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ISBN: 978-85-64440-15-9
Impresso no Brasil
I' edição - Abril- 2014
ISBN: 978-85-64440-15-9
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Ãngela Soligo
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Encontrei também várias referências ao corpo da sociais dos negros, fora dos quais não os podemos ima-
mulher negra, associado a duas dimensões: a maternidade ginar ou atribuir-lhes significados positivos. A partir das
- o corpo reprodutivo, e a sedução - o corpo "endiabrado". referências da Teoria das Representações Sociais, podemos
Tais adjetivações remetem à ideia corrente da mulher negra entender que as representações sociais sobre as mulheres e
sedutora, lasciva, responsável pelos abusos dos homens homens negros estão ancoradas na visão de inferioridade,
desde os tempos do escravismo (DIAS FILHO, 1996). primitividade, "serviçalidade", e são objetivadas nas muitas
Não encontrei, como contexto de inserção do homem formas de discriminação que a sociedade brasileira engen-
e da mulher negros, a escola, a universidade, enfim os es- dra - nos espaços sociais, na escola, no trabalho.
paços educativos, o que pode revelar, ao mesmo tempo, É desse modo que opera, psicologicamente, o racismo
que esses grupos estão sub-representados nesse contexto, e brasileiro - racismo camuflado, mascarado por um olhar
também que esses não são reconhecidos como seus espaços falsamente generoso, aceitativo, mas que carrega nos mar-
legítimos de pertença. cadores culturais e nos nossos modos de subjetivação da
O conjunto dos dados encontrados levou-me à for- realidade a divisão Casa Grande - Senzala.
mulação de duas categorias explicativas do modo como se A realidade do racismo e das experiências escolares das
constitui o racismo no Brasil. crianças e dos jovens negros demanda da educação uma difí-
A primeira delas é a ambiguidade e sua consequente cil tarefa, a de propor contrapontos aos modos hegemônicos
ambivalência. Tendo construído os modos de compreensão de compreensão da diferença, às interpretações de mundo
da diferença a partir do mito da democracia racial, os sujei- eurocêntricas e racistas. Impõe a reflexão, a desnaturaliza-
tos relutam em expressar diretamente os seus preconceitos ção de verdades instituídas ideologicamente e legitimadas
e suas visões negativas em relação aos negros, optando por no senso comum. Impõe o pensamento crítico e respeitoso.
indicar adjetivos positivos e valorizadores. No entanto, ao Tal empreitada implica o trabalho do e com o pro-
apontarem os contextos, colocam os negros em condições fessor, demanda formação continuada de professores, uma
desvalorizadas socialmente, em contextos desqualificadores, vez que esses, formados a partir da mesma cultura racista,
que acabam por neutralizar as dimensões positivas aponta- compartilham e reproduzem preconceitos e, na maioria
das e revelam, de fato, os preconceitos que tentam ocultar. das vezes, silenciam-se diante de situações de preconceito
A segunda categoria explicativa eu denomino gue- e discriminação.
tos simbólicos. Os homens e mulheres negros somente
são representados positivamente nos lugares sociais que Referências
a sociedade hegemônica branca lhes reserva: o trabalho
desqualificado -, servindo ao branco; o futebol, o samba e BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1988.
o carnaval -, divertindo o branco. Embora não tenhamos BONILHA, T. P. O "não-lugar" do sujeito negro na educação
vivido o apartheid, nem tenhamos a realidade dos guetos brasileira. Dissertação de Mestrado. Campinas: Faculdade de
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