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A CONTRIBUIÇÃO DO DIREITO MEDIEVAL NO DIREITO BRASILEIRO

Henrique Viana Pereira 1


Rodrigo Almeida Magalhães2

Resumo: O artigo tem por objetivo estudar o Direito na Idade Média


tendo por base o Direito Germânico, Feudal e Canônico, o Direito
Medieval contribuiu muito para o atual Direito, tendo aparecido vários
institutos nesse período que são aplicados hoje. Aborda ainda o
ressurgimento do Direito Romano como uma necessidade da burguesia e
dos senhores feudais. Por fim, analisa a importância das universidades e
suas diversas escolas com suas teorias e contribuições para a
humanidade.

Palavras-chave: História do Direito; Direito Medieval; Universidades.

1
Mestrando em Direito Privado pela PUC Minas. Especialista em Direito Penal pela UGF. Advogado.
2
Doutor e Mestre pela PUC Minas. Professor da PUC Minas e Newton Paiva.
Advogado.
1 Principais Fatos Históricos da Idade Média

Os manuais de história do direito indicam que a Idade Média, também

chamada de Idade Medieval, pode ser dividida em dois períodos: alta idade média (476

a 1.100) e baixa idade média (1.100 a 1.453). Teve início com a queda do Império

Romano do Ocidente em 476.

Na alta idade média, surgem novas civilizações: bizantina, árabe-islâmica e

a latino-judaica-cristã. Essa última composta por povos germânicos invasores. Então, o

Império Romano foi fragmentado entre tribos. A economia européia foi muito

influenciada pela ruralização da sociedade, tendo em vista que a agropecuária para a

subsistência voltou a ser comum. Isso prejudicou a urbanização e as trocas comerciais,

afetando diretamente a economia. Ainda nesse cenário houve grande expansão da Igreja

Católica, que manteve sua sede na cidade de Roma.

Dessa forma, não há mais o poder centralizado nas mãos de um Imperador,

na medida em que a Igreja - por meio de um ser supremo; o papa - se expande,

tornando-se cada vez mais forte e influente. E os feudos, por serem economicamente

auto-suficientes, tinham também, internamente, seu próprio controle.

O Direito Romano retrocede, voltando a ser baseado nos costumes e

variando conforme a localização de cada povoado. Ocorreu um distanciamento do

direito romano clássico, que estava em amplo desenvolvimento. A esse fato

acompanhou uma decadência cultural.

Os germânicos não possuíam refinamento cultural e legislavam pouco, ao

contrário dos imperadores romanos, que foram grandes legisladores. Apesar disso,

ocorreram codificações desse direito germânico, como, por exemplo, a Lex Salica, o

Breviário de Alarico, o Edito de Teodorico, a Lex Romana Burgundiorum, o Edito do


rei Rothari dos lombardos e os Estatutos dos reis anglo-saxões (que foram as únicas não

escritas em latim).

E, ainda discorrendo sobre o período da alta idade média, vale mencionar

que vigorara o princípio da personalidade do direito:

A cada indivíduo se aplicava o Direito equivalente a sua origem. Assim, aos


romani, aplicava-se o Direito Romano; aos germânicos, o Direito Germânico.
Havia exceções, como o Edito de Teodorico, de aplicação genérica. (FIUZA:
2007, p. 67).

Também pode ser mencionado como um dos principais fatos históricos da

idade média o surgimento do direito feudal, que ocorreu aproximadamente no século

VIII. Este direito dependia “dos costumes e, eventualmente, da intervenção de algum

suserano inovador. (FIUZA: 2007 p. 67).

Já na Baixa Idade Média (1.100 a 1.453), houve superação da estrutura

feudal. O Estado Nacional de caráter absolutista domina a organização política na

Europa, eis que os senhores feudais perderam poder para os reis.

A economia passou a ser mercantilizada, privilegiando as trocas comerciais

em detrimento da agropecuária de subsistência. Ocorreu desenvolvimento industrial e

comercial e, conseqüentemente, do sistema bancário e da urbanização. Além disso,

houve elevação do nível cultural com o surgimento das universidades.

O direito consuetudinário não mais atendia às necessidades da civilização.

E, com relação à evolução do direito,

A modernização de um sistema jurídico pode dar-se de dois modos.


Primeiramente, pela modificação interna do Direito nativo. Em segundo
lugar, pela recepção de um Direito externo. Na Europa Ocidental, ocorreram
os dois fenômenos ao mesmo tempo, daí se falar em sistema romano-
germânico. (FIUZA: 2007, p. 68).
Como fato também relevante, vale mencionar a redescoberta do Direito

Romano, ocorrida no século XII. Haviam três escolas de estudo específico do Direito

Romano.

2 Organização Política e Judiciária

Na Idade Média ocorreram movimentos de fragmentação, ao contrário da

característica de império absolutista que anteriormente existia. Os reinos germânicos, de

existência passageira, fragmentaram a anterior centralização imperial.

Com a instalação do feudalismo ocorre a derrocada da possibilidade de

poder central, eis que os poderes eram exercidos dentro de cada feudo, individualmente.

Tentativas de exercício de poder de forma externa aos feudos foram infrutíferas.

Inclusive, o poder judiciário foi desmembrado nas mãos dos senhores feudais, numa

relação entre estes e os servos.

Com relação à administração da justiça, durante a Idade Medieval não havia

hierarquia, aplicando-se um sistema de jurisdição local. Então não havia centralização,

sendo que os “juízes” eram ocasionais, sem qualquer formação técnica-jurídica.

Além disso, dentro de cada feudo era possível perceber o domínio cultural

do clero, fruto da vasta expansão da Igreja Católica. Até mesmo a justiça era feita

apelando para a vontade divina. Essa ampliação do poder da Igreja se explica

facilmente, eis que

À medida que os bárbaros iam instalando-se no território romano, a Igreja,


com sua astuta diplomacia, partiu para a tarefa de catequizá-los. Essa missão
foi lenta, mas vitoriosa. Aos poucos, os povos germânicos foram
convertendo-se à fé católica, deixando a Igreja em confortável posição de
supremacia atemporal. (FIUZA: 2007, p. 65).
Nesse, sentido, o papa era superior até mesmo com relação aos reis

bárbaros. A Igreja tornou-se responsável pela cultura greco-latina. Inclusive a língua

latina, adotada pela Igreja, passou a ser adotada em grande parte pelo povo germânico.

Com relação ao sistema feudal, pode-se dizer que a sociedade era

organizada conforme a propriedade de terras e a função exercida por uma pessoa.

Assim, o senhor feudal era o dono da terra e do servo, era detentor do poder militar,

político e do judiciário. Em contrapartida, o servo detinha a posse útil da terra, direito

que era protegido pelo senhor feudal. Inclusive o feudo era unidade autônoma, no

sentido político, jurídico e econômico.

Já na Baixa idade Média, houve abandono da estrutura feudal e, com isso,

apareceu a centralização do poder, junto com a revitalização de trocas comerciais. Tudo

ligado também ao surgimento da burguesia e da urbanização do poder clerical. Então,

um Estado de caráter absolutista começa a dominar a forma de organização política da

época. Com isso, o feudalismo entra em crise e passa a ocorrer uma transição para o

capitalismo.

3 Fontes do Direito

O direito nessa época era fundado basicamente nos costumes. Esse direito

não se preocupava com leis e, nem mesmo, com documentos escritos. As populações

viviam conforme suas próprias regras.

Nesse sentido, o chamado princípio da personalidade do direito, segundo o

qual “o indivíduo vive segundo as regras jurídicas de seu povo, raça, tribo ou nação, não

importando o local onde esteja.” (WOLKMER: 2005, p. 149/150). Esse princípio,

inclusive, permitiu a presença da influência romana na Europa, mesmo após a queda do

império.
Em se tratando de rompimento com as fontes clássicas e fundamento nos

costumes germânicos, surge o chamado direito romano vulgar. Isso eis que os germanos

eram bárbaros. “Bárbaros no sentido de que não possuíam qualquer refinamento

cultural, tais como escrita, música, teatro, escolas, poesia, etc.” (FIUZA: 2007, p. 64).

Com o surgimento dos feudos, auto-suficientes, o direito ficou restrito às

relações entre os senhores feudais e os servos. Então, o direito era essencialmente

costumeiro e não haviam escritos jurídicos específicos. Inclusive a maioria dos casos

eram resolvidos de forma “justa” por meio da chamada vontade divina. Os preceitos dos

jurisconsultos romanos mantiveram-se como fonte supletiva da justiça da Igreja,

admitida somente quando não conflitante com os decretos dos concílios ou dos Papas e,

sobretudo, com o direito divino (ius divinum) – conjunto de regras jurídicas extraídas

das sagradas escrituras, Antigo e Novo Testamento, bem como dos doutores da Igreja,

tais como Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo Agostinho e São Gregório de

Nazianzo. (WOLKMER: 2005, p. 151).

Durante a Idade Média, o único direito escrito e universal era o canônico. O

papa, que era superior até mesmo com relação aos reis bárbaros, era o único que

interpretava o direito canônico, razão pela qual este se mantinha uniforme.

4 O Direito Germânico

O Direito Germânico, extremamente costumeiro, não possuía fontes

escritas. Inexistia noção concreta de territorialidade e o direito aplicado a cada indivíduo

dependia do povoado a que ele pertencia. Esse direito privilegiava o coletivo em

detrimento do indivíduo e, por esse motivo, tinha conceito muito restrito sobre

propriedade.
Tendo em vista o caráter consuetudinário do direito, os reis germânicos, ao

contrário dos imperadores romanos, pouco legislavam. E, além disso, quando o faziam,

sua principal intenção não era a de desenvolver o Direito costumeiro, nem a de

modificá-lo, mas antes a de fixar o velho Direito tribal. Isto se deve à visão que tinham

do Direito: realidade eterna, que poderia ser interpretada e elucidada, mas não alterada

substancialmente. (FIUZA: 2007, p. 66).

O direito germânico, diante desse aspecto considerado primitivo

(costumeiro e essencialmente oral), era essencialmente privado, eis que não tinham

contato direto com nenhuma espécie de administração pública centralizada.

Existem algumas compilações desse direito, como, por exemplo, a Lex

Salica, o Breviário de Alarico, o Edito de Teodorico, a Lex Romana Burgundiorum, o

Edito do rei Rothari dos lombardos e os Estatutos dos reis anglo-saxões (que foram as

únicas que não foram escritas em latim). Nessas compilações percebe-se a influência do

Direito Romano no Germânico, principalmente o público.

Durante a Idade Medieval, o direito germânico foi utilizado, como

instrumento privilegiado na resolução de conflitos, tanto pelas suas características

próprias quanto pela ausência de um poder judicial organizado, baseando-se na

sistemática da prova. (WOLKMER: 2005, p. 175).

E o sistema de prova no processo germânico favorecia sempre o mais forte,

eis que era baseado em desafios físicos e, até mesmo, na influência social.

5 O Direito Feudal

Trata-se de um sistema jurídico criado para possibilitar o desenvolvimento

de unidades auto-suficientes, que compunham o sistema feudal. O direito se restringiu

às relações entre os senhores feudais e os servos, sendo essencialmente costumeiro.


Dessa forma, não haviam escritos jurídicos específicos e nem houve desenvolvimento

de princípios gerais ou doutrinas que permitissem um estudo específico do pensamento.

Surgiu a partir do século VIII e, conforme nos ensina o Professor César

Fiúza,

Eram costumes orais de cada feudo, tratando, principalmente, de questões

fundiárias. Duraram quatro séculos, sem qualquer legislação escrita significativa, nem

ensino ou saber jurídico. Dependia este Direito dos costumes e, eventualmente, da

intervenção de algum suserano inovador. (FIUZA: 2007, p. 67).

Pode-se dizer, inclusive, que o Direito Feudal foi o conjunto de costumes

que regulavam as relações internas dentro de um feudo. Então, suas características

específicas variavam de região para região. Para Caenegem,

Era um sistema original de direito, que não se ligava a qualquer nação em

particular e que fora criado na Idade Média em completa independência do direito

romano ou dos direitos nacionais germânicos. Suas características gerais são, todavia

mais germânicas do que romanas: importância das relações pessoais e da propriedade

fundiária; ausência de qualquer concepção abstrata do Estado; falta de legislação escrita

e formal. (VAN CAENEGEM: 2000, p. 28).

As poucas leis escritas foram as capitulares, que continham algumas regras

de direito feudal, além de normas de direito processual e penal. Elas eram editadas pelos

reis, com o apoio de um consenso, na tentativa de organizar a sociedade e de unificação

jurídica. Não tinham muita aplicação prática, porque não existiam leis aplicáveis a todo

um reino.

Até mesmo o direito da Igreja Romana não tinha muita autoridade, em face

da soberania e da independência existente em cada feudo. Dessa forma, o Direito Feudal

somente se desenvolveu através de seus fundamentos costumeiros e orais, sendo que o


soberano, raramente, legislava. Ele somente intervinha como legislador para resolver

uma questão particular ou regulamentar uma questão de detalhe. Pode-se mencionar que

“o primeiro estudo de Direito feudal foram as Leges feudarum, do século XII,

elaboradas na Lombardia” (FIUZA: 2007, p. 67). Portanto, o direito feudal se

“desenvolveu durante quatro séculos sem a intervenção de qualquer legislação

significativa e sem qualquer ensino ou saber jurídico” (VAN CAENEGEM: 2000, p.

28).

Apesar dessa aparente precariedade do direito, tendo por base a relação

entre senhor feudal e servos, temos retratadas noções importantes de boa-fé, lealdade e

fidelidade. Por isso, temos como características a presença da valorização das relações

pessoais e da propriedade fundiária. Além disso, temos a ausência do Estado, eis que o

feudo era unidade autônoma e independente, no sentido político, jurídico e no

econômico.

6 O Direito Canônico

O Direito Canônico afirma o poder legislativo e judicial da Igreja, levando

em conta o objetivo de salvar todas as almas, e constitui

o conjunto de normas jurídicas, de origem divina e humana (mas sempre de


inspiração divina), reconhecidas ou promulgadas por autoridade da Igreja
Católica, que determina a sua organização e atuação e a de seus fiéis, em
relação aos fins que lhe são próprios (AZEVEDO: 2007, p. 107).

Os ideais de paz, fraternidade, harmonia e solidariedade estavam presentes

nesse direito eis que ele tinha grande influência da moral. Por isso, vários conflitos eram

resolvidos por acordos, sendo que cada parte renunciava um pouco para transacionarem

reciprocamente.
Além disso, os julgamentos, em uma busca pela perfeição, não tomavam por

base apenas os fatos e suas conseqüências. Havia uma atenção para a personalidade do

autor e do réu, fatos estes que influenciavam na decisão final.

Haviam escritos anônimos na época, acerca do Direito Canônico e, dentre

eles, estava a Didascália dos Apóstolos, que continha os princípios fundamentais para a

disciplina comunal. Ocorreram também elaborações das chamadas coleções canônicas.

Também pode ser considerado como fonte o Decreto de Graciano eis que foi feita uma

reunião e interpretação de vários textos. Além desses, é válido também mencionar que

O lavor legislativo prossegue com os papas posteriores: aos cinco livros das
Decretais (iudez, iudicium, clericus, connubia, crimen) acrescentam-se o
sexto, de Bonifácio VIII, 1298; as Clementinas, de Clemente V, 1314; as
extravagantes, de João XXII, 1319, as extravagantes comuns, 1325. Estas
compilações constituíram, mais tarde (século XVI), o corpo de Direito
Canônico, Corpus Iuris Canonici, adicionando-se, ainda, as Instituições, de
Paulo Lancelotto, obra didática que complementa o texto. (AZEVEDO: 2007,
p. 114).

Várias foram as contribuições do Direito Canônico. Dentre elas, vale

ressaltar a importância e relevância de um processo inteiramente escrito, com

participação ativa do autor e réu, previsão da possibilidade de reconvenção,

preocupação com a realização de justiça (o “trânsito em julgado” só ocorria após três

sentenças no mesmo sentido) e a figura dos advocati pauperum, procuradores

destinados a proporcionar acesso à justiça aos necessitados.

O Direito Canônico era também instrumento para assegurar e legitimar a

marginalização e exclusão das pessoas que não fazem parte da religião católica. Para

isso, punia os diferentes e os insatisfeitos. A Igreja e o Direito Canônico eram muito

fortes e,
por serem os sujeitos que materializam o saber divino na terra, a Igreja e o
direito canônico têm o condão de proceder a demarcação do lugar ideal onde
reside a Palavra que deve governar não esse ou aquele aglomerado, mas
realmente todo o gênero humano. O direito canônico permitirá, nesse sentido,
o exercício jurídico do império católico por meio de rigorosa lógica,
dogmática, que implicará a existência de uma monarquia sacerdotal
onipotente na jurisdição (no dizer o que é o direito): o Papa será o pontifície
católico e imperador romano ao mesmo tempo. (WOLKMER: 2005, p. 184).

A partir do direito canônico, o desenvolvimento do direito ficou

comprometido com a construção dogmática do saber.

7 O Ressurgimento do Direito Romano e o Direito Comum

O ressurgimento do Direito Romano teve razões de cunho político e

econômico. Para o Professor César Fiúza,

O Direito Romano foi redescoberto no século XII. Já no final do século XI, a


condessa Matilde de Tuszien, aliada do papa e contrária ao imperador da
Alemanha, mandou Irnério aprofundar o estudo do Direito Romano, na
recém-fundada Universidade de Bolonha. As razões tinham cunho político e
econômico. Politicamente, o Direito Romano era nacional (italiano),
contrapondo-se ao Direito Germânico, estrangeiro. Economicamente, era
Direito rico, mais adequado ao desenvolvimento econômico e político que se
verificava. (FIUZA: 2007, p. 68).

Com o desenvolvimento da burguesia, o capitalismo mercantil exigia um

sistema jurídico que acompanhasse tal evolução. Havia uma busca por um ambiente

seguro e estável para que as trocas comerciais se realizassem de forma produtiva. Além

disso, seria importante ter um sistema unificado, para garantir um mercado que não

tivesse fronteira.

E, no âmbito político, o mencionado ressurgimento atendia às exigências

constitucionais dos Estados feudais, eis que o sistema romano, além de abordar o direito

civil, regulando transações econômicas, regulava o direito público, regulamentado

relações políticas entre o Estado e os cidadãos.


Diante disso, pode-se dizer que o ressurgimento do Direito Romano está

ligado conjuntamente à importância da proteção à propriedade privada e ao

reaparecimento de prerrogativas autoritárias centralizadas. Resta evidente, então, o

atendimento ao interesse econômico da classe mercantil e ao interesse político da

nobreza. Assim,

O Estado monárquico absolutista encontra no direito romano um poderoso


instrumento de centralização política e administrativa, em que a liberdade
outorgada aos agentes econômicos privados é contrabalançada pelo poder
arbitrário da autoridade pública. (WOLKMER: 2005, p. 158).

Dentre as importantes conseqüências dessa redescoberta, é válido mencionar

sobre o surgimento da classe dos juristas profissionais na Europa. Isso foi originado por

um processo de racionalização e busca cada vez maior por uma técnica jurídica

eficiente, com base na tradição jurídica dos romanos.

Dessa forma, o Corpus Iuris Civilis de Justiniano tornou-se a principal fonte

para o ressurgimento e estudo do Direito Romano. A jurisprudência romana

recepcionada adquire novamente extrema relevância para os juristas europeus,

formando uma espécie de Direito Neo-romano.

Já o Direito Comum (Ius Commune), também chamado de Direito erudito,

era formado pela combinação entre o Direito Romano (ressurgido na fase Medieval) e o

Direito Canônico. Ao Direito Comum “contrapõe-se o Ius Proprium de cada

localidade, vigente sob a forma de costumes, ordenações e cartas. A doutrina, construída

com base no Ius Commune, em muito influencia a prática jurídica” (FIUZA: 2007, p.

68).
8 O Papel das Universidades

As universidades surgiram em número restrito, o que colaborou para uma

maior homogeneidade no pensamento dos juristas que elas formavam. Isso, inclusive,

contribuiu para a recepção do direito romano, tido como uma valiosa herança jurídica

clássica. Nesse sentido, vale mencionar as escolas de estudo do Direito Romano.

A Escola dos Glosadores buscava estudar, racionalmente, à luz de uma

lógica formal, as compilações de Justiniano. Visava o esclarecimento dos textos, por

meio de interpretação sistemática, ultrapassando a exegese literal. O interesse dos

glosadores não era prático, mas sim teórico-dogmático.

Já a Escola dos Comentadores, constituída, em sua maioria por juristas

italianos, se esforçava para adaptar o Direito Comum à realidade jurídica prática e às

necessidades de seu tempo. Nesse sentido, deram grande contribuição para que o Ius

Commune complementasse o Direito próprio, sem eliminá-lo.

A Escola Culta ou humanista “simplesmente negava o caráter de direito

vigente aos escritos jurídicos justianeus, atribuindo o seu estudo a um interesse

meramente histórico-filológico” (WOLKMER: 2005, p. 162). Apesar disso, foram os

“humanistas que cunharam duas expressões importantes: Idade Média e Corpus Iuris

Civilis” (FIUZA: 2007, p. 69).

Por fim, pode-se ainda citar a respeito de mais uma, a chamada escola do

usus modernus pandectarum, que “procurou refundir as novas realidades do mundo

jurídico com trabalho dos comentadores.” (WOLKMER: 2005, p. 162). Para esse autor,

essa remodelação não se realizou nos mesmos moldes da que ocorreu através dos

consiliadores do séc. XIV, “pois os preceitos clássicos eram adequados de acordo com

o seu cabimento às novas situações, sendo suprimidos no restante e substituídos por

novas figuras teóricas e dogmáticas.” (WOLKMER: 2005, p. 163).


Diante do exposto, restou claro que as universidades colaboraram para

diversos avanços com relação ao conhecimento jurídico, sob diversos aspectos, sejam

eles teórico-dogmáticos ou práticos.

9 Conclusão

O artigo teve por objetivo estudar o Direito na Idade Média. Apesar de ser

considerado pela maioria da doutrina um período de pouca importância para o Direito, o

artigo demonstrou o contrário.

Tendo por base o Direito Germânico, Feudal e Canônico, o Direito

Medieval contribuiu muito para o atual Direito, tendo aparecido vários institutos nesse

período que são aplicados hoje, inclusive no Direito Processual.

Aborda ainda o ressurgimento do Direito Romano como uma necessidade

da burguesia e dos senhores feudais.

Por fim, analisa a importância das universidades e suas diversas escolas com

suas teorias e contribuições para a humanidade.

Referências Bibliográficas

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<http://pt.wikipedia.org/wiki/Alta_Idade_M%C3%A9dia> Acesso em 09 out. 2008.

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VAN CAENEGEM, R.C. Uma introdução histórica ao direito privado. São Paulo:

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