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FACULDADE ANÍSIO TEIXEIRA

CURSO DE SISTEMAS PARA INTERNET

INTERNET VIA REDE ELÉTRICA, UMA SOLUÇÃO


VIÁVEL?

FEIRA DE SANTANA – BA
2007
FACULDADE ANÍSIO TEIXEIRA
CURSO DE SISTEMAS PARA INTERNET

INTERNET VIA REDE ELÉTRICA, UMA SOLUÇÃO


VIÁVEL?

NILSON FERREIRA DA SILVA JUNIOR

FEIRA DE SANTANA – BA
2007
Internet via rede elétrica, uma solução viável?*
Nilson Ferreira da Silva Junior**

Resumo:
Este artigo tem como objetivo analisar a viabilidade da tecnologia Power Line
Communication – PLC, como meio físico alternativo na transmissão de dados, voz e
vídeo em banda larga, avaliando dentre suas características técnicas de implantação,
suas vantagens e desvantagens, possíveis impedimentos tecnológicos e de
regulamentação do setor, a paridade entre esta e outras tecnologias atualmente em
uso, observando a compatibilidade de seus equipamentos com tecnologias atuais e
sues aspectos de segurança. Assim, manter contínuos os debates sobre PLC,
apresentando projetos em andamento em função da expansão da inclusão digital,
agregando mais serviços à infra-estrutura da rede de distribuição de energia elétrica,
que atinge a quase totalidade da população brasileira.

Palavras-chave:
Power Line Communication, Internet, Inclusão digital, Transmissão de dados, Banda
larga, Rede elétrica.

Abstract:
This article aims to analyse the feasibility of the technology Power Line Communication
PLC - such as alternative media in the transmission of data, voice and video on
broadband, evaluating among its technical characteristics of deployment, its
advantages and disadvantages, possible impediments technology and regulation of the
sector, the parity between this and other technologies currently in use, noting the
compatibility of its products with current technology and sues safety aspects. Thus,
maintaining the ongoing discussions on PLC, presenting projects in progress according
to the expansion of digital inclusion, adding more services to the infrastructure of the
distribution network of electric energy, which reaches almost all of the Brazilian
population.

Keywords:
Power Line Communication, Internet, Digital inclusion, Data transmission, Broadband,
Electrical network.

*
Artigo elaborado como pré-requisito de avaliação parcial do curso de Sistemas para Internet,
da Faculdade Anísio Teixeira – FAT.
**
Graduando do curso de Sistemas para Internet, da Faculdade Anísio Teixeira – FAT.
2

Introdução

Objeto perseguido pelo homem desde seu surgimento, a comunicação tem um


papel fundamental para o desenvolvimento sócio-cultural e tecnológico da raça
humana. Alavancados por este desejo, têm surgido ao longo dos séculos,
especialmente no século XX, meios de comunicação diversos, dos quais a
Internet apresenta destaque notório pela possibilidade, ainda infinita, de
serviços que esta pode disponibilizar. A partir de então, os estudos estão
concentrados em meios físicos que viabilizem a interligação desta grande rede,
garantindo comunicação entre os pontos mais remotos do globo, observando
as características sócio-econômicas de cada região.

Estudos apontam a tecnologia PLC (Power Line Communication), como


conseqüência da busca por alternativas de baixo custo e de alta capilaridade
por mais um meio físico de interligação da comunicação global. Entretanto os
estudos estão centralizados na viabilidade das implementações desta
tecnologia em relação ou concomitância com as que atualmente estão em uso
e constante aperfeiçoamento de suas topologias e equipamentos, também na
busca pela redução dos custos de produção e implementação no sentido de
atingir índices cada vez maiores de abrangência global.

Observadas as possibilidades operacionais e econômicas da transmissão de


dados em alta velocidade utilizando as redes de distribuição de eletricidade, e o
impacto social decorrente de sua implantação, faz necessário o
aprofundamento das pesquisas sobre PLC, no tocante às especificações
técnicas de implantação e equipamentos necessários para pleno
funcionamento, bem como aspectos de segurança das informações que irão
trafegar na rede e a compatibilização dos sistemas atualmente em uso de
transmissão e controle deste trafego, observando-se que, em dado momento,
indubitavelmente haverá concomitância entre tecnologias, seja esta na
transição de uma para outra, ou em sua aplicação contígua.

Como forma de solucionar as diversas variáveis apresentadas na


3

implementação da PLC, diversos setores da sociedade cientifica empenham-se


em chegar à uniformização e certificação dos processos de implementação
dessa tecnologia de forma global, assim como as empresas de geração e
distribuição de energia elétrica também dispensam esforços e investimentos
para esta solução, realizando testes em suas redes. Atualmente ainda não
existe regulamentação da transmissão de dados de forma inteligente e
controlada através da rede de distribuição de energia elétrica.

O avanço têm sido notório, ao ponto tal que estas empresas, baseadas em
estudos primários, já utilizam o PLC para telemetria, teleproteção e controle
remoto de seus equipamentos a quase duas décadas como forma de
agilização de seus procedimentos operativos. Estes avanços têm despertado o
interesse das empresas de eletricidade da possibilidade de se transformarem
em provedores de serviço de telecomunicações, utilizando seus ativos físicos
de distribuição.

No Brasil, a chegada do PLC impactará de forma específica as comunidades


que hoje, devido à imensa extensão territorial de nosso país, estão isoladas de
infra-estruturas de telecomunicação, pois as operadoras de telecomunicação
oferecem serviços precários ou quase inexistentes. Nesse sentido, a fim de
tornar a comunicação de dados disponível aos cidadãos dessas áreas e
conseqüentemente promover a chamada inclusão digital, o emprego de novas
tecnologias de acesso, como a em questão, é fundamental.

A Tecnologia PLC

A PLC é uma tecnologia que visa utilizar a infra-estrutura da rede de


distribuição de energia elétrica para a transmissão de dados e voz, viabilizando
o acesso à grande rede. Não é uma tecnologia nova, as primeiras pesquisas
neste sentido datam dos anos trinta do século passado, entretanto com o
desenvolvimento de tecnologias de conectividade atuais, algumas empresas
vislumbram o potencial do PLC como meio de comunicação e presumível
4

investimento lucrativo, por não necessitar de grandes investimentos em infra-


estrutura de rede nem das edificações residenciais e comerciais.

Segundo o Bacharel em Sistemas de Informação Josias Rodrigues Corrêa


(2004), em sua monografia pela Uniminas (União Educacional de Minas
Gerais), o princípio de funcionamento da tecnologia PLC é parecido com o que
já ocorre com o ADSL1 que utiliza a linha telefônica para inserir dados
modulados em alta freqüência em um meio físico de transmissão já existente.
No caso do PLC é utilizada a rede física de energia elétrica para transmissão
dos sinais. A figura 1 mostra uma visão geral do sistema PLC. O sinal que
trafega a partir do backbone2 Internet é injetado na rede secundária do
transformador através do head end (HE). Este sinal é compartilhado por todos
os usuários desta rede, que são segregados em VLAN´s3 para garantir
privacidade e segurança. Em cada usuário é instalado um repetidor de sinal
(Home Gateway), em paralelo com o medidor de energia elétrica. Deste ponto
em diante todas as tomadas estão com sinal disponível para conexão de um
modem PLC.

Figura 1: Visão Geral do PLC – Fabricante DS2

Fonte: DS2, 2004

A PLC utiliza a camada 2 do modelo ISO/OSI4, ou seja, camada de enlace.

1
ADSL – Assimetrical Digital Subscribe Line
2
Backbone – Trecho de maior capacidade da Internet ("Espinha dorsal")
3
VLAN´s – Virtual Local Area Network
4
ISO/OSI – Modelos de arquitetura de rede de computadores, ISO – International Organization
for Standardization, OSI – Open Systems Interconnection
5

Sendo assim pode ser agregada a uma rede TCP/IP5 (camada 3) já existente,
além de poder trabalhar com outras tecnologias da camada 2.

Precedida pela Power Line Carrier, chamada no Brasil de OPLAT (Ondas


Portadoras em Linhas de Alta Tensão), amplamente utilizada desde a década
de 30 pelas concessionárias de energia elétrica em redes de alta tensão, foi
criada uma tecnologia de nome parecido para explorar a transmissão de dados
em redes de baixa tensão, a PLC.

O Power Line Carrier, entretanto, possui baixa capacidade de transmissão de


dados, modulação analógica e é explorado até os dias de hoje pelas
concessionárias de energia elétrica para outros serviços como: voz e
comunicação de dados em baixa velocidade (teleproteção, telecontrole e
telemetria). A velocidade de transmissão de dados conseguida neste caso não
passa de 9,6Kbps, enquanto que a Power Line Communications consegue
velocidades próximas a 40Mbps em faixas de freqüência entre 1,7MHz a
30MHz. São comunicações de banda estreita, que operam em baixa freqüência
(de 30 a 400KHz6). Estes serviços são explorados transmitindo-se ondas
portadoras em linhas de transmissão de energia com tensões entre 69KV7 a
500KV.

Aproveitando conhecimentos da tecnologia Power Line Carrier, foram


realizadas algumas tentativas de comunicação de dados, voz e imagem, ou
seja, aplicações em banda larga, nas redes de média tensão e redes de baixa
tensão.

Especificações técnicas, segurança e compatibilidade

Especificações técnicas

O principal diferencial da PLC sobre as outras tecnologias é a utilização de

5
TCP/IP – Protocolo de transmissão de dados
6
KHz – Unidade de freqüência Hertz (KHz – milhares de Hertz)
7
KV – Unidade de tensão Volts (KV – milhares de Volts)
6

uma infra-estrutura física já existente, pois todos edifícios, casas e


apartamentos que possuem uma rede elétrica instalada, estão aptos a receber
esta tecnologia. Não há necessidade de cabeamentos adicionais nem
mudanças estruturais nas edificações, isto permite inferir que, bastando
conectar à tomada, um computador ou qualquer outro dispositivo, que este
receberia o sinal. Por outro lado, as linhas de potência são um dos meios mais
inóspitos à comunicação de dados, devido à diversidade de características
elétricas dos dispositivos interligados a elas. Assim o sinal transmitido entre o
transmissor e receptor pode sofrer variações em decorrência da distância entre
os mesmos, bem como das características elétricas dos dispositivos entre eles
conectados às linhas elétricas. Fontes típicas de ruído que podem interferir no
sinal são os que utilizam-se de chaveamento, seja ele eletrônico (lâmpadas
fluorescentes e halogênicas, fontes chaveadas) ou mecânico (motores de
escova8).

Principais equipamentos utilizados numa rede PLC:

 Modem (PNT): Usado para recepção e transmissão dos dados, o


modem é instalado em host (estação de trabalho, servidor, etc.), que é
ligado à tomada de energia elétrica. Ele realiza a comunicação com o
Demodulador Repetidor (PNR). A figura 2 traz um exemplo de Modem
PLC:
Figura 2: Modem PLC - Fabricante ENDESA

Fonte: ENDESA, 2003

8
Motores de escova – Motores que compõem liquidificadores, barbeadores, secadores de
cabelo, processadores de alimentos, etc.
7

 Demodulador Repetidor (PNR): O PNR provê acesso direto do usuário


do sistema Indoor9 para o sistema Outdoor10. Cada residência tem um, e
este se comunica com o Concentrador Mestre (PNU).
 Concentrador Mestre (PNU): Controla o sistema Outdoor e interconecta
uma Célula de Energia à rede do backbone. Geralmente está localizada
no transformador. Deste ponto em diante a comunicação pode ser feita
pela operadora de telecomunicações.

De acordo com Vargas e Pereira [et al], (2004), a instalação de um modem


PLC é muito simples. Quando um novo aparelho é adicionado à rede, é preciso
apenas executar o CD de instalação que o acompanha. Nesse momento, o
software perguntará qual é o ID (identificação) da rede na qual o modem está
conectado, o que é facilmente identificado e configurado pelo usuário comum.
Feito isso, o novo modem se comunicará com os outros modems da rede bem
como com o Demodulador Repetidor, que por sua vez se comunicará com o
Concentrador Mestre o qual interliga todo sistema à Internet.

Tecnologias utilizadas atualmente em PLC

X-10 PLC – Existente a mais de vinte anos, a tecnologia X-10 PLC foi criada
para controle de equipamentos remotamente a baixo custo. Sua utilização era
unidirecional, porém estudos e melhorias culminaram em equipamentos
bidirecionais.

Os módulos transmissores do X-10 são adaptadores que conectados à tomada


enviam sinais aos módulos receptores para controlar equipamentos simples
como: interruptores, controles remoto, sensores de presença, entre outros.
Utiliza modulação por amplitude (AM Amplitude Modulation) na mesma
freqüência da tensão elétrica (50Hz a 60Hz) em corrente alternada, onde a
portadora utiliza a passagem pelo zero volt da onda senoidal. Justifica-se este
tipo de modulação, pois é na passagem pelo zero da senóide onde se obtém o
instante de menor ruído e interferência de outros equipamentos ligados à rede.

9
Indoor – Rede interna do usuário ou edificação
10
Outdoor – Rede externa
8

Devido a este fato sua velocidade de transmissão é limitada a 60bps, a qual


não permite sua utilização para transmissão de dados e voz restringindo sua
aplicação a comandos de equipamentos em redes de distribuição elétrica.

Intellon CEBus – Tecnologia desenvolvida em 1992 pela Intellon utilizando o


padrão aberto CEBus (Consumer Eletrônic Bus), apresenta as características
de comunicação por linhas de potência, par trançado, cabo coaxial,
infravermelho, RF (Rádio Freqüência), e fibra ótica. Utiliza o modelo de
comunicação ponto-a-ponto e adota técnica CSMA/CDCR (Carrier Sense
Multiple Access/Collision Detection and Resolution) para evitar colisão de
dados.

Desenvolvida para uso residencial com taxas de transmissão até 10Kbps, não
foi popularizado devido aos altos custos, pouca oferta de produtos CEBus e
baixas taxas de transmissão.

Echelon LonWorks – Desenvolvida pela empresa Echelon, esta tecnologia


tem como objetivo oferecer uma infra-estrutura para operação de rede local
denominada LON (Local Operating Network), a qual está baseada no protocolo
de comunicação proprietário LonTalk (ANSI 709.1), e está embarcada no chip
set Neuron, também proprietário. Pode ser utilizado através de par trançado,
cabo coaxial, RF, infravermelho, fibra ótica e rede elétrica, a uma taxa de
transmissão de dados da ordem de 10Kbps. Todavia, o alto custo dessa
tecnologia influenciado pelo chip Neuron e a coexistência de soluções mais
baratas, afastou o Echelon LonWorks dos usuários domésticos sendo mais
utilizados em aplicações comerciais e industriais.

Adaptive Networks – Apresentando taxas de transmissão entre 19,2Kbps e


100Kbps, suas outras características são similares às Intellon CEBus e a
Echelon LonWorks, porém assim como as tecnologias retro-citadas não é
adequada a aplicações em banda larga como compartilhamento de arquivos,
voz digital e transmissão de vídeo. Seus chips set ainda são caros
inviabilizando a instalação em usuários domésticos e pequenos escritórios,
sendo mais utilizadas em aplicações comercias de grande porte e industriais.
9

PLUG-IN – Desenvolvida pela Interlogis, esta tecnologia difere das demais


devida possibilidade de alcançar altas taxas de transmissão, 350Kbps – até o
fechamento deste estudo – e está baseada na implementação de vários
protocolos: PLUG-IN Interlogis Common Application Language (iCAL), o PLUG-
IN Power Line Exchange (PLX) e o PLUG-IN Digital Power Line (DPL).

Ao contrário da maioria das linguagens que utilizam a comunicação peer-to-


peer (ponto-a-ponto), o protocolo iCAL, utilizado pela PLUG-IN, utiliza o modelo
de comunicação cliente-servido, onde permite armazenar a inteligência de cada
ponto da rede em um central (Servidor de Aplicações). As tarefas que
necessitam de grande poder de processamento são realizadas pelo servidor,
deixando os pontos clientes com a mínima inteligência e circuito necessários
para executarem suas funções. Neste modelo os custos de implementação
caem enormemente.

As características da tecnologia PLUG-IN fazem com que seja aceita e mais


difundida entre usuários residências e pequenos escritório devido às altas
taxas de transmissão e baixos custos de implementação, é notadamente a
mais utilizada atualmente.

Compatibilidade

Em relação à compatibilidade, o PLC apresenta-se bastante flexível, sendo


compatível com a quase totalidade dos sistemas e equipamentos que
estruturam as tecnologias já conhecidas em redes de computadores. Apesar de
estar utilizando a rede elétrica, o PLC não interfere nos equipamentos eletro-
eletrônicos, podendo conviver com quaisquer equipamentos. Ocorre que o
inverso desta afirmação não é tão simples assim, pois alguns equipamentos
podem interferir na freqüência de uso do PLC, como motores e dimmers11, ou
seja, ventiladores, abajures, secadores de cabelo, liquidificadores e mesmo o
acionamento dos interruptores de lâmpadas podem prejudicar as taxas de

11
Dimmers – Equipamento comumente utilizado para controlar a iluminação, reduzindo-a ou
aumentando-a ao nível nominal, composto de resistores elétricos.
10

transmissão e recepção no PLC, pois estes fazem – mesmo que


momentaneamente – oscilar ou interferir na freqüência de trabalho do PLC.

Segundo Pinto, (2004), sua convivência com estabilizadores, filtros de linha e


no-breaks também é prejudicada, pois estes são equipamentos isoladores,
bloqueadores de altas freqüências ou são fontes chaveadas, ambos quebram a
continuidade da rede de formas distintas, e prejudicam o princípio fundamental
da rede elétrica para o PLC, que é a continuidade. Outro ponto a ser observado
é que a PLC pode interferir nas faixas de freqüência entre 1,6 a 30 MHz,
comumente utilizadas em equipamentos das forças armadas e controle de
tráfego aéreo, porém ainda não há estudos comprobatórios e regulamentação
de sua utilização nas áreas periféricas de aeroportos, portos e unidades
militares, contudo recomenda-se a não utilização.

Segurança em PLC

Atualmente a comunicação entre os equipamentos utilizado em PLC é


criptografada em DES12 de 56bits, do ponto de vista do usuário somente se
pode ter acesso à rede de uma edificação estando ligado fisicamente a este a
partir da caixa de entrada de energia elétrica, isto representa bom nível de
segurança se comparado com redes que utilizam outras tecnologias como Wi-
Fi13, esta especificamente pode ser visível pelos vizinhos e necessita, em sua
grande maioria, de uma identificação por usuário e senha para acesso à rede,
modelo pelo qual, nos dias de hoje não representa obstáculo intransponível,
visto que os crakres14 estão especializando-se em invasões desse tipo.

Observa-se ainda que o sistema PLC utiliza codificação para correção de erro,
FEC (Forward Error Correction). Isto permite a correção de erros de
transmissão no lado da recepção. Um código de relação 1:2 é usado,
implicando que os dados transmitidos estão duplicados, isto é, para cada bit de
dados o sistema do PLC transmite dois bits no canal correspondente. A

12
DES – Modelo de criptografia
13
Wi-Fi – Tecnologia de transmissão de dados pelo ar, por meio de ondas de rádio
14
Crakres – Identificação genérica de criminosos na Internet
11

experiência tem mostrado que o canal do PLC é freqüentemente de excelente


qualidade para as estações próximas (aproximadamente 1Km dependendo da
qualidade das instalações elétricas e do equipamento PLC empregado) do
Concentrador Mestre, neste caso não há necessidade de usar o FEC,
conseqüentemente a capacidade do canal é duplicada. Os equipamentos PLC
também monitoram automaticamente a qualidade do canal, de modo que se ela
for alta o suficiente o FEC é desativado e se a qualidade cair o FEC é ativado.
Além dessas qualidades pode-se implementar diversas outras aplicações de
detecção e prevenção de intrusões não autorizadas, atualmente usadas nas
tecnologias em uso.

Fatores determinantes da viabilidade da tecnologia PLC

Para determinar a viabilidade do PLC, é preciso analisar alguns pontos


fundamentais dos quais citaremos três mais importantes e intensamente
discutidos: a qualidade e a segmentação da rede elétrica de distribuição, o
ruído das instalações e equipamentos elétricos e a regulamentação da
tecnologia PLC pela ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações).

A qualidade da rede elétrica de distribuição

A maioria das redes de distribuição elétrica no Brasil é do tipo convencional


(aérea), não uniformizada e segmentada, sendo instalações aéreas as quais
estão mais suscetíveis a problemas inerentes a interferências, atenuação15 e
ruídos. Estas redes possuem variação das características que são de vital
importância para comunicação de dados, onde o desejável seria que estas
apresentassem: impedância16 uniforme ao logo da linha, baixa atenuação para
sinais transmitidos, baixa reflexão e irradiação e baixa captação de sinais
externos e ruídos.

15
Em informática, atenuação é o enfraquecimento de um sinal numa transmissão, devido a
distâncias ou falta de qualidade no meio transmissor
16
Impedância - em circuitos elétricos é a relação entre o valor eficaz da diferença de potencial
entre os terminais em consideração, e o valor eficaz da corrente resultante num circuito
12

Como as redes de distribuição Brasileiras são utilizadas diretamente para suprir


os sistemas de iluminação pública, as quais utilizam capacitores17 para
correção do fator de potência, e estes capacitores atenuam ou bloqueiam a
transmissão de sinais de alta freqüência, havendo a necessidade de
adequação destas para implantação do PLC. Não há risco de irradiações e
reflexão consideráveis, porém a não uniformidade da rede pode alterar esta
variável. Todavia as cargas instaladas ao longo da extensão das redes se
repetem em intervalos mais curtos e são representados por cargas de baixa
impedância para os sinais transmitidos. Este fato pode culminar no efeito de
desacoplamento de sinal e aumento da atenuação total.

O ruído das instalações e equipamentos elétricos

Discutido intensamente durante todos os debates a cerca da PLC, e observado


já algumas vezes durante este trabalho, o ruído advindo das conexões e
utilização de equipamentos eletromagnéticos é uma variável que norteia as
preocupações dos especialistas quanto à viabilidade do PLC. A necessidade
de se dimensionar o PLC de acordo com as características da rede elétrica
onde será implantado advém dessa variável, pois não há rede elétrica
residencial imune em cem por cento aos ruídos e interferências causadas pelas
conexões e equipamentos conectados a ela.

Para Andrade e Souza, (2007), a qualidade do sinal em PLC é


significativamente influenciada pela quantidade de ruído existente na rede onde
está instalado, ou seja, quantos mais equipamentos geradores de ruído
(motores em geral, ventiladores, maquinas de lavar, secadores de cabelo,
espremedores de frutas, liquidificadores, furadeiras elétricas, entre outros),
maior será o ruído e a redução na taxa de transmissão e o aumento na quebra
e colisão de pacotes de dados. Visando a redução do ruído em ambientes
residências, seria necessária a adequação dessas instalações às normas

17
Capacitor ou condensador é um componente que armazena energia num campo elétrico,
acumulando um desequilíbrio interno de carga elétrica
13

vigentes, utilizando conectores, condutores, tomadas e interruptores


normatizados.
Regulamentação da tecnologia PLC pela ANATEL

No Brasil a regulamentação do PLC ainda não está solucionada, o que não


difere de outros países do mundo. Somente as freqüências entre 3 a 148,5Khz
para Power Line Carrier estão regulamentadas pelo CENELEC18.

Foi entregue à ANATEL no dia 12 de fevereiro de 2004 um modelo de


regulamentação proposto por integrantes do grupo CBC719. A ANATEL tem
provido discussões para criar uma regulamentação do uso da tecnologia,
porém não há o aval da ANATEL nem da ANEEL (Agência Nacional de
Energia Elétrica), para implementação e utilização do PLC, mas a
regulamentação está a caminho.
ANATEL, 2004

Nos Estados Unidos, foi criada em 2000, uma aliança chamada HomePlug
Powerline Alliance, composta de treze grandes empresas (3Com, AMD, Cisco,
Compaq, Conexant, Enikia, Intel, Intellon, Motorola, Panasonic, RadioShack,
SoniBlue e Texas Instruments), que se empenhou em desenvolver uma
especificação que venha ser aceita globalmente para rápida liberação, adoção
e implementação, interoperabilidade e especificação de produtos PLC.

A FCC Part 1520 é a única regulamentação mundial que determina limites para
radiação não-intencional proveniente de sistemas de telecomunicações com
fio. Situação estável e bastante experimentada, estabelecendo um limite de
30µV/m a uma distância de 30 metros e um fator de correção de 40dB/década
para outras distâncias.

A PLC vem sendo utilizada a alguns anos na totalidade do contingente de


sistemas instalados nos Estados Unidos e Canadá. Esta experiência e
utilização, seriam suficientes para garantir a aplicabilidade das mesmas

18
CENELEC – European Commitee for Eletrotechnical Standardisation
19
CBC7 – Grupo de estudo coordenado pela ANATEL, com participação de fabricantes de
equipamentos e concessionárias de energia elétrica. A missão deste grupo é estudar e propor
regulamentação para o PLC.
20
FCC Part 15 - Norma Americana para limites de radiação
14

soluções como modelo na definição de uma regulamentação para redes PLC


no Brasil.

O PLC no Brasil

Nos últimos anos algumas empresas brasileiras começaram a investir em


pesquisas de tecnologias PLC. A maioria são empresas de geração e
distribuição de energia elétrica interessadas em fornecer novos serviços,
principalmente de telemetria, aos consumidores finais. Porém, como toda
tecnologia lançada no Brasil, o fator econômico é uma barreira quase que
intransponível se levarmos em conta que os equipamentos PLC a princípio
eram importados na sua grande maioria. Entretanto, com a viabilidade técnica
comprovada por companhias energéticas de renome no cenário brasileiro e
com a possibilidade de produção dos modems e outros equipamentos PLC no
Brasil, o uso comercial do PLC parece ser hoje apenas uma questão de tempo.
A seguir alguns projetos-piloto que utilizam sistemas PLC no Brasil:

Projeto PLC CEMIG (Companhia de Energética de Minas Gerais)

Implementado em novembro de 2001, o projeto previa o acesso à Internet em


banda larga através da rede secundária de distribuição elétrica sem a
necessidade de utilizar a rede de telefonia, onde uma empresa operadora de
telecomunicações, fornecedora de acesso à Internet em banda larga,
disponibilizaria um ponto de terminação na rua onde era conectado um Master
PLC, este por sua vez injetava o sinal nas fases e no neutro do circuito
secundário ficando este sinal disponível a todos os usuários que estivessem
ligados no circuito elétrico deste transformador. Finalmente este sinal era
captado em uma tomada elétrica por um modem PLC e disponibilizado em uma
porta Ethernet21 ou USB (Universal Serial Bus) para ligar na placa de rede do
computador na casa do usuário. (CEMIG - Companhia Energética de Minas
Gerais, 2001)
15

Iguaçu Energia

A Iguaçu Distribuidora de Energia Elétrica Ltda., iniciou em 2002 um projeto em


PLC com o objetivo de testar a capacidade e o comportamento da tecnologia
para transmissão de dados, voz e imagem na sua rede de distribuição elétrica.
O projeto tinha como objetivo principal integrar serviços de acesso à Internet e
telefonia ao sistema de distribuição de energia elétrica. Sua arquitetura propõe
o uso do chamado Centro de Gerência, que além de administrar os clientes
PLC e o Backbone, visa oferecer diversos outros serviços como vídeo e música
sob demanda (stream de vídeo e áudio), TV por assinatura, sistemas de
segurança, de telemetria, entre outros.

Os consumidores finais são agrupados em unidades transformadoras,


denominadas Células PLC, onde é instalado um equipamento do tipo Master
chamado Head End Router ou Roteador Injetor de Sinais. Este roteador é
responsável por controlar as prioridades e acessos dos usuários daquela
célula, sendo também o gerador e injetor de sinais PLC na célula, capaz de
modular sinais de imagem e voz recebidos do Backbone. Por fim o Modem
PLC é conectado a uma tomada de energia elétrica que além de alimentá-lo
capta os sinais modulados pelo roteador, e os converte em sinais de rede de
dados. (Iguaçu Distribuidora de Energia Elétrica Ltda, 2002)

Outros projetos foram implementados no Brasil, seguindo os mesmos moldes


dos projetos PLC CEMIG e o Iguaçu Energia com o objetivo de criar infra-
estrutura necessária para inclusão digital, onde ainda podem ser citados:

 Projeto Barrerinhas no Maranhão, coordenado pela FITec e Aptel


(Associação de Empresas Proprietárias de Infra-estrutura e Sistemas
Privados de Telecomunicações) é de iniciativa da Comissão de Inclusão
Digital do Fórum Aptel PLC Brasil em parceria com a Cemar
(Companhia Energética do Maranhão), AES Eletropaulo (Eletropaulo
Metropolitana - Eletricidade de São Paulo SA), CELG (Companhia

21
Ethernet é uma tecnologia de interconexão para redes locais - Local Area Networks (LAN) -
baseada no envio de pacotes
16

Energética de Goiás), EBA PLC (EBA PLC Ltda.). Positivo Informática,


SEBRAE e Samurai.
 Conjunto habitacional na Mooca em São Paulo/SP,projetado pela CDHU
(Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano) em parceria com
a AES Eletropaulo.
17

Considerações Finais

A possibilidade de levar transmissão de dados, voz e vídeo em banda larga a


mais de 95% (IBGE, 2006), das residências brasileiras por meio da infra-
estrutura da rede de distribuição de energia elétrica já existente, despertou nas
empresas de geração e distribuição de energia elétrica do Brasil, o interesse na
tecnologia PLC, visando a abertura do mercado de serviços agregados aos já
existentes. Concomitante às vantagens do PLC para o mercado energético
estão as desvantagens técnicas da tecnologia que, por apresentarem uma
grande quantidade de variáveis a serem analisadas antes de sua implantação e
não apresentar ainda uma uniformidade de soluções, faz crescer o espaço de
tempo entre a análise e implementação devido a quantidade de topologias das
redes elétricas e equipamentos não padronizados ligados às mesmas.

Outro problema advindo das redes elétricas está nas residências que, em sua
grande maioria, não dispõe de plantas elétricas das instalações e estas não
estão normatizadas, o que acaba por limitar o princípio do aproveitamento da
infra-estrutura elétrica existente. Há ainda o ceticismo de alguns ramos da
comunidade científica que apontam para os possíveis riscos da implantação do
PLC próximo a aeroportos, hospitais e instalações militares, pois acreditam que
as freqüências utilizadas pelo PLC podem interferir nos equipamentos de
controle e monitoração de vôo dos aeroportos, nos equipamentos hospitalares
computadorizados que utilizam rádio freqüência para diagnósticos e nos
equipamentos de controle e monitoração militares. Porém, até o fechamento
deste trabalho não haviam estudos comprobatórios para tais afirmações.

Ultrapassada a barreira técnica, resta ultrapassar o obstáculo econômico,


principal fator que impede a implantação de novas tecnologias no Brasil, do
qual o PLC não foge à regra. O percentual de usuários que acessaram a
Internet ao menos uma vez em todo ano de 2006 ficou em 21%, segundo o
IBGE, que ainda revela que desse total, cerca de 70% dos indivíduos, têm
renda familiar acima dos cinco salários mínimos e utilizam alguma das
tecnologias de acesso popularizadas como o ADSL, cabo, wireless ou celular.
18

Esses dados quando confrontados com o fato de que a produção de


equipamentos PLC ainda é restrito a poucas empresas, o que encarece os
mesmos sobremaneira, foge completamente à realidade da economia de
massa brasileira, pois inviabiliza a aquisição de equipamentos por parte da
população que seria o foco da expansão da rede de comunicação de dados.

Outro fator a ser observado é a expansão da Internet em banda larga pela rede
de telefonia celular cada vez mais popular e com valores cada vez mais
acessíveis ao usuário final, e que vem sendo reforçada com a entrada em
operação já em 2008 da rede de terceira geração que possibilitará serviços de
dados, voz, vídeo e a IPTV (Método de transmissão de sinais televisivos sobre
protocolo de Internet em tempo real), entre outros serviços, concentrados num
só aparelho, muitos dos quais já exaustivamente testados e em uso
atualmente, apesar dos custos de implementação maiores, não está sujeito às
interferências que acometem a PLC.

O futuro da PLC reside no fato de alcançar a última milha. Assim algumas


vantagens ainda são bastante atraentes como a alta capilaridade das redes e
universalização do acesso à Internet, por isso esta tecnologia tende a coexistir
com outras tecnologias já em uso, criando um campo fértil para reforçar a
expansão da inclusão digital bem como para automação dos serviços das
empresas de geração e distribuição de energia elétrica. Portanto, este artigo
não tem a pretensão de encerrar as discussões a cerca da PLC, deixando
aberto para novos debates.
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Referências:

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