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Ata Ponto de Corte 23
Ata Ponto de Corte 23
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Estudo realizada na AVAPE – Associação de Valorização e Promoção ao Excepcional – de São Bernardo do
Campo em associação com o PDD – Projeto Distúrbios do Desenvolvimento – do Instituto de Psicologia da USP
Resumo
O objetivo desta pesquisa foi realizar um novo estudo de
validade da Escala de Traços Autisticos (ATA). A Escala foi
aplicada em forma de entrevista às mães de crianças com
Transtorno Invasivo do Desenvolvimento e de crianças com
Deficiência Mental, previamente diagnosticadas por equipe
multidisciplinar com base nos dados do DSM IV – R. Foi utilizada
uma escala para avaliar o nível funcional dos sujeitos (Escala de
Comportamento adaptativo Vineland), com o objetivo de
homogeneizar as populações estudadas. Os dados obtidos
foram analisados estatisticamente, através do programa SSPSS,
realizando-se teste t para comparação de médias, analise de
variância de cada um dos itens e curva ROC, visando estabelecer
o melhor ponto de corte para diferenciação das populações. A
Escala de Traços Autísticos (ATA) apresentou grande
sensibilidade 0,82 e especificidade 0,75 para identificar os
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento e mostrou-se mais
precisa para rastrear sintomas autísticos, especialmente com
ponto de corte 23, tanto na clínica como em grandes populações.
1.INTRODUÇÃO
O autismo é considerado hoje como uma síndrome
comportamental com etiologias múltiplas e distúrbios de
desenvolvimento, caracterizados por déficits na interação
social, observados através da inabilidade em relacionar-
se com o outro, usualmente combinado a déficits na
linguagem e no relacionamento (Gillberg, 2001).
Com as mudanças conceituais que sofre a partir dos
anos 70, altera-se a questão epidemiológica passando de
casos raros, descritos esporadicamente, para
aproximadamente 1 a 5 casos em cada 10000 crianças,
numa proporção de 2 a 3 homens para 1 mulher
(Volkmar, 1996), ou mesmo uma proporção de 2:1000
(Bryson apud Cohen, 1985).
Observa-se ainda uma predominância do sexo
masculino conforme citado por Frith (1989) ou pelo
próprio DSM IV (1995), embora quando analisamos as
etiologias prováveis, não encontremos grande número de
pacientes com patologias vinculadas especificamente ao
cromossoma X, a qual justificaria essa diversidade.
Leboyer (in Lebovici, 1991) é textual quando diz que
“a confrontação das observações clínicas e dos dados
obtidos através da análise dos processos cognitivos e
emocionais permite considerar a descrição de um modelo
cognitivo anormal sustentando a patologia dos autistas”.
Seu diagnóstico pode ser realizado de forma clara,
sugerindo-se que a idade média para sua detecção é ao
redor de 3 anos, embora se sugira que ele já possa ser
bem estabelecido ao redor dos 18 meses de idade
(Baron-Cohen; 1992).
Muitas características do autismo, também são
encontradas em outros transtornos do desenvolvimento,
por isso foi descrito como “continuum” autístico variando
de acordo com o comprometimento cognitivo (Wing,
1988). Há uma grande relação com a deficiência mental e
esta associação chega até 2/3 dos casos (Kaplan,1997).
O conceito de deficiência mental é uma entidade
clínica de difícil precisão, pois varia de acordo com as
influências que sofre do meio no qual foi estruturado
(Assumpção Jr., Kuczynski, 2003), ou seja, está
relacionado ao funcionamento adaptativo, que refere-se
ao modo como o indivíduo enfrenta com eficiência, as
exigências cotidianas, e o grau em que atinge os critérios
de independência pessoal esperados quando comparados
aos demais de sua idade, bagagem sócio cultural e
contexto comunitário (APA, 2002).
2. OBJETIVO
3. METODOLOGIA
3.a.POPULAÇÃO
Foram avaliados 93 sujeitos, com idades entre 4 e
12 anos (Média= 7a 3m) sendo 62 do sexo masculino e
31 do sexo feminino. Foram diagnosticados 41 crianças
com Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (Grupo
Experimental), e 52 como apresentando unicamente
Deficiência Mental (Grupo Controle). Esses diagnósticos
foram realizados a partir de avaliação multidisciplinar
(médicos, psicólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos,
terapeutas ocupacionais) segundo os critérios referidos
pelo DSM IV-TR (2002).
3.b. INSTRUMENTO
A escala ATA é um instrumento de fácil aplicação,
acessível a profissionais que tem contato direto com a
população autista, por exemplo, professores, bem como
pais, informando o estado atual do paciente. Ela pode ser
aplicada por um profissional conhecedor do quadro, não
necessariamente médico, sendo ele o responsável pela
avaliação das respostas dadas, em função de cada item.
Não é, portanto, uma entrevista diagnóstica, mas uma
prova estandardizada que dá o perfil conductual da
criança, embasada nos diferentes aspectos diagnósticos.
Consiste na observação e permite fazer seguimentos
longitudinais da evolução, tendo por base a
sintomatologia autística, auxiliando também a elaboração
de um diagnóstico mais confiável desses quadros
(Assumpção 1999).
Essa escala é composta por 23 sub-escalas, cada
uma das quais dividida em diferentes itens. Sua
construção foi realizada levando-se em conta os critérios
diagnósticos do DSM-III, DSM-III-R (1989), e da CID-10,
e na primeira padronização (Assumpção;1999), foram
utilizadas também as correções de critérios decorrentes
da publicação do DSM-IV (APA, 1995). Assim sendo,
quinze das suas sub-escalas são representativas dos três
critérios básicos e somente as sub-escalas 8, 10 e 15 são
apontadas como itens adicionais nas escalas ERCN
(“Échelle d’évaluation resumée du comportement
autistique”), ERCA-IIIA (“Échelle d’évaluation resumée du
comportement du nourrison”) e a escala de Riviére. As
sub-escalas 1, 16 e 21 são aquelas que se apresentam
com maior freqüência nos instrumentos diagnósticos
revisados pelos autores.
Ela foi pontuada com base nos seguintes critérios:
cada sub-escala da prova tem um valor de 0 a 2;
pontuando-se cada sub item positivo no momento em que
o sujeito apresenta tal sintoma citado; se um item da
escala for positivo a pontuação da escala será 1, se dois
itens ou mais forem positivos a pontuação será 2, se
nenhum dos itens forem positivo a pontuação será 0. A
pontuação global da escala se faz a partir da soma
aritmética de todos os valores das sub-escalas.
Para a avaliação do nível de desenvolvimento, foi
utilizada a escala Vineland (Sparrow, Balla, Cicchetti;
1984) uma vez que ela é, devido à facilidade de sua
aplicação, bastante utilizada tanto para populações com
Deficiência Mental em nível moderado a profundo, bem
como com pessoas com Transtorno Invasivo do
Desenvolvimento que, em geral, não respondem aos
testes psicométricos (Klin;2006). Sua utilização, em nosso
estudo, teve por finalidade homogeneizar ambas as
populações estudadas bem como poder verificar a
importância do prejuízo no desenvolvimento mascarando
os sintomas autísticos.
O Vineland avalia o nível funcional da criança em
quatro áreas, a saber, comunicação, atividades de vida
diária, socialização e habilidades motoras mensurando
um quociente de desenvolvimento.
3.c. PROCEDIMENTOS
A ATA e o Vineland foram administrados após
informação detalhada dos dados clínicos e evolutivos da
criança, tendo requerido tempo pequeno para sua
aplicação, ao redor de 30 minutos para cada instrumento.
Os dados obtidos foram analisados
estatisticamente, através do programa SSPSS,
realizando-se teste t para comparação de médias, análise
da variância de cada um dos itens e curva ROC, esta
visando o estabelecimento do melhor ponto de corte para
diferenciação dessas duas populações objetivando-se
determinar os melhores pontos de sensibilidade e de
especificidade.
4. RESULTADOS
A partir da avaliação realizada, conforme os
procedimentos descritos, obtivemos:
Tab. 1 - Tabela de médias e desvios padrão, e comparação entre os grupos
TID (Transtorno abrangente de desenvolvimento) e RM (Retardo Mental)
através do teste t de Student, p=0,05
Desvio
GRUPO N Média padrão p
A.T.A RM 49 14,92 9,44 <0,01 *
TID 39 30,49 6,84
VINELAND RM 51 36,25 10,89 1,52
TID 40 35,03 10,10
Tab.2 - Tabela de médias e desvios padrão, e comparação entre os grupos
TID (Transtorno abrangente de desenvolvimento) e RM (Retardo Mental),
considerando-se QD<50, através do teste t de Student, p=0,05
Desvio
GRUPO N Média padrão p
A.T.A RM 45 15,11 9,63 0,028 *
TID 34 30,82 6,59
VINELAND RM 46 34,11 9,09 ,45
TID 35 32,29 7,33
Tab. 3 - Tabela de médias e desvios padrão, e comparação entre os grupos
TID (Transtorno abrangente de desenvolvimento) e RM (Retardo Mental),
considerando-se QD>50, através do teste t de Student, p=0,05
Desvio
GRUPO N Média padrão p
A.T.A RM 4 12,75 7,54 0,028 *
TID 5 28,20 8,87
VINELAND RM 5 56,00 3,67 ,45
TID 5 54,20 3,56 1,59
Tab. 4 - Coordenadas da Curva ROC
6. BIBLIOGRAFIA
Sparrow,SS; Balla,DA; Cicchetti,DV. Vineland Adaptative
Behaviour Scales. Minnesota; AGS; 1984
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Cognition 1985;21:37-46. [ Reference links services ]
7. Wing L. The autistic continuum. In Wing L. Aspects of autism: biological research.
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8. Barthélémy C. Évaluations cliniques quantitatives em pédopsychiatrie. Neuropsychiatrie de
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11. APA, Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais - DSM-III-R. São
Paulo: Manole, 1989. [ Reference links services ]
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