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GROUND’2004 International Conference on Grounding and Earthing

&
st
And 1 International Conference on
Lightning Physics and Effects
1st LPE Belo Horizonte - Brazil November, 2004

SURGE PROTECTIVE DEVICES FOR LOW VOLTAGE SYSTEMS


HIGH ENERGY VARISTOR FOR CLASS I APPLICATION

Ailton Ricaldoni Lobo Marcelo Augusto Freire Lobo Marcello Regis Orrico Wagner Almeida Barbosa
Clamper Indústria e Comércio S.A.

1 INTRODUÇÃO temporários na operação, falhas instantâneas ou


danos nos circuitos mais sensíveis.
A descarga atmosférica como uma fonte de Normas internacionais tais como as da IEC e ANSI,
interferência, possui uma energia instantânea bastante possuem tabelas que recomendam distâncias
elevada, ou seja, alguns milhões de joules , em mínimas entre partes metálicas bem como entre fios e
contraste com alguns mili-joules que podem ser carcaças que podem ser vistas como uma forma de
suficientes para interferir e até danificar os proteger, limitando as sobretensões em outras partes
equipamentos eletrônicos. Vários cientistas têm do circuito.
concentrado esforços para caracterizar a dispersão da Se a impedância da instalação limitar a corrente de
corrente impulsiva no caso de uma descarga direta na curto circuito no caso de uma disrupção, os
edificação ou na rede de distribuição de energia, dispositivos de proteção contra curto circuito e
telecomunicações, etc, objetivando verificar os efeitos sobrecargas (fusíveis e disjuntores) poderão não
na entrada de energia das edificações para operar.
dimensionamento de Dispositivos de Proteção contra Considerando a entrada de energia de uma unidade
Surtos - DPS - apropriados. Estes esforços têm consumidora em baixa tensão, a norma ANSI-IEEE-
motivado os fabricantes de componentes tais como, C62.41 [8] estabelece parâmetros para classificar as
varistores de óxido de zinco, centelhadores/spark gaps, instalações em categorias considerando o nível de
dispositivos de estado sólido, dentre outras, para exposição das instalações a descargas atmosféricas.
aplicação em DPS a fazer uma releitura das Para equipamentos localizados na categoria B, ou seja,
tecnologias disponíveis. após o medidor de energia da distribuidora, em uma
área de exposição elevada a descargas atmosféricas,
Este trabalho tem como objetivo demonstrar que os o valor da tensão impulsiva em onda 1,2/50µs a ser
varistores de óxido de zinco podem ser aplicados na aplicada nos DPS (Dispositivo Protetor contra Surtos)
fabricação de DPS, classe I, previsto nas normas IEC deve ser de 6kV, o que é compatível com a tensão
61643-1 [4] e IEC 60364-5-534 [3], com algumas disruptiva do medidor de energia da concessionária.
vantagens sobre outras tecnologias.

2 SOBRETENSÕES TRANSITÓRIAS EM INSTALAÇÕES


PREDIAIS DE BAIXA TENSÃO

Para fins de uma análise da distribuição da corrente no


sistema de proteção contra descargas atmosféricas e
na barra de aterramento principal da edificação, a
corrente da descarga é considerada como um gerador
de corrente injetando corrente no ponto de entrada da
edificação. A corrente conduzida provoca os seguintes
acoplamentos [5, 6]:

- Resistivo;
- Magnético; e
- Capacitivo, devido ao campo elétrico. O texto sugerido pela CE – 03:064.1 [1], seguindo
recomendações contidas na IEC 60364-4-443 [2],
As sobretensões transitórias geradas podem causar contém tabela com valores de suportabilidade a
disrupção da isolação tanto nas instalações como nos sobretensões transitórias de acordo com a categoria
equipamentos tendo como efeitos distúrbios dos equipamentos e também sugere para os
equipamentos localizados na origem da instalação,
nível permissível de sobretensão de 6kV em forma de Entretanto, os fabricantes de dispositivos a base de
onda 1,2/50µs. Neste caso está sendo considerada a spark gaps, tem recomendado descarregadores de
localização dos equipamentos após o medidor, dentro corrente com capacidade de dreno de até 100KA, em
da edificação. Em situações de equipamentos forma de onda 10/350µs. A norma de instalações
localizados externamente à edificação, poderão ocorrer elétricas de baixa tensão [3] recomenda uma corrente
valores superiores de sobretensões transitórias. Para Iimp de 12,5KA para sistemas de aterramento tipo TN.
fins de ensaios de equipamentos e DPS, está previsto
na norma C62.41 [8] 20kV (categoria C) em forma de Para fins de avaliação do desempenho dos DPS, a
onda 1,2/50µs. norma IEC 61643-1[4], utilizada pelos fabricantes de
Entretanto, conceitos de proteção por zonas DPS, disponibiliza valores preferenciais de correntes
estabelecidos pela norma IEC61312 [5,6], com para avaliação de dispositivos classe I, adequados
recomendações de DPS específicos para cada zona de para instalação na entrada das edificações sujeitas a
proteção, e ainda uma nova proposta de distribuição descargas diretas. Os valores recomendados são:
das correntes de descarga, no caso de uma descarga
direta na entrada da edificação, tem concentrado Ipico (kA) Q(As) dentro de 10ms
esforços de cientistas no mundo inteiro, sendo alguns 20 10
para desenvolver tecnologias de dispositi vos de 10 5
proteção que suportam os valores de corrente/energia 5 2,5
propostos pela norma e outros tentando provar que os 2 1
valores propostos são absurdos (da ordem de 200KA, 1 0,5
em 500µs, equivalente a uma forma de onda de
10/350µs). Os valores publicados na norma são bastante
O que se viu nos últimos anos foi uma campanha sem inferiores aos sugeridos pelos fabricantes de produtos
precedentes, promovida por alguns fabricantes de a base de spark gaps e não são referenciados a uma
DPS, principalmente europeus, no senti do de divulgar a forma de onda específica.
utilização de dispositivos do tipo spark gaps, como
sendo a única solução para atender aos valores de
corrente de descarga, para DPS a serem instalados na 3 UTILIZAÇÃO DE VARISTORES EM DPS CLASSE I
entrada das edificações sujeitas a descargas diretas
face a alta capacidade desses dispositivos em drenar 3.1 HISTÓRICO
correntes de raios . Os varistores são resistores cuja resistência varia com
Considerando a instalação como de nível III, de acordo a tensão aplicada sendo, por isso, também
com a norma IEC 61312 [5,6], tem-se: denominados VDR (Voltage Dependent Resistor).
Varistores são usados desde a década de 20 em pára-
Parâmetros da corrente Nivel de proteção – III raios de distribuição e de subestação. Eram baseados
nas propriedades do carboreto de silício (SiC).
Ipico (kA) 100
Tempo de frente (µs) 10 O inconveniente principal do Varistor de SiC é que, se
Tempo de meio valor (µs) 350 for energizado permanentemente (ligação entre linha e
Carga (C) 50 terra), admite uma corrente que, embora pequena no
Energia específica (MJ/Ω) 2,5 início, vai provocando um aumento de temperatura que
causa um aumento da corrente, num processo
Para justificar a recomendação dos spark gaps, denominado avalanche térmica que leva à rápida
também chamados de descarrregadores de corrente , o destruição do Varistor. Por esse motivo ele precisa ser
conceito de dispersão da corrente utilizado é o associado com um centelhador em série:
seguinte: Na década de 60, começaram a ser estudadas as
No caso de uma corrente de descarga, com valor de propriedades do óxido de zinco (ZnO), tendo surgido no
100kA (considerando instalação nível III) atingir mercado os primeiros varistores desse material na
diretamente uma edificação, 50% do valor da corrente década de 70 (pela Matsushita, no Japão).
vai diretamente para o sistema de aterramento, e os
outros 50% se dividirão, retornando via sistemas de
energia, telecomunicações, tubulações metálicas, etc.
Se o sistema for trifásico, ou seja, 3 fases mais o
condutor neutro, a pior condição seria:

- Uma edificação isolada; e


- Toda a corrente retornando via rede de
distribuição de energia, supondo não haver nenhuma
outra conexão metálica.

Neste caso a corrente teria um valor de 12,5KA.


Com o ZnO são fabricados varistores com coeficiente
de não linearidade (α) da ordem de 30 ou mais Dados do varistor:
(enquanto os de SiC têm α = 5), e por isso não Uc: 275V
precisam do centelhador em série, podendo ser Un: 430V – 1mA
utilizados diretamente entre a linha e terra tanto em
corrente alternada (c.a) como em corrente contínua
(c.c.).
Embora o elemento básico seja o ZnO (cerca de 90%),
são usados normalmente mais outros óxidos
metálicos e aglomerantes.

3.2 PROCESSO DE FABRICAÇÃO E PROPRIEDADES


Um varistor é formado por micro-varistores em série (a Aplicações em onda 8/20µs (kA)
Amostra
tensão do varistor é dada pela sua altura) e em Nº1 Nº2 Nº3 Nº4
paralelo (a capacidade de conduzir corrente é dada 1 91,40 101,30 110,90 -
pelo seu diâmetro, ou pela seção, se não for sob a 2 91,40 90,00 89,80 90,60
forma de disco); a capacidade de dissipar energia será
dada pelo volume (cm³). A amostra 1 apresentou falha na 3º aplicação e a
amostra 2 apresentou falha na 4º aplicação. Observou-
se que a falha não era nos blocos, mas sim na
conexão, em função da força entre o condutor e o
contato do bloco.
Pela norma americana ANSI C 62.41[8], os
procedimentos da IEC, principalmente os relacionados
com a novas formas de onda, e correntes com valor de
pico menor porém com uma carga associada, ainda
estão em fase de estudo. A norma permite aos
fabricantes de DPS classificarem os DPS como sendo
Nos dias atuais, face às novas formulações, pesquisas classe I, utilizando uma fator de 10 (empiricamente
de materiais bem como novas possibilidades de estabelecido) para relacionar uma corrente na forma de
montagens dos blocos oferecidas pelos fabricantes onda 8/20µs com uma corrente na forma de onda
[15], a relação entre, por exemplo, o diâmetro dos 10/350µs. Se um varistor suporta 100kA na forma de
varistores e a capacidade de dreno de corrente em onda 8/20µs, pelo critério estabelecido pela norma
forma de onda 8/20µs não pode mais ser utilizada americana, ele suporta uma corrente de 10kA na forma
como regra fixa para seleção de varistores. de onda 10/350µs.
Até poucos anos, um varistor com diâmetro de 20mm,
tinha capacidade de dreno de corrente de 6,5kA. 3.3.2 - Ensaios realizados em blocos de varistores de
Atualmente o mesmo varistor p ode ter uma capacidade óxido zinco em forma de onda 10/350µs
de dreno de corrente de até 15kA [15] em forma de
onda 8/20µs. Os fabricantes estão conseguindo Dados do varistor:
aumentar de forma bastante expressiva a capacidade Uc: 275V
de dreno de corrente e consequentemente, a Un: 430V – 1mA
capacidade de absorção de energia dos varistores.
Os fabricantes já estão disponibilizando varistores para
aplicação em dispositivos de proteção contra surtos Aplicações em onda 10/350µs (kA)
Amostra
classe I, com capacidade de dreno de corrente até Nº1 Nº2 Nº3
25KA e carga específica de 12,5As. 1 * 12 14
2 * 12 14
Conceitos ultrapassados sobre paralelismo de 3 12 14 -
varistores também foram superados uma vez que os * A forma de onda não estava de acordo com a norma
próprios fabricantes [15] estão disponibilizando blocos
de até 5 pastilhas em paralelo uma vez que a eficiência Un Tensão de referência a 1mA
é garantida através da pré-seleção dos blocos efetuada Amostra após
Antes
pelo fabricante durante o processo fabril. Nº1 Nº2 Nº3
1 427 424 421 182
2 436 433 430 418
3.3 RESULTADOS DE TESTES 3 429 427 401 -

3.3.1 – Ensaios realizados em blocos de varistores de As Três amostras suportaram as correntes de 12 a


óxido zinco em forma de onda 8/20µs 14kA em forma de onda 10/350µs e não foram
constatados danos físicos aparentes nas amostras. Na
avaliação de degradação, através da medição da
tensão de referência a 1mA, a amostra 1, após a
terceira aplicação apresentou resultado fora da
tolerância que é de 90% a 110% do valor medido antes
do ensaio.

3.3.3 – Ensaios realizados e, blocos de varistores de


óxido de zinco em forma de onda 80/350µs

O teste foi realizado de acordo com os procedimentos


da norma IEC61643-1[4], classe I. Foi adotada uma
forma de onda com tempo de frente mais longo com o
objetivo de sobre estressar os blocos varistores.

Dados do varistor:
Uc: 275V
Un: 430V – 1mA

Amostra 1
crescimento de demanda e uma grande aceitação para
aplicações generalizadas apresentando vantagens em
função das seguintes características e premissas:

a) Custo reduzido significativamente, face à


competitividade entre vários fabricantes, alta escala de
produção e incremento tecnológico nos processos
produtivos;
b) Melhoria do desempenho ao longo dos anos obtida
através do desenvolvimento tecnológico nos materiais,
e processos produtivos traduzindo-se, sem alterações
Amostra 2 dimensionais em maiores capacidades de correntes e
menores valores de tensão residual;
c) A associação de dispositivos de atuação térmica e
ou de corrente associados aos DPS, provendo
segurança nos casos de sobreaquecimento
decorrentes de degradação (fim de vida útil) ou
sobretensões temporárias permite a utilização deste
em quadros elétricos ao lado de disjuntores, DR e
outros dispositivos de proteção e controle;
d) O uso da mesma tecnologia para fabricação de
pára-raios de média e baixa tensão para redes de
distribuição de energia, considerada uma aplicação de
exposição extrema, propicia incremento na escala de
produção e investimentos na melhoria contínua da
Amostra 3 tecnologia.

2- A experiência de centenas de milhares de DPS


instalados, ao longo dos últimos anos, e a experiência
de campo, nos leva a crer que dispositivos de
capacidade máxima em torno de 40 kA (8/20µs) – 500
Joules , utilizados não somente nas entradas das
edificações, mas também no secundário de
transformadores junto à rede de distribuição de
energia, atendem perfeitamente ao requerido, ou seja,
representam a melhor relação custo/benefício.

3- No cenário de uma descarga considerada rara, com


corrente da ordem de 100kA, deve-se ainda levar em
Amostra 4 conta na análise, para fins de definição de parâmetros ,
fatores que serão determinantes para diminuição da
corrente tais como, “flash-overs” distribuídos de form a
randômica na instalação e a probabilidade de
ocorrência.

4- A tentativa de retornar aos "spark gaps", que


possuem capacidade de dreno de corrente
superestimada, nos leva a refletir sobre a real
necessidade de adotarmos dispositivos de altíssima
capacidade de corrente e custo elevado.

5 REFERÊNCIAS
Amostra 5
[1] CE – 03:064.1 – Comissão de Estudos de
4 CONCLUSÕES Instalações Elétricas de Baixa Tensão - GT- 4 –
Sobretensões – Draft – 2003
1- Os dados apresentados neste trabalho levam a [2] IEC 60364-4-443 – Part 4 – Protection against
conclusão de que os varistores de óxido de zinco Overvoltages of Atmospheric Origin or Due to
podem ser aplicados na fabricação de DPS classe I. Switching – 1999.
Dentre as tecnologias disponíveis na atualidade, o [3] IEC 61364-4-534 – Part 4 – Devices for Protection
varistor de óxido de zinco tem experimentado um Against Overvoltages - 2002.
[4] IEC 61643-1 – Surge Protective Devices Connected
to Low-voltage distribution Systems Part 1:
Performance Requirements and Testing Methods,
First Edition, 2002
[5] IEC 61312-1 – Protection Against LEMP- Part
1:General principles, 1995.
[6] IEC 61312-3 – Protection Against LEMP- Part 3:
Requirements of Surge Protective Devices, 2000.
[7] IEEE std C62.34 - IEEE Standard for Performance of
Low-Voltage Surge Protective devices (Secondary
Arresters), 1996.
[8] IEEE C62.41 – IEEE Recommended Practice on
Surge Voltages in Low-Voltage AC Power Circuits –
2002.
[9] Test Report Laboratory of “Fakulta electrotechniky a
informatiki ” in Bratislava on 14.06.2003.
[10] Harris Suppression Products – An Overview of
Electromagnetic and Lightning Induced Voltage
Transients – January, 1998.
[11] Mansoor, Arshad, e Martzloff, François – The
Dilemma of Surge Protection vs Overvoltge
Scenarios: Implications for Low-Voltage surge-
Protective Devices – Proceedings, 8º Annual
Conference on Harmonics and Quality of Power,
Athens, October 1998.
[12] Mansoor, Arshad, e Martzloff, François – The Effect
of Neutral Earthing Practices on Lightning Current
Dispersion in Low-Voltage Installation – IEEE
Translations on Power Delivery, Vol. 12, Nº3, July
1997.
[13] Martzloff, François, e Mansoor, Arshad – The Role
and Stress of Surge-Protective Devices in Sharing
Lightning Current – EMC Europe 2002, September
2002.
[14] B. Weise., C. Heinrich, L. Klingbeil, W. Kalkner –
High Energy Lightning Impulse Stress on MO
Arresters and their Degradation.
[15] Keko Varicon Data Sheet – 2003
[16] Barbosa, Wagner A. – Sobretensões Transitórias
em Instalações Prediais - Aspectos sobre a
Especificaição do DPS – 2003.

Autor:
Wagner Almeida Barbosa
Clamper Indústria e Comércio S.A.
Rodovia LMG 800 KM 01, Nº 128, Distrito Industrial
Genesco Aparecido de Oliveira
Lagoa Santa- MG – Cep: 33400-000
Wagner@clamper.com.br

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