, se incluem os conceitos de pulsão, inconsciente e aparelho psíquico
dividido em instâncias (consciente, pré-consciente e inconsciente, posteriormente
reformulado em id, ego e superego), entre outros. No texto Um estudo autobiográfico,
Freud (1996c, p.38) esclarece que tais conceitos ou ideias “(...) fazem parte da
superestrutura especulativa da psicanálise, podendo ser abandonada ou modificada,
sem perda ou pesar, momento em que sua insuficiência tenha sido provada”. Tomando
como exemplo, no texto em comento, a tentativa de retratar o aparelho psíquico como
sendo constituído de grande número de instâncias ou sistemas, Freud adverte que tal
postulado não implica qualquer relação com a anatomia do cérebro. Quer dizer: trata-
se de um constructo especulativo que serve para explicar fenômenos empíricos, mas
que não se localiza na empiria. O descarte ou a troca deste tipo de conceito por outro
mais frutífero é possível porque se trata de um termo oriundo da superestrutura e não
da estrutura fundamental da psicanálise, a qual é baseada na observação e descrição de
fenômenos. Esse saber, assim composto, tem a função de explicar as causas
responsáveis pela formação dos sintomas, dos sonhos, atos falhos e propor uma
possibilidade de cura.

No texto A compreensão freudiana da histeria como uma reformulação


especulativa das psicopatologias, Fulgencio (2002) afirma que a suposição da
existência de forças psíquicas em conflito no interior de um psiquismo, responsáveis
pela produção dos sintomas, não deriva diretamente da observação. Ainda que
conflitos sejam reconhecíveis e observáveis na clínica, não se pode concluir, diz o
autor, que forças psíquicas sejam dados empíricos. Como vimos anteriormente, a
ciência paradigmática quanto ao rigor e aos métodos, a física, se serve de conceitos
especulativos, por exemplo, a noção de força. O equivalente a esse conceito na
psicanálise é o conceito de pulsão. Tanto que, na obra A pulsão e seus destinos, Freud
(1996d, p.124) afirma que a natureza das pulsões consiste em elas serem forças
constantes (konstante Kräfte), isto é, forças motrizes atuantes no interior do aparelho
psíquico. Para Fulgencio, “a concepção de forças psíquicas como sendo a causa dos
fenômenos psíquicos é uma analogia cuja eficiência, para Freud, justifica o uso.”
(FULGENCIO, 2002, p.39).

Ao deparar-se com lacunas na explicação dos fenômenos clínicos, Freud, de


acordo com Barretta (2010, p.160) postula conceitos que se referem: 1) à
espacialização do psiquismo (a sua divisão em instâncias, sistemas, etc.), 2) à
quantidades de excitação (afeto, libido, pulsão, princípio de constância, etc.); 3) à
interação de forças em conflito (os diferentes dualismos pulsionais, conflitos entre as
diferentes instâncias psíquicas, princípio de prazer e de realidade, etc). O intuito do pai
da psicanálise consiste em estabelecer correlações entre conceitos empíricos e
auxiliares (especulativos), posto que a utilização de constructos e convenções
auxiliares é imprescindível para a explicabilidade de determinados fenômenos. Como
afirma Barretta, no texto Freud explica: a concepção de ciência em Freud:

Segundo o ponto de vista de Freud, não é possível evitar a


introdução de conceitos (auxiliares), convenções, nas
explicações científicas. Esses conceitos não são, contudo,
aleatoriamente escolhidos, mas devem ser construídos (ou
“inferidos”) nas lacunas dos dados empíricos. ( BARRETTA,
2010, p. 158)

A conformidade da teoria psicanalítica aos dois fundamentos básicos das


ciências naturais, a saber, aceitação da possibilidade de “contar com” a racionalidade
do real e a aplicação metodológica de constructos especulativos que servem para
ordenar o material oriundo da empiria, nos permite afirmar, com Heidegger, que a
constituição do saber psicanalítico é promovida sobre uma perspectiva naturalizante,
segundo a qual a única possibilidade de “verdade” residiria na formulação de leis e
princípios gerais. A partir destas concepções de homem e de ciência diagnosticadas em
Freud, pode-se levantar a questão: Em que medida uma ciência, construída em
afinidade com métodos científico-naturais, tem a capacidade de dar base à existência
humana? Esse é um questionamento levantado pelo psiquiatra suíço Ludwig
Binswanger. Trabalharemos essa questão em nosso segundo tópico.

2- A crítica de Binswanger à herança científico-natural da psicanálise de Freud.

Luiz Roberto Monzani, em seu livro Freud: O movimento de um pensamento,


nos apresenta uma análise acerca da crítica que Binswanger dirige a Freud e ao sentido
dado por este à existência humana. Binswanger, segundo Monzani (1989, p. 64),
denuncia que o homem freudiano, captado em sua imanência, seria um objeto natural,
uma intelecção naturalista da mesma maneira que a ideia biológica de organismo e a
ideia física de luz. A natureza da crítica de Binswanger a Freud relaciona-se com sua
dupla formação: psiquiátrica e filosófica. Segundo Chamond (2011), a formação
filosófica do psiquiatra suíço o habilitou a recusar o pensamento objetivante típico das
ciências da natureza, o qual vê o homem como “(...) um organismo psico-físico, um
sistema de funções orgânicas ligadas aos processos naturais.” (CHAMOND, 2011,
p.3). Esta formação filosófica, diz a autora, irá distanciá-lo da psicanálise.

Segundo Cardinalli (2012, p.33), a concepção freudiana de homem como um


psiquismo encapsulado e separado do mundo é, para Binswanger, uma proposição
inadequada para pensar a natureza específica do existir humano, e a consequência
disso consiste em um modo equivocado de compreensão das psicopatologias. Como
informa Chamond (2011, p.4), Binswanger rejeita definitivamente a concepção
freudiana de Homo Natura, edificada sobre o modelo das ciências naturais e fundada
sobre o substrato da pulsão. Para o psiquiatra suíço, o conceito de homem elaborado
por Freud está em franca oposição tanto às sólidas e tradicionais representações
veiculadas pela cultura, quanto, principalmente, à formulação heideggeriana do
homem enquanto Dasein, cujo modo constitutivo de se relacionar com os entes é
enquanto ser-no-mundo. Antes de explanarmos sobre a crítica de Binswanger a Freud,
convém explicitar esse conceito cardeal da semântica heideggeriana, uma vez que o
contato com a filosofia de Heidegger e com seu entendimento do homem como Dasein
influenciou a posição assumida pelo psiquiatra em relação a Freud.

A palavra Dasein significa comumente “estar presente”, “existência”. De


acordo com Dubois (2004, p.17), com esta palavra Heidegger se envereda numa
aventura semântica, pois no alemão coloquial o termo designa o que está aí, o que
simplesmente tem realidade. No pensamento usual da metafísica, esse termo é
utilizado como medida de questionamento do ente em referência a seu ser, quando, por
exemplo, descreve-se as provas de existência de alguma coisa [uma mesa, uma rocha,
etc.]. A conotação empregada pelo filósofo, na obra Ser e Tempo, à palavra Dasein
(ser-aí), é justamente o avesso do sentido descrito. O aí [Da] não significa, em
Heidegger, uma definição de lugar para um ente, mas indica a abertura na qual o ente
pode estar presente para o homem, inclusive ele mesmo para si mesmo (HEIDEGGER,
2009, p. 159). O homem, enquanto Dasein, não é algo simplesmente dado, mas um
ente privilegiado cuja relação com o ser lhe é constitutiva.

O emprego desta nova formulação do termo, operado pelo filósofo, consiste no


movimento de se colocar expressamente [e tão somente] o ser-homem de modo geral
como Dasein, no intuito de escapar das determinações tradicionais do homem como
animal rationale, espírito, cogito ou sujeito transcendente.

Neste sentido, todo o pensamento heideggeriano desenvolvido no tratado de


1927 origina-se de um questionamento que se distancia fundamentalmente da tentativa
de se determinar o que é o ser [Sein] – neste caso, o ser-homem -, sendo elaborado a
partir da seguinte indagação: na verdade, o que significa ser? Deste modo, a questão
que surge, necessariamente, acerca da essência do homem, é tratada, em Ser e Tempo, a
partir da questão do sentido do ser.

Heidegger (19.., § 12) afirma que a constituição fundamental do existir humano


se dá a partir da apreensão do lhe falta e do que lhe encontra no âmbito da sua abertura
para o ser, ou seja, na possibilidade de apreensão das significações daquilo que lhe é
dado e que se lhe relaciona a partir de sua abertura. O existir humano, em seu
fundamento essencial, não pode ser tomado como um objeto simplesmente presente
num lugar qualquer, um objeto encerrado em si mesmo, passível de objetivação. O
homem heideggeriano não se relaciona com o mundo do mesmo modo que as coisas
simplesmente dadas, quer dizer, Dasein (ser-aí) não está dentro do mundo do mesmo
modo que uma caneta está dentro da gaveta. O mundo, para o homem, se constitui
enquanto abertura pela qual os entes lhe vêm ao encontro. Essa abertura é a condição
de possibilidade do vir ao encontro do Dasein numa ocupação, pois o homem só é
sendo em um mundo. Portanto, não há nenhuma justaposição de um ente chamado
Dasein a um outro ente chamado mundo, o homem é ser-no-mundo.

Posto que expusemos, mesmo que em traços largos, a concepção heideggeriana


de homem que tanto influenciou Binswanger, convém averiguar como se efetuou sua
leitura acerca da psicanálise freudiana. Segundo Monzani, para Binswanger:

O trabalho de Freud teria se constituído numa extensão do


mecanicismo até ‘regiões aparentemente as mais livres do
espírito humano’, procurando mostrar que a necessidade
humana explica, em todos os seus detalhes, a organização do
homem. A necessidade substitui a liberdade e o mecanicismo
toma o ‘lugar da reflexão e da decisão’. (MONZANI, 1989, p.
65)

Deste modo, Freud teria operado um movimento de transposição da


objetividade destinada aos entes da natureza para a esfera do humano, viabilizando,
assim, a aplicabilidade do método característico das ciências naturais à investigação
dos modos de existência do homem – saudáveis ou patológicos. Disso podemos
depreender, com Binswanger, que a constituição do saber psicanalítico se efetuou de
acordo com as exigências de cientificidade, num molde totalmente afinado com o
pensamento moderno.

Os fenômenos patológicos são compreendidos por Freud como produtos de um


movimento da energia pulsional de natureza sexual – a libido – dirigida a objetos e
processados por um aparelho. O todo da existência humana passa a ser reduzido a uma
leitura unilateral da sua imagem enquanto máquina. Acerca disso, Monzani afirma:

Esse método unilateral e reducionista consiste basicamente numa


desconstrução radical, onde o resultado não é outro, senão o
encontro final de um mundo e de um ser humano reduzidos e
subjugados por forças cegas que se chocam e entrechocam.
Universo árido que reduz a realidade a algo destituído de
sentido, onde tudo aquilo que aparecer como uma constelação
significativa é resultado da ficção, da ilusão e da aparência, e a
única realidade é esse jogo maquinal de forças. (MONZANI,
1989, p. 66)

O modo freudiano de conceber o funcionamento psíquico e a existência


humana saudável e adoecida não ultrapassa os limites ordenados pelo ideal científico-
natural. A experiência vivida e os fenômenos patológicos são determinados, em sua
teoria, por uma força motriz de fonte endossomática, ou seja, por uma ficção teórica
denominada pulsão, cujo afluxo de cargas de energia é responsável pelo bom
funcionamento ou desequilíbrio do aparelho psíquico. De modo geral, a proposta de
cura é submetida a um procedimento mecânico: encontradas as causas dos sintomas,
quer dizer, o objeto alvo de um investimento desproporcional de energia, retoma-se o
equilíbrio.

O adoecimento psíquico é tomado aqui como um desvio, um defeito no


funcionamento de um mecanismo. A psicanálise freudiana trata o homem como um
objeto encapsulado – um aparato análogo a um telescópio ou microscópio 5 – que se
movimenta nas relações com as coisas a partir de um “jogo maquinal de forças”.

5
A analogia do aparelho psíquico com um telescópio e um microscópio foi efetuada por Freud no capítulo
VII de A interpretação dos sonhos. (FREUD, 1996e)
Monzani, ao descrever sobre a posição de Binswanger em relação à psicanálise
freudiana, afirma:

Daí decorre o porquê do sentido nas relações humanas ser um


efeito de superfície que esconde por trás de si uma sólida e
maciça realidade mecânica e maquinal. Decorre também o
porquê de toda relação humana ser sempre e inevitavelmente
unilateral e, por consequência, o modelo da relação médico-
paciente em Freud, ‘em lugar da comunicação recíproca,
pessoal, na relação-entre-nós’, seja substituído por uma
‘relação unilateral isto é, não-reversível, do médico e do
paciente’. Não é exatamente disso que se trata quando o
objetivo é consertar uma maquina defeituosa?
(MONZANI, 1989, p. 67) [grifo nosso]

Esta perspectiva de análise da teoria psicanalítica freudiana faz Binswanger


(2001) constatar a necessidade de introduzir um novo fundamento, que seja capaz de
explicitar a natureza existencial do fenômeno patológico (a doença psíquica) a partir da
compreensão do existir humano enquanto Dasein, considerado por ele mais adequado
para pensar o ser-no-mundo. No artigo intitulado Sobre a psicoterapia (2001),
encontramos a definição de Binswanger para a análise existencial, caracterizada como
uma ciência do homem baseada num método que não comporta a sua redução a um
objeto natural, nem se remete a nenhuma especulação científica ou suposição filosófica
apriorística da natureza humana, mas busca analisar a existência concreta dos pacientes
em suas relações com o mundo e com os fenômenos patológicos. Segundo o autor, a
psicoterapia parte de:

(...) um traço fundamental da estrutura do ser-homem


(Menschsein) como ser-no-mundo (In-der-welt-sein), o ser
com e para o outro. É à medida que este traço fundamental
permanece ‘retido’ na estrutura do ser-homem que a
psicoterapia é possível. Se você se questiona sobre estas
‘possibilidades de ação’ no interior desta esfera do ser-no-
mundo, não é porque elas seriam, para você, aquilo que está o
mais distante ou que é mais inabitual, mas sim porque elas
são, para você, existenciais, ou seja, elas são, para você, o
traço fundamental de sua presença ou existência, aquilo que
está mais próximo ou é familiar; pois aquilo que está, para
nós, existencialmente mais próximo, ou seja, nós mesmos e
nossa relação com nossos próximos, aparece-nos
teoricamente sempre em último lugar apenas; visão teórica e
interrogação teórica requerem distância, espaço, um olhar
firme, ‘tranquilo’ que se eleva sobre nosso ser cotidiano
‘distraído’ e ‘agitado’. (BINSWANGER, 2001, p. 146)

O que Binswanger sugere é uma análise dos fenômenos patológicos humanos


que assuma uma oposição diametral à teorização dos mesmos fenômenos a partir do
método científico-natural, como foi postulado por Freud em sua teoria psicanalítica. A
Daseinsanalyse é apresentada, neste sentido, como uma alternativa teórico-filosófica à
configuração técnico-científica que domina a teorização psicanalítica a partir do
“aprisionamento” do pensamento às especulações reducionistas e mecanicistas,
características do método científico-natural. Segundo Binswanger (2001), a visão
diagnóstica da psicanálise, baseada na sintomatologia e etiologia dos fenômenos
patológicos, com vistas à enunciação causal, não dispõe dos meios necessários para a
tematização daquilo que deve ser esclarecido de antemão, a saber, a essência da
patologia e suas relações com a estrutura ontológica do Dasein, numa interpretação
que resulte na compreensão do ser-no-mundo e dos modos de ser da existência cujas
formas concretas são dadas pelo ser-homem em sua cotidianidade.

É a partir destes fundamentos que a doença é compreendida, sendo tomada


como um modo de existência do ser-no-mundo, um fenômeno de privação na
realização saudável do existir humano. Nos Seminários de Zollikon, Heidegger afirma
que “toda privação indica a co-pertinência de algo a que falta algo, que carece ou
necessita algo” (HEIDEGGER, 2009, p. 79). Não se trata, deste modo, de um defeito
no mecanismo de uma máquina, mas da perda de liberdade, uma limitação da
possibilidade de viver. Na medida em que um procedimento terapêutico lida com a
doença, lida também com a saúde, no sentido de saúde que falta e deve ser novamente
recuperada, de modo que se possa resgatar ao indivíduo psiquicamente enfermo o seu
lugar no mundo e as suas manifestações significativas de existência, inseridas num
espaço de relações com o outro.

Esse modo de conceber o adoecer tem ressonâncias no modo de pensar a


psicoterapia. Como afirma Chamond (2011, p.4), Binswanger demanda ao terapeuta
uma implicação bem mais importante que a clássica neutralidade e distanciamento do
psicanalista. Segundo Freire (2008, p.267), a Daseinsanalyse segue algumas linhas
diretrizes no trabalho psicoterápico, quais sejam: 1) o psicoterapeuta deve conservar o
paciente como parceiro e não fazê-lo objeto para si; 2) a história de vida do doente
deve ser compreendida em suas singularidades como flexões da estrutura total do ser-
no-mundo; 3) as psicoses, as neuroses e as psicopatias são flexões da estrutura
transcendental do ser-homem (condição humana); 4) o sonho deve ser entendido como
modo particular de ser-no-mundo e como mundo particular.

No texto intitulado Sobre a psicoterapia, Binswanger, pleiteando uma sintonia


com a filosofia de Heidegger, afirma que a possibilidade da psicoterapia repousa sobre
um traço fundamental da estrutura do ser-homem (Menschsein) como ser-no-mundo
(In-der- welt-sein), como o ser com e para o outro. Como lembra Cardinalli, o Dasein
ou, se quisermos, o ser-no-mundo, existe sempre num mundo de relações mais
próximas ou mais distantes com pessoas e coisas. A partir desse modo de conceber o
homem, a doença passa a ser “(...) tomada como um modo de existência do ser-no-
mundo, privações na realização do existir humano saudável” (CARDINALLI, 2012,
p.14).

Na perspectiva binswangeriana, diz Cardinalli, os sintomas não são abordados como


fenômenos isolados e nem dispostos numa cadeia de relações causais com vistas à
explicabilidade etiológica. Os sintomas são compreendidos como manifestações
pertencentes a um todo da existência do Dasein, ou seja, o objetivo da análise das
vivências patológicas do paciente deve ser o revelar como se configura sua abertura pra
seu poder-ser e seu projeto de mundo. As causas primeiras geradoras do efeito (sintoma),
não são procuradas numa psicoterapia dessa natureza. Sendo assim, a Daseinsanalyse
nega à libido, à pulsão sexual, a primazia na origem das ações humanas, ou seja, o status
de condição necessária à análise do homem. Isso não significa que o elemento sexual
deva ser desconsiderado, significa que ele não pode ser usado como fator etológico para
todo o adoecer humano. Nesse sentido, Binswanger afirma:

Uma coisa é saber, por experiência, que historicamente, no


início de uma biografia que chamamos neurótica, sempre há
conteúdos sexuais vividos ou imaginados – nossas próprias
experiências aqui reúnem-se às da psicanálise ortodoxa – e
outra coisa é colocar como uma afirmação evolucionista que
o “sexual” representaria a base para todas as outras formas de
experiência, como tais, fundando-se sobre uma especulação
teórica. (BINSWANGER, 2001, p. 146)

A busca de causas para explicar os fenômenos e as patologias humanas afina-se


com os preceitos oferecidos pelo método das ciências naturais. A Daseinsanalyse não
pressupõe que haja uma verdade escondida do inconsciente por detrás do sintoma, não
se pressupõe um fator sexual inconsciente a produzir o adoecimento. Na obra
Daseinsanalyse e esquizofrenia: um estudo da obra de Medard Boss, Cardinalli (2012,
p.32) afirma que Binswanger, quando utiliza o pensamento heideggeriano para o
estudo psiquiátrico, inaugura um modo novo de abordar o fenômeno patológico,
denominado existencial ou daseinsanalítico. Segundo a autora, Binswanger foi o
primeiro psiquiatra a introduzir o pensamento heideggeriano para o esclarecimento das
patologias psíquicas, vindo a influenciar outros psiquiatras, a saber: Boss, Kuhn, Van
den Berg. Resta-nos saber se a apropriação que esse psiquiatra fez da filosofia de
Heidegger alcançou o apreço e a anuência do filósofo. Resta-nos também averiguar se
o modo como Binswanger aborda a psicanálise de Freud encontra ressonâncias na
abordagem heideggeriana dessa ciência.
MATERIAL E MÉTODO

A natureza metodológica da pesquisa realizada é bibliográfica. A pesquisa se


pautou, primordialmente, na releitura, interpretação e problematização da obra em que
Heidegger dirige seu olhar filosófico para a psicanálise freudiana, a saber, Seminários
de Zollikon (2001). Além disso, o estudo teve como meta relacionar a posição
heideggeriana ao modo como Binswanger se apropriou de teses e argumentos oriundos
da fenomenologia de Ser e Tempo. Tal posição foi expressa nesses mesmos seminários
suíços. Dentre as produções de Binswanger trabalhamos com as obras Sobre a
Psicoterapia (2001) e O sonho e a existência (2002). O número reduzido de textos
deste autor utilizados na pesquisa se deveu ao fato da não existência de tradução em
nossa língua para outras obras. Esta deficiência foi superada, na medida do possível,
pela exploração sistemática dos trabalhos de comentadores.

A partir do diálogo entre estas obras e Ser e Tempo (Heidegger, 1992)


examinamos a existência de limites e equívocos na apropriação da filosofia
heideggeriana para a estruturação da teoria Daseinsanalítica, proposta por Binswanger.
Neste sentido, investigamos as consonâncias e afastamentos nas formas destes dois
pensadores abordarem conceitos fundamentais como Dasein, pulsão e ciência natural,
indicando onde, e de que maneira, seus métodos de abordagem se afastam ou
dialogam.

Na medida em que tivemos a argumentação heideggeriana como fio condutor,


visamos relacionar as características relativas ao que o filosofo nomeia de Ciência
Natural com as que Binswanger destina a este tipo de saber. Esta tarefa teve o intuito
de desvendar se o conceito de Ciência Natural utilizado por ambos pensadores em
relação à psicanálise de Freud tem o mesmo sentido ou apresenta diferenças, bem
como examinar se a alternativa binswangeriana de análise existencial corresponde à
fenomenologia heideggeriana.
9. resultado

RESULTADO
DISCUSSÃO
11. conclusão

CONCLUSÃO
12. anexos

ANEXOS
13. agradecimentos

AGRADECIMENTOS

14. referências bibliográficas

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CERVO, Amado Luiz e BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica: para uso dos
estudantes universitários. 3ª ed. São Paulo, McGraw-Hill, 1983.
Normas para publicações da UNESP/Coordenadoria Geral de Bibliotecas e Editora
UNESP. - São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1994.

15. glossário

GLOSSÁRIO
14. declaração

DECLARAÇÃO

Declaro que desenvolvi as atividades constante do plano de trabalho do


projeto ........................................submetido ao PROBIC/UEFS cujos resultados finais constam do presente
relatório.

Local e Data,
Assinatura
Bolsista

DECLARAÇÃO

Declaro que acompanhei as atividades do bolsista ..........................................do plano de trabalho


do projeto ........................................... submetido ao PROBIC/UEFS, cujos resultados finais constam do
presente relatório.

Local e data,
Assinatura
Orientador

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