Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
252
ajustem à forma da realidade e ultrapassar algumas falácias ligadas ao
otimismo mas destituídas de realismo (p.81 e ss.).
Scruton está convencido de que a autoilusão encerra mais danos do
que benefícios. Encontramos esta sua convicção em todos os capítulos do
livro. Crítica de modo desassombrado e muito áspero os burocratas de
Bruxelas, mas também os pedagogos que desvirtuaram a educação, ao
decidirem que a mesma não tinha que ver com a obediência e estudo mas
com a autoexpressão e recreação. Ao longo de toda a obra salta à vista o
resultado da entrega dos nossos destinos coletivos a incompetentes. Mas
crítica de modo violento os regimes políticos, a imigração descontrolada e
o fundamentalismo islâmico.
As sociedades entraram num período de instabilidade e ameaça.
Foram conduzidas a este ponto por maneiras de pensar que são irracionais
(p.162). Um exemplo dessa estratégia foi o incentivo irracional e
desmedido ao consumo. Numa economia de crédito, em que as pessoas
procuram desfrutar agora e pagar depois, a responsabilidade está
constantemente a diminuir (passim). Podemos proteger-nos das falsas
esperanças e adquirir verdadeiras esperanças através de três estratégias:
Defesas contra a verdade. Esta defesa é habitualmente usada em ações
defensivas que mostram o modo como os seres humanos conspiram para
evitar a verdade, sempre que a verdade exige uma mudança de rotinas.
Falsas perícias, inventadas, têm sido úteis para sustentar falsas
esperanças. A culpa transferida: quando acontecem coisas más,
procuramos a pessoa, o grupo ou o coletivo que as causou e a quem possa
ser atribuída a culpa. A terceira estratégia para evitar a verdade, o
hermetismo tem tido grande impacto nas universidades e envolve não
defender a posição de uma pessoa mas sim escondê-la para proteger as
suas ilusões. A criação de bodes expiatórios: em momentos de tensão,
quando as ilusões do otimista estão em perigo de refutação, o crítico é
transformado em inimigo interno, não é ele que está a argumentar a favor
de uma posição rival, é ele que se destaca da multidão como vítima
sacrificial, é ele o bode expiatório (p.167-178). Estas estratégias mostram
hábitos defensivos que se mantêm entre nós. Hábitos que servem para
desviar as nossas decisões coletivas do ceticismo razoável que é
necessário e para colocar no lugar dele falsa esperança. Não são só os
otimistas que se entregam a esses hábitos, para Scruton “sempre que foi
construído um modo de vida com base numa crença falsa ou
questionável, as defesas vêm em socorro dos crentes”(p.188). “Nenhum
paraíso parece tão ao abrigo de tempestades intelectuais como o paraíso
das falsas esperanças” (p.189), E contínua: “…em vez de nos perdermos
nessas esperanças irrealistas, devemos reflectir outra vez sobre a nossa
natureza de criaturas estabelecidas e que negoceiam, e voltar à nossa
missão, que é olhar com ironia e desprendimento para a nossa real
253
situação e estudar a maneira de viver em paz com aquilo que
encontramos” (p.223).
Portanto, Scruton tem uma visão conservadora e rígida do mundo o
que põe em confronto aqueles que o admiram com aqueles que o
detestam. Na sua argumentação defende a ideia de que o maior perigo e a
maior ameaça advieram sempre dos que defenderam o idealismo e o
otimismo, fossem da direita ou da esquerda. É preciso substituir este
irracionalismo pelo pessimismo humano, porque o otimismo é a raiz de
todos os males.
254