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O Brasil vive sob os resquícios da Ditadura

Dauranisia Diniz Monteiro

Teóricos de alguns setores da sociedade arriscam


palpites diversos sobre a política vivida hoje no Brasil. Há quem
diga que o país vive uma Ditadura Civil, está sofrendo um
Golpe Permanente ou que está no rumo do Totalitarismo
Liberal. Há ainda quem relacione as Medidas Provisórias
implantadas pelo Governo Federal com os Decretos-lei da
época da Ditadura.

“O Brasil vive hoje a primeira das utopias modernas, a


liberal, que entra agora em sua fase totalitária, como aconteceu
com o nacionalismo e o comunismo que culminaram no
nazismo e no stalinismo”. Esse pensamento foi expressado em
recente entrevista pelo cientista político José Luis Fiori, que
participou no último mês de abril do seminário “Globalização: o
Fato e o Mito”, no Rio de Janeiro.

Na entrevista, concedida a um grande jornal paulista,


José Luis Fiori que é professor da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), disse ainda que nesse caminho se
configuram os novos judeus atropelados, marginalizados,
excluídos e mortos pelo avanço implacável da máquina
totalitária liberal. Fiori diz que isso acontece por que “não há
suficiente poder alternativo, pois as forças divergentes foram
derrotadas e estão se recuperando muito lentamente”, analisa.

Governo cultiva hábitos da Ditadura com Medidas


Provisórias

“Recentemente, o governo federal publicou mais uma


Medida Provisória - cultivada neta do famigerado Decreto-lei da
ditadura militar”, comparou o historiador Severino Vicente da
Silva, se referindo à medida implantada pelo governo federal
que trata do reajuste salarial dos professores das
universidades públicas federais. A categoria não tem aumento
há mais de três anos. O historiador garante ainda que a
sociedade herdou muita coisa da Ditadura, como “o medo, um
ensino medroso e uma geração sem memória”, enumera.

O Decreto-lei era utilizado durante a ditadura para


impor a vontade do Poder Executivo à sociedade, suprimindo a
função do Poder Legislativo. Neste último, a lei passa por um
lento processo de votação que inclui o posicionamento de
deputados e senadores. Para se livrar desse procedimento, o
executivo criou o Decreto-lei para casos de urgência, o que
veio a tornar-se um hábito freqüente.

Assim como na ditadura com o Decreto-lei, a Medida


Provisória ocupou um lugar cativo no cenário político brasileiro
pós-ditadura. A MP foi criada no governo Sarney, e incorporada
à Constituinte de 1988, com o objetivo de ser utilizada em
situações excepcionais em que estivessem em risco grandes
interesses nacionais.

Compartilha dessa idéia o cientista político Luciano


Oliveira, lembrando portanto que, no caso do Decreto, se não
fosse aprovado ou revogado no prazo de 30 dias pelo
Congresso Nacional, estaria automaticamente aprovado por
decurso de prazo. Já com a MP acontece o inverso. A idéia
original era revogar a medida caso o Congresso não chegasse
a um resultado em 30 dias. Mas para nãocorrer o risco de ver ir
por água abaixo os projetos implantados via MP, terminado o
prazo de 30 dias, o executivo se permite lançar outra MP com o
mesmo teor ou com pequenas alterações para dar
continuidade ao projeto. “O Plano Real nasceu de uma medida
provisória”, lembra Luciano Oliveira, “e após um mês foi outra
medida que permitiu que o plano prosseguisse”.

O advogado José Paulo Cavalcanti Filho também está


de acordo com esta teoria. Mas ele vai mais longe e afirma que
a Medida Provisória é um instituto que está presente em duas
constituições: a italiana e a espanhola. Na Espanha o sistema
é mais rigoroso, por isso há um grande conjunto de matérias
que não pode ser objeto de Medida Provisória. Só que no caso
do Brasil, segundo ele, “infelizmente nós copiamos o modelo
italiano. E o modelo italiano não oferece grande diferença do
decreto-lei. Entretanto, eu acho que a discussão é mais ampla
e diz respeito ao sistema clássico da tripartição do poder que
hoje está corroída. A função tradicional do parlamento que é
fazer leis está em desuso progressivo, por que o parlamento
não tem estrutura capaz de acompanhar a velocidade dos
fatos sociais no mundo todo”, avalia Cavalcanti.

Apesar de concordar que a Medida Provisória lembra


em muito o Decreto-lei, o advogado Paulo Cavalcanti Filho
discorda que possa se medir o grau de autoritarismo do
governo FHC apenas pelo exame de decreto-lei ou medida
provisória. Sobre a situação atual do país, o advogado acredita
que “estamos vivendo uma dupla crise, que é a crise estrutural
da economia mundial que busca eficiência e é estruturalmente
desempregadora, e a crise conjuntural da estabilidade
econômica brasileira. E ainda há uma terceira crise, no
nordeste, que é a conjuntural dentro da conjuntural. É a crise
da exclusão do nordeste do bloco econômico do país, da
ausência de política contra a seca, a ausência de integração
entre os setores de ponta da economia brasileira”, avalia.

José Paulo Cavalcanti Filho foi Ministro da Justiça no


governo Sarney, é articulista da Folha de São Paulo e do
Jornal do Commercio. Quando cursava Direito na Universidade
Católica de Pernambuco, em 1969, foi cassado junto com mais
28 estudantes pelo AI-5. Ele era presidente do Diretório
Acadêmico do curso e defendia o fim do autoritarismo, mesmo
não militando em nenhum partido. Ele lembra que através do
decreto 477, o governo suspendia os melhores alunos das
universidades. O governo limitava a liberdade de aquisição do
conhecimento para que o estudante, em virtude disso, não
viesse a representar um perigo ao sistema imposto à
sociedade. Estudando e pesquisando, desenvolve-se a
capacidade crítica e contestadora.

Com menos de 15 anos de democracia, o Brasil ainda


vive sob os resquícios da Ditadura. Assim pensam lideranças
de esquerda, estudantis e intelectuais de vários setores, que
fazem oposição ao atual governo. Eles fazem côro com o
cientista político Luiz Fiori e afirmam que a política vivida no
Brasil hoje tem um forte caráter autoritário, pois não se vive
uma democracia plena. Como disse o advogado José Paulo
Cavalcanti Filho no livro Informação e Poder “pobre democracia
brasileira, feita apenas pelas elites e para as elites”.Ciclo
Militar - O último militar a ocupar a presidência foi o general
João Figueiredo. Em meio às mobilizações pelas Diretas-Já,
rejeitada no Congresso, Tancredo Neves foi eleito sucessor de
Figueirêdo ainda pelo voto indireto, embora sua vitória tenha
sido bem aceita pelas camadas populares da sociedade.
Entretanto, Tancredo não chegou a ocupar o cargo,
impossibilitado por motivo de doença que o levou à morte
pouco depois. O seu vice, José Sarney, assumiu e foi o
primeiro civil a ocupar a presidência depois do ciclo de
generais e marechais que comandaram o país por mais de 20
anos. Portanto, depois de mais de duas décadas de Ditadura
Militar, o primeiro presidente eleito pelo voto direto, ou seja,
pelo povo, foi Fernando Collor de Melo, que também pelo povo
foi afastado do poder. Por isso, o Brasil ainda está
engatinhando no seu processo democrático que não tem mais
do que dez anos.

A Ditadura ronda o mundo e recebe várias


definições

A Ditadura não é característica apenas dos países


latino-americanos. Em todo o mundo ela aparece, de uma
forma ou de outra, explícita ou mal disfarçada em regimes de
governo que “defendem” a soberania e a democracia a
qualquer preço. Como exemplos de ditaduras ferrenhas na
Europa temos a de Franco na Espanha e a de Salazar em
Portugal.

E quem saiu ganhando com as ditaduras que foram


implantadas por toda a América Latina? Dizem alguns
estudiosos que a implantação desse regime se deve à crise do
capitalismo. Essa afirmação faz sentido, visto que as ditaduras
além de combater os avanços comunistas no continente, toda
ela tem estreitas relações com o imperialismo, principalmente,
o norte-americano.

O regime ditatorial já recebeu várias definições, devido


as peculiaridades de cada país e cada região onde é
implantado. No livro A Batalha da América Latina, o autor Otto
Maria Carpeaux classifica o peronismo na Argentina como
ditadura do tipo sulista, caracterizada por vagas idéias pseudo-
socialistas, nacionalismo econômico e antiparlamentarismo.
Segundo o autor, como Perón, Getúlio Vargas no Estado Novo,
também chamado Estado Totalitário por Hélio Silva em seu
livro O Poder Militar, adotou o mesmo sistema. Contudo, vale
ressaltar que nem toda ditadura é militar, exercida diretamente
pelas Forças Armadas. Ela pode ser civil, como a de Vargas,
embora esteja sob custódia do Poder Militar. Aí reside a
diferença entre Ditadura e Regime Militar, sendo este último
exercido por um militar, sob a tutela das Forças Armadas, com
preponderância do Exército.

Colocações feitas por diversos autores sobre a ditadura


e o fascismo, leva a conclusão de que toda ditadura é fascista
e todo fascista é estadista. Estas três categorias estão
interligadas, uma complementa a outra. Como exemplo
específico temos algumas medidas implantadas durante a
ditadura getulista no Brasil, que foram baseadas na Carta do
Trabalho italiana do ditador fascista Mussolini e ainda pode ser
encontrada em nossa legislação. E segundo a história, Getúlio
é classificado como um dos maiores estadistas brasileiros.

O que fica evidente no conjunto dos acontecimentos


que englobam o regime ditatorial, é que sua gestão tem como
propósito defender, em primeira instância, os interesses dos
pequenos grupos que compõem as classes sociais
privilegiadas. Estas, sustentam a economia das nações
imperialistas que manipulam as ações dos países de menor
poder econômico.

Na América Latina, a ditadura proporcionou mais


perdas e danos do que benefícios numa guerra por vezes,
obscura, travada há séculos. No período Colonial o confronto
era entre colonizadores e escravos, hoje é entre governantes e
trabalhadores. O desenvolvimento industrial se sobrepôs, por
exemplo, ao agrário, para atender as necessidades capitalistas.
A Reforma Agrária, há muito idealizada pelos setores
dominantes da economia e que ganhou até um ministério
próprio, até hoje não foi feita, ao contrário de muitos outros
países subdesenvolvidos onde ela já foi concretizada. Alguns
teóricos afirmam que para retardar a reforma, alguns setores
parecem ter descoberto que discutí-la é a melhor maneira de
se distanciar dela, que continua a ser “um dos principais
entraves para o desenvolvimento do país”, segundo a visão de
lideranças da esquerda em Pernambuco.

Política - O Brasil está imerso em governos autoritários

A Origem da Ditadura vem de Séculos: onde estão


as Raízes do Regime?

Espanhóis e portugueses tiveram grande força no


processo de colonização da América Latina, o que não impediu
que outros países obtivessem suas parcelas de contribuição na
ocupação das terras e domínio dos povos nativos - índios -
além dos negros trazidos do continente africano para serem
escravizados, submetidos a um sistema de trabalhos forçados
que levou milhares deles à morte. Em O Poder Militar, Hélio
Silva afirma que ‘as raízes do autoritarismo foram trazidas de
Portugal pelas tropas de ocupação’. Segundo o autor ‘a
disciplina e o autoritarismo das tropas de ocupação foram o
molde onde se formaram as nossas forças militares’. Para o
cientista político e professor da Universidade Federal de
Pernambuco, Jorge Zaverucha, essa teoria não explica as
nossas raízes autoritárias e só prevaleceu até o início da
década de 70, enquanto Portugal e Espanha ainda eram
ditaduras. Segundo ele, nossa história está imersa em
governos autoritários. “A democracia no Brasil é uma coisa
tênue”, avalia.

Os portugueses foram os primeiros a se beneficiarem


das riquezas naturais do país explorando, à princípio, o pau-
brasil. Logo que descobriram outros filões decidiram colonizar e
depois, povoar o Brasil, já que a população nativa não estava
dando conta do trabalho. Daí, a importação de negros que
eram trazidos da África como escravos para trabalhar aqui.
Com a descoberta dos portugueses, outros povos também
despertaram interesse pelas matérias-primas encontradas aqui
e que serviam para o desenvolvimento de diversos setores da
indústria. Então chegaram os espanhóis, os franceses, os
holandeses... Tendo este último forte penetração no estado de
Pernambuco, onde o principal produto era a cana-de-açúcar.
Mas além destes povos, os ingleses também estiveram de olho
nos negócios de Portugal com o Brasil, no período colonial.

A região nordeste era a mais rica do país na época do


descobrimento até fins dos século XVIII. Toda ela foi
desgastantemente explorada pelos invasores. Em seguida foi a
vez da região sudeste que tornou-se a menina dos olhos, com
extensas plantações de café, além dos minérios encontrados,
principalmente, no estado de Minas Gerais.

O Golpe de 64 teve precedentes na História do país

O ano de 1964, no Brasil, foi de grande efervescência


política. Em meio a fortes pressões contra o seu governo, João
Goulart, que tinha estreitas relações com o populismo de
Getúlio Vargas - foi ministro do trabalho no governo Vargas -
teve seus poderes políticos reduzidos, após ter sido implantado
o regime parlamentarista. Esta foi uma estratégia dos setores
golpistas para bloquear as ações populistas de Jango, que
continuou a fazê-lo logo depois da queda do parlamentarismo,
que durou menos de dois anos.

De posse novamente de seus poderes como


presidente da república, após um plebiscito nacional, Jango se
viu entre a cruz e a espada, tendo que atender as pressões
populares por reformas estruturais e ao mesmo tempo
satisfazer a classe empresarial e os militares. O seu
antagonismo político resultou na sua deposição pelos militares,
que se sentiam ameaçados pelo seu governo, em 31 de março
daquele ano.

Com a deposição de Jango, teve início mais um


período de chumbo da política brasileira. Alguns dos anos mais
ferrenhos da ditadura militar tiveram como governantes o
marechal Castelo Branco, o general Costa e Silva e o também
general Garrastazu Médici. Foi o ciclo dos generais e
marechais. Prisões, desaparecimentos e assassinatos se
sucederam num clima de terror absoluto, onde as vítimas eram
não só operários e camponeses, mas também estudantes e
intelectuais, e os próprios militares.

O eterno retorno - As décadas de 60 e 70 foram de


muita violência política, mas teve precedentes. Manifestações
revoltosas também tiveram espaço no governo Artur Bernardes
(1922-1926), passaram pelo governo de Washington
Luís(1926-1930) e eclodiram com força total no primeiro
período Vargas(1930-1945), quando muitos opositores do
regime foram presos, inclusive o lendário Luiz Carlos Prestes.
Vargas determinou, então, o fechamento da Aliança Nacional
Libertadora(ANL), de influência comunista e presidida por
Prestes. Fica valendo aqui a teoria Nietzscheana do “eterno
retorno”, onde ele diz que “sendo o tempo eterno, tudo o que
aconteceu está condenado a acontecer outra vez”.

Já se disse também que a história é cíclica, o que só


reforça o pensamento acima citado. Sendo assim, estamos
condenados a viver as mesmas experiências em períodos
alternados e de forma diferente. Então, poderemos viver todo o
terror da ditadura novamente? Na avaliação do cientista político
e professor Jorge Zaverucha, no momento atual não estamos
na iminência de um retorno, mas isso pode acontecer caso o
Plano Real fracasse, por exemplo, o que criaria “um quadro de
profunda instabilidade política no país”. Zaverucha lembra
ainda que no governo Itamar Franco alguns setores da
sociedade chegaram a cogitar a possibilidade de um novo
golpe de estado, mas os ânimos se acalmaram com a
implantação do Plano Real.

Como analisar o que aconteceu em 64? Há poucos


estudos sobre Golpes de Estado, mas de acordo com o
historiador Luciano Cerqueira, o livro ‘A conquista do Estado’,
de René Dreyfuss é o que mais se aproxima da situação
política estabelecida no Brasil no ano de 1964. No livro, o autor
diz que o golpe de 64 no Brasil foi uma “ação cívico-militar
ampla”, o que significa que não apenas os militares tomaram o
poder, estes contaram com o apoio de vários setores da
sociedade civil. O autor recorda ainda que os mesmos setores
envolvidos no golpe de 64 já haviam tentado derrubar Getúlio
em 1954 quando o então presidente se suicidou, minando a
ação dos golpistas. Contudo, este grupo saiu vitorioso em 64, o
que faz crer que este golpe tenha sido resultado de uma ampla
mobilização iniciada uma década antes. Não foi uma reação
militar imediatista contra o governo populista de Jango, e sim,
uma ação desenvolvida a longo prazo. “Muito antes de 64, os
grupos envolvidos no golpe já conspiravam e tentavam
inviabilizar o governo de Jango”, assegura Cerqueira. “O golpe
de 64 envolveu grupos de empresários, banqueiros,
intelectuais da elite, políticos e militares com apoio financeiro e
técnico dos Estados Unidos”, garante.

O historiador também acredita que o país vive um


golpe permanente dado pelo próprio governo como aconteceu
com Vargas e o Estado Novo. Segundo ele, o quadro político
brasileiro está imerso num golpe permanente, dado através das
medidas provisórias e outros recursos, que passam
despercebidos pela opinião pública ou são ocultados, utilizados
para viabilizar a permanência do presidente no Palácio da
Alvorada por mais 4 anos após o atual mandato.

De acordo com Cerqueira há vários tipos de golpe e


eles podem ser classificados como: Inssurrecional que é dado
por setores de fora do governo sem o apoio da oficialidade,
como foi o da Rússia em 1917; Governamental quando o
próprio governo dá o golpe, como foi o de Getúlio em 1937 com
o Estado Novo, e recentemente Fujimore no Peru; Setorial
quando é dado por uma parte do governo, como o golpe
articulado por Pinochet que era Ministro do Exército de Allende,
no Chile.
A América para os norte-americanos: Só as
potências capitalistas ganham com Regimes Autoritários

De acordo com alguns estudiosos da política latino-


americana, não resta dúvida de que o maior beneficiário das
ditaduras no continente, ao longo do século XX, foram os
capitalistas, especialmente os norte-americanos. Todo ditador,
tanto da América do Sul como da Central, tinham estreitas
relações com o imperialismo norte-americano. Sempre em
nome da “democracia”, os Estados Unidos ergueram e
derrubaram ditaduras em todos os países latino-americanos.
Em cada um deles havia um produto de alto valor comercial a
ser explorado. Petróleo, cacau, açúcar, borracha etc. A
indústria automobilística norte-americana, por exemplo,
desenvolveu-se a partir da borracha explorada dos seringais da
Amazônia. Mão-de-obra barata, baixo ou nenhum imposto e
inexistência de barreiras alfandegárias facilitaram a ação dos
norte-americanos em terras brasileiras e no resto do continente
levando os Estados Unidos ao crescimento econômico e,
conseqüentemente, a categoria de potência mundial.

Os Estados Unidos não agiram sozinhos. Tinham como


aliada a elite local que facilitava a ação imperialista através até
mesmo de leis que garantiam o acesso e a intervenção dos
Yanques. Como exemplo, pode-se citar hoje a Lei de Patentes
que viabiliza, sem maiores obstáculos, a exploração de
produtos brasileiros por estrangeiros.

As oligarquias capitalistas comandaram o país durante


muito tempo, exercendo a prática do entreguismo, hoje
aperfeiçoada com os processos de privatização das estatais. A
política de privatização é considerada entreguista por serem os
grandes grupos empresariais quem compram as empresas, e a
maioria está diretamente ligada ao capital estrangeiro.
Algumas, inclusive, são empresas multinacionais. Essa política
estrangeirista constitui o principal fator que mantém a
dependência econômica do país.

De acordo com o cientista político Jorge Zaverucha os


militares desenvolveram o capitalismo de estado. Esse era
baseado na visão de que o estado deve ter um papel muito
importante na economia, o que valoriza as empresas estatais.
“Essa grande presença do estado veio, fundamentalmente, de
uma visão militar nacionalista. Hoje em dia isso está sendo
contestado, com a prática das privatizações etc.”, analisa.

Teóricos e intelectuais de esquerda garantem que a


globalização e a hegemonia da política neoliberal está fazendo
o mundo caminhar para um individualismo exacerbado. E no
caso do Brasil, a sociedade está vivendo sob os mandos e
desmandos da classe dominadora, numa democracia burguesa
que segue à risca as determinações da política de Washington
com o respaldo da elite brasileira que ainda conta com a vigília
das Forças Armadas, que estão sempre alertas para conter
qualquer avanço divergente.

MONTEIRO, Dauranisia Diniz. O Brasil vive sob os resquícios da Ditadura.


Disponível em:
http://www.torturanuncamais.org.br/mtnm_pub/pub_ensaios/pub_ens_dauranisia1.
htm Acesso em: 17.jul.2006.

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