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Capítulo 15

Transdução sensorial

Isabel Vilas-Boas
Maria João Fernandes
Marta Ribeiro
Patrícia Santos
Pedro Magalhães
Rafael Jesus
Capítulo 15
Transdução sensorial

Os receptores sensoriais convertem a energia ambiental em sinais neuronais

A sensação é um processo cognitivo que requer os poderes totais do Sistema


Nervoso Central (SNC). A sensação começa com os receptores sensoriais que
comunicam com o mundo e estes receptores usam a energia do ambiente para
desencadear sinais electroquímicos que podem ser transmitidos para o cérebro – um
processo denominado de transdução sensorial. A compreensão dos processos de
transdução é crucial por diversas razões. Sem estes processos, a sensação falha. Além
disso, uma variedade de doenças que afectam especificamente os receptores sensoriais,
podem prejudicar ou abolir a sensação sem danificar o cérebro. A transdução também
define os limites básicos da percepção. Isto determina a sensibilidade, variedade,
rapidez, versatilidade e vigor do sistema sensorial.
Nós temos uma variedade de sensações, cada um ajustado para tipos particulares
de energia ambiental. Estas modalidades sensoriais incluem a visão, audição, tacto,
olfacto assim como as nossas sensações de dor, balanço, posição corporal e movimento.
No início do século XIX, o fisiologista Johannes Muller reconheceu que os neurónios
que são especializados em avaliar um tipo particular de estímulos vão produzir uma
sensação apropriada independentemente de como eles são activados. Por exemplo, o
bater dos nossos olhos pode produzir percepções de luz mesmo no escuro e a actividade
de apreensão numa região do córtex dedicada ao olfacto pode evocar um cheiro
repulsivo mesmo num jardim de rosas. Esta propriedade tem sido chamada de
univariância. Por outras palavras, o receptor sensorial e o seu circuito subsequente não
sabe quem o estimula – eles dão sempre o mesmo tipo de resposta, independentemente
de quem a origina. A especificidade para cada modalidade é assegurada pela estrutura e
posição do receptor sensorial.

A transdução sensorial usa adaptações de mecanismos comuns de sinalização


molecular

A evolução é algo conservadora. As boas ideias são retidas e, com alguma


modificação elas são adaptadas para novos propósitos. A transdução sensorial é um
exemplo primitivo deste princípio. Os processos sensoriais que são agora entendidos ao
nível molecular usam sistemas que são que são muito próximos dos relatados para as
moléculas de sinalização nas células eucarióticas. Algumas modalidades (visão, olfacto,
alguns tipos de sabor e outros receptores químicos) começam em proteínas integrais de
membrana que pertencem à superfamília das proteínas G – acopladas a receptores
(GPCRs). As vias do segundo mensageiro usam as mesmas substâncias que são usadas
para muitas outras tarefas não sensoriais em células, tais como nucleótidos cíclicos,
fosfatos de inositol e cinases. Outros sistemas sensoriais (mecanorreceptores, incluindo
as células ciliadas dos órgãos da audição e vestibular, assim como algumas células do
sabor) usam canais iónicos de membrana no processo de transdução primária. Embora
as estruturas da maior parte destes canais não tenham sido ainda determinados, as suas
propriedades biofísicas não são geralmente notáveis e eles são provavelmente
relacionados com outros canais iónicos não sensoriais. De facto, a abertura de muitos
canais iónicos de células não sensoriais é sensível à distorção física da membrana onde

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eles se encontram, o que implica que a sensibilidade mecânica é uma característica
generalizada das proteínas integrais membranares.
Para alcançar a especificidade para certos estímulos eléctricos, muitos receptores
sensoriais devem usar estruturas celulares especializadas. Estes, também, são
usualmente adaptados de componentes familiares. Vários receptores são células
epiteliais levemente modificadas. Algumas situam os seus sítios de transdução em cílios
modificados, enquanto que outros usam células musculares ou fibras de colagénio para
canalizar forças apropriadas para axónios sensoriais. Muitos são neurónios sozinhos,
axónios muitas vezes apenas nus sem nenhuma especialização visível à microscopia. A
maior parte das células de transdução sensorial (sensores de oxigénio e sabor, mas não
os receptores olfactivos) não possuem o seu próprio axónio para comunicar com o CNS.
Para estas células, o sistema de comunicação de escolha é relativamente padronizado,
sistema de Ca2+-dependente da transmissão sináptica para o neurónio sensorial primário.

A transdução sensorial requer a detecção e amplificação, usualmente seguida pelo


local de receptor potencial

Funcionalmente, os transdutores sensoriais seguem uns certos passos gerais.


Obviamente, eles têm de detectar o estímulo eléctrico, mas eles devem fazê-lo com
selectividade e rapidez suficiente que os estímulos de diferentes tipos, de diferentes
localizações ou de diferentes alturas não sejam confundidos. Na maior parte dos casos, a
transdução também envolve um ou mais passos para a amplificação de sinal de modo
que a célula sensorial possa comunicar com segurança pequenos estímulos (alguns
fotões dispersos ou algumas moléculas) para um grande cérebro num ambiente com
muito ruído sensorial. A célula sensorial deve converter depois o sinal amplificado
numa mudança eléctrica pela alteração da “gating” de alguns canais iónicos. Estas
alterações dos canais levam a alterações do potencial de membrana (Vm) no receptor
celular – também conhecido como receptor potencial. O receptor potencial não é um
potencial de acção, mas sim um evento electrónico graduado que podem tanto modular
a actividade de outros canais iónicos ou desencadear potenciais de acção em diferentes
porções da mesma célula. Muitas vezes, o receptor potencial regula o fluxo de Ca2+ para
dentro da célula e, por isso, controla a libertação de algumas moléculas de transmissão
sináptica para o neurónio sensorial aferente.
Em última análise, os receptores potenciais determinam a taxa e o padrão em
que os potenciais de acção disparam num neurónio sensorial. Este padrão de disparo é o
sinal que é, na realidade, comunicado com o CNS. Informações uteis podem ser
codificadas em muitas características deste disparo, incluindo a sua taxa, os seus
padrões temporais, a sua periodicidade, a sua consistência e os seus padrões comparados
com outros neurónios sensoriais da mesma ou de diferentes modalidades.

QUIMIORRECEPÇÃO

Os quimiorreceptores são omnipresentes, diversos e evolucionalmente antigos

Todas as células estão banhadas em químicos. As moléculas podem ser comida


ou veneno ou podem servir como sinais de comunicação entre as células, órgãos ou
indivíduos. A habilidade para reconhecer e para responder a ambientes químicos pode
permitir às células que encontrem nutrientes, a evitar danos, a atrair um companheiro, a
navegar ou a regular processos fisiológicos. A quimiorrecepção tem vantagens básicas e
universais. É a forma mais antiga de transdução sensorial e existe de variadas formas. A

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quimiorrecepção nem se quer requer o sistema nervoso. Organismos unicelulares, como
a bactéria, podem reconhecer e responder às substâncias do seu ambiente. No sentido
mais lato, todas as células no corpo humano são quimiosensitivas e a sinalização
química entre as células é a base para a comunicação interna através do sistema
endócrino e neurotransmissão. Neste capítulo, restringimos-nos à quimiorrecepção
como um sistema sensorial, a interface entre o sistema nervoso e o meio químico
interno e externo.
Os químicos atingem o corpo humano pela ingestão oral ou nasal, contacto com
a pele, inalação e, uma vez lá, eles difundem-se ou são transportados para a superfície
das membranas de células receptoras através de vários fluídos aquosos do corpo (muco,
saliva, lágrimas, fluído cérebroespinal, plasma sanguíneo). O sistema nervosos
monitoriza constantemente esta entrada e saída de químicos com um variado arranjo de
receptores quimiosensoriais. O mais conhecido destes receptores são os órgãos do sabor
(gustação) e cheiro (olfacto). Contudo, a quimiorrecepção é generalizada através do
corpo.. Os quimiorreceptores na pele, membranas mucosas e quimiorreceptores nos
corpos carotídeos avaliam os níveis sanguíneos de O2, CO2 e [H+].

Receptores do sabor são células epiteliais modificadas, enquanto que os receptores


olfactivos são neurónios

As tarefas dos receptores gustativos e olfactórios parecem ser semelhantes à


primeira vista. Ambos reconhecem a concentração e a identidade de moléculas
dissolvidas e comunicam esta informação ao SNC. De facto, os dois sistemas operam
em paralelo durante a alimentação e dos sabores da maioria dos alimentos são
fortemente dependentes tanto do sabor como do cheiro. Contudo, as células receptoras
dos dois sistemas são um pouco diferentes. Os receptores olfactivos são neurónios.
Cada célula olfactória tem pequenas dendrites numa extremidade que são especializadas
em identificar estímulos eléctricos e na outra extremidade têm um axónio que se
projecta directamente para o cérebro. As células receptoras do sabor não são neurónios
mas sim células epiteliais modificadas que sinapsam para os axónios dos neurónios
sensoriais que comunicam com o SNC.

Células receptoras do sabor – Os receptores do sabor estão localizados


maioritariamente na superfície dorsal da língua (Fig. 15-1A), concentradas dentro de
umas pequenas (mas visíveis) projecções chamadas papilas (Fig. 15-1B). As papilas
têm a forma de cristas, borbulhas ou cogumelos e cada tem pequenos milímetros de
diâmetro. Cada papila, por sua vez, tem numerosos botões gustativos (Fig. 15-1C). Um
botão gustativo contém 50-150 células receptoras do sabor, numerosas células basais e
de suporte que rodeiam as células do sabor, mais um conjunto de axónios aferentes
sensoriais. A maior parte das pessoas têm 2000-5000 botões gustativos.
A parte quimicamente sensitiva da célula receptora do sabor é uma pequena
região membranar apical perto da superfície da língua. A extremidade apical tem
pequenas extensões chamadas microvilosidades que se projectam para dentro do poro
do gosto, uma pequena abertura na superfície da língua onde as células do sabor são
expostas aos conteúdos da boca. As células do sabor formam sinapses com os axónios
sensoriais primários perto do fundo do botão gustativo. Contudo, o processamento pode
ser mais complicado que uma simples transmissão receptor-axónio. As células
receptoras também fazem sinapses eléctricas e químicas para algumas células basais,
algumas células basais fazem sinapses para os axónios sensoriais e algum tipo de

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circuito de processamento de informação pode estar presente dentro do próprio botão
gustativo.
As células do botão gustativo sofrem um ciclo constante de crescimento, morte e
regeneração. Este processo depende da influência do nervo sensorial porque se o nervo
está cortado, o botão gustativo degenera.

Células receptoras do olfacto – Nós cheiramos com as células receptoras no fino


epitélio olfactório, o qual se localiza na cavidade nasal superior (Fig. 15-2A). O
epitélio olfactório tem três tipos principais de células: células receptoras do olfacto são
o local de transdução; células de suporte são similares à glia e, entre outras coisas,
ajudam a produzir muco; células basais são a fonte de novas células receptoras (Fig.
15-2B). Os receptores do olfacto (similares aos receptores do sabor) morrem
continuamente, regeneram e crescem num ciclo que dura 4-8 semanas. As células
receptoras do olfacto são um tipo de neurónio.
Assim que nós respiramos ou cheiramos, os odorantes químicos passam por
muitas dobras das passagens nasais. Contudo, para contactar as células receptoras, os
odorantes devem primeiro dissolver-se e difundir-se através da fina camada mucosa, a
qual tem uma porção viscosa e aquosa. O epitélio olfactório normal produz uma camada
mucosa de 20-50 µm de espessura. O muco flui constantemente e é normalmente
substituído a cada 10 minutos. O muco é um complexo aquoso baseado em substâncias
que contém glicosaminoglicanos dissolvidos. Uma variedade de proteínas, incluindo
anticorpos, proteínas que se ligam aos odorantes, enzimas e variados sais. Os anticorpos
são críticos porque as células olfactórias oferecem uma rota directa para os vírus ou
bactérias entrarem no cérebro. A proteínas ligantes aos odorantes no muco
provavelmente facilitam a difusão dos odorantes de e para os receptores. As enzimas
podem ajudar a limpar o muco dos odorantes e, por isso, aceleram a recuperação dos
receptores de odores transitórios.
Tanto o tamanho absoluto como a densidade do receptor do epitélio olfactório
variam muito entre espécies e eles ajudam a determinar a acuidade olfactória. A área de
superfície do epitélio olfactório é de apenas 10 cm2, mas esta área limitada é suficiente
para detectar alguns odores em concentrações muito baixas. Os epitélios olfactórios de
alguns cães podem ser de 170 cm2 e os cães têm mais de 100 vezes mais receptores do
que os humanos.

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Fig 15-1
Sabores complexos são derivados de uns tipos básicos de receptores do sabor, com
contribuições dos receptores sensoriais do cheiro, temperatura, textura e dor

Estudos da descriminação do sabor em humanos sugerem que conseguimos


distinguir entre 4000-10000 químicos diferentes com os nossos botões gustativos.
Contudo, evidências comportamentais sugerem que estas descriminações representam
apenas 5 qualidades de sabor primárias: sal, amargo, doce, azedo e unami (delicioso,
em Japonês). O unami deriva do sabor do aminoácido glutamato. Ao contrário de uma
célula de recepção olfactória, a qual aparentemente expressa apenas um tipo de receptor,
uma célula receptora de sabor pode expressar vários.
Em muitos casos, existe uma correlação óbvia entre a química dos “tastants”
(isto é, químicos que têm sido testados) e a qualidade do seu sabor. A maior parte dos
ácidos sabem a azedo e a maior parte dos sais sabem a salgado. Contudo, para muitos
“Tastants”, a ligação entre o sabor e a estrutura química não é clara. Os açucares
familiares (sacarose e frutose) são satisfatoriamente doces, mas certas proteínas e
adoçantes artificiais (sacharin e aspartame) são 10000-100000 vezes mais doces que os
açucares. Substâncias amargas são também quimicamente diversas. Elas incluem iões
simples como o K+, iões metálicos (como o Mg2+) e moléculas orgânicas complexas
como a quinina.
Se a língua tem apenas quatro ou cinco qualidades gustativas primárias de que
dispõe, como ela discrimina entre a complexidade de sabores que nós conhecemos?
Primeiro, a resposta da língua a cada “testant” reflecte proporções distintas de cada uma
das qualidades gustativas primárias. Neste sentido, as células gustativas são similares
aos fotorreceptores dos nossos olhos; Com apenas três tipos diferentes de cores
selectivas para as células dos cones fotorreceptores, podemos distinguir uma variedade
enorme de cores. Segundo, o sabor de um “tastant” é determinado não apenas pelo seu
sabor mas também pelo seu cheiro. O sabor e cheiro operam em paralelo, com a
informação a convergir para o SNC para auxiliar a importante descriminação de
alimentos e venenos. Terceiro, a boca é preenchida com outros tipos de receptores
sensoriais que são sensíveis à textura, temperatura, dor e estas modalidades melhoram a
identificação e a saciedade dos alimentos. Um exemplo impressionante é a experiência
com comida picante, a qual é apreciada por uns, mas dolorosa para outros. O tempero
picante das pimentas é gerado devido à molécula capsaicina, não devido à sua acção
nos receptores das células gustativas, mas devido à sua estimulação em receptores
sensíveis ao calor e dor na boca.

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A transdução gustativa envolve muitos tipos de sistemas de sinalização molecular

Os químicos que nós saboreamos têm diversas estruturas e os receptores


gustativos têm envolvidos uma variedade de mecanismos para a transdução. O sistema
gustativo tem adaptado muitos tipos de sistemas de sinalização membranar para estes
propósitos. Os “tastants” podem passar directamente através de canais iónicos (sal ou
azedo), ligar-se e bloquear canais iónicos (azedo) ou ligar-se aos receptores de
membrana que activam sistemas de segundos mensageiros, o que por seu turno abrem
ou fecham canais iónicos (doce, amargo e unami). As células gustativas têm
simplesmente usado variações destes processos para iniciar sinais significativos para o
cérebro.
Os receptores potenciais para as células gustativas são usualmente
despolarizantes. Pelo menos alguns receptores das células gustativas podem disparar
potenciais de acção, similares aqueles dos neurónios. Mas se a membrana está
suficientemente despolarizada por qualquer meio, os canais de Ca2+ dependentes de
voltagem
Fig. 15-2 abrem e o Ca2+ entra para o citoplasma e desencadeia a libertação de
moléculas transmissoras. A identidade dos transmissores para os receptores gustativos é
desconhecida.
Muitas das células receptoras respondem a dois ou mais destes grupos gustativos
básicos e algumas respondem a todos. O que varia é a relativa sensibilidade de células
gustativas para um espectro de sabores básicos. Algumas células são apenas “amantes
do sal”. Outras preferem sal e azedo. Ainda assim, outras têm preferência para o doce
ou azedo. Outra pequena parte responde ansiosamente a tudo. Presumivelmente, simples
células gustativas podem produzir um, alguns ou todos dos vários mecanismos de
transdução gustativa que são delineados nas secções seguintes.
As diversidades complexas da transdução gustativa não são ainda totalmente
esclarecidas. Muitos dos detalhes derivam de pesquisas de células gustativas de outos
animais como os ratos. Cada animal tem certas vantagens experimentais, mas diferenças
entre as espécies sugerem que podemos ser surpreendidos quando podermos estudar
directamente os mecanismos humanos. O que se segue é um sumário dos processos de
transdução que melhor se conhecem para as cinco qualidades primárias gustativas (Fig
15-3).

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Fig. 15-3

Sal – O químico com maior sabor a salgado é o NaCl ou o nosso sal de mesa. O sabor
de sal é principalmente o sabor do catião Na+ e a transdução da [Na+] nas células
gustativas é relativamente simples. As células gustativas sensíveis ao sal têm canais
iónicos sensíveis ao Na+ chamados ENaC (Fig 15-3A), comum a muitas células
epiteliais, os quais são bloqueados pela droga amilorido. Estas células podem também
ter um canal catiónico insensível ao amilorido que contribui para a transdução do sal.
Ao contrário do canal de Na+ que gera potenciais de acção em células excitáveis, os
canais gustativo são relativamente insensíveis à voltagem e permanecem abertos em
repouso. Contudo, a transdução de [Na+] numa pequena quantidade de comida é de
algum modo análoga ao comportamento do neurónio durante a fase ascendente de um
potencial de acção. Quando a [Na+] aumenta fora da célula receptora, o gradiente para o
Na+ ao longo da membrana torna-se íngreme, o Na+ difunde-se a favor do seu gradiente
electroquímico (para dentro da célula) e a corrente inward resultante causa a
despolarização da membrana para uma nova voltagem. Os neurónios despolarizam
durante o seu potencial de acção pelo aumento da conduntância ao Na+ para um
gradiente fixo de Na+. Em contraste, as células gustativas sensíveis ao Na+ despolarizam
pelo aumento do gradiente de Na+ numa permeabilidade fixa ao Na+. A despolarização
gradual final da célula gustativa é definida pelo seu receptor potencial.
Aniões podem afectar o sabor do sal pela modulação da capacidade de salgado
do catião. NaCl é mais salgado do que o acetato de sódio, talvez porque quanto maior é
o anião, mais ele inibe a capacidade que o catião tem de salgar.

Azedo – A acidez deve-se aos protões H+. A acidez pode afectar os receptores
gustativos de vários modos (Fig 15-3A). Primeiro, o H+ pode entrar pelo canal iónico
ENaC, o mesmo canal que medeia o sabor salgado. Este influxo de H+ pode ligar e/ou

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abrir canais catiónicos selectivos como os HCN (Hyperpolarization-activated) e canais
sensíveis a ácidos (ASIC). Isto levaria a uma despolarização. Além disso, porque o pH
pode afectar virtualmente todos os processos celulares, é possível que outras pequenas
influências específicas do baixo pH estão envolvidas na transdução do azedo/ácido.

Doce – A doçura é sentida quando moléculas se ligam locais específicos do receptor das
membranas das células gustativas e activam uma cascata de segundos mensageiros (Fig
15-3B). Duas famílias de genes de receptores gustativos – família T1R e família T2R –
parecem contar para a transdução do doce, amargo e unami. Estes receptores gustativos
são GPCRs e todos usam a mesma via básica de segundo mensageiro. No caso da
transdução do doce, o “tastant” (molécula de açucar) liga-se a um receptor gustativo que
consiste num dímero de proteínas T1R2 e T1R3. O receptor activado depois activa
proteínas G que estimulam a fosfolípase C, a qual por seu turno aumenta a produção de
IP3. O IP3 desencadeia a libertação de Ca2+ dos locais de armazenamento internos e o
aumento da [Ca2+]i que depois activa um canal de receptor potencial transitório (TRP),
chamado TRPM5, que é especifico para as células gustativas. TRPM5 é um canal iónico
relativamente não selectivo que despolariza a célula gustativa, desencadeando a
libertação do neurotransmissor para o axónio gustativo primário (Fig 15-3B). O
complexo receptor para o doce – o T1R2/T1R3 - é amplamente sensível a substâncias
que sabem a doce. Verifica-se que as células de sensíveis ao sabor doce não expressam
receptores tanto para o amargo como para o unami.

Amargo – A amargura normalmente associa-se ao veneno. Talvez porque os venenos


são tão quimicamente diversos, nós temos 25 diferentes tipos de receptores do amargo.
Estes são GPCRs na família T2R. Os animais não são tão bons a distinguir diferentes
substâncias amargas, provavelmente porque cada célula para o sabor a amargo expresse
a maior parte ou todas os 25 T2Rs. Isto pode ser mais importante para reconhecer que
algo é amargo e potencialmente venenoso, por isso isto é para reconhecer precisamente
que tipo de veneno poderá ser. A estimulação dos T2Rs activam uma via de segundo
mensageiro que é aparentemente idêntica àquela que os receptores para o doce activam.
Proteínas G, PLC, IP3, aumento da [Ca2+]i e a abertura do canal TRPM5. Nós não
confundimos sabores de substâncias doces ou amargas porque mesmo que eles
desencadeiam sistemas de sinalização semelhantes, cada cascata de transdução ocorre
dentro de uma célula específica para o doce ou amargo. Além disso, cada célula
gustativa faz contacto sináptico com diferentes axónios gustativos primários que leva
para o SNC.

Aminoácidos – Os aminoácidos são nutrientes cruciais que são vitais como energia e
para a construção de proteínas. Provavelmente como consequência, muitos aminoácidos
sabem bem e outros sabem a amargo. O sabor unami, o qual é bem conhecido pelos
restaurantes chineses, é desencadeado por um mecanismo muito similar ao sabor doce.
O receptor doce é um dímero compreendendo dois membros da família T1R: T1R e
T1R3. Note que os receptores unami e doce partilham o T1R3. O sabor para
aminoácidos parecem depender do T1R1 porque os ratos que não o possuem são
incapazes de descriminar glutamato e outros aminoácidos, embora eles retenham a sua
habilidade para detectar as substâncias doces. O receptor unami activa os mesmos
mecanismos de sinalização que os receptores do doce e amargo fazem: Proteínas G,
PLC, IP3, aumento da [Ca2+]i e a abertura do canal TRPM5. Outra vez, pelo isolamento
de receptores de unami em células gustativas que também não expressam receptores
para o doce e amargo, o SNC consegue distinguir os vários sabores a partir de um outro

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por algum modo conhecendo que célula gustativa se conecta a um axónio gustativo
particular.

A transdução olfactiva envolve receptores específicos, sinais acoplados à proteína


G, e um canal iónico de nucleótidos cíclicos

A nossa habilidade para cheirar químicos está mais desenvolvida que a nossa
habilidade para os saborearmos. Por estimativa, nos conseguimos cheirar mais de 400
000 substâncias diferentes. Interessantemente, aproximadamente 80% destas
substâncias têm um cheiro pouco apelativo. Tal como o paladar, parece provável que o
olfacto tenha evoluído para servir funções protectoras importantes, tal como avisar-nos
de substâncias prejudiciais. Com a habilidade de discriminarmos tantos cheiros
diferentes, podemos até esperar diferentes mecanismos de transdução, como no sistema
gustativo. De facto, os receptores olfactivos provavelmente usam apenas um mecanismo
de segundo mensageiro. A Fig. 15-4 sumaria a cadeia de eventos que leva a um
potencial de acção no nervo olfactivo (i.e. CN I):

Passo 1: O odorante liga-se a um receptor proteico olfactivo específico na membrana


celular do cílio de uma célula olfactiva receptora.
Passo 2: A activação do receptor estimula uma proteína G heterotrimérica Golf.
Passo 3: A sub-unidade alfa da Golf por sua vez activa a adenilciclase, que produz
cAMP.
Passo 4: O cAMP liga-se a um canal iónico associado a cAMP.
Passo 5: A abertura deste canal aumenta a permeabilidade ao Na+, K+ e Ca2+.

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Passo 6: O fluxo interno de corrente leva à despolarização da membrana e aumento da
[Ca2+]i.
Passo 7: O aumento da[Ca2+]i abre canais de Cl- activados por Ca2+ . A abertura
destes canais produz mais despolarização devido à [Cl- ]i elevada dos receptores
olfactivos neuronais.
Passo 8: Se o potencial dos receptores exceder o limiar de excitabilidade, despoleta
potenciais de acção no corpo celular que viajam ao longo do axónio para o cérebro.

Toda esta maquinaria molecular, com a excepção do mecanismo do potencial de


acção, está nos cílios finos das células olfactivas receptoras. Para além disso, esquemas
modulatórios adicionais também se ramificam deste caminho/percurso básico.
As células olfactivas receptoras expressam uma grande família de receptores
proteicos; de facto, são a a maior família de genes de mamíferos conhecida! A sua
descoberta no início de 1990 deu a Linda Buck e Richard Axel o Prémio Nobel em
2004. Os roedores têm mais de 1000 genes de receptores olfactivos diferentes. Os
humanos têm aproximadamente 350 genes que codificam receptores proteicos
funcionais. Esta família de receptores olfactivos pertence à superfamília GPCRs que
também inclui a proteína de foto-transdução rodopsina e os receptores de paladar para o
doce, amargo e Unami descritos anteriormente, tal como receptores para uma variedade
de neurotranmissores.
As superfícies extracelulares dos receptores proteicos olfactivos têm locais de
ligação para odorantes, cada um ligeiramente diferente do outro. Presumivelmente, cada
receptor proteico pode ligar apenas um determinado tipo de odorantes; portanto, algum
grau de selectividade é conferido a diferentes células olfactivas receptoras.
Notavelmente, cada célula receptora parece expressar apenas um gene dos 1000 genes
diferentes em roedores. Assim, 1000 células receptoras olfactivas de diferentes tipos
estão presentes, cada uma identificada pelo único gene receptor que expressa. Como
cada odorante pode activar uma vasta proporção de diferentes tipos de receptores, a
principal função do sistema olfactivo é descodificar os padrões de actividade das células
receptoras que sinalizam a identificação de cada cheiro.
A estrutura do canal olfactivo dependente de cAMP está proximamente
relacionada com o canal activado pela luz presente nos foto-receptores da retina, que é
normalmente dependente de um aumento na [cGMP]i . O canal olfactivo e o canal
foto-receptor evoluíram, quase certamente, de um canal dependente de nucleótidos
cíclicos ancestral, assim como o receptor olfactivo e foto-receptor proteicos
provavelmente evoluíram de um receptor ancestral com 7 segmentos membranares.
A terminação da resposta olfactiva ocorre quando os odorantes se difundem,
quando enzimas scavanger presentes na camada mucosa os degradam, ou quando o
cAMP na célula receptora activa outros caminhos sinalizadores que terminam o
processo de transdução.

TRANSDUÇÃO VISUAL
O ambiente da maioria das espécies está envolvido por luz (Fig. 15-5). Os animais
desenvolveram vários mecanismos para transduzir e detectar a luz. Os seus cérebros
analisam a informação visual para os ajudar a localizar comida, evitar tornarem-se
presas, encontrar um companheiro, navegar, e reconher objectos distantes. A luz é uma
fonte de informação sobre o mundo extremamente útil porque é praticamente ubíqua e
pode viajar rápido e em longas distâncias em linha recta com pouca dispersão de
energia. O olho do vertebrado, aqui descrito, tem 2 componentes principais: uma parte
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óptica para reunir e focar a luz e para formar uma imagem e uma parte neural (retina)
para converter a imagem óptica num código neuronal.

Os componentes ópticos do olho reúnem a luz e focam-na para a retina

As estruturas ópticas do olho estão entre as terminações sensitivas não neuronais


mais sofisticadas, e são frequentemente comparadas a uma câmara. Como as câmaras se
têm tornado cada vez mais sofisticadas, a analogia tem melhorado porque o olho tem
sistemas para focar automaticamente, para ajustar a sua sensibilidade a diferentes níveis
de luz, para acompanhar o movimento e estabilizar o alvo, e até para manter a sua

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superfície limpa (obviamente as câmaras ainda têm de melhorar). A semelhança com as
câmaras acaba quando consideramos a retina, que é definitivamente diferente de
detectores de luz electrónicos.
A figura 15-6A mostra uma secção transversal do olho humano. Um raio de luz
a entrar no olho passa através de vários elementos relativamente transparentes para
atingir a retina; estes elementos incluem uma fina película de lágrimas e depois a
córnea, o humor (líquido orgânico) aquoso, a lente, e finalmente o humor vítreo. As
lágrimas, surpreendentemente, são um líquido complexo, baseado num ultrafiltrado do
plasma. Elas banham a córnea numa camada com menos de 10μm de espessura,
mantêm-na húmida e permitem que o O2 se difunda do ar para as células da córnea. As
lágrimas também contêm lisoenzimas e anti-corpos para combater a infecção, uma
camada oleosa superficial que mostra grande evaporação e previne o derrame nas
margens da pálpebra, e uma camada mucosa fina para humedecer a superfície da córnea
e permitir que as lágrimas se alastrem livremente. As lágrimas também ajudam a libertar
substâncias estranhas. A córnea é um epitélio transportador fino livre de vasos
sanguíneos e com uma estrutura celular especializada para manter a sua transparência
elevada. O epitélio ciliar, parte do corpo ciliar, secreta constantemente humor aquoso,
um ultafiltrado do plasma sanguíneo sem proteínas, para a câmara/espaço posterior do
olho. O humor aquoso passa entre a íris e a superfície anterior da lente e alcança a
câmara anterior através da pupila. Este humor aquoso mantém a porção anterior do
olho com ligeira pressão (20 mm Hg), que ajuda a manter a forma do olho. Os canais de
Schlemm drenam o humor aquoso. Pressão excessiva na câmara anterior produz uma
doença, glaucoma. Na forma mais comum de glaucoma, o bloqueio dos canais de
Schlemm leva a um aumento da pressão intra-ocular. A pressão danifica e destrói
axónios de células ganglionares no disco óptico, onde eles deixam o olho e entram no
nervo óptico. A lente é uma estrutura em forma de cebola com células colunares muito
juntas arranjadas de forma concêntrica e rodeadas por uma cápsula transparente fina e
forte composta por células epiteliais. As células da lente têm uma concentração elevada
de proteínas, alfa-cristalinas, que ajudam a aumentar a densidade da lente e
melhorar o poder de focagem. A câmara posterior, preenchida por uma substância
gelatinosa, o humor vítreo, também é mantida com pressão pela produção de humor
aquoso.
A luz tem de ser focada para gerar uma imagem óptica nítida na retina. Isto é
conseguido pela córnea, e em menor extensão, pela lente. Focar requer que o percurso
da luz seja dobrado, ou refractado. A refracção pode ocorrer quando a luz passa de um
meio no qual viaja relativamente rápido para um meio no qual viaja lentamente, ou
vice-versa. O índice de refracção de uma substância é essencialmente uma medida de
velocidade da luz nela mesma; por exemplo, a luz viaja mais rapidamente no ar (índice
de refracção, 1.0003) do que através da substância densa da córnea (índice de refracção,
1.376). 2 coisas determinam a o quanto um raio de luz é refractado: a diferença dos
índices de refracção dos 2 meios e o ângulo entre a luz incidente e a interface entre os 2
meios. As lentes convexas simples usam superfícies curvas para controlar a refracção
dos raios de luz de forma a estes convergirem (ou focarem) numa superfície distante. O
poder de focagem (D) de uma superfície de uma lente esférica é:

Poder de focagem= (n2 - n1 ) /r

Aqui n1 e n2 são os índices de refracção do primeiro e segundo meios e r é o raio


da curvatura da lente em metros. A unidade de poder de focagem é a dioptria (1D=1m-1
). O poder de focagem é o recíproco de comprimento focal. Assim, raios de luz

13
paralelos que entrem numa lente de 1-D são focados a 1 m, e aqueles que entram numa
de 2-D focam a 0.5 m.
No caso dos olhos, a maioria da focagem ocorre na interface entre o ar e a
superfície anterior da córnea coberta por lágrimas porque é nesta região que a luz
encontra a maior disparidade no índice de refracção, a caminho da retina (Fig. 15-6B).
Com uma variação de 0.376 no índice de refracção e e um raio da curvatura externa de
7.8 mm numa córnea humana típica, o poder de focagem é de 48.2 D. A curvatura da

superfície interna da córnea é revertida, logo algum poder de focagem é perdido à


medida que a luz passa para o humor aquoso. Contudo , a alteração no índice de
refracção nesta superfície é apenas 0.040, logo a alteração é apenas -5.9 D. A lente do
olho, com curvaturas convexas de ambos os lados, te um poder de focagem potencial
superior ao da córnea. Contudo, devido à pequena diferença no índice de refracção entre
a substância da lente e os humores aquoso e vítreo que a rodeiam, o poder de focagem
efectivo da lente é menor. O poder focal somado no olho relaxado é aproximadamente
60 D, o que o permite focar a luz, vinda de objectos distantes, para a retina, cujo centro
é 24 mm atrás a superfície da córnea (Fig. 15-7). A posição da imagem na retina é,
obviamente, invertida em relação ao objecto que a produziu.
Um olho normal em repouso está focado em objectos distantes, além de 7m. Se
estivesse fixo nesta posição, seria impossível ver objectos que estivessem muito
próximos, Para focar objectos que estão para cá de 7m, o olho necessita de aumentar o
seu poder de focagem, um processo denominado acomodação. O olho atinge este
objectivo ao alterar a forma da lente (Fig.15-7B). Em repouso, a lente está suspensa
pelos seus bordos por fibras elásticas zonais que mantém a sua cápsula estendida e
relativamente achatada. Para acomodar, as fibras musculares ciliares contraem e
libertam alguma da tensão nas fibras zonais. Aliviada do puxão radial das suas fibras, a
lente torna-se mais redonda. Este aumento na curvatura significa um aumento no poder
de focagem e uma alteração do ponto de focagem para mais próximo do olho. Existem
limites para a acomodação, claro, e são fortemente dependentes da idade. As crianças
pequenas têm as lentes mais flexíveis e podem aumentar o seu poder de focagem até 12

14
ou 14 D. O seu ponto “near”, a distância mais próxima à qual são capazes de focar, é
aproximadamente no final dos seus narizes.
Com a idade, as lentes tornam-se rijas e são menos capazes de arredondar e de
acomodar. Por volta dos 30, o ponto “near” é aproximadamente 10 cm, e por volta dos
40, aumenta para lá do comprimento do braço.
A perda de acomodação com a idade é a
presbiopia ( do grego presbus para “velho” e
ops para olho); é a razão pela qual os óculos
para leitura são inevitáveis em quase todos os
indivíduos com 50 anos ou mais. Falhas
refractárias adicionais podem ser causadas por
um olho que é demasiado longo ou curto para o
seu poder de focagem, ou por aberrações na
superfície refractária do olho A miopia, perda
da visão ao longe, ocorre quando o olho é
demasiado longo; os objectos distantes focam à
frente da retina e parecem turvos (Fig. 15-7B).
A Hipermetropia (hiperopia), perda da visão
ao perto, é uma característica dos olhos muito
curtos, mesmo com as lentes completamente
acomodadas, os objectos próximos focam atrás
da retina e parecem turvos. As pessoas com
miopia podem usar lentes côncavas que movem
o plano de focagem de todas as imagens de
volta à retina. Aquelas com hipermetropia
podem usar lentes convexas que movem o
plano de focagem para a frente. O
astigmatismo é causado por curvaturas
irregulres da superfície refractária do olho.
Como resultado, uma fonte de luz não pode ser
trazido para um foco preciso na retina. A
focagem difusa resultante leva à turvação da
imagem. A maioria das pessoas com visão
astigmática também podem usar lentes para
compensar as propriedades de focagem
aberrantes do olho.
A íris é a estrutura colorida que é visível
através da janela da córnea. O tom da íris é
proveniente de pigmentos das suas células, mas
a sua função é criar e ajustar a abertura redonda
que rodeia- a pupila. A pupila é como a abertura de uma câmara, e a íris é o diafragma
que regula a quantidade de luz que é permitida entrar no olho. A íris tem músculos
esfíncteres, enervados por fibras parassimpáticas pós-ganglionares do gânglio ciliar
(Fig. 15-8; ver também Fig. 14-4), que a permitem contrair (miose). A íris também têm
músculos orientados radialmente, enervados por fibras simpáticas pós.ganglionares do
gânglio cervical superior (ver Figs. 14-4 e 14-12), que a permitem dilatar (midríase). O
tamanho da pupila depende do balanço dos dois inputs autonómicos. A regulação do
tamanho da pupila pelos níveis ambientais de luz denomina-se reflexo pupilar da luz
(Fig. 15-8). A luz incidente na retina estimula fibras do nervo óptico que fazem sinapse
no tronco cerebral no núcleo da comissura posterior. O neurónio seguinte projecta-se

15
para os núcleos de Edinger-Westphal nos dois lados do cérebro ( ver Fig. 14-5),
estimulando neurónios parassimpáticos pré-ganglionares que viajam para os 2 gânglios
ciliares. Estes neurónios activam neurónios parassimpáticos pós-ganglionares que
contraem ambas as pupilas. Assim, o controlo das pupilas dos 2 olhos é assegurado: um
aumento na luz para um dos olhos leva a sua pupila a contrair (resposta directa à luz),
mas também provoca uma contracção idêntica no outro olho, mesmo que esse olho
tenha recebido níveis constantes de luz (resposta consensual à luz). As respostas
pupilares servem 2 funções: (1) ajudam a regular a quantidade total de luz que entra no
olho (num intervalo até 16x). e (2) afectam a qualidade da imagem da retina da mesma
forma que a abertura afecta a profundidade de focagem de uma câmara ( uma pupila
com menor diâmetro dá uma
maior profundidade de
focagem).

Outras estruturas
periféricas também são
essenciais para a função
visual adequada. As mais
importantes são os músculos
extra-oculares que controlam
os movimentos do olho e
assim a direcção do olhar,
acompanhamento de
objectos, e a coordenação dos
2 olhos para manter as
imagens da retina alinhadas à
medida que os olhos, cabeça,
e mundo visual se movem. Os
núcleos no tronco cerebral
também controlas estas
funções de
acompanhamento/perseguiçã
o.

A retina é uma pequena


parte do SNC deslocada do
mesmo

A retina é um lençol
muito fino (200μm de
espessura em humanos) de
tecido que reveste a parte
posterior do olho e contém as
células sensíveis à luz, os foto-receptores. Os foto-receptores captam fotões,
convertem a sua energia luminosa em energia química livre, e por fim geram um sinal
sináptico para transmissão a outros neurónios visuais na retina.
A retina é, histologicamente e embriologicamente, parte do SNC. Não só
transduz luz a sinais neuronais, como também desempenha o processamento
notavelmente complexo da informação visual antes de a passar para outras regiões do
cérebro. Para além das células foto-receptoras, a retina apresenta mais 4 tipos de

16
neurónios que formam um circuito neural ordenado, mas intrigante (Fig. 15-9). Um
tipo, célula ganglionar, gera o único output da retina ao enviar os seus axónios para o
tálamo através do nervo óptico (CN II). A retina é uma estrutura altamente laminada.
Através de uma evolução rápida, os foto-receptores no olho dos vertebrados estão na
superfície externa da retina, isto é, voltados para o lado contrário do humor vítreo e da
luz incidente. Assim, para alcançar as células transdutoras, a luz tem primeiro de passar
através de todos os neurónios da retina. Este percurso provoca apenas uma distorção
ligeira da qualidade da imagem devida à transparência e baixíssima espessura das
camadas neurais. Este arranjo aparentemente invertido pode mesmo ser uma vantagem
para a manutenção do olho. Os foto-receptores sofrem um processo contínuo de
renovação, separação da membrana dos segmentos externos e reconstrução dos mesmos.
Eles também exigem um fornecimento energético relativamente elevado. Como eles
estão voltados para a parte posterior do olho, os foto-receptores estão próximos do
epitélio pigmentado, que ajuda no processo de renovação, e dos vasos sanguíneos que
irrigam a retina. Estas estruturas pouco transparentes ( i.e., epitélio pigmentado e vasos
sanguíneos) estão assim isolados do percurso da luz. De facto, o epitélio pigmentado
também absorve fotões que não são inicialmente captados pelos foto-receptores, antes
de estes serem reflectidos e degradem a imagem visual.
Cada olho humano tem mais de 100 x 106 foto-receptores mas apenas 1 x 106
células ganglionares, o que implica um nível elevado de convergência de informação à
medida que flui das células transdutoras para as células de output. Parte desta
convergência é mediada por um conjunto de interneurónios ( i.e. células que fazem
conexões sinápticas apenas no interior da retina) denominados células bipolares, que
conectam directamente os foto-receptores e as células ganglionares numa direcção
maioritariamente radial (Fig. 15-9). Os restantes dois tipos de neurónios, células
horizontais e células amácrinas, são interneurónios que se espalha, na sua maioria, de
forma horizontal. As células horizontais sinapsam no interior da camada externa da
retina e interconectam os foto-receptores e células bipolares a si mesmos e entre eles.
As células horizontais medeiam frequentemente interacções numa vasta área da retina.
As células amácrinas sinapsam no interior da camada interna da retina e
interconectam células bipolares e células ganglionares. Os circuitos da retina são muito
mais complexos do que esta imagem aparenta. Uma sugestão desta complexidade é que
os seus 4 principais tipos de neurónios estão por sua vez divididos em pelo menos 10 a
20 subtipos diferentes, cada um com características fisiológicas e morfológicas
diferentes.
A espessura diminuída da retina dos mamíferos tem uma consequência biofísica
interessante. Como as distâncias de sinalização são tão pequenas, os potenciais
sinápticos podem propagar-se eficazmente dentro dos seus neurónios sem ajuda de
potenciais de acção convencionais. A propagação electrotónica de potenciais ao longo
das dendrites é geralmente suficiente. As principais excepções são as células
ganglionares, que usam acções de potencial para propagar a informação visual ao longo
dos seus axónios para o tálamo.

17
Existem dois tipos principais de foto-receptores: bastonetes e cones

Os dois principais tipos de foto-receptores, bastonetes e cones, são denominados


pelas suas formas características (Fig. 15-9). A retina humana tem apenas um único tipo
de bastonetes, responsável pela nossa visão monocromática adaptada ao escuro, e três
subtipos de cones, que são responsáveis visão sensitiva à cor que experienciamos em
ambientes brilhantes. Os bastonetes superam os cones em número pelo menos em 16:1,
e cada um está disperso num padrão específico pela retina.
Na área central da retina primitiva está uma pequena fossa com 300μm a 700μm
de diâmetro ( que conta para 1 a 2.3 graus do ângulo de visão) denominado fóvea, que

18
reúne luz do centro do nosso olhar (Fig. 15-6). Várias adaptações da fóvea permitem-na
mediar a mais elevada acuidade visual na retina. Os neurónios na camada interna da
retina estão, na verdade, deslocados lateralmente para o lado da fóvea de forma a
minimizar o espalhamento da luz no seu percurso para os receptores. Para além disso,
no interior da fóvea, o rácio de foto-receptores para células ganglionares cai
dramaticamente. A maioria dos receptores da fóvea sinapsam numa única célula bipolar,
que por sua vez sinapsa numa única célula ganglionar (Fig. 15-10A). Como cada célula
ganglionar é devota a uma pequena porção do campo visual, a visão central tem mais
resolução. Por outras palavras, o campo receptivo de uma célula ganglio-foveal (i.e., a
região de espaço de estímulo que a activa) é pequeno. Na periferia, o rácio de receptores
para células ganglionares é elevado (Fig. 15-10B); assim, cada célula ganglionar tem
um largo campo receptivo. O campo receptivo largo reduz a resolução espacial da
porção periférica da retina, mas aumenta a sua sensibilidade porque mais foto-
receptores reúnem luz para uma célula ganglionar. A visão foveal é puramente mediada
por cones, e o lençol de foto-receptores da fóvea consiste apenas em cones mais
pequenos empacotados até à maior densidade ( 0.3μm do centro de um cone ao centro
de outro). A densidade dos cones cai para níveis muito baixos no exterior da fóvea, e a
densidade dos bastonetes aumenta. A visão periférica (i.e., visão não-fóvea, ou visão a
ângulos visuais mais de 10 graus para lá do centro da fóvea e assim do centro do olhar)
é mediada por tanto bastonetes como cones.
Os foto-receptores são células alongadas com terminais sinápticos, segmento
interno, e um segmento externo (Fig. 15-9). Os terminais sinápticos contactam com o
segmento interno por um curto axónio. O segmento interno contém o núcleo e a
maquinaria metabólica; sintetiza os foto-pigmentos e tem uma elevada densidade de
mitocôndrias. O segmento interno também serve uma função óptica- a sua elevada
densidade concentra fotões para o segmento externo. Uma fina vara ciliar conecta o
segmento interno com o segmento externo. O segmento externo é o local de
transdução, embora seja a última parte da célula a “ver” a luz. Estruturalmente, o
segmento externo é um cílio altamente modificado. Cada segmento esterno do bastonete
tem aproximadamente 1000 discos membranares fortemente empacotados, achatados,
que consistem em organelos delimitados por membrana que iniciaram a saída da
membrana celular externa. Os segmentos externos dos cones tem junções membranares
semelhantes, mas estas são invaginações e permanecem contínuas com a membrana
externa. Os discos membranares contém foto-pigmentbastoneteos - a rodopsina nos
bastonetes e moléculas relacionadas com a rodopsina nos cones. A rodopsina move-se
do seu local de síntese no segmento interno através dos discos e para segmento externo
através de pequenas vesículas cujas membranas contém rodopsina incorporada em
discos.

19
Os Fotoreceptores Hiperpolarizam em Resposta à Luz

As notáveis experiências psicofísicas de Hecht e colegas em 1942 demonstraram


que 5 a 7 fotões, cada um actuando num único bastonete, é o suficiente para evocar uma
sensação de luz nos humanos. Assim, o bastonete está a funcionar no limite do seu
limite físico porque não há nível de luz mais baixo do que um fotão. A detecção de um
único fotão requer uma prodigiosa amplificação de sinal. Como Denis Baylor afirmou
“a sensibilidade da visão do bastonete é tão grande que a energia necessária para elevar
um cubo de açúcar um cm, se fosse convertida a luz azul-verde, seria suficiente para dar
um intença sensação de flash a qualquer humano alguma vez existente”.
A fototransdução envolve uma cascata de eventos químicos e eléctricos para
detectar, amplificar e sinalizar uma resposta à luz. Como em muitos outros receptores
sensitivos, os fotoreceptores usam eventos eléctricos (potenciais receptores) para
transportar o sinal visual do segmento externo às suas sinapses. Os mensageiros
químicos difundindo-se ao longo de tal distância seriam demasiado lentos. O facto
surpreendente sobre o potencial receptor dos bastonetes e cones é que é
hiperpolarizante. A luz faz com que o Vm das células fique mais negativo que o
potencial de repouso que se mantém na escuridão (Fig – 15-11A). A baixas
intensidades, o tamanho do potencial receptor aumenta linearmente com a intensidade
da luz; mas a altas intensidades, a resposta satura.
A hiperpolarização é um passo essencial na retransmissão do sinal visual porque
modula directamente o rácio de libertação do transmissor do fotoreceptor para os
neurónios pós-sinápticos. Esta sinapse é convencional, uma vez que liberta mais
transmissor – neste caso glutamato – quando o seu terminal pré-sináptico é
despolarizado e menos quando é hiperpolarizado. Assim, um flash de luz provoca uma
diminuição na secreção de transmissor. A conclusão é que o fotoreceptor dos
vertebrados é mais activo no escuro.
Como é gerada a hiperpolarização induzida pela luz? A Figura 15-11B mostra
um método de medir a corrente que flui através da membrana do segmento externo de
um único bastonete. No escuro, cada fotoreceptor produz uma corrente iónica que flui
continuamente para dentro do segmento externo e para fora do segmento interno. Esta
corrente do escuro é suportada principalmente por iões Na+ dirigidos para dentro no
segmento interno (Fig. 15-11C). O Na+ passa através de uma canal de catiões não
selectivo do segmento externo, que a luz regula indirectamente, e o K+ flui através de
um canal de k+ no segmento interno, que a luz não regula. O Na+ realiza cerca de 90%
da corrente do escuro no segmento externo, e o Ca2+ cerca de 10%. No escuro, o Vm é -
40mV. As bombas Na-K, localizadas principalmente nos segmentos internos, removem
o Na+ e importam K+. Um trocador Na-Ca remove o Ca2+ do segmento externo.
A absorção de fotões leva ao fecho de canais de catiões não selectivos no
segmento externo. A condutância total da membrana celular diminui. Como os canais
de K+ do segmento interno se mantêm abertos, o K+ continua a sair da célula, e esta
corrente para fora faz com que a célula hiperpolarize (Fig. 15-11D). O número de canais
de catiões que fecham depende do número de fotões que são absorvidos. A
sensibilidade de um bastonete varia de 1 a ~1000 fotões. Os cones são menos sensíveis,
mas são mais rápidos que os bastonetes; além disso, as respostas dos cones não saturam
mesmo ao nível mais brilhante da luz natural.
Baylor e os seus colegas mediram a quantidade mínima de luz necessária para
produzir uma variação na corrente de um receptor (Fig 15-11B). Eles descobriram que a
absorção de um fotão suprime uma surpreendentemente grande corrente, equivalente à
entrada de mais de 106 iões de Na+, e assim reprensente uma enorme amplificação da

20
energia. No pico da resposta, esta diminuição no influxo de Na+ representa ~3% de toda
corrente do escuro da célula. Uma resposta a um único fotão também é muito maior que
o barulho eléctrico de fundo no bastonete, como deve ser para produzir a alta
sensibilidade do bastonete à luz fraca. Os cones também respondem similarmente a um
único fotão, mas eles são inerentemente mais ruidosos e a sua resposta é apenas ~1/50 do
tamanho da resposta no bastonete.

21
A Rodopsina é um Receptor associado à Proteína G para a
luz

Como pode um único fotão parar o fluxo de 1milhão de


iões de Na+ através da membrana celular de um bastonete? O
processo começa quando o fotão é absorvido pela rodopsina, a
molécula receptora de luz. A Rodopsina é uma das moléculas
mais fortemente empacotadas do corpo, sendo que o seu rácio
de empacotamento é de cerca de 1 molécula da proteína por
cada 60 moléculas lipídicas! Um bastonete contém ~109
moléculas de rodopsina. Isto garante um rácio de captura
optimizado para a passagem de fotões através do fotoreceptor.
Ainda assim, apenas ~10% da luz que entra no olho é usada
pelos receptores. O resto ou é absorvido pelos componentes do
olho ou passa entre ou através dos receptores. A rodopsina tem
dois compostos chave: retinal e a proteína escotopsina. Retinal
é o aldeído da Vitamina A, ou retinol. Escotopsina é um único polipéptido com sete
segmentos membranares (Fig. 15-12 A). É um membro da superfamília dos GPCRs que
inclui vários receptores de neurotransmissores assim como as moléculas receptoras de
odor.
Para ser transduzido, os fotões são absorvidos pelo retinal, que é responsável pela Figura 15 - 22 A
cor da rodopsina. A cauda do retinal pode contorcer-se
numa variedade de configurações geométricas, uma das
quais é uma versão torcida e instável chamada 11-cis-
retinal (Fig. 15-12B). A forma cis assenta num bolso
(comparável ao local de ligação do ligando de outras
GPCRs) da escotopsina e está covalentemente ligada a ela.
No entanto, devido à sua instabilidade, a forma cis pode
existir apenas no escuro. Se a 11-cis-retinal absorver um
fotão, ela é isomerada num picosegundo numa versão mais
recta e mais estável chamada all-transretinal. Por sua vez,
esta isomerização despoleta uma série de alterações
conformacionais na escotopsina que levam a uma forma
chamada metarodopsina II, que pode activar uma
molécula ligada chamada transducina. A Transducina
transporta o sinal mais para a frente na cascata e provoca a
redução da condutância do Na+. Pouco depois da
isomerização, all-transretinal e a escotopsina separam-se Figura 15 - 12 B
num processo chamado Bleaching (Branqueamento); esta
separação faz com que a cor mude de vermelho rosado da rodopsina para o amarelo
pálido da escotopsina. A célula fotorreceptora converte all-transretinal a retinol
(Vitamina A), que depois é translocada parao epitélio pigmentar e torna-se 11-cis-
retinal. Este componente retorna ao segmento externo, onde se recomina com a
escotopsina. Este ciclo da regeneração da rodopsina leva alguns minutos.

22
A Transducina recebe este nome porque
ela traduz o sinal-activado-pela-luz da
rodopsina numa resposta membranar do
fotorreceptor (Fig. 15-12C). Quando ela é
activada pela pela metarodopsina, a
subunidade α da transducina troca a sua
ligação a uma Guanina Difosfato (GDP) por
um GTP e depois difunde-se pelo plano da
membrana para estimular a fosfodiesterase
que hidroçiza o GMPc a 5’-guanilato
monofosfato.
O GMPc é o segundo mensageiro
difusível que associa os eventos activados
pela luz dos discos achatados a eventos
eléctricos da membrana externa. Fesenko e
os seus colegas mostraram que o canal de
catiões “sensível à luz” dos bastonetes é na
realidade um canal de catiões GMPc-
dependentes. No escuro, uma Guanil
Ciclase Constitutivamente Activa que
sintetiza GMPc de GTP mantém os níveis de
GMPc elevados dentro do citoplasma dos
fotorreceptores. Esta elevada [GMPc]i faz com que os canais de catiões GMPc
dependentes passem muito do seu tempo abertos e é importante para a corrente do
escuro. (Fig. 15-11C) Como a luz estimula a fosfodiesterase e assim diminui a [GMPc] i, Figura 15 - 32 C
a luz reduz o número de canais de catiões GMPc dependentes abertos e assim reduz esta
corrente do escuro. Assim, o fotorreceptor hiperpolariza, a libertação de transmissores
diminui, e um sinal visual é passado ao neurónios retinais.
Uma forte amplificação ocorre ao longo da via de fostotransdução. A absorção de 1
fotão activa 1 molécula de metarrodopsina, que pode activar ~700 moléculas de
transducina em ~100ms. Estas moléculas de transducina activam a fosfodiesterase, que
aumenta o rácio de hidrólise do GMPc cerca de ~100x mais. Um fotão leva à hidrólise
de ~1400 moléculas de GMPc no pico da resposta, reduzindo assim a [GMPc] cerca de
8% no citoplasma em volta do disco activado. Esta diminuição na [GMPc]i fecha ~230
dos 11,000 canais de catiões GMPc dependentes que abrem no escuro. Resultando
assim numa queda de ~2% da corrente do escuro.
Os canais de catiões GMPc dependentes têm propriedades adicionais interessantes.
Eles respondem em milissegundos quando a [GMPc]i aumenta, e não ficam
dessensibilizados em reposta ao GMPc. A curva de concentração-resposta é muito
íngreme a baixas [GMPc]i porque a abertura requer a ligação simultânea de 3 moléculas
de GMPc. Assim, o canal muda o seu comportamento a níveis fisiólogicos de GMPc. A
condutância do ião através do canal também tem uma grande dependência da voltagem
porque o Ca2+ e o Mg2+ bloqueiam fortemente o canal (assim como o permeiam) dentro
de variações de voltagem. Este bloqueio do canal aberto (ver Fig. 7-20D) faz com que a
condutância normal de um único canal fique muito pequena, entre as mais pequenas de
qualquer canal iónico; o canal aberto normalmente tem uma corrente de apenas 3x10-15
amperes (3fA)! A corrente de canais iónicos é inerentemente “barulhenta” à medida que
eles abrem e fecham. No entanto, os 11,000 canais – cada um com uma corrente de 3fA
– conseguem atingir uma corrente de 11,000 x 3fA = 33pA. Em contraste, se 11 canais
– cada com uma corrente de 3pA – carregando uma corrente dark de 33pA, a mudança

23
de 2% deste sinal (0.66pA) seria menor que o “barulho” produzido pela abertura e fecho
de um único canal (3pA). Assim, os pequenos canais dão ao fotorreceptor um elevado
rácio sinal-barulho.
A [GMPc]i na célula do fotorreceptor representa um balanço dinâmico entre a
síntese de GMPc pela fosfodiesterase. O Ca2+, que entra através de um canal
relativamente não-selectivo dependente de GMPc, inibe sinergeticamente a guanil
ciclase e estimula a fosfodiesterase. Estas sensibilidades ao Ca2+ despoletam um sistema
de feedback negativo. No escuro, o Ca2+ a entrar impede aumentos da [GMPc]i. Na luz,
a diminuição da [Ca2+] que se seguiu diminui a inibição da guanil ciclase, inibe a
fosfodiesterase, aumenta a [GMPc]i, e assim balança o sistema para a reabertura do
canal.
O processo de terminação do estado activado pela luz da célula fotorreceptora ainda
não foi bem definido como o processo de activação. Um mecanismo parece envolver os
próprios canais. Como descrito no parágrafo anterior, o fecho dos canais dependentes de
GMPc na luz leva a uma queda na [Ca2+]i, que ajuda a reabastecer o GMPc e facilita a
abertura do canal. Dois mecanismos adicionais envolvem as proteínas rodopsina cinase
e a arrestina. A arrestina é uma proteína citosólica abundante, lia-se à rodopsina
fosforilada activada pela luz e ajuda a terminar o estado activado do receptor.
O olho usa uma variedade de mecanismos para se adaptar a uma vasta variedade
de níveis de luz

O olho humano pode operar efectivamente a uma variedade de cerca de 1010


intensidades de luz, que é o equivalente a sair da escuridão quase completa para uma luz
solar brilhante na neve. No entanto, mover-nos de um local iluminado para um escuro, e
vice-versa, requer tempo de adaptação antes de o olho conseguir responder
optimamente. A adaptação é mediada por diversos mecanismos. Um mecanismo
mencionado anteriormente é a regulação do tamanho da pupila pela íris, que consegue
mudar a sensibilidade à luz cerca de 16x, que representa uma pequena parte daquilo que
é possível fazer. Durante a adaptação ao escuro, dois mecanismos adicionais com
cursos de tempo muito diferentes são evidentes, como podemos ver num teste de
detecção do limite para o olho humano (Fig. 15-13). A primeira fase de adaptação está
terminada em aproximadamente 10min e é uma propriedade dos cones; o segundo leva
pelo menos 30 minutos e é atribuído aos bastonetes. Uma retina completamente
adaptada ao escuro, “relaying” apenas dos bastonetes, pode ter um limite à luz 15,000
vezes mais baixo que uma retina dependendo apenas dos cones. No fundo, então o olho
humano tem duas retinas numa, uma retina
de bastonetes para baixos níveis de luz e uma
retina de cones para elevados níveis de luz.
Estes dois sistemas podem operar ao mesmo
tempo; quando adaptado ao escuro, os
bastonetes conseguem responder aos baixos
níveis de luz, mas os cones estão disponíveis
para responder quando um estímulo brilhante
aparecer.
As fases de adaptação rápida e lenta que
são discutidas anteriormente têm as duas
mecanismos de adaptação neural e dos
fotorreceptores. Os mecanismos neurais são
relativamente rápidos, operam num ambiente
de níveis de luz relativamente baixos, e

24

Figura 15 - 13
envolvem múltiplos mecanismos da network neuronal da retina. Os mecanismos dos
fotorreceptores envolvem alguns dos processos que são descritos na secção anterior.
Assim, na luz brilhante do sol, os bastonetes tornam-se ineficazes porque a maior parte
da rodopsina mantém-se inactivada, ou “branqueada” (bleached). Depois de voltar para
a escuridão, os bastonetes regeneram lentamente a rodopsina e voltam a tornar-se
sensíveis. No entanto, um componente do sistema do GMPc também regula a
sensibilidade do fotorreceptor. No escuro, quando a [GMPc]i de base é relativamente
alta, quantidades substanciais de Ca2+ entram através de canais GMPc dependentes. A
elevada [Ca2+] resultante inibe a guanil ciclase e estimula a fosfodiesterase, prevenindo
assim que a [GMPc]i fique muito elevada. Reciprocamente, quando o background dos
níveis de luz estão elevados, este mesmo sistema de feedback faz com que a [GMPc]i de
base se mantenha elevada, para que [GMPc]i possa cair em resposta a mais aumentos
nos níveis de luz. De outra forma, o sistema de transdução de sinal iria tornar-se
saturado. Por outras palavras, o fotorreceptor adapta-se ao background aumentado de
intensidade de luz e mantém-se responsivo a pequenas mudanças. Mecanismos de
adaptação adicional regulam a sensibilidade da rodopsina, guanil ciclase, e dos canais
GMPc dependentes. Claramente, a adaptação envolve uma intrincada rede de interacção
molecular.
A visão a cores depende das diferentes sensibilidades ao espectro dos três tipos de
cones

Os olhos humanos respondem apenas a uma pequena região do espectro


electromagnético (Fig. 15-5); mas dentro dele somos extremamente sensíveis aos
comprimentos de onda da luz. Nós vemos uma variedade de cores num panorama de dia
porque os objectos absorvem alguns comprimentos de onde enquanto reflectem,
refractam, ou transmitem outras. Diferentes fontes de luz podem também afectar as
cores de uma cena.
Foi proposto que a visão a cores,
que é uma ampla gama de tonalidades
distintas perceptíveis, é baseada em
apenas 3 pigmentos diferentes no
olho, cada um absorvendo uma
diferente gama de comprimentos de
onda. Assim, apesar de a análise da
cor pelo cérebro humano ser
sofisticada e complexa, toda ela deriva
de respostas a apenas três tipos de
fotopigmentos nos cones.
A nossa sensibilidade ao
comprimento de onde da luz depende
do estado de adaptação da retina.
Quando está adaptda para o escuro
(condições escotópicas), a curva de
sensibilidade ao espectro para a visão
humana é deslocada para comprimentos de onda curtos comparada com a curva obtida
depois da adaptação à luz (condições fotópicas; Fig. 15-14A). A sensibilidade absoluta
à luz em condições escotópicas também pode ser várias ordens de magnitude mais alta. Figura 15 – 14 A
(Fig. 15-13): A razão principal para a diferença nestas curvas é que os bastonetes fazem
uma transdução da luz fraca em condições de adaptação ao escuro, enquanto os cones
fazem a transdução no olho adaptado à luz. Como seria de prever, a curva de

25
sensibilidade ao espectro para a visão
escotópica é bastante similar ao espectro
de absorção da rodopsina dos bastonetes,
com um pico nos 500nm.
A sensibilidade ao espectro do olho
adaptado à luz depende dos
fotopigmentos nos cones. Os humanos
têm três tipos diferentes de cones, e cada
um expressa um fotopigmento com um
espectro de absorção diferente. Os picos
das suas curvas de absorbância caem
~nos 420, 530 e 560 nm, que
correspondem às regiões do espectro do violeta, verde amarelado e vermelho amarelado Figura 15 – 14 B
(Fig. 15-14B). Os três cones e os seus pigmentos foram historicamente chamados de
azul, verde e vermelho respectivamente. Eles agora são comummente chamados S, M e
L (para curto, médio e longo comprimento de onda). Como a sensibilidade absoluta dos
cones de comprimentos de onda curtos é apenas um décimo dos outros dois cones, a
sensibilidade ao espectro da visão fotópica humana é dominada pelos dois cones de
comprimentos de onda mais longos.
Um cone por si só não codifica o comprimento de onda de um estímulo luminoso.
Se um cone responde a um fotão, ele gera a mesma resposta independentemente do
comprimento de onda do fotão. A Figura 15-14B mostra que cada tipo de pigmento do
cone pode absorver uma vasta gama de comprimentos de onda. O pigmento no cone
absorve mais provavelmente fotões quando o seu comprimento de onda está no seu pico
de absorbância, mas a luz batendo no cone no limite da sua gama de absorbância pode
ainda assim gerar uma grande resposta se a intensidade da luz for suficientemente alta.
Esta propriedade de resposta, univariância, é a razão porque no olho com apenas um
pigmento a funcionar (ex.: visão escotópico usando apenas bastonetes) pode ser apenas
mono cromática. Com um único sistema de pigmentos, a distinção entre diferentes cores
e entre diferentes intensidades é confundida. Dois cones diferentes (como nos macacos
do Novo Mundo), cada um com uma sensibilidade a uma gama de comprimentos de
onda diferente, mas que se sobrepõem, removem muita da ambiguidade na codificação
do comprimento de onda do estímulo luminoso. Com três pigmentos que se sobrepõem
(macacos do Novo Mundo e Humanos), a luz de um único comprimento de onda
estimula cada um dos três cones a diferentes graus, e luz de qualquer outro
comprimento de onda estimula estes cones com um padrão diferente. Como o Sistema
Nervoso consegue comparar a estimulação relativa de três tipos de cones para
descodificar o comprimento de onda, ele também pode distinguir mudanças na
intensidade (luminosidade) da luz através de alterações no comprimento de onda.
As capacidades de cor não são constantes ao longo da retina. O uso de múltiplos
cones não é compatível com a discriminação espacial fina devido “às diferenças
dependentes do comprimento de onda da capacidade do olho de focar a luz” (because of
wavelength-dependent differences in the eye’s ability to focus light) (aberração
cromática) e porque objecto muito pequenos podem estimular apenas “single cones”. A
fóvea tem apenas cones tipo M e L, que limita a sua discrimanação de cor em
comparação com as porções periféricas da retina mas deixa-a melhor adaptada para
discriminar detalhes espaciais finos.
Os 4 pigmentos humanos diferentes têm uma estrutura similar. A presença de retinal
e de mecanismos da sua fotoisomerização são basicamente idênticos em cada um. A
principal diferença é a estrutura primária da proteína ligada, a escotopsina. As

26
escotopsinas M e L partilham 96% dos seus aminoácidos. No entanto, comparação
pareada entre outras escotopsinas mostra apenas 44% ou menos similaridade na
sequência. Aparentemente, as diferentes estruturas de aminoácidos das escotopsinas
afectam a distribuição das suas cargas na região do 11-cis-retinal e muda o seu espectro
de absorbância para dar aos diferentes pigmentos a sua especifidade na sensibilidade ao
espectro.

Correlação Clínica:
Defeitos herdados na Visão a Cores

Defeitos herdados na visão a cores são relativamente comuns, e muitos são causados
por mutações nos genes para os pigmentos visuais. Por exemplo, 8% dos homens
brancos e 1% das mulheres brancas têm algum defeito nos seus pigmentos M ou L
provocado por mutações ligadas ao cromossoma X. Um único pigmento anormal pode
levar a dicromacia (ausência de um pigmento funcional) ou tricomacia anormal (o
espectro de absorção de um pigmento está mudado relativamente ao normal),
frequentemente com uma consequente inabilidade para distinguir certas cores. Jeremy
Nathans e seus colegas descobriram que os homens apenas têm uma única cópia do
gene do pigmento L; mas localizado mesmo a seguir no cromossoma X, eles podem ter
uma a três cópias do gene para o pigmento M. Ele propôs que a recombinação
homóloga podia explicar a duplicação de um gene, perda de um gene, ou produção de
genes híbridos L-M que ocorre na cegueira cor verde-vermelho. Os pigmentos L-M
híbridos têm propriedades do espectro intermédias entre aquelas dos pigmentos
normais, provavelmente porque as suas escotopsinas consistem numa combinação de
traços de dois pigmentos normais.
A perda de dois dos três pigmentos funcionais leva a monocromacia. O número de
pessoas que têm esta verdadeira cegueira a cores é muito pequena, menos de 0.001% da
população.

AUDIÇÃO E EQUILÍBRIO

Vias de transdução vestibular e auditiva: células ciliadas

Equilibrarmo-nos num só pé e ouvir musica


envolve vias sensitivas que têm o mesmo mecanismo de
transdução. As sensações envolvidas na via vestibular e
auditiva começam dentro do ouvido interno através do
uso de receptores especializados (hair cells).
O sistema vestibular cria o nosso sentido de equilíbrio e o
sistema auditivo é responsável pela capacidade auditiva.
O equilíbrio permite-nos, entre outras coisas, manter a
nossa visão fixa num objecto quando abanamos a cabeça
(reflexo vestíbulo-ocular). Uma disfunção vestibular pode
fazer com que a imagem seja impossível de estabilizar na
retina em movimento, levando à sensação de que o mundo
está a mexer a nossa volta – vertigem.

27
O movimento das células ciliadas ao longo de um eixo provoca o fecho ou a
abertura de canais iónicos

As células ciliadas são mecanorreceptores que são especializados na detecção de


pequenos movimentos ao longo de determinado eixo. A c. ciliada é uma célula epitelial
cujas projecções ciliadas se encontram no lado apical e os contactos sinápticos dão-se
no lado basal.
As células ciliadas são ligeiramente diferentes nos sistemas vestibular e auditivo. Aqui
vamos falar essencialmente das células ciliadas vestibulares, existindo dois subtipos:
 Célulavestibular tipo I: têm área basalmais larga e rodeada por um terminal
nervoso em forma de cálice
 Célula vestinular tipo II: são mais cilíndricas e têm muitas aferências nervosas
simples
As células vestibulares têm um cílio maior – cinocílio – cuja função é desconhecida.
Tanto as células vestibulares como auditivas têm 50 a 150 estereovilosidades, que estão
organizadas de uma maneira precisa. O cinocílio encontra-se num dos lados e as
estereovilosidades dispõem-se de forma decrescente em direcção ao lado oposto.
As extremidades das estereovilosidades estão unidas por tip links.
O epitélio formado pelas células ciliadas separa a perilinfa da endolinfa. A perilinfa
banha o lado basolateral das células ciliadas e a sua composição é semelhante ao LCR.
A endolinfa banha as estereovilosidades e representa uma composição diferente: alta
concentração de K+ (150mM) e uma baixa concentração de Na+ (1mM), sendo mais
pareciso com citoplasma do que com líquido extracelular. Também tem uma
concentração de HCO3- (30mM) relativamente alta.
Voltagem da perilinfa: 0mV; Voltagem da endolinfa: 0mV; Voltagem
membranar de repouso da célula ciliada: -40mV
O gradiente químico para a entrada de K+ através da memrana apical é baixo.
Contudo, o gradiente eléctrico é de aproximadamente 40 mV, havendo uma força
razoável que leva à entrada de K+ para o interior da célula vestibular (esta força é ainda
maior nas células ciliadas auditivas).
O estímulo apropriado para a célula
ciliada é o movimento dos seus cílios:
 Movimento para longe do
cinocílio – hiperpolarização da
célula
 Movimento para o lado do
cinocílio – despolarização da
célula
A mecanotransdução da célula
ciliada resulta da associação do
movimento ciliar com a abertura de
canais catiónicos apicais
mecanossensíveis. Estes canais
catiónicos estõ localizados perto das
pontas das estereovilosidades. Pensa-se
que o acoplamento entre movimento
dos cílios e a abertura/fecho dos canais
seja um processo físico, já que a
intervenção de um 2º mensageiro
levaria a um acoplamento muito mais lento.

28
Os canais catiónicos são relativamente grandes e não selectivos pois permitem a
passagem de catiões monovalentes (K+, …) e alguns divalentes (Ca2+, …). Em
condições fisiológicas o K+ é responsável por praticamente toda a corrente.
Quando a célula está em repouso – os cílios direccionados para cima – existe uma
pequena corrente de K+ despolarizante para dentro da célula. Uma deflexão positiva dos
cílios (em direcção ao cinocílio) aumenta a permeabilidade dos canais apicais,
aumentando o influxo de K+ e levando, por conseguinte, a despolarização. O K+ depois
deixa a célula através de canais K+ mecanoinsensíveis na membrana basolateral, a favor
do gradiente electroquímico.
Uma defelxão negativa fecha os canais apicais, levando a hiperpolarização.
 O canal mecanossensitivo da célula ciliada parece pertencer à família dos canais
TRP (transient receptor potencial).
 Uma célula ciliada não é um
neurónio: não tem axónios e a maioria
não gera potenciais de acção. O que
acontece é que, quando há
despolarização, são activados canais
Ca2+ na membrana basolateral que
levam à entrada deste ião. O aumento
da concentração de Ca2+ desencadeia a
libertação de glutamato e aspartato
pelas células vestibulares. Estes
neurotransmissores excitatórios
estimulam o terminal pós-sináptico de
neurónios sensitivos que transmitem a
informação até ao cérebro. Quanto maior a libertação de
neurotransmissor, maior a taxa de potenciais de acção
desencadeados no terminal pós-sináptico.
Nos mamíferos, todas as células ciliadas (vestibulares e
auditivas) encontram-se dentro de um conjunto de tubos
e câmaras designado labirinto membranoso. A porção
vestibular tem 5 estruturas sensitivas: 2 orgãos otolíticos
que detectam a gravidade (a posição da cabeça) e
movimentos lineares da cabeça e 3 órgãos
semicirculares que detectam movimentos de rotação da
cabeça.
A porção auditiva do labirinto é a cóclea que detecta
vibrações (som).

Os órgãos otolíticos (sáculo e utrículo) detectam a orientação e aceleração


linear da cabeça
Os órgãos otolíticos estão:
 Delimitados por células
epiteliais
 Preenchidos por endolinfa
 Rodeados por perilinfa
 Encaixados no osso temporal
Dentro do epitélio, células especializadas
vestibulares escuras secretam K+ e são
responsáveis pelo aumento da concentração
29
de K+ na endolinfa. O sáculo e o utrículo têm um epitélio sensitivo designado mácula
que contém células ciliadas e células de suporte.as estereovilosidades projectam-se para
a gelatinosa membrana otolítica (massa de
mucopolissacarídeos que contêm otolitos e
otocomia – cristais de carbonato de cálcio).
Quando mudamos o ângulo da nossa
cabeça ou há movimento de aceleração, a
inércia da otoconia faz com que a membrana
otolítica se mova ligeiramente, alterando a
posição das estereovilosidades.
No sáulo, o cinocílio aponta para lá da
linha reversa (linha que divide a mácula em
duas regiões). no utrículo, o cinocílio aponta
em direcção à linha reversa.
Cada célula ciliada sinapsa com a
terminação de um neurónio sensitivo primário
que faz parte do nervo vestibular, por sua vez,
ramo do nervo vestíbulococlear (VIII). Os
corpos celulares destes neurónios sensitivos
estão localizados no gânglio de Scarpa, dentro
do osso temporal. Os axónios projectam-se para
núcleos vestibulares ipsilaterais no tronco
cerebral.

30
Os canais semicirculares detectam a aceleração angular da cabeça

Os canais semicirculares também sentem a aceleração, mas não a aceleração


linear sentida pelos órgãos otolíticos. Sentem a aceleração angular gerada pelas rotações
da cabeça.
Os canais semicirculares estimulam as suas células ciliadas de forma diferente
dos órgãos otolíticos. Em cada canal, as células ciliadas estão agrupadas dentro de um
epitélio sensitivo – crista ampularis – que está localizada numa porção do canal
designada ampola. Os cílios projectam-se para uma estrutura gelatinosa em forma de
cúpula – cúpula – que se encontra no lúmen da ampola. A cúpula não contém otoconia
logo não é sensível a aceleração linear. Contudo, uma rotação súbita do canal faz com
que a endolinfa vá para trás por causa da sua inércia. A endolinfa assim estagnada
exerce uma força na cúpula móvel (como o vento num barco à vela). Esta força empurra
a cúpula, alterando a posição dos cílios.
Cada lado da cabeça tem três canais semicirculares: anterior, posterior e lateral.

O ouvido externo e médio recolhem e transmitem ondas de pressão de ar para


transdução no ouvido interno

O som é um fenómeno produzido por ondas de baixa pressão (rarefacções) e alta


pressão (compressões) que se propagam pelo ar. A intensidade do som,medida em
pascal (Pa) é nos dada pela amplitude da onda. A intensidade é medida em decibéis. As
ondas sonoras variam em frequência, amplitude e direcção: o nosso sistema auditivo
está especializado na discriminação das três variáveis.
O uvido humano esta dividido em componentes externo, médio e interno.

Ouvido externo: a porção exterior mais visível é a aurícula (porção de pele preenchida
por cartilagem) e o trago (pequena extensão do pavilhão). Juntos formam uma espécie
de funil que leva as ondas sonoras até ao canal auditivo externo. Todas estas estruturas
permitem a chegada do som à membrana timpânica. O som faz a membrana timpânica
vibrar.

Ouvido médio: corresponde à câmara cheia de ar entre a membrana timpânica e a


janela oval. O tubo de Eustáquio liga o ouvido médio à nasofaringe, tornando possível
igualar a pressão do ar nos dois lados da membrana timpânica. O tubo de Eustáquio
também oferece uma via para a invasão de infecções da garganta para o ouvido médio –
otite média. A sua função principal é transferir as vibrações da membrana timpânica
para a janela oval. O ouvido médio consegue fazê-lo graças a uma cadeia de três
ossículos: estribo, martelo e bigorna.

A transmissão da vibração é um processo complexo pois as ondas começam por


propagar-se no ar (canal auditivo) e terminam como ondas de pressão num meio líquido
dentro da cóclea. Como o ar e a água são meios diferentes haveria perda do sinal se não
houvessem mecanismos de compensação. É o ouvido médio que permite que não se
dissipe energia, através de dois mecanismos:
 A membrana timpânica tem uma área 20x maior que a janela oval, amplificando
a pressão transmitida no ar;
 O martelo e a bigorna actuam como sistema alavanca, amplificando também a
pressão da onda sonora.

31
 Assim, em vez de o som ser reflectido, é transferido correctamente para os
líquidos do ouvido interno.
Dois pequenos músculos do ouvido médio: tensor timpânico e estapédio, inserem-se
no martelo e no estribo, respectivamente. Estes exercem algum controlo na cadeia de
ossículos e a sua contração serve para amortecer a transferência do som.
Estes músculos são activados quando o som ambiente se eleva, sendo
provavelmente um reflexo protector e também ajudam a suprimir os sons produzidos
por nós próprios (quando mastigamos p.e.) no interior da nossa cabeça.

A cóclea é uma espiral de três tubos cheios de fluído

A porção auditória do ouvido interno é


maioritariamente a cóclea, uma estrutura tubular de
aproximadamente 32mm de comprimento e enrolada
2,5 vezes.
Existem 2 membranas que dividem a cóclea em 3
compartimentos (fig. 15-20). Num dos lados temos a
escala vestibular que começa na janela oval - onde as
vibrações entram no ouvido interno. A membrana de
Reissner separa a escala vestibular do compartimento
ou escala média. O limite externo da escala média é a
membrana basilar, onde se encontra o órgão de
Corti e as suas células ciliadas. Abaixo da membrana
basilar encontra-se a escala timpânica que termina na
janela redonda.
Fig. 15-20 A cóclea. A membrana de Reissner e a membrana
basilar dividem a cóclea em três espirais com fluido: a escala
32
vestibular, a escala media e a escala timpánica.
Tanto a escala vestibular como a timpânica estão alinhadas por uma rede de
fibrócitos e cheias de perilinfa, semelhante ao CSF (baixa [K+], alta [Na+]). Existem
comunicações entre a perilinfa desses dois compartimentos através da membrana laxa
dos fibrócitos ou por uma pequena abertura no ápex da cóclea chamado helicotrema.
Comunica também coma perilinfa
vestibular e o CSF.
A escala média contém
endolinfa, um líquido
extremamente rico em [K+]. Ao
contrário da endolinfa vestibular, a
endolinfa auditiva tem um
potencial de +80mV em relação à
perilinfa. O potencial
endococlear, o maior potencial Fig. 15-21 Secreção de K+ para a endolinfa pela estria vascularis.
transmembranar no corpo, é a
principal força para que ocorra transdução de sinal nas células ciliadas, sendo que a sua
perda é uma frequente causa de surdez.
A estria vascularis é um tecido extremamente vascularizado que é responsável
por secretar K+ para a endolinfa (Fig. 15-21). É, funcionalmente, um epitélio com duas
camadas. As células marginais separam a endolinfa do compartimento intraestrial e as
células basais separam o compartimento intraestrial do ligamento espiral que é contíguo
com a perilinfa. Existem gap junctions que ligam um lado das células basais a células
intermédias e o outro lado aos fibrócitos do ligamento espiral. Estas ligações são
essenciais para gerar o potencial endococlear.
Os fibrócitos têm mecanismos de uptake de K+ que mantêm uma alta [K+]i nas
células intermédias. O canal de K+ KCNJ10 nas células intermédias é responsável por
gerar o potencial endococlear. Existem outros canais cujo
propósito é manter o fluído intraestrial baixo em [K+], removendo-
o e depositando-o na endolinfa.

As células ciliadas internas fazem a transdução do som


enquanto o movimento das externas amplifica o sinal

As células ciliadas encontram-se numa porção da


membrana basilar: o órgão de Corti. Contém 4 filas de células
ciliadas: 1 fila de cerca de 3500 células ciliadas internas e 3 filas
com um total de 16000 células ciliadas externas. Os lados apicais
destas células contêm estereocilos que nas células ciliadas internas
contactam directamente com a endolinfa (Fig. 15-23B) enquanto
os estereocílios das externas contactam com a membrana tectorial,
uma estrutura gelatinosa e rica em colagénio que está fixa numa
das suas terminações permitindo mover-se para cima ou para baixo
(Fig. 15-23C).
Como é que as ondas de pressão do ar estimulam as células
ciliadas auditivas?
1. O estribo move-se para fora. Como resultado a pressão na
escala vestibular desce. Como a perilinfa da escala
vestibular e timpânica é incompressível e a cóclea está
envolvida por osso rígido a janela redonda move-se
interiormente (Fig. 15-19B).
Fig. 15-23 Orgão de Corti. A, O movimento ascendente da membrana basilar inclina os estereocílios em
direcção ao estereocílios maior abrindo canais de transdução. B, Nas células ciliadas internas a despolarização 33
aumenta a secreção de neurotransmissores C, Nas células ciliadas externas uma despolarização causa uma
contracção causada pelas prestinas. D, O movimento descente da membrane basilar inclina os estereocílios
na direcção contrária ao esterocílio maior fechando os canais de transdução.
2. A pressão da escala vestibular desce abaixo da pressão da escala timpânica.
3. A membrana basilar curva-se para cima. Como a membrana de Reissner é
muito fina e flexível a baixa de pressão da escala vestibular puxa para si a escala
média que por sua vez faz com que a membrana basilar (e o órgão de Corti) se
dobrem para cima.
4. O órgão de Corti vai contra a membrana tectorial. O movimento de ascensão
da membrana basilar cria um força de tensão entre as células ciliadas externas e
a membrana tectorial.
5. Grupos de cílios das células ciliadas externas dobram-se na direcção do
estereocilio maior.
6. Abrem-se canais de transdução nas células ciliadas externas. Como o
principal ião a entrar é o K+, ocorre uma despolarização das células ciliadas
externas (Fig. 15-16A) – transdução mecânica para eléctrica. Estas mudanças
no potencial membranar são chamados potenciais receptores, semelhantes aos
do sistema vestibular.
7. A despolarização leva à contracção da prestina, uma proteína motora. As
prestinas encontram-se nas células ciliadas externas e a sua activação causa a
contracção das células ciliadas externas causando uma transdução eléctrica
para mecânica ou electromotilidade.
8. A contracção das células ciliadas externas acentua o movimento de ascensão
da membrana basilar ao contrair-se. O contrário também acontece, pelo que
quando ocorre uma hiperpolarização devido à descida e afastamento da
membrana tectorial, a célula estende-se para aumentar ainda mais essa distância.
É por isso que se diz que as células ciliadas externas funcionam como
amplificadores da cóclea – sentem e rapidamente acentuam os movimentos da
membrana basilar. Na ausência de prestinas este sistema de amplificação deixa
de funcionar e o ocorre surdez.
9. A endolinfa entre a membrana tectorial e a membrana basilar é
comprimida e movimenta-se para fora do sulco interno. O movimento de
subida da membrana basilar comprime a endolinfa e obriga a que esta se
movimente do sulco interno em direcção à ponta da membrana tectorial.
10. Os cílios das células ciliadas internas curvam-se em direcção ao esterocílio
maior devido ao fluxo de endolinfa.
11. Abrem-se canais de transdução nas células ciliadas internas resultando
numa despolarização.
12. A despolarização abre canais de Ca2+ voltagem dependentes. Isto vai
aumentar a [Ca2+]ic
13. Ocorre fusão das vesículas sinápticas libertando-se glutamato. O
neurotransmissor vai activar potenciais de acção em neurónios aferentes que vão
mandar os sinais auditivos para o tronco cerebral. É de notar a diferente resposta
das células ciliadas à despolarização. As externas vão iniciar movimentos de
contracção com o propósito de amplificação enquanto as internas libertam
neurotransmissores.

Quando o estribo se movimenta para o interior todos estes processos vão estar
revertidos: a membrana basilar move-se inferiormente causando uma hiperpolarização
das células ciliadas externas que vão estender-se e acentuar o movimento de descida da
membrana basilar que vai causar um fluxo de endolinfa em direcção ao sulco interno
que vai dobrar os cílios das células ciliadas internas na direcção contrária à do
esterocilio maior causando hiperpolarização e emissão reduzida de neurotransmissores.

34
A cóclea recebe inervação motora e sensitiva pelo nervo auditivo ou coclear, uma
divisão do NC VIII. Os corpos celulares dos neurónios aferentes encontram-se em
gânglios espirais cujas dendrites contactam com as células ciliadas (95% para as
internas).

A sensibilidade à frequência das células auditivas depende da sua posição em


relação à membrana basilar da cóclea

A experiência subjectiva de discriminação dos tons é chamada altura. Um ser


humano jovem pode ouvir desde os 20 aos 20,000 Hz. Um tom puro e contínuo produz
uma onda que ao viajar pela membrana basilar irá ter diferentes amplitudes ao longo de
vários pontos no eixo base-apéx (Fig, 15-24A). Aumentos na amplitude do som causam
um aumento na frequência de disparo de potenciais de acção dos neurónios sensitivos –
codificação por frequência (“rate coding”). A frequência do som é determinada pelo
local onde vibra mais na cóclea. As altas frequências numa ponta e as baixas na outra.
Esta selectividade é a base para a codificação por local (“place coding”), isto é a
selectividade para cada frequência está associada a um local específico ao longo da
cóclea.
As frequências mais baixas geram a sua amplitude máxima no ápex enquanto as
altas frequências têm a sua amplitude máxima perto das janelas oval e redonda (Fig. 15-
24B).
São duas as propriedades da membrana basilar que permitem que ocorra o
gradiente de ressonância baixa-
apical para alta-basal: a forma
cónica e a rigidez. Se esticarmos
a cóclea é possível verificar que
o seu interior tem forma cónica
com o vértice na base e a
alargando em direcção ao ápex.
Também se verifica que a ponta
basal mais fina é 100x mais
rígida que a sua contraparte mais
larga e laxa no ápex. Tal como
uma harpa, a membrana basilar
perto das janelas oval e redonda
apresenta fibras curtas e rijas que
vibram a altas frequências
enquanto no ápex as fibras são
mais longas e laxas, vibrando a
menores frequências. Também
as próprias células ciliadas
Fig. 15-24 Ondas sonoras ao longo da membrana basilar da cóclea. A, À medida
apresentam mecanismos para que a onda gerada por um frequência específica viaja pela membranan basilar a
afinar as suas vibrações ao sua amplitude muda. A verde e amarelo estão as curvas de uma onda sonora em
modularem da mesma o tamanho dois tempos diferentes. As linhas a tracejado (o envelope) mostram o intervalo
e a rigidez dos seus estereocílios. de amplitudes máximas de todas as ondas em todos os pontos no tempo. Como
A capacidade das células tal, uma onda nunca pode escapar do envelope (q lol?). B, Para um tom puro de
10,000 Hz o envelope está confinado a uma zona perto do estribo. Para tons de
ciliadas responderem aos 4000Hz e 200 HZ o envelope localiza-se mais próximo do helicotrema. C, A cóclea
diferentes tons também está sob diminui em diâmetro da base para o apéx enquanto a membrana basilar o faz no
controlo de neurónios motores sentido contrário.
provenientes do complexo olivar superior no tronco cerebral. Fazem sinapse

35
maioritariamente nas células ciliadas externas e a sua estimulação suprime a capacidade
de resposta da cóclea ao som acreditando-se estar envolvida na concentração auditiva
permitindo ignorar sons não desejados – perceber sons mesmo em ambientes
barulhentos. O principal neurotransmissor aferente é a acetilcolina que activa receptores
ionotrópicos de Ach que causam um influxo de Ca2+ que por sua vez leva à activação de
canais de K+ que vão provocar uma hiperpolarização – um potencial pós-sináptico
inibitório (IPSP) – que inibe a electromotilidade das células ciliadas externas e dos
potenciais de acção das aferências dendítricas. Isto permite que o cérebro controle o
sistema de amplificação coclear do ouvido interno.

Uma variedade de terminações sensitivas na pele fazem a transdução de estímulos


mecânicos, térmicos e químicos

Para reconhecer um lote vasto de informações sensitivas, são necessários muitos


receptores especializados. Os receptores somáticos sensitivos variam desde terminações
nervosas livres e simples, até combinações complexas de nervo, músculo, tecido
conjuntivo e células de suporte. A maioria dos outros sistemas sensitivos tem apenas um
tipo de receptor sensitivo ou um conjunto de subtipos muito idênticos.

Mecanorreceptores: sensíveis a distorção física, como flexão ou distensão,


constituem a maioria dos receptores somáticos sensitivos. Existem pelo corpo sendo
responsáveis por monitorizar: contacto físico com a pele, pressão sanguínea no coração
e vasos, distensão do intestino e bexiga e pressão nos dentes. O local de transdução
destes mecanorreceptores compõe-se de um ou mais axónios desmielinizados.
Similarmente ao processo de transdução nas células ciliadas, as terminações nervosas
mecanorreceptoras cutâneas provavelmente envolvem canais iónicos; alguns destes
canais pertencem à superfamília dos TRP.
Os mecanismos pelos quais a força mecânica é transferida das células e suas
membranas para os canais mecanossensíveis são pouco claros. Os canais iónicos podem
estar fisicamente acoplados a estruturas extracelulares (fibras de colagénio) e a
componentes do citoesqueleto (microtúbulos) que transferem a energia da deformação
celular para o mecanismo de abertura/fecho do canal iónico. Também é possível que
alguns canais sejam sensíveis ao stress na bicamada lipídica, não necessitando de outras
proteínas de ancoragem. Axónios mecanossensíveis estão muitas vezes envoltos em
estruturas especializadas que lhes proporcionam muita da sua sensibilidade aos
diferentes estímulos.

Termorreceptores respondem melhor a alterações de temperatura, enquanto os


quimiorreceptores são sensíveis a vários
tipos de alterações químicas.

Os mecanorreceptores na pele
providenciam sensibilidade a estímulos
específicos, tal como vibração e pressão

A pele protege-nos do ambiente


prevenindo a evaporação dos fluidos
corporais, invasão por micróbios, abrasão e
dano pela radiação solar. Contudo, esta
também nos providencia a maioria do

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contacto com o meio envolvente. Os 2 tipos principais de pele são: pele com pêlo e pele
glabra (sem pêlo). Pele Glabra: encontra-se nas palmas
da mão, nas pontas dos dedos, na planta do pé e na
superfície inferior dos dedos do pé. Pele com pêlo: a
maioria do corpo; contêm tipos de pêlo muito variados.
Ambos os tipos de pele têm uma membrana externa,
epiderme, e uma membrana interna, derme, e os
receptores sensitivos enervam ambas. Os receptores
cutâneos respondem a vários estímulos: quando a pele é
sujeita a vibração, pressão, picada, carícia ou quandoos
pêlos são puxados ou mexidos.
As terminações sensitivas na pele têm diversas
conformações. O maior e melhor estudado
mecanorreceptor é o corpúsculo de Pacini, que tem cerca
de 2mm por 1mm de diâmetro. Encontra-se no tecido subcutâneo de ambos os tipos de
pele. Tem uma cápsula ovóide com 20 a 70 camas concêntricas de tecido conjuntivo e
uma terminação nervosa no centro. A cápsula é responsável pela natureza de adaptação
rápida das respostas do corpúsculo de Pacini. Quando a cápsula é comprimida a energia
é transferida para a terminação nervosa. A sua membrana é deformada e os canais
mecanossensíveis abrem. O fluxo iónico gera despolarização que se for forte o
suficiente pode gerar um potencial de acção. Contudo as cmadas da cápsula são lisas e
contêm líquido entre elas; se o estímulo mecânico é prolongado as camadas deslizam
umas sobre as outras e a força do estímulo é perdida e o axónio central deixa de ser
comprimido não havendo potencial receptor. Quando a pressão é atenuada/dissipada, os
eventos revertem por si mesmos e o terminal é despolarizado de novo. Assim a
cobertura não neuronal do corpúsculo de Pacini é responsável pela sensibilidade
específica deste para a vibração e faz dele pouco sensível a uma pressão sustentada. A
sensação despertada por este corpúsculo assemelha-se a um zumbido.
Estudos demonstraram que um corpúsculo de Pacini a que foram retiradas as
camadas concêntricas envolventes era muito menos sensível à vibração e muito mais
sensível à pressão sustentada. Assim, o c. de Pacini é um exemplo de sensor de
adaptação rápida, enquanto que uma terminação nervosa descapsulada é um exemplo de
sensor de adaptação lenta.
Existem outros tipos de mecanorreceptores encapsulados, na
derme. Os corpúsculos de Meissner estão
localizados nas cristas da pele glabra e têm um
décimo do tamanho dos c.Pacini. também são
sensores de adaptação rápida. Os corpúsculos de
Ruffini aparentam ser c. Pacini menores e
encontram-se em ambos os tipos de pele, no
tecido subcutâneo; são sensíveis a um tipo
distinto de vibração – tremores – respondendo
melhor a baixas frequências. Discos de Merkel
são sensores de adaptação lenta compostos de
células epiteliais achatadas não-neurais que
sinapsam num terminal nervoso; encontram-se
no bordo entre epiderme e derme da pele glabra.
Os terminais nervosos dos bolbos terminais de Krause aparecem enovelados; enervam
as áreas periféricas da pele seca e membranas mucosas (à volta dos lábios e genitália
externa) e são sensores de resposta rápida.

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Os campos receptores dos diferentes tipos de receptores cutâneos variam em
muito no tamanho. Os c. Pacini têm campos receptores muito amplos, enquanto os c.
Meissner e discos de Merkel têm campos muito pequenos. Campos receptores pequenos
parecem ser muito importantes no alcance de alta resolução espacial. Esta resolução é
demonstrada pela capacidade de discriminar entre dois pontos de estimulação cutânea
(na pele das pontas dos dedos conseguimos discriminar 2 pontos de estimulação muito
próximos, enquanto que na pele das costas não conseguimos distinguir entre os 2 pontos
de estímulo a menos que estes estejam bastante separados). Esta capacidade de
discriminação táctil depende do tamanho dos campos receptores – quanto menores,
maior é a resolução e essa capacidade – e do
número de receptores presentes.
O pêlo também faz parte do sistema
sensitivo somático. Estes originam-se nos
folículos pilosos que contêm inúmeras
terminações nervosas livres. Estas sentem
movimentos do pêlo, pois consequentemente os
componentes do folículo também de movem de
acordo.

Termorreceptores Separados detectam calor e


frio
Os neurónios são sensíveis a alterações de
temperatura, algo que acontece em quase todas as
reacções químicas biológicas. Esta sensibilidade
à temperatura tem 2 consequências: 1º, os
neurónios podem medir a temperatura e 2º, para
funcionarem correctamente estes têm de manter a
temperatura mais ou menos constante. Os
neurónios do SNC de mamíferos são
especialmente sensíveis a alterações de
temperatura. Enquanto que a temperatura na pele pode variar entre 20ºC e 40ºC sem
qualquer prejuízo ou desconforto, a temperatura cerebral tem de se manter por volta de
37ºC para que não haja disfunção séria. O corpo tem sistemas complexos de controlo da
temperatura cerebral. Aparentemente, são características muito específicas das
membranas celulares que proporcionam a sensibilidade à temperatura. Muitos destes
neurónios termossensíveis estão na pele, podendo igualmente estar presentes na espinal
medula e no hipotálamo.
A percepção da temperatura aparentemente
reflecte os receptores de calor e frio presentes na
pele. Os termorreceptores não estão distribuídos de
igual forma pela pele. Se fizermos uma mapa de
zonas da pele sensíveis à temperatura, vamos
encontrar pequenos pontos (1mm de diâmetro) que
são ou específicos para o frio ou para o calor.
Outras regiões, entre estes pontos, são
relativamente insensíveis. Estes mapeamentos
confirmam a existência de receptores diferentes
para o calor/frio. As respostas dos termorreceptores
também sofrem adaptação, perante estímulos prolongados. A maioria destes receptores

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são terminações nervosas livres, não especializadas, com axónios pequenos, podendo
ser fibras C desmielinizadas ou fibras Adelta mielinizadas.
A figura seguinte mostra como o potencial
de repouso de cada receptor se altera perante um
estímulo térmico. Os receptores de calor
começam a disparar acima de 30ºC e aumentam
as suas descargas até 44/46ºC, a partir do qual a
taxa de descarga diminui passando a existir uma
sensação de dor, provavelmente desencadeada
por terminações nociceptivas. Os receptores de
frio têm uma resposta muito mais ampla. A sua
descarga aumenta assim que a temperatura desce
abaixo dos 24/28ºC. A taxa descarga continua até
cerca de 10ºC, deixando de ocorrer abaixo deste valo. Nesta situação a sensação de frio
toma a sensação de um anestésico.
Os receptores de frio também possuem uma resposta fásica que lhes permite
reportar alterações na temperatura. Como mostra a figura, quando a temperatura, de
repente, desce de 20,5ºC para 15,2ºC, a taxa de descarga dos receptores aumenta
transitoriamente, adquirindo uma novo estado de repouso; contudo este estado é menor
do que o anterior. Se a temperatura muda, de repente, de 35ºC para 31,5ºC a taxa de
descarga aumenta transitoriamente e o nível de repouso é maior.
A transdução de temperaturas relativamente quentes é desencadeada por vários
tipos de canais TRPV (do 1 ao 4). O TRPV1 é um receptor de vanilóides – activado
pela classe de compostos vanilóides, da qual faz parte a capsaicina o composto que dá
aos alimentos picanyes a sua sensação de calor. As malaguetas sabem a picante (quente)
porque tem componentes que activam canais iónicos que o próprio calor activa. Os
canais TRPV1 têm um limiar de temperatura bastante alto (43ºC) e assim ajudam a
desencadear alguns dos aspectos dolorosos da termorrecepção. Outros canais TRPV têm
limiares mais baixos estando mais envolvidos em sensação de calor.
O canal TRPM8 medeia sensação de relativo frio. Estes canais iniciam a sua
actividade a temperaturas abaixo dos 27ºC e são activadas no máximo até aos 8ºC. É um
receptor de mentol.

Os nociceptores são terminações sensitivas especializadas que fazem a transdução


de estímulos dolorosos

A energia física pode ser destrutiva a


diversos níveis. Os nociceptores são
receptores que medeiam sentimentos de dor
avisando o organismo que algo está a danificar
os tecidos ou estes estão em risco de ser
danificados. Os sitema de sensação de dor está
completamente separado de outros sistemas,
tendo os seus próprios receptores periféricos e
circuitos centrais químicos muito únicos e
complexos.
Os nociceptores mecânicos respondem a
altas pressões, principalmente de objectos
afiados. Os nociceptores térmicos sinalizam
temperaturas muito altas (acima de 45ºC – por

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canais TRPV1 e 2) ou muito baixas (canais TRPA1 e TRPM8), passíveis de causar
dano. Nociceptores quimicamente sensíveis sentem alterações nos níveis de certos
agentes, como K+, pH extremo, substâncias neuroactivas como a histamina ou
bradicinina e alguns irritantes exógenos. Nociceptores polimodais são terminações
nervosas únicas sensíveis a um conjunto de estímulos mecânicos, térmicos e químicos.
Os axónios nociceptivos incluem fibras Adelta rápidas – sensação de dor aguda e
intensa – e fibras lentas amielínicas C – dor tipo queimadura.
Os nociceptores são terminações nervosas livres que se distribuem intensamente
pelo corpo – pele, osso, músculo, vísceras, vasos e coração. Não estão presentes no
cérebro, apesar de se encontrarem nas meninges.
A sensação de dor pode ser modulada. A pele, articulações ou músculos que
foram danificados ou sofrem inflamação geralmente são sensíveis a estímulo posterior.
Este fenómeno chama-se hiperalgesia, manifestando-se como menor limiar para
sensação de dor (aumento do estímulo doloroso). Hiperalgesia primária ocorre em
áreas de tecido danificado; após 20 minutos da lesão, o tecido envolvente pode tornar-se
hipersensível por um processo chamado hiperalgesia secundária. Este fenómeno
envolve processos perto dos receptores periféricos e mecanismos do SNC. A pele
danificada liberta um conjunto de substâncias através das suas próprias células, células
do sangue e das terminações nervosas – bradicinina, PGs, serotonina, subs P, K+, H+ -
estas disparam um conjunto de respostas locais conhecidas por inflamação. O resultado
é o aumento do calibre vascular, causando edema e vermelhidão. Os mastócitos libertam
histamina que actua nos nociceptores. Através do reflexo axonal os potenciais de acção
podem propagar-se ao longo de axónios nociceptivos desde o local de lesão até ramos
vizinhos do mesmo axónio que inervam regiões da pele distintas. Este fenómeno pode
tornar certos nociceptores sensíveis a certos estímulos não-dolorosos (o toque pode ser
sentido como dor, quando antes não o era). Só depois desta sensibilização é que eles se
tornam responsivos a estímulo mecânico e químico e contribuem para a hiperalgesia.
A sensação cognitiva de dor está muito dependente do cérebro. Por vezes os
nociceptores podem ter altas taxas de descarga sem que a consciência de dor exista,
enquanto que noutras situações a dor é excruciante sem que os nociceptores estejam a
disparar. A dor pode ser modulada por input sensitivo não-doloroso e por actividade
nervosa de vários núcleos cerebrais. Por exemplo, a dor desencadeada por actividade
dos nociceptores (fibras Adelta e C) pode ser atenuada por actividade simultânea dos
mecanorreceptores de baixo limiar (fibras Aα e Aβ); este fenómeno é uma experiência
familiar – algum do desconforto da dor por queimadura, corte ou contusão pode ser
aliviado por massagem suave da região. Sugere-se que este fenómeno pode ser resultado
de um ‘gating’ por parte das vias mecanossensíveis, na transmissão da sensação de dor
ao cérebro.
Outro mecanismo de modulação da sensação dolorosa envolve os pequenos
péptidos, endorfinas. Uma classe de drogas, opióides (morfina, heroína), actua ligando-
se a receptores de opióides no cérebro, sendo que ele mesmo sintetiza as suas próprias
substâncias ‘endogenous morphine-like’.

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Os fusos musculares sentem alterações no comprimento das fibras musculares
esqueléticas, enquanto órgãos tendinosos de Golgi medem a força muscular

O organismo também necessita de informação detalhada do seu ‘ambiente


interno’. A propriocepção proporciona a sensação do próprio e serve 2 principais
propósitos: o conhecimento
da posição dos membros
quando estes se movem
ajuda-nos a percepcionar
objectos externos (é muito
mais fácil identificar o
objecto se pudermos tacteá-
lo, do que se este for
colocado passivamente na
nossa mão); a propriocepção
é muito importante na
realização de alguns
movimentos, principalmente
quando os estamos a
aprender.
Os fusos musculares
medem o comprimento e
taxa de estiramento do
músculo, enquanto os órgãos
tendinosos de Golgi medem
a força gerada no músculo,
através da medição da tensão
exercida no seu tendão.
Juntos dão informação completa do estado dinâmico desse músculo. As diferentes
sensibilidades destes órgãos depende da sua conformação e posição: os primeiros
constituem-se de fibras musculares modificadas alinhadas em paralelo com os agentes
geradores da força (fibras musculares extrafusais) enquanto os segundos estão alinhados
em série com as fibras extrafusais.
Órgãos tendinosos de Golgi consistem em terminaçõe nervosas livres, que
envolvem uma matriz capsulada de colagénio e geralmente encontram-se entre as fibras
musculares e o tendão. Quando o musculo contrai (passiva ou activamente) o tendão
sofre tensão, as fibras de colagénio distendem e distorcem, causando aumento na
descarga dos terminais nervosos.
Os fusos musculares são complexos de fibras musculares esqueléticas
modificadas combinadas com enervação aferente e eferente. A frequência de descarga
aumenta quando o fuso é distendido, em consequência do movimento muscular.

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