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CONVERSÃO DE ENERGIA

AULA 1

Prof. Samuel Polato Ribas


CONVERSA INICIAL

Inicia-se aqui uma nova disciplina e uma nova oportunidade de


aprendizado. Esta aula visa chamar a atenção para a importância do
desenvolvimento energético e para os impactos que ele causa de forma direta
ou indireta em nossa vida cotidiana e na comunidade. Pode parecer que não
seja o foco do engenheiro, mas esse profissional tem a responsabilidade e a
obrigação de colocar os seus conhecimentos e serviços em prol da sociedade.
A conservação, as formas de conversão e a forma eficiente como a
energia é utilizada impacta diretamente no desenvolvimento de uma nação,
estado, cidade ou de uma indústria, afetando vários setores (econômico, social,
tecnológico e ambiental). Sendo assim, cabe ao futuro engenheiro saber como
suas ações influenciam o meio no qual ele convive e quais serão as suas
consequências.

CONTEXTUALIZANDO

Nesta aula, estudaremos os conceitos de eficiência energética e


conservação de energia, entendendo como esta afeta diretamente os aspectos
econômico, social e tecnológico. Cada vez mais as fontes de energia limpa têm
se tornado mais atrativas. Anteriormente inviáveis na maioria das aplicações
devido ao alto custo de investimento e o retorno ser de longo prazo, essa
relação, no entanto, vem aos poucos se invertendo. Isso só tem sido possível
devido à utilização de tecnologias mais eficientes a um menor custo.
Analisando calmamente essa afirmação, é possível relacionar uso
racional da energia, tecnologia, economia e o aspecto social, todos integrados
com apenas um propósito: gerar energia. Para isso, é necessário conservar e
converter.
Vamos compreender o que é a eficiência energética e quais as formas
de conservação de energia. Veremos também qual é a relação entre energia e
sustentabilidade e sua relação com o desenvolvimento econômico, social e
tecnológico de uma sociedade.

PROBLEMATIZANDO

O acesso à informação nos dias atuais é muito fácil. Basta querermos


encontrar algo. Em relação ao conhecimento sobre energia, isso não é
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diferente. A internet, por exemplo, está repleta de arquivos e vídeos sobre
energia, porém é necessário filtrar a informação e, às vezes, por falta de
conhecimento, fazemos isso de maneira errada. O fato é que precisamos de
um direcionamento, um conhecimento inicial. Pensando nisso, a seguir serão
apresentados os conhecimentos básicos para que o estudante possa se
aprofundar mais no conteúdo aqui abordado.
É sabido que a eficiência energética é uma realidade que deve ser
considerada, mas, na maioria das vezes, não é levada em consideração a
forma como ela afeta a todos. Quando mencionamos todos, nos referimos a
uma população.
Devemos saber como o conhecimento do engenheiro pode ser
empregado no desenvolvimento socioeconômico e tecnológico do meio em que
ele vive. Assim, sem dúvida, é muito importante pesquisar sobre formas de
economizar energia elétrica, formas de tornar o uso da energia mais eficiente e
como o desenvolvimento energético está influenciando nossa sociedade.

TEMA 1 – EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

A energia é a base para o desenvolvimento humano. Portanto, o seu uso


racional assim como o uso coerente das suas fontes é indispensável. Basta
voltarmos um pouco na história da humanidade para recordar que algumas
guerras já tiveram como causa a questão energética, por exemplo, a invasão
do Iraque em 2003.
Com o passar dos anos e com o interesse da sociedade se voltando
para outros assuntos, acabamos por esquecer esses fatos, entretanto percebe-
se que as nações desenvolvidas possuem grandes centrais conversoras de
energia e busca incessante por novas técnicas de conversão e economia de
energia.
Dessa forma, é evidente que a questão energética está relacionada
diretamente ao desenvolvimento dessas nações, que, em virtude de aumentar
sua capacidade e eficiência energética, adquirem liderança a nível mundial.
Essa liderança não se deve diretamente ao fato de possuírem uma alta
capacidade energética, mas sim de tudo que ela proporciona, por exemplo,
aumento do poderio militar.
Segundo o dicionário Michaelis (2017), energia é a “capacidade que um
corpo, um sistema de corpos ou uma substância tem de realizar trabalho,
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entendendo-se por trabalho a deslocação de um ponto e aplicação de uma
força”.
A energia é gerada por uma força e, assim como a eletricidade, não tem
cor, não tem cheiro, não tem sabor. Não podemos vê-la, apenas observar seus
efeitos. Não podemos gerá-la, mas podemos convertê-la e usá-la da forma
mais eficiente possível.
Ainda, segundo o dicionário Michaelis (2017), a energia pode ser
encontrada em várias formas diferentes. Podemos citar algumas: energia
calorífica, energia eólica, energia cinética, energia potencial, energia atômica.
O grande desafio é como utilizá-la de forma adequada e eficiente.
Com advento da modernidade, o padrão de vida das pessoas, de forma
geral, tende a aumentar e, com isso, o consumo de energia aumenta de forma
proporcional. A Figura 1 mostra um gráfico (publicado pela Energy Information
Administration, em 2009, em um documento chamado Dossiê Terra) que
aponta uma projeção do consumo de energia até 2030. Nota-se claramente um
aumento do número de BTUs (unidade térmica britânica), sendo 1 btu/hora
equivalente a aproximadamente 3,41215W.
A demanda global de energia triplicou nos últimos 50 anos e, como
prevê o gráfico da Figura 1, a tendência é que continue aumentando. Grande
parte dessa demanda vem de países industrializados e, na sua maioria, é
proveniente de combustíveis fósseis. Contudo, nota-se um aumento mais
acentuado na utilização de energia proveniente de fontes renováveis e de
energia nuclear.

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Figura 1 – Consumo mundial de energia comercializada por tipo de
combustível, 1990-2030.

Fonte:Energy Information Administration. Dossiê Terra, 2009, p. 84-85.

Para compreender como utilizar a eficiência energética, é necessário


conhecer os recursos energéticos disponíveis e saber como utilizá-los da
melhor forma possível. Atualmente a maior parte da energia consumida vem de
combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural. O grande problema
dessas fontes de energia é que se trata de recursos de difícil extração e de
difícil estimativa também, principalmente no que diz respeito ao petróleo, que
pode ser encontrado em profundidades que variam de pouco metros até vários
quilômetros.
O maior utilizador desses recursos é o Estados Unidos, porém a maioria
das pessoas não têm a noção de que esses recursos tendem a se tornar cada
vez mais escassos, o que força cada vez mais a busca por alternativas para
essas fontes de energia. Uma estimativa realizada pela United States Energy
Information Administration, em 2008, indica que o país possui 29,4 bilhões de
barris de petróleo em reservas. Sendo a sua produção diária atual de
aproximadamente 6 milhões de barris por dia, chega-se à conclusão de que a
produção é de 2,19 bilhões de barris por ano. Se esse número for mantido
constante, suas reservas terão duração de apenas 13,2 anos.

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No Brasil, segundo os critérios da ANP/SPE (Agência Nacional do
Petróleo/Society of Petroleum Engineers), em 31 de dezembro de 2016, as
reservas provadas de óleo, condensado e gás natural, atingiram 12,514 barris
de óleo equivalente. No final de 2015, essas reservas eram de 13,279 bilhões
de barris de óleo equivalentes. Podemos então concluir que, se nenhuma nova
reserva for descoberta e provada, e o consumo permanecer constante, as
reservas brasileiras terão duração de 16,4 anos.
Embora o Brasil e Estados Unidos possuam uma reserva considerável, é
certo que um dia ela irá acabar. Por esse motivo, os investimentos no
desenvolvimento de produtos com baixo consumo energético devem ser
ampliados e novas técnicas de economia são desenvolvidas.
De encontro ao fato de que os recursos provenientes de combustíveis
fósseis se esgotarão, estão as vantagens de se usar a energia de forma
consciente e também as vantagens em a conservar. Segundo Hinrichs,
Kleinbach e Reis (2016), podemos utilizar os seguintes argumentos para nos
convencermos que devemos utilizar a energia da maneira mais eficaz possível
e também conservá-la:

 É mais barato aplicar técnicas de conservação de energia das fontes


existentes do que custear o desenvolvimento de uma nova fonte de
energia.
 A conservação e o uso racional da energia disponível resultam hoje na
ampliação do tempo de duração dessas energias e dará mais tempo
para o desenvolvimento de novos recursos.
 Redução da poluição ambiental devido à geração de menos resíduos.
 A utilização de recursos fósseis é de extrema importância para alguns
segmentos industriais, como a farmacêutica, por exemplo, que é de
extrema importância para a humanidade.
 Medidas eficazes de conservação e uso eficiente de energia elétrica
podem ser praticadas imediatamente e podem trazer benefícios
imediatos, por exemplo, redução na tarifa de energia elétrica e menos
consumo de combustível pelos automóveis.

Com tais argumentos, fica difícil encontrar uma razão para que a
eficiência energética não seja praticada. Além de trazer benefícios pessoais, a

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economia e a conservação de energia trazem benefícios a toda a sociedade, o
que, de certa forma, resultará em mais benefícios pessoais.

TEMA 2 – DESENVOLVIMENTO

O consumo crescente de energia é um fato consumado. A tendência é


que ele aumente com o passar dos anos. Como comentado durante o tema 1,
a energia disponível deve ser usada de forma eficiente. Mais ainda, deve ser
usada de modo a prover o desenvolvimento de forma autossustentável,
evitando assim a degradação do meio ambiente. No tema 2, estudaremos
quais são as formas de geração de energia autossustentável.
Não se deve confundir o conceito de energia autossustentável com
formas de geração de energia que não agridem o meio ambiente. Não existe
ainda, com a tecnologia disponível hoje, uma forma de geração de energia que
não agrida o meio ambiente.
A relação entre energia e sustentabilidade está diretamente ligada à
capacidade de a energia ser gerada a partir de uma fonte que possa ser
renovada com base em recursos, teoricamente, inesgotáveis.
Falando especificamente de energia elétrica, segundo Goldemberg e
Lucon (2012), ela corresponde a aproximadamente 20% do consumo de
energia primária mundial. Cerca de 2 bilhões de pessoas ainda não têm acesso
a esse bem, o que torna seu desenvolvimento prioritário. Entretanto, a
produção deve ser realizada de modo a minimizar a geração de resíduos e
poluentes no meio ambiente. Entende-se como poluente qualquer tipo de
poluição, seja visual, sonora ou a alteração das características do local onde a
geração de energia será realizada.
Devem ser levados em consideração qualquer tipo de resíduos sólidos e
líquidos decorrentes da geração de energia elétrica. Além disso, levam-se em
conta possíveis falhas que venham a ocorrer no processo de conversão de
energia ou no transporte da matéria-prima. Como exemplo, podemos citar um
vazamento de gás em uma tubulação ou o vazamento de petróleo de um navio.
As formas de energias sustentáveis tendem a diminuir alguns riscos, em
especial o de geração de resíduos, porém não são capazes de eliminar o
impacto causado ao ambiente em seu entorno. Além disso, essas formas de
geração são muito dependentes de fatores climáticos e geográficos que
influenciam diretamente na capacidade de geração.
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Em usinas hidrelétricas, a topologia do local é um fator indispensável. É
necessário que a instalação seja feita em locais com uma acentuada queda de
água, pois a turbina que movimenta o gerador utilizará a energia potencial da
água. O grande impacto está relacionado à construção da barragem do
reservatório: primeiramente, em relação ao desvio do curso do rio para a
construção da barragem; em seguida, o reservatório inunda uma área
considerável, sendo necessária a remoção de famílias, animais silvestres e
perda de árvores e plantações que sejam atingidas pela área inundada. Pode-
se citar ainda a criação de uma barreira artificial para a migração de peixes, a
proliferação de algas, com a decorrente perda de patrimônio histórico e
turístico.
Um exemplo de perda de patrimônio turístico e de maior impacto
ambiental foi a construção do lago da usina de Itaipu, que acabou por inundar o
Salto das Sete Quedas, localizado no Rio Paraná. A Figura 2 (a) mostra o Salto
das Sete Quedas antes e depois (b) da construção do lago da usina de Itaipu.
Entretanto, a instalação desse tipo de usinas também traz benefícios
para a região, como geração de empregos, políticas de conservação do meio
ambiente, desenvolvimento social e econômico.

Figura 2 – Salto das Sete Quedas antes (a) e depois (b) da criação do lago de
Itaipu

(a) (b)

No caso da geração de energia fotovoltaica, o impacto mais significativo


ocorre devido à instalação do grande número de painéis solares para que a
energia gerada seja significativa. A área utilizada é relativamente grande,
porém a escolha do local pode ser feita de tal forma que não seja necessário
deslocar famílias nem afetar significativamente as espécies animais e vegetais

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próximas à instalação. A Figura 3 apresenta uma vista da usina fotovoltaica
Noronha II, localizada na ilha de Fernando de Noronha. Nota-se que a área
utilizada pela usina é basicamente a área ocupada pelos painéis fotovoltaicos.
Outra vantagem desse sistema é que os painéis podem ser instalados
de forma flutuante. Como exemplo, pode-se citar a usina fotovoltaica localizada
na cidade de Huainan, na China, com capacidade instalada de 40MWp,
mostrada na Figura 4. A China pretende investir no desenvolvimento de mais
usinas fotovoltaicas. Segundo o site bloomberg.com, está prevista para entrar
em operação uma usina fotovoltaica composta por 6 milhões de painéis, com
capacidade de geração de 2GW, ao custo de U$ 2,3 bilhões.

Figura 3 – Usina fotovoltaica de Noronha II, na ilha de Fernando de Noronha.

Figura 4 – Detalhe da usina fotovoltaica flutuante de Huainan, China.

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Podemos citar também a energia eólica, cujo maior impacto ocorre em
função da instalação dos aerogeradores. Embora tenha uma capacidade de
geração maior em relação à energia fotovoltaica, dependendo da potência os
aerogeradores juntamente com as pás, podem chegar a diâmetros maiores que
100m. Os grandes problemas da instalação de parques eólicos estão
relacionados à poluição visual e ao impacto em relação a aves migratórias.
Como a instalação de parques eólicos é muito dependente de fatores
ambientais (como a velocidade e constância do vento, por exemplo), pode
acontece de um local favorável à instalação de grandes aerogeradores ser rota
de migração de algumas espécies de aves, o que pode inviabilizar o projeto. A
Figura 5 mostra o parque eólico de Horse Hollow, no estado norte-americano
do Texas.

Figura 5 – Parque eólico de Horse Hollow, Texas, Estados Unidos.

Um dos maiores parques eólicos do mundo, Horse Hollow possui uma


capacidade de geração de 735MW. Analisando a Figura 5, é possível ter uma
noção do diâmetro das pás do aerogerador se as compararmos com a estrada
que cruza o parque.
Com base nesses três exemplos de geração (hidrelétrica, fotovoltaica e
eólica), que são as três formas de energia renovável mais difundidas, pode-se
afirmar que:

 Não há forma de geração de energia que não cause impacto ambiental;

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 Teoricamente, são energias sustentáveis, que possuem fontes que a
própria natureza repõe;
 O aperfeiçoamento e desenvolvimento de técnicas para melhorar a
capacidade de geração podem reduzir os danos ambientais.

TEMA 3 – ASPECTOS TECNOLÓGICOS

Nesta seção serão abordados os aspectos tecnológicos advindos do


desenvolvimento energético.
Um dos produtos essenciais para o nosso dia a dia e que ganha cada
vez mais espaço devido aos avanços tecnológicos são os veículos elétricos, os
quais são construídos já há muitos anos, porém estão ganhando maior
notoriedade à medida que a questão ambiental e energética se torna mais
relevante.
Os primeiros veículos elétricos foram construídos no século XIX e
permaneceram até o início do século XX. A partir de então, os veículos com
motores a combustão passaram a dominar o mercado, principalmente devido à
tecnologia das baterias na época. As baterias sempre foram os limitadores do
desenvolvimento de carros elétricos. As pesquisas e desenvolvimentos
tecnológicos sempre se voltaram para a redução do peso e aumento da
autonomia das baterias. Além disso, o número de ciclos de carga e descarga
tem sido levado em consideração. Em relação à sua utilização em veículos
elétricos, várias tecnologias já foram testadas.
A Tabela 1 apresenta alguns tipos de bateria utilizados em veículos
elétricos e faz uma comparação das suas características considerando um
ambiente urbano.

Tabela 1 – Classificação dos tipos de baterias

Energia Autonomia
Tipo de Bateria Observações
(W-h/kg) urbana (km)
Chumbo-ácido 30 – 50 110 – 150 Confiável, baixo custo, pesada.
Níquel-cádmio 37 – 72 180 – 200 Tecnologia conhecida, alto custo.
Boa armazenagem, operação em
Níquel-cloreto 100 300
elevada temperatura (350ºC).
Íon-lítio 150 450 Baixo custo.
Zinco-ar 180 – 200 400 Alto custo, ciclo de vida curto.

Hidreto de níquel
50 – 80 180 – 200 Popular, leve.
metálico
Fonte: Hinrichs; Kleinbach; Reis, 2016, p. 408.

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Pelos dados da Tabela 1, nota-se que, por um lado, cada tipo de bateria
atende aos requisitos ideais para veículos elétricos, mas, por outro, deixam a
desejar.
Entretanto os avanços tecnológicos estão mudando essa realidade.
Atualmente as montadoras estão investindo em veículos híbridos (com motor a
combustão e elétrico) e elétricos, chegando ao ponto de haver fabricantes
exclusivos de veículos elétricos. A Figura 6 apresenta alguns exemplos de
veículos elétricos, fabricados por montadoras que historicamente sempre
comercializaram veículos com motores a combustão.

Figura 6 – Exemplos de veículos com propulsão elétrica: (a) Ford Focus, (b)
Fiat 500e, (c) Toyota RAV4 EV e (d) Mercedes B-Class Eletric Drive

(a) (b)

(c) (d)

Como mencionado anteriormente, existem também fabricantes que são


dedicados exclusivamente à concepção de veículos elétricos. Alguns exemplos
são apresentados na Figura 7. Nota-se que não são apenas veículos de 4
rodas, mas há também os de duas rodas, como se fossem “motos” elétricas
que, além da tecnologia de propulsão, necessitam de uma tecnologia adicional

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para proteger o ocupante frente a impactos e também no que diz respeito ao
equilíbrio do veículo.

Figura 7 – Veículos de fabricantes apenas de veículos elétricos: C-1 da Lit


Motors (a) e Model-S da Tesla Motors (b)

(a) (b)

Cada um dos veículos mostrados na Figura 6 e na Figura 7 apresentam


uma configuração diferente no que diz respeito à autonomia e à velocidade.
Existem também modelos híbridos que possuem um motor a combustão
utilizada para recarregar o banco de baterias ou simplesmente para fornecer
uma potência adicional ao veículo.
Outro avanço tecnológico relacionado diretamente à conversão de
energia são as células a combustível. Segundo Hinrichs, Kleinbach e Reis
(2016), a célula a combustível é um conversor de potência único, eficiente, não
poluente e flexível, com uma forte tendência a ganhar seu espaço.
A célula a combustível combina um combustível (hidrogênio ou gás
natural) com oxigênio em um processo eletroquímico para geração de energia
elétrica. Possuem elevada eficiência energética, aproximadamente de 80%
quando a produção de calor é combinada com a produção de energia elétrica,
e produzem energia limpa.
Assim como as baterias, a evolução das células a combustível se deve à
questão energética. Com isso, várias tecnologias se desenvolveram, cada uma
com características específicas, conforme mostrado na Tabela 2.
A grande vantagem das células a combustível está no fato de não ser
poluente, o que as torna atrativas para a instalação em centros urbanos. Sua
instalação é rápida e pode ser feita por módulos. Podem ser utilizadas em
sistemas isolados ou ser conectadas à rede elétrica e complementar à
quantidade de energia injetada pela rede.

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Tabela 2 – Tipos de células a combustível

Eficiência Temperatura de Tamanho da unidade


Tipo de célula
(%) operação (ºC) (kW)
Polímero de membrana
40 – 50 80 50
eletrolítica
Ácido fosfórico 40 – 50 200 200
Carbonato fundido mais de 60 650 2000
Óxido sólido de cerâmica 40 – 50 1000 100
Alcalina 70 60 2–5

Fonte: Hinrichs; Kleinbach; Reis, 2016, p. 430.

Fazendo uma ligação com o assunto anterior, veículos elétricos, as


células a combustível podem ser utilizadas para a alimentação de motores
elétricos, os quais, por sua vez, movimentam veículos. Essa tecnologia pode
ser utilizada em transporte de passageiros em centros urbanos, em veículos
destinados ao uso no dia a dia.
Outra tecnologia desenvolvida relacionada à energia elétrica é a dos
supercondutores. A supercondutividade é algo muito próximo da nossa
realidade. O princípio da supercondutividade é diminuir ao máximo a agitação
das moléculas de um material, diminuindo assim a resistência do condutor e
permitindo uma circulação de corrente elétrica sem causar perdas.
O zero absoluto (-237ºC) é uma temperatura que é difícil de se obter
mesmo em laboratório. Por isso, a descoberta de materiais supercondutores a
temperaturas mais elevadas é importante. Hoje existem materiais cerâmicos
supercondutores que operam a 0ºC (Hinrichs; Kleinbach; Reis, 2016)).
As aplicações conhecidas para supercondutividade vão de
microprocessadores por computadores até trens sobre levitação magnética,
conhecidos como MAGLEV. Segundo Hinrichs, Kleinbach e Reis (2016), os
materiais semicondutores eliminam os campos magnéticos no seu interior, por
meio do chamado efeito Meissner, o que pode ser usado na levitação. Em
palavras mais simples, quando um imã se aproxima de um supercondutor
percorrido por uma corrente elétrica, flutua. Isso se deve ao fato de o campo
magnético induzido pela corrente no supercondutor e o campo magnético do
ímã se repelirem. O MAGLEV já é uma realidade, mas não com a utilização de
supercondutores, por enquanto.
Nesta seção foram abordados três avanços tecnológicos que se
tornaram realidade graças à necessidade da utilização da energia. Caso o uso
e a conversão de energia da forma mais eficiente e a renovação de recursos
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não fossem necessários, não haveria por que tais tecnologias serem objetos de
estudo. Portanto, pode-se afirmar que o desenvolvimento tecnológico para o
uso da energia é uma realidade, a qual tende a se tornar a cada vez mais
presente em nossas vidas.

TEMA 4 – ASPECTOS ECONÔMICOS

O crescimento econômico de uma sociedade parece estar diretamente


ligado ao crescimento do consumo de energia. Como exemplo, podemos citar
os Estados Unidos, uma das nações com maior PIB (Produto Interno Bruto) do
mundo, e também um dos maiores poluentes globais, devido ao alto consumo
de energia.
Segundo Goldemberg e Lucon (2012), os EUA e o Reino Unido tiveram
um crescimento do consumo de energia no início da sua industrialização. Logo
em seguida, o uso racional das atividades industriais fez com que esses países
continuassem a se desenvolver rapidamente, porém consumindo menos
energia.
Na maioria dos casos, incluindo os países com industrialização tardia, há
um aumento significativo no consumo de energia, seguido de uma redução
significativa.
Ainda de acordo com Goldemberg e Lucon (2012), essa tendência deve
ser seguida pelos países em desenvolvimento, porém só há dados disponíveis
para as últimas décadas, o que dificulta a análise da relação entre o
crescimento econômico e o consumo energético.
É possível também realizar uma análise do consumo de energia per
capita das nações, conforme mostrado na Figura 8.

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Figura 8 – Consumo anual de energia elétrica per capita em 2008 (MWh per
capita)

Fonte: Augusto, 2011.

Analisando a Figura 8, percebe-se claramente que o maior consumo


ocorre em países desenvolvidos e que possuem grandes reservas energéticas,
sobretudo petróleo. Nota-se também que o Brasil, embora seja uma país com
considerável reserva de petróleo, não aparece na Figura 8. Isso se deve ao
fato de ainda estar em desenvolvimento. Nota-se ainda diferentes perfis de
consumo, se comparados ao PIB de cada um dos países, no mesmo ano,
conforme mostrado na Figura 9. A Figura 9 apresenta o PIB per capita medido
pelo índice de paridade do poder de compra (PPC), o qual leva em conta a
diferença de rendimentos assim como a diferença no custo de vida dos países,
para se ter uma melhor comparação do valor real do PIB per capita.
Comparando diretamente a Figura 8 com a Figura 9, percebe-se que há,
obviamente, uma relação direta entre o PIB per capita e o consumo de energia
per capita de um país, como no caso da Noruega, por exemplo, com o maior
consumo energético do mundo, e o segundo maior PIB per capita medido pelo
índice PPC. Entretanto é importante notar que Luxemburgo, por exemplo,
consta na Figura 9 entre os maiores consumidores de energia per capita dos
maiores consumos do mundo.

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Figura 9 – PIB per capita medido pelo índice de paridade do poder de compra
(PPC) em 2008.

Fonte: PIB..., 2010.

Pode-se então observar que nações desenvolvidas tendem a ter um


grande consumo de energia per capita, porém isso não é uma regra.
O PIB é sempre um bom indicador para medir o desempenho da
economia de uma nação. Basicamente, o PIB indica a soma dos bens e
serviços de um país. Devido à sua variação, devido à taxa de inflação, por
exemplo, o PIB pode variar de um período para outro. Existem várias formas de
medição do PIB. O PIB nominal leva em consideração os valores no dia em
que foram medidos, sem considerar variação de preços. A medição do PIB
real, porém, utiliza um indexador que neutraliza a variação nos preços
praticados nos anos subsequentes através da multiplicação aos anos de um
ano-base.
Baseando-se nos conceitos do PIB, pode-se afirmar que o consumo
energético de uma nação tem a sua ligação com o PIB, e o consumo de
energia per capita tem uma relação com o com o PIB per capita, porém existem
diferentes padrão de consumo entre países desenvolvidos.

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Além disso, desmistificamos a ideia de que o desenvolvimento
econômico de uma sociedade é totalmente dependente da elevação do
consumo de energia. Foi visto que, no início do seu processo de
industrialização, um país tende a ter uma acentuada elevação do consumo,
mas que, com a consolidação do seu desenvolvimento, o consumo energético
tende a diminuir e sua economia continuar a crescer.

TEMA 5 – ASPECTOS SOCIAIS

O desenvolvimento energético é um fator que influencia o aspecto


econômico de um país, como visto no tema 4, e, portanto, exerce influência no
aspecto social. À medida que uma sociedade se desenvolve economicamente,
o acesso a hospitais, educação, cultura e informação fica mais facilitado. De
certa forma, é obrigatório que uma sociedade economicamente desenvolvida
propicie melhoria de condições e qualidade de vida, pois, à proporção que a
população aumenta, os recursos devem ser necessários para atender à
demanda.
O índice que melhor representa o aspecto social de um país de forma
geral é o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Esse índice classifica os
países membros da ONU (Organização das Nações Unidas) de acordo com
fatores como expectativa de vida, PIB per capita em PPC, nível de
escolaridade da população, por exemplo. O IDH varia de 0 a 1, sendo 0 o pior
valor possível e 1 o melhor valor possível.
Como é esperado, o consumo de energia per capita está relacionado ao
IDH de um país. Conforme mostrado na Figura 10, de forma geral países com
maior IDH apresentam um consumo energético per capita maior. Mais
precisamente, a Figura 10 mostra a relação entre consumo de energia per
capita em toneladas equivalente de petróleo e o IDH do ano de 2005.

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Figura 10 – Consumo anual de energia per capita em toneladas equivalentes
de petróleo, em 2008

Nota-se o Brasil no limiar entre os países em desenvolvimento (médio


desenvolvimento) e os países desenvolvidos (alto desenvolvimento). Em 2016,
segundo a ONU, o Brasil ocupou a 79ª posição na classificação, com um IDH
de 0,795.
Em 1971, o cientista ucraniano Simon Smith Kuznets recebeu o Prêmio
de Ciências Econômicas por relacionar em sua teoria a desigualdade
econômica crescente com a renda per capita. A curva de Kuznets é
apresentada na Figura 11.

Figura 11 – Curva de Kuznets

Fonte: Goldemberg; Lucon, 2012, p. 98.

A curva de Kuznets mostra a evolução da desigualdade em função da


elevação da renda per capita. Percebe-se, porém, que essa desigualdade
aumenta até que uma sociedade se torne industrializada e comece a diminuir a
partir do ponto em que atingem a maturidade industrial. Em outras palavras,
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podemos afirmar que a curva de Kuznets nos mostra como a qualidade de vida
e o acesso a saúde, educação e conhecimento, por exemplo, sofrem influência
da industrialização, que, por sua vez, depende do desenvolvimento e
aperfeiçoamento de fontes de energia, o que resulta no aumento da qualidade
de vida da população e, portanto, influencia o aspecto social.
Ainda tendo a curva de Kuznets como parâmetro, é importante observar
que uma sociedade não precisa necessariamente passar por todas as etapas
de desenvolvimento que uma outra sociedade já passou. Assim, evitam-se
erros que já aconteceram e acelera-se o desenvolvimento. Segundo
Goldemberg e Lucon (2012), os países em desenvolvimento possuem
melhores oportunidades do que os países desenvolvidos tinham, devido ao
conhecimento e à experiência que já foram desenvolvidos. De acordo com
Goldemberg e Lucon (2012), alguns exemplos são:

a. em comunidades isoladas, a transição do uso de lenha para a


eletricidade, através de painéis fotovoltaicos, e sem utilizar geradores a
diesel. Ex.: Gana, na África;
b. a utilização de corredores exclusivos para ônibus em grandes centros
urbanos. Ex.: Curitiba, no Brasil e Bogotá, na Colômbia;
c. desenvolvimento de novas tecnologias para combustíveis para
automóveis. Ex.: Bioetanol, no Brasil.
d. em indústrias, a adoção de tecnologias de ponta na manufatura e na
mão de obra especializada por políticas de educação. Ex.: Coreia do
Sul;
e. planos de desenvolvimento baseados em uma economia aprimorada no
setor de serviços. Ex.: Índia;
f. utilização de equipamentos elétricos e eletrônicos residências com mais
eficiência energética. Ex.: China.

FINALIZANDO
Existem vários projetos de desenvolvimento de novas tecnologias
energéticas e também exemplos de como esse desenvolvimento melhorou a
vida de comunidades onde o acesso a diversos serviços essenciais era
precário. Conheça alguns projetos para saber mais sobre o assunto.
Nesta aula, foi visto como a evolução energética influencia nossa vida
nos mais diferentes aspectos. Vimos também a importância do

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desenvolvimento energético em prol da sociedade e como é possível criar
caminhos e oportunidades para melhorar o convívio em sociedade.
Procure, na sua casa, na sua faculdade, no seu trabalho, oportunidade
para economizar energia, por exemplo, desligar lâmpadas em ambientes
vazios, utilizar equipamentos mais eficientes, conscientizar as pessoas da
importância e dos benefícios de vivermos em uma sociedade energeticamente
sustentável.

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REFERÊNCIAS

AUGUSTO, Á. Consumo de energia elétrica no Brasil e no mundo. Blog


Rabiscos aleatórios, 20 jun. 2011. Disponível em:
<http://alvaroaugusto.blogspot.com.br/2011/06/consumo-de-energia-eletrica-
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