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Belém(PA)-Brasil
Setembro - 2018
1. INTRODUÇÃO.
A Corte Europeia dos Direitos Humanos [1], fundada em 1959, tendo a sua
sede em Estrasburgo, é um tribunal internacional competente para ouvir petições
alegando que um Estado contratante violou direitos consagrados na Convenção Europeia
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dos Direitos do Homem. Esse Tribunal não é um órgão da União Europeia, mas uma
jurisdição do Conselho da Europa.
A Convenção Europeia dos Direitos do Homem [2], instituída na cidade de
Roma, no dia 04 de novembro de 1950, instrumento protetor dos direitos humanos,
determinou a criação da própria Corte Europeia dos Direitos Humanos, órgão criado para
atuar caso haja o desrespeito às normas impostas pela Convenção. A Convenção constitui
o documento mais importante no que diz respeito ao estabelecimento e salvaguarda dos
direitos humanos no continente europeu.
O princípio do juiz de garantias está implícito no art. 6.1 da Convenção
Europeia dos Direitos do Homem, que dispõe nos seguintes termos: “ARTIGO 6°. Direito
a um processo equitativo. 1. Qualquer pessoa tem direito a que a sua causa seja
examinada, equitativa e publicamente, num prazo razoável por um tribunal independente
e imparcial, estabelecido pela lei, o qual decidirá, quer sobre a determinação dos seus
direitos e obrigações de carácter civil, quer sobre o fundamento de qualquer acusação
em matéria penal dirigida contra ela. O julgamento deve ser público, mas o acesso à sala
de audiências pode ser proibido à imprensa ou ao público durante a totalidade ou parte
do processo, quando a bem da moralidade, da ordem pública ou da segurança nacional
numa sociedade democrática, quando os interesses de menores ou a protecção da vida
privada das partes no processo o exigirem, ou, na medida julgada estritamente
necessária pelo tribunal, quando, em circunstâncias especiais, a publicidade pudesse ser
prejudicial para os interesses da justiça”.
Dizemos que o princípio está implícito porque contido na determinação de que
a pessoa tem direito a que sua causa seja julgada por um tribunal imparcial. O princípio
do juiz de garantias está intimamente ligado à questão da imparcialidade do juiz, pois se
entende este princípio a partir da premissa de que o mesmo magistrado que conheceu do
inquérito policial e nele praticou juízo de valor não deva ser o julgador da ação penal. Isto
em razão de que algumas das mais importantes decisões do juiz no âmbito do inquérito
policial, como decretação de prisões cautelares ou determinação de diligências de busca
e apreensão envolvem obrigatoriamente juízos de valor a serem tomados pelo juiz. Assim,
a separação de funções entre o juiz da instrução - aquele responsável por zelar pelas
garantias dos investigados na fase do inquérito - e do juiz do processo penal após o
oferecimento da denúncia é fundamental para alcançarmos de forma plena a
imparcialidade jurídica.
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Paulo Victor Freire Ribeiro, ao dissertar sobre o instituto, o qual não está
positivado no ordenamento jurídico brasileiro, ponderando que o magistrado atuante na
fase de investigações do inquérito policial está obrigado a decidir sobre medidas
cautelares como a busca e apreensão e a prisão preventiva, por exemplo, nos dá a
dimensão da importância do princípio do juiz de garantias. Assinala o autor, levando em
conta disposições do Código de Processo Penal brasileiro, o seguinte [3]:
Assim, além de o juiz ter que ser subjetivamente imparcial, também é necessário
que a sociedade acredite que o julgamento se deu perante um juiz objetivamente
imparcial. Portanto, tão importante quanto o juiz ser imparcial é o juiz parecer ser
imparcial.
É como nos relata a história que registra ter Júlio César se divorciado de
Pompeia, afirmando, sem ter provas acerca de qualquer infidelidade, que "minha esposa
não deve estar nem sob suspeita", episódio que deu origem ao provérbio que diz: "À
mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta".
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tenha atuado na fase das investigações, conforme a seguinte disposição do código: “Art.
75. Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou
da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou
queixa prevenirá a da ação penal”. [10]
Ocorre que o juiz federal Sérgio Moro, da 13ª. Vara Federal de Curitiba(PR)-
Brasil, vem atuando nos processos da chamada “Operação Lava Jato”, que trata de crimes
cometidos em detrimento do patrimônio da Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras), com
competência por prevenção, há vários anos, tendo, inclusive, tido esta atribuição
exclusiva prorrogada por várias resoluções do Tribunal Regional Federal da 4ª. Região -
Brasil.
No exercício dessa competência, o juiz Sérgio Moro praticou vários atos na fase
de investigações destes crimes, especialmente no processo em foi condenado o ex-
Presidente Luis Inácio Lula da Silva, o qual se encontra preso numa carceragem da Polícia
Federal em Curitiba em decorrência de sentença condenatória proferida pelo referido juiz
no processo nº 5046512-94.2016.4.04.7000 [12].
É sobre alguns destes atos praticados ainda na fase de investigações pelo mesmo
juiz que proferiu a condenação que iremos nos debruçar para aferi-los à luz do princípio
do juiz de garantias e do princípio da imparcialidade do juiz e à luz da jurisprudência da
Corte Europeia de Direito do Homem.
Lula para depor, sem que tivesse havido qualquer tentativa prévia de intimação para tal
ato.
Tudo isso na fase de investigações, quando não havia sequer denúncia contra o
ex-presidente. E o que se viu é que o investigado acabou sendo condenado pelo mesmo
juiz federal com base, exatamente, na hipótese acatada por ele, ainda na fase de
investigações, de que o ex-presidente Lula tivesse ocultado e dissimulado a propriedade
de um apartamento triplex que, na sentença, o juiz afirma pertencer ao condenado.
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Porém, mais grave foi o ocorreu quando foram divulgadas gravações obtidas por
meio de interceptação telefônica pelo juiz federal Sérgio Moro nos autos de nº. 5006205-
98.2016.4.04.7000. Em despacho dado nestes autos, o juiz federal levantou o sigilo do
feito nos seguintes termos:
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4. CONCLUSÃO.
Entendemos que a solução para evitar a repetição de processos pelo Brasil afora
em que o magistrado que atua na fase de investigações perde a imparcialidade e, ainda
assim, continua prevento para julgar o mérito da ação penal é atribuir a juízes diferentes
a função de atuar na fase de investigação preliminar e a função de julgar o processo
judicial.
É esta a solução que foi apresentada no Senado brasileiro pelo Projeto de Código
de Processo Penal brasileiro – PLS nº 156/2009 [17] –, que prevê a figura do “Juiz das
garantias”, “responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela
salvaguarda dos direitos individuais” (art. 15). Expressamente, o art. 17 do Projeto de
Lei dispõe que: “O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato incluído nas
competências do art. 15 ficará impedido de funcionar no processo”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[8]. LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional. 3.
ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. v. I, p. 126.
[12]. BRASIL. Poder Judiciário. JUSTIÇA FEDERAL, Seção Judiciária do Paraná, 13ª
Vara Federal de Curitiba. Disponível em <https://www.conjur.com.br/dl/sentenca-
condena-lula-triplex.pdf>. Acesso em 29 set. 2018.
[13]. BRASIL. Poder Judiciário. JUSTIÇA FEDERAL, Seção Judiciária do Paraná, 13ª
Vara Federal de Curitiba. Disponível em
<https://www.migalhas.com.br/arquivos/2016/3/art20160304-07.pdf>. Acesso em 29
set. 2018.
[15]. BRASIL. Poder Judiciário. JUSTIÇA FEDERAL, Seção Judiciária do Paraná, 13ª
Vara Federal de Curitiba. Disponível em <https://www.conjur.com.br/dl/pf-violou-lei-
penal-ordem-moro-conduzir.pdf>. Acesso em 29 set. 2018.
[16]. BRASIL. Poder Judiciário. JUSTIÇA FEDERAL, Seção Judiciária do Paraná, 13ª
Vara Federal de Curitiba. Disponível em < https://www.conjur.com.br/dl/decisao-
levantamento-sigilo.pdf>. Acesso em 29 set. 2018.
[17] BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei do Senado n° 156, de 2009. Disponível em
<https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4574315&disposition=inline>.
Acesso em 29 set. 2018.