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TOME AR:

é hora do
mergulho!
PÁGINA 14

Uma viagem ao passado: Do outro lado do rio, O enoturismo no sertão


a história através dos museus tem ilhas! do São Francisco
página 10 página 12 página 20
“Que seja seca ou inverno / Nesta terra nordestina,

Tem sempre um amô eterno / Juazêro e Petrolina

Sei que é firme esse namoro, / Porém existe um agôro,

Um azá, um aperreio, / Ele do lado de lá,

Ela do lado de cá / E o rio a roncá no meio.”

Patativa do Assaré
SUMÁRIO
Se tu rir, eu rio: Velho Chico 06
07 De passagem:
Lugares que merecem uma visita

10
Uma viagem ao passado:
a história contada através dos museus

11 Casa do Artesão:
Arte e cultura do Vale do São Francisco

12
Do outro lado do rio,
tem ilhas!

14 Agite antes de nadar

Comer bem, que mal tem? 18


20 O enoturismo no sertão do
São Francisco

22
A matriz africana
presente em Juazeiro

24 Exposição de caprinos e ovinos


movimenta o turismo no Vale

25
Fenagri:
Tradição e Turismo
QUEM SOMOS

Andressa Silva
Petrolinense, amante de todas as formas
de vida, escrita e arte. Graduanda em
Jornalismo, colabora com o projeto de
pesquisa Cartografia Urbanográfica no
Sertão do São Francisco.

Danilo Borges
Estudante do 5º período de jornalismo,
fotógrafo amador, gosta de dormir,
comer e estuda população quilombola.

Giúllian Rodrigues
Nascida no Ceará e criada no mundo,
mora no Vale do São Francisco desde o
começo de 2016. Ama esportes e adora
conhecer novos lugares e suas culturas.
É jornalista em formação.

Comunicação Social - Jornalismo em Multimeios


Disciplina de Tópicos Especiais em Comunicação I Jacira Félix
Juazeirense, graduanda em Jornalismo
pela Uneb, atualmente é estagiária numa
emissora de televisão. Uma mulher que
sonha, ama o jornalismo e as pessoas.
Docentes
Jaqueline Santos
Luiz Adolfo Andrade
Estudante do 5º período do curso de
Ianne Lima
Comunicação Social. Feminista negra,
cantadora e amante das expressões
populares de arte e política. Acredita no
povo, na vida, na esperança e na luta.
Discentes

Andressa Silva
João Pedro
Danilo Borges Sobradinhense nascido em Juazeiro,
Giúllian Rodrigues ama ler e escrever - jornalismo e
Jacira Félix ficção; graduando em Jornalismo em
Jaqueline Santos Multimeios pela Uneb, também é bolsista
João Pedro no projeto Signos de Nordestinidade
Rodolfo Rodrigo
Rodolfo Rodrigo
Nascido e criado em Petrolina. Viciado
em histórias sensacionais e amante
da natureza. Também é graduando em
Revista Me Leva Pro Vale Jornalismo e estagiário numa empresa
de televisão local.
Edição Única | Junho de 2016
EDITORIAL

Vale a Pena

O que significa fazer uma revista falar, ocuparia as páginas de uma zada no município baiano, é um lu-
sobre o Turismo em Petrolina e Jua- revista inteira. Não sendo possível, gar chave para apreciar o artesanato
zeiro? Significa contrariar um imagi- em pelo menos uma, nessa edição, local, do mesmo modo que lugares
nário difundido no Vale do São Fran- podemos ler alguns de seus relatos. como o Bodódromo, na vizinha per-
cisco. Por muito tempo, a região foi Além disso, o Velho Chico é palco nambucana, é parada obrigatória pa-
considerada um lugar de passagem. para diversas atividades esportivas ra vivenciar a gastronomia.
Petrolina, por exemplo, era conheci- que vêm ganhando importância pa-
Mas quem visita uma cidade não
da como “Passagem para Juazeiro” ra a região. Em suas águas, também
espera encontrar uma história e cul-
antes de receber o nome atual. Hoje, trafega o Vapor do Vinho, famoso
tura ameaçadas. Por isso também
muitos moradores se surpreendem roteiro enoturístico, que explora não
deixamos o alerta para o estado de
e, alguns até estranham, quando se somente o potencial do rio, mas tam-
preservação (ou seria de destruição?)
fala nas duas cidades como rota de bém das vinícolas e fazendas de uva
da Petrolina Antiga, que, além de ser
turismo. Nossa revista vem para pro- e manga da região.
um importante símbolo da história
var que sim! Juazeiro e Petrolina pos-
A fruticultura irrigada e a agrope- petrolinense, já foi um destacado lu-
suem um grande potencial turístico.
cuária, um dos principais motores da gar em que pulsava a vida cultural da
Falar das duas cidades sem lem- economia no Vale, atraem visitantes região.
brar do Rio São Francisco é esquecer anualmente para eventos como a Fe-
Ao fim de tudo, fica a sensação
do principal elo entre elas. O Velho nagri e a Expovale - e não poderiam
de um trabalho ainda incompleto.
Chico, conhecido como Rio da Inte- ser ignoradas. Assim como o lado
Porque uma única edição é incapaz
gração Nacional, é o símbolo da in- festivo e cultural das duas cidades,
de abarcar todas as possibilidades
tegração entre Juazeiro e Petrolina, cujas noites podem sim tornar-se
turísticas presentes em Juazeiro e
que cresceram às suas margens e, a chamariz para o turismo.
Petrolina, as quais, para muita gente,
partir daí, começaram uma centená-
Quem visita uma cidade muitas parecem estar escondidas ou nem
ria relação de amor, como disse uma
vezes quer conhecer sua história. É existir. Fica também a sensação de
vez o poeta cearense Patativa do As-
por isso que seria um erro esquecer que há muito a ser feito para ampliar
saré. Mas, se para ele o rio era um
o Museu do Sertão, em Petrolina, e o esse potencial. E esperamos que, ao
impeditivo, para nós ele é o principal
Museu Regional do São Francisco, final da última página dessa edição,
responsável por esse amor.
em Juazeiro. Quem visita uma cida- quem a leia também tenha a certeza
Fato é: o São Francisco é um rio de muitas vezes quer conhecer sua de que Vale a pena visitar o Vale. •
de tantas histórias que, se pudesse cultura. E a Casa do Artesão, locali-
Se tu rir, eu rio:
Velho Chico
Texto de Rodolfo Rodrigo

Ah, meu fi, eu sou bem mais ve- e Alagoas, pertin de onde desço, que
lho do que esse povo todo conhece. é nessas águas grandes e salgadas,
Minha história tem mais rodeio do que o povo chama de Oceano e ainda
que esses livros empoeirados vivem dizem que é meu pai, onde já se viu?
contando.
Mas ultimamente eu tenho sofri-
Quando inventaram de me des- do muito. O restante da natureza não
cobrir eu já estava por aqui fazia tem- tão podendo ajudar e falta chuva pra
po, mas foi lá em 1501 que um tal de me fortalecer. Tá tão difícil que no
Américo Vespéto... Verpero... Vers- ano passado eu quase não fico aqui
pércio!, inventou de navegar por es- pra contar essa história. Foi o meu
sas bandas e quis me dar um nome. pior momento nesses últimos 100
anos. Eu tinha pouca água, o pessoal,
Na verdade, eu nem sei muito
que eu tanto ajudo, jogava lixo quan-
o porquê desse outro nome, mas
do passava por mim e eu tava por
eles já chegaram querendo man-
um fio. Ou melhor: uma gota.
dar em tudo e parece que acharam
São Francisco melhor. Porque, antes Só que isso não me abala não.
mesmo desses caba chegar, com Sou imagem para muita gente que
aquele bocado de roupa, aquelas coi- passa e sempre diz que ama o Ve-
sas na cabeça e um aperto na cintu- lho Chico. E ouvir isso me enche as
ra, os índios já tava tudo aqui e eu já nascentes. Outra vez veio um pesso-
era chamado de Opará que pra eles al que eu não entendia nada que eles
significa rio-mar, e também de Pira- falavam, parece que eram turistas de
pitinga, que é muito mais bonito. outro país.
Mas dizem que esse nome novo Por isso que as secas não me
meu é em homenagem a um santo abalam. Eu ainda hei de fazer muita
que comemorava data no dia que gente feliz dando água e ajudando
eles quiseram passar por aqui. Se eu na produção das frutas e dos grãos.
me lembro bem, foi no dia 4 de outu- Também quero aparecer muito ainda
bro e os índios foram tudo enxotado nessas telas que o homem inventou,
das terra, sabe? Não sei que santo é a tal de televisão. Inclusive agora tão
esse que faz os outros perderem a dizendo que tem uma novela com
terra, né? Mas cada qual acredita no meu nome, eu nunca esperei uma
que quer. coisa dessa.
Daquele tempo pra cá eu venho E sou muito feliz, sempre fui fonte
tomando forma e hoje já passo por de vida por aqui e ainda vou contar
5 Estados e 521 municípios nes- essa história pra muita gente. E sem-
se país. Coisa, né? Ói, eu saio lá da pre que alguém vem prosear aqui
Serra da Canastra, em Minas Gerais, comigo eu gosto muito, porque eles
atravesso a Bahia dividindo ela com dão risada. É como eu sempre falo:
Pernambuco e ainda divido Sergipe se tu rir, eu rio.
06
De passagem
Lugares que merecem uma visita.
Texto de Rodolfo Rodrigo
Foto:s Divulgação

Passar por Petrolina e Juazeiro e não Além de ser muito bonito, o lugar já
ver as variedades do Vale é viagem per- foi cenário de diversas produções nacio-
dida. As cidades são cheias de surpresas nais como novelas, minisséries e docu-
e de inúmeros lugares que valem à pena mentários que escolheram o pôr-do-sol
conhecer. Bares, teatros, cinemas, ilhas do Vale do São Francisco como cenário
e baladas. Até porque, quando o assunto principal. E sobre os lugares que o turista
é diversão, o pessoal sabe o que fazer. não pode deixar de visitar. (p. 08 e 09)

07
TEATROS ILHAS
Ilha do Rodeadouro e do Massangano
-
Teatro Dona Amélia As ilhas ficam tão próximas que dá
até para atravessar nadando ou de
Há muito tempo já eram geradas barca.O Rodeadouro é conhecido
As ilhas do Vale são as responsá-
produções de grupos de teatro na pelos bares e pela beleza que pin-
veis por deixar marcada aquela fo-
cidade. Mas, só há mais ou menos, ta o céu com o pôr-do-sol a partir
to com o sol de fim de tarde como
cinco anos que o SESC – Serviço das 17h. O massangano é mais co-
fundo. Passear de barca, ter lazer
Social do Comércio trouxe para Pe- nhecido pelos acampamentos que
com a família, se molhar nas águas
trolina o Teatro Dona Amélia. As pro- algumas famílias planejam e pas-
do São Francisco, são memórias
duções aqui reproduzidas são, geral- sam o fim de semana sem sair da
que contam para quem visita as
mente, peças franquiadas pelo SESC ilha e lá ainda participam da cultura
cidades.
no país e que circulam dentro de to- do samba de véio que é bastante
das as instituições. Produções locais conhecida e valorizada na região.
também ganham espaço nos palcos Ilha do Fogo
do teatro. Uma releitura da obra de
Ariano Suassuna, como “O Santo e a Por ser tão famosa, possui música
Ilha do Sol
Porca” já foi realizada lá. O teatro fica e lenda, ambas foram criadas para
protegê–la. As histórias dizem que Essa ilha é pura diversão. Tem mú-
na rua Dr. Pacífico da Luz, Centro de
abaixo dela existe uma serpente sica ao vivo, brinquedos aquáticos,
Petrolina e é aberto nas noites de sá-
amarrada por três fios de cabelo de piscinas e muita gente. E por ser
bado e domingo. Estudantes portan-
uma santa. “Se eles quebrarem, as perto da cidade dá tempo de ir no
do carteirinha pagam meia entrada.
cidades afundarão em águas”, di- domingo de manhã e voltar no fim
zem. Mas enquanto isso não acon- da tarde. Lá também é bem tran-
tece, o lugar continua lindo e cheio quilo e dá para relaxar durante o
de natureza. A ilha fica entre a pon- dia todo. Pega uma sacola grande,
te que separa Petrolina e Juazeiro coloca uma toalha de mesa (outra
e está aberta todos os dias a partir de banho), põe algumas frutas, bo-
das 6 da manhã, até as 18 horas. lo – se quiser, e bebidas, que seu

Centro de Cultura João Gilberto


O Centro de Cultura foi inaugurado
em novembro de 1986 e, desde en-
tão, sedia espetáculos e intervenções
artísticas como: pinturas, esculturas,
artesanatos e tudo o que é arte. Atu-
almente, o Centro também serve de
espaço para festas alternativas que
promovem bandas culturais locais
e muita diversidade. As produções
lá apresentadas são geralmente re-
leituras de escritores nordestinos,
dirigidas também por Domingos So-
ares que traz muita arte para o Vale.
O Centro fica na rua José Petitinga,
Santo Antônio em Juazeiro e é aberto
aos sábados e domingos.

08
BARZINHOS London Pub MUSEUS
-

Já para quem quer saber dos lugares London cult, esse deveria ser o nome. Museu do Sertão
que tem música boa e bebida barata O lugar é cheio de decoração inglesa:
vários relógios pendurados, lustres, O Museu do Sertão foi fundado em
acompanhada pelo espetinho, ou o
bandeira da Inglaterra estampada setembro de 1973 e oficialmente
caldinho, o lugar certo são os barzi-
nas paredes e música, para variar, criado em novembro de 1985. Bas-
nhos. Além de, na maioria das vezes,
inglesa toca no local que fica aberto tante famoso por ter peças do can-
ter o som acústico e ao vivo de um
das terças aos domingos a partir das gaceiro Lampião, o espaço se en-
cantor local, com um violão no colo.
19 horas até as 03 da madrugada. A contra em reforma, mas sempre que
Para ilustrar fomos em alguns bar-
ideia do pub é a variação de bebidas pode é aberto para visitações. Dentre
zinhos que procuram sempre estar
alcoólicas, em preferência de cerve- as mais de três mil peças do acervo
lotados seja pelo bom ambiente ou
jas, em local público. estão também coleções de cultura
seja pelos preços no local.
indígena, armas, fotos, artesanatos
Lá você encontra grandes hambúr- e objetos da sociedade sertaneja que
gueres, drinks ingleses (coisa nova se apresentam em uma montagem
Haus Bier na cidade), cervejas importadas e co- museógrafa contando a história da
Esse bar é uma das referências de midas japonesas. O espaço também cidade. O museu fica aberto das 9 às
Petrolina quando o assunto é bom fica na Orla de Petrolina e é incrível 17 horas das terças aos domingos,
ambiente. Só pelo nome em língua mesmo. Toda uma estrutura nova e é um ótimo lugar para conhecer a
diferente já se imagina que o lugar é na cidade que sempre garante casa cidade Petrolina.
sofisticado, e é mesmo. Fica na orla cheia apesar dos valores.
de Petrolina, tem amplo espaço, inú-
meros garçons e sempre música ao Museu Regional do São Francisco
vivo. A referência do bar são os cho- Cais do Porto -

pps e a boa gastronomia. Na beira do rio, lugar aberto, clima E haja história! A estrutura do pala-
Haus bier funciona há, mais ou me- agradável, preço bom e gente boa! O cete começou a ser construída por
nos, três anos e já foi palco de des- Cais do Porto fica na orla de Juazei- um “coronel” pernambucano ainda
files de moda, shows de lançamento ro e toca de tudo o que você pensar. em 1920. Mas, só em 1925 que ele
para artistas locais e sempre abre Tem tributos a banda de rock, show foi morar no local. Desde então, o pa-
espaço para apresentações de músi- de DJ’s, MPB’s, gente alternativa e lacete foi clínica de saúde, repartição
cos da região. O funcionamento é na cerveja barata, sem contar nos pe- federal, quase demolida em 1977 e
quinta e sexta a partir das 18 horas tiscos que são bem falados também. finalmente museu em 1978.
e nos sábados e domingos a partir O bar abre todos os dias da semana, Por conta da falta de estrutura e de
das 16 horas com música ao vivo e mas é no sábado que ele se torna o profissionais, o museu foi fechado
entrada gratuita. Então, se você está lugar de encontro de todo mundo. em 2001 reabrindo sete anos de-
disposto a curtir uma noite agradá- O ditado é, mais ou menos, esse: se pois. Hoje o museu possui em torno
vel, comer um petisco e tomar um você estava numa festa e ela acabou de cinco mil peças entre fotografias,
bom chopp esse bar é o lugar certo. cedo: vai para o Cais. Se você não medalhas, estandartes e mobílias do
tem para onde ir: vai para o Cais. Se século XIX e ainda uma relíquia que
você tem para onde ir, mas prefere o é uma carta de 1810 com assinatura
Cais: vai para o Cais. É simples e re- de D. Pedro I. Há também histórias de
comendado. que existe um porão no museu que
Lá não cobra entrada quando tem servia como moradia para escravos.
shows privados, a não ser a contri- A Fundação Museu Regional do São
buição para as bandas, que é volun- Francisco fica no Centro de Juazeiro,
tário. E a noite no sábado começa às na Praça Imaculada Conceição, abre
22 horas e só termina no outro dia; diariamente e cobra entrada de um
tem que ter disposição! real por pessoa. •

09
Uma viagem ao passado:
a história contada através dos museus
Texto e foto de Andressa Silva

Quem procura novas narrativas diano. Sentimentos como a saudade


pode ter outra opção além do livro ou são desencadeados, tornando a visi-
páginas da Web. Para conhecer a pri- ta mais emocionante”, conta a geren-
meira, basta ir ao centro de Petrolina te Kátia Carvalho.
– PE. Atravessando o rio, num pas-
Para preservar a história do ho-
seio tranquilo e agradável, é possível
mem sertanejo, o Museu do Sertão
encontrar uma nova história. Cada
foi criado em 1985 e é mantido pela muito antiga. E eu trabalhei com um
detalhe será revelado pelo chão, pa-
prefeitura de Petrolina até hoje. Apre- tio nos meus 14 anos e tinha uma
redes, objetos fotografias, quadros,
senta um acervo com cerca de 3.200 máquina dessas lá. E me fez recordar
num passeio cativante.
peças. Entre as mais antigas, um muita coisa”, conta o turista.
Em Petrolina, a história do Ser- oratório e uma cama de couro cru,
Descendo as escadas podemos
tão é guiada por objetos peculiares, do século XVIII, elementos que com-
conhecer um porão cujos visitantes
esculturas de personagens e símbo- põem o quarto do sertanejo.
encontram exposições de pedras da
los que narram tradições políticas,
Na cidade vizinha, a arquitetura região. Nele funcionava a moradia de
religiosas e sociais da cidade e de
encanta. Largas portas e grandes ja- ex- escravos que trabalharam para o
municípios vizinhos. Carrancas, pi-
nelas permite observar cada detalhe. coronel Miguel Lopes, também ser-
lões, fogão à lenha, bolsa de couro,
A história começa a ser escrita em vindo de depósito de abastecimento
berrantes. Nesse percurso, também
1978, quando o palacete do coronel dos vapores que chegavam. O acer-
encontrará estátuas de Frei Damião
Miguel Siqueira começou a formar o vo regional é constituído por quase
e Padre Cícero, vestuário do bispo
Museu Regional do São Francisco. 5.000 mil peças. Segundo colabora-
Dom Antônio Maria Malan e uma ré-
Lâmpadas ou lampiões a querosene, doras, durante o ano recebe a visita
plica da igreja Catedral. E para saber
peças de porcelana inglesa, sala de de aproximadamente 806 pessoas
um pouco sobre Lampião, o chapéu
visita de madeira faia e palha da cos- entre turistas e moradores.
de couro e uma carta da época do
ta, são algumas das peças do século
cangaço (original e cópia) endere- Jaira dos Santos, professora,
XIX. Mas o objeto mais antigo é uma
çada ao Coronel de Salgueiro – PE, também conheceu Juazeiro pela
carta patente (decreto com a assina-
Veremundo Soares, fazem parte da primeira vez. “Museu é sempre bom
tura de Dom Pedro I) de meados de
composição. Representando o rei do porque retrata a história, o passado.
1810. As belas esculturas de carran-
baião, Luiz Gonzaga, a sanfona, tex- Restaura uma história que deixa viva
cas, utensílios que preservam a me-
tos e imagens. na memória das pessoas, valorizan-
mória do século XX, uma máquina de
do a cultura da terra. Isso é impor-
O museu recebe aproximada- refrigerante em cobre e ferro, e um
tante, eu gosto de visitar os museus”,
mente 800 pessoas por mês. A moinho de mandioca em madeira,
disse.
maioria de outros estados, além de são itens que encontrará ao visitar.
estrangeiros em algumas épocas do Para quem ficou com vontade
Uma narrativa nos permite via-
ano. “Poderíamos receber um núme- de visitar e conhecer sobre essas
jar e conhecer sobre a cultura de
ro maior de visitas. Isso ainda não histórias, o Museu do Sertão está lo-
um povo. Além disso, nos faz sentir
acontece porque a população não calizado na Rua Esmelinda Brandão,
parte dela ou rememorar algum fato
tem o hábito de fazer programas cul- sem número, Centro; e a entrada é
em nossas vidas. É como se sente
turais. Elas perdem em conhecimen- gratuita. Já o Museu Regional do São
Antônio Oliveira, 72 anos, natural de
to histórico. Já dizia Cid Carvalho: o Francisco, fica na Rua Américo Alves,
Castro Alves – Bahia. “É interessante
museu é o cofre da história. Muitos número 29, Centro de Juazeiro - BA,
porque até tem coisas que lembrou
se emocionam ao se deparar com cuja entrada custa R$ 3,00 por pes-
um pouco do meu passado. Por
peças que fizeram parte do seu coti- soa. •
exemplo, uma máquina registradora,
10
A Bahia é um estado diverso e destaca “a carranca é o símbolo da

Casa do cheio de belezas em cada canto des-


sa terra de misturas é perceptível às
singularidades de cada povo, cada
nossa cidade”.
Chegar à casa de uma família tra-
dicional de Juazeiro é certo encontrar

artesão: território, das comidas, do clima e da


cultura. Na cidade de Juazeiro, norte
do estado, a arte e a cultura são mui-
uma carranca em alguma parte da
casa, mas para além das carrancas,
o artesanato em Juazeiro é muito

arte e to vivenciadas, berço de grandes no-


mes da música brasileira, com paisa-
gem já conhecida pelas telenovelas e
forte e para reunir a gama de artistas,
artesãos e artesãs da cidade, nasce
em dia 28 de janeiro de 2010, a Casa
cultura filmes, Juazeiro é uma bonita cidade,
acolhedora e calorosa.
do Artesão de Juazeiro como um es-
paço que contempla a arte e divulga

do Vale A carranca de Ana das Carran- o trabalho realizado pelos artistas da


cas virou símbolo do Vale do São região.
Francisco, pois, carregada de signi- Localizada em um ponto muito

do São ficados, ainda hoje é procurada por


turistas de várias partes do país e do
mundo para espantar maus espíritos
importante da cidade, a sede fica na
orla as margem do Velho Chico e ao
lado do Varporzinho que é um grande

Francisco e energias de baixa vibração, além


de servir como representatividade da
visita feita ao Vale do São Francisco,
símbolo da história de Juazeiro, nes-
se cenário é que a casa do artesão
fica fechando esse ciclo de simbo-
Texto e foto de Jaqueline Santos a respeito disso, a artesã Dona Do- logias e pontos turísticos tão impor-
ralice de Jesus de Souza de 75 anos tantes para a cidade. •
Do
outro
lado
do rio
Tem ilhas!
Texto e fotos de Danilo Borges

09
É fato que o Rio São Francisco aproximadamente 12 km do centro ter três a quatro mil frequentadores/a
é conhecido nacionalmente, chega- da cidade de Juazeiro-BA) e a ilha do nos finais de semana.
mos até cogitar que internacional- Fogo (situada na divisa do rio entre
mente seu nome é referência. Um as cidades) fazem parte do conjunto Lívia Souza, assídua frequentado-
dos mais importantes cursos d’água existente nessa região. ra, comenta: “Pensar em meu lazer é
doce do país e da América do Sul, o pensar nos meus finais de semana
Rio tem um percurso de 2800 quilô- Águas tranquilas, doces e claras, na ilha do Rodeadouro. Gosto muito
metros passando por cinco estados com vegetação diversificada ao seu desse lugar. Ele me traz paz. É agra-
do Brasil. Mas, o que pouca gente redor, as ilhas fazem parte dos car- dável e onde posso encontrar os
sabe é que este rio tem pequenas tões postais das cidades. Possuido- meus amigos”, afirma.
ilhas. Na região do Médio São Fran- ra de paisagens naturais, compondo
a biodiversidade da região, suas his- Além dos estudantes que utili-
cisco, especificamente, no território zam as ilhas como espaço de lazer
que abrange as cidades de Juazei- tórias possuem diferentes relatos.
Desde o surgimento atrelada a con- , as populações ribeirinhas - pesca-
ro-BA e Petrolina-Pe, existem ilhas, dores e pescadoras, também usam
que garante o sustento, a diversão e tos folclóricos, como o caso da ilha
do Fogo, que é rica em encantos e como fonte a de geração de renda.
a cultura das populações.
ledas contadas pelos ribeirinhos, até “Eu estou aqui com mais de 36
certificada pela memória oral, como anos, já tem pescadores que nas-
As ilhas território que formou as cidades, co- ceram aqui, sobrevivo da pesca, é a
mo o caso da ilha do Rodeadouro, na minha renda. Tem o problema da
Com valores históricos, culturais
formação da cidade de Juazeiro-BA. degradação a gente tem que plantar
e turísticos que traduz a pluralidade
dos sertanejos e sertanejas do Vale Para chegar até as ilhas existem mais árvores porque já tem risco, o
do São Francisco, região conhecida diferentes trajetos. Com execeção risco seco, não tem mais chuva, até
por ser o ponto de encontro entre da ilha do Fogo, que pode ser aces- a pesca esta ruim de peixe, pra gente
Bahia e Pernambuco. As ilhas são sada com um trajeto feito a pé sobre sobreviver”, relatou o pescador Ta-
muito frequentadas pelos morado- a ponte, as ilhas do Massangano e deu Reis, 57 anos, relatou.
res das duas cidades e também por do Rodeadouro necessitam da utili- Além disso, as ilhas dispõem de
regiões circunvizinhas . Ambiente de zação do tráfego aquático, podendo aspectos culturais presentes no co-
lazer, onde crianças, jovens e adul- ser acessado através das luxuosas tidiano da população. O samba de
tos, podem dispor como área de barquinhas localizadas nas margens véio, característico da região , é pa-
diversão , encontro de amigos e fa- do rio.
tente nas ilhas do Rodeadouro e do
miliares, passeios de caiaque e ativi-
A variedade do público é predo- Massangano. Já a ilha do fogo é pos-
dades físicas, as ilhas são locais que
minante e não tem exatidão com re- sível encontrar alguns coletivos que
todos devem ir.
lação aos números de pessoas que usurfruem da ilha. Conhecer as ilhas
A ilha do Massangano (localizada acessam as ilhas por ano, mas, é é um grande motivo para se divertir,
a 15 km do centro de Petrolina-PE), sabido que em altas temporadas, além de conhecer a história do povo
ilha do Rodeadouro (localizada a entre dezembro fevereiro chegam a e da região. •

13
Agite antes
de nadar
Texto e fotos de Giúllian Rodrigues

Cada vez mais, o bem estar físico e Nos últimos cinco anos, esses es-
mental é buscado pelas pessoas para portes ganharam muitos adeptos no
que se tenha uma melhor qualidade de rio. Entre as cidades de Petrolina (PE) e
vida. O estresse do dia a dia por conta Juazeiro (BA), nas proximidades da Ilha
da vida corrida vem sendo combatido do Fogo, já é comum ver pessoas em
com a prática esportiva em diferentes cima de caiaques e pranchas de stand
modalidades. O esporte tem se tor- up sobre as águas do Velho Chico, prin-
nado um dos principais meios para se cipalmente nos finais de tarde. Além de
balancear corpo e mente e, no litoral, é ser um entretenimento para os mora-
comum ver o stand up paddle (SUP), o dores, essas atividades também são
kite surf, o caiaque e outras versões de uma boa dica para visitantes que quei-
esportes aquáticos. E por que não prati- ram contemplar a paisagem de um dos
car esses esportes também nas águas principais rios do Brasil por um ângulo
do Rio São Francisco? diferente. (p. 16 e 17)
As águas tranquilas do São Fran- correnteza do rio, o que torna a via- a ponte e chegar ao rio por meio de
cisco são ideais para um passeio no gem menos cansativa. Para quem cordas presas ao corpo. Para quem
rio, seja remando em cima de uma não tem um caiaque, é preciso veri- não tem experiência, a equipe auxilia
prancha de stand up paddle ou di- ficar a disponibilidade dos alugueis antes e durante a descida, ensinando
vidindo a tarefa em um caiaque. Na com a devolução num ponto diferen- os passos que devem ser seguidos
margem baiana do Velho Chico, logo te do da entrega. no esporte. A altura varia de acor-
ao lado da ponte Presidente Dutra, do com o nível do rio: entre 10 e 15
Um pouco mais de ação
é possível alugar equipamentos pa- metros. Apesar de causar receio em
ra a prática desses esportes. Antes A Ponte Presidente Dutra não é alguns praticantes, é uma atividade
de cair na água, é preciso verificar a utilizada apenas para a travessia de segura quando acompanhada pelos
qualidade dos equipamentos junto carros e pedestres. Para quem quer profissionais.
aos responsáveis e não esquecer o atividades com mais adrenalina, a
A mais radical e provavelmente
colete salva vidas para evitar aciden- dica é procurar o grupo Sertão Ad-
a mais inusitada das atividades é o
tes durante a atividade. A segurança venture. Normalmente, aos sábados
rope swing. Também conhecido co-
deve vir sempre em primeiro lugar. e domingos, a equipe organiza ativi-
mo pêndulo, o rope swing não traz
dades que exigem do esportista um
Para quem é marinheiro de pri- perigo se praticado com segurança.
pouco mais de ousadia e coragem.
meira viagem, o caiaque é o mais No salto, a corda é presa de um lado
As modalidades variam a cada final
indicado por dar uma segurança e da ponte, passa por baixo dela e se
de semana e é cobrada apenas uma
estabilidade maior ao esportista. A prende à pessoa, que depois da que-
taxa para a manutenção dos equipa-
prática pode ser feita por uma só da livre, balança como se fosse um
mentos. O praticante tem as opções
pessoa ou até em duplas. Já o stand pêndulo até ir parando ao tocar as
de testar o rapel, a tirolesa e o rope
up paddle requer um pouco mais de águas do rio.
swing e sentir a aventura de se arris-
equilíbrio: subir e ficar em pé na pran-
car um pouco mais entre a ponte e
cha pode ser um pouco complicado
o rio.
para quem ainda não tem a prática, A melhor vista do pôr do sol
mas com um pouco de paciência e Na tirolesa, o praticante desliza
Gostar da natureza, de sentir o
disposição, logo as tentativas se con- por uma corda. É uma atividade ani-
vento, a água, a terra, o calor, o frio e
cretizam. A dica dos instrutores que mada, mas ainda assim tranquila e
ter disposição são os pré-requisitos
ficam no local é começar de joelhos segura, que pode ser feita por pes-
para ser um esportista nas águas
na prancha e só depois tentar levan- soas de várias idades. Membros da
do Rio São Francisco. De presente,
tar-se. equipe acompanham o desempenho
o praticante ganha a melhor posição
de quem testa a modalidade, do co-
Esses equipamentos também para apreciar um pôr do sol encanta-
meço ao fim, dando suporte no pon-
podem ser encontrados para aluguel dor, podendo obser-
to final da travessia, quando o prati-
nas ilhas entre Petrolina e Juazeiro. var Petrolina e Ju-
cante chega à altura da água do rio
Muitos praticantes locais fazem o azeiro, a ponte que
e a velocidade diminui
percurso de aproximadamente 12 liga as duas cida-
gradativamente.
km entre a Ilha do Rodeadouro e a des, a Ilha e sentir
Ilha do Fogo de caiaque. Munidos de Já o rapel exige um toda a energia de
água, frutas e muito protetor solar, pouco mais de técni- um lugar incrível. •
eles seguem o trajeto no sentido da ca. O objetivo é descer
Relato de experiência

O rope swing é um dos esportes mais


divertidos para ser praticado no Rio São
Francisco. O frio na barriga e o medo da
altura ao olhar para baixo logo são toma-
dos pela adrenalina que se espalha por
todo o corpo e fazem o esportista que-
rer descer mais uma vez. A duração do
pêndulo varia de acordo com o peso do
praticante e a velocidade alcançada, mas
também é fundamental levantar as per-
nas, a fim de que o corpo não toque na
água logo no começo e o balanço dure
mais tempo.
O stand up paddle e o caiaque são es-
portes mais tranquilos, ideais para quem
quer realmente dar aquela curtida no vi-
sual e relaxar sobre as águas do Velho
Chico. Um ponto negativo é o pouco su-
porte dos profissionais que alugam os
equipamentos, por isso é preciso cuida-
do. O praticante também deve sempre
estar atento às lanchas e jet-skis que
passam em alta velocidade, próximo
ao local onde se concentra a prática do
caiaque e stand up. Ainda não há uma le-
gislação vigente que regule a passagem
desses veículos em áreas ocupadas por
banhistas e esportistas.
Comer bem,
que mal
tem?
Texto de Giúllian Rodrigues
Fotos: Divulgação

Caminhar sob o sol do Vale do E quem quer experimentar a fa- Quando se fala em peixe regio-
São Francisco e conhecer as cida- mosa carne, não pode deixar de co- nal, ganham destaque o surubim e
des, as ilhas, conversar com as pes- nhecer o Bodódromo, um complexo o cari. O primeiro, por sua coloração
soas e cruzar a ponte que separa gastronômico, em Petrolina, que é e sabor, é considerado o salmão do
Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) são ati- considerado o maior local do mun- São Francisco e tem ganhado cada
vidades obrigatórias pra quem vem à do especializado em carne de bode. vez mais destaque no cenário local.
região pela primeira vez. E como todo São cerca de 10 restaurantes com Já o cari, por ter como característica
bom roteiro turístico, explorar feiras e várias opções: bode assado e cozido, a pele dura e a carne macia, é con-
restaurantes para conhecer um pou- buchada de bode, linguiça artesanal, siderado a lagosta rio. Alguns res-
co mais sobre a gastronomia local casquinha e kafta de bode e outros taurantes apostam na variação de
também é indispensável em uma pratos feitos a partir da carne do ca- pratos a partir desses peixes, como
viagem. prino. Os ovinos também tem espa- as moquecas preparadas com in-
ço garantido no Bodódromo. Inclu- gredientes regionais. O cari também
Quando se fala em comida, algo
sive, por ser considerada uma carne pode ser encontrado na forma de um
que se ouve falar bastante pelo Vale é
mais leve e macia, a carne de carnei- vatapá servido dentro da casca do
o famoso bode. As criações de capri-
ro é muitas vezes mais utilizada na maracujá, ficando conhecido como
nos e ovinos se espalham pelo ser-
gastronomia local. Os tradicionais maracari.
tão do São Francisco e, não à toa, o
acompanhamentos são o feijão ver-
consumo das carnes desses animais A onda gourmet também está
de, o purê de macaxeira, a macaxeira
é bem forte na região. Fernanda Be- presente na região. Paula Theotonio,
frita, o pirão e o arroz cozido.
zerra é zootecnista e se considera jornalista e editora do blog Terroir, es-
uma apreciadora da carne. Ela fala o pecializado em gastronomia regional,
quanto esses animais são importan- Outra carne que não pode passar destaca que há uma infinidade de sa-
tes para a vida dos produtores locais. em branco é a de peixe. As águas do bores a serem explorados, inclusive
“A produção de caprinos e ovinos é rio São Francisco são ideais para a para quem não abre mão de pratos
um dos pilares de sustentação da piscicultura e há produção em lar- mais refinados. “Temos alguns res-
agricultura familiar do Vale do São ga escala de tilápia e tambaqui, por taurantes que apostam no gourmet
Francisco, principalmente por serem exemplo. Nos balneários da região, regional e muitos oferecem pratos
animais bem adaptados ao clima da é possível encontrar esses peixes com leituras requintadas de situa-
região. Já é da cultura do sertanejo servidos fritos ou assados na brasa, ções regionais, que é a grande ten-
produzir e consumir essas carnes e sempre acompanhados de arroz, fei- dência da gastronomia no momento:
nós aqui adoramos”, comenta. jão verde, salada e macaxeira frita. a valorização do produtor local”. •
18
Um bom acompanhamento A palavra de quem entende
Para acompanhar toda essa ri-
queza gastronômica, é preciso des- “Acho que podemos explorar mais
tacar as bebidas produzidas no Vale nossos ingredientes regionais. Exis-
do São Francisco. Da uva, tem-se os tem infinitas possibilidades de re-
sucos, os vinhos, espumantes e ou- ceitas e acredito que o limite está
tros destilados. Paula pontua que há na criatividade das pessoas e na
opções muito boas de vinhos, com apropriação de novas técnicas para
preços variados e um sabor único. prepará-los de maneira diferente. Te-
“Pluviosidade de cerca de 500 mm mos nossas frutas, nossos queijos,
por ano, três mil horas de sol por ano nosso mel que devem ser mais utili-
e 50% de umidade relativa do ar tra- zados nas receitas de forma criativa.
Um caldinho para abrir o apetite
zem uma grande diferença entre os É preciso um pouco mais de pesqui-
Muito comum na região, o caldo sa sobre a produção dos artesãos
vinhos produzidos no Vale do São
de feijão e carne de charque é servido da gastronomia local, até porque no
Francisco e os do restante do país e
na maioria dos restaurantes. Alguns slow food é isso que se prega: valori-
mundo”, comenta.
locais oferecem a opção de trocar zar o produtor para poder fortalecer a
Paula também destaca que tem o charque pelo camarão e até de cadeia gastronômica como um todo.
crescido bastante a produção de misturar os dois ingredientes. Para O crescimento da gastronomia regio-
cervejas artesanais. “Muitos aprecia- acompanhar, normalmente são ser- nal passa pela valorização de seus
dores não têm se contentado com o vidas torradas, ovo de codorna cozi- produtos e seus produtores”.
posto de consumidores, passando a do e azeitonas.
fabricar sua versão preferida dentro Paula Theotonio
O bom e velho cuscuz
de casa, com equipamentos básicos Jornalista e editora do blog Meu Terroir
e muita vontade de fazer a diferença. Costumeiro na alimentação do
São os famosos homebrewers”. De nordestino, o cuscuz ganhou diver-
acordo com a jornalista, as cervejas sas versões em Petrolina. É possível
ainda são pouco comercializadas em encontrar pela cidade várias opções
restaurantes por causa da legislação de cuscuzerias, que oferecem desde
e, para encontrá-las, a dica é procu- sabores tradicionais, como outros
rar pelos produtores ou ir em casas mais singulares, como o cuscuz de
especializadas na venda de cervejas calabresa e queijo cheddar. Há tam-
premium da cidade. bém opções doces nos cardápios.

Para mais informações sobre


a gastronomia local e outras
curiosidades da cúlinaria e
receitas típicas da região, acesse:

www.meuterroir.com

19
O enoturismo
no sertão do São Francisco
Texto de Jacira Félix
Fotos: Divulgação

Há cinco anos o Vapor do vinho o Vapor do Vinho com a proposta milagre: Parreirais no sertão, visitam
– empresa turística inaugurada em inovadora de apresentar ao turista plantações de uva no Vale, produção
2011 – oferece aos turistas que vi- as belezas e os milagres naturais do e degustação de vinhos regionais.
sitam o Vale do São Francisco um sertão do São Francisco. Tudo isso no município de Casa Nova
roteiro baseado no enoturismo. Um O passeio parte das Orlas – BA, na Fazenda Fortaleza e na Viní-
passeio deslumbrante que possibi- de Juazeiro – BA e Petrolina –PE, cola Terra nova (a única da Bahia). A
lita a navegação pelo Velho Chico e como o grupo definir, seguindo por passagem pela vinícola é segundo os
seus afluentes divulgando as belezas terra até o porto do balneário Chico visitantes um dos melhores momen-
naturais da região seguindo a rota do Periquito, em Sobradinho – BA. No tos do passeio que se encerra retor-
vinho. Conta Luiz Rogério, dono da porto, os visitantes a bordo na barca nando às cidades de onde partiram.
empresa, que após quatro décadas seguem para a barragem da cidade Para o cinegrafista Ailton
de experiência no ramo da navega- e assistem ao espetáculo da eclusa- Nery, amante da imagem, a experi-
ção, percebendo a necessidade de gem. Depois conhecem várias ilhas ência do passeio é enriquecedora, as
reinventar o seu negócio, investe no banhadas pelo Rio São Francisco. No paisagens são o que mais o impres-
turismo com suporte fluvial, algo que meio da tarde, os turistas iniciam a sionam. Segundo ele, mesmo na es-
o mesmo dominava. Eis que surge rota do vinho, passam a conhecer o trada é possível identificar situações

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e ambientes particulares da região. semana é de aproximadamente 70 gério, as pessoas que moram no Va-
Num total de oito horas, o passeio passageiros, mas a capacidade total le do São Francisco em sua maioria
ainda cumpre seu papel social, cons- chega a 300 turistas por dia. O valor não conhecem o roteiro, os lugares
cientizando os visitantes em defesa por pessoa é de R$ 145,00 com direi- da rota do Vapor do Vinho, o que para
do meio ambiente e do Velho Chico to a almoço, música ao vivo durante ele é preocupante. “Uma preciosida-
que vem sofrendo com a poluição, o o passeio e degustação de vinhos na de e as pessoas não têm interesse,
agronegócio exacerbado, entre ou- vinícola. Crianças de até oito anos muitos alegam condições financei-
tros fatores degradantes. Sobre esse não pagam e entre nove e doze anos ras e outros é o simples desinteres-
contexto comenta Ailton Nery: “O Rio pagam somente a metade do valor se” diz o empresário de turismo apai-
São Francisco por si só já é uma ma- integral. A equipe responsável pela xonado pelo que faz e pelas belezas
ravilha, mesmo estando nessas con- eficiência do passeio é dividida entre da região que o sustenta. “O passeio
dições, secando, morrendo”. E con- dez pessoas que trabalham no ge- do Vapor do Vinho não é coisa só de
clui dizendo que o passeio do Vapor renciamento da empresa, doze tra- Inglês”, afirma. •
do Vinho também é ecológico. balhando como guias ou motoristas
Turistas de todas as partes e cinco funcionários da vinícola que
podem fazer o passeio do Vapor do atendem os visitantes.
vinho durante os finais de semana O idealizador da empresa Mais informações:
e feriados, ou quando com agenda- Vapor do Vinho levanta uma crítica (74) 988051809
mento prévio de grupos com mais sobre o aproveitamento do passeio www.vapordovinho.com
de 30 pessoas. A média por fim de pelos ribeirinhos. Segundo Luiz Ro-

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A matriz
africana
presente
em Juazeiro
Texto de Jaqueline Santos
Foto: Divulgação

As margens do Rio São Francisco se encontra a ci-


dade de Juazeiro que fica no Norte da Bahia na divisa
com o Pernambuco. Com 73% da população de des-
cendência preta, Juazeiro tem dezenas de barracões
de religião de matriz africana.
Foi na Bahia do século XIX que ficou estabelecido
o modelo básico adotado pelo candomblé que conhe-
cemos hoje. Segundo a tradição, o Ilê Iya Nassô – a
Casa de Mãe Nassô, popularmente conhecido como
Candomblé do Engenho Velho ou Casa Branca – te-
ria sido o primeiro a celebrar diferentes deuses simul-
taneamente sob o mesmo teto. Essa prática refletiria
alianças entre grupos étnicos diferentes, contribuindo
para a consolidação de novas identidades africanas
em terras brasileiras.
Há diferentes diásporas dentro da diáspora africa-
na. Negros Fons ou Nação Jeje, negros Yorubás ou
Nação Ketu, negros Bantos ou Nação Angola. Cada

22
uma dessas 03 nações tem dialeto e dos deuses africanos como cabo- a sua casa de morada, muitos deles
ritualística própria. Mas, houve uma clos, pretos velhos, crianças, boiadei- em fase de construção. É admirável
grande coligação entre os deuses ros, espíritos das águas, eguns, exus, ver o amor devotado por essas pes-
adorados nessas 03 (três) nações, e outras entidades desencarnadas soas ao Candomblé e a Umbanda. O
por exemplo: Na Nação Jeje os deu- na Terra, sincretizando geralmente povo negro traz em sua história, mui-
ses são chamados de Voduns, na as religiões católica e espírita. O che- ta arte, muita música e dança, inclu-
Nação Ketu, de Orixás, na Nação de fe da casa é conhecido como Pai de sive na manifestação da fé o corpo e
Angola, de Inkices. Santo e seus filiados são os filhos ou a música são instrumentos centrais
Os povos escravizados possuíam filhas de santo. para cultuar seus deuses. É sabido
suas próprias danças, cantos, san- São grupos submetidos histori- que existe ainda muita “intolerância
tos e festas religiosas. Aos poucos, camente a violentos processos de religiosa”, não faz muito tempo o ter-
eles foram misturando os ritos ca- invisibilização. Hoje, segundo dados reiro Ilê Abasy de OiáGnã no bairro
tólicos presentes com os elementos da Associação Espírita e de Cultos periférico do Quidé, sofreu ataques
dos cultos africanos, na tentativa de Afro-brasileiro, fundada em 17 de graves e isso é reflexo também, da
resgatar a atmosfera mística da pá- dezembro de 2007, entre Petrolina e ignorância e desconhecimento exis-
tria distante. O contato direto com a Juazeiro, são mais de 400 terreiros tente mesmo com tanta chance de
natureza fazia com que atribuíssem envolvendo Candomblé, Umbanda, desconstruir essas práticas e cons-
todos os tipos de poder a ela e que li- tendas, casas brancas, casas de ses- truir respeito e exercício da liberdade
gassem seus deuses aos elementos são, centros espíritas de orientação coletiva.
nela presentes. Diversas divindades umbandista, mesas brancas, casas O povo negro resiste, inclusive
africanas foram tomando força na de orações, entre outras. existe justamente por ter na história
terra dos brasileiros. A maioria dos Yalorixás e Babalo- e na essência a resistência, com fes-
A Umbanda incorpora os adeptos rixás tem seus terreiros associados ta, com dança, com muita fé e luta. •

Algumas festas do Camdomblé e da Umbanda


01 de janeiro: Junho: 27 de setembro:
Festa de Oxalá, orixá da paz; Festejam Xangô, orixá do fogo, da Festas para Cosme, Damião, Ibejes
justiça; e Erês, orixás crianças, da alegria;
02 de fevereiro:
Festa de Yemanjá, orixá do mar; 02 de Julho: Novembro:
Bandalecongo – Bate folhas; Festa de boiadeiros;
23 de abril:
Festa de Oxossi, orixá das plantas e 16 de agosto: 04 de dezembro:
dos bichos; Festejam-se os Olubajés de Omolú Festa de Iansã, orixá dos raios e
e Obaluaê orixás da saúde; ainda em tempestades.
13 de maio: agosto fazem oferendas a Oxum
Festas para os pretos velhos; parte Maré, orixá das águas doces, das 08 de dezembro:
dos terreiros cachoeiras e ao orixá Tempo ligado Festa de Oxum, orixá das águas do
comemoram as festas de Ogum, à longevidade, à durabilidade das rio.
orixá dos metais; coisas e ao passar do tempo;

10
Exposição de caprinos e
ovinos movimenta o turismo
no Vale do São Francisco
Texto de Jacira Félix
Foto: Prefeitura Municipal de Juazeiro

A Expovale, exposição de caprinos animais de sete raças diferentes. e contribuído para a economia da
e ovinos do Vale do São Francisco, Para o criador José Antônio, da ci- região. A atividade caprina e ovina
que alcança Juazeiro – BA e região, dade de Santo Antônio de Jesus, na movimenta no Vale do São Francis-
chega a sua décima edição em 2016. Bahia, a diversidade de criadores de co, mais de R$ 228 milhões durante
O evento é uma realização da Prefei- animais é um ponto positivo. “A feira o ano, gerando emprego e renda pa-
tura Municipal de Juazeiro através da é muito boa, as pessoas procuram ra inúmeras famílias. No Nordeste, a
Secretaria de Agricultura Pecuária e muito, visitam muito. Pra nós de ou- Bahia é o estado que possui o maior
Abastecimento (SEAPA) em parceria tras cidades é uma satisfação”, disse rebanho de caprinos, cerca de 4,1 mi-
com Associação dos Criadores de o criador que participa pela primeira lhões de cabeças, correspondentes a
Caprinos e Ovinos de Sertão do São vez da Expovale. Fortalecendo o tu- 42,2% do total nordestino e 39% do
Francisco (ACCOSSF) Com uma pro- rismo do Vale do São Francisco a efetivo nacional. Essa atividade eco-
gramação diversificada de exposição feira de Caprinos e ovinos ressalta as nômica é evidenciada todos os anos
de animais, desfiles, leilões. A feira belezas e riquezas da região. na Expovale que por sua importância
também movimenta o turismo local. A caprinovinocultura tem cresci- se tornou rota turística de criadores e
Por seu destaque nacional no ramo do significativamente em Juazeiro simpatizantes. •
da caprinovinocultura, a Expovale
recebe criadores de vários estados
brasileiros e de outros países.
Trinta mil pessoas, entre visi-
tantes e expositores, estão sendo
esperadas durante os cinco dias da
programação do evento. A cada ano
a feira cresce e se torna mais tradi-
cional na região. Para essa edição a
expectativa é de movimentar mais
de um milhão de reais. De acordo
com o diretor financeiro da ACCOS-
SF, Salvador Júnior, a exposição traz
grandes novidades. “A exemplo do
primeiro torneio leiteiro do evento, a
realização da ‘Nordestina Anglo Nu-
biana’ - competição para eleger os
melhores animais da raça nordestina
e dois leilões”, comenta.
Na décima edição, criadores da
Bahia, Pernambuco, Piauí, Paraíba e
Sergipe vão expor um total de 1500
24
Fenagri: tradição e turismo
Texto e foto de Andressa Silva

A Feira Nacional de Agricultura serviços. A Fenagri promove a troca cidades, os museus, o artesanato
Irrigada – FENAGRI acontece em de informação e experiências entre com as originais carrancas e outras
Petrolina ou Juazeiro, promovendo produtores rurais, empresários, fabri- peças. Os serviços de taxi também
a discussão de diversas temáticas e cantes, revendedores, pesquisado- crescem nesse período.
capacitações. Considerado o maior res, estudantes, técnicos, exportado-
evento da América Latina, atrai tu- res e importadores, e simpatizantes.
Tecnologia
ristas de diversas regiões do Brasil e A feira que acontece há 25 anos
outros países. nas cidades de Petrolina e Juazeiro, Em 2014 a feira contou com a
De acordo com o Ministério atrai participantes de diversas locali- divulgação de um aplicativo para
da Agricultura, o Brasil é o terceiro dades do país e estrangeiros. Em to- smartphones e tablets. Desenvolvido
maior produtor mundial de frutas. A dos os anos, contribui para a grande por dois profissionais de ciência da
maior parte da produção destina-se movimentação em hotéis, nos seto- computação, o aplicativo serviu para
ao mercado interno e uma pequena res de alimentação e lazer. Durante oferecer serviços e guiar os visitan-
parcela é vendida no mercado inter- os dias do evento, aumenta a procura tes pelas ruas e pontos turísticos da
nacional. No Vale do São Francisco, por passeios turísticos às vinícolas e região. Em seu conteúdo, indicações
a agricultura irrigada contribui sig- às ilhas do Velho Chico, tendo desta- de hotéis, restaurantes, bares, locais
nificativamente para o desenvolvi- que a do Rodeadouro, que encanta de visitação e taxi. Trouxe também
mento da região. É responsável pelo com os sabores variados de peixes fotografias e mapas, mostrando, in-
sustento de várias famílias através da típica gastronomia sertaneja. clusive, a distância onde o turista es-
do trabalho no campo ou nos polos Outras rotas oferecidas pelas tá até o local a ser visitado. “Isso in-
industriais. agências de viagem e guias de turis- crementa o sistema de informações
Os visitantes podem participar mo são as fazendas de produção de turísticas da cidade. É mais uma fer-
de atividades como seminários, mi- frutas, projetos de irrigação, turismo ramenta que a gente tem para expor
nicursos, workshops, rodadas de náutico e rural. Além deles, outros os empreendimentos turísticos”, afir-
negócio, exposição de produtos e atrativos são catedrais de ambas as ma o gestor de turismo de Petrolina. •
25
Minha gente, meu povo anota o que eu escrevi
falei sobre o turismo que existe aqui.

Agitado que só,


com ruas estreitinhas,
as construções são antigas e bem bonitinhas.

A orla de Juazeiro é o ponto mais bonito da cidade,


não precisa duvidar essa é a mais bela beldade.
Vá ao vaporzinho, outro ponto da cidade,
com a escultura de João Gilberto garanto que lhe agrade.
Tem também o Nego d’água
a lenda que inspirou
a história do povo de Juazeiro, ele é um verdadeiro primor
As praças são bonitas e os monumentos são singelos,
tem o coreto, tem a catedral, tudo isso aqui é muito belo.
É no parque da lagoa do Calu que a população chega e vem visitar,
dança e som ao vivo são coisas que não vão faltar.
Se pensar na comida vem aqui, vou avisar:

As feiras livres presente aqui é o que há.


Repleta de cores, de frutas e sabores, não tem como não ir lá
Se o bode leva a fama, é porque você não provou.

O
Tem vinho, tem peixe que dá pra degustar só ou com seu amor.

O povo trabalhador com pouca vaidade,

turismo
vai a rua a noite dançar, remexendo a vontade.
Abraça aqui, beijo aculá ao som do violão,
nos bares aqui você vê isso com muito respeito e paixão.

que Se você ta pensando em conhecer mais a cidade,


não precisa se preocupar aqui tem tudo e é de qualidade.

existe Tem um passeio pelas barquinhas que te leva ao vapor do vinho,

aqui
conhecer as vinícolas aqui é bom e baratinho.

E por fim se você quiser uma lembrancinha, temos aqui a opção:


É passar no camelódromo e na casa do artesão,
Texto de Danilo Borges
Ilustração: Jason Ribeiro levar nossa recordação com amor e gratidão.
Eu vejo o presente
destruir o passado
Texto de João Pedro

“Peguei a Avenida Guararapes noite juntos. Voltamos àquela rua no Agora meu celular toca “Como
com fones de ouvido a postos. No outro dia, dessa vez para tomar um Vês”, de Alice Caymmi. “Ele quer me
celular, um aplicativo de música al- café. Era meu último dia em Petro- destruir...” Me deparo, então, com a
ternava artistas da nova geração da lina depois de uma viagem que fiz mesma frase, escrita na parede de
MPB. Quando desço a Rua Barbosa pela minha universidade. Tínhamos um dos prédios em ruínas. Me per-
Lima, começa a tocar Marcelo Je- consciência de que nunca mais nos gunto: Quem destruiu esse pedaço
neci. “O que vale nessa vida tem um veríamos, mas queríamos aproveitar da cidade? Por que está tudo nesse
pouco do seu jeito…” E assim vou ou- cada momento da despedida… estado, tão lamentável? Confesso:
vindo “O melhor da vida” enquanto não obtive resposta.
caminho em direção à região conhe- E eu me despedi. Voltei para
Mas a música continuou: “Eu não
cida como Petrolina Antiga. casa. Hoje, a trabalho, estou nova-
sou ninguém...” Dessa vez, porém,
mente na Califórnia do Sertão. Mas,
É um trecho histórico. Esti- não tive dúvidas. Esse trecho da rua
ao chegar ao final da rua, me deparo
ve lá alguns anos atrás. Explicaram- Barbosa Lima, que já concentrou
com cacos de vidro espalhados pelo
-me que aquelas casas estão entre tanta agitação, que já foi ponto de
chão, portas trancadas, placas des-
as primeiras construções da cidade. comércio e já foi ponto cultural, que
truídas. Ninguém tinha me avisado
Pertenciam à família Coelho, uma já atraiu tanta gente de cidades vi-
que a vida que outrora pulsara ali pa-
família politicamente influente em zinhas (e, como eu, até de cidades
rou de bater. Percorro todo o trecho
Petrolina. Já abrigaram depósitos de mais distantes), tem sim importân-
enquanto passo a mão sobre aque-
mercadorias. Era uma região agitada cia. É, sim, alguém para a história.
las paredes. Parei em frente ao anti-
no século passado.
go café. Parece que o cheiro daquele Não sei quando voltarei à cidade.
Mas minha volta àquela rua ti- capuccino voltava às minhas narinas. Só tenho a esperança de que, quan-
nha outro motivo. Lembro-me de E ainda podia ver o sorriso que não do retornar, o destino da Petrolina
uma festa em uma casa de shows. saía do rosto de minha companhia. Antiga não tenha sido o mesmo que
Já havia bebido um pouco, mas mi- Mas, olhando outra vez para aque- naturalmente tomaram a festa, o ca-
nhas memórias ficaram preserva- las ruínas, foi como se uma marreta fé, o sorriso. Paredes de concreto não
das. E foi nessa noite que eu conheci tivesse sido lançada em direção às são instantes de um dia; e, por isso,
o sorriso mais lindo de minha vida… paredes das lembranças. Cacos se não podem se tornar apenas uma
Dançamos, beijamos, passamos a espalharam para todos os cantos. lembrança.”
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