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Patricia Santos Da Silva PDF
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ESCOLA DE DIREITO
PASSO FUNDO
2017
Patricia Santos da Silva
PASSO FUNDO
2017
Patricia Santos da Silva
BANCA EXAMINADORA
Agradeço a Deus, pela força, e por iluminar meu caminho nessa trajetória.
Agradeço a minha família, pela confiança que depositaram em mim, minha
mãe Rosane pelo amor e carinho que sempre me deu, aos meus avós pela
dedicação que tiveram comigo, minha tia Adriana, minha maior incentivadora,
sempre me apoiando, me ajudando, e acreditando no meu potencial.
À Kiki, pelo companheirismo canino, durante as longas jornadas de estudo.
Ao meu grande amor, Júlio, pelo apoio, incentivo, companheirismo, paciência
e compreensão nos momentos de angústia. Obrigada por estar sempre ao meu lado,
inclusive nos momentos difíceis, me dando suporte, me amando e me fazendo uma
pessoa feliz, sem você nada disso seria possível, te amo muito.
Aos professores que tive durante minha graduação, que direta ou
indiretamente contribuíram para que eu chegasse até aqui, especialmente ao meu
orientador Felipe da Veiga Dias, pelas orientações, por todo o incentivo, atenção,
paciência, disponibilidade em sempre ajudar, pelos conhecimentos passados, e por
sempre me transmitir calma, esse trabalho é nosso.
Aos meus amigos pela paciência e compreensão nesse momento de
ausência, principalmente a minha irmã de coração Janaina, por sempre ouvir meus
desabafos, por ser meu refúgio, pelo companheirismo de sempre, por todo apoio e
incentivo, amo você.
Aos meus colegas e amigos “top’s do direito”: Ana Paula, Diana, Franciele,
Francieli, Luana, Magali, Marcelo, Robson, Rubiane, Silvana e Viviane. Obrigada
pela parceria nesses 5 anos de faculdade, vocês fizeram com que essa jornada
fosse mais fácil e divertida.
Enfim, a todos que de alguma forma contribuíram para essa conquista, meu
muito obrigada.
RESUMO
The present work is the result from a bibliographical research having as reference
works that deal with the crime of rape of vulnerable focusing on victims under the age
of 14, such as doctrines about the mistake of kind. The approach of the subject
matter justify itself in the importancy of the deviation from the general law of crime of
rape of vulnerable in case the agent has been made in error in relation to the
perception of the victim's vulnerability. The objective of this research is to conduct a
study of the cases in wich there is the recognition of the mistake of kind in the rape of
vulnerable, based on the jurisprudence analysis of the Court of Justice of Rio Grande
do Sul, in order to determine its parameters for the knowledge. Based on the
jurisprudential research on the subject, from the period of 2015 to 2017, concludes
that the false perception about the victims vulnerability, being it properly proven, is,
for the Court of Justice of Rio Grande do Sul, the main aspect analysed for the
recognition of the mistake of kind in the cases of rape of vulnerable.
Keywords: Child and Adolescent Statute; Rape; Rape of Vulnerable. Mistake of Kind
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7
2 DO ESTUPRO DE VULNERÁVEL A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA INFÂNCIA
.................................................................................................................................... 9
2.1 AS NOÇÕES BÁSICAS DO ESTUPRO CONFORME O DIREITO PENAL .......... 9
2.2 DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E A PROTEÇÃO DA
DIGNIDADE E INTEGRIDADE SEXUAL .................................................................. 15
3 ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO
GRANDE DO SUL .................................................................................................... 27
3.1 RECONHECIMENTO DO ERRO DE TIPO NO CRIME DE ESTUPRO DE
VULNERÁVEL........................................................................................................... 27
3.2 ANÁLISE DAS DECISÕES ACERCA DO ESTUPRO DE VULNERÁVEL E DO
ERRO DE TIPO NOS ANOS DE 2015 – 2017 NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO
GRANDE DO SUL..................................................................................................... 31
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 43
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47
7
1 INTRODUÇÃO
Os crimes sexuais não são resultados da sociedade moderna, haja vista que
perduram na humanidade desde muito tempo, apresentando desde sempre altos
índices de estupro no Brasil, ainda mais pelo fato de que a maioria das vezes o
abusador é alguém do convívio da vítima.
Os dados de ocorrência de abuso sexual contra crianças e adolescentes é
uma questão preocupante, pois acontece em uma quantidade tão considerável que
é apontado como um problema de saúde pública, pois acarreta em uma série de
prejuízos as vítimas, muitas vezes irreparáveis. A Lei n° 12.015/2009 trouxe o novo
tipo penal titulado como estupro de vulnerável, a fim de dar maior proteção a esses
que estão em fase de desenvolvimento e ainda não tem o necessário discernimento
para consentir com a prática sexual.
A violência sexual contra crianças e adolescentes é um tema bastante
discutido pela sociedade, haja vista que o maior entrave detectado para dar fim a
esse tipo de violência é o silêncio da vítima. As estatísticas apontam que a maior
incidência dos casos se dá em âmbito familiar, ambiente em que a criança teria de
obter cuidado e proteção. Ademais, tais delitos geralmente não são testemunhados,
e muitas vezes não deixam vestígios, restando, portanto, apenas o depoimento da
vítima. Diante disso, foi elaborado o Depoimento Especial, tendo como finalidade a
redução de danos psicológicos acarretados pela revitimização da criança ou
adolescente. Perante a gravidade que os crimes sexuais contra crianças apresenta,
convém uma análise mais profunda sobre o assunto.
único. Desse modo, se um agente constrange a vítima a ter conjunção carnal com
ele e em sequência a constrange para a prática de outro ato libidinoso, responde
somente por um único crime.
À vista disso, o Superior Tribunal de Justiça entende:
quando a mulher diz que sofreu violência, e que entendam que sexo sem
consentimento é estupro.
Obviamente, cada uma das situações guarda sua peculiaridade, uma vez
que, [...], a vulnerabilidade comporta graus e tem consequências penais
diferentes, a depender da avaliação que o legislador faz do grau de abuso
dessa condição, e, também, a avaliação que fará o julgador, tendo em vista
o bem jurídico tutelado pela norma (RASSI, 2011, p.834).
[...] são vulneráveis as pessoas que não têm, por qualquer causa,
capacidade de resistir. A elasticidade do termo utilizado na norma importa
em que a origem da incapacidade pode ou não ter sido provocada pelo
agente. Assim, por exemplo, dar-se-á a situação prevista em lei quando o
agente ministrar substância que retire a consciência da vítima ou quando
isso for feito por terceiro, aproveitando-se o sujeito da situação. São
exemplos: enfermidades, paralisia transitória dos membros, idade
avançada, desmaios, embriaguez, hipnose (ESTEFAM, 2009, p.61-62).
Sem dúvidas, este ainda será tema de uma série de debates doutrinários,
pois muitos questionam o grau de vulnerabilidade dos que possuem entre 12 e 14
anos de idade, sendo que ao analisar as normas presentes no Estatuto da Criança e
do Adolescente, verifica-se que reconhecem a relativa capacidade de discernimento
para os adolescentes (maiores de 12 anos de idade), no momento em que prevêem
a imposição de sanções como as medidas socioeducativas.
Todavia, sendo a favor ou não, a jurisprudência está unificada e clara, na
ocorrência de estupro com vítima menor de 14 anos de idade, a presunção de
violência é absoluta, sem possibilidade de discussão sobre o consentimento da
vítima, pois sua anuência é inválida.
19
sendo que violados alguns desses direitos, a família, sociedade e Estado, ficam com
o dever de recompô-los, pois “a proteção, com prioridade absoluta, não é mais
obrigação exclusiva da família e do Estado: é um dever social” (PEREIRA, 2000,
p.14). Atenta-se ao tratamento especial a essas pessoas, por encontrar-se em fase
peculiar de desenvolvimento.
É notória a grande preocupação que se dá ao saudável desenvolver da
criança e do adolescente, o Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe em seu
artigo 17 sobre o direito ao respeito, o qual consiste na preservação da integridade
física e psíquica da criança e do adolescente, levando em conta a fase de
desenvolvimento em que se encontram (BRASIL, 1990).
O segredo é mantido pela criança a um alto preço, que coloca em risco seu
desenvolvimento psicossocial, bem-estar, qualidade de vida e segurança.
As ameaças sofridas geralmente versam sobre a vida ou a integridade física
da própria criança ou de pessoas próximas e queridas e a vítima, ao tentar
proteger a si mesma e a seus familiares, acaba por ser submetida a mais e
mais situações abusivas, até que o ciclo se rompa com a revelação
(HABIGZANG, KOLLER & cls., 2012, p.57).
Verifica-se que referente aos crimes contra a dignidade sexual, tratados com
certa severidade pelo legislador, principalmente no que tange as vítimas vulneráveis,
inúmeras são as particularidades que devem ser objeto de minuciosa análise, de
modo que a repreensão prevista para a ofensa ao bem jurídico tutelado, não acabe
se tornando mais prejudicial, frente à incoerência de um caso concreto peculiar.
Dessa forma, diante de casos em que o agente comete o crime, não sabendo
estar cometendo, pois as circunstâncias do fato o levaram a incidir em erro sobre
elementos do tipo. Faz-se mister nesse capítulo, aprofundar os estudos acerca da
teoria do tipo, assim como analisar casos concretos de estupro de vulnerável contra
crianças e adolescentes oriundos da jurisprudência a fim de comparar os diferentes
entendimentos e técnicas proferidos nas decisões, afim de estabelecer os
parâmetros decisórios.
Há duas formas de erro de tipo: erro de tipo essencial e erro de tipo acidental.
O erro de tipo essencial recai sobre os elementos indispensáveis para a ocorrência
do delito, o agente opera com a ausência do elemento intelectual do dolo,
acarretando a exclusão do mesmo. Impossibilita o agente de compreender o cunho
incriminador no fato ou na circunstância. O erro de tipo essencial divide-se em
invencível ou vencível. O erro invencível é o erro inevitável de modo que a conduta
do agente ocorreu quando não se poderia evitar, não agindo dolosa ou
culposamente. Dessa forma, o erro invencível exclui o dolo e a culpa. Já no erro
vencível ao contrário do anterior, a conduta do agente poderia ter sido evitada se
agisse com o devido cuidado, provando-se que “o homem médio, colocado diante da
mesma situação, não erraria” (PACELLI; CALLEGARI, 2017, p. 306). O erro vencível
exclui o dolo, mas não exclui a culpa se o crime culposo estiver previsto em lei.
Nos nossos dias não há crianças, mas moças de doze anos. Precocemente
amadurecidas, a maioria delas já conta com discernimento bastante para
reagir ante eventuais adversidades, ainda que não possua escala de
valores definida a ponto de vislumbrarem toda a sorte de consequências
que lhes pode advir. Tal lucidez é que de fato só virá com o tempo, ainda
que o massacre da massificação da notícia, imposto por uma mídia que se
pretende onisciente e muitas vezes sabe-se irresponsável diante do papel
social que lhe cumpre, leve à precipitação de acontecimentos que só são
bem-vindos com o tempo, esse amigo inseparável da sabedoria (BRASIL,
1996).
31
Vale ressaltar que a vítima à época dos fatos possuía apenas 8 (oito) anos de
idade, sendo que nesse momento não praticaram ato sexual, apenas trocaram
“beijos e abraços”, porém, esses atos podem ser considerados atos libidinosos, que
como já tratado nesse trabalho, também caracterizam o crime de estupro de
vulnerável. Além do que, com oito anos idade (considerada criança pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente), falar em consentimento e discernimento é ignorar ao
máximo a conduta do réu (BRASIL, 2015, p.19).
Apesar da existência de grandes divergências pela parte da doutrina e
jurisprudência, o Superior Tribunal de Justiça em recurso repetitivo pacificou seu
posicionamento, e por fim propôs, conforme conclusões que se extraiu do
julgamento sob exame a seguinte tese:
prática sexual, a forma como se autodetermina, não restou dúvida pelo réu quanto à
sua idade. Dessa forma, todo conjunto levou a concluir pela ausência de
vulnerabilidade da vítima. Também pelo fato de o acusado possuir 18 anos na época
do fato e a vítima 13 anos, a presidente da câmara criminal e relatora do acórdão
considerou que seria “relativamente pequena a diferença de idade entre eles”
(BRASIL, 2015a, p.18). Seguindo essa linha de pensamento, é mister a transcrição
da pontuação feita pela juíza singular Solange Moraes, que foi citada inclusive no
acórdão, que aduz:
A solução desse fato social está para além do frio processo judicial, que
muitas vezes serve mais à exposição da intimidade daquela que se aponta
vítima do que a qualquer solução efetiva.
É preciso atentar, no presente caso, que os envolvidos são sujeitos ainda
em formação e os fatos aconteceram no frescor da adolescência, em
período fundamentalmente marcado por transformações, boa parte delas,
ligadas à sexualidade, impulsionada pelas modificações hormonais.
Longe de ser uma idade de certezas, é um período naturalmente conflitante
- muitas vezes, inclusive, de falsas convicções -, não havendo, em regra,
pleno discernimento das consequências e desdobramentos de muitas
condutas, entre elas do contato afetivo e sexual, que são pouco a pouco
absorvidos nesta fase da vida (BRASIL, 2015a, p.18-19).
fatos que foram levados em consideração para a decisão, O que traz a reflexão, de
que ainda se operam fundamentos herdados da sociedade patriarcal, que tendem a
culpabilizar a vítima, operando julgamento moral das vítimas, trazendo reflexões
como:
A vítima relatou que já com 11 anos de idade havia tido sua primeira
experiência sexual, tenho tido outros namorados com os quais mantivera
relações sexuais, portanto antes de relacionar-se sexualmente com o
apelante. A prova é clara no sentido de que a vítima, ao conhecer o réu, já
gozava de ampla espontaneidade (liberdade) sexual, tanto assim que
conheceu o recorrente no fim de uma tarde, em um bar (ou boate), e, ainda
na mesma noite (tencionavam ir a uma festa juntos) dirigiu-se, em sua
companhia, à residência dele, local onde mantiveram relações sexuais – na
ocasião a vítima tinha 13 anos (BRASIL, 2015b, p.19).
Tal fundamento não tem coerência, visto que a norma penal é clara ao
estabelecer que relação sexual com menores de 14 anos de idade configura crime
de estupro de vulnerável, pois não usufruem de capacidade para se autodeterminar,
e, no entanto, consentir ao ato sexual. Sendo que a única possibilidade de se afastar
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acreditava que a ofendida tinha 15 anos, idade permissiva para consentir sobre o ato
sexual, portanto não pressupunha relação com pessoa vulnerável.
Vale ressaltar que além desse quesito, era de conhecimento do acusado que
a ofendida sempre saia a noite, era usuária de drogas, ambos não tinham o mesmo
ciclo de amizade, o desenvolvimento físico e psicológico da vítima, elementos que
colaboraram para a convicção do réu em relação a idade alegada por essa (BRASIL,
2017).
Sobre a vulnerabilidade da vítima, interessante foi a posição do julgador que
compreende que:
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A violência sexual é um tema muito discutido, tanto pela doutrina como pela
jurisprudência e sociedade. A Lei n° 12.105/2009 reformulou o Titulo VI do Código
Penal que trazia a denominação “Dos crimes contra os costumes”, passando a titular
como “Dos crimes contra a Dignidade Sexual”. Referida lei introduziu significativas
alterações no texto penal, cumprindo o destaque nesse trabalho a inclusão do novo
tipo penal intitulado estupro de vulnerável.
Em um primeiro momento do trabalho, buscou-se fazer um estudo sobre os
aspectos gerais do crime de estupro conforme a esfera penal, analisando as
modificações oriundas da Lei n° 12.105/2009. Declinou-se ao debate acerca da
questão de gênero, trazendo fatos que alicerçam um fundamento de que as
mulheres ainda são vítimas de violência pelo motivo de serem mulheres, sendo o
estupro uma ferramenta de manutenção de poder oriunda da necessidade de
inferiorizar a mulher, fatos que resultam da herança cultural patricarcal,
extremamente machista.
Contudo, o ponto mais revoltante nisso, é referente a culpabilização da
mulher pelo sistema de justiça criminal, que projeta a percepção estereotipada do
gênero, quando conduz uma investigação focada na vida íntima da vítima, o que
acaba desmotivando novas denúncias, sendo um dos motivos de o estupro ser o
crime mais subnotificado.
Registra-se a necessidade do corte transversal de gênero, tendo em vista que
ignorar esse aspecto seria realizar uma apreciação parcial do problema, o qual
congrega tanto aspectos dessa parcela significativa da população, quanto nuances
da seara da infância.
Em relação ao abuso sexual de crianças e adolescentes, sabe-se que a
ocorrência desses delitos não é advindo da sociedade moderna, visto que
acompanha a evolução da sociedade desde os tempos mais remotos. De maneira
que a ocorrência de abusos com crianças e adolescentes era frequentemente
praticado por adultos. Fatos que objetivaram o enfoque da presente pesquisa nas
vítimas com idade inferior a 14 anos.
A introdução desse tipo foi necessária, visto o preocupante aumento de
incidências de crimes sexuais contra crianças e adolescentes, sendo que o maior
número desses casos ocorrem em âmbito intrafamiliar, a pessoa que tem o dever de
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proteção e cuidado para com a vítima, são os que causam os danos extremamente
prejudiciais ao seu desenvolvimento saudável.
Diante da relação parental, o obstáculo encontra-se em relação a revelação
dos abusos. O abusador usa de sua influência e poder sobre a criança, de modo a
fazer ameaças sobre sua vida e de sua família para evitar que revele a alguém sobre
os abusos sofridos, estabelecendo portanto um pacto de silêncio entre ambos, pois
perante o medo, a criança acaba se submetendo ao ciclo abusivo. Outro obstáculo
refere-se a prova dos fatos, pois como o delito é cometido (em inúmeros casos)
dentro do próprio lar, não tendo testemunha, e pelo fato de que muitas vezes os
abusos não deixam vestígios, torna-se difícil provar, restando o depoimento pessoal
da vítima.
Referente a isso, foi trabalhado no presente estudo que o método de
inquirição dessas vítimas é na maioria das vezes inadequado, pois tende a
revitimizar a criança ou adolescente, acarretando prejuízos secundários a estes,
assim como o aumento de relatos sob falsas memórias. Diante disso, foi criado o
projeto do “Depoimento sem Dano” ou como passou a chamar “Depoimento
Especial”, o qual é um método especializado em oitiva de depoimento de crianças
vítimas de abuso, fazendo com que a criança retrate uma única vez sobre os fatos,
visando assim reduzir os danos e a revitimização da vítima, assim como a obtenção
de respostas “fidedignas”.
O progresso para reconhecimento das crianças e adolescentes como sujeitos
de direito foi demorado, sendo que apenas com a promulgação da Constituição
Federal, se convencionou e reconheceu as crianças e adolescentes, tendo como
base a Doutrina da Proteção Integral, que estimulou as normas de proteção destes.
Posteriormente, surgiu o Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual
simbolizou um marco histórico para a esfera da Infância e Juventude, trazendo um
importante avanço na defesa dos direitos da criança e do adolescente, os quais
passaram a ser tratados como indivíduos em condição peculiar de desenvolvimento
físico, psíquico e social. Razão pela qual merecem especial proteção estatal.
Uma grande discussão doutrinária e jurisprudencial se desencadeou referente
a presunção de violência nos casos de estupro de vulnerável. Contudo, com o
advento da Lei n° 12.105/2009, o artigo 224 da lei penal foi revogado e criado o
crime de estupro de vulnerável a fim de esgotar as discussões acerca do fato. Assim
como, em 2015 o entendimento foi pacificado pela jurisprudência proferida pelo
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REFERÊNCIAS
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FARINAZZO JR, Roberto Arroio. Análise do artigo 217-A do código penal à luz da
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SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. 6. ed., ampl. e atual. –
Curitiba/PR: ICPC Cursos e Edições, 2014.
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Marta Angélica Iossi. Violência sexual intrafamiliar contra crianças e adolescentes:
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