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Contabilidade e Finanças Gulbenkyan
Contabilidade e Finanças Gulbenkyan
CONTABILIDADE
Manual Nº 9
Curso de Microcrédito
Financiado por
Produção da
e
FICHA TÉCNICA
Origem Este manual faz parte de uma série de manuais concebidos em 2006 para
preparar empresários que trabalham com apoio a Microcrédito.
Introdução .................................................................................................................................. 5
Objectivos de Aprendizagem .................................................................................................. 7
Síntese .................................................................................................................................... 9
Capítulo 1 – Contabilidade para quê? Que Contabilidade? .................................................... 11
Objectivos de Aprendizagem do Capítulo ......................................................................... 11
Cenário ............................................................................................................................. 13
A Contabilidade como Fonte de Informação ................................................................. 13
Estratégia .......................................................................................................................... 15
A Contabilidade: Execução na Empresa ou Contrato com Gabinete Especializado? ...... 15
Capítulo 2 – Leitura das Peças Fundamentais da Contabilidade ............................................ 17
Objectivos de Aprendizagem do Capítulo ......................................................................... 17
Generalidades sobre o Balanço...................................................................................... 17
Cenário ............................................................................................................................. 19
O Balanço da sociedade ................................................................................................ 19
Estratégia .......................................................................................................................... 23
Capital Próprio e Passivo .............................................................................................. 23
Demonstração de Resultados......................................................................................... 26
O Ponto Neutro ou Ponto Crítico das Vendas ................................................................ 31
Origem e Aplicação de Fundos ..................................................................................... 35
O Activo e as suas contas .............................................................................................. 38
Imobilizações Corpóreas ............................................................................................... 39
Existências de Matérias-primas e Produtos Acabados. Como valorá-las? ...................... 40
A conta Clientes c/c ...................................................................................................... 42
Disponibilidades: Caixa e Bancos ................................................................................. 43
Indicadores do Balanço da DESÍGNIO ......................................................................... 44
Uma última advertência a propósito da liquidez ............................................................ 46
Capítulo 3 – Tesouraria: Planeamento e Controlo ................................................................. 47
Objectivos de Aprendizagem do Capítulo ......................................................................... 47
Estratégia .......................................................................................................................... 49
Tesouraria ..................................................................................................................... 50
O vale da morte............................................................................................................. 51
Exigências financeiras da expansão das vendas ............................................................. 52
No caso de uma pequena empresa, a defesa da liquidez é mais urgente do que a
rendibilidade ................................................................................................................. 53
Sobre o Cash-Flow ........................................................................................................ 54
Empréstimo bancário .................................................................................................... 58
Capítulo 4 – Aplicações Básicas de Cálculo Económico e Financeiro ................................... 61
Objectivos de Aprendizagem do Capítulo ......................................................................... 61
Estratégia .......................................................................................................................... 63
Opção Metodológica ..................................................................................................... 63
Exercícios para Resolver ................................................................................................... 65
Exercício 1 .................................................................................................................... 65
Exercício 2 .................................................................................................................... 66
Exercício 3 .................................................................................................................... 67
Exercício 4 .................................................................................................................... 68
Exercício 5 .................................................................................................................... 69
Exercício 6 .................................................................................................................... 73
Exercício 7 .................................................................................................................... 74
Exercício 8 .................................................................................................................... 76
Exercício 9 .................................................................................................................... 77
Exercício 10 .................................................................................................................. 78
Exercício 11 .................................................................................................................. 79
Exercício 12 .................................................................................................................. 81
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 85
Finanças e Contabilidade 5
Introdução
Recursos Humanos
Figura 1
Objectivos de Aprendizagem
Ter uma consciência viva e desperta de que todas as funções básicas da empresa
(Produção, Finanças, Comercial e Recursos Humanos) são interdependentes e
interactivas.
Dominar o que lhe possa ser imediatamente útil do cálculo financeiro e compreender o
uso acautelado da alavancagem dos capitais próprios.
Para além de tudo, interiorizar a singular importância da Liquidez, cuja defesa terá de ser
uma das suas preocupações maiores.
Síntese
A Contabilidade, que deveria constituir uma insubstituível fonte interna de informação para
suportar a racionalidade das decisões, é, na generalidade das pequenas empresas, uma mera
formalidade legal de custo elevado e cumprimento obrigatório. Os pequenos empresários
ganhariam, em segurança e domínio do seu negócio, se soubessem ler e interpretar, ainda que
sumariamente, as peças fundamentais da Contabilidade e o essencial, imediatamente aplicável,
do cálculo económico e financeiro. Os Técnicos Oficiais de Contas podem e devem, também no
seu próprio interesse, desempenhar um papel importante na qualificação técnica dos seus
clientes.
Concluindo a leitura deste capítulo e reflectindo um pouco sobre o seu conteúdo, os pequenos
empresários estarão capacitados e despertos para, conjuntamente com o seu técnico de contas,
construírem um modelo de informação que seja imediatamente útil na condução dos negócios.
Cenário
Em regra, os empresários, e diga-se que não apenas os muito pequenos, consideram que dispor
de contabilidade organizada não é mais do que cumprir uma exigência legal com vista ao
cumprimento das obrigações fiscais da empresa e um registo das relações com terceiros – dívidas
a fornecedores e créditos sobre clientes. Ou seja, nessa perspectiva, a contabilidade é esquecida
ou mesmo ignorada como sistema de informação privilegiado que deveria servir de suporte às
decisões dos gestores. Daí que as peças fundamentais – Balanço, Contas de Resultados – surjam
uma vez por ano, nas vésperas do fim dos prazos para a apresentação das declarações exigidas
pela administração fiscal, e transportem, não raras vezes, notícias irremediáveis que o
comportamento da tesouraria, ao longo do tempo, nem sempre foi capaz de evidenciar.
Qual é, numa actividade exclusivamente comercial, o leque de produtos que permite realizar
75% da margem bruta (Diferença entre o preço facturado na venda abatido da comissão paga
ao vendedor e o custo facturado pelo fornecedor)?
Quais são os produtos que são vendidos com margens reduzidas ou nulas mas cuja presença
no programa é indispensável para que o negócio, como um todo, possa realizar-se?
Qual é o nível de concentração das vendas, por áreas geográficas, por tipo de clientes?
Qual é a importância relativa de cada cliente no segmento geográfico a que pertence (Ex.:
Grande Lisboa, …, as zonas industriais do distrito de Aveiro, …)
Afinal: Quais são os clientes que integram o grupo a quem se facturam 80% das vendas da
empresa?
Como se ordenam os clientes, área geográfica por área geográfica, relativamente à margem
que a empresa obtém com as vendas que aí realiza? E se, em vez de pensarmos em áreas
geográficas, encararmos os diferentes segmentos que compõem uma clientela? (Outras
unidades produtoras, grandes superfícies, pequeno retalho, emigrantes – o sempre esquecido
mercado de cerca de 4 milhões de pessoas espalhadas pelo mundo, …)
Qual é o prazo médio de recebimento dos créditos da empresa sobre os seus clientes?
Estratégia
Defendemos desde sempre a existência de técnicos de contas que tomem o exercício da sua
profissão na perspectiva de um apoio continuado e oportuno de que resulte a emissão de avisos e
alertas, numa alegoria de semáforo em funcionamento, que, verdadeiramente, os tornem
consultores actuantes e interessados. E isto vale tanto para os contabilistas internos, privativos,
como para os responsáveis pelos gabinetes prestadores externos deste serviço.
Julgamos que se o contabilista for um quadro da empresa, se for um empregado sujeito à normal
disciplina das relações laborais, o empresário pode mais facilmente monitorizar a aplicação do
seu tempo, exigir informações regulares, optar por sistemas de informação claros e acessíveis.
Mas põem-se aqui algumas reservas importantes.
A primeira liga-se aos custos que a empresa terá de suportar, já que o responsável pela
Contabilidade tem de ser TOC (Técnico Oficial de Contas), e as pequenas empresas a quem este
manual pretende ser útil têm imperiosas aplicações alternativas para os parcos recursos de que,
em geral, dispõem. Depois, e esta reserva será ainda mais importante, o gestor da pequena
empresa, normalmente, não estará capacitado para saber definir aquilo de que realmente precisa,
quando lhe é útil, como cruzar os dados de todas as áreas, que partido tirar duma informação que
só muito dificilmente se irá transformando em conhecimento.
Abordando a primeira reserva avançada, diremos que uma tal solução poderá custar hoje
qualquer coisa como € 1 500 + Encargos Sociais da Empresa em 14 meses por ano. Isto é, perto
de € 28 000.
Para o TOC, pelo seu lado, uma tal situação também não será confortável, por não haver carreira
que se desenhe o que torna frequente a figura do contabilista precário, à espera do emprego que
julga merecer.1
A alternativa será então a de contratar o serviço com um gabinete, tentando obter conselho
prévio do Gestor de conta da empresa no Banco com que trabalha, acerca dos contornos do
contrato que possa fazer para ver satisfeitas as necessidades de que só terá, em muitos casos, uma
ideia difusa. Nesta hipótese, será forçoso que a empresa disponha de alguém que organize a
documentação para entregar ao Gabinete: Facturas emitidas, movimentos de caixa e bancos,
facturas de fornecedores, dados para que possa ser executada a folha de vencimentos e salários e
pagos os seguros obrigatórios bem como as decorrentes entregas à Segurança Social, etc. Este é
um serviço de expediente geral, que pode ser executado por um empregado jovem2 e custará €
650 mais Encargos Sociais da Empresa em 14 meses o que corresponderá a um dispêndio de
cerca de € 11300 no ano.
O Gabinete pode custar € 120/ mês para o trabalho normal e mais € 50 para cobrir as novas
exigências a que nos referimos. Isto, em 12 meses, dará € 2 470 com IVA incluído. A solução
integrada (Gabinete mais empregado permanente) custará portanto € 13 770.
Haverá outras soluções, analisáveis pelos interessados, que não podem perder de vista a
sublinhada importância da Contabilidade como fonte de informação insubstituível.3
Ponto de reflexão: Propomos-lhe que crie um dossier pessoal em que vá juntando pequenos apontamentos das
reflexões que faça sobre o modo como o seu negócio vai caminhando. Date cada um dos apontamentos. De vez em
quando, consulte o dossier e experimente … reflectir sobre as reflexões feitas4
1
Em algumas ocasiões pudemos observar criadores de pequenos negócios empenhados em encontrar um
contabilista que quisesse associar-se ao projecto, empenhar-se nele, viver as suas contingências e saborear os seus
sucessos. O contabilista procurado teria de ser também, em todos os casos, um jovem empresário de elevado
potencial, à procura de uma oportunidade para se revelar.
2
Por que não pensar num reformado ainda relativamente novo, como agora parece ser fácil encontrar, e aproveitar a
sua experiência de vida. Um empregado bancário, um funcionário público, … um professor?
3
Desde o contabilista em tempo parcial até ao criativo exemplo de quatro jovens empresários estabelecidos em
ramos inteiramente diferentes que se associaram com um recém licenciado da área da Contabilidade para a criação
de um novo gabinete que iniciou a sua actividade com os quatro fundadores como primeiros clientes.
4
Trata-se do aproveitamento de uma recomendação de Donald Shön.
Em Portugal, o Ano Económico coincide com o Ano Civil e decorre portanto entre 1 de Janeiro e
31 de Dezembro.5
Podem verificar-se situações em que seja necessária a elaboração de um Balanço fora das datas
legalmente previstas para a apresentação de contas. Será o caso da liquidação da sociedade, da
entrada de um novo sócio ou da saída de um sócio, da venda da sociedade, da liquidação ou da
sua fusão com outra. Poderá mesmo dizer-se que os sócios podem decidir elaborar um Balanço
quando entenderem que isso seja necessário. A estes balanços, em todo o caso extraordinários, é
de uso chamar de liquidação ou de situação ainda que, naturalmente, também os balanços
ordinários, destinados à apresentação de contas, permitam o apuramento da situação da empresa
reportada a 31 de Dezembro de cada ano. Ou seja, reportados a momentos diferentes, os balanços
permitem conhecer as modificações patrimoniais verificadas no período, seja em consequência
dos actos da gestão, seja por força de qualquer acontecimento que lhe seja estranho.
Essencialmente, o Balanço, seja qual for a razão que determine a sua elaboração, constitui uma
visão estática da realidade da empresa, uma fotografia que só em termos imprecisos dará uma
ideia do andamento dos negócios se nos dermos à tarefa de comparar os valores assumidos pelas
diferentes classes de valores (as Contas) com os verificados nos anos anteriores ou noutros
5
As sociedades comerciais são obrigadas a referir o seu balanço anual a 31 de Dezembro de cada ano. in Código
das Sociedades Comerciais, Artº 65.
6
Sarmento J.A., Problemática Contabilística nas Unidades Produtivas, separata da Revista de Contabi-lidade e
Comércio, Porto, 1960.
7
Fábio Besta (1891-1935)
8
Gino Zappa (1879-1960)
9
Não será despropositado chamar a atenção para o facto de os equipamentos se desgastarem fisicamente com o uso
ou pela simples passagem do tempo e também perderem eficácia, portanto valor, por serem ultrapassados
tecnologicamente.
10
Sobre as Qualidades do Balanço, leia-se, com proveito assegurado, Silva, Gonçalves, F.V. Noções de
Contabilidade, Vol. 2º, pp. 167 e seg., Sá da Costa Editora, Lisboa, 1967
Cenário
O Balanço da sociedade
DESÍGNIO – PROMOÇÃO DE EVENTOS CULTURAIS, LDA.11
A sociedade DESÍGNIO – Promoção de Eventos Culturais, Lda., criada no final de 2000 com
o objectivo de prestar serviços na área da organização de congressos de índole científica e
cultural e, ao mesmo tempo, promover e organizar sessões de apresentação de livros e autores,
exposições de artes plásticas com uma aposta clara nos jovens pintores, ceramistas e escultores e,
por fim, promover acções de itinerância com trupes de jovens actores e músicos que levem ao
interior do País, em salas ou ao ar livre, espectáculos mistos de teatro e música que envolvam e
cativem as populações menos habituadas a participar/assistir a manifestações culturais.
A DESÍGNIO é uma sociedade comercial que visa o lucro mas não deixa, por isso, de assumir
uma preocupação cultural e um desígnio de transformação social.12
O Balanço da sociedade está elaborado de acordo com as determinações legais e segue, portanto,
o modelo de ordenação estabelecido pelo POC – Plano Oficial de Contabilidade – o que tem
desde logo a vantagem de permitir comparações com outras empresas do ramo, portuguesas ou
de outros países.
Olhemos então para o Quadro I com alguma paciência e tentemos conhecer o seu conteúdo.
Começamos pelo segundo membro do Balanço: é aqui que se inscrevem as fontes dos recursos
financeiros da empresa, elementos essenciais da sua criação e funcionamento.
11
Será sem dúvida mais proveitoso, para quem procura um conhecimento de aplicação prática, tomar um balanço
real, de uma empresa real, como aqui fizemos. A alternativa seria discorrer sobre uma abstracção sem que os
interessados pudessem aperceber-se das razões que explicam os números.
12
Os jovens criadores da DESÍGNIO conheciam a recomendação insistentemente feita a outros jovens por Mário
Sacramento: Façam um mundo melhor, não me obriguem a voltar cá! A estas palavras deram um sentido imperativo
e programático.
Quadro 1
Estratégia
A conta Reservas Legais mostra a parcela dos lucros que, acumulados, em 2003 já atingia 20%
do Capital Social (€75 000 * 0,20 = €15 000). A obrigação de afectar à constituição de uma
reserva dita legal um mínimo de 5% dos lucros de cada ano até atingir 20% do Capital Social,
está estabelecida na lei.14
A conta Outras Reservas mostra o destino que tiveram os lucros ou parte dos lucros realizados.
Ou seja, os sócios decidiram aprovar a proposta de aplicação de resultados apresentada pela
Gerência no sentido de não receberem os lucros, ou parte deles, e reforçar as Outras Reservas.15
Este reforço atingiu, em 31 de Dezembro de 2004, o montante de € 49 560.16
E pode perguntar-se, por que decidem os sócios, frequentemente, não receber os lucros e mantê-
los na sociedade. A resposta assenta em duas razões possíveis: a primeira e quase sempre
determinante, é estarem os sócios conscientes da necessidade de fortalecer17 a capacidade de
realização da empresa, sem custos financeiros, e acreditarem que, mais tarde, poderão decidir a
distribuição da totalidade das reservas livres ou de uma parte, e a segunda é que a distribuição
dos lucros poderia arrastar o definhamento da tesouraria já que os lucros não se exprimem
13
Em razão de perdas acumuladas e em situações em que o envolvimento dos sócios se mostre claramente excessivo
para a condução do negócio, podem ser encaradas medidas de redução do capital social, sem prejuízo das garantias
de que os credores beneficiavam. Ver Artigos 94º e seguintes do Código das Sociedades Comerciais.
14
Artº 295ºdo Código das Sociedades Comerciais.
15
Nas chamadas “empresas singulares”, figura cada vez mais rara depois do reconhecimento legal das sociedades
unipessoais, o resultado líquido do exercício é geralmente transferido para a conta de Capital. Também pode ser
levado, total ou parcialmente, a uma conta de Reservas ou à conta particular do empresário. Já nas sociedades, os
lucros ou os prejuízos nunca são transferidos para a conta Capital. (Gonçalves da Silva, 1967)
16
Ver Silva, Gonçalves F.V., Noções de Contabilidade, 2º Vol, pp 152 e 153, Sá da Costa Editora, Lisboa, 1967.
17
Muitas vezes este fortalecimento chama-se alavancagem. Efeito idêntico pode ser obtido pelo recurso ao crédito
quando as margens a obter excedam, confortavelmente, os juros e encargos a pagar.
Ainda sobre Reservas, será de alguma utilidade ter consciência de que elas podem ser, em termos
simples, expressas ou ocultas. As primeiras, que aparecem claramente no Balanço, são as que a
lei ou os estatutos da sociedade impõem e as que os sócios voluntariamente constituem, seja para
um fim determinado – para desenvolvimento de um projecto concreto, por exemplo – seja, como
já antes se referiu, para muscular a empresa. As segundas, não são evidenciadas no Balanço. Será
o caso, por exemplo, de o Activo registar um valor do Imobilizado Corpóreo inferior ao seu
valor de mercado por se terem valorizado os seus componentes, edifícios ou outros, sem que se
tenha procedido à sua reavaliação contabilística. Imagine-se um edifício adquirido há 10 anos
por 10 000 contos, valor inicial a que se abateram anualmente 5% como amortização ou
reintegração18, o qual aparece hoje no Balanço com o valor líquido de 5 000, depois de se terem
abatido todos os anos 500 contos (5% de 10 000 contos). Se, como tem sido normal, o edifício
tiver hoje um valor de venda de 15 000 contos, foi assim constituída uma reserva oculta de 10
000 contos. Esta é uma prática corrente e a vantagem que se ouve referir-lhe é a de amortecer a
distribuição de lucros e de adiar o pagamento das imposições fiscais resultantes da valorização
do edifício para o momento em que, se for vendido, as mais valias sejam objecto de tributação
em sede de IRC como se de um proveito de exploração se tratasse.
18
Reintegrações ou amortizações? Polémica histórica entre os Profs. Jaime Lopes de Amorim e Gonçalves da Silva.
Acabou por se entender que o termo Reintegrações se aplicaria à consideração como custos da depreciação sofrida
pelos activos corpóreos, enquanto se reservava para o termo Amortizações a depreciação dos activos incorpóreos.
Que fique claro: em ambos os casos é de CUSTOS que se trata, portanto, de elementos constitutivos dos Resultados.
Não podem confundir-se com Provisões que são, em geral, afectações de resultados para fazer face a perdas
potenciais (Dívidas de cobrança duvidosa, por exemplo).
A conta Resultado Líquido do Exercício, que será objecto de tratamento mais detalhado, exprime
a diferença entre proveitos e custos19 no exercício: € 23 650 em 2003 e € 45 459 em 2004.
Por seu lado, o Passivo (os capitais alheios) desdobra-se em quatro contas: Fornecedores c/c,
Banco c/Empréstimo, Estado e outros entes públicos e Outros credores.
A própria nomenclatura das contas (Fornecedores em c/c, etc.) parece ser suficientemente
denunciadora do seu conteúdo. Com efeito, os créditos que os fornecedores concedem à empresa
são um dos meios de financiamento do negócio, como o são os empréstimos acordados pelo
Banco ou os suprimentos dos sócios. Mas o Estado e outros entes públicos, também inscritos no
Passivo da empresa, podem ser considerados como financiadores do negócio? A resposta é sim e
não será necessário ir muito longe para o justificar. Todas as dívidas da empresa,
independentemente do seu titular, são fontes de financiamento. Como já se disse, o 2º Membro
do Balanço em que o Passivo se inscreve é composto pelas fontes de recursos financeiros que a
gestão aplica para conduzir o negócio. Ou seja, para se pagarem as dívidas, para que elas não
existissem e, por isso, não aparecessem expressas no Passivo, seria necessário utilizar os activos
disponíveis, os realizáveis e, porventura, os imobilizados. Sobrariam apenas os que, no seu
conjunto, tivessem um valor equivalente ao dos Capitais Próprios e apenas a esses. Uma tal
possibilidade, meramente teórica, diga-se, teria como consequência a contracção da actividade
das empresas que assenta no crédito: no que obtêm e no que concedem. Mas pode ainda referir-
se, quanto ao Estado, o caso do IVA em que há verdadeiramente um financiamento gratuito do
Estado quando a cobrança das facturas da empresa se efective num prazo menor do que o
estabelecido pela Administração Fiscal para a entrega do imposto. Esta situação é claramente
visível na actividade de um restaurante, por exemplo, em que as vendas são, normalmente,
realizadas a dinheiro. É que o IVA liquidado nas facturas não é um activo do proprietário do
restaurante. Este é apenas o cobrador do imposto. E o mesmo se passa com as retenções de IRC
ou IRS que as empresas fazem quando processam pagamentos de rendas a outras entidades ou
honorários a prestadores de serviços. Entre o momento da retenção e o da entrega dos valores à
administração fiscal, decorre um período de financiamento em que o credor é o Estado.
Diríamos, a concluir, que os capitais alheios são uma ferramenta preciosa para conduzir e
desenvolver uma empresa. Para lá de preciosa, chamemos-lhe também delicada, sensível, para
sublinharmos o cuidado extremo com que os pequenos empresários têm de lidar com os seus
19
A quem queira aprofundar os conceitos de custos, despesas, pagamentos, proveitos, receitas, recebimentos,
recomendamos vivamente a consulta da Problemática Contabilística do Prof. José António Sarmento, obra já
referida noutro local.
financiadores (Banco, Fornecedores, Sócios, Estado, …). A confiança que saibam conquistar e
merecer é um verdadeiro CAPITAL PERMANENTE com uma enorme importância. Leva às vezes
anos a consolidar uma relação de confiança com um Banco ou com um Fornecedor. Perde-se
instantaneamente por um descuido, uma falta de atenção, um pedido mal feito ou uma explicação
mal dada.
Demonstração de Resultados
O mapa da Demonstração de Resultados que se oferece a seguir, no Quadro 2, permite conhecer,
no essencial, o modo como se formaram os resultados. Mas não é suficientemente detalhado para
que se tenha uma informação de que a gestão possa servir-se para, por exemplo, optimizar a
utilização de recursos, em particular no que diz respeito aos serviços externos contratados que,
como se vê, atingem um montante de € 191 860 correspondendo a 72 % dos Custos
Operacionais. Será necessário obter da Contabilidade um mapa em que estes fornecimentos se
detalhem. Qualquer formato serve e o que se oferece nos quadros 3 e 4 não pretende ser mais do
que um exemplo em que se acrescenta uma ventilação da natureza dos proveitos.
VENDAS ou CONSUMOS
Rec 1
DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS
31 de Dezembro de 2004
Código EXERCÍCIOS
de CUSTOS e PERDAS 2004 2003
Contas
EXERCÍCIOS
PROVEITOS E GANHOS 2004 2003
Resumo:
Resultados Operacionais (B)-(A) 51.774,00
Resultados Correntes (D)-( C) 50.965,85
Resultados Financeiros(D-B)-(C-A) -808,15
Resultados Antes dos Impostos (F)-( E) 64.941,85
Resultado Líquido Exercício(F)-(G) 45.459,30
Quadro 2
2004 % 2003 %
Quadro 3
Detalham-se aqui as DESPESAS que a DESÍGNIO suportou para desenvolver as suas actividades
ao longo dos anos de 2003 e 2004.
A leitura do Quadro 3 é imediata mas sempre se dirá que aos Fornecimentos e Serviços Externos
cabe uma fatia de 74 % do total dos Custos Operacionais. Esta proporção baixou 1 % de 2003
para 2004, enquanto que a parte que cabe às despesas com pessoal subiu de 25% para 26 % dos
Custos Operacionais, tendo-se mantido a proporcionalidade da distribuição pelas várias
categorias. Globalmente, estes custos operacionais cresceram de um ano para o outro, cerca de
10,2 %., apesar das reduções verificadas nas componentes Utilização de Espaços e Acções
Promocionais.
Ainda neste quadro, com a nossa atenção fixada nos custos, se pode observar o resultado da
alteração contratual operada, em 2004, no vínculo que liga a empresa: à Novo Som, um quarteto
de instrumentistas, cuja criação a DESÍGNIO incentivou na Nova Escola de Artes do Espectáculo
“Espaço BT”, e com o qual subscreveu um protocolo que assegura, a partir do início do ano, o
exclusivo de uma colaboração que pareceu promissora em 2003 e agora se revela como uma
realidade de grande futuro.
2004 % 2003 %
Quadro 4
O Quadro 4 detalha a composição dos proveitos operacionais da DESÍGNIO ou seja o conteúdo das
suas facturas.
Uma verificação imediata: a facturação cresceu, de 2003 para 2004, 17,1%, apesar de algumas
componentes terem baixado, como é o caso da Consultoria Técnica e Artística que perdeu 18,2
% em relação a 2003. A prestação de serviços na área da pintura cresceu fortemente e isso
indicia a disponibilidade de uma competência distintiva que importa aprofundar e defender.
A trupe Sol Nascente subiu o volume mas baixou a sua quota no total da facturação. Nada de
preocupante mas sublinhemos a necessidade de acompanhar melhor as estrelas do conjunto de
produtos e um mais aprofundado empenhamento da gerência nesta área do negócio.
Rec 2
20
Régio, J., Poemas de Deus e do Diabo, Editorial Brasília, Porto, 2004
Quando a curva da facturação iguala a dos custos totais, estamos num ponto em que a empresa
não gera prejuízos nem lucros. Chama-se-lhe Ponto Crítico da Vendas (PCV).
Trata-se de um instrumento de análise interessante porque permite ver com rapidez mas sem
detalhe, onde se verificaram as distorções que impediram o cumprimento dos programas e é, ao
mesmo tempo, uma ferramenta não negligenciável para o estabelecimento de objectivos quando
se elabora o plano de actividades. É visível que os elementos essenciais para a sua construção
provêm da Contabilidade.
Valores
320000
300000
Facturação
280000
260000
240000
220000
200000
180000
Custos
160000 Variáveis
140000
120000
100000 Custos
Fixos
Meses 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Quadro 8
Quadro 9
Destaca-se no Quadro 9 o ponto em que a Facturação das Vendas atinge um valor suficiente para
cobrir os Custos Totais. Neste ponto, que no nosso caso é referido a um volume de facturação de
€ 213 004 (Facturação média mensal de € 25 813), a margem apurada (Facturação-Custos
Variáveis) é igual a € 162 593. (€ 13549,4/mês). Com as precauções que se assinalam adiante,
podemos dizer que o Ponto Crítico das Vendas foi atingido na primeira semana do 8º mês de
actividade.
No uso do PCV ou PN de que nos vimos ocupando, há algumas precauções que devem ser tidas
em conta porque o modelo se constrói a partir de alguns pressupostos que é necessário vigiar.
O primeiro é que se aceita a rigidez da estrutura de custos ao longo do ano, isto é, o volume de
custos fixos não se modifica e os custos variáveis continuariam a ser de 47,54 % do valor
facturado. Outro pressuposto é o da constância dos preços, que é como quem diz da margem, a
qual, como vimos, é a diferença entre o preço e os custos variáveis. Por fim, deve chamar-se a
atenção para o facto de o gráfico do Quadro 9 ter sido construído a partir das vendas médias
mensais (Vendas anuais divididas por 12), passando-se o mesmo com os custos. Ora, esta opção
facilita a construção do gráfico mas afasta-o da realidade. Isto é, a linha representativa da
facturação, como a dos custos variáveis, de resto, não é uma recta mas uma linha quebrada, cuja
média ou resultante do alisamento, essa sim, é a recta que apresentamos. Há aqui um interessante
ponto de reflexão sobre a importância da Média ou das diferentes médias como indicadores, isto
é, o que efectivamente mostram e o que, em muitos casos … escondem. Que fique também claro
que os proveitos ou as perdas extraordinárias não têm de ser considerados na análise do Ponto
Crítico das Vendas porque estas são, em princípio, normais e constituem a razão da existência da
empresa.
É claro que isto não significa que o gestor perca de vista, ignore, a existência de Proveitos ou de
Custos Extraordinários. Pelo contrário, é forçoso que atente nos proveitos extraordinários e
indague da possibilidade de os tornar ordinários e se empenhe em conhecer as razões por que a
empresa suportou perdas extraordinárias para reduzir a possibilidade de voltarem a verificar-se.
Recorda-se, por ser muito frequente, o caso das perdas extraordinárias resultantes da liquidação
de monos, o crédito mal parado e, quantas vezes, a inutilização de stocks.
Aceites estes pressupostos, a gerência da DESÍGNIO estaria em condições de, com razoável grau
de certeza, prever o resultado a que chegaria no fim do próximo ano se cumprisse o projecto de
facturação que formulou. Ou, ainda melhor, se o excedesse, não apenas em volume de facturação
mas no grau de aprendizagem do mercado em que trabalha e no desenvolvimento da sua
capacidade para detectar e evidenciar novas oportunidades, em especial, no domínio da
cooperação com outras pequenas empresas com quem pudesse desenvolver parcerias
mutuamente enriquecedoras.
E já agora, a propósito da tentação de reduzir os preços dos produtos que a empresa vende (ou
dos serviços que presta), gostaríamos de chamar a atenção para alguns pontos, muito simples,
mas que nos parece terem um interesse especial para as pequenas empresas.
O primeiro destes pontos pode ter raízes distantes e mergulhar nos critérios que conduziram à
escolha dos segmentos que integram a clientela alvo da empresa, aquela com quem ela pretende
trabalhar preferencialmente. Em geral, uma pequena empresa, não terá um especial interesse em
trabalhar com as Grandes Empresas, mesmo que elas operem no seu sector de actividade. É que,
aproveitando a força contratual que lhes vêm do volume das encomendas que colocam, impõem
preços que degradam as margens, exigem prazos de pagamento que exaurem a tesouraria e
podem criar grandes desequilíbrios;21 exigem um apoio constante na pós-venda e, em muitos
casos, obrigam a volumosas imobilizações de produtos em armazém para que se possam
satisfazer as suas ordens com prontidão. E aqui, regressam, ampliados, os perigos para a
tesouraria se for necessário pagar aos fornecedores, como é normal, a totalidade dos stocks …
antes de cobrar os seus valores dos clientes.
Mas atenção, mesmo uma grande empresa, com todos os perigos que aí ficam registados, pode
ser um excelente cliente de uma pequena ou mesmo muito pequena empresa. Tudo dependerá
mais desta, da pequena, do que daquela. Será o caso de a pequena empresa se dotar de uma
competência distintiva que a imponha como parceiro insubstituível do grande cliente. Esta
competência distintiva tanto se pode verificar ao nível do serviço prestado com o produto
(equipamento, ferramenta, componente, material de consumo, software e sua exploração, etc.)
como através da representação exclusiva de uma entidade (nacional ou estrangeira) que disponha
de um produto portador da desejável vantagem distintiva.22
É do conhecimento geral que, se a empresa está no mercado com um produto que mal se
diferencia dos da concorrência, a pressão sobre os preços é constante e valerá sempre a pena,
antes de decidir uma baixa dos preços, tentar prever: a). a capacidade de reacção dos
concorrentes e b). o aumento esperado das vendas como resposta à redução do preço. Em muitos
casos, os concorrentes reagem imediatamente e não se verifica nenhum crescimento das vendas
e, mesmo quando as vendas crescem, não é raro acontecer que a diminuição do preço, arraste
uma diminuição da margem global. Ou seja, a baixa do preço conduziu a uma quebra na
facturação por não se terem vendido mais unidades. Para lá de se introduzirem no sistema novos
factores de pressão sobre a tesouraria …
Deixemos uma pista: para sobreviver à concorrência, as pequenas empresas não podem utilizar o
preço como arma de defesa, porque há sempre alguém que acompanha e, porventura, passa ao
ataque; a concorrência só é batível com melhor trabalho, melhor serviço, produtos com mais
21
É conhecido o perigo a que se sujeitam as pequenas embarcações que se aproximam demasiado dos grandes
navios em andamento: a agitação das águas produzida pela poderosa hélice do maior pode ser fatal para o mais
pequeno.
22
Durante dezenas de anos, uma pequena empresa representou em Portugal a Tunzini-Sames de Grenoble e assumiu
a liderança do mercado dos equipamentos para pintura electrostática. A mesma empresa introduziu em Portugal a
soldadura portátil por pontos e liderou esse mercado até há pouco tempo.
valor para o cliente, íamos a dizer, com preços que, podendo ser mais altos do que os da
concorrência, mesmo assim, os clientes estejam dispostos a pagá-los. Para isso, precisam de uma
boa razão. É claro que isto não é uma novidade. Todos sabemos isso e, se aqui o repetimos, é
porque nos parece ser a contabilidade uma fonte de informação insubstituível para denunciar
estas tentações e fornecer pistas para soluções alternativas.
A experiência mostra, a cada passo, que os gestores das pequenas empresas se esquecem
demasiadas vezes de que os seus negócios não são miniaturas … de grandes negócios… Como
as crianças não são adultos em formato reduzido.
Essa é a informação que colhem do mapa de origem e aplicação de fundos – o famoso MOAF –
que o contabilista tradicional não deixará de juntar ao dossier das contas do ano que lhe serão
presentes aí pelo fim de Fevereiro do ano seguinte àquele a que respeitam.
O mapa do Quadro 5 foi elaborado com o objectivo de responder, no fim do exercício, a esta
pergunta singela: De onde vieram os fundos com que trabalhámos e como os aplicámos?
Não pretendemos substituirmo-nos ao modelo que o Plano Oficial de Contabilidade impõe24 mas
tão somente construir um instrumento simplificado, de leitura imediata por não especialistas, que
é o que em geral são os pequenos e os muito pequenos empresários. É uma ferramenta de
carácter histórico ou seja, ocupa-se do que se passou durante o ano findo e, nesse sentido,
evidenciando as dificuldades ou problemas de outra natureza, mostra também como elas se
explicam e aponta, desse modo, áreas em que seja necessário intervir para melhorar o
desempenho... no futuro. Ocorre-nos sempre, neste passo, insistir na necessidade de manter um
controlo próximo sobre a evolução da cobrança dos débitos dos clientes: saber, mês a mês, a
quantos dias de facturação média corresponde o crédito concedido (às vezes não
voluntariamente), a cada cliente. Daí à construção de uma curva ABC da clientela que, de um
23
Veja-se com proveito o Manual de Análise da Central de Balanços do Banco de Portugal, pp 26 e seguintes,
Lisboa, 2002
24
A elaboração do MOAF é obrigatória para as empresas sujeitas ao Plano Oficial de Contabilidade aprovado pelo
Dec.-Lei 410/89 de 21 de Novembro
modo reservado, permita seriar os clientes como fontes de liquidez, para que se saiba com o que
se pode contar e permita cautelosas intervenções para evitar que as situações se degradem.
Rec 3
Meses 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
PAGAMENTOS
Fornecedores (Atrasados) 4.600,00 2.300,00
Rendas 150,00 150,00 150,00 150,00 150,00 150,00 150,00 150,00 150,00 150,00 150,00 150,00
Água, Luz e Saneamento 115,00 115,00 115,00 115,00 115,00 115,00 115,00 115,00 115,00 115,00 115,00 115,00
Computador+Impressora 1.050,00
Prestações do equipamento E 1.300,00 1.300,00 1.300,00 1.300,00 1.300,00 1.300,00 1.300,00 1.300,00 1.300,00 1.300,00
Juros:dividid. em 10 prest. iguais 32,50 32,50 32,50 32,50 32,50 32,50 32,50 32,50 32,50 32,50
Patrocínios:SOL NASCENTE e NOVO SOM 1.600,00 1.600,00 1.600,00 1.600,00 1.600,00 1.600,00 1.600,00 1.600,00 1.600,00 1.600,00 1.600,00 1.600,00
Salário líquidos de Enc. Sociais 2.116,42 2.116,42 2.116,42 2.116,42 2.116,42 2.116,42 4.232,84 1.760,42 1.760,42 1.760,42 1.760,42 4.232,84
Encargos Sociais Pessoal Perman 261,58 261,58 261,58 261,58 261,58 261,58 523,16 261,58 261,58 261,58 261,58 523,16
SS Contribuição da Empresa 594,50 594,50 594,50 594,50 594,50 594,50 1.189,00 594,50 594,50 594,50 594,50 1.189,00
Soluç.integ.:Contabilid + Expediente (1) 1.147,50 1.147,50 1.147,50 1.147,50 1.147,50 1.147,50 1.147,50 1.147,50 1.147,50 1.147,50 1.147,50 1.147,50
IRC Retido Gab.Contabilidade 189,70 189,70 189,70 189,70 189,70 189,70 189,70 189,70 189,70 189,70 189,70
IRC Retido Rendas Mês seguinte) 30,00 30,00 30,00 30,00 30,00 30,00 30,00 30,00 30,00 30,00 30,00
IVA: 21% da facturação 2.351,21 2.915,57 2.965,88 3.879,04 2.109,02 3.494,00 1.875,61 2.696,37 2.341,50 2.353,73 1.874,38
Comunicações:CTT,Telef.Internet 750,00 750,00 750,00 750,00 750,00 750,00 750,00 250,00 750,00 750,00 750,00 750,00
Viagens e Estadas 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00
Serviço Empréstimo "15000" 379,50 379,50 379,50 379,50 379,50 379,50
Total dos Pagamentos Previstos 8.135,00 9.655,91 11.552,77 16.203,08 12.516,24 10.746,22 17.783,20 9.686,31 11.357,07 11.002,20 11.014,43 13.863,58
RECEBIMENTOS
Disponibilidades Caixa 99,00
Disponibilidades Bancos 41.378,00
Vendas a Dinheiro 1.960,00 2.498,00 1.109,00 1.698,00 1.327,00 2.690,00 1.897,00 327,00 2.876,00 1.980,00 1.876,00 2.698,00
Cobrança de Facturas c/ 30 dias 1.680,56 4.321,00 5.878,00 9.870,00 4.587,00 9.876,00 2.356,00 6.548,00 3.475,00 5.678,00 2.345,00
Cobrança de Facturas c/ 60 dias 6.439,00 5.430,00 4.320,00 2.658,00 2.865,00 1.293,00 2.356,00 3.452,00 2.145,00 1.246,00
Cobrança de Facturas c/ 90 dias 987,00 1.289,00 2.346,00 3.456,00 897,00 1.989,00 2.134,00 1.989,00 2.376,00
Cobrança de Facturas atrasadas 2.100,00 780,00 625,00 587,00 1.326,00 639,00 590,00 987,00
Renovação de Financiamento Forn. 2.300,00
Total dos Recebimentos Previstos 43.437,00 4.178,56 11.869,00 16.293,00 18.906,00 13.061,00 18.719,00 5.460,00 15.095,00 11.680,00 12.278,00 9.652,00
Saldo mensal 35.302,00 -5.477,35 316,23 89,92 6.389,76 2.314,78 935,80 -4.226,31 3.737,93 677,80 1.263,57 -4.211,58
Saldo mensal acumulado 35.302,00 29.824,65 30.140,88 30.230,80 36.620,56 38.935,34 39.871,14 35.644,83 39.382,76 40.060,56 41.324,13 37.112,55
1. Os honorários do Gabinete são de € 1 147,50/mês, incluindo IVA a 21%. Ou seja, € 948,40 + IVA. A retenção do IRC (20%) incidiu sobre o valor sem IVA.
Quadro 5
E cabe aqui uma recomendação para ser seguida sem desvios: o extracto mensal da conta da
empresa no Banco com que trabalha deve ser conferido com rigor e cuidado, incluindo todos os
movimentos que ele registe relativamente à utilização dos cartões de débito ou de crédito
25
Apenas com o objectivo de tornar mais incisivo o conceito de liquidez, não considerámos inteiramente líquidos os
valores dos depósitos bancários nem mesmo os valores de caixa. No primeiro caso porque os bancos têm horários
de funcionamento e as máquinas ATM operam com condicionantes de valor e outros e, no segundo caso, porque o
saldo de caixa pode estar parcial ou totalmente representado por vales de despesas ainda não documentadas, por
exemplo … Ferreira, Rogério Fernandes, Balanços (Gestão Financeira), Ática, Lisboa, 1971
Imobilizações Corpóreas
Digamos que há dois atributos essenciais que caracterizam os bens cujos valores se inscrevem
nesta conta: 1) a permanência prolongada ao serviço da empresa e 2) não existirem para venda
mas para contribuir para o processo produtivo ou para proporcionar a fruição de um
rendimento.26
Mas poderíamos estar perante o Balanço de uma outra empresa em que o Activo incluísse uma
conta de Imobilizações Incorpóreas. Seria o caso de a empresa explorar uma licença ou marca
por cuja utilização pagou determinado valor; ou, no caso da DESÍGNIO se, por exemplo, tivesse
adquirido os direitos de representação das Histórias Mínimas de Xavier Toméo. Ou ainda de
uma pequena empresa que tivesse adquirido o direito de produzir em Portugal, numa escala
familiar, uma cerveja belga tradicional27
Numa empresa de produção industrial de qualquer dimensão, poderiam ainda ser consideradas,
como imobilizações corpóreas os stocks de segurança28 de matérias-primas e/ou de produtos
acabados. E aqui levanta-se sempre um problema importante de que vale a pena tomar
consciência mesmo sem ir ao fundo da sua complexidade.
26
Repare-se que uma empresa ocupada na mediação imobiliária pode ser proprietária de vários edifícios ou terrenos
destinados à venda. Essa é a sua actividade e estes edifícios constituem o seu stock de produtos, o seu activo
permutável como em tempos se chamou às mercadorias que o comerciante tinha no seu estabelecimento para venda.
O imobilizado corpóreo de que aqui se fala é instrumental.
27
É conhecido que a estrutura da produção cervejeira belga é completamente diferente da que conhecemos em
Portugal e noutros países: na Bélgica, as grandes marcas são em geral importadas e a produção nacional distribui-se
por muitas empresas familiares, de dimensão reduzida, que exploram desde há séculos, de pais para filhos, receitas
tradicionais.
28
Por stock de segurança de matérias-primas entenda-se o volume que, implicando o mínimo de aplicação
financeira, assegura a continuidade da produção, evitando roturas por falta de aprovisionamento atempado; o stock
de segurança dos produtos acabados será o volume de produtos acabados que, implicando a menor imobilização
possível, assegure a execução das encomendas sem interrupções.
Como valorar estes bens, sendo que, como se deixa ver, os resultados do exercício são
condicionados pelo critério que se adoptar? E, mais do que isso, deverá ter-se em conta que o
valor atribuído ao stock no fim de um período será o valor que, em princípio, será considerado
como custo do stock inicial do período seguinte. Compreender-se-á que a elevação do valor das
existências no fim do ano, corresponde a uma antecipação de resultados que pode não se realizar
no futuro. Do mesmo modo, a redução do valor das existências no fim de um ano transfere para
o futuro a realização dos resultados correspondentes.
Não sendo viável a adopção do critério do custo originário, sobram outros caminhos alternativos:
29
É necessário ter em conta que o envolvimento financeiro com os stocks de segurança, sejam de matérias primas,
sejam de componentes ou de produtos acabados, não são apenas constituídos pelo custo das matérias facturado pelos
fornecedores ou pelo custo dos produtos calculado na empresa. Devem incluir também os custos resultantes do
espaço ocupado com o armazenamento, a salvaguarda da qualidade (Há matérias e componentes cuja qualidade se
degrada se o armazenamento não respeitar todas as exigências técnicas), os custos da segurança, seguros, etc. Com
os produtos acabados a situação é idêntica, acrescidas as exigências se os produtos forem perecíveis.
a. Valorar o stock pelo custo do lote mais antigo (first in, first out)
É claro que, em tempo de inflação, adoptar este critério significará produzir a custos
aparentemente mais baixos, tendo em conta que o preço das matérias-primas não sofreu a
totalidade da subida. Isto quererá dizer que também os resultados serão aparentemente mais
elevados. Se a política da empresa conduzir à distribuição dos resultados é evidente que, do que
distribuir, uma parte não são resultados reais. Se, ao contrário, o tempo for de contracção da
procura, de abaixamento dos preços, as produções serão mais caras e isso poderá criar acrescidos
problemas na comercialização.
b. Valorar o stock pelo custo do lote mais moderno (Last in, first out)
Ou seja, o preço a que se fez a última aquisição de matérias ou o custo apurado na produção do
último lote de produtos, serão os valores unitários que servirão para contabilizar o valor dos
stocks.
Se, como antes, os preços (das matérias e dos produtos) estiverem em alta, não haverá um
problema grave porque, em princípio, os preços dos produtos compensarão a subida dos custos
das matérias. A verdade é que numa tal situação se antecipam, nos resultados do ano, lucros
ainda não realizados e que só se realizarão após a venda. Se, por qualquer motivo, a venda se não
concretizar, contabilizou-se um lucro fictício e agravaram-se os encargos fiscais. Mas, além
disso, mesmo que não haja turbulência nos preços, estaríamos sempre a atribuir a um ano,
resultados que, efectivamente, só no seguinte se realizariam.
matérias, por exemplo), mas também das quantidades consumidas porque, … mesmo na hipótese
de os preços se manterem sem alteração, um abaixamento da qualidade das matérias pode levar a
maiores consumos que, mesmo a preços constantes, repete-se, tornarão os custos dos produtos
mais elevados.30 E não se pense que isto só se pode fazer nas grandes empresas. Nas pequenas á
mais fácil e as consequências são imediatas e visíveis.
Ora, numa pequena empresa – diríamos que em todas! – o andamento do saldo global desta conta
tem de ser objecto de uma atenção constante por parte do gestor porque este saldo constitui uma
verdadeira imobilização que implica a existência de adequados meios de financiamento.31 Por
outro lado, é indispensável que alguém se preocupe com o modo como cada cliente vai
cumprindo as suas obrigações perante a empresa: prazos habituais, tempestividade dos
pagamentos, explicações pertinentes e atempadas para os eventuais atrasos, etc.
Seria de grande utilidade para o Gestor, poder dispor, trimestralmente, de uma triagem dos
clientes correspondente ao trimestre em causa, onde possa ver quem são os clientes responsáveis
por 80% da facturação.
30
Ocorre neste passo chamar a atenção – uma vez mais! – para a necessidade de manter um relacionamento
inatacável com os fornecedores porque eles têm um papel essencial na formação do valor dos produtos pela
qualidade das matérias que fornecem, pelos preços que praticam, pela regularidade das entregas.
31
Deve ter-se presente um princípio fundamental da defesa da saúde financeira da empresa: as imobilizações devem
ser financiadas por capitais permanentes (próprios ou alheios a m-longo prazo)
Por pequena que seja a empresa, não é imaginável o seu normal funcionamento sem que
possa dispor de uma Caixa de Pequenas Despesas (CPD) para a qual se transfere, no
princípio da actividade, uma pequena importância (€ 100,00, por exemplo). Esta CPD
funciona sob responsabilidade pessoal e directa do Gestor ou de um empregado que
elabora uma folha diária dos pagamentos feitos (Documentos juntos) e apura o saldo
todos os dias. No fim da semana ou do mês apresenta ao Contabilista ou ao Gabinete o
conjunto das folhas, datadas e assinadas, capeando os justificativos de todas as saídas e
obtém o reembolso dos dispêndios feitos. Se for este trabalho entregue a um empregado,
o gestor deve, sem falhas, conferir os documentos das despesas pagas e conferir o saldo.
Se este controlo for assumido como uma rotina, não haverá qualquer dificuldade em o
manter. O controlo esporádico, em geral, gera ressentimentos por parte do empregado
responsável pela Caixa.
Hoje parece natural que a empresa, independentemente da sua dimensão, crie condições
para poder trabalhar com o seu Banco via Internet, fazendo os seus pagamentos
principais, consultando diariamente os seus saldos e obtendo, sempre que o julgue
oportuno, apoio e conselho do seu gestor de conta. Lembramos, a propósito, que o uso do
cheque é hoje muito dispendioso.
No Quadro 9 agrupam-se algumas das mais relevantes informações oferecidas pelo Balanço.
Quadro 10
Pode fazer-se uma primeira verificação com algum significado: É de cerca de 92% a taxa de
crescimento dos resultados. Este crescimento dos lucros terá uma explicação adequada no
conteúdo da conta de Resultados do Exercício de que adiante nos ocuparemos com algum
detalhe. É que não será indiferente provir o aumento dos resultados da exploração normal do
negócio, o que indiciaria a sua provável repetição ou desenvolvimento, melhores margens ou
maior volume de facturação ou, pelo contrário, ser o crescimento dos resultados esporádico,
consequência, por exemplo, da venda de uma viatura que já estivesse completamente amortizada.
Não é difícil reconhecer que a primeira hipótese avançada configuraria uma situação mais
interessante para a empresa do que a segunda.
Quadro 11
Por sua vez, o nível da liquidez da DESÍGNIO é confortável, como se vê no Balanço. Porque
consideramos a liquidez como uma condição essencial para o sucesso da gestão de uma pequena
empresa, sem dúvida mais essencial do que o nível da rendibilidade alcançada, não queremos
deixar de chamar a atenção para o conteúdo potencialmente perverso da liquidez folgada. É que,
frequentemente, os pequenos empresários, muitas vezes carentes de experiência, são tentados a
aplicar menos reflectidamente aquilo que entendem ser facilidades, normalmente propiciadas
pelo negócio e que muitas vezes são apenas o resultado de situações excepcionais. Não é raro vê-
los envolvidos em acções especulativas com stocks de matérias-primas ou mesmo na Bolsa; ou
ainda, não poucas vezes, investindo … despropositadamente, vítimas da neofilia reinante, da
publicidade e do efeito demonstração.
Em geral
ACTIVO+PREJUÍZOS ACUMULADOS = PASSIVO +CAPITAIS PRÓPRIOS
Rec. 4
Concluída a leitura deste capítulo e tendo reflectido sobre as ideias que, passo a passo, se vão
transmitindo a propósito do relacionamento com os fornecedores, com os Bancos, com o Estado
e com os Trabalhadores, os interessados terão adquirido uma consciência clara da importância da
gestão da tesouraria e do acompanhamento que ela exige; sublinhamos a necessidade de planear
com tempo, corrigir as expectativas com frequência, encontrar soluções em tempo oportuno, sem
ansiedade nem crispação. Ao mesmo tempo disponibilizaram-se várias sugestões para a criação
de instrumentos de planeamento e controlo.
Estratégia
Aqui não se trata de saber o que aconteceu durante o ano findo, mas de conhecer a realidade que
teremos de enfrentar já na próxima semana. É indispensável que saibamos com detalhe os
compromissos a que temos de fazer face e os recursos de que dispomos. Acrescentaríamos a
inventariação dos meios suplementares a que poderemos recorrer para ultrapassar uma
dificuldade resultante de uma contrariedade surgida à última hora (uma cobrança que se não
concretiza, por exemplo). Um Plano B ou o também muito conhecido Coeficiente de …
Segurança de que os Engenheiros fazem uso sistemático.
Desde logo aceitemos que todo o planeamento da tesouraria deve ser feito com a folga necessária
para suportar um razoável volume de imprevistos. Pode acontecer, por essa razão, que seja
oportuno abordar imediatamente um fornecedor cujo pagamento esteja marcado para a semana
próxima no sentido de obter a sua concordância para a dilação do prazo se vier a verificar-se um
atraso, por exemplo, na efectivação de uma transferência; ou, se isso não for possível, de todo
em todo, negociar com o Banco a possibilidade de utilizar um descoberto para uma utilização de
curtíssima duração, tendo em conta que a taxa de juro respectiva é significativamente mais
elevada do que a dos financiamentos normais.
O planeamento da tesouraria que vimos referindo pode exprimir-se num mapa de que se oferece
um modelo no Quadro 12.
Tesouraria
Quadro 12
Já referimos o caso do provável contacto com um ou vários fornecedores com vista a obter a
dilação dos prazos e do Banco para negociar a eventual utilização de um descoberto. Referimos
ainda um outro meio de reduzir a ameaça das tensões de tesouraria: negociar com o Banco uma
operação de Factoring que permitirá à empresa obter a antecipação do pagamento das suas
facturas. Se a clientela puder ser escolhida e se a cobrança das facturas, no prazo que tenha sido
negociado, não for fonte de conflitos e atrasos, se a margem com que a empresa trabalha suportar
o custo debitado pelo Factor (o Banco ou outra entidade especializada) pela tomada dos créditos
da empresa, a estabilidade da tesouraria passará a não depender da pontualidade do recebimento
dos valores das facturas: a cobrança foi antecipada. A variável estratégica desloca-se para a
acção comercial a quem cabe assegurar um volume suficiente de vendas (logo de facturação) e
para a escrupulosa triagem da clientela com vista a evitar cortes e restrições por parte do Factor.
O vale da morte
O Balanço de que dispomos, mesmo com alguma informação de 2003, não disponibiliza dados
suficientes para construir um gráfico como o que a Figura 2 oferece. Este é, portanto, um mero
exemplo que pretende ter um sentido pedagógico e chamar a atenção dos pequenos empresários
para a necessidade de se precaverem para atravessar incólumes o temeroso VALE DA MORTE.
Em geral, o lançamento das empresas é seguido de um período mais ou menos longo em que os
recebimentos resultantes da exploração do negócio são inferiores aos pagamentos a que a
conquista de uma posição no mercado e a própria exploração obrigam. São às vezes meses
seguidos, porventura anos nos grandes empreendimentos, em que esta situação se mantém. É a
este fosso, entre as entradas e as saídas de dinheiro e à duração desse estado de coisas, que se
chama o VALE DA MORTE numa clara referência a um já esquecido western dos anos 50.
10000
8000
6000
4000
2000
0 Trimestres
-2000 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Cash-Flow
-4000
-6000
-8000
-10000
-12000
Figura 2
Há neste gráfico da Figura 2 uma alusão ao Cash-Flow, conceito a que dedicaremos alguns
minutos. Para já, trata-se apenas da diferença entre pagamentos e recebimentos, contados num
dado momento. Em geral, no fim do ano.
É claro que à gestão compete prever em tempo adequado o desenvolvimento das respostas da
liquidez gerada às exigências da tesouraria, e tomar as medidas necessárias para evitar as roturas.
Já se disse, mas repete-se porque não se conhece outro ensinamento mais importante para que
uma pequena empresa seja conduzida com sucesso: é necessário negociar32 com o Banco e com
os fornecedores e já se deixa ver que, se o relacionamento foi, desde o início, conduzido de um
modo competente, com transparência, o apoio que se peça, em geral, não é recusado.
32
Será oportuno chamar a atenção dos gestores das pequenas empresas para a importância do saber negociar. Trata-
se de uma competência que, em geral, se considera como um dom, um jeito natural que quase toda a gente pensa ter
mas que, realmente, exige estudo e preparação adequada.
crescimento do volume de crédito concedido aos clientes. Ora, a estas variações correspondem
novas e cada vez mais intensas pressões sobre a tesouraria.
Numa pequena empresa a expansão não sustentada pode mesmo ser mortal. A razão deste
possível desfecho será, como se vê, a impossibilidade de cumprir atempadamente os
compromissos assumidos. Mesmo que a expansão das vendas produza resultados positivos,
lucros, estes não se transformarão em disponibilidades a tempo de responder às …
exigibilidades.
Uma conclusão poderá então ser avançada, consolidando, uma vez mais o que vimos afirmando
quase em cada página deste manual:
Por fim: Se são nítidas as evidências de que o mercado existe e a empresa pode demonstrar que
dispõe de competência técnica para responder às exigências da expansão, cumpre aos gestores
planear com realismo e integrar o plano numa proposta de financiamento para apresentar ao
Banco com que trabalha, expondo, com transparência, os objectivos a atingir, os riscos de que
tem consciência e mesmo o apoio já obtido dos principais fornecedores que porventura
acordaram em alargar os prazos de pagamento. Em geral, os bons projectos obtêm o acordo
Banco.33 A partir daí, negociar a melhor taxa de juro e o possível tempo de carência. Na ocasião,
garantir ao Banco o envio periódico de uma informação suficiente sobre o andamento do negócio
e assegurar um contacto para obter conselho quando isso for julgado necessário. Isto é,
aproveitar esta soberana oportunidade para reforçar a imagem de respeitabilidade e de confiança
de que os promotores beneficiem. Haverá, no futuro, situações em que esta imagem pode ser o
mais valioso de todos os capitais investidos no negócio.
33
O que é essencial para uma decisão favorável do Banco, para lá da imagem de que beneficie o promotor, é a
demonstração de que existe uma clientela viável e uma equipa coesa e tecnicamente apetrechada para conduzir o
projecto.
Devemos recordar que assim procedeu a Gestão da DESÍGNIO, com o resultado de que se dará
conta mais adiante.
Sobre o Cash-Flow
Está tão banalizado o uso da expressão Cash-Flow que nem valerá a pena qualquer esforço no
sentido de a nacionalizar.
O Doutor João Carvalho das Neves34 faz a comparação deste fluxo de caixa com um fluxo de
água, por exemplo com um rio, e escreve: Nasce na montanha, desce a encosta e percorre
sinuosamente a planície, onde recebe o contributo de um afluente. Continua o seu percurso
numa zona agrária onde serve para a rega. Mais adiante recebe as águas de um segundo e de
um terceiro afluentes. Atravessa uma cidade e fornece-lhe a água para o consumo urbano.
Finalmente, desagua no oceano.
É clara a analogia com o fluxo de caixa, visível como é a irregularidade do volume de negócio,
mesmo quando este não é sazonal, e como são irregulares os recebimentos (entradas) e
pagamentos (saídas) decorrentes.
34
Neves,J.C., Análise Financeira-Métodos e Técnicas, Texto Editora, Lisboa, 1989
caso dos impostos, e teremos o cash-flow … em 31 de Dezembro. Mas se queremos saber algo
mais sobre a génese do fluxo, não teremos dificuldade em reconhecer que o aumento do crédito
concedido pelos fornecedores e os adiantamentos de clientes são verdadeiros afluentes
potenciadores do fluxo (Neves, 1989), do mesmo modo que o acréscimo das dívidas dos clientes
(consequência inevitável do aumento das vendas, por exemplo) são verdadeiras sangrias
diminuidoras do fluxo.
Numa pequena empresa, como é o caso da DESÍGNIO, de que nos ocupamos, será suficiente
considerar
Cash-Flow
uma verba de € 13 662, dívida viva remanescente do empréstimo negociado com o Banco, no
princípio do ano.
Ainda neste domínio, e procurando dar mais consistência à abordagem feita, parece-nos
oportuno deixar claros os laços que ligam a empresa ao mundo que lhe é exterior e a que, em
sentido amplo, se pode chamar MERCADO.
Como se vê na Figura 3, dois circuitos asseguram esta ligação: O primeiro A. também dito
circuito real (também económico como alguns lhe chamam), mostra como circulam entre a
EMPRESA e o MERCADO as matérias-primas, os componentes, a energia, a mão-de-obra, as
licenças de fabricação, enfim, o que é necessário à produção e, em sentido inverso, os produtos
que são o objecto da actividade e que podem ser tangíveis, como numa fábrica de calçado ou
intangíveis como no caso da DESÍGNIO, cujo produto é um serviço ou um leque de serviços.
CAPITAL SOCIAL*FINANCIAMENTOS*COBRANÇA DE
CRÉDITOS*VENDAS A DINHEIRO*APOIOS*…
EMPRESA MERCADO
A.
MAT.PRIMAS*MÃO DE OBRA*COMPONENTES*
TECNOLOGIA*OUTSOURCING*LICENÇAS* …
B.
SALÁRIOS*RENDAS*JUROS*LUCROS*REEMBOLSO DE
FINANCIAMENTOS*PAGAMENTO DE DÉBITOS*IMPOSTOS
Figura 3
Ponto de reflexão
F= P, C , RH P= F , C , RH C= F , P, RH RH= F , P, C
FINANÇAS PRODUÇÃO
COMERCIAL PESSOAL
Figura 4
Empréstimo bancário
A Gerência da DESÍGNIO, antes de reformular as condições da sua ligação à Trupe Sol
Nascente e ao conjunto Novo Som, considerou que deveria fortalecer a liquidez da sociedade e
criar condições que lhe permitissem encarar com alguma segurança um programa mais
ambicioso do que havia imaginado no lançamento do projecto. Ou seja, o tempo decorrido entre
a primeira exposição organizada e o último semestre de 2003, foi aproveitado para conhecer
melhor o negócio, os mecanismos de decisão das entidades a quem interessam os serviços que a
sociedade se considerava apta a prestar, para conhecer pessoalmente os decisores e manter
desperta uma eficaz auto avaliação do seu desempenho. A gerência aprendeu a ouvir os clientes
e os colaboradores e adoptou, com coragem, uma atitude nova no meio: considerou que os
colaboradores da sociedade, fosse qual fosse o vínculo que os ligava, para lá de serem pessoas
capazes de realizar tarefas e missões, eram também capazes de pensar. De sugerir, de propor e
mesmo de discordar, sem que isso pusesse em causa, nem o espírito de equipa e a sua coesão,
nem que a liderança fosse questionada. As propostas alternativas com utilização constante da
ferramenta “e se ….”35 enriqueceram o conteúdo das conversas mais informais e fizeram de
todos, em diferentes graus, pessoas comprometidas com os objectivos.
É então que a Gerência ousa propor ao Banco a concessão de um empréstimo a longo prazo de
um montante que, apesar dos encargos resultantes, lhe permitisse tomar as decisões que em seu
entender o projecto exigia.
Antes de formalizar a proposta, a Gerência decidiu contactar o Gestor da sua conta no Banco e
expor-lhe pessoalmente o que pretendia, para ouvir a sua opinião; o Gestor da Conta não excluiu
a hipótese de o Banco se dispor a apreciar uma proposta e aceitou visitar a empresa uns dias
depois. Durante essa visita, o Gestor da Conta teve oportunidade de conversar com todos os
colaboradores permanentes e mesmo com responsáveis da Trupe e do Conjunto.
Esta proposta foi formalizada numa carta em que a DESÍGNIO dava conta das linhas essenciais
dos objectivos que pretendia atingir e dos caminhos que se propunha percorrer. Juntava 9 cartas
de entidades a quem tinha prestado serviços e em que estas davam conta da avaliação que faziam
da colaboração recebida. Uma semana depois a proposta foi aprovada e o empréstimo concedido.
O Quadro7 mostra o serviço da dívida nos 42 meses que se seguiram aos 6 de carência
35
“e se …” não fizéssemos assim; “e se …” fizéssemos desta maneira … é uma poderosa alavanca para tornar
produtivas as reuniões. Compete aos líderes disponibilizá-la.
acordados. A taxa foi de cerca de 6 % ao ano. Como garantias, os sócios aceitaram dar o seu aval
pessoal à operação. Só um era casado e, por essa razão, o Banco prescindiu da habitual exigência
do aval conjunto das esposas.
36
O comportamento da DESÍGNIO que aqui se relata é o que defendemos desde há muitos anos como forma
adequada de lidar com os fornecedores e com os bancos. Dar a cara, como correntemente se diz, expor com clareza
e verdade e propor soluções alternativas.
SERVIÇO DA DÍVIDA
€ 15 000
Mês C inicial Juro Am.Cap. Pagamento Mês C inicial Juro Am.Cap. Pagamento Mês C inicial Juro Am.Cap. Pagamento
7 15000 85,714 283,07 379,50 25 9492,7 47,463 321,32 379,50 43 2173,92 10,87 357,92 379,50
8 14716,928 73,585 295,20 379,50 26 9171,34 45,857 322,93 379,50 44 1816,00 9,08 359,71 379,50
9 14421,727 72,109 296,68 379,50 27 8848,41 44,242 324,54 379,50 45 1456,30 7,2815 361,50 379,50
10 14125,049 70,625 298,16 379,50 28 8523,86 42,619 326,17 379,50 46 1094,79 5,474 363,31 379,50
11 13826,889 69,134 299,65 379,50 29 8197,70 40,988 327,80 379,50 47 731,48 3,6574 365,13 379,50
12 13527,237 67,636 301,15 379,50 30 7869,90 39,35 329,44 379,50 48 366,35 1,8318 366,95 379,50
13 13226,087 66,13 302,66 379,50 31 7540,46 37,702 331,08 379,50
14 12923,432 64,617 304,17 379,50 32 7209,38 36,047 332,74 379,50
15 12619,263 63,096 305,69 379,50 33 6876,64 34,383 334,40 379,50
16 12313,573 61,568 307,22 379,50 34 6542,24 32,711 336,07 379,50
17 12006,355 60,032 308,75 379,50 35 6206,16 31,031 337,76 379,50
18 11697,601 58,488 310,30 379,50 36 5868,41 29,342 339,44 379,50
19 11387,303 56,937 311,85 379,50 37 5528,96 27,645 341,14 379,50
20 11075,453 55,377 313,41 379,50 38 5187,82 25,939 342,85 379,50
21 10762,045 53,81 314,98 379,50 39 4844,98 24,225 344,56 379,50
22 10447,069 52,235 316,55 379,50 40 4500,42 22,502 346,28 379,50
23 10130,518 50,653 318,13 379,50 41 4154,13 20,771 348,02 379,50
24 9812,3848 49,062 319,72 379,50 42 3806,12 19,031 349,76 379,50
Quadro 13
Estratégia
Opção Metodológica
A vida do gestor exige-lhe a aplicação prática, imediata, das ferramentas que o cálculo lhe
proporciona.
No primeiro caso, é o estudante de engenharia que aprende cálculo integral para medir a área da
cúpula do Pavilhão Rosa Mota, no Porto (um parabolóide invertido). No segundo, é o engenheiro
que tem necessidade de fazer um orçamento para a pintura da mesma cúpula e isso obriga-o a
conhecer a área a pintar e o poder de cobertura da tinta a aplicar. A especificação técnica da tinta
fornece-lha o fabricante, e o cálculo da área, conhecendo algumas medidas que pode ler nas
plantas, vai buscá-lo, já feito, à tabela de que todos os profissionais dispõem e para cuja
construção foi necessário … saber cálculo integral.
É claro que temos consciência de os exemplos abordados não esgotarem a realidade viva da
empresa, mas sentimos que o modo como se encaram as soluções permite extrapolá-las e adaptá-
las, alargando-lhe a aplicação.
Exercício 1
Duas mercadorias com diferentes sensibilidades ao custo do transporte
Transporte € 125
Total € 9 435
Exercício 2
Incorporação de componentes em produtos:
No fim do ano de 2004 procedeu-se ao inventário físico (contagem) dos componentes A1437,
que se aplicam normalmente em determinada produção da empresa, e verificou-se a existência
de 438 unidades. Em 2005 recebeu dos fornecedores, em diferentes ocasiões, 2980 unidades do
mesmo componente. Se cada unidade do produto ASTRA incorporar 3 unidades do componente
A1437, e em 2 de Janeiro de 2006 existirem 148 unidades deste componente, pergunta-se,
quantas unidades ASTRA produziu?
Exercício 3
O Equilíbrio do Balanço
O Balanço da Empresa Virtual, Lda. mostrava, em 31 de Dezembro de 2004 que os seus activos
tinham um valor líquido de amortizações de € 386 657, enquanto que os capitais próprios
envolvidos no negócio somavam € 149 897. Pergunta-se a quanto montavam as suas dívidas a
curto prazo, sabendo que, para o médio e longo prazo só se conhecia um empréstimo bancário de
€ 29 300.
Exercício 4
1.1 Admitamos que o preço por que vendemos o produto é o dobro do que pagamos pelas
matérias-primas incorporadas.
1.2 O custo das matérias-primas, avaliado pelo critério lifo37, soma 120 euros por unidade
produzida.
Desafio:
Construa uma réplica do Quadro 12, para um caso em que o valor da matéria-prima não seja
senão 30% do preço do produto. Analise as duas hipóteses.
37
Já referido e explicado na 1ª parte deste Manual: adopta-se o custo do último fornecimento recebido.
Exercício 5
Falhas nos aprovisionamentos podem causar graves prejuízos e desmotivar o pessoal
Tudo correu como previsto e a produção começou a crescer regularmente. Ao 5º mês, porém, a
série de produções crescente interrompe-se por se terem verificado várias rupturas nos stocks de
matérias-primas.
Não foi difícil verificar que o planeamento das compras estava feito com correcção, mas as
respectivas ordens de encomenda ao fornecedor seleccionado foram expedidas sempre na
presunção de que os prazos de entrega seriam rigorosamente respeitados, sem qualquer
preocupação de controlo da execução. O fornecedor, por sua vez, terá cumprido os prazos
enquanto os stocks de que dispunha lho permitiram e colocou novas encomendas no fabricante.
Face a esta situação, foi decidido quantificar as perdas sofridas em consequência do incidente e
definir as medidas a tomar para evitar que se repitam no futuro.
Eis o que se apurou ou se confirmou:
Quadro 14
b. Os dados colhidos mostram que o novo equipamento instalado pode produzir 8 800
peças por mês, tomando como referência 22 dias a 8 horas por dia.
Estatística da Produção
Meses 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Dados
Quadro 15
Pela observação do Quadro 15 verifica-se que a produção diária cresceu sempre, com a excepção
esperada do 5º mês. Neste mês, com efeito, a fábrica trabalhou 22 dias e a produção foi menor do
que no mês anterior em que se trabalharam apenas 20 dias. Se a produção diária tivesse sido
neste 5º mês idêntica à do 4º mês, teria atingido 7120 peças (6480 + 320 +320)38.
Tratar-se-ia então do melhor de todos os meses do período considerado. Mas isto traduziria um
crescimento nulo da produção diária de 320 peças/dia, num tempo em que da maior experiência
dos trabalhadores se esperam resultados que aproximem a exploração do equipamento da
capacidade técnica instalada, 5%, isto é, um valor variando entre 8360 peças e 9240 peças39.
Deve portanto levar-se em conta, que a produção diária estava a crescer a um ritmo médio de
13,99% se se ignorar a situação anómala verificada no 5º mês e compararmos a produção obtida
no 6º mês com a do 4º. Teremos, dessa forma:
38
Reparar que no 5º mês se trabalharam 22 dias, enquanto que, no 4º mês, se trabalharam apenas 20 dias.
39
8360=8800-5% de 8800; 9240=8800 + 5% de 8800
Quadro 16
A perda da produção que pode atribuir-se a ruptura de stocks anteriormente referida é, portanto,
bastante superior à simples diferença entre o que efectivamente se produziu no 5º mês e o que se
produzira no 4º mês.
Se tudo tivesse corrido normalmente, a produção do 5º mês deveria atingir cerca de 365 peças.
Produção estimada para o 5º mês sem anomalias = 320 1,1399 365 peças
Para reflectir sobre a gestão e valorar devidamente os erros e omissões, tenha-se em conta que a
perda atribuída ao erro de planeamento de que nos ocupamos foi, efectivamente de 70 peças por
dia, correspondentes a 1540 peças nos 22 dias do 5º mês. Nesta perspectiva, a produção do mês
teria atingido 8 030 peças, tornando-se o melhor mês do semestre, como já antes se disse.
Por fim
Conclui-se:
Desafio:
Construa um Quadro em que mostre, para cada um dos meses considerados no exemplo, as
percentagens das produções obtidas relativamente à capacidade técnica instalada.
Exercício 6
Um lote de vinho para satisfazer uma encomenda
Dados do Armazém
Quadro 17
Um cliente seu encomendou-lhe 2500 litros em garrafas de 0,75 L. com a sua própria marca e
informou que, conhecendo bem a sua clientela, precisava que o vinho tivesse 11,5º de álcool,
a Quantas garrafas, rolhas, cápsulas, rótulos, gargantilhas e contra rótulos vai aplicar
c Como vai construir o lote do vinho que lhe foi encomendado sem utilizar o vinho de
14º?
Desafio:
Um comerciante recebeu € 133,4 pela venda de um produto cujo preço de tabela era de € 145,00.
Qual foi a percentagem do desconto que fez? (R 8%).
Exercício 7
A situação normal na actividade económica, a que, essencialmente, não muda com o lugar, é a de
que o dinheiro perca poder de compra com o passar do tempo. Para comprar o Diário de Notícias
de há 50 anos, seriam necessários dois escudos e cinquenta centavos; um café custava menos do
que isso; em 1974 ou 75 foi criado o Salário Mínimo Nacional e estabelecido o seu montante
mensal: Esc. 3300$, ou seja, € 16,42. Mas mais importante do que isso será saber que, só na
indústria têxtil, mais de 120 000 trabalhadores beneficiaram do salário mínimo nacional e viram
os seus rendimentos aumentados por força da sua criação.
Então compreende-se que uma importância que tenhamos a receber daqui por um, dois, três,
quatro ou cinco anos, não valha o mesmo, quer dizer, não compre as mesmas coisas que
compraria se hoje já tivéssemos o dinheiro na nossa conta do Banco.
Do mesmo modo, devemos considerar que o dinheiro que temos hoje na conta merece uma
recompensa (o juro) já porque, para o ter na conta,40 nos abstivemos de consumir, já porque ele
vai perdendo poder de compra e quando nos for devolvido, no fim do prazo, o que nos devolvem
é, em princípio, um dinheiro mais débil, mais fraco. Do mesmo modo, é normal que quando
alguém vai ao Banco pedir dinheiro emprestado para investir (ou para consumir…), o Banco
cobre uma recompensa que não só cubra o que nos paga por termos lá depositado o nosso
dinheiro, como o acautele do risco de não vir a receber o reembolso ou de receber no futuro um
dinheiro que compra menos do que comprava o que entregou a quem pediu o empréstimo e lhe
permita realizar um lucro; do lado deste, do que pede o empréstimo, será também normal que
pague o preço do uso do dinheiro que não é seu, seja para consumir, porque isso satisfaz uma
necessidade sua, seja para investir na expectativa de vir a obter um ganho, uma mais valia.
Então:
40
Com o nosso depósito contribuímos para acrescer a capacidade creditícia do Banco.
b) O dinheiro é entregue ao Banco por um prazo estipulado (seis meses, um ano, dois …)
e, nesse caso, dar-lhe-á direito a receber um juro calculado à taxa w% que é sempre
maior do que k%. Nesta hipótese b) há ainda duas situações que podem verificar-se:
ii) No fim do período contratado o Banco credita a conta de Depósitos a Prazo pelo
juro vencido, e acresce este valor ao do capital inicial. No fim do primeiro
período, este capital torna-se assim num outro C1 = (C+w/100 C) ou, se se
quiser, C1= C (1+w/100) e assim sucessivamente.
Haverá aqui uma questão interessante, sobre a qual valerá a pena reflectir um pouco.
É que se antecipamos a cobrança descontando a letra para fazer face a uma despesa
de consumo, o que ocorre é que os bens ou serviços consumidos se tornaram mais
caros na proporção exacta do que pagámos como encargo do desconto bancário; se a
antecipação se destina a cobrir as necessidades de um investimento, então, temos de
comparar a taxa esperada de remuneração do capital investido com a taxa paga pela
antecipação da cobrança que possibilitou o investimento. Ou seja, a taxa esperada de
remuneração do capital investido terá sempre de ser comparada com a que foi
necessário suportar com os encargos que permitiram a antecipação da cobrança. Se
quisermos ir um pouco mais longe, devem fazer-se comparações com outras
alternativas de aplicação dos mesmos valores.
Anda por aqui perto o conceito de alavancagem dos capitais próprios e também o dos
custos de oportunidade.
Exercício 8
Um empréstimo a seis meses
Um capital de € 5000 foi colocado41 por 6 meses a uma taxa anual de 5%.
Pretendemos saber quanto devolverá o devedor, no fim do prazo, liquidando o capital acrescido
do juro vencido.
41
Colocado é, aqui, o mesmo que aplicado, depositado, emprestado.
Exercício 9
Uma empresa apresentou ao Banco, para desconto, uma letra a 90 dias com o valor de € 12150
aceite por um cliente de quem tem muito boas referências. Se o Banco aceitar fazer o desconto,
qual vai ser o valor líquido que a empresa poderá vir a receber?42 Qual foi, em percentagem do
valor inicial, o custo da operação de desconto?
42
Tomou-se uma taxa de juro de 6,5/ano e consideraram-se os Encargos de € 15,3
Exercício 10
Depósito a prazo como alternativa para a aplicação de excedentes de tesouraria. Juros
capitalizáveis
A questão que a gerência formula é a de saber quanto vai render-lhe em juros a operação
contratada.
Já agora, seria interessante conhecer a taxa de juro produzida pela aplicação de € 98 000, durante
quatro anos.
43
Isto significa que, no fim de cada ano, os juros são acrescidos ao capital e rendem juro à mesma taxa.
Exercício 11
Empréstimos contraídos a taxas diferentes: renegociar para uniformizar as taxas e facilitar
o controlo
ALFADELTA, Lda. é um gabinete de apoio a estudantes que têm (ou julgam ter), particulares
dificuldades na área da matemática. Empenhada no combate a esta tão generalizada dificuldade,
a pequena sociedade, com um capital social de € 6 000 divididos em quotas iguais, tem
constituído um modo ao mesmo tempo útil e divertido de três recém licenciados encontrarem
aplicação para a sua competência e o seu tempo.
Decorridos sete meses, os três jovens empresários decidiram ceder 25% da quota de cada um a
um colega licenciado em Contabilidade para fortalecerem a ALFADELTA nessa área, ao mesmo
tempo que encaram a possibilidade de oferecer apoio a estudantes de Direito e de Engenharia no
domínio das Ciências Empresariais.
Pouco tempo depois da alteração do Pacto Social para a entrada do novo sócio, este verificou que
a ALFADELTA era titular de três empréstimos bancários:
Face a esta situação, o novo sócio, potencial especialista na área administrativa, obteve a
aprovação dos outros três para a sua proposta de que se negociasse com o Banco a substituição
das diferentes taxas por uma única, semestral, sem alterar as datas dos vencimentos dos
empréstimos nem os valores mutuados.
Antes de apresentar a questão ao Banco, o sócio administrativo, mostrou que a existência de uma
taxa única facilitaria o controlo das contas e mostrou o modo como calculou a nova taxa, que não
seria mais do que a taxa média ponderada das taxas até então em vigor. Eis os passos
percorridos para efectuar os cálculos:
Quadro 18
Por último, calculou a taxa única que, mantendo os prazos e os capitais mutuados, produzisse o
mesmo montante de juro, ou seja, a já referida taxa média ponderada45:
232,35 232,35
Taxa semestral média = = = 0,0408 = 4,08%
600 * 1 900 * 2 1100 * 3 5700
44
Julgamos oportuno, quando o Manual está a chegar ao fim, chamar a atenção dos gestores dos pequenos negócios
para a importância do modo como organizam a informação com vista a tomar decisões ou a resolver problemas. Os
QTA do Prof. Manuel Baganha mostraram ser de grande utilidade em todas as circunstâncias. Não são
standardizados: construí-los é já encontrar uma parte importante da solução procurada.
45
Os elementos de ponderação foram agora dois: os diferentes capitais e os diferentes prazos.
Exercício 12
Um caso:
Honorato Ramos e Alcinda Ruas são dois jovens enólogos que decidiram criar uma pequena
empresa com o objectivo de prestar assistência técnica às pequenas e muito pequenas empresas
ligadas à viticultura no Douro. Oferecem um serviço integrado que vai desde a formalização do
projecto à assistência na montagem das vinhas em terrenos pré preparados para minimizar os
efeitos da erosão e garantir o granjeio futuro, à escolha dos bacelos adequados a cada área,
eleição das castas a enxertar tendo em vista o objectivo definido (Que vinhos queremos?),
prescrição dos tratamentos fito sanitários tendo em conta a protecção da vinha e do ambiente,
controlo das vindimas e da vinificação, do estágio e do embalamento. Dispõem de uma clientela
certa com quem trabalham há cinco anos. As primeiras vinhas que foram plantadas sob sua
orientação começaram a produzir as primeiras amostras no ano passado.
― 1 filtro de pressão que só raramente será utilizado mas de que deve dispor-se.
A estimativa que fazem aponta para um investimento que rondará os € 93 000. Construída uma
previsão de resultado antes de impostos mas depois de considerados os encargos financeiros e
tendo em conta as normais variações cíclicas da actividade, construíram o Quadro 19.
No fim do ano n 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Resultado esperado 23500 26000 29000 29500 17500 29500 29500 29500 18000 29500
n
Rn/(1+0,15) 20435 19660 19068 16867 8700,6 12754 11090 9643,6 5116,7 7291,9
n
Σ Rn/(1+0,15) 130625,8836
Tempo recuperação Seis anos Sete anos
Quadro 19
Para o efeito, foi-lhes necessário saber que um valor futuro se actualiza, isto é, se exprime num
n,
valor actual, multiplicando-o pelo factor 1/ (1+i) em que n é o número de períodos (anos,
meses, dias) que vão da actualidade à data de realização efectiva do resultado (ou recebimento se
se tratar do reembolso de um empréstimo ou de cobrança de uma factura). No caso de que nos
ocupamos, a avaliação fez-se para 10 anos, tendo-se considerado a taxa anual46(i) de 15% para
actualizar os valores futuros.
Esta taxa pretende cobrir o risco que o empresário enfrenta (a inflação é um deles, como se sabe
…) e também fazer face ao custo de oportunidade. Este último decorrente das alternativas de
aplicação, necessariamente sacrificadas.
No exemplo tratado, em que tomámos como suficiente a taxa de 15% e estimámos os ganhos
anuais, como se mostra no Quadro 19, somos conduzidos a um tempo de reembolso do
investimento que chega aos sete anos. Efectivamente, se os pressupostos se verificarem, os
investidores recuperarão, em 7 prestações anuais (valor actualizado), o capital investido.
46
Se n exprimir o número de meses, a taxa anual i será dividida por 12…
Experimente
Reconstruir o Quadro 19 até aos quinze anos e determine o valor acumulado no fim desse
período. Parta do princípio que os resultados previstos caíram 5% em cada ano, dos que vão do
11º ao 15º.
BIBLIOGRAFIA
Contabilidade
Fernandes Ferreira, R., Balanços (Gestão Financeira), Volume I – Parte Geral, Ática, Lisboa,
1971
Gestão da Tesouraria
Roche, M., La maitrise des flux financiers, Pierre Dubois, Sa para o Institut Français de Géstion,
Paris, 1990
Lacrampe, S. e G.Causse, Métodos de Gestão da Tesouraria, Tr. António M.Rollo Lucas, RÉS –
Editora, Lda., Lisboa, 1982
Santos, R., Cálculo Financeiro Noções e Exercícios, Edições ASA, Porto, 1990
Neves, J.C., Análise Financeira, métodos e técnicas, Texto Editora, Lisboa, 1989