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SONAE

50 ANOS
À FRENTE.
7 THE WAY FORWARD
belmiro de azevedo

11 CAPÍTulo 01
50 anos à frente desde sempre

25 CAPÍTulo 02
Inovação para estar 50 anos à frente

49 CAPÍTulo 03
50 anos à frente e em expansão

81 CAPÍTulo 04
DESENVOLVER para continuar 50 anos à frente

107 CAPÍTulo 05
O futuro está 50 anos à frente

113 CAPÍTulo 06
BELMIRO DE AZEVEDO: O EMPREENDEDOR
The Way
Forward
Ao reler o que escrevi no dia 25 de Maio de 1985 – Cultura Sonae – quase não faria alterações,
a não ser aquela que é óbvia – em vez do Homem Sonae, ter-se-ia que dizer o Homem e a
Mulher Sonae.

Mas vale a pena extrair pequenas partes do texto de então. Recordo, por exemplo, «Houve
um crescimento acelerado nos últimos anos, que ainda se prolongará por cerca de um ano.
Conscientemente, assumindo alguns riscos (somos empresários e não burocratas) esticá-
mos e vamos esticar um pouco mais os nossos recursos financeiros e humanos. Vamos
procurar não passar do limite do razoável, mas não vamos deixar de tomar acções funda-
mentais para implementar decisões importantes, integrantes da nossa estratégia de longo
prazo.

Seguir-se-á uma pausa. Para consolidar a gestão. Para consolidar a situação financeira.
Para retreinar, melhorar, aumentar os recursos humanos.

Somos homens de progresso e, portanto, outro salto se seguirá, oportunamente que vai
exigir gestores mais capazes – melhor formação, melhor informação, experiência acrescida,
maturidade para tomada de decisões cada vez mais difíceis por envolverem parâmetros
mais instáveis, verbas mais elevadas, mercados mais concorrenciais.»

E ainda… «Uma elite de dirigentes modernos tem de o ser por mérito, por reconhecimento
dos subordinados, dos superiores, dos pares, da comunidade em que se insere. As elites ver-
dadeiras não têm privilégios. Privilégio está conotado com favoritismo, nepotismo, favores
de heranças, etc. As elites têm direitos e não privilégios, direitos que decorrem naturalmente
da sua superioridade.»

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
The Way
Forward
Ao reler o que escrevi no dia 25 de Maio de 1985 – Cultura Sonae – quase não faria alterações,
a não ser aquela que é óbvia – em vez do Homem Sonae, ter-se-ia que dizer o Homem e a
Mulher Sonae.

Mas vale a pena extrair pequenas partes do texto de então. Recordo, por exemplo, «Houve
um crescimento acelerado nos últimos anos, que ainda se prolongará por cerca de um ano.
Conscientemente, assumindo alguns riscos (somos empresários e não burocratas) esticá-
mos e vamos esticar um pouco mais os nossos recursos financeiros e humanos. Vamos
procurar não passar do limite do razoável, mas não vamos deixar de tomar acções funda-
mentais para implementar decisões importantes, integrantes da nossa estratégia de longo
prazo.

Seguir-se-á uma pausa. Para consolidar a gestão. Para consolidar a situação financeira.
Para retreinar, melhorar, aumentar os recursos humanos.

Somos homens de progresso e, portanto, outro salto se seguirá, oportunamente que vai
exigir gestores mais capazes – melhor formação, melhor informação, experiência acrescida,
maturidade para tomada de decisões cada vez mais difíceis por envolverem parâmetros
mais instáveis, verbas mais elevadas, mercados mais concorrenciais.»

E ainda… «Uma elite de dirigentes modernos tem de o ser por mérito, por reconhecimento
dos subordinados, dos superiores, dos pares, da comunidade em que se insere. As elites ver-
dadeiras não têm privilégios. Privilégio está conotado com favoritismo, nepotismo, favores
de heranças, etc. As elites têm direitos e não privilégios, direitos que decorrem naturalmente
da sua superioridade.»

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
The Way
Forward
Ao reler o que escrevi no dia 25 de Maio de 1985 – Cultura Sonae – quase não faria alterações,
a não ser aquela que é óbvia – em vez do Homem Sonae, ter-se-ia que dizer o Homem e a
Mulher Sonae.

Mas vale a pena extrair pequenas partes do texto de então. Recordo, por exemplo, «Houve
um crescimento acelerado nos últimos anos, que ainda se prolongará por cerca de um ano.
Conscientemente, assumindo alguns riscos (somos empresários e não burocratas) esticá-
mos e vamos esticar um pouco mais os nossos recursos financeiros e humanos. Vamos
procurar não passar do limite do razoável, mas não vamos deixar de tomar acções funda-
mentais para implementar decisões importantes, integrantes da nossa estratégia de longo
prazo.

Seguir-se-á uma pausa. Para consolidar a gestão. Para consolidar a situação financeira.
Para retreinar, melhorar, aumentar os recursos humanos.

Somos homens de progresso e, portanto, outro salto se seguirá, oportunamente que vai
exigir gestores mais capazes – melhor formação, melhor informação, experiência acrescida,
maturidade para tomada de decisões cada vez mais difíceis por envolverem parâmetros
mais instáveis, verbas mais elevadas, mercados mais concorrenciais.»

E ainda… «Uma elite de dirigentes modernos tem de o ser por mérito, por reconhecimento
dos subordinados, dos superiores, dos pares, da comunidade em que se insere. As elites ver-
dadeiras não têm privilégios. Privilégio está conotado com favoritismo, nepotismo, favores
de heranças, etc. As elites têm direitos e não privilégios, direitos que decorrem naturalmente
da sua superioridade.»

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Igualmente relendo o que escrevi mais tarde (“Carta ao Futuro”, no Livro dos 40 anos da Sendo certo que o controlo accionista pode ter que ser partilhado para alguns projectos, não
Sonae, editado em Julho de 2002), relembro agora «É obrigação dos dirigentes e trabalha- será com certeza próximo do modelo pulverizado típico das grandes empresas do sistema fi-
dores fazerem um enorme esforço de renovação – plantando sementes, regando os reben- nanceiro ou segurador. E não exclui seed and venture capital que pode ser muito relevante no
tos, podando as árvores, colhendo os frutos – para que a sua Empresa se adapte perma- mundo actual onde o conceito de Open Innovation começa a ser aceite por muitas empresas
nentemente à mutabilidade do seu meio e seja, portanto, tecnicamente imortal. O empenho que reconhecem que a partilha do conhecimento entre concorrentes pode ser mais eficiente
exigido é, na verdade, muito grande, até porque sabemos bem que, apesar da argumenta- e eficaz por aumentar exponencialmente a probabilidade de sucesso quando o stock mundial
ção anterior, a taxa de mortalidade das empresas é muito elevada. de talentos é incomparavelmente superior ao de qualquer país ou empresa.

É, pois, preciso ter sempre presente que, sem cuidados, sem renovação, as árvores apo- A presente crise económica que foi induzida pelo colapso do sistema financeiro seguramente
drecem, os corpos envelhecem e morrem, as empresas estiolam e desaparecem.» que vai criar problemas, visto que foi dada prioridade (vários governos e instituições nacionais
ou supra nacionais) à recuperação do sistema bancário, provocando o crowding out que pode
O título que dei hoje – The Way Forward – sugere um futuro aberto, diferente por óbvias razões asfixiar o crescimento da actividade económica.
decorrentes de um mercado muito mais global, novas tecnologias, melhor formação, maior
ambição. Outros serão os caminhos ainda desconhecidos, com mais ou menos atalhos, com É importante manter o sistema financeiro que vive da e para a actividade económica de em-
vitórias e revezes, novas culturas, novos países, novas oportunidades, outras religiões, outras presas, particulares e até partes do Estado.
aspirações estratégicas.
Será pois importante para o nosso Grupo manter recursos humanos de excelência, recursos
Requere-se permanentemente uma redefinição da estratégia do Grupo que ocorre neste financeiros adequados em quantidade e maturidade, para apoiar a estratégia empresarial que
momento nas várias sub-holdings. deve ser actualizada face aos nossos desafios, às novas oportunidades, aos novos ciclos.
Não dou conselhos especiais, porque o risco de serem rapidamente obsoletos é grande e
Mas tudo o que até hoje escrevi foi sempre pensando que não se pode “legislar” para o futuro, porque acredito que os novos dirigentes em sucessivas gerações, quando bem escolhidos,
já que os novos líderes sabem que o fundamental é gerar mais e melhores líderes, ser global- saberão encontrar as melhores respostas para os novos desafios.
mente competitivos para gerar recursos financeiros crescentes para suportar as opções
estratégicas de acordo com as oportunidades e ciclos económicos. Maia, 18 de Agosto de 2009

O “cimento” do Grupo não é mais a rigidez dos organigramas, ou as sinergias clássicas de


eficiência operacional, mas sim o conjunto de valores descritos em 1985 e 1999 e recente- BELMIRO AZEVEDO
mente actualizados. São imateriais e, por isso, duradoiros. São baseados em educação, Chairman SONAE
cultura, ética e, por isso, facilmente validados em qualquer parte do mundo.

Recordo que a síntese minimalista que usei para definir o conceito de “Long-Living Company”
se resumia a:

Controlo Accionista + Gestão Profissional

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
01 50 ANOS À FRENTE
DESDE SEMPRE
Parti de uma empresa que estava falida Como se conta um rio? Falamos de

para a tornar no sucesso que foi quilómetros por causa do tamanho, metros
cúbicos para dizer do caudal, descrevemos a
ao longo dos anos. Fundamentalmente, paisagem por onde passa, as margens duras

sempre com o mesmo princípio: a Sonae ou suaves, rochas ou salgueiros, os ritmos do


seu cantar, a fundura, bem como quem dele
é empreendedora, inovadora e aceita fez estrada e caminho, lugar de repouso ou

que as coisas amanhã podem ser de esforço, os que lhe cantaram a beleza e
lhe perturbaram o curso através desse outro
melhores que hoje. E que as crises são fio que é o tempo. Falaremos disso tudo, mas

mais positivas que negativas. conseguiremos mais do que flashes, fotogra-


fias rápidas de um movimento que respira e
cresce e corre?

Belmiro de Azevedo A Sonae merece ser contada como um Neste primeiro fragmento se conta da funda-
rio, percorrida como quem navega um rio. ção de uma empresa, que começou por ser
Cinquenta anos não será mais do que uma uma ideia com raízes na inovação e ligação
convenção, uma maneira de reunir alguns à natureza, que procurava transformar o
fragmentos – chamemos-lhe minutos, horas, engaço da uva em placas de uso diverso.
anos, décadas – de uma realidade que não Um projecto que começa por dar sobretudo
deixa de se mover, de se rever, de se pensar. problemas, para cuja resolução é convocado
Mas faz-se excelente pretexto para recolher um jovem engenheiro. Belmiro de Azevedo
momentos que, embora pertençam ao pas- trouxe para a Sonae, não apenas a solução
sado, alavancam o futuro. Porque a Sonae, de um ou outro detalhe técnico, mas um
como um rio, conteve em si e logo desde o conjunto de valores obedientes à ambição
início o futuro. Sem nunca o adiar. de fazer e fazer melhor. Em cada uma das
áreas, fosse técnica, de gestão ou de market-
ing ou qualquer outra. Cedo se viram resulta-
dos e se notaram diferenças. A produção na
fábrica foi modernizada, o leque de produtos
alargado, novas empresas compradas e ven-
cidas até as circunstâncias históricas do pós
25 de Abril de 1974. Amanhã, está visto, pode
ser melhor que qualquer hoje.
«Nós temos algo que adaptei
do PREC (Processo Revolucionário
Em Curso): um processo
de reestruturação permanente.
A nossa maneira de estar
é em mudança. A Sonae pretende
ser uma empresa com uma
esperança de vida ilimitada desde
que se renove. Se as empresas
criarem um sistema de educação
permanentemente dos seus
funcionários e trabalhadores
não morrerão, podem ficar eternas,
na medida em que há uma sucessão
de competências que lhe aumentam
a esperança de vida.»
BELMIRO DE AZEVEDO

1959 1965 1971 1975 1978 1979


Fundação da Sonae. A empresa introduz Sonae Contrata Belmiro de Azevedo. Aquisição, reforma e modernização da NOVOPAN Numa altura de pouco investimento, tendo Em protesto contra a nacionalização O futuro da empresa ainda é incerto e a economia
em Portugal a produção de estratifite a partir O engenheiro químico de 26 anos inicia grandes – a Sonae começa a diversificar a sua produção. prazos a cumprir e falta de fornecimento da empresa, os trabalhadores entram nacional vive um período de estagnação,
de um produto desperdiçado – o engaço de uva. reformas na produção e a empresa começa de resinas melamínicas e fenólicas, a empresa em greve e a administração demite-se. mas aumenta-se a capacidade instalada
a recuperar financeiramente. Foca-se resolve o problema começando a produzir Durante os quatro meses da greve, os salários, de componentes e revestimentos de aglomerado,
na produção de laminite. ela própria as substâncias de que carece, e assim pagos em dinheiro, são iguais para todos e começa a produção de um novo produto:
inicia actividade no sector da química industrial. os trabalhadores, independentemente o finipan.
do cargo que ocupam na empresa.
«Cheguei para executar uma operação: descobrir para que servia a Sonae,
que futuro tinha. E isso encantou-me porque se tratava de aplicar um dos
princípios de um economista que eu respeito muito, o Princípio de Schumpeter,
que afirma que se pode destruir e ser criativo ao mesmo tempo. A minha
primeira tarefa como jovem engenheiro foi ter que mandar para a sucata
metade do equipamento e mudar as pessoas que cá estavam. Durante
muito tempo trabalhava 24, 48, 72 horas seguidas de modo a cumprir
a completa transformação.» BELMIRO DE AZEVEDO
Cada data aponta uma circunstância, e a de Nestes inícios havia pelo menos a intenção
18 de Agosto de 1959 não será excepção. de inovar, até por via da aplicação indus-
Nesse dia nascia, num cartório do Porto, trial de uma patente, mas não nos entu-
a Sociedade Nacional de Estratificados siasmemos com a fantasia. Para o jovem
apadrinhada pelo banqueiro e empresário, engenheiro Belmiro de Azevedo, de 26 anos,
Afonso Pinto de Magalhães. Um grupo de que, haveria de chegar à história mais tarde,
amigos havia conseguido convencê-lo tratava-se de «um projecto nascido de uma
da bondade de uma ideia que parecia de ilusão, de algum “parolismo” português de
futuro: fabricar estratificados a partir de um aceitar que um francês só tinha ideias boas,
desperdício bastante comum nas encostas e de facto não só não as tinha boas, como
do Douro: o engaço de uva. Uma empresa ainda por cima era um habilidoso, …» Certo
há-de ter muitas datas de nascimento, pelo é que, com os meios postos à disposição
que esta foi a primeira e poderia não ter du- pelo Banco Pinto de Magalhães, a fábrica se
rado o suficiente para contar muitas mais. instala na Maia, são compradas máquinas e
iniciado o audacioso ciclo de produção que,
apesar das inúmeras dificuldades técnicas e

QUANDO NASCE
financeiras, conseguirá colocar no mercado
nacional o estratifite quatro anos depois,
mas que acabará por ser substituído pelo

UMA EMPRESA
laminite, um termolaminado decorativo à
base de papel. O mercado parece alheio à
novidade.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
UMA DAS PRIMEIRAS
MÁQUINAS DA FÁBRICA

Talvez uma outra data de nascimento,


mais apropriada às circunstâncias, tenha
sido exactamente a chegada de Belmiro
de Azevedo, em 1965, a convite do então
administrador-delegado, António Correia da
Silva, com tarefa de destruir para começar a
criar. «A minha primeira tarefa como jovem
engenheiro foi ter que mandar para a sucata
metade do equipamento e mudar sub-
stancialmente as pessoas que cá estavam.

mandar
Durante muito tempo trabalhava 24, 48, 72
horas seguidas de modo a cumprir a comple-
ta transformação.» Aproveitaram-se duas
peças, a prensa e um impregnador. Belmiro

para
de Azevedo envolve-se directamente na res-
olução de problemas técnicos, mas também
nos de organização interna e, mais tarde ou
mais cedo, nos da gestão concreta. Algures

a
no processo perdia-se o engenheiro e ganha-
va-se o gestor. «Sou muito racional, os engen-
heiros costumam ser muito racionais, mas
para ser gestor é preciso ter a componente

sucata
emocional. Se bastasse ser racional, todos
éramos grandes gestores. A diferença é que,
com base na informação e na racionalidade,
há momentos em tenho que assumir riscos.

metade
E não o faço com a razão, o risco assume-se
emocionalmente.» As emoções dos anos
60 jogavam-se no apuramento das técnicas
de produção, no lançamento de imagem de

do
qualidade, na conquista de um mercado.
«Parti de uma empresa que estava falida
para a tornar no sucesso que foi ao longo dos
anos. Fundamentalmente, sempre com o

equipamento
mesmo princípio: a Sonae é empreendedora,
inovadora e aceita que as coisas amanhã
podem ser melhores que hoje. E que as crises
são mais positivas que negativas.»

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
Viva
a Classe Uma
greve
Operária ao
contrário
As velhas fotos surpreendem. São trabalha- «Foi um caso raro do primórdio da “cultura de
dores “vestidos” com o ar do tempo, bigodes empresa” sobre os interesses – legítimos – de
fartos, calças à boca-de-sino, longas golas outros grupos a que cada um de nós perten-
nas camisas e um outro lenço. Estão numa cia, e de absoluta identidade de propósitos
manifestação, mas os cartazes não gritam entre a administração e os trabalhadores.»
“Viva a Classe Operária”, como era cos- Quem o diz, José Romão de Sousa, fez parte
tume, mas dizem “Queremos a nossa Exma. da Comissão de Trabalhadores SONAE/
Administração – fora o I.P.E.». Brilha como se NOVOPAN eleita para negociar com o I.P.E. as
fosse a cores naquele preto-e-branco um condições de uma eventual transacção. «Ou
velho sinal de STOP. seja, os trabalhadores eram maioritariamente
de opinião que o futuro da empresa e os seus
O I.P.E. era o Instituto das Participações do interesses individuais eram preferencialmente
Estado e representava isso mesmo, a ten- satisfeitos por uma gestão que conheciam e
tação do Estado em assumir o controlo da em quem confiavam, e que só podia existir
Sonae e da Novopan adquirindo a parte das num determinado quadro accionista. Recusa-
acções de ambas as empresas que pertencia vam a “panaceia” quase universal dos três ou
ao Banco Pinto de Magalhães entretanto na- quatro anos imediatamente anteriores, que
cionalizado. Ora quer a administração, quer privilegiava o papel do Estado na posse e con-
os trabalhadores, temiam esta estatização, dução da actividade empresarial, mesmo em
ainda que parcial. E lançaram-se numa greve unidades pequenas operando em sectores
histórica, entre Fevereiro e Junho de 1978, que legalmente não estavam reservados à
portanto longa e dura, na qual todos forma propriedade pública. A sua capacidade de or-
recebendo salários iguais e pagos pontual- ganização e de condução dos negócios após a
mente com recurso a um fundo comum. saída da Administração, e a recusa em permitir
a entrada a uma nova, foram determinantes
para a solução a que se chegou depois.» Os
trabalhadores conseguem direito de prefer-
ência na compra das acções em questão e
a administração demissionária regressa na
condição e que o I.P.E. não se intrometa nas
decisões de uma empresa que está a pensar
noutras geografias.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
Crescendo
A economia está longe de ser virtual, há O talento, premiado segundo a lógica da O principal valor da Sonae, para Nuno Ângelo Paupério não esquece «a quantidade
que produzir o palpável: madeira e água, meritocracia e isendo de qualquer tipo de Jordão, tem a ver a com «o empreend- de pessoas, de famílias, que vivem directa e
ferro e vidro, papel. Esta raiz mergulhada no descriminação, não deixa de ser estimulado edorismo, muito ligado à própria imagem do indirectamente ligadas a este universo em-

da raiz ao céu
concreto, que esteve na origem do grupo, dos mais diversos modos, com destaque líder e fundador do grupo, Eng. Belmiro de presarial. Geramos muito emprego de quali-
não será esquecida, espelhando-se no óbvio para os programas de informação, Azevedo, como paradigma do empresário. dade, que permite melhorar as condições
conjunto de valores e princípios: a inovação e educação e formação. A responsabilidade Associada a essa vontade de fazer coisas há de vida daqueles que têm vontade de se
disponibilidade para a mudança, cultivando social afirma-se no envolvimento com a uma atitude de auto-confiança que pode desenvolver, de crescer, de estudar, de se

VALORES DA SONAE a criatividade e o gosto de enfrentar desafios


de complexidade crescente. Daí resulta a
ambição permanente de dirigir, estimulando
comunidade, cooperando a níveis diversos
com instituições culturais, desportivas e
sociais, mas também colocando a confiança
ser completada com a vontade de liderar.
O grupo faz muitas coisas, e fá-las porque
as pessoas têm confiança nas suas capaci-
esforçar, de dar o seu melhor. Defendemos
e praticamos realmente a meritocracia,
damos espaço às pessoas que querem
as capacidades que garantam a criação de no centro de todas as relações com clientes dades. Outro traço é a eco-eficiência, o de- trabalhar, que possuem competências, que
valor e conduzam os diferentes negócios a e fornecedores. A honestidade e a integri- senvolvimento sustentável e a responsabili- se desenvolvem… Tais características fazem
posições de liderança, com grande grau de dade marcam o ritmo das relações da Sonae dade social colectiva. Não há dúvida que a com que este seja um espaço onde os mel-
independência face ao poder político, em- com o mundo e os indivíduos. No coração da Sonae foi dos primeiros grupos em Portugal a hores profissionais encontram excelentes
bora colaborando de boa fé com os poderes sua actividade está, portanto, uma atenção dizer que não importa só gerar valor accioni- condições de realização pessoal». Daniel
públicos. Isto com uma prática quotidiana ética ao modo como a vida se desenrola. sta, criar riqueza, gerar emprego, mas que Bessa recorda a ideia do Homem Sonae.
que assenta no profissionalismo extremo, na «Esta é a forma correcta de se estar nos devemos preocuparmo-nos em que haja «No fundo, um conjunto de valores, com-
lealdade, na frugalidade de meios, gerindo negócios», afirma Carlos Bianchi de Aguiar. critérios equilibrados de distribuição dessa portamento e atitudes que são esperados
o risco de um modo que detecta e corrige «A rectidão com que a Sonae se posiciona mesma riqueza». E continua: «outra marca é daqueles que ambicionam ocupar cargos
cada dificuldade de forma rápida e eficaz. nos negócios que faz, as preocupações o facto de ser um agente activo no progresso de liderança. Para mim, a Sonae é, antes de
Esta transparência que resulta de boas práti- sociais e ambientais que nos foram trans- do país, ao fazer investimentos crescentes, mais, esse conjunto de ideias inspiradoras».
cas, como a recolha de opiniões dos colabo- mitidas ao longo deste tempo, o espírito de com magnitudes muito relevantes, e sempre
radores e observadores externos, permite formação contínua e de desafio constante a com grande independência, sem ser através O grande contributo da Sonae, segundo
uma avaliação contínua da performance, que estamos sujeitos, tudo isso faz parte de de favores ou outras motivações, sempre Álvaro Portela «passa pela afirmação contí-
não apenas dos negócios, mas do cumpri- um dos maiores legados que a Sonae deixará muito cioso dos seus valores éticos.» nua de que «é possível» ser português e,
mento destes valores. O desenvolvimento à sociedade portuguesa.» simultaneamente, ser internacional, de que
profissional é outro dos aspectos fulcrais é possível crescer em qualquer negócio, em
no modo como a Sonae foi crescendo e se qualquer país, em qualquer circunstância.
afirmou. Nós portugueses temos desde o século XV
ou XVI este queixume, achamos que somos
marginais, uns pobres coitados que nunca
conseguem fazer aquilo que os outros povos
fazem. Acho que a Sonae é um exemplo
daquilo que se pode fazer em Portugal: pode
fazer-se tudo que “o céu é o limite”».

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
02 INOVAÇÃO PARA ESTAR
50 ANOS À FRENTE
O fundamental é permanentemente ter Começa a correr ligeirinho o rio, depois do Abrir o livro de história nestas páginas é

a cabeça aberta, ser curioso, ouvir, fazer esforço gota a gota da nascente. Tem pressa
de chegar à foz, mas recolhe cada veio,
ouvir das inúmeras testemunhas a palavra
revolução logo antes das perguntas que nos
perguntas inteligentes, partir sempre experimenta entrar terra dentro para isso, deixam em suspenso:

da hipótese de que tudo se pode fazer. estendendo os braços, abrindo lagoas. Tem
pressa de chegar à foz, mas não desperdiça Como era ir às compras antes dos hipermer-
Quem ficar acomodado a fazer mais nenhuma oportunidade de engrossar a cor- cados Continente?

ou menos a mesma coisa, está a andar rente, de a tornar imparável.


Que marcas internacionais tínhamos à dis-
para trás, porque o mundo só avança Nos anos 1980, a Sonae deixa de ser ap- posição antes da Pizza Hut?

com inovação. E quem não estudar, quem enas mais uma empresa industrial em vias
de crescimento para entrar nas bocas do O mercado de capitais estava vivo antes das
não experimentar, quem não arriscar, Mundo. Aquilo que era potencial afirma-se sete OPV?

não está no caminho do futuro, está no terreno. Foi a década em que rasgou
fronteiras, experimentou a área financeira, Quem sabia o que era um telemóvel?
de regresso ao passado, no caminho surgiu em força na distribuição, diversificou

da extinção e da reforma. O objectivo para o turismo ou para o visionário sector


das tecnologias de informação. Sempre de
As respostas motivarão inevitavelmente o
espanto com o que esconde cada uma de
na Sonae é que as pessoas sejam modo sustentado, correndo riscos, aqui e ali capacidade de antecipação, de esforço de

«espicaçadas» de modo a porem todos sofrendo reveses, mas logo aprendendo e


avançando a grande velocidade.
organização, de simplicidade que logo se
torna indispensável. E não apenas no que diz
os dias em causa o que estão a fazer. respeito aos negócios. Este distinto modo

E todos os dias têm que justificar serem de estar tornou-se notado por participar em
várias causas sociais e importantes projec-
funcionários da Sonae. tos de carácter cultural.

Com estrondo, até com polémica, ficava


Belmiro de Azevedo claro para a comunidade nacional que o con-
junto das empresas Sonae apresentava-se
como constelação em progresso, com uma
maneira distinta de erguer projectos, de gerir
equipas, de fazer negócio. Era impossível
não dar pelo surgimento do Homem Sonae,
aquele que apenas conhece duas opções:
«ou é líder ou candidato a líder».
1983 1984 1985 1986
A Sonae Investimentos, SGPS, SA surge Constituição da Modelo Continente Hipermercados, Criação da Sonae (UK) Ltd. Abertura do primeiro hipermercado em Portugal «Naquela época, a distribuição Inauguração do Hotel Porto Sheraton
como holding, forma que o grupo assume SARL. A Promodés tem uma participação de 20% – Continente de Matosinhos. Este momento (actualmente Porto Palácio Hotel), que depressa
era muito intermediada, com lojas
para responder às exigências dos novos negócios. nesta sociedade, sendo parte do capital pago É criada a mds, sub-holding que tem como função assinala o inicío da actividade da Sonae se torna uma das imagens de marca da cidade.
através da transmissão de conhecimentos. gerir os seguros e a política de risco do Grupo Distribuição, resultado da joint-venture entre relativamente pequenas. As maiores,
Entrada da Sonae no mercado de capitais. Sonae. A mds virá a desempenhar essas mesmas a Sonae e Promodés. A abertura do primeiro que existiam na zona do Porto, eram Estreia no sector do Turismo com a aquisição
Aquisição da Agloma (maior unidade produtora funções com muitas outras empresas, dentro Continente cria em Portugal uma nova forma um Pão de Açúcar na Avenida da Orbitur, que anos mais tarde adquire o estatuto
A Sonae e a francesa Promodès estabelecem de aglomerados do país), que é modernizada. e fora de Portugal. de fazer compras. No ano seguinte, é inaugurado de maior empresa ibérica de campismo.
da Boavista e um Modelo na Rua
uma joint-venture, de modo a renovar o negócio da um novo Continente (desta vez na Amadora)
distribuição e do retalho moderno. e as enchentes são de tal ordem nos primeiros Passos Manuel. As duas lojas tinham
meses que é necessário limitar o número cerca de 1500 metros2 e não vendiam
de entradas. todos os produtos. O Continente
trouxe uma variedade grande
de produtos sob o mesmo tecto.
Era essa, aliás, a definição
de hipermercado. E trouxe uma
vantagem de preço grande para
o consumidor porque cortou muitos
dos intermediários que se situavam
entre a produção e o cliente final,
revolucionando pelas quantidades
que eram compradas e pela forma
como se organizava o negócio.
O hipermercado apresenta-se,
em 1985, como uma loja que tem
de quase tudo, desde os
electrodomésticos ao bazar,
passando pelo têxtil, pela mercearia
propriamente dita e pelos produtos
frescos. Esta foi a pedrada no charco
que o Continente deu.»
MANUEL FONTOURA
«A Sonae foi das primeiras empresas
que participou na dinamização
do mercado de capitais. O eng.
Belmiro, como sempre, viu as coisas
à distância e, apesar de saber que
as sete empresas (Continente, Agloma,
1987 Ibersol, Selfrio, Robótica, Viacentro
e Publimeios) eram pequenas,
1988 1989
São lançadas Ofertas Públicas de Venda sobre «O governo de então criou um quadro imaginava que tinham potencial Surge a Sonae Tecnologias de Informação, Abertura dos dois primeiros centros comerciais Criação da Ibersol – Restauração e Gestão
sete das empresas do Grupo. O acontecimento um investimento nas tecnologias e nos meios geridos pela Sonae (Portimão e Albufeira). Locais Hoteleira, que representará conceitos de grandes
de incentivos aberto a todos de desenvolvimento. O público acabou
surpreende o mercado, mas a resposta é positiva: de comunicação, entretanto liberalizados. de concentração de lojas, os centros comerciais marcas internacionais como a Pizza Hut ou Burger
em cinco das sete OPV há mais procura os portugueses – uns aproveitaram, por ser devidamente remunerado. incentivam o negócio da distribuição (aplicando-se King.
que oferta. outros não… Ora nós, em pleno Se essas empresas tivessem ficado também a lógica inversa). Depressa crescerão
cumprimento da lei, coisa que cotadas na bolsa e se as pessoas em tamanho e número, tornando-se pólos Criação da Contacto Construções. Começa
Uniformização das marcas Modelo e Invictos de atracção e reunião dos habitantes da região. como empresa de média dimensão, mas nos
é um valor da Sonae, procurámos tivessem mantido o seu investimento
para Modelo: criação de uma cadeia nacional anos seguintes desenvolver-se-á até se afirmar
de supermercados competitiva, que introduz rapidamente responder pela positiva nelas, hoje teriam feito um investimento Início de actividade da Sonae Imobiliária, que como uma das principais empresas nacionais
novidades como a venda de produtos de drogaria. a esses incentivos. Nós reagimos excelente. Como sempre na vida, há nos anos seguintes se tornará um importante de construção, levando a cabo trabalhos
a oportunidades em qualquer sector quem veja as coisas à distância e quem ramo do grupo. de diferentes tipos e dimensões (habitação,
Aquisição da SIAF (aglomerado de madeira) indústria, grandes superfícies, infra-estruturas
porque temos pessoas que, embora as veja no curto prazo. No curto prazo
e Paivopan e criação da Silvigest (gestão florestal), Aquisição, pela Sonae Indústria, da Spanboard e telecomunicações).
seguindo o princípio do crescimento sustentado. sendo madeireiros ou merceeiros, quem não confiasse naqueles (Irlanda) – detentor de uma fracção considerável
ou pedreiros, cultivam a obrigação projectos talvez entendesse que do investimento externo português, o grupo vem TST – Tecnologias e Serviços de Telecomunicações
de reagir ao que aparece no mercado. as empresas não valiam nada. Isto assim reafirmar-se comercialmente no Reino - fornecedora de serviço de videotexto. Trata-se
Unido, país onde já opera desde os anos 70. de uma forma primária de comércio e de banco
E temos tido sempre essa notável é o mercado de capitais onde
electrónica a partir de casa.
capacidade de responder as empresas apresentam os seus Aquisição da Star, agência de viagens
com originalidade aos desafios.» projectos e os investidores decidem que complementa a área do Turismo. Rádio Nova inicia emissões, numa primeira
BELMIRO DE AZEVEDO ou não investir.» PINTO DE SOUSA A empresa oferece serviços de turismo incursão na produção de conteúdos jornalísticos.
e viagens de negócios.
ABERTURA DO PRIMEIRO
HIPERMERCADO
EM PORTUGAL
O Portugal de 1985 era ainda o do mercado, O espectáculo não era apenas dos bens O recheio dos carrinhos foi mudando, mas o Também nos bastidores acontecia uma
o da mercearia, do mini-mercado, quando básicos. O hipermercado apresentava, volume não deixou de aumentar reforçando, pequena revolução, que prolongava o saber
muito o do supermercado. De súbito, era pela variedade de produtos e pelos preços ano após ano, a liderança. A rede Continente acumulado em experiências operacionais
inaugurado, em Matosinhos, o Continente, praticados, oportunidades de compra que alargou a oferta de alguns produtos, passan- de centralização na rede dos supermerca-
o primeiro hipermercado português, em re- não se encontravam então. «Permitiu», diz do outros, como a roupa ou a electrónica, dos Modelo e Invictos. A logística tinha que
sultado de uma parceria internacional com Fontoura, «comprar artigos como o Lego, a comercializarem-se em lojas especializa- responder a cada uma destas necessidades,
a francesa Promodés. Falava-se de «uma que era um brinquedo elitista para a época. das. «A nossa ambição era cobrir o país de com rapidez e eficácia. Se hoje a Sonae é o
coisa gigante, ali à rotunda dos produtos Permitiu a compra de cristal D’ Arques, Norte a Sul», diz Nuno Jordão, «mas para maior operador logístico tal se deve a cedo
Estrela, uma coisa que não havia». que era o sonho das mães de família de o conseguirmos tínhamos que adoptar ter entendido que, para gerir com eficiência
Portugal e antigamente estava colocado uma multi-format approach, a abordagem uma ampla rede de lojas alimentares e não
E não havia uma loja assim com tudo, dos em lojas seleccionadas. Nessas as pes- multi-formato. A marca Modelo surge com alimentares, era fundamental desenvolver
electrodomésticos ao bazar, passando pelo soas não entravam, mas no hipermercado, essa lógica, mas com filosofia semelhante plataformas centralizadas de gestão logís-
têxtil e pela mercearia e pelos produtos viam aquilo e ainda por cima os preços mais ao Continente: o máximo de variedade tica. O que foi acontecendo com a criação
frescos. Chamaram-lhe retalho moderno. acessíveis e compravam. Mais tarde, e já em possível, a preços muito esmagados. Mas dos pólos logísticos da Azambuja, Alverca e
«Os portuenses, e depois os portugueses, Lisboa, o sucesso dá-se com as bicicletas e como também queríamos vender bazar mais recentemente na Maia.
aderiram. Vinha gente de todo o lado, houve os leitores e gravadores de vídeo.» Era uma pesado e têxtil, e queríamos estar sete dias
semanas de “romaria” completa: excursões, festa popular, a do início da massificação e por semana a servir os consumidores, e A sociedade de consumo em Portugal
alturas em tivemos de fechar a porta do da democratização do consumo. queríamos abrir o maior número de lojas por confunde-se, em boa medida, com os
hipermercado porque não cabia mais nin- ano sem ter que estar anos no pipe-line das hipermercados e centros comerciais con-
guém», lembra João Melo, à data chefe da Nuno Jordão, então responsável pela ab- burocracias da autorização, eis que de um cebidos e realizados pela Sonae. E Carlos
secção de mercearia. Os carrinhos de com- ertura da loja da Amadora, não esconde o brainstorming criativo surgiu o formato CC Liz, Sociólogo, desenvolve essa afirmação.
pras enchiam-se. «Os produtos mais con- entusiasmo. «Tínhamos também centenas 3000: um centro comercial com um micro- «Por razões históricas bem conhecidas, o
sumidos eram os básicos – o açúcar, o arroz, de camiões em espera para descarregar, e hipermercado e várias lojas.» Jordão não mundo do consumo à escala adequada de
o óleo alimentar, o azeite… Lembro-me de centenas de carros, circulando no parque esconde a ironia. «Temos de agradecer tam- uma população urbana nasce tardiamente
termos um linear de açúcar que levava, de estacionamento para arranjar lugar e bém ao governo – não sei a qual deles, pois no nosso país. Como em tantas outras
seguramente, umas sete ou oito paletes de poder vir às compras. A zona de influência iam variando muito – contributo para encon- dimensões da vida social, a democracia e
1200 quilos de açúcar cada uma! Conforme media-se não por minutos, mas por horas. trar um formato tão do agrado dos portu- a liberdade são condições essenciais para
passavam as horas, o espaço foi ficando Vinham clientes de mais de uma centena gueses. Fizemos praticamente uma centena que possam surgir verdadeiros mercados,
perfeitamente vazio, com açúcar derra- de quilómetros de distância, quer a uma de Modelo, e levamos preços praticamente capazes de comportar competitividade, que
mado no chão, papéis…» Manuel Fontoura, à unidade, quer a outra. E os volumes de tão competitivos como o Continente, com geram Inovação e satisfação dos consumi-
altura chefe do departamento de produtos vendas eram, de facto, impressionantes. uma variedade não exactamente igual, mas dores. Dir-se-á a este respeito que a moderna
frescos, dá um exemplo. «Toda a área de Nós vendíamos, a preços dessa altura, um também muito forte.» distribuição, introduzida de modo persistente
perecíveis surpreendeu pela grandiosidade. total de mais de cem milhões de euros em e progressivo pela Sonae, é uma expressão
Antes do Continente de Matosinhos, a maior qualquer uma das unidades. O Continente, evidente do Portugal Democrático, consoli-
peixaria teria uns três metros de exposição naquela altura, foi de facto uma revolução. dado a partir da década de 80. Observando
de pescado fresco. Matosinhos abriu com Com quatro unidades do hipermercado esta história do consumo português a partir
uma peixaria que tinha mais de 12 metros. Continente, depois de Matosinhos e Ama- do ângulo dos estudos de mercado, que se
Isto resulta num impacto visual espectacu- dora, somou-se-lhes Gaia e Cascais, em alimentam continuamente da opinião e sentir
lar para o cliente. Nesse expositor, tínhamos 1992, atingimos a liderança da actividade dos consumidores, teremos que saudar este
de ter mais de 30 variedades. Hoje ultrapas- retalhista em Portugal.» impulso para a modernização do país, esta
samos facilmente isso, mas para a época era vontade de nivelar por cima as condições
muita coisa.» do quotidiano, protagonizado pela Sonae.
Reconhece-se a esta marca-instituição uma
saudável vontade de ir ao encontro das pes-
soas, puxando por elas para novos patama-
res de qualidade de vida.»

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
PALÁCIO DA BOLSA NO PORTO

A SONAE A Sonae era definitivamente um caso sério


na vida económica do país, talvez com maior
visibilidade na distribuição, por causa da sua
O Dr. Miguel Cadilhe resolveu interpretar ex-
tensivamente as normas e passou a dizer que
só haveria direito à redução da contribuição

E A BOLSA
marca estrela Continente, mas sem esquecer se conjuntamente os accionistas fizessem
as raízes na indústria, as suas participações no aumentos de capital, de modo a que uma
imobiliário, e preparando-se para uma espan- parte do dinheiro que recebiam da venda em
tosa diversificação. Aliás, a década começa OPV reentrasse nos cofres das empresas. Ora
quase com uma reestruturação que se as- com esta interpretação já não conseguíamos
sinala com a denominação Sonae Indústria e montar as operações de maneira a aumen-
Investimentos, SARL, com o respectivo lança- tar de novo o capital pois já o tínhamos feito
mento em Bolsa em 1983. Mantinha, portanto, antes. Para contornar este problema, as
uma presença activa no incipiente mercado empresas adquiriram acções aos accionistas
de capitais, como forma de captar recursos e e ofereceram-nas depois em OPV sem nen-
responder à ambição do constante desenvol- hum benefício, cumprindo assim o espírito
vimento, desde logo com a Sonae, ela própria, da lei. Mas o modo como foi desenhada esta
mas também com a Orbitur ou a Novopan, operação criou a maior das contestações,
por exemplo. Mas a descrição tombou de vez porque as empresas não poderiam comprar
com a operação histórica doravante conhe- mais de 10% do capital e, nalguns casos, estas
cida por «as sete OPV». Com a intenção de operações obrigavam a 25%, e por se ter
estimular a Bolsa de Valores, o ministro das fi- considerado que as empresas não tinham
nanças de então, Dr. Miguel Cadilhe, escreveu dimensão e, por isso, se estava a vender gato
uma carta às principais empresas incitando por lebre, enfim tudo isto fez com que o min-
os seus accionistas a abrirem o seu capital em istro das finanças resolvesse mandar fazer
bolsa a troco de uma redução significativa do uma inspecção às empresas.»
imposto sobre o rendimento. Foi montada,
então, uma cuidadosa operação pública de O assunto não gastou apenas dezenas de
venda em torno de sete empresas: Continen- páginas nos jornais, mas também horas de
te, Agloma, Ibersol, Selfrio, Robótica, Viacen- discussão na Assembleia da República e
tro e Publimeios, em grande parte dos casos vários anos de processos em tribunais de Lis-
com a procura a exceder a oferta, lançando a boa e Porto até ao seu arquivamento, no início
febre do capitalismo popular. da década de 1990, com custos, pelo menos
de imagem, bastante gravosos para o grupo.
«Tínhamos tudo desenhado nestas sete
empresas,» recorda Pinto de Sousa, um dos Para Belmiro de Azevedo, a esta distância, «a
responsáveis pelo processo, «fizemos o história das sete OPV nem foi nada, apenas a
aumento de capital previamente, mas a imp- reacção a uma oferta do mercado, neste caso
rensa considerou que o Estado estava a dar especificamente definida pelo ministro das
incentivos fiscais para operações de mercado finanças de então para incentivar o mercado
de capitais em que eram os accionistas os de capitais. Os incentivos até eram exagera-
principais beneficiados. dos, mas não tenho que julgar a bondade
daquilo que os ministros dizem. A minha regra
é muito simples: cumpro as leis; se as leis são
más, continuo a cumprir as leis; se as leis são
muito más mesmo, procuro influenciar, pelo
meu discurso público, pelo formalismo das
nossas actuações, a que os decretos sejam
mudados. Foi apenas isso, respondemos a
uma proposta do Estado. Depois criou-se
uma guerra de motivação um pouco política.
Mais tarde, para encerrar o tema, acabámos
por recomprar remunerando os accionistas.»
Ficava restabelecida a confiança.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
Belmiro de Azevedo,
apresenta «Dez Princípios»,
redigidos pelo seu
punho, que definem
A CULTURA SONAE

Cedo se percebe que a Sonae não é um lo- Na raiz, era uma convocatória, um apelo De modo tão orgânico como o crescimento Diz ainda hoje o principal inspirador de todas O valor cria-se a longo prazo, mas a riqueza
cal de trabalho como os outros. Aliás, havia a uma vocação. «Para ser líder é preciso do grupo, esta cultura foi evoluindo de modo estas ideias e práticas, Belmiro de Azevedo, está longe de ser o motor. «Respeito tanto
sido palco de uma greve inusitada a favor da poder sê-lo, mas também é preciso querer transversal e moldando-se a cada passo, que «as empresas, se criarem um sistema de um milhão como um tostão», diz Belmiro de
administração no final quente da década de sê-lo. É uma opção aberta a todos. Espero desenvolvendo e desdobrando alguns dos educação permanentemente, podem ser Azevedo. «O dinheiro é para ser investido,
1970, sinal de enorme diferença. Quase uma que a maioria dos que hoje aqui estão seja valores então afirmados: «rigor, frugalidade, eternas, na medida em que há uma suc- não para ser estragado. Nunca dormi mal
década de acontecimentos depois, com já (ou se sintam com potencial para vir a agilidade na decisão, empenhamento total e essão de competências e responsabilidades por causa do valor das acções. O dinheiro
uma estratégia global para a empresa nascia ser) parte da elite que venho referindo. Se lealdade entre pessoas». Os valores da famí- capazes de detectar como crescer. Para se é apenas um veículo necessário para criar
uma cultura que «recusa o conforto de porventura alguns assim não pensam, a lia Azevedo, aqueles e outros como a meri- estar bem na Sonae, quem sabe mais tem mais emprego e mais riqueza. Tenho con-
empresa rica, conforto que amolece e corrói auto-exclusão é o caminho mais honesto e tocracia ou a independência, reflectiram-se que partilhar, que a partilha de conhecimento sciência de que a única diferença entre estar
uma organização.» Em 1985, e para cerca de nem sequer poderá ser criticável.» de modo positivo na espinha dorsal de um e de experiência é essencial. O conhecimento cá e deixar de estar é apenas um fatinho.
70 quadros, Belmiro de Azevedo, apresenta grupo que crescia fazendo suas inúmeras recolhido e não distribuído não serve para Quando chegamos ao mundo vimos nus
«Dez Princípios», redigidos pelo seu punho, empresas que, mesmo quando separadas nada numa empresa. Esse é um valor muito e quando partimos levamos um par de sapa-
que definem o doravante muito comentado do grupo, como acontecerá amiúde, man- importante, como outros: a transparência, tos e uma camisa, é a diferença. Se pensás-
Homem Sonae, aquele «homem de pro- terão uma forte relação a todos os níveis. a autenticidade, a ambição. Fundamental é semos que a nossa missão é criar riqueza
gresso» que «ou é líder ou candidato a líder». A Sonae acabará afirmando uma dinâmica ter a cabeça aberta, ser curioso, ouvir, fazer para a distribuir de modo mais equitativo o
Nem mais nem menos. Um manifesto de escola de empreendedorismo, dispensando perguntas inteligentes, partir sempre da hipó- mundo seria bem melhor».
características absolutamente inovadoras enorme atenção aos seus colaboradores tese de que tudo o que se pode fazer. Quem
no meio empresarial, com um alcance que através de um desenvolvimento sem par de ficar acomodado a fazer mais ou menos a
poucos compreenderam na altura: uma elite «oportunidades de formação profissional e mesma coisa, está a andar para trás, porque o
ao serviço da ideia de criação de bem-estar. dando responsabilidades de gestão global a mundo só avança com inovação. E quem não
gestores cada vez mais jovens». estudar, não experimentar, não arriscar, não
está no caminho do futuro, está no caminho
da extinção». As empresas podem durar para
sempre, portanto, desde que saibam gerar
conhecimento em permanência, gerido de
modo profissional. A Sonae tem vantagens
claras com as suas características de em-
presa familiar: estabilidade accionista (capital
paciente) ao serviço de estratégias bem
definidas e coerentes, o que proporciona uma
enorme agilidade de decisões, que não perde
nunca de vista a gestão equilibrada e racional
que protege também os accionistas com
posições minoritárias.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
A Cultura Sonae
Belmiro de Azevedo É com os que aqui estão hoje, e outros que, com certeza, se juntarão, que o GRUPO há de
25 De Maio de 1985 continuar a crescer, se vai enraizar em definitivo e vai sobreviver a todos nós. É evidente que
será com o conjunto de todos os trabalhadores que o GRUPO há de crescer. Mas não ten-
hamos dúvidas que em sociedades como a portuguesa, em que a educação não impregnou
«O encontro de hoje marcará sem dúvida a história da SONAE. É com certeza a data que vai toda a população, o motor do crescimento terá que ser uma elite de dirigentes. Mesmo nas
ficar como a do nascimento do GRUPO SONAE, no seu conceito actual – diversificado, de sociedades mais evoluídas assim é (vejam-se as influências que, no passado remoto e mes-
gestão profissional, virado para as tecnologias de futuro. mo no presente, os líderes exerceram e exercem no destino das nações e na prosperidade
dos seus povos). Na história antiga há inúmeros exemplos de civilizações que desaparece-
Recorde-se, todavia, que o que hoje se faz só terá sido possível, só foi possível, porque antes ram quando deixaram de ter capacidade de gerar os seus próprios líderes, sendo provavel-
já existia outro Grupo – GRUPO PINTO DE MAGALHÃES – que, embora com filosofia muito mente o definhar da Civilização Maia o exemplo histórico mais vezes citado. Tais fenómenos
diferente (menos coeso, mais resultante de empresas que foram caindo na órbita do BPM), de decadência são geralmente antecedidos de claros sinais de alarme, ao verificar-se o
foi a base donde partimos. Conservámos tudo o que era bom, melhorámos tudo o que pôde comportamento injusto, opressor e corrupto dos líderes e cortesões ou privilegiados (queda
ser melhorado, conservámos grande parte dos gestores de então e, naturalmente, a larga do Império Romano, por exemplo).
maioria dos trabalhadores. Desse período, de cerca de duas décadas, que se pode consid-
erar encerrado no fim do primeiro trimestre de 1982, há mesmo algumas características Uma elite de dirigentes modernos tem de o ser por mérito, por reconhecimento dos subordina-
fundamentais que teremos que manter, reforçar, melhorar: rigor, frugalidade, agilidade na dos, dos superiores, dos pares, da comunidade em que se insere. As elites verdadeiras não têm
decisão, empenhamento total e lealdade entre pessoas. privilégios. Privilégio está conotado com favoritismo, nepotismo, favores de heranças, etc. As
elites, têm direitos e não privilégios, direitos que decorrem naturalmente da sua superioridade.
Houve um crescimento acelerado nos últimos anos, que ainda se prolongará por cerca de Não se trata de um corpo corporativo, fechado, de privilegiados, mas antes pelo contrário de
um ano. Conscientemente, assumindo alguns riscos (somos empresários e não burocra- um grupo aberto, sempre desejoso de receber novos elementos que, por razões diversas,
tas) esticámos e vamos esticar um pouco mais os nossos recursos financeiros e humanos. têm ou desenvolveram capacidades superiores.
Vamos procurar não passar do limite do razoável, mas não vamos deixar de tomar acções
fundamentais para implementar decisões importantes, integrantes da nossa estratégia de Os verdadeiros líderes são-no naturalmente. Não são impostos, impõem-se. São seguidos
longo prazo. com facilidade por quem os rodeia. Têm um espírito de missão, uma visão e, de facto, o seu
Seguir-se-á uma pausa. Para consolidar a gestão. Para consolidar a situação financeira. Para contributo para o bem-estar das sociedades onde se inserem é largamente superior às
retreinar, melhorar, aumentar os recursos humanos. promessas utópicas de líderes políticos, que pugnam por um igualitarismo ultrapassado e
insistem em dogmas mais ou menos obsoletos e que já historicamente foram arquivados
Somos homens de progresso e portanto outro salto se seguirá, oportunamente que vai exigir para que conste.
gestores mais capazes – melhor formação, melhor informação, experiência acrescida, ma-
turidade para tomada de decisões cada vez mais difíceis por envolverem parâmetros mais É evidente que um líder corre riscos – de saúde, materiais, mesmo de vida. Ser líder é tam-
instáveis, verbas mais elevadas, mercados mais concorrenciais. bém aceitar esse desafio. Um líder é um alvo a abater. Para ser líder é preciso poder sê-lo
mas também é preciso querer sê-lo. É uma opção aberta a todos. Espero que a maioria dos
que hoje aqui estão sejam já (ou se sintam com potencial para vir a ser) parte da elite que
venho referindo. Se porventura alguns assim não pensam, a auto-exclusão é o caminho mais
honesto e nem sequer poderá ser criticável. Sem pretender criar dogmas, sempre perigosos,
atrevo-me a listar o que considero fundamental para a formação duma CULTURA SONAE e
essencial para o perfil do HOMEM SONAE:

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
CULTURA SONAE
HOMEM SONAE
1. A SONAE recusa liminarmente o modelo «grande empresa» para se assumir como
um conjunto de pequenas e médias empresas interligadas em áreas estratégicas 1. O Homem SONAE ou é líder ou candidato a líder.
de negócios.
2. O homem SONAE é um homem culto, evoluindo do estágio de competência técnica
2. A SONAE aposta na descentralização da decisão com responsabilização do gestor, para o estágio de homem culto em geral.
como condição fundamental para um funcionamento eficiente, motivação de quadros
e desenvolvimento de carreiras profissionais. 3. O Homem SONAE deve ter disponibilidade temporal e resistência física para vencer
períodos mais intensos de carga de responsabilidades.
3. A SONAE aceita que o controlo de gestão, a coordenação financeira e a auditoria
central terão a função de cimento ligante que há-de transformar o grupo de empresas 4. O Homem SONAE deve ter a disponibilidade mental para aceitar críticas vindas
numa entidade empresarial e económica de relevo nacional, cujo prestígio a deve impor de superiores, pares ou subordinados. Deve reagir, replicar, mas saber evitar a retaliação
junto das instituições financeiras, dos organismos oficiais e do Governo. sistemática.

4. A SONAE decide inequivocamente que procurará ter o maior número de líderes pos- 5. O Homem SONAE deve ter em alto apreço o trabalho dos seus subordinados, cuidando
sível, desenvolvendo oportunidades de formação profissional e dando responsabili- permanentemente para que as condições de trabalho e o grau de conhecimento
dades de todos os trabalhadores sejam continuamente melhorados. Sendo chefe, tem
de gestão global a gestores cada vez mais jovens. que ser também o colega estimado.

5. A SONAE decide, também inequivocamente, que procurará contratar os trabalhadores 6. O Homem SONAE deve ser conhecido interna e externamente pela verticalidade
com a melhor formação possível, reciclar os existentes que o pretendam, de modo do seu carácter.
a aproximar-se do objectivo ideal de utilização máxima da capacidade intelectual
do universo de todos os seus colaboradores. 7. O Homem SONAE deve ter elevados critérios de exigência pessoal, com forte
devoção às suas tarefas, embora procurando sempre um justo equilíbrio com outras
6. A SONAE compromete-se a uma política de gestão de excelência procurando altos actividades (desportivas, associativas e apoio à comunidade) de modo a que possa
objectivos de qualidade, produtividade, inovação e competitividade, de modo a aceitar naturalmente manter um correcto balanço entre os seus deveres para consigo próprio,
o desafio da universalização dos mercados. para com a família, para com a empresa e para com a comunidade.

7. A SONAE recusa o conforto da empresa rica, conforto que amolece e corrói 8. O Homem SONAE deve ter um código ético e deontológico rigoroso.
uma organização. Mesmo as empresas que geram fundos substanciais terão
que manter critérios de rigor nos gastos, selecção criteriosa de projectos, análise 9. O Homem SONAE tem que aceitar o desafio da competição interna e externa, lutar
profissional de situações, acção rápida na correcção de desvios. por todos os lugares disponíveis que lhe sejam eventualmente oferecidos, mas tam-
bém aceitar perder sem ressentimento, daí colhendo ensinamentos para se apresentar
8. A SONAE assume a diversificação como modelo empresarial adequado ao mercado em melhores condições numa segunda oportunidade. A disponibilidade permanente
português e também internacional, sabendo que isso impõe uma política de recursos para assumir novas funções é condição fundamental para um enriquecimento
humanos adequada para permitir, a gestores versáteis, uma rápida intervenção profissional progressivo.
em sectores menos conhecidos.
10. O Homem SONAE que procura a excelência, fá-lo pelo somatório das boas decisões
9. A SONAE terá relações de total transparência com os seus parceiros de negócios que vai tomando diariamente e exclui liminarmente êxitos parciais, comportamentos
(clientes, fornecedores, bancos, etc.) porque acredita que um clima de confiança mú- superficiais e actos de fachada. O Homem SONAE tem que ser adulto no pensamento,
tua introduz benefícios de longo prazo muito mais compensadores do que o lucro fácil firme, sem ser duro, na decisão, corajoso, sem ser aventureiro, na acção.
de operações de oportunidade.

10. A SONAE decide querer ser uma empresa para a Europa, para o mercado, para o século A SONAE, com os seus Homens, é hoje grande. Amanhã será maior.»
XX, evoluindo para o conceito de empresa moderna, de capital aberto, tendencial-
mente pulverizado, procurando ser um importante agente económico e financeiro que
quer dar a Portugal uma contribuição de qualidade e aumento de riqueza.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
Como
portefólio
de negócios,
a Sonae
será
sempre
um projecto
inacabado,
porque está
em movimento

No final dos anos 1980, a Sonae tornou-se «A Sonae evoluiu aglomerando novos Sem dúvida que esta década se afirmará de informação, RESOFLEX – mobiliário de es- «A diversificação foi mudando com o tem- A missão-base desta empresa é criar valor
o maior grupo português não financeiro negócios, processo que nunca estará encer- entre as mais efervescentes no empreend- critório, IBERSOL – restauração, ORBITUR – po», olha retrospectivamente Paulo Azeve- e distribuí-lo de uma forma equitativa.
de capitais maioritariamente nacionais. rado», diz Daniel Bessa, economista e ex- edorismo de Belmiro de Azevedo. Um dos parques de campismo, ENABLER – software, do. «Havia um défice de gestão em Portugal, Aquele slogan inicial da empresa de lamina-
A empresa de estratificados passou à ministro da Economia, Indústria e Comércio. seus mais antigos parceiros de aventura, SELFRIO – sistemas de refrigeração, SISTA- sem escolas e com poucas empresas a dar dos – «dinamizar a economia e promover o
história e foi substituída por um conjunto de «Lembro-me de enormes discussões Jaime Teixeira, que algumas vezes tentou VAC – sistemas de ventilação, TST – tecnolo- importância à formação. Aliás, acreditava- bem-estar» – era muito difícil de substituir,
sociedades que aspiram à liderança em seis sobre se os negócios tinham a configuração refrear o seu impulso criador, define-o gias e serviços de telecomunicaçõs, AGRO- se que a gestão não era propriamente uma mas não está desactualizado: queremos
áreas de negócio: Indústria, Distribuição, adequada, se essa era a melhor forma de como «um bulldozer com inteligência: abria DIVOR – agro-indústria, entre muitas outras disciplina ou uma ciência, bastava bom criar, maximizar valor económico e social. E
Imobiliária, Comunicação e Tecnologias de estar no mercado de capitais, se era o que o caminho. Quem estivesse com ele tinha que criando assim uma constelação pequenas e senso. A Sonae sabia gerir, num país onde a inovação é o melhor caminho.»
Informação, Turismo e agro-pecuária. Mais mercado pretendia e premiava; discussões, saber acompanhá-lo e seguir-lhe as pegadas, médias empresas, algumas implodindo pelo muitos sectores tinham práticas pouco
do que conglomerado, o modelo assenta enfim, sobre se não seria melhor, para porque ele não ficava à espera que os outros caminho, outras autonomizando-se num avançadas de gestão. A nossa diversificação
numa estrutura central ligeira, a holding, entrarmos nas bolsas de acções interna- pensassem se iam ou não. Seguia em frente.» percurso paralelo e próximo. Para Carlos veio daí. Partíamos do pressuposto que,
e em várias sub-holdings tendo a sinergia cionais, ter propostas mais segmentadas Serão dezenas de projectos diferentes lança- Bianchi de Aguiar, «o grupo Sonae assenta na com a capacidade de fazer coisas difíceis, a
como palavra--chave. A elite possuía, além em vez de um conglomerado que agrupava dos nas mais diversas direcções: INTERLOG personalidade muito afirmativa e com ideias partir das competências que possuíamos e
do espírito de missão e visão, um modo de as actividades todas; se não era preferível – primeiro representante/importador da muito próprias do Eng. Belmiro de Azevedo, das equipas que tínhamos, íamos aprender,
fazer acontecer. Em pouco tempo surgiriam distinguir entre Sonae Indústria, Sonae Apple em Portugal, BONDUELLE – alimentos que desenvolveu este conceito único de íamos procurar parceiros, íamos chegar a
os primeiros centros comerciais, as tentati- Distribuição, e assim sucessivamente. Ao congelados, MICROPROCESSADOR - com- empresa com base na diversidade, que teve outros mercados. Hoje, quando entramos
vas nas tecnologias de informação a até os avaliarmos estas hipóteses concluía-se ercialização de equipamentos informáticos a capacidade de reunir à sua volta indivíduos nos seguros ou fazemos um formato novo,
conteúdos com a Rádio Nova, a televisão e o que para termos a dimensão necessária e tecnologias de informação, CONTACTO aptos a criar negócios com características assentamos na nossa base de clientes, no
jornal Público. havia que juntar tudo. Como portefólio de – construção civil e obras públicas, SPEL – diferentes, ao mesmo tempo que formava nosso conhecimento das suas necessi-
negócios, a Sonae será sempre um projecto parques de estacionamento, PUBLIMEIOS pessoas e alocava responsabilidades. O seu dades, no nosso aparelho físico ou na nossa
inacabado, porque está em movimento. O – compra e venda de espaço publicitário, conhecimento inesgotável das realidades capacidade de tratar grandes quantidades
Eng. Belmiro de Azevedo, e esse é um dos QUELLE – vendas por catálogo, Clinica mundiais deu-lhe a vantagem perceber antes de informação. É uma diversificação relacio-
elementos da cultura Sonae, apostou sem- Maia – Saúde, CINCLUS – planeamento e dos seus competidores as tendências, factor nada, porque o que está no nosso ADN não
pre em actividades de grande crescimento. gestão de projectos e fiscalização de obras, muito importante para o desenvolvimento do é a diversificação, mas a inovação.
Quer do ponto de vista da geografia, quer SOMIT – aglomerados de madeira, SICOMOL grupo ao longo de todos estes anos.»
do ponto de vista dos negócios, a Sonae foi – produção de algas para industrias várias,
até hoje muito atraída pela geografia e pelos biotecnologia, ROBÓTICA – comercialização
negócios de crescimento.» de equipamentos informáticos e tecnologias

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
DE CADA
FRACASSO
NASCE
UM DESAFIO
«Tivemos muitíssimos insucessos», diz Nos últimos anos da minha vida profissional
Paulo Azevedo, «mas falamos pouco deles. na Sonae, sempre me senti perfeitamente
Fechamos rapidamente, aprendemos umas à vontade, como se fosse eu o dono da
lições e partimos para outra.» Pensar à frente empresa, o dono do meu destino. Nunca me
do tempo implica os seus riscos. Há quase senti coarctado nas decisões que tomava,
vinte anos, quando a paisagem da informática nem temi por tomar uma decisão errada
e das telecomunicações era então, digamos, a e que isso me pudesse custar o lugar ou
preto e branco, a Sonae Tecnologias da Infor- qualquer outra coisa. No pior dos cenários,
mação, já de si uma empresa pioneira, lançava podia não ter êxito e não receber os aplau-
um projecto de homeshopping, com âmbito sos e os lucros por isso, mas concerteza que
nacional, a que se chamou Mordomo, além de seria encorajado a corrigir os erros e a fazer
um portal de informação e de homebanking. melhor para a próxima. Esse espírito que
Começava então a tornar-se comum a ideia sempre funcionou no grupo Sonae, com a
revolucionária de um computador pessoal, liderança do Eng. Belmiro de Azevedo, é um
a World Wide Web repousava num ou outro dos aspectos mais marcantes»
laboratório científico e os telemóveis ainda
eram pouco portáteis e menos fiáveis. A partir Outros casos aconteceram em novos negó-
da experiência francesa do minitel, propunha- cios na internet, na desistência do concurso
se a colocação em cada casa um pequeno da primeira licença de televisão ou da tentati-
processador doméstico, ligado ao telefone, va de obter a primeira licença telefonia móvel.
com portais de informação. Serviria para fazer Só que a Sonae Tecnologias da Informação
compras, reservar bilhetes, mas também para foi o único operador privado português com
acompanhar movimentos bancários, ou, à capacidade de criar um projecto. «Perdem-
imagem dos franceses, substituir a velha lista os», relembra Moreira da Silva, «criou-se em
telefónica e até criar uma rede de contactos Portugal um grupo que é capaz de disputar
para os mais diversos fins. Carlos Moreira da essas licenças. Mais tarde, veio a ser-lhe
Silva, então ligado à Sonae Tecnologias de atribuída a terceira licença na Optimus. É duro
Informação, explica. «Era com um pequeno e, naturalmente, afecta a auto-confiança de
processador que se tinha em casa, ligado ao alguns. Tínhamos o trabalho bem feito e a
telefone, e que funcionava à velocidade do consciência tranquila. De qualquer maneira,
caranguejo. Falhou. Suponho que estava bem o engenheiro Belmiro é um sempre-em-pé:
desenhado, o conceito estava certo, mas foi no dia seguinte, vira a página e pergunta: o
antes do tempo. Também há falhanços por que vamos fazer a seguir? E a organização vai
produtos bem desenhados antes do tempo.» atrás.» De cada fracasso, nasce um desafio.
Antecipava a internet nuns dez anos…
O seguinte foi a Sonaecom, agora liderada
Para Jaime Teixeira. «o clima, o espírito por Ângelo Paupério. «Habituei-me a aceitar
que se vive, o sentir que se pode arriscar os desafios que me propunham, e todos eles
tomar decisões – cada um ao seu nível, foram igualmente interessantes. Quando se
naturalmente. Quando corre bem, tem-se trabalha num grupo como a Sonae, temos que
os valores correspondentes; quando corre estar disponíveis para colocar as nossas com-
menos bem, é-se encorajado a fazer melhor. petências, sejam muitas ou poucas, ao serviço
Esta é a atitude do Eng. Belmiro de Azevedo. daquilo que a empresa entende ser mais útil.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.

TERMINAL DE HOMESHOPPING, HOMEBANKING E UM PORTAL DE INFORMAÇÃO


A RESPONSABILIDADE Está inscrito logo no segundo dos Dez Princípios: «O Homem SONAE é um homem culto,
evoluindo do estágio de competência técnica para o estágio de homem culto em geral». A
principal missão da Sonae é gerar e distribuir riqueza, contribuindo assim para o progresso

SOCIAL DA SONAE
económico e social das várias comunidades onde se insere. Isso, que é já muito, não chega.
O bem-estar passa pela interpretação do mundo, pela inesgotável curiosidade, pela atenção
aos outros. A dimensão, entendida no seu pleno sentido, do grupo justifica assim que, desde
cedo, se tenham multiplicando os contributos em áreas como o ambiente, a cultura, a educa-
ção, a saúde, a ciência e a solidariedade social.

Ao longo dos anos as doações de produtos alimentares a mais de 450 instituições em todo o
país, já ultrapassaram os 50 milhões de euros. É comum a utilização dos centros comerciais
da Sonae Sierra como plataforma de significativa angariação de fundos para diversas causas
personificadas por, entre outros, Ajuda de Berço, Fundação do Gil, AMI, etc. São apenas ex-
emplos de uma política que se estendeu, logo nos anos 1980, também à investigação cientí-
fica através do apoio Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto
(IPATIMUP) para investigação em oncologia, oncobiologia e divulgação científica. Também em
ligação directa com as suas raízes, a Inovação, a Sonae apoia desde há largos anos a COTEC
Portugal - Associação Empresarial para a Inovação.

A escola teria obrigatoriamente que despertar atenções, tendo sido atribuídas, pela Fundação
Belmiro de Azevedo bolsas e prémios escolares aos filhos de colaboradores das empresas.
As sub holdings registam um longo historial dos mais diversos apoios, oferecendo muitos mil-
hares de livros a escolas e outras instituições, fomentando ainda a leitura através de iniciativas
como Público na Escola, mas também oferecendo computadores a escolas proporcionando
uma educação e formação dos mais jovens e até para os estudantes seniores mediante o
apoio às universidades seniores.

Na área da Saúde, de realçar o papel da Missão Sorriso e dos mais de 3 milhões de euros já
doados a pediatrias de hospitais, materializado em alguns milhares de equipamentos médico-
científicos e didácticos, e que todos os anos vê o seu valor e reconhecimento assinalados
pelas entidades oficiais, como o Ministério da Saúde e o Alto Comissariado para a Saude. Tam-
bém nesta área os mais velhos não foram esquecidos, e para eles existe a Causa Maior que
em conjunto com a Cruz Vermelha tem vindo a apoiar instituições carenciadas nesta área.
Na cultura, a Fundação de Serralves e a Fundação Casa da Música são duas das instituições
das quais a Sonae é Mecenas e Fundador, reconhecendo assim o contributo e relevância
destas para o desenvolvimento artístico do nosso país.

A título de exemplo, em 2007 e 2008 a Sonae dedicou cerca de 11 milhões de euros em cada
um dos anos ao apoio de causas de Responsabilidade Social, o que é bem demonstrativo do
valor que a empresa atribui a estas causas.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
03 50 ANOS À FRENTE
E EM EXPANSÃO
Há que compreender o que se passa Nenhum passo será doravante pequeno, A sinergia torna-se um conceito operativo

no resto do mundo, sendo Necessário pois cada um contém um mundo de possi-


bilidades. E a crença de que não há impos-
indispensável, de modo a cumprir o desafio
quotidiano de crescer dando origem, por
grande interesse pela investigação, síveis. Eis a cor da ousadia que corre nas exemplo, a um cartão de crédito que dá

pela educação, pela inovação, e depois veias do grupo Sonae. Um grupo de jornalis-
tas concebe um diário inovador e de refer-
descontos tornando o maior do país. São
épicos alguns momentos, como o daquele,
pelo empreendedorismo. A Sonae tem sido ência, a Sonae acompanha-os na aventura, anunciado como impossível, em que surgiu a

uma escola de empreendedores internos custe o que custar. A privatização do Banco


Português do Atlântico permite a entrada de
Optimus, em busca da vantagem tecnológi-
ca, da melhor oferta para as necessidades
e externos; tendo até ajudado, através novos accionistas? A Sonae torna-se um dos do consumidor, da agressividade de ima-

de management buy-outs, alguns maiores, chegando mesmo a tentar impedir


a sua compra por outro banco. Com fron-
gem com as campanhas publicitárias mais
ambiciosas de sempre. O logótipo criado na
colaboradores a tornarem eles próprios talidade, enfrentando o poder político em altura e actualmente em vigor, reflecte tudo

empreendedores. Quanto mais seguirem defesa de ideias e de uma visão de futuro.


E quem poderia estar por detrás do maior
isto, sementes que crescem em permanên-
cia unidas por um anel de fogo, graças à
essa linha, tanto melhor, vão engrossando empreendimento imobiliário de sempre, o energia da inovação, de uma sinergia que se

a nossa constelação, um universo muito Centro Comercial Colombo, que obrigou a


operações (financeiras, arquitectónicas, or-
alimenta de conhecimento partilhado. Este
princípio de captação e constante apoio
específico da Sonae no qual tomam parte ganizativas) nunca antes vistas? Esta vonta- ao talento, de atenção ao desenvolvimento

todas as pessoas que aqui trabalharam de de liderança não podia esquecer o sector
industrial, aquele onde tudo começou. Com
técnico e humano de cada um dos colabo-
radores, tem sido constante e faz da Sonae
e que, tendo resolvido tornar-se aquisições cirúrgicas, por exemplo da Tafisa não apenas um destino muito desejado,

empresários, continuam a acompanhar-se e da Glunz, as consequentes modernizações


profundas e uma emocionante coragem,
mas activíssima escola de gestão e, antes de
mais, de liderança.
e a ajudar-se uns aos outros. país a país conquistaram-se continentes
com um saber fazer único. Se as circunstân-
cias criam dificuldades, as equipas procuram
Belmiro de Azevedo respostas e algumas resultam mesmo em
sucessos exportáveis, como aconteceu com
a especialização do retalho e a criação de
marcas como Modalfa, Worten ou Sport-
Zone.
«O objectivo da Sonae era ser
o accionista de referência e,
eventualmente, controlar um banco
ganhado uma posição muito forte na
área financeira. A verdade é que havia
esta dificuldade: o Banco Português
do Atlântico era um banco livre
e o maior banco comercial português.
A Sonae possui uma cultura
de empresa que dava aos seus
intérpretes, quando tinham que fazer
algum negócio, uma força muito
significativa, uma vontade de ser líder
em tudo quanto se envolvia. Quando
a Sonae entra no BPA, a sua intenção
era ser uma accionista de referência
do maior banco português e,
se possível, controlar. Estes eram
os objectivos fundamentais. Ainda
que fosse importante a alavanca
poderosíssima que seria esse controlo
para o resto dos negócios da Sonae.»
MAGALHÃES PINTO

1990 1991 1992 1993 1994


Lançamento do Público, um projecto inovador, Lançamento do primeiro lote de produtos Participação no capital social do BPA (Banco Sonae Indústria adquire uma participação «No início dos anos 1990, a Sonae Expansão da actividade da Sonae Indústria
pensado em conjunto com um grupo de jornalistas, da marca própria Continente. Português do Atlântico, SA), que está em processo na Tafisa (24.9%), empresa líder na Península para o Canadá e expansão da actividade
estava numa das fases de investimento,
que se afirma isento e independente. Apesar de privatização. Tendo em vista aumentar o seu Ibérica e com uma presença lucrativa no Canadá. comercial para Brasil e África Austral.
de algumas dificuldades durante o percurso, Abertura do CascaiShopping (primeiro centro peso dentro do banco, a Sonae vai aumentando A participação da Sonae na Tafisa foi um dos num período um pouco negro
o diário vai ganhando público e o respeito comercial moderno em Portugal). Embora a participação que detém no capital deste. factores responsáveis pelo significativo aumento da economia europeia. A compra Constituição da Sonae Turismo.
dos seus pares. construído numa zona periférica, regista uma Porém, em 1995 verá os seus planos gorados, de produção dessa empresa nos anos seguintes. da Tafisa foi o investimento certo
rápida adesão da parte dos consumidores: há com a autorização da OPA do Banco Comercial
na hora certa, tendo mais do que
Inauguração, em Mangualde, de uma unidade de marcas que inauguram no CascaiShopping a sua Português sobre o BPA.
produção de MDF (Medium Density Fibreboard) primeira loja portuguesa, e o espaço caracteriza- duplicado a dimensão do negócio
da SIAF. Criada de raiz e modernamente equipada, se por um equilibrado conceito de compras e ao mesmo tempo que resolvia
representa o maior investimento feito pela Sonae lazer, oferecendo uma ampla diversidade de lojas o problema sério da reestruturação
em indústria e vem reforçar a sua soberania nesse (alimentação e vestuário) e de restauração.
do sector dos aglomerados. A Sonae
campo.
já tinha comprado três empresas
portuguesas. A partir da Novopan tinha
comprado a Siaf aos suecos, a Agloma
em Oliveira do Hospital e a Paivopan
em Castelo de Paiva. E a Tafisa foi
absolutamente decisiva para a melhoria
da rentabilidade, porque se tratava
de uma empresa mal gerida (por
financeiros, que não entendiam
o sector), mas com três excelentes
unidades em Espanha e uma unidade
nova, com dois anos e pouco
de funcionamento, no Quebeque,
no Canadá – a Tafisa Canadá.
A operação tornou-se assim decisiva
para a reestruturação do sector
dos aglomerados de madeira
em Portugal e na Península Ibérica.»
JAIME TEIXEIRA
«Muitas vezes pensa-se que certas
coisas são produtos de uma maturada
reflexão estratégica… Ora o catalisador
para a criação do formato CC 3000 foi
a constante alteração legal, que nos
levou a, se quiséssemos vender
alimentação, vestuário e bazar pesado
sete dias por semana, tínhamos que
o fazer em espaços até 1999 m2 e num
centro comercial que não pudesse
ultrapassar 3000 m2 – e é assim
que nasce os centros comerciais
Modelo, formato tão do agrado dos
portugueses. A nossa ambição era
cobrir o país de Norte a Sul, de Este
a Oeste e sabíamos que o investimento
em lojas de grande dimensão (como
o Continente) não era executável
num grande número de cidades,
para além da questão, pelo que
de um brainstorming criativo saiu
o formato CC 3000, que de facto
tem sido um sucesso enorme.
1995 E depois a Modalfa (vestuário, calçado)
e a Worten (com os electrodomésticos
1996
Sonae: primeira empresa portuguesa representada «O eng. Belmiro de Azevedo tinha claro Lançamento Modalfa, cadeia de lojas que respeita Anúncio da inesperada OPA do BCP sobre o BPA. e a electrónica de consumo) até se Constituição da INPARSA (spin-off da Sonae
no WBCSD (World Business Council for Sustainable as últimas tendências de moda e assegura A oferta é lançada sobre a totalidade do Banco. Investimentos SGPS), que concentra novos
que havia uma área do conhecimento vieram depois a constituir-se como
Development). Para além das manifestas uma óptima relação quallidade/preço. Quando chega o anúncio de que, contra todas e promissores negócios ao mesmo tempo
preocupações e cuidados com o ambiente que se estava a transformar em área de as expectativas, o Ministro das Finanças autoriza marcas fortes e autónomas, e mais que trabalha para globalizar os negócios mais
que já expressava nos seus negócios, a Sonae negócio: as tecnologias de informação Início do projecto de retalho especializado, a operação, a Sonae decide afastar-se, por tarde a Zippy, a Sport Zone e a Loop, estabelecidos.
adopta os princípios de desenvolvimento com a comunicação, os meios com a autonomização de insígnias (Maxmat, não considerar exequível a gestão simultânea no calçado. Soubemos explorar essas
sustentável estabelecidos pela WBCSD. Max Office, Inventory, Sportzone, etc.). do banco por dois grupos poderosos. Lançamento da Worten, cadeia que se distinguiu,
e os conteúdos. Nessa altura não avenidas, e hoje, quer uma, quer outra,
no mercado português, pela ampla e especializada
Sonae concorre e perde a primeira licença era tão evidente como hoje é, Lançamento da Maxmat, uma parceria quer o nosso negócio de electrónica oferta de electrodomésticos, electrónica
para a telefonia móvel. que há sinergias e valores comuns entre a Sonae Distribuição e a irlandesa CRH. de consumo, quer o nosso negócio de consumo e entretenimento.
nestes negócios. Apostámos mesmo A empresa cria lojas especializadas em produtos de vestuário, com os diferentes
Lançamento do Visa Universo – passa a ser de bricolage, construção e jardim.
sem resultados no imediato. E até formatos que temos, são áreas
possível fazer um cartão de crédito no imediato,
sem muitas burocracias, e com o qual se com algumas derrotas, como a perda Abre o primeiro health club com a marca de crescimento muito fortes, e que já
acumulam descontos em compras nas cadeias da licença do primeiro telefone móvel Solinca, que crescerá nos anos seguintes, ao ser estão, inclusivamente, em Espanha.
de distribuição do grupo. para a Telecel, hoje Vodafone. Mas foi implantada em numerosos centros comerciais. Isso permite que a Sonae Distribuição
o único operador privado português seja, de forma consolidada e ano após
com capacidade para criar ano reforçada, o líder do mercado
um projecto daquela envergadura.» retalhista em Portugal.»
CARLOS MOREIRA DA SILVA NUNO JORDÃO
«O segundo grande salto que a Sonae
Indústria deu em termos de crescimento,
foi a aquisição da Glunz, que, na altura,
o maior operador europeu de derivados
«O Colombo teve que acontecer sem de madeira. Foi um salto ambicioso,
que o grupo Sonae pudesse ser posto quase duplicando o volume de negócios.
em causa. Era um investimento muito Isto de fazer aquisições que só têm
elevado, muito arriscado. Na altura, partes não dá o sentido de empresa,
quando se descrevia o Colombo pelo foi necessário criar uma estrutura
sendo não só o maior edifício de gestão e de controlo adequados
de Portugal, que ainda hoje é, à dimensão que, entretanto, a Sonae
mas também como um centro indústria tinha adquirido. E foi esse
comercial que ia ter 420 lojas, era o trabalho que teve de ser feito:
vulgar as pessoas acharem que era a instituição de procedimentos de gestão
impossível. Tudo teve que ser criado. e administrativos, a criação de estruturas
Essa criatividade foi feita pela ambição, que pudessem ajudar as diferentes
pela ousadia, e pela coragem que fábricas a melhorar as suas eficiências,
a Sonae como sistema, os dirigentes investimentos para, por um lado,
da Sonae e, obviamente, Belmiro fechar unidades industriais que eram
de Azevedo tiveram para levar ineficientes e, nalguns casos, substituir
um projecto dessa dimensão para linhas de produção por outras novas,
a frente. O financiamento do Colombo etc.» CARLOS BIANCHI DE AGUIAR
requereu que todos os bancos que

1997 nessa altura operavam em Portugal


se formassem em sindicado para fazer 1998 1999
Inauguração do Centro Comercial Colombo. aquele que foi o maior financiamento Lançamento da Optimus. A marca vem agitar Inauguração do NorteShopping, que é, pela sua Inauguração do Centro Vasco da Gama, Sonae Indústria inicia produção de MDF no Brasil,
Espaçoso, polivalente e com uma decoração imobiliário alguma vez feito um universo onde estão instaladas apenas duas arquitectura e decoração, um elogio à indústria. um espaço arrojado na sua arquitectura país onde se começa a verificar a substituição
subordinada ao tema dos Descobrimentos, redes. Competitiva e inovadora, apresenta-se Compreende, para além do espaço comercial, e que espelha o respeito pelo Ambiente. Cada do uso de madeira pelo de painéis derivados
em Portugal. O necessário para
é o maior da Península Ibérica e será distinguido ao público com uma forte campanha publicitária, um lugar de cariz cultural, destinado a exposições, vez se investe mais no recurso a tecnologias de madeira. Dado o grande aumento da procura
com numerosos prémios europeus que o Colombo fosse uma realidade apelativa e séria. reforçando o conceito de comércio e lazer. e materiais menos poluentes com o objectivo desses materiais, é reforçada a sua produção;
e internacionais. foi trabalho de uma dimensão de minimizar os impactes ambientais de um nesse ano, o Brasil é um dos países mais rentáveis
e de uma ambição que, na altura, A Sonae adquire um grande número de acções Aquisição e venda dos créditos da TVI pela Sonae centro comercial. para a Sonae Indústria.
Lançamento do retalho não alimentar da Barbosa & Almeida, passando e ser o seu Tecnologias de Informação. Durante um período
era desmedida. Essa montanha muito
em Espanha. maior accionista. A empresa, criada em 1930, de seis meses, a empresa ajudou à recuperação Lançamento da Novis, numa das maiores Constituição da Box Lines, empresa de transporte
grande foi escalada, foi vencida é o segundo maior fornecedor de embalagens do canal televisivo responsabilizando-se campanhas publicitárias feitas no país, marítimo de contentores entre o continente
Lançamento da Vobis, um conceito de grande loja com sucesso. Isso criou uma de vidro do mercado ibérico. pela sua gestão. apresentando-se com intenção de liderar e ilhas. A Sonae, que já estava presente no porto
onde estão disponíveis tecnologia e consumíveis auto-confiança não só a Sonae Sierra, a liberalização do sector em Portugal de Liverpool desde 1996, gere numerosas
informáticos. Aquisição de 8.3% do capital da Portucel Criação do Clube de Produtores Sonae. e de se ser vista como alternativa ao operador operações de transporte e gestão portuária.
mas ao grupo Sonae, que permitiu
(produção de celulose), quota que mais tarde existente, apresentando para isso preços
A Sonae vence o concurso lançado pelo Estado que o grupo continuasse o processo é aumentada. O objectivo é liderar este sector A Glunz AG (Alemanha) abre falência técnica, muito competitivos desde o arranque.
para aquisição de créditos detidos por entidades de desenvolvimento e crescimento.» na Península Ibérica. e a Sonae Indústria adquire cerca de 85% desta,
públicas sobre a Torralta tornando-se ÁLVARO PORTELA começando, como fez em casos anteriores, Aquisição de participação na Soporcel, produtor
posteriormente detentora da maioria do capital. a reergue-la. de pasta e de papel com um grande volume
A aquisição da Torralta marca o fortalecimento de negócios no continente europeu.
da presença da Sonae no sector turístico Lançámos cinco ou seis formatos novos de uma vez, em segmentos
e a aposta num turismo menos massificado, não relacionados, e em três países: em Portugal, Espanha e em Inglaterra. Início da internacionalização da Sonae Sierra
mais ligado ao contacto com a natureza. com a entrada em Espanha, Grécia e Brasil.
É até difícil de acreditar hoje que foi mesmo assim… Alguém que tem
Lançamento da SportZone, onde são vendidos, supermercados e hipermercados e de repente desatar a fazer desporto, Lançamento do Clix, que depressa se torna líder
para além de vestuário e calçado desportivos, materiais de construção, equipamentos de escritório, decoração e casa, do acesso à internet no sector residencial.
tudo o que é necessário para a prática de vários do zero, em três países ao mesmo tempo… É, pelo menos, difícil! Tivemos O lançamento do acesso gratuito ao serviço
desportos. no território nacional, sendo pago apenas
que recuar bastante, fechando Espanha e Inglaterra, mas conseguimos o equivalente a uma chamada local, atrai
desenvolver formatos que são hoje valores enormes desta casa, e alguns numerosos clientes, sobretudo nas camadas
deles, as melhores lojas, dentro da sua categoria, na Europa toda.» jovens. Cresce também de forma acelerada
PAULO AZEVEDO o número de clientes do portal Clix.
O jornal Público agitou o jornalismo portu-
guês por um sem número de razões. Foi uma
lufada de ar fresco com manchetes muito LANçAMENTO
DO PÚBLICO
atraentes, do ponto de vista gráfico, e uma
atenção particular ao quotidiano, à cultura e à
informação internacional. Portugal era o único
país que não tinha um diário de referência,
e um grupo de profissionais, muitos deles
com provas dadas no Expresso, nas agências
noticiosas, mas também na rádio e televisão,
modernizaram o panorama da imprensa.
Com muitas ideias originais e um dinamismo
contagiante, que começou logo no processo
de selecção dos redactores que mobilizou
toda uma geração de jovens jornalistas.

O início, ainda assim, não foi fácil. O projecto


de imprimir localmente, em Lisboa e no Porto,
duas edições distintas revelou-se desastrosa
e por avaria das rotativas, atrasou dois meses
a saída em banca, que aconteceu a 5 de Mar-
ço de 1990. Muita da novidade, aliás, estava
na sucessão diária de suplementos temáti-
cos, alguns verdadeiras surpresas, como o
dedicado à ciência e tecnologia. As páginas
de opinião marcaram também a diferença e,
sobretudo, em momentos marcantes como
a Guerra do Golfo soube afirmar-se capaz
de produzir excelente informação de en-
quadramento, na linha com os grandes títulos
europeus. Associou-se mesmo com alguns
deles para um sem número de projectos
especiais, quer de edição conjunta, quer de
coleccionáveis que fizeram a sua época. Os
livros da colecção Mil Folhas tornaram-se um
fenómeno popular, com relevo também no
aspecto económico.

Várias revistas e outros suplementos se foram


somando, em domínios tão distintos como a
economia ou o humor, e com a revolução da
net nasceu o Público Online, hoje Público.pt,
que lidera as audiências. Mais recentemente,
em 2007, procedeu-se a uma mudança radi-
cal do grafismo, que mereceu vários prémios
internacionais.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
Alguns dos especialistas não hesitam em mas era um pouco inerte e o capital estava a Sonae, o maior accionista do banco, com
considerá-la uma das histórias mais pode- bem distribuído pelos accionistas do núcleo 9% do capital, recusa dar o seu apoio. A Sonae
rosas do mundo dos negócios no Portugal duro, de tal modo que permitia ao presidente queria já então controlar o BPA.» O ministro
democrático. A privatização do Banco Por- do banco e aos seus quadros controlarem das finanças, Eduardo Catroga, terá então
tuguês do Atlântico permitiu uma dispersão a vida do banco.» Até ao instante fulcral em tomado a decisão de convidar o BCP para
do seu capital por um conjunto de accioni- que o Banco Comercial Português tenta o tentar novamente o assalto ao BPA, desta vez
stas do qual tomavam parte um conjunto controlo do BPA através da célebre oferta tentando os 100% de capital. O BCP responde
alargado de empresas, como, entre outros, pública de aquisição de acções. «A operação afirmativamente deixando quase todos
os grupos Mota, Riopele, RAR, Ilídio Pinho, que teve duas fases. Na primeira OPA, o BCP os accionistas aliviados. Só a Sonae está
Quintas, Soares da Costa, Valongo, Maconde, admitiu a possibilidade de controlar o BPA descontente, batalhando até ao último mo-
a Seguradora Global e Salvador Caetano, além adquirindo apenas 40% do capital, estando mento para evitar o sucesso da OPA, agindo
da Sonae. «Houve uma tentativa de concer- convencido que seria suficiente. Além de que de modo próprio, quase sem aproximação
tação inicial entre este grupo de accionistas não tinha capacidade financeira para mais. à administração do banco e, a certa altura,
e os quadros do banco», conta Magalhães Não tinha e não veio a ter, pelo que só arranjos, contando com o apoio do Banco Português
Pinto, então quadro superior do BPA e autor subterfúgios e artimanhas vieram possibilitar de Investimento. A Sonae tem, portanto, a
do romance A OPA (Vida Económica, 1996). a segunda fase.» O governo assiste serena- possibilidade de fazer uma contra OPA e
«Já se vivia a ideia da administração do mente, os accionistas mantêm-se em silêncio podia fazê-lo legalmente, mas o BPI é infor-
banco, personificada pelo Dr. João Oliveira, e a batalha trava-se entre o BCP e a adminis- mado de que o governo não autoriza: tinha
de querer fazer do BPA um banco controlado tração do banco, acabando por vencer esta tomado partido. Só nesse momento a Sonae
pelos quadros, como na Alemanha com o última. «Em seguida, há uma tentativa dos se dá por vencida. Gorou-se o objectivo do
Deutsche Bank. Foi fácil acordo entre os accionistas do núcleo duro e da administra- único accionista privado que tinha uma ideia
quadros do banco e todos os accionistas ção do banco para blindar os estatutos a fim sobre o que queria para o Banco Português
excluindo a Sonae… o Estado tinha a tutela de se evitar uma segunda OPA, fosse do BCP, do Atlântico.»
do banco ainda no ministério das finanças, fosse de quem fosse. Só uma força se opõe:

PARTICIPAÇÃO
NO BPA
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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
A evolução deve-se
ao surgimento
dos category killers
Por vezes, os obstáculos podem ajudar a «Sobreviveu a SportZone», a qual segundo
encontrar outros caminhos. Em meados Moreira da Silva, «é líder de mercado e forte,
da década de 1990, a distribuição tem e sobreviveu também a Vobis, numa catego-
jáuma presença nacional bastante signifi- ria muito difícil e competitiva, a do hardware
cativa. São 25 lojas Modelo, mais de uma e software. Os consumidores têm hoje uma
dezena de Continentes, com os 16.500 m2 oferta que não existia, melhor e a melhor
do hipermercado do Centro Colombo a preço, portanto é uma modernização do
servirem de farol, a mais de 1500 referências comércio e uma melhoria do valor a que os
de produtos de marca própria Continente consumidores têm acesso.»
e Modelo. Os números podiam somar-se,
extravasando fronteiras. Surgem novas Em simultâneo, esta nova perspectiva das
parcerias, como a Max Mart, como grupo áreas não alimentres, aproveitou ainda da
irlandês CRH, na área dos materiais de con- melhor uma maneira a imposição legal que
strução. Ou a venda por catálogo através impedia as grandes superfícies de abrir em
da Quelle. Nascia, então, por esta altura um determinados dias, para dimensões para
projecto que visava alargar a oferta da Sonae além dos 2000m2. Ora, limitada a esta
Distribuição aos produtos não alimentares situação, apareceram os espaços CC 3000
de uma forma muito focada e profissional. distribuídos por cerca de 2000 m2 para o
Era o início da Sonae Retalho Especializado. mini-hipermercado Modelo, ficando a res-
Como explica Carlos Moreira da Silva, «é um tante área repartida entre a Worten (elec-
retalho por contraposição ao hipermercado, trodomésticos e a electrónica de consumo)
que tinha, naquela altura mais ainda do que e a Modalfa (vestuário, calçado), além das
hoje, uma gama muito alargada de produ- pequenas lojas da galeria, que entretanto
tos. A evolução deve-se ao surgimento deram origem às mais recentes insígnias
dos category killers, especializados numa Bom Bocado e Área Saúde. A Modalfa e a
determinada categoria de produto, que são Worten vieram mesmo a constituir-se como
mais eficientes, que são mais conhecedores duas marcas muito fortes de per se. «É
do produto com uma oferta que os consu- sabido» diz Nuno Jordão, «que no vestuário
midores consideram mais atractiva.» Assim somos não só a Modalfa, como a Zippy, e
nasceram insígnias como a Vobis, a Sport- mais recentemente a Loop, no calçado… Ou
zone, Inventory e a Max Office. seja, soubemos explorar essas avenidas de
crescimento, e hoje, quer uma, quer outra,
quer o nosso negócio de electrónica de con-
sumo, quer o nosso negócio de vestuário,
com os diferentes formatos, são muito
fortes para a Sonae distribuição, e que já
estão, inclusivamente, em Espanha».

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
MUITO
PARA ALÉM
DO CRÉDITO
E de súbito, o cartão de crédito passou a dar
descontos. Os cartões de crédito eram, en-
tão, reservados para as classes médias e mé-
dias altas e pareciam ter um valor simbólico
determinado, sinal de ascensão social. O Visa
Universo foi lançado como um produto de
massas, com uma campanha de massifica-
ção nacional e possuía um conceito simples
mas muito atraente – por cada compra exis-
tia um desconto (no mínimo de 1%, mas que
podia ser mais alto), que revertia em compras
no Continente. Mais um pioneirismo: primeiro E os consumidores responderam de modo
cartão de crédito cobranded na Europa avassalador: em seis meses foram cerca de
ligado a uma cadeia de distribuição. Revelava 200 mil os utilizadores e um mês antes havia
uma novíssima atenção ao consumidor, que, já atingido 14 % da quota de mercado. Mas
segundo Luís Reis, então lider do projecto tal só foi possível por causa da sinergia, esse
Visa Universo, «estivera sempre presente valor omnipresente. É que no lançamento
em todas as fases de desenvolvimento do do Visa Universo, como mais tarde para a
projecto. Realizaram-se estudos qualitativos Optimus, para o Clix e para muitas outras
e quantitativos desde a fase de conceito até à iniciativas comerciais mas também de outras
fase de lançamento. Existiram várias fun- naturezas foi utilizada a estrutura de lojas da
cionalidades do cartão que foram afinadas Sonae Distribuição, como catalizador e mo-
em função das sugestões do consumidor e bilizador de negócios fora da sua área de ac-
mesmo a marca e a campanha de comunica- tuação natural. A massificação que o elevado
ção foi escolhida com a opinião destes.» Por tráfego que as lojas de retalho gera foi usado
exemplo, a marca escolhida pela Sonae era pela primeira vez para um projecto fora do
outra mas a preferência massiva dos con- negócio da distribuição mas com alavanca
sumidores ouvidos acabou por ser decisiva. fundamental do sucesso de outras áreas de
«A associação entre a Visa e o Continente foi negócio do grupo. Hoje em dia este continua
um original cobranding entre nós e contribuiu ainda a ser um motor determinante para a
em muito para o sucesso: o Visa Universo empresa, explicando também o sucesso de
tornou-se no maior cartão de crédito em produtos e serviços como as campanhas de
Portugal ao fim de seis meses e manteve-se solidariedade das marcas Continente e Mod-
nessa posição de liderança ao longo de mais elo, ou do estrondoso sucesso no lançamen-
de cinco anos.» to dos cartões de fidelização destas marcas.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
ABERTURA
DO CENTRO
COMERCIAL
COLOMBO
«Ambição, ousadia e coragem, estas são Levou uma década a vencer a burocracia e Com como quase sempre acontece, também
algumas das características que nortearam cada uma das dificuldades que fizeram do o modo de fazer suscitou inovação e criativi-
a Sonae. Começou com os supermercados Centro Comercial Colombo um projecto dade. «criámos polémicas com a classe, mas
e os hipermercados, mas a ambição alargou- desmedido. Para sublinhar o gigantismo fizemos escola: de pessoas e de processos
se a todos os aspectos do comércio, inclu- da operação, basta insistir num exemplo. que, ao longo de vinte anos demonstraram
sive aos shoppings.» Álvaro Portela recorda «Requereu que todos os bancos na época a estar entre os melhores, globalmente». E José
que «o shopping era visto como uma peça operar em Portugal se formassem em sindi- Quintela explica a nova maneira de projectar
arquitectónica e um somatório de lojas. O cado para possibilitar aquele que foi o maior que teve de ser inventada. «Tivemos que
CascaiShopping foi o primeiro shopping financiamento imobiliário alguma vez feito inventar um novo processo de projectar, em
moderno, em que não havia nenhuma preo- em Portugal.» Acontecia mais uma revolução, que «as diferentes fases da mesma especiali-
cupação de venda das unidades, apenas a «uma perfeita loucura», segundo o arqui- dade tinham que ser desenvolvidas por pro-
necessidade de as alugar para assim manter tecto José Quintela, «dada a inexperiência jectistas diferentes já que o risco envolvido,
a unidade de gestão do conjunto. Todos nacional e nossa em particular, em projectos o rigor consequente exigido, e a quantidade
os shoppings feitos até aquela altura, ou se desse tipo e dessa dimensão. E exigiu de de know-how externo necessitado, não se
arrependeram do caminho que seguiram e todos os que embarcaram nessa viagem uma compadecia com uma posição nossa de
voltaram a adquirir as lojas, ou morreram ou dedicação de corpo e alma durante anos». meros compradores de serviços a projectis-
estão moribundos. Sem essa gestão feita Viagem é a palavra exacta para um edifício tas globais. Também, em Portugal não havia
uma única entidade, com a responsabilidade que se queria inspirado nos Descobrimentos. projectistas capazes de desenvolver de uma
de manter o bom funcionamento do shop- maneira coordenada e profissional pelo que
ping, não é possível coordenar a actividade «Pela primeira vez, em termos arquitectóni- iniciámos um processo de desenho que hoje,
de cada uma das unidades, cada uma fazen- cos, ensaiámos um edifício temático, car- graças à internet está muito aperfeiçoado,
do o comércio que quer, onde quer e quando acterística quanto a nós necessária para permitindo-nos fazer virtualmente o que,
entendem que é proveitoso. Esse esquema diluir o seu gigantismo. Depois do Colombo, na altura implicava a minha movimentação
não possibilita qualquer unidade de gestão, e nada ficou como dantes: os shoppings permanente pelo Mundo.»
é isso que está na base do conceito de shop- mudaram de construções assépticas onde
ping moderno. Nós não o inventámos, pois se ia às compras, para destinos onde as O sucesso deste projecto deu um fôlego à
já existia há muitos anos, apenas o introduzi- pessoas iam passear, onde se encontravam, empresa do tamanho da montanha escalada.
mos em Portugal.» Esta primeira experiência se divertiam porque era agradável lá estar e, «Toda a equipa que fez o Colombo continuou
foi, como o lema de então anunciava – eventualmente, compravam: nessa visita ou na empresa, mas agora munida da confiança
“CascaiShopping, shopping show” –, um ver- na próxima.» Em sintonia com o exterior, este necessária para dar o passo seguinte: no
dadeiro espectáculo. Mas outra montanha se cerca de meio milhão de metros quadrados final de 1997, a inclusão da Sonae Sierra (na
avizinhava. de construção continha no seu interior 420 altura Sonae Imobiliária) na Bolsa de Lisboa e
lojas e 75 restaurantes, apoiadas por um esta- o início do seu processo de internacionaliza-
cionamento com lajes de oito hectares cada. ção.» Com o tempo, surgiram novos desafios,
como a sustentabilidade ambiental, «uma
preocupação que não se reflecte apenas
no desenho e funcionamento dos centros
comerciais, mas no que fazemos no dia-a-
dia.» Com uma afluência de público estável e
satisfatória, o Colombo está longe de parar na
viagem em busca de novos mundos.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
LANÇAMENTO
DA OPTIMUS

A Optimus tem, para o seu percurso, uma O arranque foi muito atribulado, mas tam-
extraordinária banda sonora com as com- bém fantástico. Um momento daqueles em
posições que foram ilustrando os seus film- que a nossa capacidade de implementação
es e jingles publicitários: emocional, épica, surpreende toda a gente. Lembro-me que
sensual e desafiante. Como que por acaso, o business plan, feito em conjunto com
o lado mais público reflecte o que foi acon- a France Telecom e a EDP, previa 28 000
tecendo no íntimo de uma empresa que clientes no final do ano de lançamento, que
andou (quase) sempre a apagar o prefixo da era só em Setembro. Quando começámos a
palavra “impossível”. Desde o dia 0, quando tentar vender ao nosso conselho de admin-
o calendário marcava 15 de Setembro de istração a ideia da campanha dos pioneiros,
1998. «Desde que nasceu, os consultores, sobretudo a France Telecom olhou-nos de
os analistas, toda a gente diz que a Opti- lado, tendo-nos dito que só seria possível se
mus não é possível, não tem uma posição no dia 0 tivéssemos a distribuição, a rede,
competitiva sustentável, e que a Sonae a todos os produtos e todos os serviços a
deve vender. E todos os anos se faz algo que funcionar, o que obviamente era impossível.
previsivelmente não seria possível. Depois No momento em que disseram «impos-
adaptam o discurso para “desta vez fizeram, sível», a minha equipa não pensou em mais
mas para o ano vai correr mal…” A Optimus nada. E foi a primeira vez que um operador
carece de uma capacidade de inovação móvel arrancou com cobertura nacional,
muito superior aos seus concorrentes para com todos os produtos – pré-pagos, pós-
sobreviver, o que é insustentável, mas o pagos, empresas, grandes empresas, PMEs,
facto é tem uma capacidade, sobretudo particulares –,todos os serviços e alguns
nas telecomunicações móveis onde se inovadores, logo no dia do arranque. A nossa
pensa que já se inventou tudo, para fazer vontade de se fazer impossíveis é uma car-
surgir mais inovação.» Paulo Azevedo não acterística muito forte. Talvez seja um dos
esconde o orgulho. «Fomos os primeiros nossos principais defeitos, porque insisti-
a lançar o Kanguru, uma inovação mundial mos, às vezes até à exaustão. Não gostamos
e agora um segmento de mercado impor- de concluir que alguma coisa realmente
tantíssimo. Naquela altura toda a gente é impossível!» E o mesmo aconteceu,
dizia ser impossível ter uma internet móvel anos mais tarde, com o Boomerang Net,
a preços comparáveis com a internet fixa, o primeiro pré-pago a nível mundial com
que as pessoas nunca o utilizariam como acesso à internet, baseado em tecnologia
acesso principal. Dizia-se que não havia WAP – Wireless Application Protocol. Assim
a tecnologia, e se houvesse, o custo seria se escreve o futuro.
proibitivo. Lutou-se e lá se arranjou uma em-
presa quase desconhecida, sem um único
cliente na Europa, e que hoje é um grande
fornecedor de telecomunicações, a Huawei.
Com essa parceria conseguiu-se lançar essa
tecnologia na rede e nos modems.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
«A indústria cria valor, cria riqueza, cria sível quando se arrisca. E o Eng. Belmiro
emprego. E nós», afirma Carlos Bianchi de de Azevedo gostava de correr riscos, bem
Aguiar, «pelo tipo de produto que fazemos, como a equipa que estava com ele. No início
temos um papel importante nos ambientes da década de 1990, viveu-se um período
em que estamos inseridos. Utilizamos negro da economia. Ora a compra da Tafisa
matéria-prima local, conseguimos criar foi o investimento certo na hora certa. Não
emprego localmente, directa e indirecta- só mais do que duplicou a dimensão da
mente. A indústria é, por natureza, uma indústria nesse momento, como aproveitou
actividade criadora de riqueza e de em- o fim da crise. Melhorou-se a rentabilidade e
prego. Desde que haja recursos naturais, e aproveitou-se da melhor maneira as três ex-
nós só colocamos fábricas onde existem celentes unidades em Espanha e uma nova,
produtos naturais sustentáveis, neste caso com dois anos e pouco de funcionamento,
madeira, haverá sempre lugar para existir no Quebeque, no Canadá.»
uma indústria como a nossa em qualquer
parte do mundo». Também por isso, a in- Para Bianchi de Aguiar «os anos seguintes,
dústria, no contexto do grupo Sonae, não se de 1993 a 1998, constituíram outro período
limita ao papel de memória mais ou menos importante de expansão, não tanto pe-
distante, como um velho parente estimável las aquisições, mas pelos investimentos
que se visita de quando em vez. É certo que de raiz, sobretudo no Brasil. Criou-se um
a génese do grupo esteve na actividade novo mercado para a Sonae Indústria
industrial, mas no final da década de 1980, com a finalização de um investimento em
deu-se um novo fôlego com a aquisição de curso aquando da aquisição da Tafisa, o do
outras fábricas de laminados de madeira em Canadá, na província do Quebeque. Teve
Portugal, como a Novopan, a Siaf, a Paivopan ainda início o desenvolvimento do projecto
e a Agloma. Tudo isto criou uma base na- africano, nomeadamente na África do Sul,
cional bastante relevante e que obrigou a, onde primeiro se construiu uma fábrica e
por não ser possível escoar a totalidade da depois se adquiriu uma outra empresa com
produção no país, procurar outros merca- mais duas unidades industriais. E o segundo
dos. A presença alargada nos mercados grande salto foi a aquisição da Glunz, que, na
estrangeiros do sector dos laminados deu, altura, era o maior operador europeu de de-
à partida, o conhecimento e a experiên- rivados de madeira. Foi um salto ambicioso,
cia para conseguir colocar os produtos lá quase duplicando o volume de negócios.»
fora. «A Sonae Indústria tinha um mercado
muito importante, o mercado inglês, e por aí E assim se afirmou a Sonae como líder mun-
começou a internacionalização instalando dial de painéis derivados da madeira. Os
unidades produtivas, tendo sido a primeira aglomerados são um produto do pós-guer-
na Irlanda do Norte, em Collaroy.» ra, desenvolvido na Suíça, que se espalhou
pela Europa e depois difundido por todo o
Jaime Teixeira, outro dos protagonistas da mundo devido a uma grande versatilidade.
época, conta um momento particularmente Enquanto material decorativo ou para con-
importante. «A Sonae investia, investia, strução, seja MDF (aglomerado de fibras de
investia e a certa altura estava a esticar densidade média) ou OSB (aglomerado de
demais o balanço. Se as coisas corressem partículas de madeira longas e orientadas),
bem, óptimo, afinal foi assim que a Sonae este produto com origem na floresta ajuda a
se desenvolveu, mas se assim não fosse fazer do mundo uma casa acolhedora.
deixava de crescer. Ora crescer só é pos-

A indústria é,
por natureza,
uma actividade
criadora de riqueza
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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
e de emprego
Alguns gestos, de tão quotidianos, pare-
cem que existiram desde sempre. Há uma
década o acesso à internet não era ainda tão
comum, tão indispensável, tão necessário.
A Clix ficará associada ao crescimento ver-
tiginoso do acesso à internet entre nós. Por
uma razão simples, a que aproveitava uma
vez mais a sinergia com a Sonae Distribuição:
a maior parte dos consumidores saíam do
Continente e do Modelo com um pequeno
cd. Era a chave de entrada no admirável
mundo novo. No final de 2001, mais de um
milhão e cem mil aderentes. Estar ligado
tornou-se sinónimo de estar vivo. E para
tanto era preciso, não apenas informação,
mas uma forma diferente de a ver, com uma
outra organização, uma maneira mais rápida
de estar e saber, na mudança do milénio.
O próprio conceito de portal contém a
imagem de portas que se abrem para um
futuro que vai sendo construído todos os
dias vertiginosamente. O ecrã de computa-
dor tornou-se a realidade e todos demos
«um Clix às nossas vidas». Não se tratava
apenas de actualidade, de dar notícias, mas
de, como noutros campos, dar respostas
a todas e cada uma das necessidades, da
gastronomia à astrologia, da saúde à fotogra-
fia. A comunicação ganha, então, todas as
dimensões. Não se lê apenas, ouve-se, em
ligação com rádios; vê-se com produção
exclusiva ou ligação a televisões. Assim se
orienta e liga quem está em rede: isto é,
um planeta inteiro. Tudo com um detalhe:
ao acesso era gratuito em todo o território
nacional: “fazer Clix custa nix”.

fazer Clix
custa nix.
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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
1959

OS VALORES Apesar no nacional no seu nome, o primeiro


logótipo da vetusta sociedade nacional de
Duas sementes que crescem reunidas
por um anel de fogo, o logótipo actual da

NUMA SÓ estratificados parece conter desde logo a


vocação planetária. As letras são suporta-
Sonae detém o simbolismo de crescer
em permanência, usando para tanto a

1983 IMAGEM das pelos meridianos de um globo estiliza-


do. Parecem assim, premonitoriamente,
conquistar o Mundo. Mais do que assinatura
energia da inovação, da sinergia capaz de
fazer entroncar os mais díspares ramos no
tronco de um árvore única, que se alimenta
de empresa industrial, de fábrica ou produto de conhecimento partilhado. Para Ricardo
específico, o grafismo parece querer repre- Monteiro, CEO da EURO RSCG, «A Sonae
sentar uma instituição: ambiciosa, moderna, é uma instituição. Nela se revêem os seus
estruturada. Desde cedo se deu atenção à trabalhadores, fornecedores e accionistas
afirmação da marca em várias acções pro- mas também o próprio país. A Sonae não
mocionais, seja para o caso do estratifite, está à venda – está compradora. Nessa
do aglomerite ou do laminite, que chegou medida dela, se espera o que o país não
a apoiar um clube de ciclismo, desporto tem conseguido: vencer cá, como além
bastante popular à época. fronteiras, ser uma bandeira de Portugal no
mundo, algo de que todos colectivamente
Em 1983 e 1990, momentos significativos no nos orgulhamos. Se insistíssemos em falar
crescimento do grupo marcados por novos da “marca Sonae”, teriamos que afirmar que
símbolos, em nenhum desapareceu o globo o seu valor é o do próprio país, comparável
1990 agora marcado pelo dinamismo de linhas apenas aos grandes gigantes industriais de
que pareciam partilhar a mesma energia que outras paragens, como a Toyota no Japão,
viveu a empresa naqueles anos. a Fiat em Itália, a Samsung na Coreia, a
Philips na Holanda, etc. Mas essas empresas
optaram por apor a sua razão social aos
próprios produtos, erigindo-as em marcas
comerciais. E nisso, a Sonae distingue-se
delas, aproximando-se mais da classifica-
ção de “instituição” que de marca comercial.
Outra coisa é o valor bursátil da empresa...
Mesmo aí, o valor na economia real da Sonae
ultrapassa em muito aquele que os merca-
dos lhe atribuem. Basta imaginar o que seria
a nossa paisagem sem os Colombos e os
Continentes, sem as Optimus e as fábricas
da Sonae indústria.»

2000

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
Podia ser contada uma história das últimas «Outras empresas houve que, esporadi- nem sempre querida dessa mesma socie-
décadas em Portugal através das imagens camente, tiveram recurso a este precioso dade), a Sonae sempre sentiu a necessidade
publicitárias da Sonae. São slogans que instrumento comercial.» E recorda Ricardo de ter um tom moderno, grande, social-
não nos saem da cabeça, como “Novi- Monteiro, CEO da Euro RSCG, «quem não mente aceitável e esteticamente irrepreen-
dades novidades é no Continente”, uma se lembra da Gás Cidla ou dos Chocolates sível. Um tom que dissesse ao consumidor:
presença musical que espalha bem-estar e Regina? No entanto, apenas a Sonae, a nós não somos daqui, somos do mundo.»
optimismo ou as imagens inesquecíveis de partir de 1985, tem recorrido à publicidade
um grupo de amigos a ser convocado por de forma consistente e recorrente, tendo Não será fácil determinar que papel teve a
telemóvel para salvar uma baleia. Estes são construído pelo caminho algumas das mais publicidade e o marketing na construção
mais próximos, mas ainda nos idos anos de poderosas marcas portuguesas, como de uma marca, mas é indesmentível a
1960, a Laminite era um sinal de moderni- sejam o Continente, a Optimus ou o Mod- importância da comunicação sobretudo no
dade que se fazia próxima do ciclismo. Entre elo. Curiosamente, a Sonae, hoje um dos advento de marcas como o Continente e a
essa altura e a campanha da Novis, do Mod- maiores investidores de publicidade do país, Optimus. «Fazem parte da nossa memória
elo, do Clix, entre outras, algo se passou para veio ocupar um vazio deixado pelas grandes colectiva slogans como “Gente inteligente
justificar que a Sonae se apresente como multinacionais do consumo – a Lever, a compra no Continente” ou “Falar assim é
a primeira grande empresa portuguesa da Nestlé e a L’Oréal são as que me ocorrem Optimus”, recorda Ricardo Monteiro. Essas
era moderna a dar relevo à publicidade na – pois essas empresas foram adoptando marcas não teriam a força e valor que hoje
construção do seu negócio. progressivamente campanhas e métodos denotam se não fosse a cuidadosa, continu-
uniformizados com outros países tendo re- ada e coerente abordagem à publicidade.
De um modo muito nítido, a sua preocu- duzido drasticamente a produção local. Não O Continente continua denotando uma
pação acrescida não era outra senão falar fora a Sonae e a indústria publicitária portu- arrogante juventude, pese embora as mais
directamente com o consumidor. Cedo se guesa, sobretudo na sua vertente criativa, de duas décadas de presença na nossa vida.
apercebeu que tal tinha consequências na teria definhado ou mesmo desaparecido.» Cada dia aparece mais renovado e sempre
organização interna, sobretudo à medida relevante para todos nós. A Optimus, mais
que o grupo se afirmava e desenvolvia. A Para Pedro Bidarra, CEO do grupo BBDO laboriosa na sua construção, é também o
dada altura, Luís Reis foi incumbido de cen- Portugal, «as marcas da Sonae marcaram, exemplo de uma marca challenger, um de-
tralizar a comunicação então pulverizada graças ao seu investimento no grande safio permanente ao domínio do operador
pelas inúmeras lojas existentes pelo país, marketing e na grande comunicação, mas incumbente e da mais poderosa multinacio-
pulverizadas que estavam em inúmeras es- por terem nascido de uma cultura de gestão nal de telecomunicações móveis do mundo.
tratégias, práticas e investimentos. A inten- virada claramente para a venda, para o De certa forma, a Optimus é a própria
ção era criar uma estrutura única capaz de crescimento, nascem sempre para serem personificação da atitude da Sonae como
suscitar as indispensáveis sinergias e unifi- grandes; e grandes depressa, numa espécie empresa: lutadora, high profile e apostada
car a comunicação. Como noutras etapas de tudo ou nada, numa corrida contra o em crescer. E o Continente o melhor exem-
da vida da Sonae, também aqui foi pioneira tempo e a favor do sucesso. Daí a publici- plo do seu sucesso.»
e inovadora, desenvolvendo capacidades, dade e sobretudo a televisão para falar di-
conhecimento e criando novas referên- rectamente com o consumidor, sem filtros, Pedro Bidarra confirma isso mesmo,
cias de que são exemplo os trabalhos e sem preconceitos, sem intermediários. Daí dizendo-o de outro modo: emocionado.

FALAR AO OUVIDO
resultados na comunicação no ponto de o grande investimento, o tom massificado «Felizmente para mim, que trabalhei o
venda, hoje reconhecida nacional e inter- e épico de muitas das suas comunicações, Continente, a Optimus, o Clix, o Visa Uni-
nacionalmente como uma referência no manifestações de uma estratégia para verso entre outras marcas da Sonae, houve

DO CONSUMIDOR
sector. Como sempre, gerações de gestores a grandeza e para o sucesso. Nasceram muitos dias bons. Dia em que foi possível
de sucesso na área da comunicação e o também de uma cultura de outsiders, de produzir comunicação eficaz ao mesmo
marketing resultaram desta forma de estar. challengers que gostam de desafiar o status tempo na lógica e na estética, na razão e

ATRAVÉS DA PUBLICIDADE
Como sempre, para não perder um segundo quo o que obviamente não lhes compra no coração. Comunicação que nasceu do
o contacto directo com o seu cliente, se favores ou boa imprensa por parte da média casamento das duas obsessões do grupo
possível sussurrando-lhe ao ouvido. dos gostos e dos costumes que é conserva- com o marketing e o tom e que ajudou a
dora e lisboeta como o resto do empresari- construir a reputação das marcas da Sonae
ado português. As marcas da Sonae só têm como grandes comunicadoras. Foi o que
um amigo: o consumidor. Ora por serem fizeram campanhas como a “Gente inteli-
challenger do status quo de uma sociedade gente compra no Continente” ou o “Fazer
instalada, imóvel e bem de vida (e por isso Clix custa nix” ou as muitas vidas da Opti-
mus que deram momentos como “Baleia”
uma das mais belas, eficazes e lembradas
campanhas de sempre.»

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
SONAE COMO
ESCOLA DE LÍDERES
Um dos valores que o tempo testou e confirmou no percurso da Sonae, a ponto de se tor- Jaime Teixeira, actualmente CEO da Orbitur, sabe bem do que fala, uma vez que acom-
nar absolutamente consensual nas avaliações dos especialistas, mas sobretudo no modo panhou o grupo em fases essenciais do seu crescimento inicial. «A Sonae é uma empresa
como a sociedade olha para um grupo desta envergadura, tem sido exactamente este de diferente devido à dinâmica da sua liderança. A Sonae não foi apenas aquilo uma escola
colocar os colaboradores no centro do sucesso, de estimular permanentemente a sua prática de gestão, foi uma formadora de empresários. O clima, o espírito que se vive, o sentir
educação, ajudando-os até no seu próprio desejo de empreender. A Sonae fez escola de que se pode arriscar tomar decisões, cada um ao seu nível, naturalmente. Quando corre
empreendedorismo, atraindo e fomentando talento que resulta numa partilha única e con- bem, tem-se os valores correspondentes; quando corre menos bem, é-se encorajado a
stante de saber prático e, talvez mais importante, de sabedoria. É disso também referência, fazer melhor. Esta é a atitude do Eng. Belmiro de Azevedo. Nos últimos anos da minha vida
a dinâmica da actividade de formação, organização de conferências, seminários e cursos de profissional na Sonae, sempre me senti perfeitamente à vontade, como se fosse eu o dono
curta e média duração do Sonae Learning Centre, criado em 2004 e que em 2008 comple- da empresa, o dono do meu destino. Nunca me senti coarctado nas decisões que tomava,
tou aproxidamente 1.400 mil horas de formação. nem temi por tomar uma decisão errada e que isso me pudesse custar o lugar ou qualquer
outra coisa. No pior dos cenários, podia não ter êxito e ficar sem receber os aplausos e os
«A Sonae dá», diz Nuno Jordão «um contributo enorme com a valorização dos seus co- lucros por isso, mas seria encorajado a corrigir os erros e a fazer melhor para a próxima».
laboradores. Há um ambiente especial, que permite e incentiva o desenvolvimento pessoal Jaime Teixeira continua. «Deixei a Sonae com 55 anos de idade e fui apoiado de forma
e profissional de um conjunto muito grande de pessoas que trabalharam ou trabalham no inquestionável, quando pensei em investir na área industrial. Deve ter sido a primeira vez
grupo. Na Sonae Distribuição, fazemos barómetros de clima social de três em três anos e que o Eng. Belmiro de Azevedo aceitou entrar num negócio como accionista minoritário
deles consta, de forma inequívoca, que as pessoas trabalham com enorme agrado na em- (sabemos que ele não gosta de ser minoritário em nada…). Fê-lo por amizade e para me
presa. Aliás, empresa que hoje é vista de fora como muito profissional e credível naquilo que apoiar, como a todos quantos foram saindo».
fazem, e isso é marcante. A Sonae deixa dezenas de milhar de pessoas mais valorizadas do
ponto de vista pessoal e profissional do que estariam antes de entrar.» Sérgio Figueiredo sublinha isso mesmo, aquilo que não se vê nos indicadores financeiros e
económicos do grupo: a transformação cultural. «Pode-se dizer que a Sonae foi e tem sido
«O comprometimento da Sonae com um conjunto de valores já bem conhecidos», diz uma grande escola de empresários, um ninho de empresários, de pessoas que iniciaram
Ângelo Paupério «têm feito dela um espaço de eleição para a maior parte das pessoas. uma carreira de gestão profissional e de trabalhadores que se autonomizaram com grande
Vê-se hoje, por inquéritos à saída das universidades, que as pessoas querem e gostam sucesso a partir dessa empresa. É também uma escola de gestão. Aqueles que não foram
de trabalhar na Sonae, que a vêem um exemplo. Isso é muito importante para o país: ter empresários por conta própria, acabaram por ter carreiras profissionais muito estimulan-
empresas que geram esse emprego e que permitem que as pessoas cresçam e se desen- tes, o que acaba por ser, também, pouco normal num grupo com características familiares.
volvam, e se continuem a formar ao longo dos anos enquanto profissionais. A Sonae tem Esse é um aspecto muito importante: a valorização do mérito, e não tanto da descendência
também dado oportunidade a pessoas que trabalham aqui de se lançarem em actividades familiar, para estimular os melhores – essa lógica irradia e contagia o ambiente e cultura
empresariais por conta própria ou ligados a outros, e tem sido sempre possível manter es- empresariais».
sas relações de modo extremamente profícuo».

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
04 DESENVOLVER
PARA CONTINUAR
50 ANOS À FRENTE
A Sonae, no seu percurso,
incorporou (e transmitiu)
os valores que sempre se Não conheço uma
consideraram adequados organização que possua
e necessários para o seu tanta ambição, tanta liderança
desenvolvimento e que e tanta vontade de fazer
permitiram o seu percurso: a coisa certa e tanta… De cada
da informação, avançou vez que fazemos uma parceria,
para o conhecimento, deste mesmo com as grandes
para a inovação, da inovação empresas internacionais,
para a acção e da acção para ficam muito admiradas com
o fazer. Assente num processo a capacidade que temos
criativo de natureza para fazer as coisas complexas
horizontal entroncado rapidamente. Como foi isso
na área da Indústria, a criação possível? Temos pessoas com
da Sonae que hoje é conhecida uma qualidade inacreditável,
e internacionalmente que trabalham muito bem em
reputada foi acompanhada conjunto, e que partilham uma
pela emoção de fazer coisas série de valores. Aliás, são já
novas – a promoção de saltos atraídas por esses valores
de descontinuidade e seleccionadas em função
e constante criação de riscos deles e tanto mais bem Não basta chegar à foz, o rio pretende ser
oceano. Como o percurso das águas através
Que se espalham ainda pela América, do
Sul ao Norte, pela Austrália, por África e pela
Esta vontade de avançar, de mergulhar raízes
no passado para construir futuros, manifes-
e desafios. A vontade sucedidas quanto os incarnam das montanhas, também as empresas Ásia. Uma característica muito notada passa ta-se num sem número de aspectos da vida

de empreender presente no grupo. Estamos e estivemos podem gerar valor de forma perpétua,
continuamente procurando como crescer,
pelo contributo social, notável num grande
conjunto de campanhas bastante populares,
desta empresa, à qual se aplica como uma
luva o velho sentido de desígnio. A oferta
na sua cultura, levou em tantos negócios diferentes, como gerar valor, criando emprego. E o mas também pela consciencialização do pública de aquisição sobre a Portugal Tele-

ao aparecimento de ao longo da nossa história, nível só pode ser global. Na década em que
começou um novo século, o globo passou a
tema ecológico, com a sustentabilidade a
surgir como um valor transversal. Ou, como
com não foi bem sucedida, mas fez avançar
de modo imparável todo o estratégico sector
empreendedores e despertou que não pode ser nada ser o objectivo: a Europa continua sendo o no caso dos emblemáticos empreendimen- das telecomunicações. Nada ficou como

a vocação de correr o risco de específico a um negócio, continente com maior presença de em-
presas Sonae, com a Alemanha a receber
tos turísticos de Tróia, tornando-se mesmo
um activo. As sinergias multiplicam-se com
antes. Sem terramoto, pelo contrário, acon-
teceu a evolução. Belmiro de Azevedo deu
inteligente, de criar riqueza, a uma geografia, ou até a uma o primeiro centro comercial produzido em frutos como o cartão de fidelização Modelo lugar a Paulo Azevedo, num processo tido

de produzir por conta geração. A nossa principal exclusivo e muitos outros países, como
Espanha ou Inglaterra, a experimentarem as
e Continente, que não apenas se tornou o
maior cartão nacional, como uma ferramen-
como exemplar. A Sonae comprova que fun-
ciona em continuum, cumprindo os desejos
de um projecto em que se diferença só pode ser actividades do grupo. ta notável para o conhecimento do consumi- expressos do seu fundador. «A vontade de

acredita: e este será um cultural. Não pensamos dor, seu comportamento e desejos. empreender presente na sua cultura levou
ao aparecimento de empreendedores e
dos maiores legados da Sonae. no antes, mas no dia seguinte. despertou a vocação de correr o risco inteli-
gente, de criar riqueza, de produzir por conta
de um projecto em que se acredita: e este
Belmiro de Azevedo Paulo de Azevedo será um dos maiores legados da Sonae.»
2000 2001 2002 2003 2004
É admitida à cotação da Bolsas de Lisboa «A indústria cria valor, cria riqueza, Inauguração do Algarveshopping, o que permite O estabelecimento de uma joint-venture Lançamento do Fundo Sierra. Com uma duração Lançamento da Zippy, cadeia de lojas
a Sonaecom (IPO). à Sonae Imobiliária ultrapassar o 1 milhão de m 2 com o grupo Suzano dá origem à Lazam-mds, de dez anos, este fundo prevê o investimento de vestuário, acessórios, puericultura, mobiliário
cria emprego, portanto, nós, com
sob gestão. A inauguração deste shopping, que virá a tornar-se uma das maiores correctoras de empresas internacionais em alguns e brinquedos para crianças dos 0 aos 14 anos.
Criação do BizDirect, parceria que pretende o tipo de produto que fazemos, na Guia, representa também o regresso e administradoras de seguros do Brasil. dos centros comerciais Sonae Sierra (26 neste
desenvolver um mercado de comércio temos um papel importante nos da empresa, doze anos depois, à região momento), proporcionando a tais investidores Início da comercialização do Optimus Home,
electrónico para empresas. ambientes em que estamos inseridos. em que se aventurou pela primeira vez neste Abertura do Shopping Parque Dom Pedro, a valorização do seu capital. telefone da rede fixa que vem competir
negócio (com a construção do centro comercial no Brasil, o maior centro comercial da América com as outras redes, proporcionando grandes
Conseguimos criar valor a partir
Optimus ganha 1 das 4 licenças de UMTS de Albufeira). Latina. A Sonae continua a investir e a crescer Criação da Mainroad, empresa de soluções descontos nas chamadas.
(Universal Mobile Telecommunications System), da matéria-prima local, criamos fora de Portugal, dada a sentida falta de espaço e serviços para negócios conexos a sistemas
investindo na transmissão de dados e voz sem emprego localmente, directa Lançamento comercial da WeDo, que pretende no país. e tecnologias de informação. Actua nas áreas Alienação da participação na Portucel/Soporcel,
fios. e indirectamente, ou seja, desenvolver novos sistemas na área das tecnologias de gestão, segurança, continuidade e consultoria. que proporciona uma considerável mais-valia.
da informação. WeDo abre escritórios em Espanha e Brasil. A Sonae desinteressa-se pelo sector da pasta
abastecemos as indústrias, que
Lançamento do miau.pt, uma comunidade e do papel, o que a leva a alienar também
de leilões na internet que fornece oportunidades estão a jusante da nossa, e utilizamos Participação no processo de privatização a Gescartão.
de negócio aos seus utilizadores. matérias-primas de indústrias da Gescartão, empresa número um no fabrico
a montante. A indústria é, por natureza, de embalagens em Portugal. Parceria mds e Cooper Gay (broker independente).
Entrada da Sonae Sierra em Itália; a empresa Através do estabelecimento de parcerias
uma actividade criadora de riqueza
cresce no sector dos centros comerciais internacionais como esta, a mds vem reforçando
e do lazer, investindo em novos projectos, e de emprego. Desde que haja o serviço que presta aos seus clientes
como o Brescia Centre. recursos naturais, e nós só colocamos e consolidando-se como empresa
fábricas onde existem produtos de referência no seu sector.
Reforço da posição da Sonae Indústria na África
naturais sustentáveis, neste caso
do Sul através da aquisição da Sappi Novoboard,
companhia de madeiras. madeira, há sempre lugar para existir
uma indústria como a nossa
Norscut (participação actual de 36% da Sonae em qualquer parte do mundo.»
Capital) vence concurso para construção
CARLOS BIANCHI DE AGUIAR
e concessão da Scut Interior Norte, a que dá início
pouco tempo depois.
«A Sonae é um contínuo, onde a evolução é natural e sucessões normais.
A velocidade da criação e aplicação de conhecimento é de tal modo rápida
que é absolutamente impossível tal não acontecer. Os novos líderes, as pessoas
que me hão-de suceder e que hão-de suceder ao Paulo [Azevedo], têm
que ser bastante melhores do que fomos, porque já foram educadas com
novas tecnologias, novas fontes de informação, novas maneiras de comunicar…
Portanto, a ordem natural das coisas é que a sucessão seja normal. O Paulo
[Azevedo] tem todas as condições para ser melhor dirigente do que fui e tenho
a certeza que o será.» BELMIRO DE AZEVEDO
2005 2006 2007
Spin-off da Sonae Indústria – a Sonae deixa de ter Abertura da Worten Mobile, loja com serviço «Foi um processo que teve resultados Paulo Azevedo sucede a Belmiro de Azevedo, Criação da Saphety, empresa de consultoria «O mais importante era que
participação na Sonae Indústria, que é integrada de venda e aconselhamento no domínio num processo que é tido como exemplar. de negócios, que providencia soluções tecnológicas
muito importantes para a Sonae as pessoas achassem que sou era
na Sonae 3P Panels, Pulps and Paper (por sua vez, das telecomunicações móveis. para incrementar a eficácia, eficiência, inovação
esta ganha o nome da nova empresa que a integra: e para o país. Hoje é reconhecido Sonae Distribuição adquire operações e sustentabilidade. a melhor pessoa para fazer o lugar.
Sonae Indústria SGPS SA). OPA da Sonaecom sobre a PT e a PT Multimédia. que o cenário das telecomunicações de retalho do Carrefour, em Portugal, Não escondo que tenho um enorme
Tendo como intermediário financeiro o Banco em Portugal não seria o mesmo sem reforçando assim a sua liderança no mercado Criada a marca Book.it, insígnia de artigos orgulho em ter sido escolhido, mas
Alienação da Sonae Distribuição Brasil ao Grupo Santander, esta oferta mudou por completo de distribuição português. de livraria e papelaria.
a OPA sobre a PT. Foi excelente para não afectaria num milímetro o meu
Wal Mart, o que proporcionou um encaixe o sector das telecomunicações.
financeiro significativo para a empresa. todas as empresas do sector. Ajudou Lançamento dos cartões de fidelização É inaugurado em Berlim o Alexa, primeiro centro comportamento se tivesse sido outro
Lançamento do Clix Smart TV, que inclui alguns a que se começasse a olhar para estas Continente e Modelo, que permitem a acumulação comercial da Sonae Sierra na Alemanha. o escolhido. Foi um momento muito
Lançamento da Área Saúde, retalho de produtos canais com qualidade digital, pacotes de canais empresas numa lógica muito mais de descontos, que posteriormente podem ser O centro comercial é distinguido logo na fase emotivo e os meus colegas
e serviços de saúde e beleza (parafarmácia), especiais e aluguer de filmes. utilizados em compras. de construção, ao ser certificado pelas suas boas
de negócio e do que faz ou não da Comissão Executiva ajudaram-me
instalada sobretudo nos supermercados práticas de gestão ambiental.
e hipermercados do grupo. Sonae Capital integra consórcio na ENEOP, sentido, bem como das necessidades imenso. Terá sido com certeza um
que venceu o concurso eólico de 1200 MW. do país em termos de concorrência, momento muito importante para
Inauguração do primeiro centro comercial de soluções capazes de melhorar o meu pai. É muito raro encontrar
na Grécia, o Mediterranean Cosmos. Lançamento das Cafetarias Bom Bocado,
a vida dos consumidores. Com pessoas com um historial semelhante,
conceito inovador da Sonae Distribuição.
Optimus apresenta Kanguru, internet de banda a OPA introduziu-se, no sector que tendo feito o que fizeram, depois
larga portátil de fácil instalação e pronta a usar, das telecomunicações, uma lógica souberam pensar e aplicar uma
e a Rede4, rede móvel discount com preços concorrencial muito maior. E isso sucessão ainda com saúde e em plena
competitivos e possibilidade de adesão
só pode ser importante para o país.» forma mental. Fiquei feliz também
mantendo o número antigo.
ÂNGELO PAUPÉRIO com o reconhecimento externo,
da imprensa e dos analistas,
e o mercado de capitais, que nos
deu um voto de confiança. Não sei
como poderia ter corrido melhor.»
PAULO AZEVEDO
«A reestruturação da Sonae passará,
basicamente, por ter toda a
distribuição organizada em três negó-
cios: o negócio de base alimentar, que
é o Modelo, o Continente e os forma-
tos que estão dependentes dessa
área, como Bom Bocado, Área Saúde
«O Alexa foi o primeiro shopping ou Óptica, que tem tudo a ver com o
produzido pela Sonae Sierra, negócio fast moving consumer goods à
na Alemanha, e é uma produção volta dos hipermercados; uma área de
contra a corrente. O mercado alemão retalho não alimentar ou retalho
tem sido dominado por um conjunto especializado e uma área de imobil-
muito pequeno de empresas que tem iário de retalho. Haverá ainda uma
feito sempre o mesmo produto, fusão dos centros cooperativos da
que nós chamamos de “hospitalar” Sonae Distribuição e da Sonae holding,
pela falta de cor e de ambiente. e a criação de uma nova área de
Toda a actividade está centrada investimentos. Trata-se de manter
no consumo, na loja e na máxima alguma diversificação no estilo de
eficiência desse comércio. O produto investimento e de alavancarmos as
que a Sonae Sierra desenvolveu nestes «A falência da Torralta foi, também, nossas competências de modo a criar
20 anos pretende ser um destino a falência do conceito herdado novos negócios sem perdermos a
de lazer, onde as pessoas vão porque dos anos 60. Em primeiro lugar capacidade de inovar.»
gostam, porque querem usar porque, do ponto de vista económico, PAULO AZEVEDO
o seu tempo tirando partido do ócio esse conceito - ancorado num
e, complementarmente, fazer compras. produto unidimensional do tipo sol
2007 Sempre acreditámos que esta
perspectiva podia vingar, apesar
e praia - se demonstrou ineficiente
e incapaz de resolver a sazonalidade
2008 2009
Entrada na Roménia com a aquisição do River Plaza de nos dizerem que os alemães só «O mais importante na aquisição decorrente das condições climáticas Internacionalização da Sport Zone e da Worten Reorganização estratégica da Sonae.
Mall, um centro comercial já em funcionamento. no mercado espanhol.
gostavam de restauração nas caves do Carrefour não foi ter-se adquirido de Tróia. Em segundo lugar, porque
O River Plaza Mall é o 44º centro comercial Sonae
Sierra e a sua aquisição expressa a continuidade do shopping, que não gostavam mais doze lojas e mais doze projectos, se auto-limitou do ponto de vista Lançamento da cadeia de sapatarias Loop.
da política de expansão internacional da empresa. do food court, que só gostavam foi o que significou para nós, ambiental, esquecendo a diversidade
de corredores de shopping a direito em confronto com outros retalhistas de valores naturais e culturais Spin-off e admissão à negociação na Euronext
WeDo adquire a Cape Technologies na Irlanda, Lisbon da Sonae Capital.
porque ficavam muito confusos europeus que também concorreram da península. E, por último, porque
o que a transforma na líder mundial em Revenue
Assurance. No ano seguinte, é distinguida pela UK se fossem curvos, enfim… certas ideias para esse leilão, termos conseguido se revelou manifestamente Fusão Star/Geotur (detidas pela Sonae
Trade & Investment com o prémio “Business que condenavam o nosso produto ganhar. Para se conseguir ganhar um desadaptado do ponto de vista e pelo Grupo RAR), agências de viagem a operar
Expansion”. ao insucesso. O Alexa, sendo leilão desses, em que uma empresa urbanístico, dando lugar a um conjunto em Portugal e Espanha, especializadas
em diversos tipos de viagem, das profissionais
o primeiro shopping produzido é colocada através de um banco de estruturas, densidades e tipologias
Inauguração do Troiaresort pela Sonae Turismo, ao turismo religioso ou desportivo.
um empreendimento que vem requalificar pela Sonae Sierra, ia fazer a prova. de investimentos para venda, e vários marcadamente sub-urbanas,
urbanística e ambientalmente a Península Portanto, foi muito emocionante players internacionais e nacionais implantadas num ambiente dunar. Lançamento do Fundo Sierra Portugal,
de Tróia, trazendo construção e decoração assistir ao sucesso do Alexa que, concorrem, não ganha quem quer, O Troiaresort oferece um conjunto que detém oito dos centros comerciais
modernas ao mesmo tempo que valoriza a sua Sonae Sierra portugueses.
algumas horas depois da inauguração, ganha quem pode. O mais importante diversificado de unidades
riqueza histórica e preserva a diversidade natural.
já tinha milhares de pessoas a fazer fila foi a Sonae Distribuição ter feito de alojamento turístico, um amplo Portefólio da Sonae Sierra atinge os 50 centros
à porta para entrar tendo mesmo sido um dado caminho, que lhe permitiu, leque de equipamentos de animação comerciais com a inauguração dos seus primeiros
necessária a intervenção da polícia em confronto com outros potenciais turística e uma pequena parcela dois centros desenvolvidos de raiz em Itália,
o Freccia Rossa e o Gli Orsi. Tendo mais
para evitar os distúrbios que acabaram adquirentes dessa empresa, de alojamento puramente residencial.
de 2.2 milhões de ABL sob gestão, a Sonae Sierra
por acontecer, tal era a voracidade ter condições para oferecer As âncoras de animação turística continua a desenvolver novos projectos por todo
dos berlinenses. Hoje, os próprios uma proposta que foi ganhadora incluirão golfe, marina, apoios o mundo.
alemães reconhecem, que, afinal, e simultaneamente geradora de valor e equipamentos de praia, centro
eles não iam aos tais centros comerciais para os accionistas da Sonae. E assim de congressos, ruínas romanas, centro
com sofás de cabedal e corredores foi. Ganhámos, não porque queríamos, desportivo, piscinas, balneário
tortos porque… não tinham nenhum.» mas porque podíamos ganhar.» terapêutico, spa e áreas de comércio.»
ÁLVARO PORTELA NUNO JORDÃO HENRIQUE MONTELOBO
Leopoldina
tinha
reconhecimento
e simpatia

A avestruz amarela começou por aparecer A Sonae desenvolve muitos outros projec- Paulo Azevedo insiste que «o principal con-
e 1993 e ano após ano, por alturas do Natal, tos em várias áreas, começando pela da sol- tributo da Sonae para as sociedades onde
nos anúncios de brinquedos do Continente. idariedade social, área na qual foram doados desenvolvemos actividade, e não devemos
Um retoque aqui, outro ali antes mesmo entre 1994 e 2008 qualquer coisa como 50 perdê-lo de vista, é investir e criar emprego
de “crescer” para animação, e estava feita milhões de euros a 450 instituições nacion- e da forma como o fazemos. Ainda assim,
uma vedeta. Leopoldina tinha reconheci- ais. O voluntariado também marca presença a nossa dimensão obriga-nos a contribuir
mento e simpatia para poder ser chamada no Programa Smile da Sonaecom e no Porto fora da actividade económica. O nosso
a ajudar crianças que não experimenta- de Futuro através do apoio à associação maior contributo social, em termos de valor,
vam o Natal da mesma maneira. Em 2003, internacional “Junior Achievement”. O grupo consiste nas que fazemos para instituições
a «Missão Sorriso», com o objectivo de tem ainda um papel activo na educação, de solidariedade social espalhadas por todo
angariar fundos, através da venda de livros, tendo o Modelo doado mais de 70.000 o país. Temo-nos ainda concentrado na área
CD’s e jogos da Leopoldina, que depois são livros, e cada loja do Continente apadrinha de educação e da cultura, e, um pouco, na
utilizados no melhoramento das condições uma escola da área respectiva, oferecendo- área científica. Pensamos de vez em quando
das crianças hospitalizadas. «O grupo Sonae lhe 500 livros, no âmbito do projecto «Tudo que, com a importância que a inovação
tem colaborado com o Hospital D. Estefânia a Ler», em associação com o Plano Nacional tem para nós, talvez devêssemos investir
através da «Missão Sorriso», mas não só, de Leitura. Além disso, o programa e-es- mais nesta área. De qualquer modo, temos
também pela forma como os funcionários colas, da Optimus, distribui computadores conseguido fazer crescer a ajuda alimentar a
se têm envolvido ao longo do ano e se preo- portáteis com equipamentos de acesso à instituições de solidariedade social, mesmo
cupam em ajudar o hospital. Isso tem-nos internet Kanguru, num investimento esti- durante estes anos mais difíceis, e estou
permitido investir na área do equipamento e mado em 116 milhões de euros. Mas não é plenamente convencido que o vamos fazer
da diferenciação, mais também na con- tudo: uma parceria da marca Modelo com também no futuro.»
strução de um ambiente mais humano, mais as universidades seniores tem promovido
próximo, mais confortável para todos os que o ensino a mais de 22.000 estudantes
nos procuram», conta a Dra. Cecília Galvão, seniores, numa atenção exemplar aos mais
psicóloga e directora de comunicação do velhos. E não podiam ser esquecidos nem a
maior hospital pediátrico nacional. «A nova cultura, com as participações na Fundação
tendência da responsabilidade social das de Serralves ou na Casa da Música, nem a
empresas é uma forma das instituições saúde e ciência, com o apoio ao IPATIMUP e
públicas e das associações crescerem, de à COTEC, além de parcerias com a Associa-
alcançarem objectivos quase impossíveis», ção Portuguesa de Cancro Cutâneo, entre
sublinha Cecília Galvão. muitas outras.

94 | 95
SONAE 50 ANOS À FRENTE.
«Um acto de ousadia. Uma operação im- Apesar do cuidado posto no processo e até do Segundo Sérgio Figueiredo, «a iniciativa
provável, mas que reflecte muito as caracterís- bom acolhimento político deste gesto auda- foi muito bem recebida pelas autoridades
ticas da Sonae: o não ter aversão ao risco, o não cioso, a operação acabou por falhar. «A pos- portuguesas. O Primeiro-Ministro e o Ministro
fugir à ambição, o pensar fora do quadrado e teriori, pode-se pensar que foi determinante da Economia exultavam com a operação.
ter aquela capacidade de imaginar que o passo o preço, ou uma atitude menos negocial em Recordo que, na altura, o governo estava
pode realmente ser maior que a perna.» Sérgio determinado momento, ou algum conluio ou muito preocupado em estimular a confi-
Figueiredo, no lugar de director do Jornal de complot que não permitiu que acontecesse.» ança dos agentes económicos na economia
Negócios, era então um observador atento Para Ângelo Paupério, «a OPA foi um processo portuguesa, e tinha ali um sinal inequívoco de
do momento em que a Sonaecom tentou a que nós fizemos com muita seriedade, procu- que alguém confiava no país porque estava
sua oferta pública de aquisição (OPA) sobre a rando actuar dentro das regras do mercado. a investir muitos biliões em Portugal e não
Portugal Telecom, procurando alcançar assim Falhou porque tinha que falhar. Talvez a dada no estrangeiro. A audácia do Eng. Belmiro de
a liderança do sector das telecomunicações. altura tenha demorado demasiado, tendo sido Azevedo encaixava no programa do governo
criadas as criaram condições para se tornar porque preconizava a maior concorrência
Ângelo Paupério, que viveu por dentro mais difícil o sucesso.» nos sectores até então protegidos dessa
aqueles dias agitados, justifica. «Havia algum concorrência. Como se veio a confirmar, a
adormecimento nas estruturas do sector, no- Augusto Mateus, enquanto analista, propõe partir dali a história do sector das telecomu-
meadamente mesmo ao nível da gestão que uma outra leitura. «No caso da tentativa do nicações não se contaria da mesma forma.
estava menos agressivo do que as alternati- controlo da PT pelo grupo Sonae resultou Aquela OPA falhada acabou por não trazer
vas concorrentes, e isso criou as condições essa ideia de que o grupo Sonae poderia benefício próprio para quem a lançou, mas
para que fosse possível uma operação de ficar com demasiado poder económico na reconfigurou o sector: observamos hoje uma
grande dimensão. O mercado de capitais economia portuguesa. Obviamente que concorrência que não existia, há mais opera-
estava muito activo, assim como o de finan- havia conflito entre os interesses já estabele- dores que nasceram de um grupo que tinha
ciamento, pelo que era possível assegurar cidos da PT e os emergentes que eram os da uma posição dominante.»
financiamentos de dimensão. Tínhamos ca- Sonae e, obviamente, pesou a ideia de que,
pacidade interna e conhecimento do sector, tendo o grupo Sonae o peso que tinha em Contas feitas, nunca é demais dizê-lo, as
que nos permitia pensar soluções boas para muitas outras actividades, poderia ficar com telecomunicações em Portugal não voltaram
a empresa como um todo, por todo um con- peso a mais. Portugal tem alguma dificuldade a ser as mesmas. «Foi excelente para todas as
junto de aspectos irrepetíveis que tornaram em seguir o bom exemplo de outros países, empresas do sector, inclusive para a PT», diz
possível esta operação.» Para outro dos par- como a Suíça, por exemplo, que usa a fortíssi- Ângelo Paupério. «Ajudou a que se começasse
ceiros, António Horta Osório, Presidente na ma especialização num núcleo restrito de ac- a olhar para estas empresas numa lógica
altura do Banco Santander Totta, «a OPA da tividades como capacidade competitiva de muito mais de negócio, bem como das ne-
Sonaecom sobre a PT foi a mais importante criar a riqueza suficiente para depois poder cessidades do país em termos de concorrên-
operação montada no nosso país por um satisfazer as suas necessidades importando. cia, de soluções capazes de melhorar a vida
empresário português, destacando-se não Um país pequeno que não queira ter grandes dos consumidores. Com a OPA introduziu-se,
só o elevado montante de financiamento ga- grupos económicos originados a partir da sua no sector das telecomunicações, uma lógica
rantido quanto a complexidade da operação dimensão, será sempre um país que corre concorrencial muito maior. E isso só pode ser
em si mesma. O Banco Santander orgulha-se riscos sérios de eficiência, de internacional- importante para o país.»
de, por via da contribuição de uma equipa de ização e de ganho de competitividade.»
trabalho mista, ter conseguido assessorar e
financiar esta grande operação num prazo
muito curto e no mais absoluto sigilo».

A AMBIÇÃO
DE CRESCER 96 | 97
SONAE 50 ANOS À FRENTE.
A implosão das duas torres, a 8 de Setembro «O projecto do Troiaresort rompe definitiva- Organizações não governamentais, univer-
de 2005, deu início a uma vasta operação mente com o passado», afirma Henrique sidades e público em geral tiveram perma-
de reabilitação ambiental e urbanística da Montelobo, da Sonae Turismo, «traduzindo nente acesso à informação disponível e à
península de Tróia que implicou a demolição um conceito mais eficiente do ponto de vista discussão pública dos termos de referên-
de 40% da área que estava construída e, económico, e um produto ambientalmente cia da avaliação ambiental estratégica do
simultaneamente, lançou a primeira pedra integrado e coerente do ponto de vista projecto global, antes mesmo de tal prática
do novo destino turístico do Alentejo litoral, urbanístico. Um conceito pluridimensional estar consagrada na legislação portuguesa. A
consagrado entretanto como um dos novos – oferecendo diferentes produtos a difer- aposta na excelência ambiental foi reconhe-
pólos estratégicos de desenvolvimento turís- entes mercados – com menor sazonalidade, cida através da certificação do sistema de
tico sustentado do País. Neste projecto, o diferenciando-se pela utilização dos recur- gestão ambiental do Troiaresort pela Norma
investimento da Sonae totaliza 400 milhões sos característicos da península e da região. ISO 14001 e do registo no European Manage-
de euros, dos quais estão já realizados 265 Um conceito que afirma a sua identidade ment and Audit Scheme, caso pioneiro em
milhões. Na sua globalidade, conduzirá à cria- capitalizando de forma sustentada todas as Portugal no que respeita a empreendimen-
ção de mais de 4.000 postos de trabalho, componentes ambientais e que é coerente tos turísticos.»
directos e indirectos, estimando-se em 20 do ponto de vista urbanístico, com uma
e 40 milhões de euros, respectivamente, o estrutura, densidades, tipologias e acessibili- Não se estranha, por tudo isto, que o ex-
Valor Acrescentado Bruto anual directo e in- dades em equilíbrio com o território.» ministro da Economia, Augusto Mateus, se
duzido pelo investimento, correspondentes regozije. «O projecto cumpriu plenamente os
a um crescimento regional de cerca de 8%. O Tróiaresort traz novidade também objectivos de política pública definidos, que
Aquilo que parecia um gesto de destruição, por ter sido foi sujeito a uma sistemática era desenvolver um pólo turístico emer-
surge agora como emblema de uma era no avaliação da sustentabilidade das respec- gente num território de grande aptidão mas
lazer em Portugal. tivas soluções, com um sistema de gestão vulnerável, em que era preciso valorizar quer
ambiental que englobou as actividades de a componente ambiental, quer a compo-
Ângelo Paupério considera que o processo construção e de exploração. A conservação nente patrimonial.» E enquadra: «Tróia era,
Torralta, até devido à sua mediatização, da natureza e o fomento da biodiversidade na altura em que se construiu a solução, uma
foi um processo especial. «Significou, em através, antes de mais, da requalificação do herança pesada de custos para o Estado.
primeiro lugar, a vontade de se assegurar território e da diversificação de habitats pri- Não existia actividade, a península de Tróia
uma solução competente, capaz e que oritários, constituíram, desde o início, objecti- tinha de alguma maneira colapsado com a
tivesse a ver com os princípios de negócio da vos dessa política de sustentabilidade. realidade turística e era um terreno muito
Sonae. Pretendia-se alcançar uma solução «Fizemos em três a obra que se previa vulnerável a nível ambiental. Lançou-se, en-
que satisfizesse os mais exigentes níveis de realizar ali em seis anos. O novo pólo de tão, um concurso público internacional para
qualidade em termos ambientais – o que desenvolvimento turístico do Alentejo tentar encontrar um potencial investidor que
era muito importante para salvaguardar um Litoral já nasceu em Tróia, abrindo caminho viesse a desenvolver um projecto turístico
espaço único –, satisfazendo em simultâneo para que outros projectos possam avançar, de qualidade. As condições do concurso só
os interesses de negócio e os interesses aumentando a massa crítica e a diversidade foram satisfeitas pelo grupo Sonae. Havia a
sociais.» da oferta neste novo destino», anuncia exigência de uma garantia bancária, ou de
João Silveira Lobo. «A excelência e a requali- uma demonstração de capacidade de inves-

PROJECTO
ficação urbanísticas foram e continuam timento, num montante que era relevante
a ser, também, objectivos essenciais no para que o Estado tivesse conforto, do ponto
desenvolvimento dos planos e projectos. A de vista da dimensão estruturante do que ali
delimitação de uma centralidade que reúne se fizesse. O projecto era, e é, muito exigente
os principais empreendimentos e equipa- porque tinha que ser feito para todo o ter-
mentos turísticos e a reabilitação urbanística ritório do litoral alentejano. A negociação foi

TROIA
– nomeadamente através de demolições portanto complexa, difícil, mas a realidade é
em larga escala – constituíram um objectivo aquela que hoje já se começa a vislumbrar na
que já podemos considerar atingido. Foi península de Tróia… Aquilo que está feito, na
assumida como essencial a transparência e minha opinião, está bem feito.»
a informação públicas sobre o projecto, em
todas as suas fases.

RESORT 98 | 99
SONAE 50 ANOS À FRENTE.
o maior
cartão DE
DESCONTOS
DO PAIS

Mais de três milhões de famílias possuem A empresa coloca-se assim e uma vez mais
um cartão Continente e Modelo, o que fazem na vanguarda da distribuição, uma vez que
dele apenas o maior cartão nacional. Um neste rectângulo de plástico convergem
conceito simples, básico até, mas com um alguns conceitos centrais das novas tendên-
significado superior: fidelização. Ao fazer cias do marketing: uma relação permanente e
compras, o aderente acumula descontos directa com o consumidor, em registo sempre
que podem ser utilizados em todas as lojas aberto de conta corrente, sem burocracias de
Continente, Continente Online, Modelo e acesso ou gestão que pode ser utilizado em
Modelo Bonjour. Logo nos primeiros 12 dias toda a rede de lojas e insígnias do retalho ali-
as adesões chegaram ao milhão, com uma mentar e por qualquer membro do agregado
cadência de 700 clientes por minuto. Esta familiar aderente, gerando hábitos de posse
capacidade de resposta só foi possivel pela e uso que podem facilmente ser alargados a
Sonae ter tido a preocupação de dotar as novas redes, reforçando constantemente o
suas estruturas com sistemas de informação posicionamento da Sonae enquanto fornece-
de primeira linha ao mesmo tempo que ca- dor de vantagens integradas. Resumindo,
pacita ao máximo as suas equipas, e só isso Carlos Liz, sociólogo, não hesita em apontá-lo
justifica que o sistema tenha suportado sem como ferramenta única no contacto com
problemas o ritmo de lançamento do cartão os interesses, as necessidades e os desejos
de fidelização. dos consumidores modernos. «O cartão é
detentor de um ímpar volume de informação
sobre o consumo em Portugal, permitindo
mapeamentos de alta definição das grandes
tendências que surgem no universo do retal-
ho alimentar. Nessa óptica será um magnífico
instrumento de prospectiva, contribuindo
para o desenho de cenários de desenvolvi-
mento das melhores relações entre a procura
e a oferta, na sempre necessária lógica de
ganhos para os dois lados da equação.»

100 | 101
SONAE 50 ANOS À FRENTE.
No dia Belmiro de Azevedo conta, não sem ironia,
que de vez em quando é interpelado: «“Ah,
A escolha recaiu, portanto, em Paulo Azeve-
do. No dia do anúncio público da decisão

do anúncio
e quando o Belmiro se for, o que é que ambos usaram uma gravata semelhante,
vai acontecer?” Não vai acontecer nada, com um padrão que usa com repetitiva
porque o meu objectivo é que sair sem se singeleza o logótipo do grupo, como que a

público
dar por ela. Qualquer dirigente da Sonae tem dizer ainda de uma outra maneira ainda que
que sair sem se dar por ela». Deu-se por ela, pouco ou nada mudaria: a empresa con-
mas de um modo bastante cordato. No final tinuaria sendo a mesma. «O mais impor-

ambos
do seu mandato, em Dezembro de 2006, tante era que as pessoas achassem que
apesar da reserva, as notícias davam como sou a melhor pessoa para fazer o lugar. Não
confirmados quatro candidatos na linha de escondo que tenho um enorme orgulho

usaram
sucessão: Paulo Azevedo, Ângelo Paupério, em ter sido escolhido, mas não afectaria
Álvaro Portela e Nuno Jordão. «Qualquer num milímetro o meu comportamento se
um dos vice-presidentes dá um excelente tivesse sido outro o escolhido. Foi um mo-

uma
presidente», haveria de dizer Belmiro de mento muito emotivo e os meus colegas da
Azevedo, na televisão. «À partida qualquer Comissão Executiva ajudaram-me imenso.
um deles oferece total confiança». Num Terá sido com certeza um momento muito

gravata
processo de convergência, os candidatos importante para o meu pai. É muito raro
foram sendo entrevistados. encontrar pessoas com um historial semel-
hante, que tendo feito o que fizeram, depois

igual
«Foi genuinamente democrático, e todos souberam pensar e aplicar uma sucessão
fizeram declarações a dizer que aceitariam ainda com saúde e em plena forma mental.
e trabalhariam com o escolhido. Todos eles A única coisa que conta verdadeiramente
consideraram que o Paulo, que fez uma car- para mim é a Sonae, pelo que teria sido
reira muito mais internacional que qualquer desagradável se no exterior se dissesse que
um deles – que fez a carreira que eu gostaria depois daquela conversa da meritocracia
de ter tido! Andou a estudar desde miúdo o engenheiro Belmiro se ia embora e punha
em vários países, conhece várias culturas, o filho! Fiquei, por isso, feliz também com o
tem um domínio perfeito de quatro línguas, reconhecimento externo, da imprensa e dos
etc. Numa sociedade tendencialmente analistas, e o mercado de capitais, que nos
cada vez mais internacional, o Paulo tinha a deu um voto de confiança. Não sei como
grande vantagem – que todos reconhecer- poderia ter corrido melhor.»
am – de uma vivência já multi-cultural e com
uma tendência – isso pode ser uma com- Parece que, de facto, a Sonae consegue
ponente genética… – pró-inovação e com a ser o contínuo a que aspira o seu fundador,
capacidade de gerir negócios diferentes ao «onde a evolução é natural e as sucessões
mesmo tempo». normais. A velocidade da criação e aplica-
ção de conhecimento é de tal modo rápida
que é absolutamente impossível tal não
acontecer. Os novos líderes, as pessoas que
me hão-de suceder, as pessoas que hão-de
suceder ao Paulo, têm que ser bastante mel-
hores do que fomos, porque já foram educa-
das com novas tecnologias, novas fontes de
informação, novas maneiras de comunicar…
Portanto, a ordem natural das coisas é que a
sucessão seja normal. O Paulo tem todas as
condições para ser melhor dirigente do que
eu. E tenho a certeza que o será.»

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
para crescermos
não há absolutamente
nenhuma maneira a não ser
internacionalizando
GLOBO

«O grupo Sonae tem tido sempre capaci- O grupo no seu conjunto, com cerca de
dade de se questionar e encontrar camin- 45.000 colaboradores, estende-se pela
hos novos para o seu crescimento.» E Austrália e África (África do Sul e Egipto), pela
Ângelo Paupério acrescenta: «As linhas de Ásia (China e Malásia) e pelas Américas (Brasil,
estratégia que foram definidas são as certas México, EUA, Canadá) e na Europa (Portu-
para o desenvolvimento, para crescermos gal, Espanha, França, Luxemburgo, Reino
mais na área internacional, continuando a Unido, Irlanda, Alemanha, Holanda, Itália,
desenvolver parcerias e a geri-las de forma Grécia, Polónia, Suíça, Roménia). Pode ainda
mais aberta, com mais soluções do que estender-se por mais paragens? «Não somos
aquelas que tivemos até agora. Possuímos um conglomerado nacional e não pretend-
a competência, a disposição e a disponibili- emos entrar em cada vez mais indústrias, mas
dade para o fazer». temos posições muito fortes nos segmentos
onde já estamos. Claro que vamos continuar
O retrato da realidade Sonae em 2009 faz a crescer e a investir em Portugal, mas para
com três entidades distintas: crescermos não há absolutamente nenhuma
maneira a não ser internacionalizando.»
SONAE, atingindo um volume de negócios Paulo Azevedo não tem dúvidas. «Para
de 5 353,1 milhões de euros (2008), com o conseguirmos crescer, não há absolutamente
seu portfólio de negócios distribuído pelos outra maneira a não ser internacionalizando.
Retalhos Alimentar Especializado, pela Começámos já esse trabalho, pois somos a
Gestão de Investimentos, Imobiliário de maior multinacional portuguesa e precisamos
Retalho, Telecomunicações, Media e SSI e estar em todos os países, da mesma forma
Centros Comerciais. que estamos em Portugal. Se queremos uma
equipa fantástica, com posições competiti-
SONAE INDÚSTRIA, com um volume de vas fantásticas e todas essas competências
negócios de 1 769 milhões de euros (2008), todas… como poderíamos não internacio-
em resultado da produção de painéis deri- nalizar? Era dizer que perdemos a ambição,
vados de madeira. que não queremos alavancar o que somos.
Teríamos que deixar de ser o que somos e
SONAE CAPITAL, com um volume de negó- isso não iremos fazer.»
cios de 250 845 270 euros (2008), resul-
tantes do Turismo e Gestão de Investimentos.

104 | 105
SONAE 50 ANOS À FRENTE.
uma equipa fantástica,
com posições competitivas
fantásticas

EVOLUÇÃO DE COTAÇÃO TÍTULO SONAE

SONAE SONAE INDÚSTRIA SONAE CAPITAL 2.25

PORTFÓLIO DE NEGÓCIOS PORTFÓLIO DE NEGÓCIOS PORTFÓLIO DE NEGÓCIOS 2


RETALHO ALIMENTAR PRODUÇÃO DE PAINÉIS DERIVADOS TURISMO E GESTÃO DE INVESTIMENTOS
RETALHO NÃO ALIMENTAR DE MADEIRA 1.75
GESTÃO DE INVESTIMENTOS COLABORADORES
IMOBILIÁRIO DE RETALHO COLABORADORES (2008) 1.742 1.5
TELECOMUNICAÇÕES, MEDIA & SSI 6 273
CENTROS COMERCIAIS VOLUME NEGÓCIOS (2008) 1.25
VOLUME NEGÓCIOS (2008) 250 845 270 EUROS
COLABORADORES (2008) 1 769 MILHÕES DE EUROS 1
35.897 CAPEX (2008)
CAPEX (2008) 119 589 696 EUROS 0.75
VOLUME NEGÓCIOS (2008) 75 979 010,89 EUROS
5 353,1 MILHÕES DE EUROS VALOR DO INVESTIMENTO EM ACÇÕES 0.5
VALOR DO INVESTIMENTO EM ACÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL (2008)
CAPEX (2008) DE RESPONSABILIDADE SOCIAL (2008) 4 500 EUROS 0.25
901,8 MILHÕES DE EUROS 576 MIL EUROS
(EM INVESTIMENTO NA COMUNIDADE) Nº DE HORAS DE FORMAÇÃO (2008) 0
VALOR DO INVESTIMENTO EM ACÇÕES 20.706 HORAS 1900 1992 1900 1997 1900 2002 1900 2007
DE RESPONSABILIDADE SOCIAL (2008) Nº DE HORAS DE FORMAÇÃO (2008)
11 MILHÕES DE EUROS 175 MIL HORAS
fonte Euronext
Nº DE HORAS DE FORMAÇÃO (2008) Série ajustada, reflectindo um preço comparável para o título SONAE de acordo com aquilo que ele representa em 2009.
1.656.306 Os ajustamentos são determinados pela Euronext e passíveis de diferenças com outras fontes de informação.

106 | 107
SONAE 50 ANOS À FRENTE.
INOVAR O pensamento do fundador, Belmiro de Azevedo, surge, ao mesmo tempo, como um de-
safio radical e um saber testado pelo correr dos anos. Se os humanos precisam de oxigénio
e proteínas para viver, assim precisa uma empresa de ideias e conhecimento em constante

PARA SER
renovação originadas pelos colaboradores. Mas não basta o conhecimento e o saber fazer,
há que inovar em clima sustentável. «É obrigação dos dirigentes e trabalhadores fazerem
um enorme esforço de renovação – plantando sementes, regando os rebentos, podando
as árvores, colhendo os frutos – para que a sua empresa se adapte permanentemente à

ETERNO
mutabilidade do seu meio e seja, portanto, tecnicamente imortal. O empenho exigido é, na
verdade, muito grande, até porque sabemos bem que, apesar da argumentação anterior, a
taxa de mortalidade das empresas é muito alta».

Paulo Azevedo pode, portanto, afirmar com extrema segurança. «Os princípios da sustent-
abilidade estão na génese da Sonae. «A nossa história, cultura empresarial e valores são
factores determinantes na prossecução dos objectivos no âmbito da sustentabilidade. O
crescimento económico tem, desde sempre, vindo a ser acompanhado por uma participa-
ção activa na discussão internacional dos temas do desenvolvimento sustentável, através
da adesão a importantes organizações internacionais e pela subscrição dos seus princípios.
É o caso dos compromissos assumidos perante o World Business Council for Sustainable
Development (WBCSD), o Business Council for Sustainable Development – Portugal (BCSD
Portugal), o Global Compact das Nações Unidas e a World Safety Declaration. O desafio da
Sonae está em ser capaz de conciliar uma gestão dinâmica numa economia global, com os
impactes ambientais e sociais ao nível local e regional. Acreditamos que a base para este
equilíbrio assenta numa política de transparência e de responsabilidade perante as nossas
acções».

Assim, as várias empresas actuam no mais rigoroso respeito pela preservação ambiental,
implementando sistemas de gestão cada vez mais eco-eficientes, com metas de recicla-
gem e de redução de emissões cada vez mais ambiciosas. Daí que a requalificação de Tróia
seja dos projectos mais elogiados ou que a Sonae Sierra tenha sido a primeira empresa
na área dos centros comerciais a nível internacional a ser certificada pelo seu Sistema de
Gestão Ambiental (SEM) em conformidade com a ISO 14001.

Para Nuno Jordão, este espírito «está hoje muito interiorizado pela maioria dos colabora-
dores. Estamos a falar de uma preocupação que não está apenas no topo da organização.
É um valor cada vez mais assumido por todos. Os colaboradores gostam de trabalhar na
Sonae, em parte também porque sentem que é uma empresa onde os valores e os princí-
pios de responsabilidade social colectiva não são palavras vãs, antes correspondem a uma
preocupação sentida da empresa, dos seus accionistas, dos seus gestores, e creio que isso
é também um motivo de orgulho e satisfação dos excelentes profissionais que trabalham
neste grupo. Cada vez mais, os bons profissionais gostam de trabalhar em empresas de
bem, e não se pode considerar uma empresa de bem aquela que tem más práticas no
domínio da responsabilidade social».

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
05 O FUTURO ESTÁ
50 ANOS À FRENTE
O futuro próximo é igual ao futuro Espero que a Sonae, nos próximos 50 anos,
antigo: temos que ser melhores todos seja uma grande empresa internacional,
os dias, mais competitivos, alargar que consiga, em todos os países onde
a nossa liderança em relação aos nossos estivermos, contagiar as pessoas com
concorrentes, continuar a assumir esta nossa cultura. Ou seja, que crie
riscos… Mas não pode ser de uma maneira uma quantidade gigantesca de valor
qualquer, é preciso ser racional, económico e que o tenha distribuído bem,
é preciso estudar muito. Há que não só pelas actividades que tem na área
compreender o que se passa no resto da responsabilidade social, mas também
do mundo, sendo necessário grande pela maneira como cria valor. Acredito
interesse pela investigação, muito que a Sonae, mesmo nos aspectos
pela educação, pela inovação, sociais, acrescenta mais pela maneira
e pelo empreendedorismo. como gere os seus negócios, do que pelos
valores que oferece às instituições
Belmiro de Azevedo de solidariedade social, ou aos
investimentos que faz na cultura e na
educação. O contributo maior que damos
às sociedades onde operamos é o modo
como agimos: de forma íntegra, com base
na confiança, exigindo muito dos nossos
fornecedores e parceiros, mas
dando-lhes exactamente a mesma coisa
que exigimos. Assim se contribui para
sociedades muito competitivas, mas
éticas e justas.

Paulo de Azevedo
Paulo Azevedo entrou na história da Sonae… «No último semestre do curso, em Lau-
a brincar. «Quando o meu pai vinha tra- sanne, quando comecei a ter mais tempo
balhar para a Maia, aos sábados, eu e o livre, só era preciso apresentar um trabalho
meu irmão acompanhavamo-lo. Durante de diploma, não tinha aulas; e foi quando
muito tempo, tudo quanto sabia da Sonae perguntei ao meu pai se podia vir já trabalhar.
era isso, conhecer uma ou outra cara, ter E ele disse que sim, apontou-me um pro-
andado por aqui, de estragar umas placas jecto, era no World Trade Center, sala «não
no armazém…» Seguiu-se o período de for- sei quantos». Quando cheguei lá, para minha
mação, cujos últimos nove anos foram pas- surpresa ninguém sabia que eu existia e
sados no estrangeiro. Estava por decidir o que estava a fazer aquele relatório. Todos
regresso, mas foi isso que aconteceu. «Não quantos lá estavam, tinham acabado o curso
sabia se ia gostar de viver em Portugal, tendo seis meses antes de mim e estavam a estudar
estado fora até aos 21 anos. E gostei imenso televisão; não sabiam exactamente quem era
de ambas as coisas: de voltar para o Porto o patrão. Havia liberdade total para pensar
e da Sonae, que se revelou uma surpresa um projecto de televisão para Portugal. Ainda
incrível. Obviamente conhecia um pouco a não conheciam os objectivos, era apenas
Sonae, e conhecia as características do meu formar, conhecer pessoas novas, para
pai, mas os primeiros três anos na Sonae… depois, mais à frente, estruturar uma equipa
não sei como era possível existir uma orga- capaz de pensar um projecto de televisão
nização como aquela, com uma liberdade para Portugal.» A partir daí foi uma sucessão
enorme, mesmo para as recém-licenciados de batalhas das quais costuma escolher três:
como eu, de propor ideias e fazer projec- o trabalho de reorganização do Grupo nos
tos… Foi um arranque inacreditável. Algumas anos que em que assumiu responsabilidades
coisas eram incompreensíveis, pois era na holding, o lançamento da Optimus e a
um ambiente caótico. E, por essa altura, o recente OPA sobre a PT, porque, apesar do
meu pai também falava muito sobre o caos desfecho, foi um momento no qual equipa
nas organizações, e eu sem saber grande conseguiu desdobrar-se e fazer coisas que
coisa…» Tudo começou pela televisão, muitos, à partida, não julgavam possíveis.
muito suavemente, com uma ida ao Festival A ideia de vencer impossíveis está-lhe no
de Montreux, uns relatórios e uma atenção sangue. «Eu e o meu pai somos parecidos em
crescente aos assuntos tecnológicos. muitos aspectos. Estão sempre a destacar
as diferenças de estilo, mas somos muito,
muito próximos na forma de pensar. É raro
não tirarmos a mesma conclusão depois de
analisar um problema, uma situação ou uma
dificuldade.»

CONTINUAR
A VENCER
IMPOSSÍVEIS
114 | 115
SONAE 50 ANOS À FRENTE.
CARTA AO FUTURO
O horizonte é uma linha que nunca se alcança. Encontramos nele um objectivo em cuja partilhando ao máximo objectivos e riscos; e governação transparente, resultante de procedi-
direcção nos deslocamos num movimento que será perpétuo. É aqui e agora que se constrói mentos que permitem em cada momento uma avaliação clara da performance do negócio
o amanhã. mas também do cumprimento dos nosso valores.

Somos uma empresa com valores bem enraizados na nossa história, que sobreviveram ao Partindo das áreas em que estamos actualmente, como o retalho, os centros comerciais e as
teste do tempo e produziram uma cultura única. Vivemos segundo esses valores crescendo telecomunicações, não podemos deixar de crescer para novas geografias e áreas de negócio.
em todas as dimensões produzindo um inestimável contributo para a sociedade e muito para
além do valor económico gerado. Nos próximos anos, a internacionalização será uma prioridade estratégica de modo a aumen-
tar a pegada internacional da Sonae transformando-a numa grande empresa multinacional.
Somos um grupo investidor activo que procura criar valor. Planeamos e optimizamos a nossa Os nossos alvos são mercados em crescimento nos quais operamos já e nos seus contíguos,
estratégia de modo a não apenas procurar novas oportunidades nos negócios actuais, mas nomeadamente a Europa de Leste, a bacia do Mediterrâneo e o Brasil. Ao mesmo tempo, e
procurando incansavelmente novos modelos e conceitos, estimulando um espírito de risco procuraremos oportunidades em mercados maduros acreditando que os nossos produtos e
que nos leva a experimentar constantemente novos negócios. competências nos darão uma vantagem competitiva.

Estamos firmemente comprometidos em que nossas actividades se mantenham obedientes Com vista a aumentar o nível de recursos disponíveis para os diversos planos estratégicos de
aos princípios do desenvolvimento sustentável, tomando parte, deste modo, financeiramente implementação, trataremos de diversificar o estilo de investimento, adoptando um ou vários
e pessoalmente no apoio às comunidades de que fazemos parte. por negócio, seja com a totalidade ou a maioria do capital, mas também com participações
Somos uma organização assente em princípios éticos, pelo que todas as nossas relações se minoritárias, com e sem direitos especiais.
baseiam na honestidade, na integridade e na transparência.
Não deixaremos de explorar as oportunidades em território nacional de modo a fazer crescer
No centro do nosso sucesso reside o talento, a experiência, o profissionalismo e a dedicação o já vasto portfólio. Esses novos negócios terão, contudo, que fornecer um claro rumo de in-
sem par de cada um dos nossos colaboradores. Promovemos, portanto, a meritocracia e ternacionalização, possuir níveis atraentes de rentabilidade, inserir-se em tendências globais,
não toleramos forma alguma de descriminação seja de género, religião, raça, nacionalidade reforçar competências ou activos estratégicos, apresentarem grande potencial de cresci-
ou estatuto social. Proporcionamos um ambiente de trabalho que estimula o crescimento mento a médio termo.
contínuo, a nível pessoal e profissional.
A nossa incessante busca de crescimento e de criação de valor alimenta a nossa ambição de
Em cada uma das nossas companhias e até à mais modesta unidade de negócio, a nossa crescimento internacional. Possuímos competências e saber técnico, com equipas experi-
acção é guiada por valores como ambição, procurando liderar cada uma das áreas de negócio entes e reputadas, para explorar oportunidades onde quer que as haja. O futuro promete.
em que nos envolvemos, com objectivos ambiciosos e o espírito de risco característico dos
empreendedores; excelência e inovação, questionando sempre os nossos modelos mentais
e as ortodoxias da distintas actividades mantendo os consumidores no centro da actividade; PAULO AZEVEDO
frugalidade e eficiência, eliminando custos supérfluos através da optimização das operações CEO SONAE
e das estruturas e maximizando o uso dos recursos; cooperação e independência, esta-
belecendo parcerias de longa duração assentes nos princípios da honestidade e integridade, 18 SETEMBRO 2009

116 | 117
SONAE 50 ANOS À FRENTE.
06 BELMIRO DE AZEVEDO:
O EMPREENDEDOR
Um empresário
ANTÓNIO BARRETO Um bom exercício, no ano do quinquagésimo aniversário deste grupo, seria o de imaginar Este empresário criou, a partir de quase nada, um dos maiores grupos económicos portu-
como vivíamos no início deste período. Como vivíamos, ainda, há vinte ou trinta anos. Como gueses. É um dos poucos que apareceram e se desenvolveram depois da revolução de 1974,
se processava o comércio geral, quem eram os agentes económicos activos no mercado e para o que teve de lutar não só contra as dificuldades legais e políticas existentes num país
quais eram as relações externas da economia portuguesa. Nestas áreas, as transformações que aprecia pouco a independência, mas também contra os regimes de favor oferecidos seja
foram enormes. Qualquer pessoa adulta, com mais de quarenta anos, viveu este período de aos estrangeiros, seja aos que se dispõem facilmente a aceitar a cumplicidade com os gover-
formidável mudança. E recorda-se do que era e de como tanto mudou. Essa mudança foi, em nos. Parece ter sabido criar padrões de comportamento internos às suas empresas capazes
Portugal, particularmente rápida. Vínhamos de longe, partíamos de muito atrás, saíamos de de fundar um certo espírito de corpo e uma cultura de empresa. Como parece também ter
uma sociedade fechada, monolítica e demasiado homogénea. Fizemos esse percurso com conseguido estabelecer critérios de actuação na sociedade com os quais a empresa é a única
inesperada plasticidade. Mudámos muito. Corremos riscos. Chegámos aqui com a certeza de responsável perante o público em geral, os seus fornecedores e os seus consumidores, sem
muito ter conseguido, mas também com a sensação de não termos ido tão longe quanto era esperar pela rede de segurança oferecida pelo Estado aos seus mais fiéis clientes.
possível. Muito, na sociedade portuguesa, espera ainda por um esforço sério e profundo de
organização e de modernização. Uma das suas realizações merece especial referência: o jornal Público. Fundado há quase
vinte anos, este diário marcou a evolução da imprensa portuguesa de modo indelével. Não
Nas últimas duas ou três décadas, em Portugal, poucos sectores de actividade conseguiram foi Belmiro de Azevedo que fez o jornal, foram os seus jornalistas, mas foi ele que, sabendo ao
uma modernização eficaz e global. Na agricultura e nas pescas, apenas umas tantas em- que vinha, o quis fazer. Parece que o grupo, com esta actividade, perde dinheiro quase todos
presas o fizeram, sendo de sublinhar o que tem conseguido a vinicultura. Na indústria e os anos. Mesmo assim, reconhecendo o papel que o jornal desempenha na vida pública
nos serviços, contam-se mais casos com êxito, ainda que estejamos muito aquém do que nacional, o empresário (assim como os seus sucessores) insistiu em manter viva a voz inde-
poderíamos ter feito. Na Administração Pública, os atrasos são muitos e, no conjunto, apesar pendente deste jornal. Mais do que isso, não consta que a sua intervenção tenha alguma vez
da simplificação de alguns processos, não se fez o suficiente. Em certas áreas da ciência e da posto em causa a isenção dos seus jornalistas ou a linha editorial definida pelos seus direc-
tecnologia, fez-se melhor, embora as universidades não tenham conseguido acompanhar. tores. O que tem pelos menos três méritos. Primeiro, assume as regras de independência
Resumindo, creio que os sectores que, globalmente, melhor se comportaram, foram os da estabelecidas. Segundo, persiste no exercício de uma função social, cívica e cultural, apesar
banca, das telecomunicações e da grande distribuição. Nestes três sectores e naqueles em dos inconvenientes económicos. Terceiro, está disposto a fazer frente aos incómodos que lhe
que se conseguiu parcialmente semelhante êxito, o Estado esteve pouco presente; os termos possa causar, a si e ao seu grupo, a existência de uma voz livre e crítica no espaço público.
de comparação foram as práticas internacionais de vanguarda; existiu alguma concorrência;
houve um forte contributo do exterior; a estratégia foi sempre a de viver em economias aber- No nosso país, a cultura empresarial é fraca e tem poucas tradições. Os “patrícios de Estado”
tas; e estabeleceram-se boas relações entre os empresários e os trabalhadores. Em poucas são mais apreciados. A ideia de que um empresário cumpre funções específicas, como sejam
palavras, foram sectores de actividade abertos e socialmente responsáveis. a assunção de risco, a inovação, a liderança de equipas, a organização humana e a respons-
abilidade social, nem sempre tem o melhor eco. A lenda diz que um empresário vive à custa
Belmiro Azevedo esteve presente em vários dos sectores que se ilustraram pela sua capaci- dos outros, é rico e poderoso, atributos geralmente pouco apreciados, seja pelo público em
dade de reconversão e de organização. Não só esteve presente, como, em vários casos, geral, pouco cultivado e nem sempre apto a viver numa sociedade industrial e de informação;
liderou e inovou. Em todos eles, com êxitos e vitórias, com erros e derrotas, deixou a sua seja pelos poderes públicos, quase sempre indisponíveis para compreender que o seu papel
marca, tanto na indústria como na grande distribuição e na informação. Em quase todas as não é o de “mandar”, mas sim dirigir. Nesse sentido, Belmiro de Azevedo é um dos raros em-
áreas de actividade bem típicas dos finais do século XX e início do XXI, como a informática, a presários que leva a sua vocação a sério.
tecnologia de informação, a telecomunicação, os serviços financeiros e comerciais e a gestão
imobiliária e turística, Belmiro e o seu grupo estiveram presentes. E se em mais não esteve, foi
porque, como é sabido, os governos têm más relações com ele. A sua voz independente, a
sua vontade de não se “encostar” ao Estado e a sua maneira truculenta de falar e de exprimir
os seus pontos de vista não são geralmente apreciadas pelos poderes políticos.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
ÁLVARO PORTELA ANDRÉ GONÇALVES PEREIRA ÂNGELO PAUPÉRIO ANTÓNIO HORTA OSÓRIO ANTÓNIO PINTO SOUSA
CEO Sonae Sierra Advogado CEO Sonaecom Banco Santander Presidente Ibersol

Conheci o Eng. Belmiro de Azevedo há cerca Mais tarde e já depois de deixar de exercer O aniversário da SONAE interessa não só Sou grande admirador do Eng. Belmiro de A marca Sonae projecta desde logo o suc- O Eng. Belmiro de Azevedo vive a pensar nos
de 30 anos algumas semanas após ter toma- funções governativas fui convidado pelo ao mundo empresarial, mas a todo o País. Azevedo e tenho por ele elevada estima esso de um grande projecto empresarial que, negócios. Na sua vida particular é uma pes-
do posse como Ministro da Indústria, quando Eng. Belmiro de Azevedo para fazer parte do Fruto do empenho de portugueses, admin- e consideração. Muito do que sei foi com tendo claramente um líder inequívoco – o soa extremamente afável, mas quando entra
fui informado que estava à porta do Minis- chamado Conselho Geral do Grupo SONAE istrado por portugueses, nomeadamente ele que aprendi e muito do meu desenvol- Eng Belmiro de Azevedo –, se caracterizou na empresa vive com absoluta dedicação o
tério o Eng. Belmiro de Azevedo, da Sonae, (órgão consultivo e não executivo), onde tive pelo Engº Belmiro de Azevedo e seus co- vimento como profissional foi suscitado sobretudo por promover uma gestão em desenvolvimento de empresas, de negócios.
que vinha para falar comigo. Não tendo na ocasião de seguir com detalhe o lançamento laboradores, que levaram ao extraordinário pela convivência privilegiada que tive com equipa rigorosa e profissional, e pela criação Mais recentemente, teve a preocupação
minha agenda qualquer referência à vinda do e a evolução do referido Grupo, que embora incremento do Grupo, é o maior emprega- ele. Belmiro de Azevedo é uma referência de uma cultura própria, alicerçada na forma- de ligar a empresa à sociedade, de a ligar às
Eng. Belmiro de Azevedo, pessoa que aliás passando por inúmeras dificuldades veio a dor português. É igualmente um exemplo para mim. A sua obra é notável e o que ção, e na abertura ao que ocorre no mundo universidades, às instituições do Porto, a Ser-
não conhecia na altura, informei que não o ser o maior grupo empresarial português do de rectidão de processos. É com muito está a fazer continua a ser, e espero que o e às diferenças de análise e opinião. É isto ralves, no fundo queria ter uma intervenção
poderia receber nesse dia mas recebê-lo-ia fim do século XX. gosto que me junto à homenagem devida continue a fazer por muito tempo. É muito que permitiu ao Grupo abordar com êxito cívica muito mais importante. Mas, a Sonae,
oportunamente após marcação de audiên- pelo aniversário. exigente, mas a partir do momento em que diferentes sectores de actividade, sempre é sobretudo criação de valor, de riqueza, de
cia. Foi-me respondido que o Eng. Belmiro de Durante toda esta convivência conheci bem ganha confiança em alguém dá-lhe espaço, com independência do poder político, e emprego. Porventura isso é diferente de out-
Azevedo não sairia do meu Ministério nesse o Eng. Belmiro de Azevedo que considero ser incentivo e suporte. Sempre o vi reagir bem promover recentemente, com naturalidade, ros grupos voltados mais para rentabilidade a
dia sem eu o receber, esperando ele o tempo uma pessoa de personalidade forte, frontal, a uma boa argumentação. Apesar de ser um a transição da sua gestão de topo. curto prazo, para ganhar dinheiro por ganhar
que fosse necessário. Refiz a minha agenda e inteligente, muito exigente com os seus co- forte defensor daquilo em que acredita, não dinheiro. Belmiro de Azevedo teve sempre
acabei por o receber ao fim da tarde. Nessa laboradores (exigência essa que ele próprio impõe os seus pontos de vista e é sempre A inovação e a capacidade de realização do a preocupação de criar uma empresa que
reunião apresentou-me uma reclamação em aplica a si mesmo), com gosto de correr ris- sensível aos argumentos dos outros. Ouve Grupo Sonae marcaram como nenhum out- nunca foi para ganhar nada, foi sempre para
tom duro e directo em relação aquilo que ele cos e com uma determinação perfeitamente e respeita quem lhe apresenta soluções e ro as últimas décadas em Portugal, e basta crescer, acreditou que era o melhor e que era
chamava de incompetência do Ministério, invulgar. alternativas. A sua relação com os outros é recordarmos três exemplos para o consta- capaz de ser o melhor nos negócios em que
por não ter aprovado um investimento numa sempre sincera, directa e transparente, o tarmos: há um quarto de século lançava o estava. Vi sempre nele mais a preocupação
fábrica de formaldeído que era, segundo Além da sua veia de empresário sempre que por vezes esconde uma grande sensi- primeiro hipermercado em Portugal – o Con- de criar negócios, de desenvolver projec-
ele, um produto essencial para a fábrica de apreciei a importância que o Eng. Belmiro de bilidade. tinente –, introduzindo o retalho organizado tos, muito menos a preocupação de fazer
contraplacados e que até à data era impor- Azevedo dá à formação dos seus quadros que se tornou entretanto a forma dominante grandes operações de “compra hoje vende
tado. Não conhecendo o assunto mandei e o entusiasmo com que ele criou uma de retalho em Portugal. Por outro lado os amanhã” para ganhar rios de dinheiro. Vi-o
rever o processo e constatei que a recusa filosofia de gestão a que gosta de chamar “o seus centros comerciais são uma proposta sempre criar negócios, estruturas e equipas
dos Serviços do Ministério se baseava na espírito Sonae”. de valor verdadeiramente multinacional com de gestão que procuravam o desenvolvi-
chamada “lei dos sectores” (lei gonçalvista), presença em inúmeros países e em especial mento das empresas. No fundo teve sempre
tendo a recusa sido dada com o argumento Na sequência desta sua política deu tam- uma fórmula de sucesso em toda a Europa. uma preocupação de criar valor, nunca o vi
que se tratava de um produto petroquímico bém o Eng. Belmiro de Azevedo oportuni- Finalmente a OPA da Sonaecom à PT foi preocupado com a conta bancária dele e
de base que de acordo com a referida lei o dade a um conjunto de seus colaboradores uma operação irreverente e inimaginável por com os dividendos que ia receber no final
sector privado não tinha acesso. directos em se tornarem empresários de muitos que marcou inexoravelmente a vida do ano. Muitas pessoas me têm dito que o
sucesso. A título de exemplo lembrarei Jaime empresarial do nosso país nos últimos anos. país com quatro Belmiros seria seguramente
Considerando essa decisão do meu Ministé- Teixeira, António Pinto de Sousa, Alberto um país diferente e com posição na Europa.
rio como errada informei alguns dias depois o Teixeira, Carlos Moreira da Silva entre outros, Talvez seja aquilo que poderá de facto o
Eng. Belmiro de Azevedo da autorização para e que penso não teriam tido o sucesso que homem.
prosseguir com o referido investimento. vieram a ter se não tivessem trabalhado
durante vários anos com o Eng. Belmiro de
No seguimento deste nosso primeiro encon- Azevedo no Grupo Sonae.
tro tive oportunidade de, ainda como mem-
bro do Governo, várias vezes reunir com o Resumindo direi que, para mim, o Eng. Belm-
Eng. Belmiro de Azevedo e constatei que iro de Azevedo é, sem dúvida nenhuma, o
em muitos casos que ele me apresentava a maior empresário que o país teve após o 25
razão estava, quase sempre, do lado dele. de Abril, tendo atingido essa situação expres-
sando sempre a sua opinião duma maneira
muito frontal mas sempre leal.

122 | 123
SONAE 50 ANOS À FRENTE.
ARTUR SANTOS SILVA AUGUSTO MATEUS CARLOS BIANCHI DE AGUIAR CARLOS MOREIRA DA SILVA
Presidente do Conselho de Administração Economista, presidente do Instituto CEO Sonae Indústria Presidente da BA vidros
do BPI de Formação Empresarial Avançada,
ex-ministro da Economia
É difícil descrever por palavras o que Belm- A Sonae é seguramente o maior grupo não
Belmiro de Azevedo conseguiu, em menos Sempre que a entrada numa nova area de Do mesmo modo, a fidelidade afectiva aos iro de Azevedo tem conseguido e está a financeiro português e a diferença foi feita
de 45 anos, transformar a SONAE num dos negocios o recomenda, a SONAE tem con- Amigos de sempre evidenciam o seu solido Tenho muito apreço pelo Eng. Belmiro de conseguir fazer ao longo do seu percurso. pelo Eng. Belmiro de Azevedo. Pelo seu nível
mais importantes grupos economicos por- seguido estabelecer parcerias com algumas carácter e a sua funda identidade. O recon- Azevedo, uma pessoa franca, directa, muito Melhor que as minhas próprias palavras: de empreendedorismo, de assunção de
tugueses. Sob a sua liderança uma empresa das principais empresas europeias. hecimento que, nomeadamente, sempre motivada pela realidade empresarial. É um podemos ver o reconhecimento inter- riscos, de descoberta e de capacidade de
inviavel foi reconvertida numa das nossas evidencia pelo seu Mestre Escola, pelo seu bom exemplo de como o sucesso empresar- nacional e nacional que ele tem no papel inovar, mas também pela sua independência
mais importantes unidades de laminados de O sucesso da SONAE muito se deve à ca- Padrinho, por Afonso Pinto Magalhaes, con- ial não está ligado a uma capacidade endó- que desempenha. Sempre que interveio em relação aos poderes políticos, a sua ir-
madeira em cerca de 5 anos, de 1965 a 1970. pacidade para atrair talentos e proporcionar firmam que o sucesso não o fez esquecer o gena do empresário, mas à eficiência da orga- em qualquer organização, acto ou negó- reverência em relação aos poderes instituí-
Hoje a SONAE lidera mundialmente a industria estimulantes carreiras a alguns dos nossos quanto deve aos que nele acreditaram. Apre- nização e da racionalidade das suas decisões. cio, deixou sempre marcas inesquecíveis, dos, mesmo os económicos, tudo isso foi
de derivados de madeira, com plataformas melhores quadros, muitos dos quais tem cio também muito o seu comportamento Os seus méritos vão no sentido de ter sabido marcas que são positivas. Se começarmos fazendo, ao longo do tempo, da Sonae uma
industriais em alguns dos principais paises da beneficiado do apoio de Belmiro de Azevedo austero e a recusa a atitudes de novo-riquis- construir no grupo Sonae uma estrutura pela parte social, foi um dos fundadores do empresa diferente, muito criativa e capaz
Europa, nas Americas e em Africa. para se virem a assumir como empresários mo ou à participacao numa vida social frivola. técnica forte, de ter sabido tomar decisões, World Business Council for Sustainable De- de inovar em muitas áreas da actividade
independentes. Não pode tambem ser não por fado ou sensibilidade, mas com velopment, uma entidade mundial recon- económica nacional. O Eng. Belmiro de
Nos anos 80 a SONAE diversificou fortemente esquecido o papel motor determinante que a Num periodo complexo como o que se vive à base em informação objectiva. São aspectos hecida com muitas actividades a favor do Azevedo marca pela empreendedorismo,
os seus interesses, iniciando uma decisiva SONAE teve na criacao da primeira e principal escala mundial, a SONAE vai saber enfrentar decisivos naquilo que é mais forte. Depois, clima, da poupança de energia, da utilização pela capacidade de assumir riscos, em que é
alteracao no sector da distribuicao do nosso Escola de Negócios do Norte, integrada na com sucesso novos desafios, gracas à visão porque foi protagonista com sorte, com saber, eficiente dos recursos. E mais recente- realmente brilhante e está sempre um passo
País, abrindo com grande sucesso os primeiros Universidade do Porto, a EGP. e à capacidade desafiante do seu Fundador, com risco, com muitas coisas pelo meio, mente com a Manufuture, organização a fa- à frente. Ainda estamos a resolver o prob-
hipermercados. Já nos anos 90 avançou para à qualidade das suas equipas executivas da construção e da afirmação dum grande vor da indústria europeia, onde fez parte da lema e ele dá isso por adquirido e coloca-
formatos de retalho fortemente especializa- Uma grande marca distintiva da SONAE em lideradas pelo talento de Paulo Azevedo e grupo empresarial num país como Portugal fundação desse grupo de grande impacto. se logo noutro campeonato. Marca ainda
dos em Portugal e, mais recentemente, em relacao à generalidade das empresas portu- ao espirito inovador que sempre tem sabido só pode ser elogiado. Não é perfeito, ninguém Por todos os negócios onde passou, é uma pelo rigor, pela capacidade de analisar com
Espanha. Paralelamente, lançou entre nós guesas é a sua firme independencia face ao revelar. é provido apenas de capacidades. Muitas imagem de marca a capacidade de Belmiro profundidade os problemas e de os discutir
“shopping centers” cujo exito veio replicar em poder politico, o que lhe tem custado perder vezes diz coisas, para ser como ele franco e de Azevedo em realizar obra. até à exaustão, sem reservas. E, finalmente,
alguns grandes países europeus e no Brasil. oportunidades na redistribuicao de poder directo, sobre a governação que representam a irreverência, que lhe dá uma independên-
que o Estado fez, da Banca às Telecomunica- passagens demasiado apressadas entre a cia, e que é um grande legado, um grande
Nas Telecomunicacoes, lançou o terceiro op- çoes até ao caso mais gritantemente injusto decisão empresarial e a decisão pública, que exemplo. Infelizmente isso é cada vez menos
erador em telemoveis e nas restantes áreas que foi o da ultima fase da privatização da são coisas bastantes diferentes. Mas é uma visível no panorama empresarial português,
do sector é um dos mais inovadores. A OPA Portucel. Os interesses do País exigem que o pessoa empenhada, motivada pelo futuro onde os empresários dos vários regimes se
lançada sobre a PT, embora inviabilizada pela poder economico se afirme com indepen- e pela solução do risco, portanto não pode vão alimentando de uma forma nem sempre
oposicao de alguns dos principais accionistas, dencia face ao poder político, contrariando ser colocada excluída da sua posição central muito clara.
provocou uma profunda reestruturacao do o habitual situacionismo e cumplicidade, no desenvolvimento económico do nosso
sector, melhorando as condicoes da concor- caminhos que tantos insistem em utilizar para país nos últimos 40 anos, enfrentando, como
rencia ate entao anormalmente dominadas conseguir beneficios sem a desejavel trans- qualquer ser humano, dificuldades. Tudo na
pelo incumbente. parencia nem em resultado de uma concor- vida precisa de uma estratégia, de uma ética,
rencia aberta. de um conjunto de regras. Mas mesmo com
Com o lançamento do “Publico”, há mais de ética, com regras e com uma estratégia, te-
20 anos, a SONAE proporcionou ao País um Em Belmiro de Azevedo, mais do que o mos que tomar decisões concretas e, muitas
jornal diario incontornavel para quem procura excepcional empresario e gestor, admiro a vezes, as nossas decisões concretas não têm
informacao de qualidade, rigor, independen- permanente prioridade que tem atribuido todas a mesma qualidade, ou não é possível
cia, aberta às mais diversas opinioes. à Familia - dos Pais aos Irmãos, aos Filhos, porque não podemos escolher o tempo.
aos Netos - o que tem conseguido graças à Quando temos que nos pronunciar sobre
No Turismo, a SONAE tem promovido impor- decisiva estabilidade que a sua grande Mulher uma determinada pessoa, mais vale emitir
tantes iniciativas, assumindo recentemente sabe assegurar a toda a sua vida. uma opinião sobre aquilo que é robusto, nas
o relançamento de Tróia como um dos mais características positivas ou negativas. Neste
promissores polos do nosso País. caso, é nas características positivas e, para
mim, são estas. Creio que é da mais elemen-
tar justiça reconhecer este contributo.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
CLÁUDIA AZEVEDO FRANCISCO PINTO JEREMY NEWSON LUÍS VALENTE DE OLIVEIRA LUIZ FELIPE LAMPREIA
BALSEMÃO CEO da Grosvenor Professor Catedrático Sociólogo e diplomata brasileiro
Presidente da Impresa
A Sonae faz parte do meu mundo desde
o primeiro minuto, e nunca foi apenas um Belmiro de Azevedo é provavelmente o O Eng.º Belmiro de Azevedo é um caso ímpar Nunca se deixa acomodar sobre os louros Belmiro Azevedo é um gigante na cena em-
mítico lugar onde o meu Pai trabalhava. Ainda Em 1989, quase que nos pegámos, para indivíduo mais cativante e admirável que no panorama empresarial português. conseguidos. Está sempre a procurar presarial portuguesa e a Sonae representa
muito pequena, já lhe fazia companhia no es- não dizer que nos pegámos mesmo. Eu, já conheci no meu percurso empresarial. Não é só a criação de um grande grupo novas formas de empreender, de manter sua obra maior.
critório, ao fim-de-semana, juntamente com pelo menos, fiquei furioso com a invasão Considero que a extensão da sua ambição internacional e multi-sectorial que marca a prósperas as suas iniciativas passadas e de
os meus irmãos: lembro-me de puxar o fio da Sonae ao território do Expresso, para e orgulho – pelo seu negócio, pelos seus sua acção. É, especialmente, a “cultura de auscultar para onde sopram os ventos da Conheci-o quando eu era embaixador do
do telex, lembro-me de um pastor-alemão me irem buscar gente que iria trabalhar colaboradores e pelo seu país – é absoluta- empresa” que lhe conferiu e na qual sobres- mudança e as exigências da adaptação. Brasil em Lisboa em 1990.Pouco antes,
chamado Sonae e das corridas de empilha- no Público. E o telefonema que fiz então a mente incrível. Possui, claramente, a visão de saem como valores a formação permanente, a Sonae havia lançado o jornal Público.
dores que furtivamente fazíamos na fábrica. Belmiro de Azevedo não me acalmou, antes que qualquer coisa pode ser alcançada reuni- a inovação constante, a qualidade, a iniciativa Interessa-se, de forma incessante, por tudo Surpreendia-me muito que houvesse
Mais tarde, antes de lançarmos em Portugal pelo contrário. Perguntei-lhe se era a sério, das as circunstâncias certas; trata-se de uma e a aposta sistemática nos melhores. quanto tenha a ver com as suas empresas ou frequentes artigos críticos de Belmiro no
o primeiro Continente, recordo-me também ele respondeu que sim e eu disse-lhe que, se atitude muito inspiradora e é uma das razões com as novas actividades que julga interes- seu próprio jornal, o que seria impensável
de percorrermos febrilmente Espanha a visi- queria guerra, ia tê-la. pelas quais ele gera uma tal lealdade por parte O desassombro com que ele manifesta as santes para reforçar o seu grupo. no Brasil ou em qualquer outro país que eu
tar hipermercados; ou de dar a volta aos Es- dos seus colegas. Um grupo de pessoas leais e suas opiniões em público é o mesmo que conhecesse. Perguntei então ao meu amigo
tados Unidos, saltando de cidade em cidade, 20 anos decorridos, as nossas relações empenhadas pode conquistar o mundo e ele usa para justificar as suas decisões e para Mas não esquece a função social do em- como ele aceitava esse procedimento.
a inspeccionar hotéis da cadeia Sheraton, na profissionais e pessoais fizeram assinaláveis comprovou-o. O facto de ser tão contido no pedir explicações aos seus colaboradores presário. Sabe o valor do esforço pessoal na Belmiro respondeu, com um sorriso pícaro:
altura em que nos lançámos no projecto do progressos. Já na presente década, fomos seu estilo pessoal é invulgar para um homem àcerca das opções que fazem. E, nessa ati- criação de riqueza. Mas reconhece, tam- “é o meu espírito desportivo”.
que é hoje o “Porto Palácio”. sócios em algumas iniciativas que a bolha da de negócios de sucesso e torna-o ainda mais tude, o que conta é a razão, na base da qual bém, que há problemas da sociedade para
net abortou (e, nalgumas delas, a Sonae até credível como pessoa e como líder. tudo é analisado. a resolução dos quais ele pode contribuir. Servi por vários anos no Conselho de Admin-
Ao rever hoje com tanto agrado esses in- aceitou ser minoritária). Passei a ser con- Prefere fazê-lo por via do revigoramento das istração da holding Sonae, que engloba mais
stantâneos da minha infância, não creio que vidado para a notável organização que é o As reuniões com Belmiro nunca eram Começa por procurar o máximo de infor- capacidades pessoais de cada um; por isso de quinhentas empresas de porte diverso.
a presença constante da Sonae resultasse Espírito do Douro. Fui ganhando intimidade monótonas pois encontrava sempre algum mação para conhecer o sistema sobre o dá tanta importância à formação perma- Impressionava muito que, no comando
apenas do acaso ou das circunstâncias famil- e estima com a família Azevedo, em especial novo ângulo ou tópico para discutir, muitas qual virá a actuar. Depois disso, tudo assenta nente, em especial. do maior conglomerado não financeiro de
iares. O meu Pai sempre teve a preocupação com a Nicole e o Paulo, mas também com a vezes com minúcia. Ao fazê-lo, demonstrava num encadeamento lógico em que todos os Portugal, Belmiro estivesse a par, geralmente
de nos despertar para as nossas responsabili- Cláudia e o Nuno. a extensão da imaginação e do compromisso passos devem ser justificados para serem O segredo do seu sucesso reside na alegria em detalhes, de todas as principais questões
dades para com a empresa, os trabalhadores, que procurava nos outros. Como parceiro, só devidamente compreendidos e escrupu- com que empreende e na convicção de- de cada empresa significativa ainda que,
a comunidade e o futuro; sempre valorizou A ideia que tinha de Belmiro evoluiu. Hoje, re- posso dizer que tem sido fora de série, permit- losamente executados. terminada de que, pela inteligência e pelo sempre pautando-se pelo critério do mérito
a nossa aprendizagem, sempre nos ensinou conheço nele não só a capacidade de lider- indo a construção de uma relação baseada na trabalho, se pode ir muito longe e ser útil à para escolher seus colaboradores, neles
a vibrar com cada desafio e a adoptarmos ança que lhe permitiu criar um dos maiores confiança mútua e na fiabilidade do negócio O Eng.º Belmiro de Azevedo não conhece sociedade. confiasse, delegando-lhe poder.
naturalmente uma atitude de permanente grupos empresariais portugueses, mas de cada um de nós. Na Grosvenor, todos nos fronteiras quando procura novas oportuni-
inquietação intelectual. também a preocupação pela comunidade, sentimos orgulhosos por fazer parte da família dades para expandir os seus negócios. Mas a Belmiro de Azevedo é o paradigma do em-
nomeadamente na área do ensino, onde, Sonae alargada, criada por Belmiro. primeira coisa que faz é conhecer a nova ac- presário capitalista moderno.
“Admito que deixei algumas pedras brancas por exemplo, nas relações com o INSEAD, tividade na qual se quer lançar no enquadra-
para sinalizar o caminho às gerações futu- tem desenvolvido uma meritória tarefa. mento geográfico, social e político onde ela
ras”, disse o meu Pai, no discurso com que Além disso, é um cidadão livre, que diz o que há-de ter lugar. Depois disso recorre aos mais
agradeceu o grau de Doutor Honoris Causa pensa, com coragem e sem temores do que modernos procedimentos, rodeando-se dos
que lhe foi atribuído pela FEUP. É claro que o poder político possa fazer em retaliação. melhores quadros, sabendo ser, simultanea-
deixou. E continua a deixar. Por tudo isto, Belmiro e a Sonae estão mais mente, exigente e estimulante.
uma vez de parabéns!
Chegou a hora de seguirmos essas pedras e Ele ficará na história empresarial portuguesa
deixar algumas nossas. Sabemos que temos como um empresário fora do comum. Sabe
o dever de continuar o seu desejo inabalável criar e motivar os que o rodeiam para fazer
de crescer e de criar valor para a sociedade. o mesmo. Retira da realização uma satisfa-
ção imensa que, aliás, não sabe esconder
quando chega a hora da avaliação.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
MAGALHÃES PINTO MANUEL FERREIRA MANUEL SOBRINHO SIMÕES MICHEL BON
Economista DE OLIVEIRA Presidente da Direcção do Instituto Devoteam Group
Presidente da Galp Energia de Patologia e Imunologia Molecular
da Universidade do Porto (IPATIMUP)
Conheci o Eng. Belmiro de Azevedo ainda Conheço Belmiro de Azevedo desde 1993,
no Verão quente de 1975, através de um Ninguém sabia, até à escritura do meu livro Escrever o que quer que seja sobre a vida e Mas para que a “Obra Nasça” é sempre pre- altura em que deixei o Carrefour e me juntei
comunicado no jornal. As empresas estavam (Belmiro – História de Uma Vida, Âncora Edi- obra do Eng.º Belmiro de Azevedo é escrever ciso que o “Homem Sonhe”. Todos sabemos Há muito que me habituara a admirar a ao Conselho de Administração da SONAE.
ser assaltadas, a caírem em autogestão, e há tora, 2001), que tinha chumbado a primeira sobre a SONAE. No ano em que me licenciei que o sonhador desta Obra foi o Eng.º Belmiro “Escola” SONAE (E a criação de uma escola Belmiro é uma mistura fascinante de cora-
uma que escapa, o que cria grandes engul- classe da escola primária, naquele que é um em Engenharia (1971) ouvi pela primeira vez de Azevedo; para além de sonhador foi tam- é das coisas mais difíceis que há, sobretudo gem, nos negócios e na sua vida pessoal, de
hos aos sindicatos e a certas forças políticas, detalhe marcante da sua personalidade logo falar do “Engenheiro da SONAE” aquando da bém o grande obreiro; é por isso que todos lhe em países como Portugal). Entretanto, só empreendedorismo (desde a indústria de
inclusive no Partido Socialista. O dono da aos sete anos de idade. Tudo porque o profes- aquisição da NOVOPAN; desde então acom- devemos a nossa gratidão. ultrapassei o limiar do chamado “conheci- contraplacados à Telecom, passando pelo
Sonae, o banqueiro Pinto Magalhães, tinha sor tinha uma personalidade, sem pretender panhei a alguma distância, mas sempre com o mento social” do Eng. Belmiro de Azevedo retalho), simplicidade humana, interesse em
fugido para o Brasil como aconteceu com ofender ninguém já falecido, era “fascista”. O maior dos interesses, a vida e a obra do Eng.º Quem não se lembra da divulgação pública do e do universo SONAE há cerca de dez aprender e uma alegre confiança na vida,
muitos, e o Eng. Belmiro tinha ficado enquan- Eng. Belmiro de Azevedo chumbou a primeira Belmiro de Azevedo. perfil do HOMEM SONAE? Recordo o im- anos quando um quarteto de (grandes) não obstante as dificuldades, as críticas e
to administrador da empresa, na qual, não classe porque o professor colocava os alunos pacto e a força da exigência de que o HOMEM benfeitores nos ajudaram a criar o Núcleo as responsabilidades que enfrenta. Um dos
só não há o assalto, como os trabalhadores com orelhas de burro em frente à janela que Deus Quer, o Homem Sonha e a Obra Nasce, SONAE teria que ser um líder ou candidato de Amigos do IPATIMUP. A SONAE integrou maiores privilégios que tive na minha vida foi
se colocam do lado da administração. Dizer dava para a rua onde passavam as pessoas. como escreveu Fernando Pessoa, no poema a líder. Tratou-se da divulgação, da forma desde a primeira hora esse Núcleo con- conhecê-lo.
isto hoje parece um acto trivial mas, no Verão Era algo que ele não podia suportar, não Mar Português, em 1934; começo pela Obra não propositada, do perfil do Engenheiro tribuindo com um apoio filantrópico con-
quente de 1975, era algo absolutamente in- porque fosse ele a ter as orelhas de burro, do Eng.º Belmiro de Azevedo. A Obra realizada da SONAE. A perseverança, a capacidade tinuado para a sobrevivência e o desenvol-
concebível. É o primeiro grande indicador do mas porque via os colegas naquele espec- fala por si mesma; estamos perante um dos da focalização e de visão alargada, a paixão vimento do Instituto. Para além do aspecto
espírito de liderança de Belmiro de Azevedo. táculo de humilhação, e por isso chumbou. maiores Grupos Empresariais portugueses, pela formação dos seus colaboradores, os económico ficámos a dever ao Eng. Belmiro
Creio que a presença do Eng. Belmiro na Uni- Por felicidade encontrou um outro professor coeso e diversificado, em processo de desafios constantes que assume e promove, de Azevedo e às suas gentes (família e or-
versidade de Harvard, nos EUA, e o contacto quando mudou de escola, este belíssimo, e mudança quase continua, inovador e com os elevados níveis de exigência para consigo e ganização) algumas achegas para o planea-
com grandes tycoons do mundo empre- que, cometendo uma pequena irregularidade, apetência para assumir riscos, com uma para com os outros....tudo isto é o Engenheiro mento estratégico do IPATIMUP. Ficámos
sarial internacional, lhe deu a visão do que passou-o directamente da primeira para a cultura e valores admirados por muitos, com Belmiro de Azevedo. ainda a dever-lhe(s), agora já no domínio
era fazer um grande grupo. A sua trajectória terceira classe sem passar pela segunda. Era, capacidade para atrair e desenvolver Quadros imaterial, o reforço de valores que, passe
será brilhante pois, à medida que o grupo for como foi, um aluno brilhante. de excelente qualidade, um dos grandes Não poderia terminar este testemunho sem a imodéstia, o IPATIMUP partilha (com
crescendo, ele vai inocular o seu grande vício: empregadores da nossa economia, indepen- referir a forma exemplar como o Eng.º Belmiro bastante menos sucesso económico…)
a formação e a informação. Toda a gente tem dente e afirmativo, com um Governo corpo- de Azevedo soube preparar e acompanhar com a SONAE: primado do trabalho sobre
que saber, o que um sabe têm que saber rativo que é uma referência para o País, com a sua sucessão. Estou genuinamente con- a retórica, avaliação sistemática do desem-
todos. Ele não só provoca, não só a dinamiza, uma liderança forte e competente e com vencido que o sucesso de um líder se avalia penho, recompensa ao mérito, procura da
como a testa e a controla. Este grupo cresce provas dadas no que se refere à sua capaci- pelo sucesso dos seus sucessores. A person- exemplaridade.
com o vício da informação e essa é a grande dade de criar riqueza. alidade, a competência, a visão, o trabalho
chave do sucesso. árduo e a Obra feita pelo Eng.º Belmiro de
O que acima resumi é Obra digna de admi- Azevedo fazem dele merecedor do sucesso
É um homem de grande ambição, não de ração e respeito por parte de todos os que a dos seus sucessores... e é esse sucesso que,
poder, é curioso, nem de riqueza, nem de analisam. O nosso País seria muito diferente sinceramente, desejo a quem tem o peso da
poder social ou político, embora ele tenha se pudéssemos identificar muitas Obras responsabilidade de lhe suceder.
também uma reflexão, a qual eu aprecio como esta; fica-nos o exemplo de que a
muito, sobre como é que devia ser consti- “Obra Nasce” se, além de “sonhar”, formos ca- Bem-haja, Eng.º Belmiro de Azevedo e que a
tuído o governo em Portugal. Não é esse tipo pazes de fazer bem o que nos propomos con- vida lhe continue a oferecer os desafios que
de poder que ele busca. Belmiro de Azevedo seguir. Os ensinamentos da “Escola SONAE” tão bem sabe construir e que seja longa para
tem um farol, julgo que teve toda a sua vida, constituem, sem qualquer dúvida, o grande que os possa ver crescer e frutificar.
um farol que foi realizar, fazer, construir. exemplo e a grande herança do sucesso da
SONAE, do qual todos beneficiamos.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
NEIL JONES NUNO AZEVEDO NUNO JORDÃO PAULO AZEVEDO PETER D. SUTHERLAND
CEO da Grosvenor na Europa Continental CEO Sonae Distribuição Chairman BP plc e Goldman Sachs
International
Sobre os primeiros cinquenta anos da Sonae Não conheço no mundo empresarial, e não
A Sonae é uma empresa fora do vulgar, antes estende-se uma trama épica que é própria de Belmiro de Azevedo é o paradigma do grande apenas em Portugal, uma empresa com
será uma filosofia e um modo de fazer as apenas um pequeno número de empresas Empresário. O ”E” em maiúscula, é neste caso este carácter. E esta empresa foi criada pelo Há muitos anos que conheço Belmiro de Ele é, quintessencialmente, um homem
coisas. Sempre foi, creio eu, empreendedora do nosso tempo. Fazendo lembrar a máxima particularmente justificado, atenta a dimen- pai do nada. Quando o meu pai entrou, a Azevedo e tenho orgulho em chamá-lo de moderno que não almeja meramente evoluir
na forma como faz negócio. À medida que os de James Dean – Sonha como se vivesses são e a qualidade da obra empresarial que Sonae era uma pequena empresa indus- amigo. Este orgulho resulta de um reconheci- com o tempo, mas melhor ainda, à frente do
negócios cresceram, no decurso dos últimos para sempre, vive como se morresses hoje –, conseguiu realizar em tão curto espaço de trial que mal facturava, com tecnologia mento das suas excelentes qualidades, quer seu tempo. Como todos os bons empreend-
50 anos – e particularmente, pela nossa par- a Sonae percorreu as últimas cinco décadas tempo. Dá-me, obviamente, grande satis- que não se conseguia implementar e um ao nível pessoal quer no mundo dos negó- edores, é corajoso e visionário, gostando de
ceria, durante os últimos 12 anos – a Sonae com a imperiosa necessidade de fazer acon- fação ter podido trabalhar de forma muito modelo económico que não funcionava. cios. Porém, antes de tecer quaisquer co- correr riscos. Ele esforçou-se por conservar
amadureceu e conseguiu institucionalizar-se tecer o sonho, hoje. próxima com uma pessoa com a estatura E fez isto tudo! É uma história absoluta- mentários sobre essas qualidades, deixem- bons elementos na sua organização e por
sem perder o seu espírito empreendedor. empresarial do Engº Belmiro de Azevedo. mente irrepetível. Apesar de tudo, não é me acrescentar que ele é, acima de tudo, um encontrar os melhores talentos disponíveis.
É isto que eu considero impressionante. O sonho, tal como a vida, foi mudando, mas Marcou-me muito, até porque como é sabido, a dimensão económica da empresa que homem enraizado. Antes de mais e acima de Desse modo, desenvolveu uma empresa na-
Frequentemente, à medida que crescem, o sentimento de urgência não. Na história da o Engº Belmiro de Azevedo cria condições melhor demonstra a singularidade das tudo, ele é português. Nas suas transacções cional que pode, em muitos aspectos, servir
as empresas começam a perder a sua empresa é raro encontrarem-se momentos para que Colaboradores seus se sintam e suas capacidades. Acho que o momento internacionais, onde o encontro com maior de exemplo para Portugal. Belmiro nunca
natureza empreendedora, que é o que lhes de placitude, de sossego de vencedor ou de actuem como “empresários por conta de decisivo foi quando, depois de já ter criado frequência, seja no âmbito do seu empenho receou – como muitos políticos podem
dá o grande impulso para o sucesso. Penso sabor a vitória. Nesta verdadeira epopeia, outrem”. É outra das suas características: faz uma empresa importante, decidiu deixar de com o desenvolvimento do euro ou, mais testemunhar – lutar para defender os valores
que o futuro da Sonae é muito optimista. sobrepõem-se aos traços de inquietude de e deixa fazer! Outro traço relevante da sua ser gestor directo e começou a pensar em lateralmente, na Mesa Redonda Europeia e posições que considera importantes.
E é optimista por várias razões. Primeiro: a quem sabe que os ventos podem mudar, os personalidade tem a ver com a sua capaci- todos os valores, nos temas da organização dos Industriais, Belmiro tem constantemente
Sonae e o pessoal da Sonae assumem uma de desejo de quem vive com a convicção de dade para conjugar uma liderança forte com multinegócio, na educação e na formação. velado pelos interesses legítimos do seu Como pessoa, Belmiro é, acima de tudo, um
abordagem muito dinâmica na forma como que é possível construir sonhos. uma resiliência, eu diria mesmo, paciência, Deixou de ser o entrepreneur / self-made país. No entanto, nunca o fez de maneira a homem de família. A sua devoção a Marga-
lidam com as mudanças, não só as actuais para “aturar” Gestores de Grupo irreverentes. man mais frequente e foi ganhando um pa- distanciar-se da sua própria visão europeia. rida e aos filhos e netos é evidente. O seu
como também as de amanhã. Isto significa A história da Sonae é uma história do viver Ao contrário do que muitos pensarão, convive pel de “evangelizador”; reunindo uma série Ele acredita na Europa. legado empresarial será assegurado, não ap-
que os obstáculos são ultrapassados ou, no fio da navalha. Mas é também uma das bem com o contraditório, podendo-se dizer, de pessoas com enorme talento, ambição, enas pelo que ele já fez mas também pelos
pelo menos, previstos com antecedência. histórias da construção do mundo em que dado o seu espírito vincadamente competi- e independência numa organização muito No campo empresarial, já estive ao serviço esforços que se seguirão.
Outro factor que considero impressionante é vivemos hoje, e isso deve-se a todos os que tivo, que, até aprecia uma boa “esgrima” de exigente também no cumprimento de va- do seu Conselho de Administração e, tendo
a continuidade da direcção e o planeamento viram os seus sonhos profissionais e pessoais argumentos, desde que intelectualmente lores e de disciplina. É quase um paradoxo. saído do mesmo para me juntar ao GATT em
da sucessão que a organização tem, o que só realizarem-se na Sonae. Muitos, estou certo, honesta e com adequado suporte de con- Como é possível ter nesta casa a quanti- 1993, ao regressar em 1995, tornei-me direc-
por si prepara a empresa para o futuro. trilharam um percurso em que o sonho se hecimento dos assuntos. dade de gestores absolutamente excep- tor no Conselho Consultivo Internacional da
inverteu em turbilhão e o turbilhão em sonho, cionais, com a dedicação que têm, com o SONAE. Em ambos os papéis deparei-me
deixando para trás, quase sempre, um senti- De qualquer forma, mais do que o sublinhar empenho que põem no dia-a-dia, e tudo com inúmeras evidências do dinamismo,
mento de realização e de satisfação. esta ou aquela das suas características, julgo funcionar com a harmonia e camaradagem do espírito de iniciativa e da determinação
que é a Obra Empresarial por si desenvolvida, que funciona. O meu pai teve o engenho e de Belmiro. Tive igualmente a oportunidade
Ao leme desta empresa esteve, durante dé- que define com singular eloquência o Engº a arte para criar esta cultura, este «caldo» de usufruir da sua magnífica hospitalidade
cadas, uma pessoa singular que o destino quis Belmiro de Azevedo. de valores, de objectivos, de liberdade, de em muitas ocasiões. Ao construir a Sonae,
que fosse meu Pai. Pela sua argúcia, pelo seu caos, de organização que atrai estas pes- Belmiro procurou seguir sempre o melhor ex-
deslumbre, pela sua coragem, a homenagem soas, onde elas se sentem bem, e que hoje emplo que podia encontrar no mundo. Fora
que hoje lhe prestamos é justa, é devida e é já se reforça, também nesse aspecto, sem a de Portugal, ele vislumbrou também algumas
merecida. sua acção directa. Não sei como o fez, ape- oportunidades.
sar de estar cá, de ser filho dele, de ter sido
das pessoas mais próximas. Não sei como
é que ele, com o background que teve, com
as horas de trabalho e o empenho que
dedicava às coisas práticas, teve o tempo
de estudar algumas teorias, de elaborar al-
guns conceitos próprios e de se tornar num
evangelizador cultural. Não sei como, mas
fez a diferença, e hoje o potencial da Sonae
é bem maior do que a dimensão dos seus
negócios.

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
ROB GOFFEE RUI VILAR SÉRGIO FIGUEIREDO TERESA PATRÍCIO GOUVEIA
London Business School Presidente da Fundação Administrador da Fundação EDP, Administradora da Fundação
Calouste Gulbenkian ex-director do Jornal de Negócios Calouste Gulbenkian

Belmiro de Azevedo é uma personalidade


formidável com um percurso maravilhoso O engenheiro Belmiro de Azevedo criou o Tem ainda, através da sua própria Funda- Belmiro de Azevedo encarna o espírito do O legado do Eng. Belmiro de Azevedo, como riqueza. É uma pessoa que vive uma vida
enquanto empresário, executivo e líder. Pes- maior grupo empresarial português depois ção, apoiado o ensino da gestão, tendo até empreendedor que nos faltava em Portugal. empresário, é singular no panorama portu- frugal, discreta no plano pessoal, e talvez seja
soalmente, ele revela muitas das característi- do 25 de Abril, e lega-nos um exemplo de criado, através da Escola de Gestão do Porto, Não faz nunca depender do apoio público e do guês. O Eng. Belmiro de Azevedo construiu esse um dos factores que o torna popular e
cas chave da Sonae: resistente, trabalhador, visão de futuro, capacidade de arriscar e um novo estilo de formação de quadros subsídio uma decisão empresarial. Como bom a sua circunstância e fê-lo recusando uma querido pelas pessoas. Aliás, é dos poucos
determinado, competitivo e centrado no tenacidade. Representa ainda uma vida que, empresariais. negociante que é, não se inibe de jogar esse história antecipadamente escrita. Nesse empresários que é reconhecido publica-
desempenho. Construiu uma empresa mag- sem condições de sucesso à partida, porque pau, e foi-se cruzando, ao longo da sua vida sentido, é um homem intrinsecamente livre. mente, as pessoas conhecem-lhe o nome e
nífica que – como todas as grandes organiza- o Belmiro nasceu num meio rural, numa O principal traço do Belmiro é a tenacidade empresarial, com vários Primeiros-ministros, Transformou a sua vida e as circunstâncias à a cara e gostam dele. O ethos tem a ver com
ções – possui líderes em vários níveis. E não família humilde, com o seu trabalho foi capaz e a persistência, mas, claro, aliado a uma vários ministros da economia e numa tensão sua volta. a forma como ele olha com responsabilidade
se trata de um acaso. É uma consequência de vencer todos os degraus e ultrapassar grande inteligência, uma grande capacidade quase permanente. Umas vezes conseguiu, pela riqueza criada. Possui uma preocu-
do seu vasto compromisso com a apren- todas as barreiras, para se tornar naquilo que de trabalho e de correr riscos. Ele combina outra não conseguiu, e quando não consegue Como empresário, tem também alguns pação de reinvestimento para criar mais
dizagem, a educação e o desenvolvimento. é hoje: o líder do maior grupo empresarial essas qualidades e, ao longo da vida, demon- queixa-se imenso. Vem daí a sua fama de ser aspectos que o distinguem dos seus pares. riqueza, mas criando emprego, obras, devol-
Apesar do seu horário laboral exigente, português. strou sobejamente uma grande confiança um litigante profissional, mas sempre encarei É um empresário evidentemente moderno vendo à sociedade aquilo que ela lhe deu.
Belmiro sempre encontrou tempo para em si próprio, com essa capacidade de fazer isso como uma faceta muito positiva num por vários aspectos. Num porque não fez Nesse sentido, é conhecida a actividade do
ler, reflectir e envolver-se activamente na O grupo Sonae, para além de ser um dos apostas e correr riscos. É isso que faz um país onde se amocha facilmente. Se é preciso crescer a sua empresa à sombra do estado. Eng. Belmiro de Azevedo e da Sonae, não só
promoção da formação empresarial, tanto maiores empregadores no nosso país – e empresário, mais do que um gestor. Ele é, pôr o Estado em tribunal, ele não hesita, não Foi sempre de uma enorme independência, através dos patrocínios e da sua actividade
em Portugal como nas melhores escolas é importante sublinhar isto –, representa claramente, um empresário e é isso que o mede as consequências, não é calculista nesse até de contundência pública, relativamente mecenática, mas da sua preocupação com
de gestão pelo mundo fora. As escolas de um grupo que foi capaz de escolher novas distingue de um mero gestor. ponto de vista, e isto vale muito num país de aos poderes políticos quando quis defender a universidade, na criação de uma fundação
gestão simplesmente não conseguem ser oportunidades de negócio, que, partindo de grandes dependências em que as pessoas os seus interesses, os interesses da classe própria.
bem-sucedidas sem o envolvimento de in- uma base industrial, no seu tempo inova- têm muito medo de afrontar quem está no empresarial, do sector empresarial, os inter-
divíduos como ele. Extraordinariamente, há dora, avançou para a distribuição, depois poder; um pais em que o governo e o Estado esses da economia portuguesa, os inter- O Eng. Belmiro de Azevedo não é uma
mais: uma paixão por desporto e fitness que para o imobiliário, depois para as telecomu- ainda se metem na vida privada das empresas. esses do país. Fê-lo sempre de uma maneira pessoa vulgar, muito pelo contrário, é uma
ele tem mantido ao longo da sua vida e uma nicações. Portanto, que se ramificou, não Mas capacidade de ser independente, a sua muito independente, muito livre. pessoa intrinsecamente independente e
família muito unida que continua a contribuir guardando apenas a tradição industrial, que resiliência, a capacidade de assumir o risco, a livre, o que é raro. Num tempo de rupturas e
para o carácter único e o sucesso contínuo se ramificou para áreas novas em que foi um capacidade empreendedora de terceiros, isto Outro aspecto foi não ter assente o cresci- mudanças, tão dinâmico, uma pessoa como
do negócio. Dou muito apreço às minhas protagonista importante, e em alguns casos é a sua faceta, é o seu ADN, que marca uma mento da sua empresa numa estratégia de ele, que gosta de gerir descontinuidades, que
visitas ao Porto e à diversão de passar um inovador. carreira e uma personalidade. Há quem diga, mão-de-obra barata. Teve uma enorme soube sempre tirar partido das rupturas e
serão com Belmiro rodeado de boa comida que isto tem o revés da medalha, que o torna preocupação na formação dos seus colabo- transformá-las em oportunidades, faz falta.
regional e de um sociável cálice de vinho do No plano social, o mais importante foi o numa pessoa pouco fácil de lidar, não muito radores e a Sonae foi, definitivamente, um Especialistas em descontinuidade são o que
Porto. Conhecê-lo a ele e à Sonae tem sido modo como o grupo – e certamente por hábil na arte de sedução, de ideias muito fixas, alfobre de quadros empresariais e até de nos faz falta neste momento.
para mim um privilégio, e aprendi muito ao influência do estilo de liderança do Belmiro com um pouco jogo de cintura e que gosta empresários, que depois seguiram a sua vida
longo deste percurso. de Azevedo – formou os seus quadros e deu muito de dar ordens. É um vício de quem se independente.
oportunidades de carreira às pessoas que habituou a mandar desde muito cedo e que
nele trabalhavam. Não é por acaso que do fez dessa liderança inequívoca o seu sustento. Foi ainda pioneiro na internacionalização do
grupo Sonae saíram bastantes gestores que Criou uma série de inimigos e de adversários ao seu grupo. Recordo-me que, em 1990, antes
hoje lideram as suas próprias empresas e se longo da vida, mas isso é problema de quem de toda a gente, a Sonae já tinha delegações
afirmaram nos respectivos ramos. Portanto, não gosta. A história dele e a história do grupo em outros lugares da Europa.
o importante em termos sociais foi a maneira que lidera são auto-explicativas, não há muito
como deu oportunidades de carreira para a acrescentar porque o grupo Sonae era o que Tem sido muito intransigente na gestão
aqueles profissionais se revelarem e se au- era há 30 anos e é hoje, sem dúvida, o maior profissional no grupo familiar, que também
tonomizarem em termos profissionais. Para grupo português, não pela valorização que o é um aspecto notável, não muito vulgar e
mais, o grupo esteve sempre presente nos mercado lhe dá, a tal capitalização bolsista, não muito fácil. Finalmente penso que o Eng.
grandes projectos culturais ligados à cidade mas pela sua base de negócio, a presença em Belmiro de Azevedo tem um ethos pes-
do Porto: é fundador de Serralves e da Casa mercados internacionais, a diversificação. Es- soal e empresarial que o distingue porque
da Música. tas são um reflexo da obra de um homem e de a sua personalidade desmente um pouco
uma equipa que liderou e que soube construir e contradiz aquilo que é o lugar-comum do
ao longo de várias gerações. empresário nos seus sinais exteriores de

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
ELOGIO DO HOMENAGEADO
POR PROF. RUI CAMPOS GUIMARÃES

Magnífico Reitor da Universidade do Porto,


Senhor Director da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto,
Senhores Vice-Reitores e Pró-Reitores,
Senhores Presidentes das Unidades Orgânicas da Universidade do Porto,
Senhor Professor Luís Valente de Oliveira,
Senhor Engenheiro Belmiro de Azevedo,
Ilustres autoridades civis, militares e académicas,
Senhoras e Senhores convidados,
Caros Colegas, Estudantes e Funcionários,

Fui incumbido pelo Director da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto de partici-


par nesta cerimónia, nela proferindo o elogio do homenageado – o Senhor Engenheiro Belmiro
de Azevedo – a quem a Universidade do Porto deliberou atribuir o grau de doutor honoris
causa. E faço-o com grande orgulho, que decorre do enorme respeito que nutro quer pelo
homenageado quer pela Universidade, que vejo como a minha casa de sempre.

DOUTORAMENTO Começo a minha intervenção por referir o conceito geralmente associado ao grau cuja

HONORIS CAUSA atribuição é hoje formalizada nesta cerimónia. O doutoramento honoris causa (que, em por-
tuguês, significa causa nobre) é o mais elevado grau conferido pela universidade para distinguir

DO SENHOR ENGENHEIRO
uma personalidade pelo seu excepcional contributo para o desenvolvimento de um domínio
de actividade específico ou da sociedade em geral. E, destes actos, as universidades colhem

BELMIRO DE AZEVEDO
benefícios da associação que se estabelece entre elas e as pessoas distinguidas. Acrescen-
tarei desde já, a este propósito, que a Universidade do Porto beneficiará seguramente desta

UNIVERSIDADE DO PORTO
homenagem a um dos seus mais destacados licenciados da Faculdade de Engenharia, cuja
projecção no País e no estrangeiro – e, sobretudo, cujas razões de tal projecção – constituem
um activo de que todos nos orgulhamos. Mas a razão de ser deste acto – estou certo de que
todos assim o entenderão – está na homenagem que é prestada, independentemente do
A Universidade do Porto, a 22 de Maio de 2009, resolveu distinguir o trajecto profissional de benefício para a Universidade que dela pode decorrer.
um dos seus mais notáveis estudantes com a atribuição do douturamento Honoris Causa,
justificando-o assim: «o percurso do Engenheiro Belmiro de Azevedo – o do empresário que, Tecidas estas considerações sobre a natureza do grau, centrar-me-ei seguidamente sobre
ao longo de uma vida, consegue transformar uma empresa de pequena dimensão num dos questões de carácter que têm pautado a intervenção do homenageado ao longo da sua vida
maiores grupos nacionais privados, com expressão significativa no exterior – constitui um e que – entendo eu – são elas próprias condição sine qua non para a realização deste acto. Re-
exemplo de empreendedorismo, de capacidade de gestão, de experiência e de sucesso, que firo-me, evidentemente, a um conjunto de valores éticos, de responsabilidade e solidariedade
deve inspirar a comunidade académica». social, de rigor e de independência. Mas se para aqueles que têm convivido directamente com
Belmiro de Azevedo a adopção destes valores pelo homenageado será clara, para a generali-
Também o percurso académico de Belmiro de Azevedo, detentor de várias pós-graduações dade dos presentes tais valores aflorarão apenas, aqui e ali, em contextos mais mediáticos:
em Gestão pelas mais prestigiadas escolas internacionais, e o seu papel activo em inúmeras assim terá sucedido, por exemplo, em manifestações públicas de total independência de
iniciativas de carácter associativo, cultural, social, político e académico (nomeadamente o Belmiro de Azevedo relativamente ao poder político (que, em diferentes ocasiões, lhe terão
apoio prestado à criação, em 1989, do actual Mestrado Integrado em Engenharia Industrial e sido extremamente adversas do ponto de vista económico – mas por si assumidas). Para to-
Gestão da FEUP) foram argumentos invocados para a distinção. dos os presentes – sobretudo para aqueles que não têm acompanhado de perto o percurso
de Belmiro de Azevedo – valerá a pena mencionar a sua preocupação de discutir e partilhar
A cerimónia de atribuição do grau de Doutor Honoris Causa ao aluno do curso de 1963 de aqueles valores bem como a de os propagar por aqueles que o rodeiam no Grupo Sonae.
Engenharia Química Industrial foi presidida pelo reitor, José Marques Santos, tendo cabido a Disso constituem ilustração manifesta os valores e princípios enunciados “pelo Grupo” (e não
Luís Valente de Oliveira o papel de padrinho do doutorando e a Rui Guimarães, ex-director- “para o Grupo”). Sem a preocupação de ser exaustivo nem de entrar em detalhes com que
geral da COTEC, o elogio ao homenageado, que a seguir se publica. esta cerimónia não se compadece, referirei apenas os seguintes:

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.
No domínio da Cultura Empresarial: a lealdade, o rigor e a transparência. Escreveu Pessoa (Revista, n.º 5):
«Estão cheias as livrarias de todo o mundo de livros que ensinam a vencer. Muitos deles
Na Responsabilidade para com os Colaboradores: a igualdade no tratamento e a promoção contêm indicações interessantes, por vezes aproveitáveis. (…)
de condições para o seu desenvolvimento profissional.
A ciência de vencer é, contudo, facílima de expor; em aplicá-la, ou não, é que está o segredo
Na Responsabilidade Social: a consciência social e ambiental, a abertura à sociedade com do êxito ou a explicação da falta dele.
base em relações sustentadas na ética e na confiança.
Para vencer – material ou imaterialmente – três coisas definíveis são precisas: saber trabalhar,
Nas Relações com o Poder Político: a independência e a cooperação. aproveitar oportunidades e criar relações. O resto pertence ao elemento indefinível, mas real,
a que, à falta de melhor nome, se chama sorte.
Mas se os valores são condição necessária de atribuição do doutoramento honoris causa
estão longe de constituir condição suficiente. Adicionalmente, é requerida uma projecção Não é o trabalho, mas o saber trabalhar, que é o segredo do êxito no trabalho, saber trabalhar
na nossa sociedade que mereça distinção e homenagem. Entrarei neste capítulo da minha quer dizer: não fazer um esforço inútil, persistir no esforço até ao fim, e saber reconstruir uma
intervenção, prometendo que não me deterei tanto na projecção – que todos reconhecemos orientação quando se verificou que ela era, ou se tornou, errada.
e aplaudimos – mas mais num conjunto de razões essenciais para tal projecção.
Aproveitar oportunidades quer dizer não só não as perder, mas também achá-las.
Sobre a projecção nacional e internacional, ela resulta, no fundamental, da liderança de
um processo que Magalhães Pinto descreve parcialmente na biografia intitulada “Belmiro – Criar relações tem dois sentidos – um para a vida material, outro para a vida mental. Na vida
História de uma Vida” (e digo parcialmente porque ela foi escrita em 1991). Entre 1984 e os dias material a expressão tem o seu sentido directo. Na vida mental significa criar cultura. A história
de hoje, o processo conduzido por Belmiro de Azevedo converteu uma pequena empresa não regista um grande triunfador material isolado, nem um grande triunfador mental inculto.
naquilo que hoje o Grupo Sonae representa, multiplicando o seu volume de negócios por mais Da simples “vontade” vivem só os pequenos comerciantes; da simples “inspiração” vivem só
de 400, os seus activos por mais de 500, empregando actualmente mais de 45.000 pessoas, os pequenos poetas. A lei é uma para todos.»
das quais cerca de 7.500 no estrangeiro, e marcando presença na Europa, na América e em
África. Foi e é um percurso notável, naturalmente com muitos avanços e recuos, neste caso Aqueles que conhecem Belmiro de Azevedo sabem com clareza o significado de trabalhar
com muito mais avanços do que recuos, felizmente para a economia do País. bem. Alguns acharão que leva longe demais a insistência naquilo em que acredita ou que não
altera suficientemente depressa algumas das suas opções. Naturalmente que o compromis-
Se alguma coisa a vida de Belmiro de Azevedo e a dimensão que o Grupo Sonae atingiu so a estabelecer em cada caso real é difícil de avaliar, mas o percurso do homenageado (quiçá
ilustram com clareza é o conceito de vencer. Mas, como ele próprio afirmou, (e passo a citar) duro para alguns daqueles que com ele trabalham) dá- lhe inteira razão.
«na vida real não há um sucesso completo que se consegue no dia tal. Os sucessos são con-
struídos ao longo dos dias, ao longo dos meses, são o somatório das pequenas coisas bem Vale a pena, a propósito do significado de trabalhar bem, citar de novo Pessoa (Revista, n.º 4):
feitas que vamos fazendo todos os dias.» ( citei Filipe Fernandes, “O Homem Sonae: A Gestão «Há três tipos de energia – a do trabalhador, a do homem activo e a do organizador.
Segundo Belmiro de Azevedo, 2.ª ed., 2008).
O trabalhador exerce regularmente um mister ou um cargo segundo as normas desse mesmo
Para nos ajudar a compreender que condições são necessárias para se vencer, socorrer-me- cargo ou mister. Corre numa calha indefinidamente e com grande utilidade social.
ei de um autor que, sendo raramente associado a temas relacionados com a gestão, as orga-
nizações ou o trabalho, teve uma intervenção com duas qualidades que me tocam particular- O homem activo nunca tem mister próprio; a simples actividade é indisciplinada por natureza.
mente: a de visionário e a de expressar os seus conceitos numa prosa de uma subtileza e de Exerce ele sempre um cargo ocasional e temporário, uma espécie de molde em que vasa
uma clareza fascinantes (verificá-lo-ão a partir das citações que incluirei ao longo da minha num momento a sua energia constante. Esse momento pode durar toda a vida; esse molde
intervenção, e que são retiradas de textos publicados em 1926 – sublinho 1926 – na Revista de pode nunca quebrar-se.
Comércio e Contabilidade). Refiro-me a Fernando Pessoa, cujos textos que citarei estão in-
cluídos no livro “Fernando Pessoa – O Comércio e Publicidade”, com Organização, Introdução O organizador trabalha pouco; faz só calhas e moldes.»
e Notas de António Mega Ferreira, 1986.
Neste sentido – e apenas neste – pode afirmar-se que Belmiro de Azevedo trabalha pouco…
ou que pouco significa o mesmo que bem.

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Sobre o aproveitamento de oportunidades, voltarei a Pessoa (Revista, n.º 6): tabilidade, é sermos instáveis. (…) É esta a nossa filosofia. (…) Mudar não só dentro do negócio
«Uma das palavras que mais maltratadas têm sido, no entendimento que há delas, é a palavra em Portugal, como também mudar de país, mudar de negócio.»
oportunidade. Julgam muitos que por oportunidade se entende um presente ou favor do
Destino, análogo a oferecerem-nos um bilhete que há-de ter a sorte grande. Algumas vezes Ainda sobre a importância que Belmiro de Azevedo atribui à criação de redes – quer exter-
assim é. Na vida quotidiana, porém, oportunidade não quer dizer isto, nem o aproveitar-se nas quer internas – e à valorização do conhecimento como base da cultura empresarial, e à
dela significa o simplesmente aceitá-la. Oportunidade, para o homem consciente e prático, difusão de ambos por aqueles que o rodeiam, recordarei seguidamente aquilo que foi referido
é aquele fenómeno exterior que pode ser transformado em consequências vantajosas por na revista The Economist, em 11 de Maio de 1996, num artigo apropriadamente intitulado “The
meio de um isolamento nele, pela inteligência, de certo elemento ou elementos, e a co- Portuguese professor”:
ordenação, pela vontade, da utilização desse ou desses. Tudo mais é herdar do tio brasileiro «Few bosses would admit that their success came from others’ ideas. However, (…) Mr de
ou não estar onde caiu a granada.» (ou, permitam-me que acrescente, com base na minha Azevedo has steered Sonae by studying new foreign ideas and applying them at home. He
experiência pessoal e numa versão menos épica, não estar onde caiu o bloco de cimento). makes a point of surrounding himself of cohorts of young MBAs (most of his top managers are
in their early 30s). As he says, with a faint smile, “It is as if I were the dean of a business school”.
Do ponto de vista do aproveitamento das oportunidades, o Grupo Sonae e a vida de Belmiro (…)
de Azevedo falam por si. Mas sobre esta questão e também sobre a necessidade de criação Acting as a sort of cultural arbitrager sounds easy. But Mr de Azevedo claims that it requires de-
de redes, associável nos dias de hoje e no contexto das organizações a uma visão sistémica tailed study. He imports ideas only after he has sat enough case studies to crease an American
da gestão, é interessante notar a forma como Belmiro de Azevedo materializa duas das suas MBA student’s chinos. For other business people events such as the World Economic Forum
ideias fortes de gestão: a de «bom-senso formado e informado» e a de heterodoxia. in Davos are an annual refreshing break; for Mr de Azevedo they are an annual necessity. Most
years he spends a few weeks at an American business school (…). Mr de Azevedo insists that
Relativamente à primeira, que traduz o culto do conhecimento (que inclui formação e infor- his managers take the same interest. He moves them around the different parts of Sonae as if
mação) e, simultaneamente, a defesa do bom-senso como ingredientes fundamentais da they were switching classes at the business school. Most are expected to brush up on organi-
gestão bem sucedida, afirmou Belmiro de Azevedo no texto denominado O Chefe, publicado sational theory at a real college too.»
em 2004 na revista Negócios (reproduzido por Filipe Fernandes no seu livro mencionado
anteriormente): Alguns dos colaboradores de Belmiro de Azevedo, descrito neste artigo como «an engineer
«O saber ouvir tem de ser complementado pelo saber informar-se. De facto, para o processo with an autocratic manner», terão alguma dificuldade em reconhecer na modéstia uma das
de formação da decisão é fundamental “ouvir” interlocutores distantes – a opinião de com- suas qualidades mais evidentes. Poderão até dizer que tive de recorrer a uma referência
pradores a dezenas de milhares de quilómetros de distância, as novas conquistas da ciência, internacional para a identificar. Ou que modéstia está por mim aqui a ser interpretada com
a evolução do mercado de câmbios, as decisões de políticos de pequenos e grandes países. o sentido que lhe atribuía uma colega neozelandesa de doutoramento, quando dizia, com
A capacidade de ler, de conversar em vários idiomas, de conhecer os meios de comunicação, graça, que apenas tinha três qualidades: «Beauty, intelligence and modesty». Mas de modéstia
e mesmo de manejar terminais de informação. Sem que tal capacidade exista, o processo de é essencialmente do que se trata no reconhecimento por Belmiro de Azevedo de que o seu
formação de decisão poderá ter graves lacunas, que serão eventualmente fatais no processo sucesso se deve a ideias de outros… O que não é verdade – porque, tão simplesmente, não
de implementação da decisão, conduzindo mesmo ao colapso de projectos e organizações. pode sê-lo.
E cheguei agora à questão do Bom-senso formado e informado, provavelmente o “instrumen-
to” que mais utilizei nos meus 20 anos de gestor. A capacidade de fazer as coisas de forma Esta questão de aplicar ideias de outros, conduz-me a uma outra, relativa à separação que,
simples e evidente não é, ao contrário do que se pensa, uma característica da maioria dos com muita frequência, se estabelece entre teoria e prática ou, se se quiser, entre teóricos e
gestores empresariais e muito menos dos gestores políticos. É preciso saber fazer as peque- práticos. Para dar um exemplo, citarei Filipe Fernandes, que, no início do seu livro já referido,
nas coisas com o mesmo estudo e dedicação com que se fariam as grandes coisas, para que, afirma:
quando chegar a altura das grandes decisões as poder tomar como se pequenas fossem.» «Belmiro de Azevedo é, provavelmente, o único empresário e gestor português que tem um
discurso sobre a gestão e a empresa. As suas reflexões não fazem dele um teórico (sublinho
Sobre a outra ideia forte na qual se fundamenta a sua gestão – a heterodoxia – disse Belmiro não fazem dele um teórico), mas transmitem a riqueza de uma reflexão prática (sublinho, por
de Azevedo no mesmo texto: oposição, uma reflexão prática) de gestor e de empresário, em que há erros e acertos, vitórias
«Sou heterodoxo e o grupo é motivado nesse sentido. Com ortodoxias não se vai a lado nen- e derrotas. Mas estes são apenas episódios que articulam uma história, porque mais impor-
hum, apenas se faz mais do mesmo. (…) Costumo dizer – e acredito nisso – que só funciono tantes são as ideias, os conceitos e as visões que sustentam, como o próprio costuma dizer,
bem no caos organizado. É preciso saber gerir o caos. Uma empresa, para ter criatividade e um track record feito da perspectiva de longo prazo, flexibilidade e empreendedorismo».
competitividade interna, tem de, permanentemente, ser capaz de gerir num certo ambiente E sobre a relação entre teoria e prática citarei, de novo, Fernando Pessoa (Revista, n.º 1):
de desordem. O que significa mudanças permanentes. A nossa maneira de estar, a nossa es- «Toda a teoria deve ser feita para poder ser posta em prática, e toda a prática deve obede-

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cer a uma teoria. Só os espíritos superficiais desligam a teoria da prática, não olhando a que «Em Portugal, prevalece uma atitude social de condenação do insucesso. Falhar é proibido,
a teoria não é senão uma teoria da prática, e a prática não é senão a prática de uma teoria. censurado, apontado como prova de incapacidade. Em geral, duvida-se da capacidade de
Quem não sabe nada de um assunto, e consegue alguma coisa nele por sorte ou acaso, um indivíduo se regenerar e corrigir erros. Conceder uma segunda oportunidade esbarra
chama “teórico” a quem sabe mais e, por igual acaso, consegue menos. Quem sabe, mas não com a sabedoria assente em “gato escaldado tem medo da água fria”. Ora, a falha, ou a mera
sabe aplicar – isto é, quem afinal não sabe, porque não saber aplicar é uma maneira de não probabilidade de falhar, não podem ser estigma ou uma espécie de lepra! Porque esta é
saber –, tem rancor a quem aplica por instinto, isto é, sem saber que realmente sabe. Mas, em uma mentalidade que inibe a assunção de riscos e desmotiva potenciais empreendedores,
ambos os casos, para o homem são de espírito e equilibrado de inteligência, há uma separa- tornando-os calculistas e renitentes (…). Inovar, propor mudanças, envolve riscos. E é por isso
ção abusiva. que o fracasso é um lugar-comum. Premiar o sucesso é fácil, mas não menos importante é
premiar um fracasso inteligente, um insucesso relativo.»
Na vida superior a teoria e a prática complementam-se. Foram feitas uma para a outra.»
Se, como Pessoa sublimemente estabelece, é abusiva a separação entre teoria e prática, tal Ou, noutra ocasião:
separação – perdoe-me o autor acima citado, Filipe Fernandes – ainda será menos apro- «Para se ser inovador é necessário ter uma atitude aberta e uma curiosidade permanente. E
priada no caso de Belmiro de Azevedo, que sustenta a gestão tanto numa base conceptual aqui também é válida a apetência para a delegação de conhecimento: quem partilha conheci-
– que, como todos nós, foi adquirindo com ideias próprias e, sobretudo, de outros – como na mento fica com espaço para adquirir mais conhecimento e cria ainda uma relação mais pes-
sua aplicação concreta – que constitui, por um lado, a inspiração e, por outro, o teste decisivo soal com o outro. É assim importante escolher os melhores pois, num cenário de Inovação, as
de qualquer teoria, em particular, relativa à gestão. E sempre com a preocupação de partilhar empresas devem ter competências distintivas para serem competitivas.»
tanto os conceitos como a sua aplicação com os seus colaboradores – seus “alunos”, muitos
dos quais hoje brilhantes gestores – a quem frequentemente conduz, com orgulho e como Na sua vida profissional, Belmiro de Azevedo não deixa de enfatizar a importância da emoção.
poucos o sabem fazer, até à total independência relativamente a si ou ao Grupo Sonae. Citarei de novo Fernando Pessoa, que, sobre este tema, afirma (Revista n.º 1):
«O homem supõe que é um animal racional. Pode ser que o seja e pode ser que o não seja: a
Para chegar onde chegou, Belmiro de Azevedo precisou de reunir um vasto conjunto de out- psicologia científica contesta a importância e a preponderância da razão na vida individual.
ras qualidades merecedoras de reflexão. Entre estas salientarei seguidamente a resiliência, o São, diz ela, os instintos, os hábitos e as emoções que verdadeiramente guiam o homem; a
empreendedorismo e a capacidade de inovação. razão não serve senão de interpretar para a vontade esses impulsos sub-racionais. Mas o
facto é que a própria circunstância de o homem se considerar um ente essencialmente racio-
Na vida de Belmiro de Azevedo muitas terão sido as situações em que – em resultado de erros nal faz com que, ainda de um modo indirecto, a razão assuma, na vida dele, uma importância
próprios ou de outrem – se lhe colocaram grandes momentos de adversidade ou mesmo de verdadeira. Ora um dos empregos abstractos da razão é o de formar preceitos, máximas, ou
insucesso. Não lhe teria sido possível resistir sem uma enorme resiliência ou, se se preferir, normas intelectuais para a condução, geral ou particular, da vida.
uma enorme capacidade de resistência ao choque. Alguns dos seus colaboradores mais
próximos descrevem-no, a este respeito, como uma materialização inexcedível do “Sempre Os preceitos são de três ordens: podemos chamar-lhes (1) preceitos morais, (2) preceitos
em pé”. Na manhã seguinte ao de um dia em que se tenha registado um desaire, lá está o racionais e (3) preceitos práticos. Os preceitos morais expõem o que devemos fazer para
nosso homenageado a analisar as razões do insucesso e a partir para a seguinte (eventual- ficarmos de bem com a nossa consciência. Os preceitos racionais expõem o que devemos
mente uma variante da mesma), em vez de adoptar uma posição de lamúria, bem mais co- fazer para ficarmos de bem com a nossa vida. Os preceitos práticos expõem o que devemos
mum entre nós, os portugueses. E o que está na base desta atitude é, do meu ponto de vista, fazer para ficarmos de bem com as nossas ambições.»
a coragem, pelo menos naquilo que sobre ela disse Harold Wilson: «Courage is the art of being
the only one who knows you’re scared to death». Só Belmiro de Azevedo saberá realmente Belmiro de Azevedo, que, num sentido coloquial, não se considera “sentimental” mas, isso
pelo que passou em muitas ocasiões… e não terá sido pouco. sim, “emotivo”, defende que a emoção é um elemento vital no seu estilo de gestão. Citando
Filipe Fernandes, no seu livro já referido, diz o elogiado:
Relativamente ao empreendedorismo – de que Belmiro de Azevedo constitui um caso exemplar «Na Sonae as decisões têm de ser fundamentadas na razoabilidade e na racionalidade. Mas
– todos lhe associamos um conjunto de atitudes e competências ligadas ao gosto pela concret- eu não quero ser um empresário que não usa a emoção e que não (…) [deixa] para (…) [si]
ização, à inovação (entendida como a conversão de conhecimento em valor económico ou mesmo a capacidade de fazer coisas nas quais (…) [acredita, gosta ou entende] que prestam
social), à aceitação de riscos calculados, à tolerância ao erro, à aprendizagem com a experiência, um serviço à colectividade.»
à partilha do conhecimento, à procura de excelência e à responsabilização.
Nesta confissão, o homenageado não revela nada de anormal, errado ou transcendente.
Sobre este tema, disse o homenageado (citado por Filipe Fernandes, no seu livro anterior- Deve, no entanto, referir-se que, a seu favor, joga o facto de reconhecer o papel da emoção na
mente referido): construção dos seus processos de decisão. A este respeito, e em reforço da citação anterior

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de Fernando Pessoa (que data de 1926, volto a sublinhar), gostaria de fazer uma referência à Belmiro de Azevedo representa uma figura de excepção entre os seus concidadãos e, em
obra de António Damásio. No seu já clássico “O Erro de Descartes”, com 1.ª edição de 1995, diz geral, no mundo; tanto pelo conjunto de qualidades que reúne como pela obra que tais quali-
este grande nome da neurologia mundial: dades lhe permitiram concretizar. Bem haja, Senhor Engenheiro, por aquilo que é e por tudo
«Conhecer a relevância das emoções nos processos de raciocínio não significa que a razão aquilo que construiu.
seja menos importante do que as emoções, que deva ser relegada para segundo plano ou
deva ser menos cultivada. Pelo contrário, ao verificarmos a função alargada das emoções, é Muito obrigado.
possível realçar os seus efeitos positivos e reduzir o seu potencial negativo. Em particular, sem
diminuir o valor da orientação das emoções normais, é natural que se queira proteger a razão
da fraqueza que as emoções anormais ou a manipulação das emoções normais podem pro-
vocar no processo de planeamento e decisão.

Não creio que o conhecimento das emoções nos torne menos interessados na verificação
empírica. Pelo contrário, o maior conhecimento da fisiologia da emoção e da sensação pode
tornar-nos mais conscientes das armadilhas da observação científica. A formulação por mim
apresentada não diminui a nossa determinação em controlar as circunstâncias externas
em proveito dos indivíduos e da sociedade, ou a nossa vontade de desenvolver, inventar ou
aperfeiçoar os instrumentos culturais com que podemos melhorar o mundo: a ética, o direito,
a arte, a ciência, a tecnologia.»

Antes de finalizar, farei referência a três papéis que Belmiro de Azevedo vem desempenhando
ao longo de anos e nos quais tive o privilégio de participar:
a sua ligação à Universidade do Porto na modernização do ensino da Gestão – sucessiva-
mente no contexto do Instituto Superior de Estudos Empresariais, na EGP - Escola de Gestão
do Porto e na EGP - University of Porto Business School;
a sua intervenção como dirigente da COTEC - Associação Empresarial para a Inovação; e
a sua acção como mecenas da cultura, no âmbito da Casa da Música, e também na Fundação
de Serralves onde teve uma intervenção directa como Administrador.

Trata-se de ligações onde emoção e razão se cruzaram (e cruzam) com visão e determina-
ção – de forma evidente para todos quantos servimos tais instituições – na prossecução de
causas tão necessárias no contexto da sociedade portuguesa.

Terminarei a minha intervenção com a certeza de que muito daquilo que devia ser dito para
homenagear Belmiro de Azevedo ficou por dizer. Mas também com a consciência de que tal
se deve mais à minha incapacidade do que à minha vontade, tal a admiração e o respeito que
tenho pela figura do homenageado. O erro é, evidentemente, meu… ou talvez não, de acordo
com Fernando Pessoa, que citarei pela última vez (Revista n.º 1):
«É do pior gosto, e do pior efeito, desculpar-se um chefe com um “erro de um empregado”.
Não há erros de empregados. Todo o erro dum empregado é apenas o erro de ter emprega-
dos que fazem erros.»

Neste caso, o empregado é quem se vos dirige. E o chefe é o Director da Faculdade de Engen-
haria, sobre quem recaiu a decisão de o escolher para desempenhar esta função mas que,
diga-se em abono da verdade, não se desculpou e, portanto, nada fez “do pior gosto” ou do
“pior efeito” (pelo menos, ainda…).

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SONAE 50 ANOS À FRENTE.

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