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Licenciatura em Biorrecursos

Produção de Bioetanol a partir das Borras de


Café: Pré-tratamento, Hidrólise e Fermentação

Relatório da Disciplina de Laboratório VI

Vitor M. Nogueira, 1161394@isep.ipp.pt


Christoph Zeckel, 1161610@isep.ipp.pt
Ivan Teixeira, 1161029@isep.ipp.pt
Ricardo Pinto, 1160946@isep.ipp.pt

Departamento de Engenharia Química

Professor Supervisor: Nídia de Sá Caetano e Sónia Adriana Figueiredo

25 de Abril de 2018

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Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação
Resumo
O presente estudo tem como objetivo realizar a produção de bioetanol através dos
processos de pré-tratamento, hidrólise e fermentação da borra de café e, avaliar o efeito de
três diferentes reagentes no pré-tratamento da mesma, nomeadamente o ácido sulfúrico,
ácido acético e água, relativamente à quantidade de glucose disponível para a fermentação
após a aplicação destes reagentes no pré-tratamento. A borra de café foi caracterizada quanto
à humidade (63,2 %), teor de cinzas (1,59 %), outros grupos obtiveram valores de matéria
gorda (12,62 %), celulose bruta (20,72 %) e proteínas (24,80 %) para grãos com humidade ≈
8%. O rendimento de etanol obtido utilizando como reagente no pré-tratamento o ácido
sulfúrico, ácido acético e água foi de 7,55 %, 4,77 % e 3,90 % (m etanol/m café moído),
respetivamente.

Palavras-chave: Biotecnologia, valorização de resíduos, bioetanol, fermentação anaeróbica,


borra de café.

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Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

Índice
Lista de Figuras ................................................................................................................ iii

Lista de Tabelas................................................................................................................ iii

Nomenclatura.................................................................................................................... v

1. Introdução ..................................................................................................................... 1

1.1. Biocombustíveis ..................................................................................................... 1

1.2. Borra de Café ......................................................................................................... 2

1.3. Bioetanol ................................................................................................................ 2

1.4. Produção de bioetanol ........................................................................................... 3

1.4.1 Pré-tratamento ................................................................................................. 3


1.4.2. Hidrólise ........................................................................................................... 3
1.4.3. Fermentação ................................................................................................... 4
1.4.4. Quantificação do etanol .................................................................................. 4
2. Descrição Experimental ................................................................................................ 1

2.1. Caracterização da borra de café ........................................................................... 1

2.1.1. Teor de humidade ........................................................................................... 1


2.1.2. Teor de cinzas ................................................................................................. 2
2.2. Pré-tratamento ....................................................................................................... 3

2.3. Quantificação de açúcares – Refratometria .......................................................... 4

2.4. Fermentação .......................................................................................................... 6

2.5. Quantificação do etanol ......................................................................................... 7

3. Planeamento ................................................................................................................. 9

4. Resultados e Discussão ............................................................................................. 11

4.1. Caracterização da borra de café ......................................................................... 11

4.2. Quantificação de açúcares .................................................................................. 11

5. Conclusões ................................................................................................................. 15

6. Sugestões ................................................................................................................... 15

Referências ..................................................................................................................... 16

Anexo A........................................................................................................................... 17

Anexo B........................................................................................................................... 20

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Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

Lista de Figuras

Figura 1. Curva de calibração da concentração de açúcares totais em Brix° em função da


glucose com leituras corrigidas para 20 ºC. ............................................................................ 10
Figura 2. Correlação entre índice de refração e concentração de etanol............................... 12
Figura B.3.1. Correção de leituras ºBrix em função de temperaturas de banho superiores a 20
ºC .............................................................................................................................................. 30

Lista de Tabelas

Tabela 1. Composição do resíduo de café.. .............................................................................. 2

Tabela 2. Caracterização da borra de café em termos de teor de humidade, teor de cinzas,

teor de matéria gorda, teor de celulose bruta e teor de proteínas .......................................... 12

Tabela 3. Massa média de açúcar para os 3 reagentes utilizados no pré-tratamento, antes

da fermentação (D0), após 4 dias de fermentação (D4) e no final da fermentação (D7),

através do método de refratometria e rendimento mássico de açúcar ................................... 18

Tabela A.1. Valores das massas medidas para a determinação do teor de cinzas da borra de

café ........................................................................................................................................... 25

Tabela A.2. Valores das massas medidas para a determinação da humidade da borra de

café ........................................................................................................................................... 25

Tabela A.3. Massa de borra de café utilizada no pré-tratamento e respetivo volume da

amostra após ajustamento do pH ............................................................................................ 25

Tabela A.4. Valores do °Brix para os ácidos utilizados no pré-tratamento da borra de café

para efeitos de correção do °Brix das amostras ..................................................................... 25

Tabela A.5. Leituras do °Brix realizadas à 21,5 °C antes da fermentação (D0) e as suas

correções feitas à acidez e à temperatura de 20 °C ............................................................... 25

Tabela A.6. Leituras do °Brix realizadas à 23,7 °C durante a fermentação (D4) e as suas

correções feitas à acidez e à temperatura de 20 °C ............................................................... 26

iii
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

Tabela A.7. Leituras do °Brix realizadas à 21,8 °C após a fermentação (D7) e as suas

correções feitas à acidez e à temperatura de 20 °C ............................................................... 26

Tabela A.8. Leituras do índice de refração (I.R.) do etanol obtido por destilação, fração

mássica obtida através da curva de calibração, e massa de etanol calculada... ................... 27

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Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

Nomenclatura

% m/m - Percentagem massa por massa


% v/v – Percentagem volume por volume
𝐶𝑔𝑙𝑢𝑐𝑜𝑠𝑒 - Concentração de glucose (g/L)

CH3COOH – Ácido acético


𝐶𝑂2 – Dióxido de carbono
F – Fator de correção
H – Teor de humidade (%)
H2O – Água
H2SO4 – Ácido sulfúrico
hPa – Hectopascal
g - Grama
mf – Massa do cadinho + amostra final (g)
mi – Massa do cadinho + amostra inicial (g)
min – minutos
mL – mililitro
mv – Massa do cadinho vazio (g)
NaOH – Hidróxido de sódio
rpm – Rotações por minuto
T.C – Teor de cinzas

Introdução v
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

1. Introdução

Combustíveis fósseis têm um papel importante no sistema de energia mundial. A


energia fóssil foi um fator fundamental para a Revolução Industrial e para o progresso de
desenvolvimento tecnológico, social e económico que daí sucedeu. A energia desempenhou
um papel fortemente positivo na mudança global.
Entretanto, os combustíveis fósseis também têm impactos negativos, sendo a principal
fonte de poluição atmosférica local, emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de
efeito estufa. A emissão de gases poluentes como COx, NOx, SOx, CxHx, cinzas, entre outros
compostos orgânicos, como resultado da combustão de combustíveis fósseis, é um dos
principais fatores que contribui para as alterações climáticas (Das, 2001).
Desta maneira, cooperações internacionais têm ocorrido de forma a incentivar os países
a cumprir a meta de redução global da quantidade de gás de efeito estufa emitidos para a
atmosfera. É neste sentido que os biocombustíveis passam a ser uma alternativa como parte
da tendência global de diminuição de utilização de energias não renováveis, guiado pela
necessidade de controlar as emissões de CO2 para a atmosfera.

1.1. Biocombustíveis
Biocombustível é o combustível líquido ou gasoso produzido a partir de biomassa, a
qual vem a ser a fração biodegradável de produtos e resíduos provenientes da agricultura,
tanto de origem vegetal como animal, da silvicultura, assim como a fração biodegradável dos
resíduos industriais e urbanos (EEA - European Environment Agency, 2016).
Os biocombustíveis podem ser divididos em três grupos, consoante as matérias primas
das quais são obtidos. Denomina-se por biocombustível de primeira geração, o
biocombustível que é produzido a partir da fermentação de hidratos de carbono sólidos
nomeadamente, amido de milho, açúcar de beterraba ou de cana, óleos vegetais e sementes.
Os biocombustíveis de segunda geração são produzidos a partir de biomassa lenhocelulósica,
como os resíduos de madeira e os restos orgânicos dos resíduos urbanos, este por ser obtido
tanto através da queima direta, como também pela fermentação. Os combustíveis de terceira
geração são obtidos através de novas tecnologias que utilizam algas (Gomes, 2016).
Neste trabalho, é abordado a produção de apenas um biocombustível, de segunda
geração, produzido a partir da borra de café, o bioetanol.

Introdução 1
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

1.2. Borra de Café


A borra de café é um dos principais resíduos gerado pela indústria do café
mundialmente. Este resíduo é gerado na produção de café, através do contacto de água
quente pressurizada para a extração de materiais solúveis. Estima-se que para cada tonelada
de café verde processado e para cada quilo de café solúvel produzido, são gerados 650 kg e
2 kg de borra de café, respetivamente (Murthy & Naidu, 2012)
Atualmente, as principais aplicações da borra de café são na fertilização e alimentação
animal. Embora haja diversos estudos acerca da valorização da borra café como a extração
de açúcares, compostagem, produção de antioxidantes, produção de biocombustíveis, pouco
tem sido implementado (Gomes, 2016).
A borra de café é constituída maioritariamente por hidratos de carbono (Tabela 1), mais
especificamente polissacarídeos, os quais são formados a partir da polimerização de
monossacarídeos. Estes monossacarídeos, açúcares mais simples, como a glucose,
galactose, xilose e arabinose, podem ser obtidos através da quebra das ligações glicosídicas
de polissacarídeos ou dissacarídeos como a sacarose, através de uma hidrólise ácida ou
enzimática (Gomes, 2016).
Essa riqueza de açúcares de outros compostos presentes na borra de café é promissora
na obtenção de outros produtos, como o bioetanol, através da sua fermentação, o que oferece
um caminho viável para a sua valorização, acrescentando valor ao resíduo e diminuindo os
impactos ambientais causados pela sua eliminação ao ambiente.

Tabela 1. Composição do resíduo de café (Gomes, 2016).


Constituinte Quantidade (%)
Polissacarídeo 65,9
Óleo de café 11 – 20
Ácidos clorogénicos 0,212 - 0,766
Proteínas ~ 15
Cafeína ~ 0,0225

1.3. Bioetanol
O bioetanol surge a partir do interesse dos países em criar alternativas que conduzam
à substituição da gasolina por biocombustíveis, assim como pela preocupação em reduzir a
emissão dos gases de efeito estufa provenientes da produção de combustíveis fósseis, como
a gasolina (Gomes, 2016).
Comparativamente à gasolina, o bioetanol possui um índice de octano superior e um
maior calor de vaporização, o que leva a uma maior taxa de compressão e um menor tempo
de queima, sendo assim mais eficiente quando utilizado em motores de combustão interna

Introdução 2
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

(Balat, 2008). O etanol, por ser um combustível oxigenado, além de ser um fator que também
contribui para a eficiência da combustão, gera uma diminuição da emissão de partículas para
a atmosfera e consequentemente uma redução dos gases de efeito estufa (Demirbas, 2009).
O bioetanol produzido através da fermentação de produtos compostos por açúcares
simples (cana-de-açúcar, beterraba, sorgo, soro de leite e melaço) e por amido (milho, trigo,
tubérculos) são denominados de bioetanol de primeira geração. Estes produtos são
pertencentes à cadeia alimentar, cuja escala industrial, pode conferir impactos na
biodiversidade, aumento da desflorestação, competição com a alimentação humana e
consequente aumento do preço dos produtos alimentares (IEA – International Energy Agency,
2008).
Portanto, o uso de biomassa lenhocelulósica (madeira, palha, resíduos agrícolas) para
a produção de bioetanol através da fermentação, denominados de bioetanol de segunda
geração, pode ser uma alternativa sustentável para suprir os impactos negativos supracitados.

1.4. Produção de bioetanol


Neste estudo, o processo de produção de bioetanol deu-se nas seguintes etapas: Pré-
tratamento, hidrólise, fermentação e quantificação do etanol.

1.4.1 Pré-tratamento
Este consiste em quebrar a estrutura da lenhina, material que envolve os materiais
lenhocelulósicos, agindo como uma barreira natural. A quebra da lenhina reduz a
cristalinidade da celulose, aumentando a área superficial e acessibilidade das enzimas na
hidrólise realizada posteriormente.
Os pré-tratamentos podem ser físicos, químicos, biológicos e físico-químicos. Neste
estudo, foi realizado o pré-tratamento ácido, com dois ácidos diferentes e água, de forma a
comparar as suas funcionalidades ao longo da produção do bioetanol. A aplicação do pré-
tratamento com ácido diluído origina a solubilização dos açúcares da hemicelulose, separando
a biomassa numa fração líquida, na qual as pentoses estão contidas, da fração sólida
composta por lenhina e celulose (Mussatto, 2010).

1.4.2. Hidrólise
A hidrólise da biomassa lenhocelulósica tem como objetivo quebrar as cadeias da
celulose e hemicelulose para originar açúcares mais simples, de maneira a serem
fermentados posteriormente, ela pode ser realizada pela via química ou enzimática.
Neste estudo, foi realizada a hidrólise enzimática. O uso de enzimas na hidrólise
enzimática acelera certas reações químicas, através da diminuição da energia de ativação.
Introdução 3
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

As celulases têm um funcionamento ótimo quando submetidas a temperatura entre os 40 e


50 ° C e em pH na entre os 4 e 5. De maneira a aumentar a transferência de massa e calor
durante a reação da enzima e substrato, recorre-se à agitação do meio, cuja velocidade
adequada é 150 rpm (Furlan, 2009).

1.4.3. Fermentação
A fermentação é um processo bioquímico no qual microrganismos consomem
açúcares e os metaboliza a etanol e CO2 . Os açúcares são primeiramente convertidos em
piruvato, que sofre uma descarboxilação reduzindo o acetaldeído a etanol.
Açúcares como glucose, xilose, manose, galactose, arabinose, entre outros, são
originados a partir da biomassa lenhocelulósica através da hidrólise realizada previamente,
desta forma, é necessário escolher microrganismos que fermentem estes açúcares de forma
eficiente (Gomes, 2016).
Neste estudo, o microrganismo utilizado para a fermentação da borra de café
hidrolisada foi a Sacchromyces cerevisiae.
A temperatura ótima para a fermentação destes açúcares utilizando este
microrganismo encontra-se na faixa de 26 a 35 ºC. Temperaturas abaixo desta gama
promovem uma fermentação mais lenta e, temperaturas acima deste intervalo, além de se
aumentar a suscetibilidade de toxicidade da levedura ao etanol favorecendo o risco de
contaminação, promove-se também a evaporação do etanol (Furlan, 2009).
Observa-se também que fermentações realizadas em meio ácido, decorrendo em
uma gama de pH de 4 a 5, proporcionam melhor rendimento em etanol, uma vez que se
retarda o crescimento das leveduras e se restringem contaminações (Furlan, 2009).

1.4.4. Quantificação do etanol


Após a fermentação, procede-se a recuperação do etanol, de forma a quantificar o
volume de etanol produzido, podendo assim ser determinado o rendimento da fermentação e
a eficiência de cada reagente utilizado no pré-tratamento da borra de café. Para isso, pode
ser utilizado um evaporador rotativo para a evaporação e separação do etanol. Este
equipamento possui um banho-maria como fonte de aquecimento e um sistema de agitação
rotacional, ambos com controlo analógico. O controlo analógico do evaporador rotativo
permite definir as condições (pressão, temperatura e velocidade de rotação) ótimas para que
o etanol recuperado apresente o maior grau de pureza possível.

No capítulo seguinte encontram-se escritos os diversos materiais, reagentes e


procedimentos experimentais utilizados neste trabalho.
Introdução 4
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

2. Descrição Experimental

Neste capítulo é feita a descrição do procedimento experimental realizado para a


caraterização da borra de café, o seu pré-tratamento e os métodos utilizados para
quantificação de açúcar e de etanol.

2.1. Caracterização da borra de café


Para a caracterização da borra de café foram analisados os parâmetros de teor de
humidade e teor de cinzas. Para fins de apresentação dos resultados, foram também
apresentadas as caracterizações feitas por outros grupos, nomeadamente o teor de matéria
gorda, teor de celulose bruta e teor de proteínas, disponíveis na Tabela 2.

2.1.1. Teor de humidade


O teor de humidade foi determinado através de secagem da borra de café em estufa
à uma temperatura de 105 ºC. Deste modo, a água presente na amostra vaporiza, permitindo
realizar o cálculo do teor de humidade através da diferença de massa da amostra antes e
após secagem.

Reagentes:
- Borra de café

Material:
- Cadinho de porcelana
- Estufa à 105 ºC
- Balança analítica

Procedimento:
- Colocou-se o cadinho seco na balança analítica e registou-se a sua massa
- Colocou-se 1 g de borra de café no cadinho e registou-se a massa
- Colocou-se o cadinho com borra de café na estufa a 105 ºC
- Mediu-se regularmente a massa do cadinho com borra de café após duas horas em estufa,
e voltou-se a colocar na estufa, até atingir massa constante
- Registou-se a massa final
O teor de humidade é calculado a partir da Equação 1:

Descrição Experimental 6
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

mi −mf
Humidade (%) = × 100 (Equação 1)
mi −mv

Em que:
mv – massa do cadinho vazio (g)
mi – massa do cadinho + amostra inicial (g)
mf – massa do cadinho + amostra final (g)

2.1.2. Teor de cinzas


O teor de cinzas da borra de café corresponde à percentagem de massa resultante
da sua calcinação. Este foi determinado de acordo com o procedimento a seguir descrito.

Reagentes:
- Borra de café

Material:
- Cadinho de porcelana
- Mufla
- Balança analítica
- Exsicador

Procedimento:
- Colocou-se o cadinho de porcelana na mufla à 550 ºC e posterior arrefecimento no exsicador.
- Após a sua calcinação, pesou-se o cadinho de porcelana.
- Colocou-se cerca de 5 g de amostra seca de borra de café no cadinho.
- Calcinou-se mufla durante 2 horas à 550 ºC
- Retirou-se o cadinho da mufla e colocou-se no exsicador. Deixou-se a arrefecer durante 30
minutos.
- Pesou-se o cadinho com a amostra na balança analítica.

O teor de cinzas é calculado a partir da Equação 2:

mf −mv
Teor de cinzas (%) = mi −mv
× 100 (Equação 2)

Descrição Experimental 6
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

Em que:
mv – massa do cadinho vazio (g)
mi – massa do cadinho + amostra inicial (g)
mf – massa do cadinho + amostra final (g)

2.2. Pré-tratamento
Com o objetivo de quebrar os polímeros da lenhina, de modo a aumentar a
acessibilidade das enzimas para a realização da hidrólise e obtenção de açúcares, foi
realizado um pré-tratamento ácido da borra de café. Para avaliar o rendimento da produção
de açúcares com uso de pré-tratamento foram realizados também ensaios com uso de água
em vez de ácido. O pré-tratamento foi realizado de acordo com o procedimento a seguir
descrito.

Reagentes:
- Borra de café
- Água desionizada (H2O)
- Ácido acético (CH3COOH) 5 % (v/v)
- Ácido sulfúrico (H2SO4) 5 % (v/v)

Material:
- Matrazes
- Banho termostático

Procedimento:
- Pesou-se cerca de 10 g de borra de café para 9 matrazes (3 para hidrólise com H2SO4, 3
para hidrólise com CH3COOH e 3 com H2O).
- Adicionou-se 200 mL da respetiva solução para cada matraz.
- Agitaram-se as misturas e taparam-se os matrazes.
- Colocaram-se os 9 matrazes num banho termostático a 85 ºC. durante 4 dias.

2.3. Hidrólise enzimática

Para que a as enzimas atuem de modo mais eficiente, o pH das soluções após pré-tratamento
foi ajustado para o valor de 5 (pH ótimo para as enzimas utilizadas). Foram adicionados em
cada ensaio 1 mL de complexo enzimático Accelerase® e colocou-se num banho termostático.

Descrição Experimental 6
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

No final da hidrólise filtraram-se as soluções. A hidrólise enzimática foi realizada de acordo


com o procedimento a seguir descrito.

Reagentes:
- Hidróxido de sódio (NaOH)
- Accelerase®
- Soluções de borra de café após pré-tratamento

Material:
- Frascos de vidro
- Medidor de pH
- Agitador magnético
- Banho termostático
- Filtrador a vácuo
- Matrazes

Procedimento:
- Transferiram-se as soluções de cada matraz para frascos de vidro respetivos.
- Ajustou-se o pH de cada ensaio para um valor próximo de 5, adicionando NaOH e lendo
simultaneamente no medidor de pH, num agitador magnético.
- Após ajuste de pH e estabilização da temperatura, foram adicionados 0,5 mL de Accelerase®
em cada ensaio, com posterior agitação.
- Colocou-se cada ensaio num banho termostatizado a uma temperatura de 50 ºC durante 3
dias.
- Após a hidrólise, foi realizada filtração a vácuo para cada ensaio, sendo cada filtrado
colocado em respetivos matrazes.
- Colocaram-se as amostras no frigorífico após a filtração.

2.4. Quantificação de açúcares – Refratometria


A refração consiste na alteração da direção de um feixe de luz ao trocar de um meio
para outro. Este valor de índice de refração pode ser medido em escala °Brix. A medida em
escala °Brix permite determinar a quantidade de sólidos solúveis numa certa amostra, sendo
usado para estimar a quantidade de açúcares totais.
Neste trabalho foi realizado um método direto de leitura dos índices de refração das
soluções num refratómetro de Abbe. Foram feitas correções das leituras de índice de refração

Descrição Experimental 6
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

para os 20 ºC, uma vez que a temperatura variou entre leituras. Recorrendo à curva de
calibração representada na Figura 1, foi realizado o cálculo da concentração de celulose.

Figura 1. Curva de calibração da concentração de açúcares totais em °Brix em função da glucose com
leituras corrigidas para 20 ºC (Gomes, 2016).

O procedimento para a determinação de concentração de açúcares totais através da técnica


de refratometria encontra-se a seguir descrito.

Reagentes:
- Soluções de borra de café após pré-tratamento e hidrólise enzimática.
- Álcool etílico comercial

Material:
- Refratómetro de Abbe
- Algodão
- Pipeta de Pasteur

Procedimento:
- Retiraram-se as amostras do frigorífico, sendo de seguida agitadas para homogeneização.
- Ligou-se o refratómetro e anotou-se a temperatura antes da realização de medições.
- Limpou-se a superfície dos prismas com etanol e algodão e esperou-se até evaporar.
- Usando uma pipeta de Pasteur colocou-se uma gota de amostra sobre a superfície do prisma
do refratómetro.
- Ao observar através da ocular, focou-se de forma a tornar a imagem nítida e ajustou-se a
linha que separa as zonas clara e escura com as cruzes do ecrã.
- Leu-se o índice de refração de cada ensaio em °Brix. Corrigiram-se as leituras à acidez e
para temperatura de 20 ºC.
- Colocaram-se as amostras no frigorífico de novo após as leituras.
Descrição Experimental 6
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

- Determinaram-se as concentrações de açúcar recorrendo à curva de calibração.

2.5. Fermentação
Depois das leituras dos índices de refração das soluções após hidrólise para
quantificação de açúcar, seguiu-se a fase de fermentação dos açúcares para etanol. Foram
adicionados aproximadamente 2,5 g de fermento de padeiro (Saccharomyces cerevisiae) em
cada ensaio, ficando a fermentar durante 1 semana em banho termostático à 37 ºC.
Ao longo da fermentação foram realizadas medições do índice de refração das soluções
para monitorizar a esperada diminuição do teor de açúcares devido a conversão em etanol.
A fermentação foi realizada de acordo com o procedimento seguinte, sendo que as
medições dos índices de refração em °Brix foram feitas de maneira semelhante à descrita
anteriormente para a quantificação de açúcares após hidrólise.

Reagentes:
- Fermento de padeiro (Saccharomyces cerevisiae)
- Soluções de borra de café após pré-tratamento e hidrólise enzimática
- Álcool etílico comercial

Materiais:
- Balança digital
- Vidro de relógio
- Espátula
- Banho termostático a 37 ºC
- Refratómetro de Abbe
- Algodão
- Pipeta de Pasteur

Procedimento:
- Retiraram-se os matrazes com as soluções em estudo do frigorífico
- Colocou-se um vidro de relógio na balança digital e tarou-se, sendo pesados
aproximadamente 2,5 g de fermento de padeiro usando uma espátula.
- Transferiu-se a massa pesada de fermento de padeiro para a solução de borra após
tratamento e hidrólise enzimática e repetiu-se para as restantes.
- Após agitação para homogeneização, os matrazes com levedura foram colocados a
fermentar em banho termostático a 37 ºC durante 1 semana.

Descrição Experimental 6
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

- Mediram-se os índices de refração das soluções ao longo da fermentação de acordo com o


procedimento para quantificação dos açúcares após hidrólise.
- Colocaram-se os matrazes de volta no frigorífico.

2.6. Quantificação do etanol


Neste estudo, uma vez que a quantidade de etanol recuperada era relativamente
baixa, a solução evaporada continha outros componentes, como água e outros reagentes
utilizados no pré-tratamento da borra de café. Portanto, para a quantificação do etanol,
recorreu-se ao método refratométrico, onde se mede o índice de refração das amostras e
através da curva de calibração do etanol, determina-se a quantidade de etanol presente nas
soluções.
Após a fermentação, foi feita a quantificação do etanol produzido. Primeiramente, o
etanol nas soluções após fermentação foi destilado usando um rotavapor. Foram medidas as
massas dos matrazes com tampa de rosca antes e após a colocação do etanol resultante da
destilação. Foram medidos os índices de refração de cada solução de etanol e, através de
uma curva de calibração do índice de refração em função da fração mássica da solução de
etanol, foram determinadas as frações mássicas. A curva de calibração encontra-se
representada na Figura 2.

Figura 2. Correlação entre índice de refração e concentração de etanol

Usando os valores da massa de etanol destilado para cada solução e de fração mássica
das soluções de etanol foram obtidas as massas finais de etanol, sendo possível determinar
o rendimento.
O procedimento para a quantificação de etanol foi realizado como se encontra a seguir
descrito:

Reagentes:
- Soluções de borra de café após fermentação

Descrição Experimental 6
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

- Soluções de etanol resultantes da destilação


- Álcool etílico comercial

Material:
- Rotavapor
- Balões de fundo redondo
- Matrazes com tampa de rosca
- Balança analítica
- Refratómetro de Abbe
- Algodão
- Pipeta de Pasteur

Procedimento:
- Retiraram-se os matrazes com as soluções após fermentação do frigorífico.
- Transferiram-se as soluções para balões de fundo redondo, onde foram colocados a destilar
no rotavapor a 60 ºC e 175 hPa.
- Enquanto decorria a destilação foram medidas as massas dos matrazes com tampa de rosca
numa balança analítica.
- Transferiu-se a solução de etanol destilado para o respetivo matraz com tampa de rosca e
mediu-se a massa total numa balança analítica.
- Após todas as soluções terem sido destiladas foram medidos os índices de refração de todas
as soluções de etanol num refratómetro de Abbe.
- Através da curva de calibração de índice de refração vs fração mássica de etanol foram
determinadas as frações mássicas de etanol em cada solução de etanol obtida após
destilação.
- Usando os valores das massas de etanol destilado e a respetiva fração mássica foi
determinado a massa final de etanol, e calculado o rendimento comparativamente a massa
inicial de borra de café utilizada.

Descrição Experimental 6
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

3. Planeamento

De maneira a caracterizar e obter maiores informações sobre o processo de produção


do bioetanol a partir da borra de café, o presente estudo desdobrou-se em quatro objetivos
ao longo de todo o processo:
1) Caracterizar a borra de café quanto ao seu teor de humidade e teor de cinzas.
2) Quantificação dos açúcares previamente à fermentação, de forma a analisar a
eficácia dos reagentes utilizados no pré-tratamento.
3) Quantificação dos açúcares ao longo e no final do processo de fermentação, de
forma a analisar a evolução da concentração de açúcares para cada tipo de reagente
utilizado no pré-tratamento.
4) Quantificação do etanol e determinação do seu rendimento.

O planeamento do trabalho experimental foi dividido por etapas, cujas atividades foram
definidas semanalmente, como indicado abaixo.

1ª semana:
• Realizou-se as caracterizações da borra de café, nomeadamente o teor de
humidade e o teor de cinzas.
• Preparou-se as soluções dos reagentes utilizados no pré-tratamento da borra de

café, nomeadamente de ácido sulfúrico, ácido acético e água, as soluções ácidas

foram preparadas em concentrações a 5 % (v/v).

2ª semana:
• Definiu-se as condições do pré-tratamento e deu-se início ao mesmo.

3ª semana:
• Definiu-se as condições da hidrólise e deu-se início a mesma.

4ª semana:
• Filtrou-se as amostras hidrolisadas e realizou-se as leituras do °Brix de cada

amostra, de maneira a conhecer a concentração de açúcares nas amostras antes

de serem fermentadas.

5ª semana:
• Definiu-se as condições da fermentação e deu-se início a mesma.

Descrição Experimental 6
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

• Após 4 dias do início da fermentação, coletou-se amostras e realizou-se as

leituras do °Brix de cada uma, de forma a conhecer a concentração de açúcares

nas amostras e assim analisar a evolução ao longo da fermentação.

6ª semana:
• Deu-se fim à fermentação e realizou-se as leituras do °Brix.

7ª e 8ª semana:
• Realizou-se a separação do etanol das amostras fermentadas utilizando um
evaporador rotativo.
• Realizou-se a leitura do índice de refração das amostras de etanol evaporado
para quantificá-lo e avaliar o rendimento.

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Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

4. Resultados e Discussão

4.1. Caracterização da borra de café


Os valores experimentais obtidos na determinação do teor de humidade e do teor de
cinzas se encontram apresentados em anexo na Tabela A.1 e A.2, respetivamente.
O teor de humidade e o teor de cinzas da borra de café, assim como outras
caracterizações feitas por outros grupos, como o teor de matéria gorda, teor de celulose bruta
e teor de proteínas estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 – Caracterização da borra de café em termos de teor de humidade, teor de cinzas, teor de matéria gorda, teor de
celulose bruta e teor de proteínas.
Humidade Teor de cinzas** Matéria gorda* Celulose bruta* Proteínas*
63,2 % 1,59 % 12,62 % 20,72 % 25,25 %
*Caracterizações feitas por outros grupos utilizando borra de café com teor de humidade de ≈8%.
**% em base seca

Visto que neste trabalho o teor de humidade foi determinado usando borra de café
retirada diretamente do saco após recolha na loja, sem ficar a secar ao ar e à temperatura
ambiente antes de se realizar a caracterização, foi obtido um valor muito superior de humidade
(63,2 %) que os restantes grupos (≈ 8 %). Comparando com a literatura, verifica-se que a
humidade varia entre uma diversa gama de valores ( entre 8,10 e 63,00%), sendo dependente
das condições em que se encontra a borra de café antes da medição do teor de humidade
(Gomes, 2016). Deste modo, o valor obtido de 63,2 % é aceitável.
Um método mais apropriado para caracterização da borra de café, seria fazer a
caracterização da borra seca (0% teor de humidade), sendo que desse modo seria mais fácil
fazer a comparação quantitativa dos diferentes parâmetros, pois os seus teores (em %) estão
dependentes do teor de humidade.

4.2. Quantificação de açúcares


Foi feita a quantificação de açúcares antes (D0), durante (D4) e após (D7) a
fermentação, através do método de refratometria. Para isso, leu-se os valores em Brix° para
cada amostra, ajustando-os à temperatura de 20 °C e à acidez, para os que continham ácido
em solução.
Os valores obtidos experimentalmente do volume das soluções após o ajuste do pH
necessários para determinar a quantidade de açúcar disponível estão apresentados em anexo
na Tabela A.3.

Descrição Experimental 6
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

As leituras em °Brix das amostras hão de ser corrigidas à acidez e à temperatura (20
°C). Com isso, as leituras em °Brix para os ácidos (CH3COOH e H2SO4) estão apresentados
em anexo na Tabela A.4.
Quanto às amostras, as leituras em °Brix para D0, D4 e D7 e as suas respetivas
correções, estão apresentados em anexo na Tabela A.5, A.6 e A.7, respetivamente.
A Tabela 3 apresenta os valores de massa de açúcares antes, durante e após a
fermentação e o rendimento de açúcar obtido.

Tabela 3 – Massa média de açúcar no licor obtido usando os 3 reagentes testados no pré-tratamento, antes da fermentação
(D0), após 4 dias de fermentação (D4) e no final da fermentação (D7), através do método de refratometria e rendimento mássico
em açúcar.

𝑴𝒂çú𝒄𝒂𝒓 𝑫𝟎 (g) 𝑴𝒂çú𝒄𝒂𝒓 𝑫𝟒 (g) 𝑴𝒂çú𝒄𝒂𝒓 𝑫𝟕 (g) Rendimento (%)


CH3COOH - 8,42 - 8,78 - 9,05 -
H2SO4 - 18,37 - 15,82 - 19,82 -
H2O 1,78 0,54 0,11 17,72

Foram obtidos valores negativos para a massa de açúcar das amostras pré-tratadas
com ácido após serem feitas as correções relativamente ao ácido e à temperatura. Isto
aconteceu possivelmente devido a um erro de medição do pH das amostras na etapa de ajuste
do pH (ver 2.2). No caso de um ajuste de pH impreciso, pode ser possível que a levedura não
realize a fermentação em condições ótimas.
Nas amostras sem ácido no pré-tratamento pode ser observado um decréscimo na
massa de açúcar. As amostras pré-tratadas, apesar de não serem quantitativamente viáveis,
mostram também um decréscimo geral na massa de açúcar. Isto sugere que na duração dos
7 dias a maior parte do açúcar foi convertido em etanol e biomassa.
Apesar do método de quantificação dos açúcares não parecer adequado, com
resultados mais confiáveis seria possível determinar a eficiência da conversão dos açúcares
em etanol através da divisão da massa de etanol obtida pelo açúcar consumido.

Tabela 4 – Massa e o rendimento de etanol obtidos para cada pré-tratamento aplicado.


Ensaio Massa de etanol (g) Rendimento médio
1 0,4858
CH3COOH 2 0,4515 4,77 %
3 0,5072
1 0,8759
H2SO4 2 0,2987* 7,55 %
3 0,6622
1 0,3955
H2O 2 0,5571 3,90 %
3 0,2257

Descrição Experimental 6
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*Valor desprezado para o cálculo do rendimento por não estar em conformidade com os restantes (rendimento sem
desprezar = 6,03 %)

Na Tabela 4 encontra-se representado o rendimento de etanol em relação à massa


inicial de borra de café. As leituras do índice de refração (I.R.) do etanol obtido por destilação,
fração mássica obtida através da curva de calibração, massa de etanol calculada e massa de
borra de café encontram-se em anexo na Tabela A.8. Para as amostras com CH3COOH os
resultados da massa de etanol são concordantes, enquanto que para o H2SO4 e para o H2O
não são resultados concordantes. No entanto, o maior rendimento médio foi obtido nas
amostras com pré-tratamento ácido com H2SO4 5% (v/v). Isto pode ser atribuído ao facto que
o H2SO4 é um ácido mais forte numa concentração similar ao CH3COOH. O pré-tratamento
com CH3COOH obteve um maior rendimento que a borra de café sem pré-tratamento. Em
termos de selecionar um ácido adequado para o pré-tratamento, devem ser considerados
fatores tais como custo e impacto ambiental.
O CH3COOH tem um rendimento 37% menor que o H2SO4, porém tem o benefício de
ser um recurso renovável que pode ser produzido por processos biológicos. Uma maior
concentração de ácido ou parâmetros diferentes de pré-tratamento, incluindo tempo ou
temperatura, poderiam possivelmente aumentar o rendimento e tornar o processo mais viável,
visto que um rendimento de 8% não o é.

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Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

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5. Conclusões

O objetivo deste trabalho foi fazer a comparação entre pré-tratamentos ácidos diferentes
para a hidrólise enzimática e fermentação subsequente dos açúcares de borra de café, para
produção de etanol. Adicionalmente, a borra de café foi caracterizada em termos de
humidade, teor de cinzas, proteína, matéria gorda e celulose bruta. As amostras foram pré-
tratadas com H2SO4 5 % (v/v) e CH3COOH 5 % (v/v). Outras amostras foram preparadas
usando água como base para comparação.
Na caracterização foram obtidos valores de humidade de 63,2 %, teor de cinzas de 1,59
% em base seca, matéria gorda 12,62 %, celulose bruta 20,72 % e proteína 25,25 %. Os
dados de matéria gorda, celulose bruta e proteína foram fornecidos por outros grupos que
realizaram este trabalho ao mesmo tempo e resultaram de borras de café com humidade de
≈ 8 %. O maior rendimento de etanol foi obtido nas amostras pré-tratadas com H2SO4
resultando num rendimento médio de 7,55 % (m etanol/m café moído). As amostras tratadas
com CH3COOH resultaram num rendimento médio de 4,77 % (m etanol/m café moído) e as
amostras com H2O num rendimento médio de 3,90 % (m etanol/m café moído). Esta
quantidade de etanol é provavelmente demasiado baixa para ser economicamente viável e
uma investigação mais aprofundada em relação aos parâmetros como tempo e temperatura,
seleção da enzima e tempo de fermentação pode vir a ser necessária.

6. Sugestões

O grupo tem 3 principais sugestões para futuras realizações deste trabalho. A primeira
sugestão é fazer a caracterização dos grãos de café secos (0 % teor de humidade), de modo
a facilitar a comparação quantitativa entre os diferentes parâmetros (celulose bruta, matéria
gorda, proteínas, etc.) entre diferentes grupos.
A segunda sugestão é fazer a caracterização em função do tamanho das partículas de
borra de café, visto que possivelmente este é um fator que afeta a eficiência do pré-tratamento
devido à variação da área de contacto.
Finalmente, o grupo sugere a realização da quantificação de açúcares utilizando outro
método, como por exemplo, DNS, visto que as soluções em análise são matrizes complexas,
com possíveis interferentes no método de refratometria. No caso do método de DNS, isso não
se verificaria, e, apesar do maior tempo de análise, seria mais preciso.

Referências 15
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

Referências

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Referências 16
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

Anexo A
Tabela A.1. Valores das massas medidas para a determinação do teor de cinzas da borra de café.
𝒎𝒗 (g) 𝒎𝒊 (g) 𝒎𝒇 (g) 𝒎𝒊−𝒎𝒗 (g) 𝒎𝒇− 𝒎𝒗 (g) T.C. (%) T.C. médio (%)
1 78,3403 79,3628 78,3542 1,0225 0,0139 1,36
2 45,1299 46,1654 45,1474 1,0355 0,0175 1,69 1,59
3 58,8458 59,8518 58,8630 1,0060 0,0172 1,71

Tabela A.2. Valores das massas medidas para a determinação da humidade da borra de café.
𝒎𝒗 (g) 𝒎𝒊 (g) 𝒎𝒇 (g) 𝒎𝒊−𝒎𝒗 (g) 𝒎𝒇 − 𝒎𝒗 (g) H (%) H médio (%)
1 56,4336 64,3580 59,3123 7,9244 2,8787 63,7
63,2
2 49,8376 55,3078 51,8821 5,4702 2,0445 62,6

Tabela A.3. Massa de borra de café utilizada no pré-tratamento e respetivo volume da amostra após ajustamento do pH.
Ácido à 5 % (v/v) Ensaio mborra (g) pH ajustado V (mL)
1 10,01 5,01 333
2 10,11 5,01 400
CH3COOH
3 10,15 5,02 296
1 10,31 5,05 484
2 10,04 4,99 349
H2SO4
3 10,01 5,03 355
1 9,89 4,98 372
2 10,22 4,95 291
H2O
3 10,01 5,05 248

Tabela A.4. Valores do °Brix para os ácidos utilizados no pré-tratamento da borra de café para efeitos de correção do °Brix das
amostras.
Ácido °Brix
𝐶𝐻3 𝐶𝑂𝑂𝐻 5,5
𝐻2 𝑆𝑂4 10

Tabela A.5. Leituras do °Brix realizadas à 21,5 °C antes da fermentação (D0) e as suas correções feitas à acidez e à temperatura
de 20 °C.
Fator de
Corrigido à T ºC e
Reagente Ensaio °Brix Corrigido à acidez correção
acidez
à T ºC
1 4,5 -1 +0,116 -0,884
𝑪𝑯𝟑 𝑪𝑶𝑶𝑯 2 3,7 -1,8 +0,1048 -1,6952
3 4,5 -1 +0,116 -0,884
1 6,50 -3,5 +0,091 -3,409
𝑯𝟐 𝑺𝑶𝟒 2 7,60 -2,4 +0,1064 -2,2936
3 7,75 -2,25 +0,1085 -2,1415
1 1,50 1,5 +0,073 1,573
𝑯𝟐 𝒐 2 1,75 1,75 +0,0735 1,8235
3 1,50 1,5 +0,073 1,573
Anexo B 17
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

Tabela A.6. Leituras do °Brix realizadas à 23,7 °C durante a fermentação (D4) e as suas correções feitas à acidez e à temperatura
de 20 °C.
Fator de
Corrigido à T ºC e
Reagente Ensaio °Brix Corrigido à acidez correção
acidez
à T ºC
1 4,1 -1,4 +0,2332 -1,1668
𝑪𝑯𝟑 𝑪𝑶𝑶𝑯 2 3,4 -2,1 +0,2248 -1,8752
3 4,6 -0,9 +0,2392 -0,6608
1 6,25 -3,75 +0,22 -3,53
𝑯𝟐 𝑺𝑶𝟒 2 7,9 -2,1 +0,2674 -1,8326
3 7,5 -2,5 +0,265 -2,235
1 0,75 0,75 +0,259 1,009
𝑯𝟐 𝒐 2 1 1 +0,262 1,262
3 1,4 1,4 +0,2668 1,6668

Tabela A.7. Leituras do °Brix realizadas à 21,8 °C após a fermentação (D7) e as suas correções feitas à acidez e à temperatura
de 20 °C.
Fator de
Corrigido à T ºC e
Reagente Ensaio °Brix Corrigido à acidez correção
acidez
à T ºC
1 3,75 -1,75 +0,1055 -1,6445
𝑪𝑯𝟑 𝑪𝑶𝑶𝑯 2 4 -1,5 +0,109 -1,391
3 4,35 -1,15 +0,1139 -1,0361
1 6,25 -3,75 +0,0875 -3,6625
𝑯𝟐 𝑺𝑶𝟒 2 7,25 -2,75 +0,1015 -2,6485
3 5,5 -4,5 +0,077 -4,423
1 0,9 0,9 +0,0718 0,9718
𝑯𝟐 𝒐 2 1,25 1,25 +0,0725 1,3225
3 1,1 1,1 +0,0722 1,1722

Exemplo de cálculo para a correção à acidez está disponível no Anexo B.2.


Para a correção à temperatura (20 °C), utilizou-se a Figura B.3.1. Exemplo de cálculo
está disponível no Anexo B.3.

Anexo B 18
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

Tabela A.8. Leituras do índice de refração (I.R.) do etanol obtido por destilação, fração mássica obtida através da
curva de calibração, massa de etanol calculada e massa de borra de café.

Massa
𝒎𝒔𝒐𝒍𝒖çã𝒐 (g) Fração
Reagente Ensaio I.R. 𝒎𝒆𝒕𝒂𝒏𝒐𝒍 (g) Borra de
etanol (m/m)
Café (g)
1 24,29 1,3350 0,0200 0,4868 10,01
𝑪𝑯𝟑 𝑪𝑶𝑶𝑯 2 30,10 1,3347 0,0150 0,4515 10,11
3 33,81 1,3347 0,0150 0,5072 10,15
1 58,39 1,3347 0,0150 0,8759 10,31
𝑯𝟐 𝑺𝑶𝟒 2 12,80 1,3352 0,0233 0,2987 10,04
3 33,11 1,3350 0,0200 0,6622 10,01
1 33,90 1,3345 0,0117 0,3955 9,89
𝑯𝟐 𝒐 2 47,75 1,3345 0,0116 0,5571 10,22
3 19,35 1,3345 0,0116 0,2257 10,01

Anexo B 19
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

Anexo B

Anexo B.1. - Exemplos de cálculo do teor de cinzas e da humidade.

mic1 − mfc1 78,3542 − 78,3403


Teor de Cinzas (%)1 = × 100 = × 100 = 1,36 %
mic1 − mvc1 79,3628 − 78,3403

mih1 − mfh1 64,3580 − 59,3123


Humidade (%)1 = × 100 = × 100 = 63,7 %
mih1 − mvh1 64,3580 − 56,4336

Anexo B.2. – Exemplo de cálculo para correção do °Brix à acidez.

➢ °𝐵𝑟𝑖𝑥𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 − °𝐵𝑟𝑖𝑥á𝑐𝑖𝑑𝑜 = °𝐵𝑟𝑖𝑥 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑖𝑔𝑜 à 𝑎𝑐𝑖𝑑𝑒𝑧

➢ 4,5 − 5,5 = −1,00

Anexo B.3. – Exemplo de cálculo para o fator de correção à temperatura de 20 °C.

(𝑓𝐵𝑟𝑖𝑥 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 (𝑇) − 𝑓𝐵𝑟𝑖𝑥 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 (𝑇) )×(°𝐵𝑟𝑖𝑥𝑒𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙 − °𝐵𝑟𝑖𝑥𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 )


➢ 𝐹= + 𝑓𝐵𝑟𝑖𝑥 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 (𝑇)
°𝐵𝑟𝑖𝑥𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 − °𝐵𝑟𝑖𝑥𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙

Recorrendo-se à Figura B.3.1., tomando como exemplo um °Brix lido


experimentalmente e corrigido à acidez de 1,5 a 21,5 °C (Ensaio 1 de H2O):

(0,07− 0,06)×(1,5− 0)
➢ 𝐹= 5−0
+ 0,06

➢ 𝐹 = 0,063
O valor do fator de correção à temperatura é adicionado ao valor de °Brix:
➢ °𝐵𝑟𝑖𝑥𝑐𝑜𝑟𝑟𝑖𝑔𝑖𝑑𝑜 à 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 = 1,5 + 0,063 = 1,563

Anexo B 20
Produção de Bioetanol a partir das Borras de Café através dos Processos de Hidrólise e Fermentação

Figura B.3.1. Correção de leituras ºBrix em função de temperaturas de banho superiores a 20 ºC.

Anexo B.4. – Exemplo de cálculo para a fração mássica do etanol e massa de etanol (ensaio
1 de H2O).
𝐼𝑅 − 1,3338 1,3345 − 1,3338
𝐼𝑅 = 0,0006𝑥 + 1,3338 ⇔ 𝑥 = ⇔𝑥= = 0,012
0,0006 0,0006
𝑚𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙 = 𝑥 ∙ 𝑚𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 = 0,0117 ∙ 33,90 = 0,3955 𝑔

Anexo B 21

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