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O ensaio como adorno


Silnei Scharten Soares

1 O ensaio: entre a literatura e a filosofia 1/15


Resumo
O artigo reflete sobre os argumentos normalmente Ensaios ruins não são menos conformistas
apresentados como justificativa para a apropriação do do que dissertações ruins.
célebre texto de Adorno sobre o ensaio como referência Theodor Adorno

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para a produção ensaística. Estas justificativas, que
normalmente não são explicitadas, fundamentam-se Do ensaio, ressalta-se com frequência sua forma
numa dupla leitura do texto, que integra no mesmo
raciocínio a crítica ao positivismo e a adoção do ensaio
fragmentária e seu estilo especulativo: “Prosa
como seu antídoto (ao positivismo, não à crítica). O digressiva, descontínua e fragmentária, espécie
que pretendo demonstrar é que, mesmo que a crítica
de pensamento por imagens, o ensaio constitui
de Adorno à ciência seja superdimensionada, o
maior problema não está aí, mas na possibilidade de livre instrumento através do qual o escritor,
determinado viés interpretativo acabar legitimando uma
hermeneuticamente, lança-se a compreender a
apropriação estetizante das considerações de Adorno
sobre a forma do ensaio. realidade. O experimental, o provisório e o relativo
Palavras-chave: caracterizam esse gênero” (CARRIJO, 2007); o
Theodor Adorno. Ensaio. Produção científica.
ensaio exerce “um pensamento tateante, mais
investigativo do que conclusivo, mais reflexivo
do que determinante, mais sugestivo do que
assertivo, mais experimental do que coercitivo”
(DUARTE, 1997). Tais definições estão de acordo
com a importância atribuída por Adorno à forma
de expressão dos conceitos no texto ensaístico:

A exposição é [...] mais importante para o en-


saio do que para os procedimentos que, se-
parando o método do objeto, são indiferentes
Silnei Scharten Soares | silneisoares@gmail.com.br à exposição de seus conteúdos objetivados. O
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Comunicação pela ‘como’ da expressão deve salvar a precisão sa-
Universidade de Brasília (UnB). crificada pela renúncia à delimitação do objeto,
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sem todavia abandonar a coisa ao arbítrio de identidade entre pensamento e coisa” (ADORNO,
significados conceituais decretados de maneira
2003, p. 36).
definitiva (ADORNO, 2003, p. 29).

Trata-se, como indica Adorno, de encontrar uma


A renúncia a delimitações conceituais
forma de expressão capaz de configurar-se a
totalizadoras do objeto não pode ser entendida
si própria (sem recorrer a algum princípio que
fora do contexto da dialética negativa adorniana,
lhe seja exterior) à medida que o pensamento
sob pena de recair num esteticismo superficial e
reflete sobre o objeto e avança para além dele,
oco: “A ambiciosa transcendência da linguagem
considerando a historicidade como seu elemento
para além do sentido acaba desembocando em
constitutivo; nesse movimento, o pensamento
um vazio de sentido, que facilmente pode ser 2/15
reflete sobre si mesmo e pensa o conceito de forma
capturado pelo mesmo positivismo diante do
não-conceitual, em mosaico. Essa superação do
qual essa linguagem se julga superior”, alerta o
pensamento sistêmico aproxima o ensaio
próprio Adorno (2003, p. 21). O rigor da exposição

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previne o ensaio das definições apriorísticas de [...] da lógica musical, na arte rigorosa mas sem
conceitos da transição, para conferir à lingua-
seu objeto, fundamentadas na lógica dedutiva, ao
gem falada algo que ela perdeu sob o domínio
mesmo tempo em que, pela recusa à organização da lógica discursiva, uma lógica que, entretanto,
sistemática do saber, se permite a incorporação não pode simplesmente ser posta de lado, mas
sim deve ser superada em astúcia no interior
dos resíduos e estilhaços do pensamento, que se de suas próprias formas (ADORNO, 2003, p. 43).
constrói “metodicamente sem método” (ADORNO,
2003, p. 30). A busca por uma forma de expressão rigorosa,
que não ignora a lógica discursiva, mas busca
Adorno debate-se aí com a contradição entre o
superá-la astuciosamente – exemplificada, no
pensamento conceitual, abstrato, sustentado
trecho citado, pela adoção de uma lógica musical
sobre princípios de uma filosofia da identidade
capaz de recuperar o que a oralidade perdera
idealista, que afirma a transcendência do
sob a hegemonia da lógica discursiva – é, talvez,
Sujeito, e a apreensão não-mimética da coisa
a principal fonte dos mal-entendidos na leitura
a partir de um viés assistemático (ou melhor,
que se faz da defesa do ensaio por Adorno.
suprassistemático), pelo qual o pensamento
As advertências de Adorno com relação ao
avança por meio de “constelações”, e não pelo
equívoco de se caracterizar o ensaio como forma
progresso contínuo e retilíneo em direção ao
artística – essa é sua discordância com Lukács
objeto: “Sua totalidade [do ensaio], a unidade
– são ignoradas em grande parte da recepção
de uma forma construída a partir de si mesma,
contemporânea de seu texto, na qual o ensaio
é a totalidade do que não é total, uma totalidade
passa a ser levianamente entendido como gênero
que, também como forma, não afirma a tese da
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literário, cujos méritos deveriam ser avaliados genética herdada de seus progenitores.
unicamente a partir de critérios estéticos (daí à Eis a razão pela qual sua forma expressiva
afirmação de que também o ensaio possa ser uma “desestabiliza o contrato de leitura entre autor e
obra de ficção, basta um passo). leitor, indeterminando o horizonte de expectativa
pelo qual se pode efetuar a leitura da obra”. Isso
Exemplo flagrante dessa abordagem é o artigo
acontece porque, segundo Carrijo (2007), “do
de Antonio Andrade, Da idéia ao texto: uma
ensaio, diríamos que sua não-identidade é o que,
digressão ‘filopoetosófica’, que trata do diálogo
paradoxalmente, melhor o identifica”.
entre poesia e filosofia na obra de Haroldo de
Campos. Andrade (2006, p. 103) traça uma rápida Não é preciso muito esforço para perceber
3/15
genealogia desta imbricação na obra de filósofos que estamos aqui muito distantes da reflexão
como Jacques Derrida e Martin Heidegger e poetas adorniana sobre o ensaio, cuja definição de
como Paul Valéry e Fernando Pessoa para concluir não-identidade não é, em absoluto, sinônima de
pelo “entendimento do ensaio como forma, indefinição formal ou conceitual, como se pode

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híbrido de filosofia e poesia, lugar de dúvida e inferir da citação de Carrijo. Pelo contrário, para
inquietação”, que estaria na base da produção Ricardo Musse (2003),
destes autores. De acordo com Andrade (2006,
a rejeição do sistema caminha junto com a con-
p. 104), é este entendimento que leva Haroldo de servação desse seu impulso ou, na terminologia
Campos a traduzir A fenomenologia do espírito, de Adorno, com a manutenção da ‘sistematici-
dade’. A exigência desta, por sua vez, pode ser
de Hegel, na forma diagramática de um poema, de
entendida como uma busca de rigor [...]. ‘Rigor’,
modo a tornar visível “a plurissignificação a partir em Adorno, não se encontra associado à lógica
convencional, mas antes vinculado estritamente
de uma mesma forma significante, [que] participa,
à expressão.
em Hegel, da constituição dos conceitos”
Este é um ponto importante: Adorno sempre
Outro exemplo: em artigo em que caracteriza a
insistiu que a forma do ensaio fosse rigorosa,
obra ficcional de Lya Luft como ensaística, Silvana
conquanto indefinível aprioristicamente.
Augusta B. Carrijo (2007, p. ??) afirma: “[...] o
Caracterizá-lo como híbrido ou não-identitário
ensaio apresenta-se, na arena da pesquisa teórica,
parece-me uma saída fácil para evitar a exigência
na produção e na recepção da obra literária,
de rigor em sua forma de expressão.
como um órfão de dois pais vivos: a ciência e
a literatura”. Passando ao largo da liberdade A associação do ensaio ao discurso literário e
poética da autora (como se pode ser órfão de filosófico (“filopoetosófico”, segundo o neologismo
pais vivos?), o que importa ressaltar da citação de Andrade) deixa claro que sua apropriação como
é o caráter híbrido do ensaio, uma característica gênero discursivo não é privilégio dos estudos
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literários. É sabido que uma parte expressiva da qual o efeito estético parece prevalecer sobre o
filosofia contemporânea, notadamente a filosofia rigor do pensamento – com prejuízo para ambos,
francófona, lança mão do recurso à literatura na é bom que se diga. De acordo com Bouveresse
elaboração de seu pensamento – e, quando o faz, (2005, p. 64),
adota a forma ensaística. Inspirada em Nietzsche,
O que se perdeu na ordem da teoria [...] pode,
a “lítero-filosofia”, na expressão de José Guilherme sempre que necessário, ser recuperado na or-
Merquior, tem dominado o panorama filosófico dem da poesia. Este tipo de mudança repentina
de terreno, evitando sempre o máximo que se
francês desde o advento do estruturalismo, pelo
possa o dos fatos, dos argumentos e da discus-
menos, acentuando-se exponencialmente no pós- são possível, é uma das práticas nas quais se
sobressai a filosofia contemporânea. O uso que
estruturalismo. Para Merquior, a tendência tornou- 4/15
se faz, neste tipo de debates, da noção de me-
se clara logo após a derrocada do existencialismo, táfora poética, que está sempre disponível para
justificar ou desculpar quase qualquer coisa,
que lançou a lítero-filosofia numa encruzilhada:
parece-me que representa, de maneira geral,
ou adotava a filosofia analítica, “uma vez que um insulto à verdadeira poesia1.

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a apropriação de temas alemães, sobretudo
tomados a Husserl e Heidegger, já havia sido Bouveresse faz eco a Adorno (2003, p. 18), que nega

realizada pelo existencialismo” (MERQUIOR, ao ensaio a autonomia estética da forma artística:

1985, p. 13), ou se reinventava. Segundo Merquior


[...] o ensaio se aproxima de uma autonomia
(1985, p. 13-14, grifos do autor), os melhores estética que pode ser facilmente acusada de ter
sido tomada de empréstimo à arte, embora o
entre os jovens filósofos optaram pela segunda
ensaio se diferencie da arte tanto por seu meio
alternativa, radicalizando a aproximação entre específico, os conceitos, quanto por sua preten-
são à verdade desprovida de aparência estética.
literatura e filosofia:

Em vez de tornarem a filosofia mais rigorosa, re- A metáfora poética não encontra em Adorno a
solveram fazer com que ela se nutrisse do cres- mesma acolhida efusiva que recebe do ensaio
cente prestígio das ‘ciências humanas’ [...] bem
como da arte e literatura de vanguarda. Assim, lítero-filosófico. Pelo contrário, em defesa do
a lítero-filosofia logrou recuperar sua vitalidade rigor do pensamento, Adorno (2003, p. 21) não se
pela anexação de novos conteúdos, tomados de
cansa de condenar as apropriações indébitas da
empréstimo a outros domínios intelectuais.
literatura por parte da filosofia:
Estaria aí a origem desta decantada “hibridização”
Onde a filosofia, mediante empréstimos da li-
contemporânea entre filosofia e literatura, na teratura, imagina-se capaz de abolir o pensa-

1 “Lo que se ha perdido en el orden de la teoría [...] puede siempre en caso de necesidad ser recuperado en el orden de la
poesía. Esta manera de cambiar súbitamente de terreno, evitando siempre tanto como se pueda el de los echos, los argumentos e
la discusión posible, es uma de las prácticas en las que sobresale la filosofia contemporánea. El uso que se hace, en este tipo de
debates, de la noción de metáfora poética, que está siempre disponible para justificar o excusar quasi cualquier cosa, me parece
que representa de manera general un insulto a la verdadera poesia.”
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mento objetivante e sua história, enunciada pela


2 A crítica ao positivismo
terminologia habitual como a antítese entre su-
jeito e objeto [...], ela acaba se aproximando da Rodrigo Duarte (1997, p. 82) sugere que
desgastada conversa fiada sobre cultura. Com
malícia rústica travestida de sabedoria ances- os temas centrais da filosofia adorniana podem
tral, essa filosofia recusa-se a honrar as obriga- ser encontrados em O ensaio como forma:
ções do pensamento conceitual, que entretanto
ela subscreveu assim que utilizou conceitos em
O primeiro deles é uma referência a tópicos
suas frases e juízos, enquanto o seu elemento
da Dialética do esclarecimento, tais como o
estético não passa de uma aguada reminiscên-
divórcio entre a arte e a ciência e seus epife-
cia de segunda mão de Hölderlin ou do Expres-
nômenos, e a selvageria, instalada no âmbito
sionismo, e talvez do Jugendstil, pois nenhum
da sociedade e da cultura, sob a vigência do
pensamento pode se entregar à linguagem tão
capitalismo tardio. Oriundos da Dialética nega-
ilimitada e cegamente quanto a idéia de uma 5/15
tiva, comparecem temas como [...] a crítica ao
fala ancestral faz supor.
sistema [...] e a reabilitação da Retórica pela
introdução do elemento expressivo no pensa-
De todo modo, o rigor na forma da expressão não mento filosófico.

se opõe necessariamente à elegância do estilo. Em

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Como sugeri acima, se lidos nessa chave, muitos
suas considerações sobre a forma argumentativa de
equívocos de interpretação poderiam ser evitados.
Descartes, Dimas Kunsch (2008, p. 6) ressalta-lhe
É evidente, na leitura atenta do texto de Adorno,
exatamente a “liberdade e desenvoltura no trato
que o exercício do ensaio, pautado pela exigência
com a linguagem encantada da narrativa, enchendo
de rigor na forma de expressão, buscando a justeza
de vigor o rigor de sua reflexão”; Descartes, segundo
do conceito no próprio movimento do pensamento,
Kunsch (2008, p. 6), “Tem estilo. Não abdica do
atua como resistência à transformação da cultura
rigor, mas deleita o leitor, antes de tudo e em
em mercadoria, denunciada em Dialética do
grande e generosa parte, com uma narrativa de sua
esclarecimento, produzido em parceria com
trajetória intelectual”. O exemplo não foi tomado
Horkheimer. A Dialética do esclarecimento e O
ao acaso: Descartes é personagem recorrente
ensaio como forma são textos tardios de Adorno,
quando se trata de criticar o suposto dogmatismo
escritos após sua experiência nos Estados Unidos
da ciência, como se fosse possível tomar um –
como pesquisador do Princeton Radio Research
Descartes, ou melhor, o cartesianismo – pelo outro
Project, financiado pela Fundação Rockfeller,
– a ciência contemporânea – sem necessidade de
onde teve contato – epidérmico, eu diria – com a
esclarecer em que se fundamenta a comparação
administrative research. O empirismo dominante
(afinal, é típico da metáfora que o termo de
nas pesquisas norte-americanas só veio a
comparação permaneça oculto). Nem mesmo
confirmar algumas das teses desenvolvidas na
Adorno escapa a esta associação, como pretendo
Dialética do esclarecimento e retomadas no texto
demonstrar a seguir.
sobre o ensaio.
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Embora esparsas, são frequentes ao longo de O unidos, transformaram-se ambos em instâncias


ensaio como forma as críticas ao Iluminismo e reprodutoras do totalitarismo manipulador do
ao positivismo; o primeiro, associado à filosofia sistema capitalista.
cartesiana e ao início da ciência moderna, e
Neste contexto, segundo Adorno, o ensaio se faz
o segundo, entendido como um sintoma da
urgente, pois que se encontra
hegemonia do empirismo sobre o fazer científico,
conservam um traço em comum: ambos integram [...] esmagado entre uma ciência organizada,
na qual todos se arrogam o direito de controlar
o movimento geral de uniformização da sociedade
a tudo e a todos, e onde o que não é talhado
pela racionalização da técnica. Ao comentar a segundo o padrão do consenso é excluído [...];
quarta regra do método cartesiano, Adorno (2003, e, por outro lado, uma filosofia que se acomoda 6/15
ao resto vazio e abstrato, ainda não completa-
p. 34) critica sua pretensa apreensão exaustiva e mente tomado pelo empreendimento científico.
totalizadora do objeto, a qual permitiria expô-lo
Ao ensaio caberia, então, assumir seu papel

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[...] em uma cadeia contínua de deduções: uma
herético de “construir uma conjunção de conceitos
suposição própria à filosofia da identidade. Na
forma de instruções para a prática intelectual, análoga ao modo como estes se acham conjugados
essa regra cartesiana, assim como a exigência no próprio objeto” (ADORNO, 2003, p. 44-45),
de definições, sobreviveu ao teorema raciona-
lista no qual se baseava: pois também a ciência repudiando veementemente toda e qualquer
aberta à empiria requer revisões abrangentes e elaboração teórica fundamentada no idealismo
continuidade de exposição.
racionalista, tributário da ortodoxia do pensamento.

Ao racionalizar o método científico como


O ensaio encontra seu espaço, portanto, entre a
totalidade axiomática, o cartesianismo permitiu
ciência (positivista) e a filosofia (iluminista ou
a integração da pesquisa científica à sociedade
cartesiana) – o que não implica, necessariamente,
administrada; positivista – pois que toma o objeto
que só lhe reste macaquear a literatura. A
como dado e delimitado aprioristicamente – a
negatividade do ensaio adorniano é filosófica1 e
ciência praticada na sociedade capitalista não faz
não estética. O exercício da negatividade estética
mais do que reificar a dominação do sistema. O
é tarefa da arte, não da filosofia:
pessimismo frankfurtiano, que denuncia a ilusão
mítica da cultura como falsa natureza, também A arte é uma alienação positiva que permite
escapar do processo de ideologização total da
vê a ciência e a filosofia metamorfosearem- sociedade, e reedita na sua prática, a contra-
se em mercadoria no seio de uma sociedade dição entre realidade e ilusão [...]. Ao negar a
sociedade real ela [a estética] abre espaço para
administrada. Positivismo e cartesianismo, a utopia; neste sentido toda arte seria revolu-

2 Conforme Duarte (1997, p. 83), “[...] sua filosofia, como um todo, poderia, de certo modo, ser corretamente designada
por ‘ensaística’”.
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cionária. [...] a arte deve negar a sociedade para interesses aí presentes. Rejeita a produção
preservar a potencialidade das diferenças (OR- de conhecimento enquanto tal, denunciando-
TIZ, 2009). -a como efeito do jogo de poder, e, por con-
seguinte, nega ao conhecimento científico
qualquer autonomia em relação ao conflito de
3 O ensaísmo interesses sociais.

Se a deriva estetizante do ensaio parece


Adorno substitui a discussão sobre a
inapropriada, pois já havia sido preventivamente
cientificidade da Sociologia por uma crítica
criticada pelo próprio Adorno, não se pode
sociológica à ciência. Essa estratégia fez escola,
dizer o mesmo da associação entre ciência e
notadamente na Comunicação Social, onde a
positivismo, tópico fundamental das reflexões
reflexão epistemológica é tida como desnecessária 7/15
dos frankfurtianos, retomado no texto sobre
porque supostamente ultrapassada: a pretensão
o ensaio. No entanto, na recepção do texto
de ascender ao estatuto de saber científico,
de Adorno, o esteticismo da forma-ensaio e a
com características próprias – “a possibilidade
crítica ao cartesianismo/positivismo científico se

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de conhecer o real a partir de certos critérios
complementam, o segundo normalmente servindo
de investigação, entre os quais a investigação
de justificativa para o primeiro.
crítica, a objetividade, a produção de verdade
O célebre debate entre Adorno e Popper sobre pela argumentação e comprovação” (MARTINO,
epistemologia das ciências sociais, ocorrido em 2003, p. 70) – nada mais é do que um resquício
Tubingen, em 1961, é ocasião privilegiada para nostálgico da modernidade, na qual se acreditava
flagrar a posição de Adoro com relação à ciência, no potencial libertário da razão.
nítida na discordância instalada entre ambos no
Impossibilitada de assumir-se como ciência, resta
que se refere ao conceito de crítica: enquanto
à Comunicação definir-se como “campo”: “[...]
para Popper a crítica diz respeito ao debate no
um conjunto de instituições de nível superior
interior da comunidade científica, em Adorno o
destinadas ao estudo e ao ensino da comunicação
conceito extrapola a discussão teórico-conceitual
e onde se produz a teoria, a pesquisa e a formação
e estende-se a uma crítica da própria sociedade.
universitária das profissões de comunicação”,
Segundo Martino (2003, p. 69), as considerações
segundo as palavras de Maria Immacolata V.
de Adorno às teses de Popper,
Lopes (2003, p. 278). Definir a Comunicação como
[...] deslocaram o debate para fora do problema campo científico, no sentido que Bourdieu dá
epistemológico [...]. Ele alega que a produção
ao termo, implica em substituir a explicação do
do conhecimento se encontra intrinsecamente
determinada pelo conflito de interesses sociais, real pelo conhecimento científico pela explicação
e, conseqüentemente, o conhecimento seria do conhecimento científico “pela realidade das
apenas uma extensão e um desdobramento dos
instituições sociais que abrigam sua produção”,
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de acordo com Martino (2003, p. 78). Uma vez do sujeito, verdadeira porque vivida como acesso
adotada, a sociologia da ciência (inspirada imediato à experiência, acessível pela via da
em Adorno, Bourdieu, Latour ou quem quer introspecção. O método, nesse caso (se é que se
que seja) exime-se de enfrentar o problema da pode falar em método em tal situação) é a narrativa
definição epistemológica da disciplina a partir da intimidade do sujeito; mas, acima de tudo,
de parâmetros próprios em nome de uma crítica
[...] intimidade com a escrita [...]. Pelo exercício
genérica à prática dos cientistas. O resultado é da escrita consciente, o sujeito se materializa
o abandono de qualquer princípio de avaliação enquanto objeto de conhecimento; a lembran-
ça em história de vida, as hesitações em mo-
da produção científica a partir de critérios que
delo, as confissões em autocrítica e reconheci-
não os da análise sociológica. Nesse cenário, o mento da verdade do outro, agora apropriadas 8/15

e incorporadas ao movimento do eu [...]. Na


debate entre os pares no interior da comunidade
radicalidade do subjetivismo é a comunicação
científica se vê desacreditado, quando não mesma que desaparece, e o outro não é senão
o lugar de uma volta sobre si mesmo (MARTI-
descartado como inútil.
NO, 2003, p. 93).

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Dentre as várias consequências desta postura
A proliferação do ensaísmo também é apontada
anticientificista (a fragmentação da disciplina
por Wilson Gomes como consequência da
e a indefinição de um objeto de pesquisa
ascensão de um discurso que, pretendendo
minimamente consensual, entre outras)
implantar um debate epistemológico, acaba por
interessa-me aqui ressaltar uma delas, que vai
obstá-lo ao assumir como modelo discursivo
me permitir encaminhar a argumentação para
uma argumentação meramente retórica, na
seu final: a substituição da investigação pelo
qual a demonstração e a autocrítica não se
ensaísmo esteticista.
fazem presentes. Gomes aponta duas fontes de
Para Martino (2003, p. 94), o baixo investimento influência para este tipo de discurso: a primeira
epistemológico da área, substituído pela crítica é o débito com a epistemologia desenvolvida
sociológica aos jogos de poder no interior do pelo chamado “pensamento 68”, amparado na
campo científico, traz como decorrência inevitável suspeita de que, por trás do discurso científico,
a ascensão do subjetivismo como via de acesso estivessem ocultas determinadas “estruturas de
privilegiada ao real, que “[...] acaba introduzindo dominação social às quais se poderia oferecer
um positivismo ‘às avessas’ na medida em que bloqueio pela afirmação do desejo, da liberdade
faz da subjetividade não apenas um critério do indivíduo, da fantasia, da criação e pela recusa
de medida, mas a única realidade tangível”. Se da interdição, da autoridade, da tradição, da
qualquer afirmação sobre a existência do real é, objetividade”; a segunda seria a proximidade da
necessariamente, positivista, resta a realidade área com o campo da arte, que justificaria uma
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certa ética estetizante, portadora de valores como entanto, não se pode negar que tenha, sim, uma
“[...] liberdade, abertura, criatividade, flexibilidade, grande parcela de responsabilidade pelo déficit
imaginação e que expressa profundo desassossego crônico da Comunicação no tocante à constituição
com idéia como disciplina, rigor, avaliação, de um estoque de conhecimento capaz de
prestação de contas, controle” (GOMES, 2003, p. garantir, cumulativamente, a continuidade
314-315). das pesquisas, evitando a necessidade de se
reinventar a roda a cada nova investigação. Se
Não surpreende, portanto, a preferência pela
entendido como produto singular, uma obra única,
forma do ensaio, já que ela permite conjugar a
tal qual um romance ou um poema, o ensaio não
rejeição ao “dogmatismo”, ao “positivismo” e
permite contestação: estribado no subjetivismo 9/15
ao “cartesianismo” da ciência – pela recusa às
estetizante, cuja verdade última assenta-se
formas convencionais da comunicação científica
sobre a individualidade do sujeito que escreve, o
(o artigo, a tese, o relatório de pesquisa) – às
ensaio enclausura-se em si mesmo, imunizando-
pretensões literárias de seus praticantes. O

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se, desse modo, ao debate e à crítica. Para Irene
resultado é a diluição da atividade científica
Machado (2008, p. 64), “A principal conseqüência
no solvente universal da vaidade acadêmica,
deste gesto é o ocultamento de teses a partir das
transformando simpósios em palco para a
quais a comunidade acadêmica pode avaliar o
performance dos pesquisadores. “Nossas revistas
conhecimento, seja para reconhecê-lo ou
são peças literárias, destinadas a um grande
para refutá-lo”.
público imaginário, prenhe de títulos de fantasias,
vistosos e cintilantes, com que seduzimos É claro, tudo que foi dito aqui refere-se a “um
discípulos e flertamos com a poesia”. Já que “[...] certo tipo de ensaio” (GOMES, 2003, p. 324). Essa
parte considerável dos que ocupam o campo modalização é importante, pois já não se trata
científico na área se concebe artista”, é necessário mais do ensaio tal como definido por Adorno.
que cultuem “[...] um texto desconcentrado, Se é possível recorrer a seu texto sobre o ensaio
descompromissado, paradoxal e interessante ou para nele encontrar razões para a substituição
belo e doce, a quase-poesia do ensaio.” (GOMES, do debate epistemológico pela crítica sociológica
2003, p. 324). à prática científica, não se pode afirmar o mesmo
a respeito da estetização da forma ensaística,
Mas é preciso ser justo: o ensaio é muito mais
e muito menos da diluição da reflexão filosófica
o sintoma da debilidade científica da área da
rigorosa no subjetivismo radical, à beira do
Comunicação do que o culpado por ela; tampouco
solipsismo. É preciso levar mais a sério o que diz
pode servir de bode-expiatório para o fraco
adorno sobre a forma do ensaio.
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4 A importância da forma configuração ou como arquitetônica, uma


“rede morfológica”, o método torna-se um
Não foi gratuitamente que se convencionaram
“[...] artifício de desdobramento espacial. Esse
determinadas formas de apresentação dos
diagrama em rede representa um quadro de
resultados de pesquisas científicas: são elas que
várias entradas e de conexões múltiplas”, na qual
permitem a demonstração rigorosa do contexto
é possível recortar “[...] subconjuntos restritos,
da descoberta e da construção controlada da
localmente organizados, destacar totalidades
experiência, explicitando o caminho (conhecido
parciais, plurais, setoriais” (BRUYNE; HERMAN;
também como método) percorrido pela
SCHOUTHEETE, 1991, p. 163).
investigação, desde as hipóteses iniciais até
10/15
as conclusões finais. O método desempenha aí Compreendido como locus de experimentação
papel fundamental, na medida em que exerce do pensamento, configurador de “um espaço de
continuamente aquela “vigilância epistemológica” virtualidade do qual o objeto, uma vez construído,
de que fala Bachelard (1996), que acompanha representará uma das atualizações possíveis”

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integralmente o processo de investigação, (LADRIÉRE, 1991, p. 20), o método aproxima-se
percorrendo todas as suas etapas. Consequência daquela forma tateante e especulativa que é uma
do exercício metodológico, a forma de exposição das características do ensaio. Essa semelhança
das pesquisas científicas consagrou-se não porque aponta para outra, ainda mais fundamental: tal
os cientistas são sádicos (embora alguns possam como a forma de exposição “convencional” da
sê-lo), mas pela possibilidade que oferece de pesquisa científica, orientada metodologicamente,
contestação pública da investigação – a ciência a forma do ensaio também não é totalmente
não é resultado do trabalho de um gênio isolado, autônoma, já que necessita mobilizar seus
mas um empreendimento coletivo, sujeito ao recursos para criar uma imagem que represente
controle dos pares. fielmente os movimentos do pensamento em sua
busca por apreender a complexidade do objeto.
Qualificar tais formas como padronizadas não
significa, entretanto, afirmá-las como indiferentes Esta imagem, “um espaço de virtualidade”,
ao conteúdo; essa crítica – presente em Adorno para Ladriére, constitui “o palco da experiência
– é redutora, na medida em que compreende intelectual”, para Adorno (2003, p. 30), no qual
o método pelo contrário do que ele realmente se encena “a interação recíproca dos conceitos
é: condição de possibilidade para o exercício no processo da experiência intelectual”. Se, como
rigoroso do pensamento, e não engessamento diz Adorno (2003, p. 18), “Na prática positivista,
da forma e restrição à liberdade criativa do o conteúdo, uma vez fixado conforme o modelo
pesquisador. Entendido corretamente como da sentença protocolar, deveria ser indiferente
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à sua forma de exposição, que por sua vez seria de identidade da filosofia idealista. Revela-se,
convencional e alheia às exigências do assunto”, nesta preocupação com a linguagem, a busca
o mesmo não acontece no ensaio (e tampouco na por formas discursivas aptas à “experimentação
ciência, como tentei deixar claro – pelo menos, de idéias no contexto de proposições teóricas
para quem questiona a associação automática que não podem ser confundidas com axiomas
entre ciência e positivismo, como se fossem e postulados, uma vez que não são resultados
termos sinônimos). É aqui que a discussão sobre a finais, mas configurações de conhecimento
forma do ensaio necessita ser retomada. com perfil diagramático” (MACHADO, 2008, p.
73). Em artigo em que discute a cientificidade
Adorno nos diz que “o ensaio não se encontra em
da linguagem, Irene Machado identifica duas 11/15
uma simples oposição ao pensamento discursivo.
propostas de semiotização do discurso científico
Ele não é desprovido de lógica [...]. Só que o ensaio
distintas da lógica dedutiva: os “ícones canônicos”
desenvolve os pensamentos de um modo diferente
e os “instantâneos lógicos”. Os primeiros são
da lógica discursiva [...]. O ensaio coordena os

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representações gráficas de conceitos-chave de
elementos em vez de subordiná-los” (ADORNO,
nossa cultura, como a imagem da evolução da
2003, p. 43). Mais paratática que hipotática, a
espécie humana, do macaco ao homo sapiens,
forma-ensaio estrutura um tipo de pensamento
por exemplo, que serve de ilustração à teoria
que Adorno denominou “modelos críticos”, e que
darwiniana da evolução das espécies. O modelo
Ricardo Musse (2009), em sua interpretação do
de comunicação proposto pela Teoria da
conceito de verdade no filósofo alemão, define
Informação de Shannon e Weaver, transformado
como “trabalhos aplicados nos quais a teorização
em diagrama espacial da passagem de informação
fornecida pelo desenvolvimento do especulativo
da fonte ao destinatário, é outro exemplo.
é explicitamente considerada”, de modo a
Já os instantâneos lógicos, por analogia aos
“desenrolar a história sedimentada no objeto”.
instantâneos fotográficos, são formulações
Os modelos críticos têm a ver com a contradição,
conceituais que tentam dar conta do devir em
já referida acima, entre a necessidade de se
processos de transformação que variam de acordo
conhecer a singularidade concreta do objeto por
com o contexto, com a intenção de capturá-los
meio de um pensamento especulativo de natureza
em pleno movimento. Segundo Irene Machado,
conceitual e abstrata.
instantâneos lógicos e ícones canônicos dão
O rigor da forma expressiva tem a ver com corpo à grande parcela da produção teórica de
esse esforço para evitar a coincidência Marshall McLuhan.
entre objeto e conceito, sempre que este for
Sem entrar no mérito de tais propostas,
definido dedutivamente a partir do princípio
importa ressaltar aqui sua semelhança com
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as considerações a respeito da questão formal bom ensaio, diga-se de passagem, aquele orientado
do discurso científico, que estão na base da pelo exercício rigoroso da razão, que, ao resistir
discussão de Adorno sobre o ensaio como ao canto de sereia da estetização balofa, evita ser
forma. Neste ponto, já deve ter ficado claro que reduzido a objeto de decoração, um bibelô para ser
a experimentação com a linguagem não tem exibido às visitas na mesa da sala, como adorno.
motivação estética, mas lógica:
Referências
se o contexto da investigação apresenta a pró-
pria descoberta por meio de um conjunto de in- ADORNO, Theodor. O ensaio como forma. In:
terpretações, de probabilidades, de perguntas, ______. Notas de literatura I. São Paulo: Duas
de respostas desencadeadoras de novas per-
12/15
guntas, encontraremos no ensaio a forma aber- Cidades; Ed. 34, 2003. p. 15-45.
ta à expressão abdutiva de toda descoberta, ca-
paz de acolher os pontos de vista e redirecionar ______ et al. La disputa del positivismo en la
posicionamentos (MACHADO, 2008, p. 64). sociologia alemana. Barcelona; México: Grijalbo,
1973.

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Fiel a sua natureza especulativa, “o ensaio como
forma revela-se como espaço de elaboração ANDRADE, Antonio. Da idéia ao texto: uma
de hipóteses, mapeamento de possibilidades digressão ‘filopoetosófica’. Alea: Estudos
interpretativas, de explorações cognitivas, de Neolatinos, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 95-109,
percepções e experimentação das idéias que jan-jul. 2006.
interessam”, segundo Irene Machado (2008,
BACHELARD, Gaston. A formação do espírito
p. 73), constituindo um exercício daquele tipo
científico. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
de raciocínio lógico que Peirce chamou de
abdutivo, corretamente identificado por Irene BOUVERESSE, Jacques. Prodigios y vértigos de
Machado. “A abdução”, diz-nos Peirce (1990, la analogía: Sobre el abuso de la literatura en
p. 220), “é o processo de formação de uma el pensamiento. Buenos Aires: Libros Del Zorzal,
hipótese explanatória. É a única operação lógica 2005.
que apresenta uma idéia nova [...]. A Abdução
BRUYNE, Paul de; HERMAN, Jacques;
simplesmente sugere que alguma coisa pode
SCHOUTEETE, Marc de. Dinâmica da pesquisa
ser”. Com o conceito de abdução, Peirce insere,
em ciências sociais. Rio de Janeiro, Francisco
no coração da própria lógica da investigação e
Alves, 1991.
da argumentação científica, em complemento à
dedução e à indução, uma forma de pensamento CARRIJO, Silvana Augusta Barbosa. O ensaio
capaz de dar conta da exploração multifacetada literário – órfão de dois pais vivos: Lya Luft nas
e pluridirecional do objeto, típica do ensaio – do águas de um (anti)gênero. Linguagem: Estudos e
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The essay as adorn(o)ment El ensayo como adorno


Abstract: Resumen:
The paper thinks about the arguments usually El artículo reflexiona sobre los argumentos que se
presented as a justification for the appropriation presenta generalmente como una justificación para
of Adorno’s famous text on the essay as a reference la apropiación del famoso texto de Adorno sobre
for the essays’ production. These justifications, lo ensayo como referencia para la produccion de
which are usually not spelled out, are reasoned on ensayos. Estas justificaciones, que generalmente
a double reading of the text, incorporating in the no son explicadas en detalle, se basan en una
same reasoning the criticism of positivism and the doble lectura del texto, que incorpora en el mismo
adoption of the essay as its antidote (to positivism, razonamiento la crítica del positivismo y la adopción
not to criticism). What I intend to demonstrate is de lo ensayo como su antídoto (al positivismo, no
that even Adorno’s critique of science is oversized, a la crítica). Lo que pretendo demostrar es que 14/15
the largest problem is not there, but in the possibility incluso la crítica de Adorno a la ciencia es de gran
of an interpretative bias finally legitimize an tamaño, el mayor problema no está ahí, pero en
aestheticizing appropriation of Adorno’s remarks on la posibilidad del sesgo interpretativo legitimar la
the essay´s form. apropiación estetizante de las observaciones de

Keywords: Adorno sobre la forma de lo ensayo.

Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.14, n.1, jan./abr. 2011.
Theodor Adorno. Essay. Scientific production. Palabras clave:
Theodor Adorno. Ensayo. Producción científica.

Recebido em: Aceito em:


2 de novembro 2010 30 de março de 2011
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Expediente E-COMPÓS | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599

A revista E-Compós é a publicação científica em formato eletrônico da Revista da Associação Nacional dos Programas
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Pós-Graduação em Comunicação.
(Compós). Lançada em 2004, tem como principal finalidade difundir a Brasília, v.14, n.1, jan/abr. 2011
produção acadêmica de pesquisadores da área de Comunicação, A identificação das edições, a partir de 2008,
inseridos em instituições do Brasil e do exterior. passa a ser volume anual com três números.

CONSELHO EDITORIAL John DH Downing, University of Texas at Austin, Estados Unidos


Afonso Albuquerque, Universidade Federal Fluminense, Brasil José Afonso da Silva Junior, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Alberto Carlos Augusto Klein, Universidade Estadual de Londrina, Brasil José Carlos Rodrigues, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
Alex Fernando Teixeira Primo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil José Luiz Aidar Prado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
Ana Carolina Damboriarena Escosteguy, Pontifícia Universidade Católica do José Luiz Warren Jardim Gomes Braga, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Rio Grande do Sul, Brasil
Juremir Machado da Silva, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
Ana Gruszynski, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Laan Mendes Barros, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil
Ana Silvia Lopes Davi Médola, Universidade Estadual Paulista, Brasil
Lance Strate, Fordham University, USA, Estados Unidos
André Luiz Martins Lemos, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Lorraine Leu, University of Bristol, Grã-Bretanha
Ângela Freire Prysthon, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Lucia Leão, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
Angela Cristina Salgueiro Marques, Faculdade Cásper Líbero (São Paulo), Brasil 15/15
Luciana Panke, Universidade Federal do Paraná, Brasil
Antônio Fausto Neto, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Luiz Claudio Martino, Universidade de Brasília, Brasil
Antonio Carlos Hohlfeldt, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
Malena Segura Contrera, Universidade Paulista, Brasil
Antonio Roberto Chiachiri Filho, Faculdade Cásper Líbero, Brasil
Márcio de Vasconcellos Serelle, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil
Arlindo Ribeiro Machado, Universidade de São Paulo, Brasil
Maria Aparecida Baccega, Universidade de São Paulo e Escola Superior de
Arthur Autran Franco de Sá Neto, Universidade Federal de São Carlos, Brasil Propaganda e Marketing, Brasil
Benjamim Picado, Universidade Federal Fluminense, Brasil Maria das Graças Pinto Coelho, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil

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César Geraldo Guimarães, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Maria Immacolata Vassallo de Lopes, Universidade de São Paulo, Brasil
Cristiane Freitas Gutfreind, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Maria Luiza Martins de Mendonça, Universidade Federal de Goiás, Brasil
Denilson Lopes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Mauro de Souza Ventura, Universidade Estadual Paulista, Brasil
Denize Correa Araujo, Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil Mauro Pereira Porto, Tulane University, Estados Unidos
Edilson Cazeloto, Universidade Paulista , Brasil Nilda Aparecida Jacks, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Eduardo Peñuela Cañizal, Universidade Paulista, Brasil Paulo Roberto Gibaldi Vaz, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Eduardo Vicente, Universidade de São Paulo, Brasil Potiguara Mendes Silveira Jr, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil
Eneus Trindade, Universidade de São Paulo, Brasil Renato Cordeiro Gomes, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
Erick Felinto de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Robert K Logan, University of Toronto, Canadá
Florence Dravet, Universidade Católica de Brasília, Brasil Ronaldo George Helal, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Francisco Eduardo Menezes Martins, Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil Rosana de Lima Soares, Universidade de São Paulo, Brasil
Gelson Santana, Universidade Anhembi/Morumbi, Brasil Rose Melo Rocha, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil
Gilson Vieira Monteiro, Universidade Federal do Amazonas, Brasil Rossana Reguillo, Instituto de Estudos Superiores do Ocidente, Mexico
Gislene da Silva, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Rousiley Celi Moreira Maia, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Guillermo Orozco Gómez, Universidad de Guadalajara Sebastião Carlos de Morais Squirra, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil
Gustavo Daudt Fischer, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil Sebastião Guilherme Albano da Costa, Universidade Federal do Rio Grande
Hector Ospina, Universidad de Manizales, Colômbia do Norte, Brasil
Herom Vargas, Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Brasil Simone Maria Andrade Pereira de Sá, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Ieda Tucherman, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Tiago Quiroga Fausto Neto, Universidade de Brasília, Brasil
Inês Vitorino, Universidade Federal do Ceará, Brasil Suzete Venturelli, Universidade de Brasília, Brasil
Janice Caiafa, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Valério Cruz Brittos, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Jay David Bolter, Georgia Institute of Technology Valerio Fuenzalida Fernández, Puc-Chile, Chile
Jeder Silveira Janotti Junior, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Veneza Mayora Ronsini, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
João Freire Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Vera Regina Veiga França, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil

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Adriana Braga | Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
Felipe Costa Trotta | Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Presidente
CONSULTORES AD HOC
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Helio Kuramoto, Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, Brasil
Juliano Maurício de Carvalho, Universidade Estadual Paulista, Brasil Vice-presidente
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EDIÇÃO DE TEXTO E RESUMOS | Susane Barros Secretária-Geral


Ana Carolina Escosteguy
SECRETÁRIA EXECUTIVA | Juliana Depiné
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA | Roka Estúdio carolad@pucrs.br

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