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Uma sentença também pode conter dois ou mais núcleos do sujeito. Veja o título da notícia a seguir.
Complemento
Sujeito Verbo Ea
Nesse período, identificamos dois núcleos do sujeito, “Nasa” e “SpaceX”, tratando-se de um sujeito composto.
Em algumas sentenças, o sujeito parece não estar identificado, mas ele está subentendido na desinência número-
“pessoal do verbo. Veja adiante o trecho inicial da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu
conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me
versos. À viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava can-
sado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso. [...]
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv00180a.pdf. Acesso em: 8 nov. 2021.
No trecho, o narrador conta um breve acontecimento no percurso da cidade para o Engenho Novo, que se inicia com
a forma verbal “encontrei”. O sujeito não está evidente, mas pode ser subentendido pela desinência número-pessoal “ei”,
assim como em “fechei”, que indica a primeira pessoa do singular, designada pelo pronome “eu”. Esse sujeito refere-se a
Bentinho, protagonista da obra que narra a história. Esse tipo de sujeito recebe o nome de sujeito oculto ou desinencial.
O sujeito também pode ser omitido, seja por falta de informação para nomeá-lo, seja para gerar algum efeito de
sentido. Observe a capa de livro a seguir:
Reprodução
Z
O verbo do título do livro é “Procura-se”. Ao nos perguntarmos “quem faz a ação de procurar?”, não obteríamos uma
resposta fácil. Estamos diante de um verbo com sujeito indeterminado. Ao empregar esse tipo de sujeito, o autor do livro
reforça a ideia de que algumas espécies de animais estão em extinção, por isso nenhum sujeito poderia procurá-los.
É justamente esse o objetivo da obra, focar a ideia de extinção.
Note que o verbo está na terceira pessoa do singular, acrescido da partícula “se”, cnamada nesse caso de índice de
indeterminação do sujeito. Há uma outra forma de identificar o sujeito indeterminado. Observe:
ETC EL Te E
piscina bombeiros.
de frequentes mudanças em grades curricu-
Reclamam jares (OI) / de prejuízos (0)
(sujeito paciente) (verbo auxiliar + (agente da passiva)
Modificarem o conteúdo de seus cursos (OD) particípio)
Primeiramente, sente-se!
Note, nos exemplos, que o adjunto adverbial pode aparecer no início, no meio ou no final da sentença. Na língua
portuguesa, considera-se ordem direta: sujeito + verbo + complemento (se houver) + adjunto adverbial (se houver).
Revisando
1. UTFPR Assinale a alternativa em que há oração sem A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos
sujeito. A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...
a) Esperanças haverá sempre. Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!
b) Ninguém trovejou de tanta raiva quanto eu. E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,
c) Haveria desejado ele tudo isso? E contemplo o lugar por onde te sumiste,
d) Alguém havia aberto a porta. Banhado no clarão nascente do arrebol...
e) Choveu papel picado nas ruas de Curitiba. BILAC, Olavo. Alma inquieta. Disponível em: www.dominiopublico.
gov.br/download/texto/bv000285 .pdf. Acesso em: 12 nov. 2021.
UFC-CE 2015 Assinale a alternativa em que o predi-
cado é nominal. No contexto do soneto, assinale a alternativa incorreta.
a) Eufico sem jeito. a) Os verbos “escancaro” e “miro” (1º estrofe) são
transitivos diretos.
b) Defendo o mal-estar.
b) Os verbos “rodopiando”, "rolam” e “caem” (1º es-
c) A convenção reencena-se.
trofe) são transitivos indiretos.
d) Os anos não acabam mais.
c) O verbo “abriste” (2º estrofe) é transitivo direto e
e) Amores terminam sozinhos.
indireto.
Leia o soneto de Olavo Bilac para responder à questão. d) Os verbos “chegaste” e “fugiste” (3º estrofe) são
transitivos indiretos.
Em uma tarde de outono
. FMPA-MG “Quando me procurar o desencanto, eu
Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas
direi, sereno e confiante, que a vida não foi de todo
Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.
inútil”
Outono... Rodopiando, as folhas amarelas
O sujeito de “procurar” é:
Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...
a) indeterminado
Por que, belo navio, ao clarão das estrelas, b) eu (elíptico)
Visitaste este mar inabitado e morto, c) o desencanto
Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas, d) me
Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto? e) inexistente
Greenpeace
DIGA SIM À VIDA DOS
POVOS INDÍGENAS.
ot
RR
O verbo “diga”, em suas duas ocorrências, é transitivo direto e indireto. A proposição é verdadeira ou falsa? Justifique
sua resposta.
UFSC “Resolveu sair, nunca, o trataram assim, havia ali muitas pessoas que não gostavam dele..”
Indique a soma das alternativas verdadeiras.
01 O sujeito do período “Resolveu sair” é indeterminado.
02 O sujeito do verbo “havia” é oculto.
04 O sujeito de “trataram” é indeterminado.
08 O sujeito de “gostavam” é simples.
16 A oração “havia ali muitas pessoas” não possui sujeito.
32 O sujeito de “havia” é muitas pessoas.
Soma:
No título da notícia, há a presença de agente da passiva. Identifique-o e, na sequência, transcreva a sentença na voz
ativa.
Considere os textos dos quatro jornais. Ocorre voz passiva “Aquela penalidade de Evaristo não foi marcada” (5º
a) nos três primeiros, apenas. parágrafo) Ao se transpor o trecho para a voz passiva
b) emtodos eles. sintética, a locução verbal sublinhada assume a se-
c) no segundo e no quarto, apenas. guinte forma:
d) apenas no quarto. a) marcou.
e) apenas no segundo. b) marcaria.
c) se marcou.
FMABC-SP 2022 Leia a crônica “Enquanto os minei-
d) seria marcada.
ros jogavam”, de Carlos Drummond de Andrade, para
e) se marcaria.
responder à questão.
Domingo, à tarde, na forma do antigo costume, eu ia Faap-SP “Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
ver os bichos do Parque Municipal (cansado de lidar com Ele que doira a noite e ilumina a cidade..”. O sujeito do
gente nos outros dias da semana), quando avistei grande verbo “irritar” é:
multidão parada na avenida Afonso Pena. Meu primeiro a) ironia
pensamento foi continuar no bonde; o segundo foi descer b) que (ironia)
e perguntar as causas da aglomeração. Desci, e soube que c) senso humano
toda aquela gente estava acompanhando, pelo telefone, o d) ele (senso humano)
jogo dos mineiros na capital do país. Onze mineiros batiam e) indeterminado
bola no Rio de Janeiro; dois mil mineiros escutavam, em
EEAR-SP 2022 Há sujeito simples em qual alternativa?
Belo Horizonte, o eco longínquo dessa bola e experimen- a) “Mais ao longe, numa volta da estrada, uma espe-
tavam uma patriótica emoção. Quando chegou a notícia rança havia”
da vitória dos nossos patrícios, depois de encerrado o ex- b) “Nenhuma pedra poderia haver no caminho da
pediente, isto é, depois de terminado o segundo tempo, felicidade”
vi, claramente visto, chapéus de palha que subiam para o c) “Nunca houve cometa igual, assim tão terrível,
ar e não voltavam, adjetivos que se chocavam no espaço
desdenhoso e belo.”
com explosões inglesas de entusiasmo, botões que se des- d) “No lombo do cavalo baio, havia partido minha es-
prendiam dos paletós, lenços que palpitavam como asas, perança de felicidade.
enquanto gargantas enrouqueciam e outras perdiam o dom
humano da palavra. Vi tudo isso e tive, não sei se inveja, Observe:
se admiração ou se espanto pelos valentes chutadores de
Minas, que surraram por 4 a 3 os bravos futebolistas flu-
minenses. Não posso atinar bem como uma bola, jogada
à distância, alcance tanta repercussão no centro de Minas.
PESSOAS IDOSAS
Que um indivíduo se eletrize diante da bola e do jogador, a RADAR:
SEREM ATROPELADAS.
quando este joga bem, é coisa de fácil compreensão. Mas
contemplar, pelo fio, a parábola que a esfera de couro traça
DIR A
no ar, o golpe do center-half investindo contra o zagueiro,
a pegada soberba deste, e extasiar-se diante desses feitos,
eis o que excede de muito a minha imaginação. Para mim,
o melhor jogador do mundo, chutando fora do meu campo Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA; CONSELHO MUNICIPAL
DOS DIREITOS DA PESSOA IDOSA (CMDPI); FUNDAÇÃO DE AÇÃO SOCIAL
de visão, deixa-me frio e silencioso. Os meus patrícios, (FAS). Disponível em: www.curitiba.pr.gov.br/noticias/campanha-alerta-para-a-
porém, rasgaram-se anteontem de gozo, imaginando os necessidade-de-protecao-aos-idosos/50159. Acesso em: 11 nov. 2021.
1
10. UEG-GO 2020 presente na mente adormecida como material corrente-
mente ativo. Até onde analisamos o material dos sonhos,
As fontes somáticas dos sonhos
vimo-lo como uma coletânea de resíduos psíquicos e tra-
Apesar de haver objeções em contrário, é forçoso ad- ços mnêmicos, à qual (em virtude da preferência mostrada
mitir que o papel desempenhado na causação dos sonhos por material recente e infantil) fomos levados a atribuir
pelas excitações sensoriais objetivas durante o sono per- uma qualidade até aqui indefinível de ser “correntemente
manece indiscutível. E se, por sua natureza e frequência, ativo”. Podemos por isso antever, sem grandes dificulda-
esses estímulos parecem insuficientes para explicar todas des, o que acontecerá se um material nosso, sob a forma
as imagens oníricas, somos incentivados a buscar outras de sensações, for acrescentado durante o sono a essas
fontes de sonhos análogas a eles em seu funcionamento. lembranças correntemente ativas. É também graças ao
Também a influência dos estímulos somáticos orgâni- fato de serem correntemente ativas que essas excitações
cos sobre a formação dos sonhos é quase universalmente sensoriais são importantes para o sonho; elas se unem ao
aceita hoje em dia; mas a questão das leis que regem a outro material psíquico correntemente ativo para fornecer
relação entre eles é respondida das mais diversas manei- aquilo que é usado para a construção do sonho. Em outras
ras, e muitas vezes por afirmações obscuras. Com base palavras, os estímulos que surgem durante o sono são os
na teoria da estimulação somática, a interpretação dos conhecidos “restos diurnos” psíquicos. Essa combinação
sonhos defronta-se assim com o problema especial de não precisa ocorrer; como já assinalei, há mais de uma
atribuir o conteúdo de um sonho aos estímulos orgânicos maneira de reagir a um estímulo somático durante o sono.
que o causaram; e, quando as normas de interpretação Quando ela efetivamente ocorre, isso significa que foi pos-
formuladas por algum pesquisador respeitado não são sível encontrar, para servir de conteúdo do sonho, um
aceitas, muitas vezes nos vemos diante do fato descon- material de representações de tal ordem que é capaz de
certante de que a única coisa que revela a existência do representar ambos os tipos de fontes do sonho: a somática
estímulo orgânico é precisamente o conteúdo do próprio e a psíquica.
sonho. [...] A natureza essencial do sonho não é alterada pelo
Durante toda a discussão da teoria das fontes somáti- fato de se acrescentar material somático a suas fontes
cas dos sonhos que apresentei anteriormente, abstive-me psíquicas: o sonho continua a ser a realização de um
de usar o argumento baseado em minha análise dos desejo, não importa de que maneira a expressão dessa
sonhos. Se ele puder ser confirmado, através de um pro- realização de desejo seja determinada pelo material cor-
cedimento não empregado por outros autores em seu rentemente ativo.
material onírico, que os sonhos possuem um valor pró- FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. 20. ed. Rio de Janeiro:
prio como atos psíquicos, o de que os desejos são o Nova Fronteira, 2018. p. 50; 215-216 (Adaptado).
motivo de sua concentração e que as experiências do dia Se o período “Apesar de haver objeções em contrário,
anterior fornecem o material imediato para seu conteú- é forçoso admitir que o papel desempenhado na
do, qualquer outra teoria dos sonhos que despreze um causação dos sonhos pelas excitações sensoriais ob-
procedimento de pesquisa tão importante e que, por con- jetivas durante o sono permanece indiscutível” (linhas
seguinte, considere os sonhos como uma reação psíquica 1-4) for transformado sintaticamente em uma constru-
inútil e enigmática a estímulos somáticos estará conde- ção adversativa, o resultado será o seguinte:
nada, sem necessidade maior de críticas específicas. a) É forçoso admitir que o papel desempenhado na
De outra forma — e isso parece bastante improvável — causação dos sonhos pelas excitações sensoriais
teria de haver duas espécies bem diferentes de sonhos, objetivas durante o sono permanece indiscutível,
um das quais só eu pude observar, e outra que só pôde mas há objeções em contrário.
ser percebida pelos autores mais antigos. Resta apenas, b) É forçoso admitir que o papel desempenhado na
portanto, encontrar em minha teoria dos sonhos um lugar causação dos sonhos pelas excitações sensoriais
para os fatos em que se baseia a atual teoria da estimu- objetivas durante o sono permanece indiscutível,
lação somática dos sonhos. embora haja objeções em contrário.
Já demos o primeiro passo nessa direção ao propor c) Porquanto haja objeções em contrário, é forçoso
a tese de que o trabalho do sonho está sujeito à exigên- admitir que o papel desempenhado na causação
cia de combinar em uma unidade os estímulos ao sonhar dos sonhos pelas excitações sensoriais objetivas
que estiverem simultaneamente em ação. Verificamos que, durante o sono permanece indiscutível.
quando duas ou mais experiências capazes de criar uma d) Para que haja objeções em contrário, é forçoso
impressão são deixadas pelo dia anterior, os desejos delas admitir que o papel desempenhado na causação
derivados se combinam num único sonho, e, de modo dos sonhos pelas excitações sensoriais objetivas
similar, que a impressão psiquicamente significativa e as durante o sono permanece indiscutível.
experiências irrelevantes da véspera são reunidas no ma- e) Tendo em vista que há objeções em contrário, é
terial onírico, sempre desde que seja possível estabelecer forçoso admitir que o papel desempenhado na
entre elas representações comunicantes. Assim, o sonho causação dos sonhos pelas excitações sensoriais
parece ser uma reação a tudo o que está simultaneamente objetivas durante o sono permanece indiscutível.
Pes,
b) o predicado é verbal em três das orações.
c) duas das orações possuem verbo intransitivo. Pá, pá, pá
d) em apenas duas delas o sujeito está posposto. A americana estava há pouco tempo no Brasil. Queria
e) todas possuem sujeito simples e determinado. aprender o português depressa, por isto prestava muita
atenção em tudo que os outros diziam. [...]
15. UFC-CE 2016 Sobre a ordem dos nomes em: “uma
Achava curioso, por exemplo, o “pois é”. Volta e meia,
jovem e um velho, manhã e crepúsculo, primavera e
5 quando falava com brasileiros, ouvia o “pois é”.Am
Era uma
outono” (linhas 37-38), é correto afirmar que:
maneira tipicamente brasileira de não ficar quieto e ao
a) tem relação direta com a referência nominal.
mesmo tempo não dizer nada. Quando não sabia o que
b) é rigidamente determinada pela sintaxe da frase.
dizer, ou sabia mas tinha preguiça, o brasileiro dizia “pois
c) evita aproximação de sons desagradáveis ao ouvido.
é”. Ela não aguentava mais o “pois é”.
d) constitui recurso estilístico de gradação decres-
10 [...] Mas o que ela não entendia mesmo era o “pá,
cente.
pá, pá”.am
e) poderia ser alterada livremente sem prejuízo sig-
— Qual o significado exato de “pá, pá, pá”?
nificativo.
[...] — Onde foi que você ouviu isso?
15. UFC-CE 2016 A forma verbal destacada em “Minha — É a coisa que eu mais ouço. Quando brasileiro
imaginação fantasiava as terras por onde andavam 15 começa a contar história, sempre entra o “pá, pá, pá”.
aqueles corpos assentados” (linhas 9-11) está na ter- Como que para ilustrar nossa conversa, chegou-se a
ceira pessoal do plural, porque: nós, providencialmente, outro brasileiro. E um brasileiro
a) é verbo intransitivo e impessoal. com história:
b) o núcleo do sujeito é “corpos” (linha 11). — Eu estava ali agora mesmo, tomando um cafezinho,
c) o sujeito composto está posposto ao verbo. 20 quando chega o Túlio. Conversa vai, conversa vem e coisa
d) refere-se genericamente a “almas” (linha 9). etale pá, pá, pá...
e) o antecedente “terras” (linha 10) está no plural. Eu e a americana nos entreolhamos.
— Funciona como reticências — sugeri eu. — Signi-
17. UFC-CE 2016 Assinale a alternativa cujo período con-
fica, na verdade, três pontinhos. “Ponto, ponto, ponto.”
tém uma oração adverbial temporal.
25 — Mas por que “pá” e não “pó”? Ou “pi” ou “pu”?
a) “E assim eu ia, passando rostos como se fossem
páginas de um livro” (linhas 11-12). Ou “etcetera”?
b) “Mas de repente minha leitura foi interrompida” Me controlei para não dizer — “E o problema dos
(linha 13). negros nos Estados Unidos?”.
c) “Ao passar de um rosto para outro, meus olhos se Ela continuou:
encontraram com olhos...” (linhas 13-15). 30 — E por que tem que ser três vezes?
d) “Simplesmente levantou-se e ofereceu o seu lu- — Por causa do ritmo. “Pá, pá, pá.” Só “pá, pá” não dá.
gar” (linhas 24-25). — E por que “pá”?
e) “E a bolha mágica de felicidade em que eu me — Porque sei lá — disse, didaticamente.
encontrava estourou” (linhas 25-26). O outro continuava sua história. História de brasileiro
35 não se interrompe facilmente.
15. UFC-CE 2016 Assinale a alternativa em que o termo
— E aí o Túlio veio com uma lengalenga que vou te
sublinhado exerce função de núcleo do sujeito.
contar. Porque pá, pá, pá...
a) Não havia lugares. (linhas 1-2).
— É uma expressão utilitária — intervi. — Substitui
b) como se fossem páginas de um livro. (linhas 11-12).
várias palavras por apenas três. [...] São palavras que...
c) Não disse coisa alguma. (linha 23).
40 — Mas não são palavras. São só barulhos. “Pá, pá, pá.”
d) que minha fantasia pintara (linha 35).
— Pois é — disse eu.
e) começou o meu “caso de amor” com a velhice
VERISSIMO, Luis Fernando. Comédias da vida privada: 101 crônicas
(linhas 39-40). escolhidas. 15. ed. Porto Alegre: L&PM, 1995, p. 199-201.
1
w
3. FCMMG 2022 Lê-se, na segunda parte do texto, a - Augusto Cury, professor e escritor brasileiro, é autor de
frase: “Era conhecida como a menina que corria” So- dezenas de livros, os quais venderam 25 milhões
bre o emprego do tempo verbal destacado na frase, é de cópias apenas no Brasil, além de serem publicados
CORRETO afirmar que o verbo está no pretérito: em mais de 70 países. Observe o título a seguir:
a) perfeito do indicativo para que a ideia de perfei-
ção e de vitória prevaleça, demonstrando que a
Reprodução
capacidade física é uma característica da menina.
— AvGusTO CUR
“4
b) mais que perfeito do indicativo para que a ideia de
um acontecimento incerto no passado prevaleça,
sugerindo que a menina já não é como antes.
c) imperfeito do subjuntivo para que a ideia de dese-
jo e de acontecimento prevaleça, indicando que
essa ação é o que todos querem para a menina.
d) imperfeito do indicativo para que a ideia de con- O 3
tinuidade e de duração no tempo prevaleça,
sugerindo que essa é uma ação que caracteriza DATAS]
a menina.
ace Tt
transitivo direto.
c) verbo de ligação — verbo transitivo indireto — ver-
METRÔ E BUSÃO LOTADOS? bo transitivo direto.
REDOBRE OS CUIDADOS! d) verbo transitivo direto — verbo transitivo direto —
verbo transitivo indireto.
o ajudar. c)
d)
predicativo do sujeito.
sujeito.
Súcrates e) complemento nominal.
[o
B
limitações pela pandemia; e nesse ano, respeitando todos os Daqui estou vendo o amor
protocolos de biossegurança e demonstrando que a UEPG
Irritado, desapontado
nunca parou de trabalhar”. A diretora do Setor de Ciências
(Carlos Drummond de Andrade)
Biológicas e da Saúde, professora Fabiana Mansani, para-
benizou a organização do evento por manter a tradição de Identifique a alternativa que traz, respectivamente,
pioneirismo dos Jogos da Primavera. Ela apontou ainda a a classe gramatical e a função sintática das palavras
importância dos Jeps para levar a UEPG além de seus muros. destacadas:
“Esse evento oportuniza a interrelação entre os estudantes, a) verbo — objeto direto.
em um movimento de aproximação e de troca”, enalteceu.
b) adjetivo — predicativo.
Adaptado de: JASPER, Aline. Com modalidades inéditas, UEPG realiza a
c) verbo — predicativo.
66º edição dos Jogos da Primavera. Disponível em: https://www.uepg.br/
iniciojeps-2021/. Acesso em: 25/09/21. d) advérbio — objeto direto.
e) substantivo — predicativo.
A respeito do texto de Aline Jasper, assinale o que
for correto. - FMU-SP Em: “Eu era enfim, senhores, uma graça de
01 Na oração “iniciaram-se as competições da 66º alienado”, os termos em destaque são, respectivamente:
edição dos Jogos da Primavera”, a partícula “-se” a) adjunto adnominal, vocativo, predicativo do sujeito.
serve para indicar que o sujeito que rege o verbo b) adjunto adverbial, aposto, predicativo do objeto.
“iniciaram” não pode ser determinado. c) adjunto adverbial, vocativo, predicativo do sujeito.
02 Na frase “As competições acontecem até 03 de d) adjunto adverbial, vocativo, objeto direto.
outubro”, o termo “atéé” serve para estabelecer um e) adjunto adnominal, aposto, predicativo do objeto.
limite temporal para a ação.
04 Na sentença “os Jeps são os jogos estudantis . FCE-SP A recordação da cena persegue-me até hoje.
o
mais antigos do Brasil”, a palavra destacada pode Os termos em destaque são, respectivamente:
ser substituída pelo vocábulo “discentes” sem a) objeto indireto, objeto indireto.
prejuízo para o correto entendimento da frase. b) complemento nominal, objeto direto.
o8 Na oração “participam atletas de nove cidades e c) complemento nominal, objeto indireto.
59 instituições de ensino” não existe um sujeito d) objeto indireto, objeto direto.
que rege o verbo “participam”. e) nda.
16 No período “As competições acontecem até 03
. PUC-SP Dê a função sintática do termo destacado
to
2
tw
2 Leia o soneto “Não comerei da alface a verde pétala”, Vivem pros seus maridos
de
de Vinicius de Moraes, para responder à questão 51. Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Não comerei da alface a verde pétala
Se banham com leite, se
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Arrumam
Deixarei as pastagens às manadas
Suas melenas
E a quem mais aprouver fazer dieta.
Quando fustigadas não choram
Cajus hei de chupar, mangas-espadas Se ajoelham, pedem, imploram
Talvez pouco elegantes para um poeta Mais duras penas; cadenas
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta Mirem-se no exemplo
Que acredita no cromo das saladas. Daquelas mulheres de Atenas
Não nasci ruminante como os bois Sofrem pros seus maridos
Nem como os coelhos, roedor; nasci Poder e Força de Atenas [...]
Omnívoro; deem-me feijão com arroz Elas não têm gosto ou vontade
E um bife, e um queijo forte, e parati Nem defeito, nem qualidade
E eu morrerei, feliz, do coração Têm medo apenas
De ter vivido sem comer em vão. Não têm sonhos, só têm
(Vinicius de Moraes. Livro de sonetos, 2009.)
Presságios
O seu homem, mares,
Objeto direto enfático: Por ênfase ou realce, é lícito Naufrágios
repetir o objeto direto por meio de um pronome oblíquo. Lindas sirenas, morenas
(Domingos Paschoal Cegalla. Dicionário de dificuldades da língua Mirem-se no exemplo
portuguesa, 2009. Adaptado.)
Daquelas mulheres de Atenas
1. FCMSCSP Ocorre objeto direto enfático no seguinte Temem por seus maridos
verso: Heróis e amantes de Atenas
a) “Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta” (2º estrofe) As jovens viúvas marcadas
b) “E a quem mais aprouver fazer dieta.” (1º estrofe) E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
c) “Cajus hei de chupar, mangas-espadas” (2º estrofe)
Vestem-se de negro, se
d) “Não comerei da alface a verde pétala” (1º estrofe)
Encolhem
e) “Omnívoro; deem-me feijão com arroz” (3º estrofe)
Se conformam e se recolhem
- UEL-PR Ainda que surgissem poucos recursos para Às suas novenas, serenas
UI
MN
o projeto, todos mostravam-se satisfeitos com a boa (HOLANDA, Chico Buarque de. Meus caros amigos. LP, 1976.
Phonogram/Philips)
vontade do chefe.
As palavras destacadas no período anterior exercem, Em relação à composição linguística do texto, é
respectivamente, a função sintática de: INCORRETO afirmar que
a) objeto indireto —- complemento nominal. a) asformas verbais “mirem” (v. 1), “vivem” (v. 3), “sofrem”
b) sujeito — objeto indireto. (v. 14) e “têm” (y. 16) estão conjugadas no mesmo
modo e tempo, além de possuírem o mesmo sujeito.
c) objeto direto — adjunto adnominal.
b) levando em consideração o contexto, é possível
d) objeto direto — objeto indireto.
considerar o sentido da palavra “fustigadas” (v. 09)
e) sujeito — adjunto adnominal.
como castigadas.
3. AFA-SP 2021 Leia o texto para responder à questão. c) em “vivem pros seus maridos” (v. 3), o termo su-
blinhado é classificado pela gramática normativa
Mulheres de Atenas como adjunto adverbial.
Mirem-se no exemplo d) na última estrofe, em todas as ocorrências, o vocá-
Daquelas mulheres de Atenas bulo “se” é classificado como pronome reflexivo.
EO CTTTA E]
Quem testa positivo foi contaminado por estrangeirismo?
As expressões “testar positivo” e “testar negativo”, como nas manchetes “Boris Johnson testa positivo para coronavírus” ou “Bolsonaro anuncia
que testou negativo para coronavírus”, vêm despertando certa curiosidade. Especialistas como Marcos Bagno, por exemplo, têm produzido reflexões
para explicar o que parece ser o surgimento de uma nova sintaxe no português brasileiro.
Tradição e inovação
Aos que questionam tratar-se ou não de bom português, afirmando que “testar” é verbo transitivo direto, recordamos que tradicionalmente esse
verbo apenas aparecia nos dicionários nos sentidos jurídicos de “legar em testamento” e de “dar testemunho”. O substantivo cognato “teste” resistia
como latinismo, significando “testemunha”, ademais “obsoleto” para Cândido de Figueiredo, já em 1899.
Apenas decênios depois, “teste” foi incorporado ao léxico no sentido de “exame”, provindo do inglês test, como avisa Laudelino Freire, em 1954.
Mais ou menos ao mesmo tempo, em 1961, outro grande dicionarista, Antenor Nascentes, admitiu “testar” no sentido de “submeter a teste”. É, portanto,
fenômeno razoavelmente recente em português usar o verbo “testar” como transitivo, cujo objeto designa a coisa ou a pessoa submetida a teste.
[..)
24 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 6 = Sintaxe do período simples |
Decalque do inglês
Que se trate de decalque do inglês, isto é, tradução literal daquela língua, é ponto pacífico. Tal construção frequentemente figura, nos anos 2000,
em reportagens obtidas junto a agências internacionais ou na tradução de declarações de língua inglesa.
Em geral, como no inglês he tested positive for coronavirus, figuram, também em português, sujeito, verbo e dois complementos, um indicando
o resultado do teste (positivo ou negativo) e o outro, com a preposição “para” (como o for em inglês), delimitando o escopo do teste: “ele testou
negativo para coronavírus”. Ambos os complementos podem, contudo, não comparecer.
[.]
Gramática emergente
Mas a criatividade linguística continua a todo vapor, e alguns falantes vêm flexionando “positivo” e “negativo” de forma que não ocorreria com
um advérbio. Uma busca simples no Google produz 4.320 resultados “testaram positivos” e 888 “testaram positivas”, pouco diante dos 352 mil “tes-
taram positivo”, mas sem dúvida números expressivos: “cinco imigrantes que testaram positivos para o novo coronavírus”, “[ulm total de 153 mulheres
(13,1%) testaram positivas para C. trachomatis”. Nesses casos, os usuários trataram “positivos” e “positivas” como adjetivos que exercem a função de
predicativos do sujeito.
O que dizer de interessantíssimo caso com duas frases sucessivas no mesmo enunciado, em franca variação? Veja-se: “Com o desenrolar da
pandemia, porém, sugiram relatos isolados de quatro cães e um gato na China e outro felino na Bélgica que testaram positivos para o Sars-CoV-2.
Todos tiveram contato com o vírus de tutores que também testaram positivo”.
Exemplos dessa ordem mostram que os usuários estão a todo momento processando o idioma, como bem aponta o linguista Paul Hopper, com a
noção de emergent grammar, pois ela capta o caráter fluido da estrutura da língua, sempre adiada, sempre negociável na interação real. A gramática é
vista assim como um fenômeno social. É assim que, em nosso caso, os usuários ora empregam formas flexionadas ao lado de formas não flexionadas,
ora buscam equivalências e vão eles mesmo testando os limites da língua que falam.
Desse modo, se há cem anos, um médico não poderia “testar um paciente”, mas apenas examiná-lo, se há 50 anos, um sujeito não podia “testar
para o novo vírus”, mas apenas ser testado, é perfeitamente possível que esses “novos” usos frutifiquem, como resultado do incessante tectonismo
da língua.
AUBERT, Eduardo Henrik. Quem testa positivo foi contaminado por estrangeirismo? Jornal da USP, 8 maio 2020. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/
quem-testa-positivo-foi-contaminado-por-estrangeirismo/. Acesso em: 29 out 2021.
2
Em relação à transitividade verbal, os verbos podem 6. Agente da passiva e adjunto adverbial
ser: transitivos diretos (VT.D.), transitivos indiretos (VT.I.), Assim como os complementos verbais, o agente da pas-
transitivos diretos e indiretos (V.T.D.I.) ou intransitivos (V.l.). siva e o adjunto adverbial são termos associados ao verbo.
e Verbo transitivo direto: necessita de um complemento
verbal direto (sem preposição). Ex.: Nossos amigos or- 6.1 Agente da passiva
ganizaram uma festa. Termo que, na oração em voz passiva analítica, designa
e Verbo transitivo indireto: necessita de um comple- o agente da ação verbal. Introduzida pela preposição “por”
mento verbal indireto (com preposição). Ex.: Nossos ou “de” (e derivados), o agente da passiva está sempre
amigos gostaram da festa. ligado ao verbo. Quando uma oração apresenta um verbo
construído com o objeto direto (voz ativa, sujeito agente),
« Verbo transitivo direto e indireto: necessita de comple-
mentos de forma direta e indireta ao mesmo tempo. Ex.: ela pode assumir a forma passiva; havendo a passiva ana-
Nossos amigos deram uma festa aos aniversariantes. lítica, pode-se ter agente da passiva. Ex.:
Filme
Sujeito oculto: na rota do Grande Sertão. Direção: Silvio Tendler. 2013.
O documentário é uma jornada pelo norte de Minas Gerais — região por onde, em 1952, o escritor Guimarães Rosa seguiu
a notável boiada de 300 cabeças de gado. Esse documentário resgata diversos elementos da cultura do Sertão.
Livro
Sujeito oculto: leitura e apropriação, de Cristiane Costa. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2014.
Com parte do livro construída com citações de Clarice Lispector, Machado de Assis, Flaubert, horóscopos de jornais, entre outros,
a história mexe com o leitor e o leva a refletir sobre autenticidade, originalidade e o processo de criação autoral.
Música
“Sintaxe à vontade”, O Teatro Mágico. Disponível em: www.letras.mus.br/o-teatro-magico/361401/. Acesso em: 8 nov. 2022.
Nessa canção, o eu poético discorre sobre a liberdade do sujeito, usando vários conceitos discutidos neste capítulo.
DCI
fa a DA TA ET
2
a]
10. transplantes: uniam a metade superior de um homem à
metade inferior de uma mulher, ou aos quartos traseiros
DINHO, VOCÊ ViU A de um bode. Felizmente morriam essas atrozes quimeras;
BLUSA QUE O BETO 10 expiravam como seres humanos, não eram obrigadas a
ESTÁ USANDO? viver como aberrações. (A essa altura eu tinha os olhos
/ cheios de lágrimas. Meu pai pensava que a descrição das
Vi maldades nazistas me deixava comovido.)
SiM! Em 1948 foi proclamado o Estado de Israel. Meu pai
a
15 abriu uma garrafa de vinho — o melhor vinho do armazém —,
brindamos ao acontecimento. E não saíamos de perto
do rádio, acompanhando as notícias da guerra no Oriente
Médio. Meu pai estava entusiasmado com o novo Estado:
em Israel, explicava, vivem judeus de todo o mundo, ju
20 deus brancos da Europa, judeus pretos da África, judeus
TEM COISA Mais da Índia, isto sem falar nos beduínos com seus camelos:
RIDÍCULA QUE tipos muito esquisitos, Guedali.
AQUILO? Tipos esquisitos — aquilo me dava ideias.
/ TEM Por que não ir para Israel? Num país de gente tão es
SiM! 25 tranha — e, ainda por cima, em guerra — eu certamente não
x chamaria a atenção. Ainda menos como combatente, entre
a poeira e a fumaça dos incêndios. Eu me via correndo pe-
las ruelas de uma aldeia, empunhando um revólver trinta e
oito, atirando sem cessar; eu me via caindo, varado de balas.
30 Aquela, sim, era a morte que eu almejava, morte heroica,
esplêndida justificativa para uma vida miserável, de monstro
encurralado. E, caso não morresse, poderia viver depois num
A MANIA QUE ALGUNS
kibutz. Eu, que conhecia tão bem a vida numa fazenda, te-
T?
TEM DE ZOAR DOS
ria muito a fazer ali. Trabalhador dedicado, os membros do
OUTROS!
35 kibutz terminariam por me aceitar; numa nova sociedade há
lugar para todos, mesmo os de patas de cavalo.
Adaptado de: SCLIAR, M. O centauro no jardim. 9. ed.
Porto Alegre: L&PM, 2001.
2
to
Sobre a estrutura frasal “o Brasil possui a terceira pior o menor senso de humor. Certa vez ficou mesmo de
taxa de computador por aluno” é correto afirmar que: relações estremecidas com meu pai, por causa de uma
a) É uma oração que apresenta sujeito simples. brincadeira. “Seu” Veiga ia passando pela nossa porta, le-
b) É uma oração que apresenta sujeito oculto. vando a família para o banho de mar. lam todos armados
c) É uma oração que apresenta sujeito indeterminado. de barracas de praia, toalhas etc. Papai estava na janela
d) É uma oração que apresenta sujeito composto. e, ao saudá-lo, fez a graça:
e) Nenhuma das alternativas. — Vai levar a biblioteca para o banho? “Seu” Veiga
ficou queimado durante muito tempo.
15. FADBA 2013 Dona Odete — por alcunha “A Estante” — mãe dos
meninos, sofria o desgosto de ter tantos filhos homens e
História de um nome não ter uma menina “para me fazer companhia” — como
No capítulo dos nomes difíceis têm acontecido coisas costumava dizer. Acreditava, inclusive, que aquilo era
das mais pitorescas. Ou é um camarada chamado Mimoso, castigo de Deus, por causa da ideia do marido de botar
que tem físico de mastodonte, ou é um sujeito fraquinho aqueles nomes nos garotos. Por isso, fez uma promessa:
e insignificante chamado Hércules. Os nomes difíceis, se ainda tivesse uma menina, havia de chamá-la Maria.
principalmente os nomes tirados de adjetivos condizen- As esperanças já estavam quase perdidas. Epílogozinho
tes com seus portadores, são raríssimos, e é por isso que já tinha oito anos, quando a vontade de Dona Odete
minha avó a paterna — dizia: tornou-se uma bela realidade, pesando cinco quilos e
— Gente honesta, se for homem deve ser José, se for mamando uma enormidade. Os vizinhos comentaram que
mulher, deve ser Maria! “Seu” Veiga não gostou, ainda que se conformasse, com
É verdade que Vovó não tinha nada contra os joões, a vinda de mais um herdeiro, só porque já lhe faltavam
paulos, mários, odetes e — vá lá — fidélis. A sua implicân- palavras relacionadas a livros para denominar a criança.
cia era, sobretudo, com nomes inventados, comemorativos Só meses depois, na hora do batizado, o pai foi in-
de um acontecimento qualquer, como era o caso, muito formado da antiga promessa. Ficou furioso com a mulher,
citado por ela, de uma tal Dona Holofotina, batizada no esbravejou, bufou, mas — bom católico — acabou con-
dia em que inauguraram a luz elétrica na rua em que a cordando em parte. E assim, em vez de receber somente
família morava. o nome suave de Maria, a garotinha foi registrada, no
Acrescente-se também que Vovó não mantinha re- livro da paróquia, após a cerimônia batismal, como Errata
lações com pessoas de nomes tirados metade da mãe e Maria da Veiga.
metade do pai. Jamais perdoou a um velho amigo seu — o Estava cumprida a promessa de Dona Odete, estava
“Seu” Wagner — porque se casara com uma senhora cha- de pé a mania de “Seu” Veiga.
mada Emília, muito respeitável, aliás, mas que tivera o mau (disponível em http:/Avww.releituras.com/spontepreta
nome.asp
acesso em 30/08/2012).
gosto de convencer o marido de batizar o primeiro filho
com o nome leguminoso de Wagem — “wag” de Wagner Em: “É verdade que a vagem comum, crua ou enso-
e “em” de Emília. É verdade que a vagem comum, crua pada, será sempre com 'v, enquanto o filho de 'Seu'
ou ensopada, será sempre com “v”, enquanto o filho de Wagner herdara o 'w' do pai”, o sujeito da forma verbal
“Seu” Wagner herdara o “w” do pai. Mas isso não tinha “É” pode ser classificado como:
nenhuma importância: a consoante não era um detalhe a) Sujeito simples.
bastante forte para impedir o risinho gozador de todos b) Sujeito composto.
aqueles que eram apresentados ao menino Wagem. c) Sujeito oculto.
Mas deixemos de lado as birras de minha avó — ve- d) Sujeito indeterminado.
lhinha que Deus tenha, em Sua santa glória — e passemos e) Sujeito oracional.
ao estranho caso da família Veiga, que morava pertinho
de nossa casa, em tempos idos. 16. UFRN 2013 A questão refere-se ao fragmento de
“Seu” Veiga, amante de boa leitura e cuja cachaça era Capitães de Areia reproduzido a seguir.
colecionar livros, embora colecionasse também filhos, tal-
vez com a mesma paixão, levou sua mania ao extremo de O Trapiche
batizar os rebentos com nomes que tivessem relação com SOB A LUA, NUM VELHO TRAPICHE ABANDONADO,
livros. Assim, o mais velho chamou-se Prefácio da Veiga; as crianças dormem.
o segundo, Prólogo; o terceiro, Índice e, sucessivamente, Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pe-
foram nascendo o Tomo, o Capítulo e, por fim, Epílogo da dras dos alicerces do trapiche as ondas ora se rebentavam
Veiga, caçula do casal. fragorosas, ora vinham se bater mansamente. A água passa-
Lembro-me bem dos filhos de “Seu” Veiga, todos va por baixo da ponte sob a qual muitas crianças repousam
excelentes rapazes, principalmente o Capítulo, sujeito agora, iluminadas por uma réstia amarela de lua. Desta
prendado na confecção de balões e papagaios. Até hoje ponte saíram inúmeros veleiros carregados, alguns eram
(é verdade que não me tenho dedicado muito na bus- enormes e pintados de estranhas cores, para a aventura das
ca) não encontrei ninguém que fizesse um papagaio tão travessias marítimas. Aqui vinham encher os porões e atra-
bem quanto Capítulo. Nem balões. Tomo era um bom cavam nesta ponte de tábuas, hoje comidas. Antigamente
extrema-direita e Prefácio pegou o vício do pai — vivia diante do trapiche se estendia o mistério do mar oceano, as
comprando livros. Era, aliás, o filho querido de “Seu” noites diante dele eram de um verde escuro, quase negras,
Veiga, pai extremoso, que não admitia piadas. Não tinha daquela cor misteriosa que é a cor do mar à noite.
horas depois, eu estava prestes a roer o aparelho. O manual Qual tipo de predicado pode ser encontrado em cada
tentava prever todas as possibilidades. Virou um labirinto um dos títulos?
de instruções!
22. UFRRJ O preto Henrique tomou o caneco das mãos da
CARRASCO, Walcyr. O labirinto dos manuais. Veja São Paulo,
18 set. 2009. Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/ preta velha e bebeu dois tragos.
cidades/o-labirinto-dos-manuais/. Acesso em: 12 nov. 2021.
— Ainda tá quente, meu filho? É o restinho...
|. Há alguns meses troquei meu celular. — Tá, tia. Bota mais.
H. Abri o manual, entusiasmado. Quando acabou, disse:
HI. O manual tentava prever todas as possibilidades. — Você lembra dessas histórias que você sabe, minha tia?
IV. [...] recebia e-mails, [...] — Que histórias?
O texto é praticamente todo composto por diálogos, sem b) Andei pensando sobre a tristeza > estado per-
verbos de elocucação — aqueles que indicam quem está manente.
falando. O recurso gramatical utilizado pelo autor, em MARLON, Tony. ECOA Uol, 8 jun. 2021.
substituição aos verbos de elocução, para que o leitor
c) Veja como estão as ruas de São Paulo no 1º dia
possa identificar quem está com a palavra, foram:
da fase emergencial > continuidade de estado.
a) os períodos curtos.
b) ostravessões. FERRARI, Murillo. CNN Brasil, 15 mar. 2021.
3
w
26. Leia o trecho. Com base nos trechos e na leitura do romance, consi-
E assim iniciamos um novo capítulo da pandemia. dere as afirmativas a seguir.
Meus filhos hoje não são as mesmas crianças do início da Il. O uso da primeira pessoa explica-se por se tratar
pandemia. Houve inúmeros aprendizados, e encontraram de uma fala do narrador-personagem dirigida à
pouco a pouco suas próprias vozes. O que fica? A resiliên- outra personagem da história.
Il. A referência à intransitividade deliberada do ver-
cia. Crianças que escutam, leem, questionam e produzem
bo “ter” no trecho corresponde tanto a um uso
suas próprias conclusões sobre a gestão (ou quase sempre
peculiar da linguagem em outras passagens do
a falta de enfrentamento) desta pandemia. Crianças que
livro quanto à insignificância da protagonista.
cantam, tocam músicas, dançam. Crianças, já não mais
HI. O fato de haver referência à personagem como “a
tão inocentes, que são testemunhas.
moça” deve-se ao recurso de retardar o momento
BARBERIA, Lorena. A próxima aula. Jornal da USP, 5 mar. 2021. Disponível
em: https://jornal.usp.br/artigos/a-proxima-aula/. Acesso em: 3 nov. 2021. de informar seu nome, o que ocorre apenas quan-
do ela encontra Olímpico.
Quanto à predicação dos verbos destacados, pode-
IV. O “trigo puramente maduro” constitui uma ima-
-Se afirmar que
gem de esplendor que se caracteriza como o
a) “houve” e “encontraram” são verbos transitivos
contrário do perfil da personagem da moça.
diretos.
b) “houve” é verbo transitivo direto e “encontraram” Assinale a alternativa correta.
é verbo transitivo direto e indireto. a) Somente as afirmativas le Il são corretas.
c) “houve” é verbo intransitivo e “encontraram” é b) Somente as afirmativas | e IV são corretas.
verbo transitivo direto. c) Somente as afirmativas Ill e IV são corretas.
d) “houve” e “encontraram” são verbos intransitivos. d) Somente as afirmativas |, Ile Ill são corretas.
e) Somente as afirmativas Il, Ill e IV são corretas.
27. Leia o trecho a seguir.
Há exatamente um ano, o cenário da epidemia ainda 29. Coloque 1 para a frase que apresenta um predicativo
não tinha sido classificado como pandemia e já preocu- do objeto e 2 para a que possui um adjunto adnominal.
pava todo o planeta. As informações existentes eram que O turista achou a linda praia.
a doença era provocada por um vírus que afetava as vias O turista achou linda a praia.
respiratórias provocando pneumonia. Até então, isso não A praia linda foi achada pelo turista.
seria novidade frente ao constante embate que já tivemos O turista achou-a linda.
em outras epidemias causadas por vírus, principalmente 30. Leia a tirinha.
pela influenza.
LOTUFO, Paulo. A epidemia é um fenômeno social com decisão
política. Jornal da USP, 5 mar. 2021. Disponível em: https://jornal.
usp.br/artigos/a-epidemia-e-um-fenomeno-social-com-decisao-
politica/. Acesso em: 3 nov. 2021.
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o verbo destacado no texto está empregado em “Parte do
mundo já imuniza grupos prioritários”. Justifique a afirmativa.
32. Leia os títulos de notícias a seguir e, depois, assinale a alternativa que não apresenta a análise correta do verbo.
a) Em “WhatsApp, Facebook e Instagram apresentam pane global”, título de uma reportagem do Gf, publicada em
4 de outubro de 2021, encontramos um verbo transitivo direto.
G1, 4 out. 2021.
b) Em “Bilionário romeno está entre as vítimas de queda avião na Itália”, título de uma reportagem do UOL, também
veiculada em 4 de outubro de 2021, temos um verbo de ligação.
UOL, 4 out. 2021.
c) Em “Plenário vota propostas que garantem mais proteção às mulheres”, título de uma reportagem em aúdio do
portal Senado Notícias, publicada na mesma data que os textos anteriores, temos um verbo transitivo indireto.
TEIXEIRA, Raquel. Agência Senado, 4 out. 2021.
d) Em “Média de mortes por Covid no Brasil diminui e chega a 329 neste sábado”, título de uma notícia do site
Metrópoles, publicada em 23 de outubro de 2021, encontramos um verbo transitivo direto.
MENESES, Celimar de. Metrópoles, 23 out. 2021.
33. IFPI 2016 Responda à questão, considerando o seguinte título de um artigo publicado na Folha de São Paulo on-line.
TENDÊNCIAS/DEBATES
PETRA COSTA
“Vocês têm tem que morrer, suas assassinas.” “Arranca os úteros, bando de
satânicas” “Ao invés de abortar, se mate” “Morre uma puta que fez um
o
aborto. eu vibro como se fosse um col do meu time” Esses foram alsuns dos uu
[=
z
uu
[03
o
Fonte: Folha de São Paulo UOL. Ano: 2015.
3
Nesse título, o verbo “passarão”, quanto à predicação, Em 1909 lançou importantes expedições científicas
pode ser classificado como: no interior do país, erradicando a febre amarela no Pará
a) Verbo de ligação. e realizando campanhas de saneamento da Amazônia.
b) Verbo intransitivo. CASTRO, Daniel S. de. Oswaldo Cruz. InfoEscola. Disponível em:www.
infoescola.com/biografias/oswaldo-cruz/. Acesso em: 12 nov. 2021.
c) Verbo transitivo direto.
d) Verbo transitivo indireto. Qual é a função sintática do termo “valor” em desta-
e) Verbo transitivo direto e indireto. que no texto?
34. UFMG Observe: 39. FMU-SP Assinale a alternativa que contenha, res-
1. Queria muito aquele brinquedo. pectivamente, um pronome pessoal do caso reto
Queria muito ao amigo. funcionando como sujeito e um pronome pessoal do
2. Dormi muito esta noite. caso oblíquo funcionando como objeto direto.
Dormi um sono agradável. a) Eu comecei a reforma da natureza por este pas-
sarinho.
A partir desses exemplos, explique a seguinte afir-
b) E mais uma vez me convenci da “tortura” destas
mativa: “A análise da transitividade verbal é feita de
coisas.
acordo com o texto e não isoladamente”.
c) Todos a ensinavam a respeitar a Natureza.
35. Observe o cartaz da campanha a seguir. Ela os ensina a fazer os ninhos nas árvores.
Ela não convencia a ninguém disso.
mass
Acervo do Ministério da Saúde
Des,
verbo pode estar empregado ora intransitivamente, ora
transitivamente, ora com objeto direto, ora com objeto responder à questão 51.
indireto. Dessa forma, indique a alternativa INCORRETA: Quase nada, no século XVII, escapava à astúcia dos que
a) Perdoai sempre. (verbo intransitivo) adulteravam alimentos. O açúcar e outros ingredientes caros
b) Perdoai as ofensas. (verbo transitivo direto) muitas vezes eram aumentados com gesso, areia e poeira.
c) Perdoais aos inimigos. (verbo transitivo indireto) A manteiga tinha o volume aumentado com sebo e
banha.
d) Por que sonhas, ó jovem poeta? (verbo transitivo
Quem tomasse chá, segundo autoridades da época,
direto) poderia ingerir, sem querer, uma série de coisas, des-
e) Sonhei um sonho guinholesco. (verbo transitivo de serragem até esterco de carneiro pulverizado. Um
direto) carregamento inspecionado, relata Judith Flanders, de-
monstrou conter apenas a metade de chá; o resto era
48. Leia o trecho a seguir. composto de areia e sujeira.
Acrescentava-se ácido sulfúrico ao vinagre para dar
Novas tecnologias mais acidez; giz ao leite; terebintina ao gim. O arsenito
Atualmente, prevalece na mídia um discurso de de cobre era usado para tornar os vegetais mais verdes, ou
exaltação das novas tecnologias, principalmente aquelas para fazer a geleia brilhar. O cromato de chumbo dava um
ligadas às atividades de telecomunicações. Expressões brilho dourado aos pães e também à mostarda. O acetato
frequentes como “o futuro já chegou”, “maravilhas tec- de chumbo era adicionado às bebidas como adoçante, e o
nológicas” e “conexão total com o mundo” “fetichizam” chumbo avermelhado deixava o queijo Gloucester, se não
novos produtos, transformando-os em objetos do desejo, mais seguro para comer, mais belo para olhar.
de consumo obrigatório. Não havia praticamente nenhum gênero que não pu-
[...] Por esse motivo carregamos hoje nos bolsos, bol- desse ser melhorado ou tornado mais econômico para o
sas e mochilas o “futuro” tão festejado [...]. varejista por meio de um pouquinho de manipulação e
Todavia, não podemos reduzir-nos a meras vítimas engodo. Até as cerejas, como relata Tobias Smollett, ga-
de um aparelho midiático perverso, ou de um aparelho nhavam novo brilho depois de roladas, delicadamente,
capitalista controlador. Há perversão, certamente, e con- na boca do vendedor antes de serem colocadas em expo-
sição. Quantas damas inocentes, perguntava ele, tinham
trole, sem sombra de dúvida. Entretanto, desenvolvemos
saboreado um prato de deliciosas cerejas que haviam sido
uma relação simbiótica de dependência mútua com os
“umedecidas e roladas entre os maxilares imundos e, tal-
veículos de comunicação, que se estreita a cada imagem
vez, ulcerados de um mascate de Saint Giles”?
compartilhada e a cada dossiê pessoal transformado em O pão era particularmente atingido. Em seu romance
objeto público de entretenimento. de 1771, The expedition of Humphry Clinker, Smollett
Não mais como aqueles acorrentados na caverna de definiu o pão de Londres como um composto tóxico de
Platão, somos livres para nos aprisionar, por espontânea “giz, alume e cinzas de ossos, insípido ao paladar e des-
vontade, a esta relação sadomasoquista com as estrutu- trutivo para a constituição”; mas acusações assim já eram
ras midiáticas, na qual tanto controlamos quanto somos comuns na época.
controlados. A primeira acusação formal já encontrada sobre a adulte-
SAMPAIO, André Silveira. A microfísica do espetáculo. ração generalizada do pão está em um livro chamado Poison
Observatório da Imprensa, 26 fev. 2013. Disponível em: detected: or frightful truths, escrito anonimamente em 1757,
http://observatoriodaimprensa.com.br. Acesso em: 1 mar. 2013 (adapt.).
que revelou segundo “uma autoridade altamente confiável”
Indique a classificação sintática das formas verbais em que “sacos de ossos velhos são usados por alguns padeiros,
destaque no texto quanto à sua transitividade. não infrequentemente”, e que “os ossuários dos mortos são
Disponível em: www.todamateria.com.br/ revolvidos para adicionar imundícies ao alimento dos vivos”.
exercicios-de-transitividade-verbal/ (Em casa, 2011. Adaptado.)
No parágrafo, extraído de uma notícia, qual é a função sintática do trecho “relatos de vítimas famosas e anônimas, de
amigos e parentes”?
a) objeto indireto.
b) objeto direto.
c) adjunto adverbial.
d) agente da passiva.
Brasileiro conta que descobriu maior cometa do sistema solar “por acaso”
O cosmólogo brasileiro Pedro Bernardinelli, de 27 anos, descobriu “por acaso” o maior cometa do sistema solar já
identificado, enquanto pesquisava objetos distantes que orbitam o Sol para sua tese de doutorado.
Tilt Uol, 14 out. 2021. Disponível em: www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2021/10/14/
brasileiro-conta-que-descobriu-maior-cometa-do-sistema-solar-por-acaso.htm. Acesso em: 29 out. 2021.
Qual é a classificação sintática da palavra “acaso”, que aparece no título e no trecho da notícia?
54. UnB-DF Nas frases a seguir, todos os predicativos pertencem ao sujeito, exceto em:
a) Narciso era apaixonado pela própria beleza.
b) O bairro parece despersonalizado com estas novas residências.
c) Só gosto de você alegre.
d) Nenhum amigo era mais sincero e carinhoso.
CeRReR caneca ane n ca nenere acena ca nennaarencanencanara rente nas COUTO RC RCA RCC RES R RR CERCA R IES R ERROR Ana an RC nO aaa an acena n a a encarar a ana ra ronca near ane nea nana ana na nen canas
E: Diva ... tem algumas ... alguma experiência pessoal que você passou e que você poderia me contar ... alguma coisa
que marcou você? Uma experiência ... você poderia contar agora...
|: É... tem uma que eu vivi quando eu estudava o terceiro ano científico lá no Atheneu...né... é:: eu gostava muito do
laboratório de química ... eu... eu ia ajudar os professores a limpar aquele material todo ... aqueles vidros ... eu achava
aquilo fantástico ... aquele monte de coisa ... né ... então ... todos os dias eu ia ... quando terminavam as aulas eu ajudava
o professor a limpar o laboratório ... nesse dia não houve aula e o professor me chamou pra fazer uma limpeza geral no
laboratório ... chegando lá ... ele me fez uma experiência ... ele me mostrou uma coisa bem interessante que ... pegou um
béquer com meio d'água e colocou um pouquinho de cloreto de sódio pastoso... então foi aquele fogaréu desfilando...
aquele fogaréu ... quando o professor saiu ... eu chamei umas duas colegas minhas pra mostrar a experiência que eu tinha
achado fantástico ... só que ... eu achei o seguinte ... se o professor colocou um pouquinho... foi aquele desfile... imagine se
eu colocasse mais ... peguei o mesmo béquer ... coloquei uma colher ... uma colher de cloreto de sódio ... foi um fogaréu
tão grande ... foi uma explosão ... quebrou todo o material que estava exposto em cima da mesa eu branca ... eu fiquei...
olha ... eu pensei que fosse morrer sabe ...quando ... o colégio inteiro correu pro laboratório pra ver o que tinha sido ...
CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade de Natal. Natal: EdUFRN, 1998.
39
Na transcrição de fala, especialmente, no trecho “eu branca ... eu fiquei... olha ... eu pensei que fosse morrer sabe ...”, há
uma estrutura sintática ffagmentada, embora facilmente interpretável. Sua presença na fala revela
a) distração e poucos anos de escolaridade.
b) falta de coesão e coerência na apresentação das ideias.
c) afeto e amizade entre os participantes da conversação.
d) desconhecimento das regras de sintaxe da norma-padrão.
e) característica do planejamento e execução simultânea desse discurso.
Enem 2013 Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas.
Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe que disseminou pela Europa, além do vírus propriamente dito, dois vocábulos
virais: o italiano influenza e o francês grippe. O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava
“influência dos astros sobre os homens”. O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se
que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado.
RODRIGUES. S. Sobre palavras. Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.
Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o leitor reconheça a ligação entre seus ele-
mentos. Nesse texto, a coesão é construída predominantemente pela retomada de um termo por outro e pelo uso da
elipse. O fragmento do texto em que há coesão por elipse do sujeito é:
a) “[..]a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas”
b) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe [...)”.
c) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava “influência dos astros sobre os homens'”
d) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper [...)”.
e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado.”
namulher |
machuca a família
inteira.
9 Ligue 180. So
ho se cale diante NULA
da vislência daméstica. CELTA)
Qual é o objetivo dessa publicidade? E qual é a função sintática de “machuca a família inteira”?
Ea o Adjunto adnominal
adnominal
Predicativos ” E
Meu favorito
(do sujeito Aposto
(pronome) (adjetivo)
e do objeto)
EEE cias
DMR mnama MIRA: Pan AS 2a memaM RaieS aque
Nos títulos dos filmes, “donzela” e “malvado”, núcleos dos sintagmas, são
acompanhados por adjuntos adnominais. O adjunto adnominal, no sintagma, pode aparecer em diferentes posições.
O termo ligado ao substantivo que tem a função de O adjunto adnominal (adj. adn.) modifica um núcleo
especificar e determinar o sentido do núcleo nominal é nominal (substantivo), independentemente de sua função
chamado adjunto adnominal. De maneira geral, os artigos, sintática: sujeito, objeto, adjunto adverbial etc.
adjetivos (ou locuções adjetivas), numerais e pronomes Para melhor compreender a função dos adjuntos ad-
desempenham essa função na sentença. nominais em um enunciado, observe o quadro a seguir.
CA ANWN
TC
A linda Edith comprou um livro interessante com dois amigos.
|
(núcleo) (núcleo)
|
(núcleo)
johavel/Shutterstock.com
LT.
Quem tem medo do lobo mau?
o
verbo complemento nominal
substantivo
Loo Ss
Em Química, um átomo é uma unidade básica de matéria
Complemento verbal (0.D.)
formada por um núcleo central (com prótons e nêutrons)
e por elementos que estão localizados fora dele (os elé-
O complemento nominal (CN) pode completar a ideia
trons). No estudo do sintagma nominal (SN), observamos
uma relação semelhante, já que o SN é formado por um de um adjetivo, de um advérbio ou de um substantivo abs-
núcleo nominal (substantivo), e a este se ligam outros trato, sendo sempre introduzido por uma preposição.
elementos que a ele fazem referência. Os adjuntos ad-
nominais (artigo, pronome, numeral, adjetivo e locução LT.
adjetiva) “circundam” o núcleo do SN, isto é, têm a função Estou ansiosa para a festa!
de especificá-lo.
CN
Complemento nominal adj.
Já estudamos que alguns verbos precisam de comple- LT
mento, ao qual damos o nome de objeto direto ou objeto Estou perto da verdade.
indireto. Mas não são apenas os verbos que precisam de
complemento, uma vez que há alguns nomes que não têm
CN
sentido completo por si só e dependem de uma informação
a mais na sentença para que possamos compreender o adv.
que é enunciado.
LT"
Observe a capa do livro a seguir. Tenho esperança de vencer.
Reprodução
CN
subs. abstrato
RR e
REPAaB da del ria
A segunda dica é que o adjunto adnominal modifica Apresenta valor ativo, ou seja, Apresenta valor passivo, ou
pratica a ação expressa pelo seja, recebe a ação expressa
substantivos concretos e o complemento nominal não.
nome a que se refere. pelo nome a que se refere.
Assim, se a palavra a que o termo faz referência for um
Pode indicar posse. Nunca indica posse.
substantivo concreto, ele sempre será um adjunto adno-
minal, nunca um complemento nominal.
Predicativos e aposto
LT O predicativo é um termo que se refere ao sujeito ou
Visitei dois amigos de Recife!
|
ao objeto, acrescentando-lhes uma característica.
ad). adn.
Os predicativos são encontrados apenas em predicado
subst. concreto nominal (que tem como núcleo um nome e possui um
verbo de ligação) ou em predicado verbo-nominal (que
WS possui dois núcleos: um verbo significativo e um nome).
Comprei o livro de culinária.
A leitura do aluno é importante. pergunta quanto do outro que responde, o que gera o humor.
|
Observe duas frases retiradas do texto e a relação das pala-
vras destacadas com o elemento a que elas fazem referência:
adj. adn. =
subst. abstrato Um maluco pegou acesa.
LT"
A leitura do livro é importante.
I
sujeito
verbo predicativo
CN significativo do objeto
subst. abstrato
LT
Eu sou louco?
|
O adjunto adnominal apresenta um valor ativo, ou seja,
evidencia quem é o agente da ideia expressa pelo subs-
tantivo. No primeiro exemplo, é o aluno o responsável por
sujeito | predicativo
realizar a leitura, logo o termo “do aluno” exerce a função
do sujeito
de adjunto adnominal. O complemento nominal, por sua
vez, apresenta um valor passivo, isto é, ele é o alvo da ideia verbo de ligação
9 Saiba mais
O aposto pode ser um importante recurso para a argumentação. Em um texto escrito ou oral, tão importante quanto organi-
zar as informações é apresentar certos aspectos desses dados, qualificando-os. Para exemplificar, veja como o enunciado
“Clarice Lispector tem belas obras” é diferente de “Clarice Lispector, a incomparável escritora modernista, tem belas obras”.
O aposto destacado no segundo exemplo pode ajudar a convencer o leitor a ler as obras de Clarice, tanto porque esclarece
quem é a autora quanto porque evidencia uma qualificação significativa da escritora.
Revisando
. Leia os ditados populares, observe o termo em desta- Il. “Um dos principais velocistas do país” e “Albertinho
que e a função sintática a ele atribuída. Silva” exercem a mesma função sintática no texto.
|. “A galinha do vizinho é sempre mais gorda do que H. O fragmento “mas foi criado no Nordeste brasi-
a nossa.” (complemento nominal) leiro” evidencia uma relação de oposição com a
H. “A noite é boa conselheira” (predicativo do sujeito) informação precedente.
HI. “A boca do ambicioso só se fecha com terra de Hi. A troca da preposição “em” por outra no trecho
sepultura”. (adjunto adnominal) “Bruno Fratus nasceu em Macaé (RJ)” poderia ser
IV. De noite, todos os gatos são pardos. (aposto) feita sem prejuízo de sentido para o enunciado.
10. IFSP 2013 Leia a canção Telegrama, de Zeca Baleiro: pois o termo acompanha o
b) adjunto adnominal, nome do indivíduo.
Eu tava triste
Tristinho! pois o termo representa uma
c vocativo, a
) forma de evocar o indivíduo.
Mais sem graça
Que a top model magrela pois o termo explica ao indiví-
d) aposto, duo uma informação anterior.
Na passarela
Eu tava só pois o termo é o agente de
e) sujeito, uma ação verbal.
Sozinho
4
wo
EEAR-SP 2022 Assinale a alternativa que apresenta, O termo do texto que apresenta a mesma função sin-
em destaque, adjunto adnominal e adjunto adverbial. tática de “selvagem” é:
a) Símbolo da riqueza terrestre, o ouro nasce no a) temível.
espaço. b) amigo.
c) falso.
b) As legendárias ondas do Havaí atraem surfistas
d) alma
do mundo todo.
e) corpo.
c) O poeta Vinícius de Moraes é referência para vá-
rios músicos do Brasil. VêV. Exa., Sr. presidente, que nesse tempo, o nobre depu-
d) As pequenas empresas têm até o mês de abril tado era inimigo de todas as leis opressoras. A assembleia
para recolher os impostos. tem visto como ele trata as leis do metro.
ASSIS, Machado. A Ela. Histórias da meia-noite. Disponível em:
http:/dominiopublico.gov.br/download/texto/bv00191a.pdf.
Nos oito primeiros meses de 2021, o Rio Grande do Sul
Acesso em: 9 nov. 2021.
registrou a geração de 118,8 mil empregos formais —
alta de 4,7% sobre o total. Nesse período, a Indústria Considerando que o aposto evidencia uma explica-
ção e o vocativo tem a função de enfatizar a quem o
foi a líder na criação de vagas, responsável por 38,8%
interlocutor se dirige, responda: o termo em destaque
dos novos postos, com destaque para os segmentos
funciona, no texto, como aposto ou vocativo? Justifique
de máquinas e equipamentos e o coureiro-calçadista.
sua resposta.
O ranking é seguido do setor de Serviços (37,6% do
total), Comércio (16,8%), Construção (4,7%) e Agrope-
Reprodução
torna-se dependente de seu parceiro”, afirma a médica.
Segundo a especialista, o amor, em seus estágios iniciais, =
J JA A
age no corpo de forma similar ao uso experimental da e? AA
cocaína e de outros estimulantes. Uma das substâncias
70 liberadas pelo uso de cocaína é a dopamina que, por sinal,
está relacionada à paixão amorosa. Altas doses de dopami-
na produzem outras sensações associadas à paixão, como
aumento de energia, hiperatividade, falta de sono, tremor,
respiração acelerada, coração pulsante, além de serem
15 responsáveis pelo êxtase, que é sentido pelos apaixonados
como um êxtase amoroso.
“Soma-se a isso o efeito de aumentar a persistência:
quando a recompensa é postergada, a dopamina aumenta
a energia do cérebro para que esse tenha uma maior aten-
20 ção e leva o amante a lutar mais e mais para conseguir a
reciprocidade do amado”, diz a psicóloga Elaine Di Sarno.
Por outro lado, a dopamina traz efeitos negativos liga-
dos à dependência. “Os aspectos negativos podem incluir
a “dependência do amado”, como num comportamento
No título Em um relacionamento abusivo com a
25 aditivo. Elevados níveis de dopamina produzem uma aten- ansiedade, o termo em destaque é:
ção concentrada num objeto, bem como uma motivação
a) complemento nominal.
e comportamento direcionado a um fim”, complementa
b) objeto indireto.
a psicóloga.
c) objeto direto.
Disponível em: https://www.minhavida.com.br/bemestar/materias/
36990-amor-patologico-como-umapessoa-se-torna-doente-de-amor.
d) sujeito.
Acesso em: 7 abr. 2022. Adaptado. e) agente da passiva.
ES
Reprodução
AUGUSTO
CURY
Considere as afirmações:
Il. Em “A vacinação contra a gripe é muito importan-
te” há um predicativo do sujeito.
H. Em “A gripe pode levar a casos graves [...]” há um
complemento nominal.
MARIA, A MAIOR
Il. Em “Basta procurar um posto de saúde [...]” há um
EDUCADORA DA HISTÓRIA
adjunto adnominal. Os dez princípios usados por Maria
para educar sou filho, Jesus
Adeus, borracheiro?
Pneu que veda o furo com carro
andando chega ao Brasil Avalie as afirmações:
“Maria” tem função de vocativo, o que se confirma
MORAES, Jorge. UOL, 31 out. 2021.
pelo uso da vírgula.
A palavra “borracheiro” exerce a função sintática de “A maior educadora da história” funciona como o
uu
[
aposto na sentença. Sua presença pode levar o leitor aposto de “Maria”. z
uu
a perceber que a procura por esse profissional no fu- “Maria” exerce a função sintática de predicativo [02
o
turo não é garantida. Justifique sua resposta. do sujeito na sentença.
5
w
Está correto: avesso ao esforço metódico e à concentração; prefere o
a) apenas! circunstancial, a moda do momento e o jeito mais rápi-
b) apenas ll. 15 do de conquistar aquilo que deseja. Adepto do “curtir
c) apenas Ill. a vida adoidado”, o homo brasiliensis encarnado no
d) apenaslell.
“homem cordial” sofre muito diante de compromissos
que exijam dispêndio de energia e tempo — na cultura
e) apenaslle Ill.
humana do juro, opta sempre por curtir hoje e pagar
Samantha é dessas noivas de olhar doce e terno. 20 amanhã, em vez de investir agora para saborear depois
Além disso, tem o Fabricio, noivo com cara de apaixona- por tempo indeterminado e mais tranquilo. A impes-
do. A combinação perfeita para um lindo casamento no soalidade no trato, as regras universais, a ética como
Ravena Garden! parâmetro para a tomada de decisões, o antever dos
Eles se conheceram no trabalho e, nesse meio tempo, desdobramentos de sua ação sobre a vida e o planeta,
foram se aproximando. Primeiramente, tornaram-se amigos 25 o incentivo ao fortalecimento de instituições públicas
e confidentes. Em seguida, se apaixonaram. e sociais, nada disso agrada ao “homem cordial”, que
O namoro foi marcado por intensidade, viagens, cum- não esconde amar o familiarismo nas relações sociais,
plicidade e muito amor! as regras particulares, a moral privada, o “salve-se quem
Não demorou para que fossem morar juntos. Logo puder”, o apelo a saídas pessoais diante de problemas
depois, veio o pedido de casamento. 30 e questões que são, de superfície e de fundo, coletivas.
QUEIROZ, Flávia. Samantha e Fabricio: um lindo casamento Em 1936, Sérgio Buarque de Holanda apontava esses
no Ravena Garden. Noiva ansiosa, 25 jun. 2020. Disponível
em: https://noivaansiosa.com.br/casamento-no-ravena-garden/.
traços culturais brasileiros como uma barreira intranspo-
Acesso em: 15 out. 2021. nível para a democracia. E hoje? Creio que a atualidade
da ideia de “homem cordial” salta aos olhos de quem
Considere o trecho: 35 observa com interesse o país. Resta saber o tamanho
“Eles se conheceram no trabalho e, nesse meio tem- desse malfazejo espólio.
po, foram se aproximando. Primeiramente, tornaram-se (Fonte: Marco. A. Rossi. Acesso 10/01/2013 às 12:30 p.m. http://
amigos e confidentes.” travessiaZ1 .blogspot.com.br/2013/01/0-homem-cordial.html.)
Il. Otermo “amigos” é predicativo do sujeito.
Leia o excerto do texto e, em seguida, analise as afir-
H. As três orações têm predicado verbal.
mativas apresentadas: “..o 'homem cordial" é avesso
HI. “Primeiramente” é um adjunto adnominal.
IV. “Eles” é sujeito. ao esforço metódico e à concentração; prefere o cir-
Quais proposições está(ão) correta(s)? cunstancial, a moda do momento e o jeito mais rápido
a) Apenasle IV, de conquistar aquilo que deseja.” (£. 12 a 15)
b) Apenas Ile Ill. Il. Areescrita “... o 'homem cordial" prefere o circuns-
c) Apenas |, lle III. tancial, a moda do momento e o jeito mais rápido
d) Apenas ll, Ill e IV. de conquistar aquilo que deseja ao esforço me-
e) Apenas|,lle IV. tódico e à concentração..” preserva o sentido
original e atende à norma-padrão da língua.
22. Leia a oração a seguir e assinale a alternativa que indi- H. As aspas foram utilizadas nesse excerto, assim
ca a função sintática do trecho sublinhado. como nas linhas 1, 3 e 5 do texto, para ressaltar o
Até agora, os esforços não trouxeram grandes resultados. valor pejorativo da expressão e indicar a ironia de
a) Objeto direto. Marco A. Rossi, autor do texto.
b) Aposto. Os termos “ao esforço metódico” e “à concentra-
c) Predicativo do objeto. ção” complementam o sentido do adjetivo que
d) Predicativo do sujeito. exerce função sintática de predicativo do sujeito;
e) Complemento nominal. já os termos “o circunstancial”, “a moda do mo-
mento” e “o jeito mais rápido..” complementam o
23. AFA-SP 2022
sentido de um verbo transitivo direto. Está correto
O HOMEM CORDIAL o que se afirma apenas em
Marco À Rossi a) | llelll
É de 1936 o livro “Raízes do Brasil”, do historiador b) lelll
Sérgio Buarque de Holanda. Nele está contida a ideia co) Il
de “homem cordial”, uma das maiores contribuições já ad) Il
realizadas para a compreensão do Brasil e dos brasileiros.
O “homem cordial”, resultado de um cruzamento 24. Leia o texto e responda à pergunta.
entre a cultura colonial e o improviso de um país para Um grande número de sul-sudaneses se viu obrigado
sempre inacabado, é afetuoso, interesseiro e autoritário; a comer folhas de árvores ou sementes devido à falta de
adora obter vantagens em tudo, detesta regras, vive em alimentos em regiões onde, no entanto, ainda não foi
busca de atalhos favoráveis; não vê problema no que faz declarada a fome, informou nesta segunda-feira a orga-
10 de errado, embora seja raivoso na hora de apontar os nização Norwegian Refugee Council (NRC).
erros dos outros. Variação muito mal-humorada de um “As comunidades que tentam sobreviver a uma crise
tipo único de homo brasiliensis, o “homem cordial” é alimentar aguda recorreram a estratégias de adaptação que
Indique a função sintática do termo destacado no trecho: “O próximo período — o fetal — vai da nona semana até
o nascimento”.
FMC-RJ 2021
“Espectaculo para breve nas ruas desta cidade: Oswaldo Cruz, o napoleão da seringa e lanceta, à frente das suas forças obrigatórias será recebido e
manifestado com denodo pela população. O interessante dos combatentes deixará a perder de vista o das batalhas de flores e da guerra russo-japoneza.
E veremos ao fim da festa quem será o vacinador, à força!”
Luís Vaz de Camões, considerado o mais importante poeta da língua portuguesa, nasceu em Lisboa, em 1524, e morreu em
1580. Frequentou a Universidade de Coimbra e foi soldado, ocasião em que perdeu um olho em Marrocos. No período em
que foi soldado, morou na Índia, em Macau, em Moçambique e na Arábia, o que compreendeu os anos de 1553 a 1570.
GUIMARÃES, Leandro. Luís Vaz de Camões. PrePara Enem.
Disponível em: https://preparaenem.com/portugues/luis-vaz-de-camoes.htm. Acesso em: 15 nov. 2022.
Assinale a função sintática do termo em destaque em “Luís Vaz de Camões, considerado o mais importante poeta da
língua portuguesa, nasceu em...”
a) aposto.
b) adjunto adnominal.
c) adjunto adverbial.
d) complemento nominal.
e) agente da passiva.
Na oração “Era filho de José Martiniano de Alencar, senador do império, e de Ana Josefina”, o termo destacado
exerce a função sintática de:
a) aposto.
b) adjunto adnominal.
c) predicativo do objeto.
d) complemento nominal.
Ramanujah, importante matemático indiano do início do século XX, precisou viajar até a Inglaterra para desenvolver seu
trabalho junto ao professor Godfrey Harold Hardy, conforme relatado no filme “O Homem que conheceu o infinito”.
Ramanujah já tinha uma mente brilhante e dominava a matemática avançada, mas faltava a ele o contato e troca de
conhecimento com pessoas que entendessem a sua obra, o que não encontrava em seu pobre povoado na Índia. As con-
dições da Inglaterra no início do século XX foram fundamentais para atrair Ramanujah e tantos outros intelectuais dos
cinco cantos do mundo, que contribuíram para o avanço científico nas mais diversas áreas do conhecimento humano.
VALE, Paulo Sá. Atenas clássica e a importância dos espaços coletivos. Caos Planejado, 11 abr. 2019.
Disponível em: https://caosplanejado.com/atenas-classica-e-a-importancia-dos-espacos-coletivos/. Acesso em: 15 nov. 2022.
Identifique a função sintática dos temos destacados no trecho: “Ramanujah, importante matemático indiano do início
do século XX, precisou viajar até a Inglaterra para desenvolver seu trabalho junto ao professor Godfrey Harold Hardy”.
Apelo
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom
chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato
na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no
chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte
de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença,
última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na
janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha?
10 Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora,
por favor.
(TREVISAN, Dalton. Mistérios de Curitiba. 5º ed. Record. Rio de Janeiro, 1996.)
Em relação à organização textual e aspectos sintáticos do texto IV, assinale a alternativa que apresenta uma análise correta.
a) Otexto é uma carta pessoal cujo emitente é o marido e o destinatário, a mulher, o que se comprova pelo vocativo
e pelo desfecho com o pedido de volta da Senhora.
b) Osinal de dois pontos (|. 4) tem a função de introduzir uma oração explicativa para o fato mencionado anteriormente.
c) Otravessão (|. 8) tem a função de separar o aposto do termo principal ao qual ele se refere.
d) O sujeito da primeira oração do período “Às violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham” está mar-
cado na desinência verbal.
34 - UEG-GO 2020
Legado do Iluminismo
O pensamento iluminista abraçou a ideia do progresso e buscou ativamente a ruptura com a história e a tradição espo-
sada pela modernidade. Foi, sobretudo, um movimento secular que procurou desmistificar e dessacralizar o conhecimento
e a organização social para libertar os seres humanos de seus grilhões. Ele levou a injunção de Alexander Pope, de que “o
estudo próprio da humanidade é o homem”, muito a sério. Na medida em que ele também saudava a criatividade humana, a
descoberta científica e a busca da excelência individual em nome do progresso humano, os pensadores iluministas acolheram
o turbilhão da mudança e viram a transitoriedade, o fugidio e o fragmentário como condição necessária por meio da qual o
projeto modernizador poderia ser realizado. Abundavam doutrinas de igualdade, liberdade, fé na inteligência humana (uma
vez permitidos os benefícios da educação) e razão universal. “Uma boa lei deve ser boa para todos”, pronunciou Condorcet às
vésperas da Revolução Francesa, “exatamente da mesma maneira como uma proposição verdadeira é verdadeira para todos”.
10 Essa visão era incrivelmente otimista. Escritores como Condorcet, observa Habermas (1983, p. 9), estavam possuídos
“da extravagante expectativa de que as artes e as ciências iriam promover não somente o controle das forças naturais, mas
=
também a compreensão do mundo e do eu, o progresso moral, a justiça das instituições e até a felicidade dos seres humanos”. Vu
[o
O século XX — com seus campos de concentração e esquadrões da morte, seu militarismo e duas guerras mundiais, sua pá
uu
ameaça de aniquilação nuclear e sua experiência de Hiroshima e Nagasaki — certamente deitou por terra esse otimismo. [4
o
15 Pior ainda, há suspeita de que o projeto do Iluminismo estava fadado a voltar-se contra si mesmo e transformar a busca da
uv
md
emancipação humana num sistema de opressão universal em nome da libertação humana. Essa foi a atrevida tese apresentada
por Horkheimer e Adorno em Dialética do esclarecimento (1972). Escrevendo sob as sombras da Alemanha de Hitler e da
Rússia de Stálin, eles alegavam que a lógica que se oculta por trás da racionalidade iluminista é uma lógica da dominação e
da opressão. A ânsia por dominar a natureza envolvia o domínio dos seres humanos, o que no final só poderia levar a “uma
20 tenebrosa condição de autodominação”, conforme salienta Bernstein (1985, p. 9). A revolta da natureza, que eles apresen-
tavam como a única saída para o impasse, tinha, portanto, de ser concebida como uma revolta da natureza humana contra
o poder opressor da razão puramente instrumental sobre a cultura e a personalidade.
São questões cruciais saber (i) se o projeto do Iluminismo estava ou não fadado desde o começo a nos mergulhar num
mundo kafkiano; (ii) se tinha ou não de levar a Auschwitz e Hiroshima; e (iii) se lhe restava ou não poder para formar e inspi
25 rar o pensamento e a ação contemporâneos. Há quem, como Habermas, continue a apoiar o projeto, se bem que com forte
dose de ceticismo quanto às suas metas, com muita angústia quanto à relação entre meios e fins e com certo pessimismo no
tocante à possiblidade de realizar tal projeto nas condições econômicas e políticas contemporâneas. E há quem — e isso é o
cerne do pensamento filosófico pós-modernista — insista que devemos, em nome da emancipação humana, abandonar por
inteiro o projeto iluminista. A posição a tomar depende de como se explica o “lado sombrio” da nossa história recente e do
30 grau até o qual o atribuímos aos defeitos da razão iluminista, e não à falta de sua correta aplicação.
HARVEY, David. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 3. ed. São Paulo: Loyola, 1993. p. 23-24. (Adaptado)
Considere o seguinte trecho do texto: “O século XX — com seus campos de concentração e esquadrões da morte, seu
militarismo e duas guerras mundiais, sua ameaça de aniquilação nuclear e sua experiência de Hiroshima e Nagasaki
— certamente deitou por terra esse otimismo”. (Linhas 13-14). O travessão duplo é usado no período com a função de
a) introduzir um discurso direto.
b) demarcar uma sequência.
c) ligar um termo ao outro.
d) sinalizar uma metáfora.
e) intercalar um aposto.
PATI, Camila. VC S/A, 23 set. 2018. Abril Comunicações S. A. Disponível em: https://vocesa.abril.com.br/carreira/
este-erro-de-portugues-e-o-mais-problematico-nas-mensagens-de-whatsapp. Acesso em: 15 nov. 2022.
A
Os termos da oração relacionados ao núcleo nominal são o adjunto adnominal, complemento nominal, predicativos
e aposto.
Adjunto adnominal
* O adjunto adnominal é um termo ligado ao substantivo que tem a função de especificar e determinar o sentido de
um núcleo nominal.
e As classes gramaticais que desempenham essa função são os artigos, os adjetivos (ou locuções adjetivas), os nume-
rais e os pronomes.
* A posição do adjunto adnominal pode variar de acordo com a sentença, ou seja, ele pode vir antes do núcleo (subs-
tantivo), depois dele ou, ainda, aparecer tanto antes quanto depois.
Ex.: Uma casinha. (O adjunto adnominal “uma” antecede o núcleo “casinha”)
Gatinho charmoso. (O adjunto adnominal “charmoso” foi colocado após o núcleo “gatinho”)
Minha filha estudiosa. (Os adjuntos adnominais estão relacionados ao núcleo “filha”, um colocado antes — “minha” — e outro
colocado depois — “estudiosa”)
« Ossintagmas nominais podem ocupar diversas funções sintáticas; por isso, o adjunto adnominal, que modifica o nú-
cleo (substantivo) desse sintagma, pode ser encontrado tanto no sujeito quanto no complemento verbal (objeto direto
ou indireto) e, ainda, no interior de um adjunto adverbial.
Complemento nominal
« Hánomes com sentido incompleto, e o termo da oração que completa o sentido desses nomes é chamado comple-
mento nominal.
« Oobjeto indireto e o complemento nominal têm funções semelhantes, mas são diferentes, porque o primeiro comple-
ta a ideia de um verbo (“obedeço aos pais”) e o último a de um nome (obediência aos pais).
* O complemento nominal pode completar a ideia de um substantivo abstrato, de um adjetivo ou de um advérbio,
sendo sempre introduzido por uma preposição.
« Quando faz referência a um substantivo abstrato, o termo pode ser um adjunto adnominal ou um complemento nomi-
nal; para isso, é importante observar que:
a) O complemento nominal apresenta um valor passivo, isto é, ele é o alvo da ideia estabelecida pelo substantivo
abstrato, não o agente. (Ex.: A invenção do avião.). Além disso, nunca indica posse.
b) O adjunto adnominal possui um valor ativo e é o agente da ação. (Ex.: A invenção do cientista.) Além disso, ele
pode indicar posse.
Predicativos
* O predicativo é um termo que se refere ao sujeito ou ao objeto, acrescentando-lhes uma característica.
* O predicativo do sujeito evidencia um atributo do sujeito por intermédio de um verbo de ligação, que nem sempre
está expresso na frase. Ele pode ser encontrado tanto em predicados nominais (Mariana está triste.) quanto em pre-
dicados verbo-nominais (Mariana saiu triste.). pm
Vu
[=
* O predicativo do objeto evidencia um atributo circunstancial, ocasional do objeto (direto ou indireto) e pode ser en- pr
contrado em predicados verbo-nominais. Ex.: Achei a Mariana triste. uu
[3
o
«|O predicativo e o adjunto adnominal têm funções diferentes na sentença; por isso, não devemos confundi-los.
o
Aposto
« O aposto é o termo que acrescenta uma informação a mais ao termo que o antecede, evidenciando uma explicação
para o leitor, uma ampliação de sentidos ou um resumo do que foi dito.
Ex.: Alimentação saudável — frutas, legumes e verduras — deve ser a meta de todo brasileiro.
* Oaposto indica uma pausa, e, na escrita, isso geralmente vem marcado por vírgulas, travessões, parênteses ou dois-pontos.
Ex.: Quero comer um pouco de tudo no dia da festa: bolo, doces e salgados.
Paris, a cidade-luz, está cada dia mais linda.
Livros
SS Lições de gramática em versos de cordel, de Janduhi Dantas. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
A obra traz dois poemas (páginas 90 e 91) em que se tematiza o aposto e a diferença entre adjunto adnominal e complemento
nominal. De forma descontraída, é possível aprender algumas das regras apontadas neste capítulo.
Uma gramática intuitiva: liberte-se das regras e tome posse da língua que você fala, de Cristina A. Schumacher. Rio de Janeiro:
LTC, 2013.
O livro propõe uma reflexão sobre aspectos gramaticais sem o foco nas nomenclaturas, de modo a incentivar o usuário da língua
a compreender os fenômenos linguísticos de maneira mais intuitiva.
Música
Q “Você é linda”, de Caetano Veloso. Disponível em: https://letras.mus.br/caetano-veloso/43884/. Acesso em: 15 nov. 2022.
A letra da canção é recheada de predicativos que mostram toda a admiração do eu lírico por sua amada. Além disso,
a presença de vários adjetivos com função de adjunto adnominal nos versos da canção contribui para essa construção
de sentidos.
Exercícios complementares
1. Uneb-BA 2017 2. Unicentro-PR 2017
A análise de fragmento retirado do texto de Gregório competências, em sua fé. (Luis Alves)
de Matos está correta em
|. Há um vocativo e um aposto nos versos: “Senhora ALVES, Luís. O verdadeiro otimista. Disponível em:
Dona Bahia / nobre e opulenta cidade / madrasta hip: mundodasmensagens.conmensagens. "2016,
dos naturais, / e dos estrangeiros madre” (u. 1-4). a
H. No verso “e dos estrangeiros madre” (v. 4), há A análise linguística dos elementos verbais que com-
uma inversão no sintagma nominal. põem a mensagem está correta em
Hl. Em “dizei-me por vida vosso” (v. 5), verifica-se um Il. A partícula “o”, nos dois casos, é o masculino de
tratamento em 22 pessoa do singular. “a”, em “a força”,já que se trata de artigos.
IV. “vêm” (v. 7) é uma forma do verbo ver, na 3º pes- Il. O termo preposicionado “de saber” modifica
soa do plural. “dom”, na função de adjunto adnominal.
V. O termo “ditame” (v. 6) significa comportamento Il. O elemento coesivo “que”, nas três ocorrências,
diferenciado, consagrado pelo costume. pertence à mesma classe de palavras.
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas IV. A oração reduzida “por acreditar” expressa a
estão corretas é a ideia de causa, podendo ser desdobrada.
a) lell. c) Vev. e) ILVev. V. Os pronomes “sua”, “seu”, “suas” e “sua” possuem
b) Ile ll. d) |llev. o mesmo referente.
Pensar em nada 12. Unesp O esporte é bom pra gente, fortalece o corpo e
A maravilha da corrida: basta colocar um pé na frente emburrece A MENTE. — Antes que o primeiro corredor in-
do outro. dignado atire UM TÊNIS em minha direção [...] - Quando
Assim como numa família de atletas um garoto deve estamos correndo, não há PREVISÃO DE PAGAMENTO.
encontrar certa resistência ao começar a fumar, fui motivo Os termos grafados com letras maiúsculas nas pas-
de piada entre alguns parentes — quase todos intelectuais sagens acima, extraídas do texto apresentado,
— quando souberam que eu estava correndo. “O esporte é identificam-se pelo fato de exercerem a mesma fun-
bom pra gente”, disse minha avó, num almoço de domin- ção sintática nas orações de que fazem parte. Indique
go. “Fortalece o corpo e emburrece a mente.” essa função:
Hoje, dez anos depois daquele almoço, tenho certeza a) Sujeito.
de que ela estava certa. O esporte emburrece a mente e o b) Predicativo do sujeito.
mais emburrecedor de todos os esportes inventados pelo c) Predicativo do objeto.
homem é, sem sombra de dúvida, a corrida — por isso que d) Objeto direto.
eu gosto tanto. e) Complemento nominal.
Antes que o primeiro corredor indignado atire um
tênis em minha direção (número 42, pisada pronada, por Leia o trecho do poema “Amor Feinho”, de Adélia Prado,
favor), explico-me. É claro que o esporte é fundamental para responder à questão 13.
em nossa formação. Não entendo lhufas de pedago- Eu quero amor feinho.
gia ou pediatria, mas imagino que jogos e exercícios Amor feinho não olha um pro outro.
ajudem a formar a coordenação motora, a percepção Uma vez encontrado é igual fé,
espacial, a lógica e os reflexos e ainda tragam mais não teologa mais.
outras tantas benesses ao conjunto psico-moto-neuro- Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo
-blá-blá-blá. Quando falo em emburrecer, refiro-me ao e filhos tem os quantos haja.
delicioso momento do exercício, àquela hora em que Tudo que não fala, faz.
você se esquece da infiltração no teto do banheiro, Planta beijo de três cores ao redor da casa
do enrosco na planilha do Almeidinha, da extração do e saudade roxa e branca,
siso na próxima semana, do pé na bunda que levou da comum e da dobrada.
da Marilu, do frio que entra pela fresta da janela e do Amor feinho é bom porque não fica velho.
aquecimento global que pode acabar com tudo de uma Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
vez. Você começa a correr e, naqueles 30, 40, 90 ou eu sou homem você é mulher.
180 minutos, todo esse fantástico computador que é o a
Amor feinho não tem ilusão, a
[=
nosso cérebro, capaz de levar o homem à Lua, compor o que ele tem é esperança: 4
uu
músicas e dividir um átomo, volta-se para uma única eu quero um amor feinho. [4
o
e simplíssima função: perna esquerda, perna direita, (Bagagem, 2011.)
6
tw
13. Famema-SP 2021 16. Unicamp-SP 2021
“Eu quero amor feinho.”
Texto 1
O verbo sublinhado é transitivo direto, assim como o
Audino Vilão é o pseudônimo de Marcelo Marques.
verbo sublinhado em:
O universitário paulista de 18 anos cursa Licenciatura
a) “Amor feinho não olha um pro outro”
em História e produz vídeos em que traduz conceitos
b) “não teologa mais.”
filosóficos complexos em linguagem coloquial, com gí-
c) “Uma vez encontrado é igual fé,
d) “Amor feinho é bom porque não fica velho.” rias típicas das periferias do Estado de São Paulo. Audino
e) “Planta beijo de três cores ao redor da casa”
se apresenta como um vilão que sequestra o conheci-
mento da elite acadêmica e distribui pra todo mundo,
14. Em qual alternativa a expressão destacada não exer- igualmente, da melhor forma possível. Ele entende que é
ce a função de complemento nominal? preciso valorizar a cultura do aluno, o dialeto dele, seu
a) O desperdício de alimentos raramente é contabi- conhecimento de vida.
lizado pelos consumidores. (Adaptado de Bárbara Martins, “Audino Vilão: universitário traz
conceitos filosóficos para linguagem da periferia.” Disponível em https://
b) O desmatamento e a poluição são prejudiciais à
www.hypeness.com.br/2020. Acessado em 09/11/2020.)
vida humana.
c) O consumo em excesso de alimentos industriali-
Texto 2
zados traz malefícios à saúde.
E aí, molecadinha que nos assiste? Primeiramente um
d) Especialistas recomendam a ingestão moderada
abraço, um cheiro, um amasso, diretamente daqui da 019,
de açúcar.
Audino Vilão na voz, trazendo pra vocês uma explicação:
Leia o poema de Fernando Pessoa para responder que que é democracia? Pra começar, vamo vê na história.
Pe,
6
23. Unesp 2013 [...] à frente dele voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho.
Eliminando-se o aposto, a frase em destaque apresentará, de acordo com a norma-padrão, a seguinte forma:
a) à frente voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho.
b) à frente dele voam os vaga-lumes batedores, alumiando o caminho.
c) à frente dele voam seus batedores, alumiando o caminho.
d) à frente dele voam os vaga-lumes, alumiando o caminho.
e) à frente dele voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando.
24. Na frase “Quando eu era criança, acreditava na ideia de que meu pai era um super-herói, tipo esses de filmes”, o
termo destacado exerce a função de:
a) sujeito.
b) objeto direto.
c) objeto indireto.
d) predicativo do sujeito.
Lei Seca fica mais rigorosa a partir desta quinta-feira no país; entenda
Folha de S.Paulo com informações da Agência Brasil, 15 nov. 2022.
26.
Prefeitura reforça importância do cuidado integral à saúde do homem no Novembro Azul
No mês de novembro, a Prefeitura de Manaus intensifica as informações sobre os cuidados com a saúde do homem
de forma integral. Com a campanha Novembro Azul, que tem o objetivo de conscientizar a população masculina sobre
os cuidados necessários para evitar doenças que comprometem a vida dos homens, dentre elas o câncer de próstata, a
Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) vai promover, ao longo do mês, uma série de atividades em todos os Distritos de
Saúde da capital.
Realização de lives, divulgação de conteúdos educativos em canais de comunicação institucional, palestras e outras
ações de educação em saúde serão realizadas nas unidades de saúde da rede municipal, onde será intensificada a oferta dos
serviços que já são oferecidos como rotina à população masculina.
[...]
BRANDÃO, Tânia. Secretaria Municipal de Saúde de Manaus — SEMSA, 31 out. 2021.
Disponível em: https://semsa.manaus.am.gov.br/noticia/prefeitura-reforca-importancia-do-cuidado-integral-a-saude-do-homem-
no-novembro-azul/. Acesso em: 9 nov. 2021.
Qual dos trechos destacados exerce, no texto lido, a função de complemento nominal?
Il. “Distritos de Saúde da capital”
H. “cuidados com à saúde”
HI. “câncer de próstata”
IV. “importância do cuidado integral”
Estão corretas:
a) lell.
b) lell.
c) llelV.
d) llelll.
e) llelV.
Nas orações em que são empregados os termos “cego” e “surdo mudo”, eles exercem a função de:
a) predicativo do sujeito.
b) objeto direto.
c) adjunto adnominal.
d) sujeito.
e) adjunto adverbial.
Duke
VAMOS ALARDEAR A CRISE, GRAVÍSSIMA, VAMOS
EXAGERAR BASTANTE, DIZER CANCELAR TODOS OS
QUE É A PIOR CRISE DE PROJETOS, VIAGENS
TODOS OS TEMPOS! E COMPRAS!
eia EA
Hoteis
A oração “nossos anunciantes cancelaram os comerciais”, que aparece no último quadrinho, exerce a função de
complemento nominal. A afirmativa é verdadeira ou falsa? Justifique sua resposta.
Sem Facebook
Das minhas relações mais próximas, só três comungam comigo não ter facebook. Não pensem que tenho críticas, sou um
entusiasta, apenas não quero usar. Pouco dou conta dos meus amigos, onde vou arranjar tempo para mais? Minha etiqueta me
faz responder a tudo, teria que largar o trabalho se entrasse na rede social. Só recentemente minhas filhas me convenceram
que se não respondesse um spam ninguém ficaria ofendido.
A cidade ganhou a parada. Acabou o pequeno mundo onde todos se conheciam, onde não se podia esconder segredos e
pecados. Viver na urbe é cruzar com desconhecidos, sentir a frieza do anonimato. Essa é a realidade da maioria.
Meu apreço com as redes sociais é por acreditar que elas são um antídoto para o isolamento urbano. São uma novidade
que imita o passado, uma nova versão, por vezes mais rica, por vezes mais pobre, da antiga comunidade. Detalhe: não quero
retroceder, a simpatia é pelo resgate da nossa essência social. Vivemos para o olhar dos outros, essa é a realidade simples,
10 evidente. Quem pensa o contrário vai à conversa da literatura de autoajuda, que idolatra a autossuficiência e acredita que é
possível ser feliz sozinho. É uma ilusão tola. Nascemos para vitrine.
Quando checamos insistentemente para saber como reagiram às nossas postagens, somos desvelados no pedido amoroso.
O viciado em rede social é obcecado pela sociabilidade. Está em busca de um olhar, de uma aprovação, precisa disso para
existir. Ou vamos acreditar que a carência, o desespero amoroso e a busca pelo reconhecimento são novidades da internet?
15 Sei que o facebook é o retrato da felicidade fingida, todos vestidos de ego de domingo, mas essa é a demanda do nos-
so tempo. Critique nossos costumes, não o espelho. Sei também que as redes são usadas basicamente para frivolidades, é
certo, mas isso somos nós. Se a vida miúda de uma cidadezinha fosse transcrita, não seria diferente. Fofoca, sabedoria de
almanaque, dicas de produtos culturais, troca de impressões e às vezes até um bom conselho, além de ser um amplificador
veloz para mobilizações.
20 Também apontam que amigos virtuais não substituem os presenciais. Todos se dão conta, e justamente usam a rede na
esperança de escapar dela. O objetivo final é ser visto e conhecido também fora. Usamos esse grande palco para ensaiar e se
aproximar dos outros, fazer o que sempre fizemos. O facebook é a nostalgia da aldeia e sua superação.
CORSO, Mário. Sem Facebook. Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/ blogs/. Acesso em: 31 de agosto de 2013. (adaptado)
6
md
30. Vigora no ordenamento jurídico pátrio o principio da obrigatoriedade de licitação, consoante preceituado no art. 37,
XXI, da Constituição Federal, sendo a desnecessidade de licitar a exceção, desde que especificada na legislação pertinente.
Nesse sentido, a Lei n. 8.666/93, conhecida como Lei de Licitações, disciplina as situações, dentro do regime geral, em
que a Administração Pública pode contratar sem licitação, quais sejam: os casos de licitação dispensada (art. 17), de dispensa
de licitação (art. 24) e de inexigibilidade de licitação (art. 25).
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS. Aquisição de medicamentos com dispensa de licitação devido a decisão judicial.
MPGO, 22 nov. 2019. Disponível em: www.mpgo.mp.br/portal/arquivos/2019/11/22115 12.10 272 Informa%C3%AZH%C3%
A3o T%C3%A9cnico JurY%oC3%ADdica Conjunta AquisiY%WC3%A7%C3%A30 de medicamentos com dispensa licita%C3%AZ%
C3%A30 devido a decis%C3%A30 judicial Patrim%C3%Bánio P%C3%BAblico e Sa%C3%BAde.pdf. Acesso em: 15 nov. 2022.
As vírgulas empregadas para isolar a expressão “conhecida como Lei de Licitações” separam um trecho explicativo.
Classifique a função sintática desse trecho e justifique-o.
31. “Não há motivo para pânico. As pessoas ficam ansiosas e é normal. É normal que nós, como seres humanos, quando
acontece algo novo, fiquemos com dúvidas e, ficando com dúvidas, podemos ter pânico. Mas esse vírus, que é novo, nós
conhecemos mais que outros vírus, conhecemos mais informação, temos mais pesquisa, temos mais informação da trans-
missão, do tratamento, de quantos casos podem ser severos, de quais são as populações que são mais afetadas”, afirmou
Socorro Gross [chefe da Organização Mundial de Saúde e da Organização Pan-Americana da saúde no Brasil].
BOMFIM, Camila. 'Não há motivo para pânico”, diz chefe da OMS no Brasil sobre novo coronavírus” G1, 27 fev. 2020.
Disponível em: https://g1 .globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/02/27/nao-ha-motivo-para-panico-diz-chefe-da-oms-no-brasil-sobre-coronavirus.ghtml.
Acesso em: 15 nov. 2022.
O termo “que é novo” está entre vírgulas, pois funciona como um adjunto adverbial deslocado. A afirmativa é verda-
deira ou falsa? Justifique sua resposta.
32. Sophia Raia, filha dos atores Claudia Raia e Edson Celulari, acaba de fazer sua estreia no mundo da moda. Sem grandes
ambições, a menina, de 16 anos, foi alçada ao posto de garota-propaganda de uma joalheria carioca. “Amei a experiên-
cia de fotografar e estar exposta a esse mundo. Foi muito especial”, diz ela. “Minha mãe, além de estar comigo no dia
do ensaio, me deu muitas dicas estéticas de ângulos e expressões. Meu pai, me deu apoio emocional e me tranquilizou
antes de clicar.”
JÚNIOR, Gilberto. Filha de Claudia Raia, Sophia “estreia como modelo” com dicas da mãe: “Ângulos e expressões”. O Globo, 14 ago. 2019.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/ela/gente/filha-de-claudia-raia-sophia-estreia-como-modelo-com-dicas-da-mae-angulos-expressoes-23876234.
Acesso em: 15 nov. 2022.
A expressão “filha dos atores Claudia Raia e Edson Celulari" encontra-se entre vírgulas porque exerce a função sin-
tática de aposto. A afirmativa é verdadeira ou falsa? Justifique sua resposta.
33. Em depoimento à polícia, Monique Medeiros, mãe do menino Henry Borel, que morreu com sinais de hemorragia e edemas
no Rio, disse que viu o filho já no chão do quarto do casal após ele ter passado mal. Segundo a mãe, ela e o namorado, o
vereador Dr. Jairinho, estavam em outro cômodo vendo televisão. Os investigadores perguntaram o que poderia ter causado
as lesões. Monique respondeu acreditar que Henry acordou, ficou em pé em cima da cama deles e se desequilibrou ou
até tropeçou.
Sexta-feira, 19 de março. G1, 19 mar. 2021. Disponível em: https://g1 .globo.com/resumo-do-dia/noticia/
2021/03/19/sexta-feira-19-de-marco.ghtml. Acesso em: 15 nov. 2022.
A expressão “mãe do menino Henry Borel” está corretamente entre vírgulas por separar:
a) uma explicação.
b) uma elipse.
c) um sujeito.
d) termos de mesma função sintática.
e) um adjunto adverbial deslocado.
Na história de filosofia antiga, há um subenredo oculto: o gradual surgimento de um Deus maiúsculo e único, que dê
sentido a tudo que existe. Na Grécia pagã, gerações sucessivas de pensadores desenvolveram uma espécie de monoteísmo
filosófico; Zeus, o senhor dos imortais na mitologia grega, cedeu lugar a hotheos, “o Deus”, entidade racional e infinita das
teorias filosóficas. Essa divindade impessoal e assombrosa já se deixava entrever nas Formas platônicas e na busca socrática
5 por um Bem absoluto e final; mas é na Metafísica de Aristóteles que o Ser supremo emerge e ocupa, de forma triunfante, o
centro da filosofia. Com a emergência do cristianismo, entre os séculos 1 e 3 d.C., o Deus dos filósofos foi se fundindo com
a divindade das tribos de Israel: o “motor imóvel” de Aristóteles absorveu a personalidade daquele senhor austero, cuja voz
ecoava nos desertos do Velho Testamento, entre as chamas de sarça seca, dizendo de forma enigmática e simples: eu sou o
que sou.
BOTELHO, José Francisco. A odisseia da filosofia: uma breve história do pensamento ocidental. São Paulo: Abril, 2015
Vítimas de violência de gênero têm se amparado cada vez mais na tecnologia como câmeras de celular e redes sociais para
denunciar seus algozes, como a influenciadora Pamella Holanda, que filmou o pai de sua filha, o DJ Ivis, a agredindo, in-
clusive com a filha de 9 meses no colo. Nesta quarta-feira (28) foram divulgadas imagens do ator João Gana, de “Verdades
Secretas 2”, agredindo uma pessoa. Segundo o jornalista Alessandro Lo-Bianco, que publicou o vídeo, a vítima seria uma
ex-namorada do artista.
SOUTO, Luíza. Violência doméstica: vídeos de vítimas podem não ser aceitos como prova. Universa UOL, 29 jul. 2021. Disponível em: https://uol.com.br/
universa/noticias/redacao/2021/07/29/pacote-anticrime-uso-de-imagem-dj-ivis.htm. Acesso em: 15 nov. 2022.
Considerando o texto acima, que é parte de uma notícia, julgue o item a seguir:
O aposto que se segue à vírgula depois de “do ator João Grana” fornece explicação acerca de quem é o ator João Grana.
A afirmativa está certa ou errada? Justifique sua resposta.
Em uma pequena depressão em um solo na cidade de Atenas, na Grécia, um pinheiro retorcido, quase que no formato de
um ponto de interrogação, aponta o local de um mistério de 85 anos, mas que remete a tempos muito mais longínquos.
Em 1930, um grupo de arqueólogos iniciou uma escavação na Ágora, principal mercado público da cidade, e, entre monu-
mentos e outros prédios, encontrou um poço com 450 esqueletos de bebês e centenas de ossadas de cachorros. O grande
número de recém-nascidos intrigou os pesquisadores por décadas. Na última semana, uma pesquisa colocou um ponto final
nesse enigma e ajudou na compreensão sobre a infância e o espaço público na Grécia Helenística.
KAPA, Raphael. Descoberta de 450 bebês em um poço de Atenas evidencia concepção da infância na Grécia Antiga. O Globo, 20 jun. 2015. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/sociedade/historia/descoberta-de-450-bebes-em-um-poco-de-atenas-evidencia-concepcao-da-infancia-na-grecia-antiga-16503923.
Acesso em: 15 nov. 2022.
O significado da palavra “Ágora”, destacada no texto, está sendo esclarecido por meio de um aposto explicativo.
A afirmativa é verdadeira ou falsa? Explique.
Leia a seguir a sinopse do livro It — A coisa, do escritor norte-americano de terror e suspense Stephen King.
Durante as férias escolares de 1958, em Derry, pacata cidadezinha do Maine, Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e
Beverly aprenderam o real sentido da amizade, do amor, da confiança e... do medo. O mais profundo e tenebroso medo.
Naquele verão, eles enfrentaram pela primeira vez a Coisa, um ser sobrenatural e maligno, que deixou terríveis marcas de
sangue em Derry.
Quase trinta anos depois, os amigos voltam a se encontrar. Uma nova onda de terror tomou a pequena cidade. Mike
Hanlon, o único que permanece em Derry, dá o sinal. Precisam unir forças novamente. A Coisa volta a atacar e eles devem
cumprir a promessa selada com sangue que fizeram quando crianças. Só eles têm a chave do enigma. Só eles sabem o que
se esconde nas entranhas de Derry. O tempo é curto, mas somente eles podem vencer a Coisa.
Em It— A Coisa, clássico de Stephen King em nova edição, os amigos irão até o fim, mesmo que isso signifique ultrapassar
os próprios limites.
Disponível em: https://amazon.com.br/coisa-Stephen-King/dp/8560280944. Acesso em: 5 nov. 2021.
...então nesse texto “ o domingo” de (Walter) Campos... a gente poderia trabalhar inicialmente... com aquele aspecto do
vocabulário... só que aqui... num vai ser feita... uma análise detalhada como vocês fizeram no () ... que serão crianças ou
adultos ou jovens... que não terão tantos problemas de vocabulário... como no texto anterior... se bem que vocabulário
deve ser trabalhado da mesma forma... não se esqueçam de trabalhar o vocabulário sempre dentro do contexto... pra que
seja escolhida a acepção que mais couber dentro do contexto.
SANTOS, Flávia A. dos; CABRERA, Lúcia G.; GÓES, Vera L. Retextualização de texto oral.
Anagrama, São Paulo, v. 1, n. 4, p. 11, 2008. Disponível em: https://revistas.usp.br/
anagrama/article/view/35326/38046. Acesso em: 15 nov. 2022.
Imagine que um dos alunos tenha gravado a aula para não se esquecer de nenhuma orientação e, ao chegar em
casa, decidiu transcrever esse trecho para deixá-lo em seu caderno.
Reescreva esse registro com base na sintaxe da escrita, realizando as adaptações necessárias e estabelecendo
as devidas relações de coesão, subordinação e concordância.
[EMI3LPO7|
>. Uece 2015
Observe a ocorrência, no texto, de marcadores temporais: “Até que” (linha 5), “Até que” (linha 16) e “um dia (uma
folha me bateu nos cílios)” (linha 18). Geralmente esses marcadores, chamados de adjuntos adverbiais, aparecem
com mais de um valor semântico. Atente para o que é dito sobre esses marcadores.
Il. O dalinha 5 tem valor semântico de tempo e de consequência.
H. O dalinha 16 é puramente temporal.
Hi. O da linha 18 acrescenta o valor semântico de tempo ao de condição.
Brasil é um dos países que mais subiram o preço do diesel durante a crise, mostra estudo
NUNES, Fernanda; LUNA, Denise. O Estado de S. Paulo, 27 jan. 2021. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/
geral,brasil-e-um-dos-paises-que-mais-subiram-o-preco-do-diesel-durante-a-crise-mostra-estudo,70003596288. Acesso em: 11 nov. 2022.
* Quando o pronome relativo “que” introduz uma oração subordinada adjetiva, o verbo da oração subordinada concor-
da com o termo da oração principal ao qual o pronome se refere.
O
Avião que estava submerso é retirado do Rio Paraná dois dias após
acidente aéreo em Presidente Epitácio
G1,17 abr. 2021. Disponível em: https://g1 .globo.com/sp/presidente-prudente-regiao/noticia/202 1/04/17/aviao-que-estava-submerso-e-retirado-do
-rio-parana-dois-dias-apos-acidente-aereo-em-presidente-epitacio.ghtml. Acesso em: 11 nov. 2022.
O
Com viagens mais caras, como ficam os créditos de quem comprou
passagens e diárias em hotéis antes da pandemia?
COSTA, Jhully. Gaúcha ZH, 8 nov. 2021. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/viagem/noticia/2021/11/com-viagens-mais-caras-
como-ficam-os-creditos-de-quem-comprou-passagens-e-diarias-em-hoteis-antes-da-pandemia-ckvmvk5np009p019m1 4irvyjt.html£:-:text=Assim%2C%20
se%20as%20di%C3%A 1 rias%2 0est%C3 %A30,ter%2 Odireito%2 0a0%20per%C3%ADodo%20completo. Acesso em: 11 nov. 2022.
ON
Diretor da gravadora diz: “sou eu quem trabalho para a Taylor Swift”
NUNES, Caian. POPline, 16 dez. 2021. Disponível em: https://portalpopline.com.br/diretor-da-gravadora-diz-sou-eu-quem-trabalho-para-a-taylor-swift/.
Acesso em: 11 jan. 2022.
“A distribuição de vacinas e o processo de recuperação têm sido um pouco mais lentos no primeiro trimestre do
que alguns de nós esperávamos”, disse Solomon [diretor-presidente da Goldman Sachs].
NATARAJAN, Sridhar. Para presidente global da Goldman Sachs [...]. Exame, 24 fev. 2021. Disponível em: https://exame.com/carreira/para-presidente-global-
do-goldman-sachs-trabalho-remoto-e-aberracao/. Acesso em: 11 jan. 2022.
Os tênis são um estilo de calçado cada vez mais popular na moda e incorporado pelo
Com determinante público geral como um acessório para se usar, também, fora dos ambientes esportivos.
(artigo): verbo no COUTO, Deborah. Esses looks vão te convencer de que o tênis pode ser chique em qualquer época.
plural Purepeople, 5 set. 2019. Disponível em: www.purepeople.com.br/noticia/verao-2020-tenis-em
-12-looks-da-moda-para-voce-se-inspirar-a-usar a27506/1. Acesso em: 11 nov. 2022.
sujeito composto
[Chinae Rússia fazem queixas contra carne e soja do Brasil
vo v y, y
núcleo núcleo verbo predicado verbal
Valor Econômico, 18 abr. 2021. Disponível em: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2021/04/18/
china-e-rssia-fazem-queixas-contra-carne-e-soja-do-brasil.ghtml. Acesso em: 11 nov. 2022.
7
w
E [...] Eu e meu irmão fomos criados dentro desse ambiente de
Verbo no plural incentivo à cultura. No fim, ambos fomos fazer teatro. [...]
(a 1º pessoa prevalece SÉRGIO Mamberti: Doutor Victor formou gerações. Revista Trip, 28 maio 2021.
sobre a 2º, e a 2º sobre a 3º) Disponível em: https://revistatrip.uol.com.br/trip-fm/sergio-mamberti-doutor
-victor-formou-geracoes. Acesso em: 11 nov. 2022.
Ideia de exclusão:
o verbo concorda com o Ou Palmeiras ou Corinthians vencerá o campeonato.
núcleo mais próximo
No primeiro sintagma, o artigo “o” é flexionado no masculino e no singular para concordar com o substantivo “helicóp-
tero”. Isso também ocorre com o adjetivo “pequeno” em relação à palavra “helicóptero”. No segundo sintagma nominal
da oração, tanto o artigo “a” (de + a) quanto o adjetivo “norte-americana” estão no feminino singular, concordando com o
substantivo “agência espacial”.
Os determinantes de um sintagma nominal — artigos, adjetivos, numerais e pronomes — concordam com o substantivo
a que se referem em gênero e número. As ocorrências que causam mais dúvidas, contudo, dizem respeito à concordância
do adjetivo. Na sequência, observe os casos em que há apenas um adjetivo (ou outro determinante) no sintagma nominal
e dois substantivos como núcleos.
* Seos substantivos forem palavras que indicam parentesco, os determinantes devem ser flexionados no plural - e no
feminino, apenas se esse for o gênero dos dois substantivos. Veja o exemplo.
| Subetrtvos | rg | emo
Aos 90 anos, morre a atriz e cantora mexicana Flor Silvestre
Adjetivo no singular ISTOÉ, 28 nov. 2020. Disponível em: https:/istoe.com.br/aos-90-anos-morre-a-atriz-e-
cantora-mexicana-flor-silvestre/. Acesso em: 11 nov. 2022.
Adjetivo no masculino
plural (concordando As poesias e o teatro franceses são importantes para a formação cultural.
com ambos)
Adjetivo concorda em
gênero e número As poesias e o teatro francês são importantes para a formação cultural.
com o mais próximo
7
Gasolina e energia ficaram mais baratas no início de abril, aponta pesquisa.
,
predicativo do sujeito
predicativo do objeto
predicativo do objeto
MRS e pa e ÇA TT
Um importante conceito do Direito é o princípio da concordância, que afirma que a aplicação de uma norma da Constituição
deve ser realizada em conexão com a totalidade das demais normas constitucionais. Ou seja, por meio desse princípio,
entende-se que as normas constitucionais devem ser interpretadas em unidade e de forma harmônica.
verbo ao plural Apesar do esforço, amaioria dos lojistas que conversaram com
ESTE CEO O POVO revelam que a semana foi aquém do esperado na compa-
substantivo que seguea | "ação com a retomada do ano passado.
expressão partitiva) PIMENTEL, Samuel. Primeira semana de retomada do comércio é marcada por
movimento fraco, mas esperado. O Povo, 16 abr. 2021. Disponível em:
https://mais.opovo.com.br/jornal/economia/2021/04/1 6/primeira-semana-de-
retomada-do-comercio-e-marcada-por-movimento-fraco-mas-esperado.html.
Acesso em: 11 nov. 2022.
Cerca de 70%
contribuintes
dos ainda não
RR declararam o Imposto de Renda
com o substantivo ALBUQUERQUE, Beatriz; SANTOS, Leila; ALVES, Adrielen (ed.). Agência Brasil,
que se segue à expressão 5 abr. 2021. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-
nacional/economia/audio/2021-04/cerca-de-70-dos-contribuintes-ainda-nao-
declararam-o-imposto-de-renda. Acesso em: 11 nov. 2022.
O uso do verbo “tem” no lugar de “haver” é frequente na oralidade, mais especificamente em situações em que é comum
um menor controle do uso da língua. Na oração “Tem muitos alunos no laboratório de ciências”, por exemplo, o verbo “tem”
enuncia a presença de muitos alunos no espaço escolar em questão.
Ca oa
São quatro horas da tarde. É uma hora da manhã.
* Verbo “ser” com pronome interrogativo (quem, que), indefinido (tudo) ou demonstrativo (isto, isso, aquilo): concorda
com o predicativo do sujeito. Exemplo:
a
Nem tudo são flores: namoro de Luísa Sonza e Vitão ganha paródia!
y
predicativo do sujeito
Todateen, 13 set. 2020. Disponível em: https://todateen.uol.com.br/nem-tudo-sao-flores-namoro-de-luisa-sonza-e-vitao-ganha-parodia/. Acesso em: 11 nov. 2022.
* Verbo “ser” + sujeito formado por expressões que indicam quantidade, preço, valor e medida no plural: permanece
=
na 3º pessoa do singular. uu
[=
4
uu
Seis quilos é a quantidade necessária para o churrasco. [4
o
Cem reais é barato para esse sapato.
I
* Verbo “ser” + pronome pessoal do caso reto: concor- A história de Tina Turner por ela mesma
da com o pronome. BUTLER, Bethonie. Estadão, 1º abr. 2021. Disponível em: https://
cultura.estadao.com.br/noticias/musica, a-historia-de-tina-turner-por-ela-
UFC: Jennifer Maia quer revanche com Valentina: “Se mesma,70003667899. Acesso em: 11 nov. 2022.
sujeito
) EL “Anexo” e “incluso”
A polícia do gênero também somos nós Tanto “anexo” como “incluso” concordam com os subs-
tantivos que modificam. Na sequência, observe a ocorrência
núcleo do sujeito: singular predicativo do da palavra “anexa” no excerto de um ofício governamental.
sujeito (plural) Senhor Diretor,
CUNHA, Leonam Lucas Nogueira. Carta Capital, 9 abr. 2021. Muito agradeceria os bons ofícios de Vossa Excelência
Disponível em: www.cartacapital.com.br/opiniao/a-policia-do-genero- no sentido de encaminhar ao CMC a anexa correspondência
tambem-somos-nos/. Acesso em: 11 nov. 2022.
a respeito da criação de uma Secretaria para Reunião Espe-
cializada das Mulheres no MERCOSUL, redigida por decisão
Concordância na voz passiva sintética da XXVI REM.
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ofício 2167.
Na gramática normativa, existe a voz passiva sintética Governo Federal, 2 dez. 2010. Disponível em: www.gov.br/mdh/pt-br/
ou pronominal. Observe os exemplos. navegue-por-temas/politicas-para-mulheres/arquivo/assuntos/acoes-
internacionais/Articulacao/articulacao-internacional/mercosul/xxiv-
rem-2013-1-e-2-de-dezembro-de-2010-rio-de-janeiro-brasil/Anexo%20
IV a%20-%200ficio%202167.jpg/view. Acesso em: 17 fev. 2022.
A voz passiva é uma forma verbal usada para indicar que a Já a expressão “em anexo” é invariável, como ocorre
pessoa a que se refere é o objeto da ação verbal, isto é, o em: Os arquivos vão em anexo.
sujeito é paciente, pois é receptor da ação. A voz passiva
pode ser dividida em dois tipos. A voz passiva sintética é “Obrigado”
representada pela estrutura: verbo + se (pronome apas- A expressão “obrigado” concorda com o gênero de
sivador) + sujeito. A voz passiva analítica é representada quem agradece. Observe na capa do filme a seguir que
pela estrutura sujeito paciente + verbo ser (auxiliar) + verbo essa palavra concorda com o gênero do enunciador, que é
no particípio + preposição + agente da passiva.
o protagonista do longa-metragem.
Vendem-se flores. (= flores são vendidas)
Fazem-se bolos de aniversário. (= bolos de aniversário
Reprodução
são feitos)
9 Saiba mais
Em sentenças semelhantes à “Aluga-se quartos para fé-
rias”, muitos linguistas têm considerado a palavra “se”,
nessas orações, um sujeito indeterminado. Em vista disso,
essas construções são aceitas por parte dos especialistas,
que consideram “quartos para férias” como objeto direto
do verbo “alugar” e “se” como agente do verbo transitivo
direto “alugar”. Construções desse tipo são cada vez mais
frequentes no português falado no Brasil, embora ainda
não sejam aceitas pela gramática tradicional.
Sadr
frequentes
“Mesmo” e “próprio”
Veja, nos exemplos a seguir, que as palavras “mesmo”
9/y dt
e “próprio” concordam em número e gênero com a palavra
a que se referem: Tina Turner (ela) e Ashley Benson (ela),
respectivamente.
7
O
Do poeta Eduardo Oliveira o contexto narrado nas histórias apresentadas. Assim, esse
Vislumbrando afirmação no ENEM pode ter sido o objetivo do autor do poema: aproximar-se
Ampliando o horizonte da população brasileira de seu público-alvo.
Contrariando a racista sina Em provas de vestibular e em outras situações mais
Emerge as flores do SLAM INTERESCOLAR formais, é importante fazer uso da concordância padrão,
A partir da raiz e ramos pois, em geral, é o que é solicitado nesses exames. Assim,
De uma árvore na Vila Guilhermina. se o poema fosse produzido em outro contexto mais mo-
João Adão de Oliveira nitorado, o verso “Emerge as flores” teria de ser reescrito
conforme determina a norma-padrão: “Emergem as flores”.
No poema, é possível observar no verso “Emerge as flo-
res no SLAM INTERESCOLAR” que o sujeito (“as flores”) está
no plural, mas o verbo a ele ligado (“emerge”) está no singular.
Essa forma linguística — a não concordância quando o verbo Alguns linguistas definem a concordância como a rela-
antecede o sujeito — tem sido cada vez mais frequente nos ção harmônica entre dois termos: o ativador (o verbo) e
falares e na escrita, sobretudo em situações cotidianas me- o receptor (o sujeito). Assim, segundo a norma-padrão, o
sujeito-receptor deve concordar com o verbo-ativador.
nos controladas, o que aponta para uma variação da língua.
Como esse uso está se tornando mais comum, tal forma
pode ser usada em alguns contextos de forma estilística, ora AS E TUETS
buscando caracterizar o sujeito que enuncia, ora represen-
O Slam é um movimento criado com o intuito de promover
tando um grupo social específico, ora marcando um lugar
encontros entre poetas. Nele, cada slammer (como os
mais informal de fala ou escrita.
poetas são chamados) declama de forma performática seu
Em textos como o poema em questão, a depender do
poema e, ao final, é avaliado por um júri popular. Por esse
objetivo do enunciador, podem ser usadas concordâncias motivo, esses encontros são conhecidos como “batalhas”.
que fogem ao padrão da língua com o intuito de caracterizar
EE
1. Secretaria lança campanha publicitária de Com base no s/ogan da campanha, “Seu corpo, suas
saúde da mulher regras. A primeira delas é a prevenção”, justifique se
“Seu corpo, suas regras. A primeira delas é a pre- a concordância do pronome “delas” está correta ou
venção” é o slogan deste ano, que também estimula o incorreta.
autocuidado 2. Fuvest-SP 2021
O Outubro Rosa, movimento internacional criado no
início da década de 1990, em Nova lorque, surgiu com Romance LIII ou Das Palavras Aéreas,
objetivo de fomentar a conscientização quanto à preven- de Cecília Meireles
ção e ao controle do câncer de mama. Em alusão a esse Ai, palavras, ai, palavras,
movimento, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas
que estranha potência, a vossa!
Gerais (SES-MG) promove todos [os] anos, neste mês,
Ai, palavras, ai, palavras,
uma campanha mais ampla voltada para a saúde integral
sois de vento, ides no vento,
da mulher.
5 no vento que não retorna,
Em 2019, o slogan da campanha publicitária da
e, em tão rápida existência,
SES-MG é “Seu corpo, suas regras. A primeira delas é a
prevenção”. O objetivo é contribuir para que a mulher tudo se forma e transforma!
conheça melhor sobre o seu corpo, além de incentivar o
profissional de saúde para a oferta do cuidado comple- Sois de vento, ides no vento,
to. Pela estratégia, a secretaria aponta como fundamental e quedais, com sorte nova! [...]
para o atendimento a consideração das singularidades das
mulheres, hábitos, contextos sociais e familiares, inde- 10 Ai, palavras, ai, palavras,
pendentemente da cor ou situação em que se encontrem. que estranha potência, a vossa!
Para a campanha deste ano, apresentamos uma visão Perdão podíeis ter sido!
integral sobre a saúde da mulher, estimulando o autocui- — sois madeira que se corta,
dado e recomendando a mudança de hábitos”, ressalta a — sois vinte degraus de escada,
coordenadora de Atenção à Saúde das Mulheres e Crianças 15 — sois um pedaço de corda...
da SES-MG, Daiana de Carvalho Souza. — sois povo pelas janelas,
[...] cortejo, bandeiras, tropa...
Agência Minas, 15 out. 2019. Disponível em:
www.agenciaminas.mg.gov.br/noticia/secretaria-lanca-campanha-
Ai, palavras, ai, palavras,
publicitaria-de-saude-da-mulher. Acesso em: 11 nov. 2022. que estranha potência, a vossa!
GI fa (A LT TOS CS
facilidade que vira pedreira ali na esquina. Mas também Analise as formas verbais desse diálogo, cuja lingua-
pode ser que, ao contrário, escondam as delícias mais gem reflete a informalidade da situação experimentada
inebriantes sob uma casca dura e espinhenta. Dito assim, pelos interlocutores.
as palavras soam como as pessoas, o que não está longe a) Reescreva adequadamente as formas verbais
da verdade. Como nas relações humanas, seu mundo é
que estão em desacordo com as regras sintáti-
atravessado por uma rede de simpatias e antipatias que
cas de concordância sujeito e verbo, prescritas na
precede o sentido e, em certa medida, sobrevive a ele.
norma culta da língua portuguesa.
Isso ocorre porque, ao nos relacionarmos com as palavras,
b) Transcreva do texto as formas verbais emprega-
usamos reservas — cognitivas, emocionais e intuitivas — que
das para indicar ideia de ação futura.
vão muito além da razão. Que envolvem, por assim dizer,
o corpo todo. Como poderia ser diferente? Na história do - UFPE 2015 Conforme as regras da concordância
desenvolvimento de cada um de nós, o aprendizado da verbal, a alternativa em que o enunciado está correta-
linguagem coincidiu de forma perfeita com o aprendizado mente redigido é:
de simplesmente... ser. O que nos diz nossa intuição so- a) Poderiam haver outros sinais de que estamos mais
bre a palavra “pulcritude”, por exemplo? Boa coisa não conscientes da necessidade de cuidar do meio
é. Além de pernóstica, de sentido inacessível aos mortais ambiente.
comuns sem a ajuda de um bom dicionário, a palavra b) Outros sinais existe de que estamos mais conscien-
exala um mau cheiro — vamos ser francos — entre o poei- tes da necessidade de cuidar do meio ambiente.
rento e o azedo. No entanto, a feiosa pulcritude, com seu
c) Que outros sinais haveriam de que estamos mais
bafo rançoso e sua verruga do tamanho de uma jabuticaba
conscientes da necessidade de cuidar do meio
no nariz, quer dizer nada menos que beleza, formosura.
ambiente?
Pode? No mundo das palavras, pode. O potencial literário
dj) Que outros sinais haveriam de ter surgido com re-
da aura das palavras é óbvio: em grande parte, escrever é
lação ao fato de que estamos mais conscientes da
tirar proveito desses ecos e fantasmas, sem esquecer, claro,
necessidade de cuidar do meio ambiente?
os sentidos literais.
e) Foi mostrado amplamente alguns sinais de que es-
(Adaptado de: RODRIGUES, Sérgio. São Paulo: Folha de S. Paulo.
02/10/2020) tamos mais conscientes da necessidade de cuidar
do meio ambiente.
As formas verbais cumprem as normas de concordân-
cia na frase: UFPI 2014
a) Não cabem aos escritores decidir soberanamente
quais palavras devem ser consideradas belas ou
Analfabetismo: dez anos depois, não saímos
feias. do lugar. Pesquisa revela que estamos
b) Costumam ser comuns, nos textos literários, que estacionados no mesmo patamar desde 2002:
os nomes empregados sejam atraentes já por sua apenas um em cada quatro brasileiros está
musicalidade. plenamente alfabetizado -
uu
c) Há palavras nas quais se reconhece, para além Nos últimos tempos, o acesso à Educação cresceu, [m
z
uu
do sentido próprio, efeitos que decorrem de sua mas, a despeito dessa boa notícia, a qualidade do en- [02
o
sonoridade. sino não melhorou. Há uma década, a porcentagem de
cidadãos considerados plenamente alfabetizados perma- d) pode ficar mesmo no singular, concordando com
nece inalterada: 26%, segundo o Indicador de Alfabetismo o núcleo do sujeito posposto “inalterada”.
Funcional (Inaf), realizado pelo Instituto Paulo Montenegro e) deve concordar com a palavra “inalterada”, fican-
e pela ONG Ação Educativa, em São Paulo. O levanta- do, neste caso, no singular.
mento avalia, por meio de uma prova, as habilidades de
leitura, escrita e Matemática da população entre 15 e Urca-CE 2017 Marque a alternativa em que a concordân-
10 64 anos. A classificação prevê quatro níveis: analfabetis- cia verbal não se encontra de acordo com a norma culta:
mo, alfabetismo rudimentar, básico e pleno. Os resultados a) Tudo são boatos, nada parecem fatos verdadeiros.
divulgados em 2012 também revelam boas (embora discre- b) A cama do pedinte eram folhas de jornal.
tas) notícias, como a queda de 39% para 27% do número c) Minha mãe é muitas coisas lá em casa.
de analfabetos funcionais — categoria que reúne os níveis d) Agora deve ser três horas.
15 analfabeto e alfabetismo rudimentar. e) Orepórter é os olhos e os ouvidos da população.
Ao analisar a fundo esses dois cenários — a estagnação
de uma categoria e o decréscimo de outra —, é possível Urca-CE 2016 Das alternativas a seguir, a que apre-
afirmar que estamos fazendo a lição de casa pela metade. senta concordância verbal CORRETA é:
“Com a ampliação do acesso à escola, damos às pessoas a a) Devem haver soluções para salvar o país.
20 possibilidade de sair da condição de analfabetismo e chegar b) Existia ainda duas soluções para salvar o país.
ao nível básico, mas não garantimos os meios para que elas c) Não haviam mais esperanças de salvar o país.
atinjam o patamar pleno de alfabetização. Só a qualidade d) Não pode existir meios capazes de salvar o país.
do ensino pode impulsionar esse salto”, diz Ana Lúcia Lima, e) Há de haver esperança de salvar o país.
diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro.
Uniceub-DF 2020 Leia o trecho do romance Menino
25 A previsão para o futuro não é animadora. Os resul-
de engenho, de José Lins do Rego, para responder à
tados do Inaf indicam que, se continuarmos com as atuais
questão a seguir.
políticas públicas de Educação, não vamos avançar: não
poderemos contar com o boom nas matrículas de anos A velha Totonha de quando em vez batia no engenho.
atrás, que ajudou a mudar os dados. E era um acontecimento para a meninada. Ela vivia de
30 Para erradicar o analfabetismo absoluto nos pró- contar histórias de Trancoso. Pequenina e toda engelhada,
ximos dez anos, reduzir pela metade o número de tão leve que uma ventania poderia carregá-la, andava
analfabetos funcionais (como prevê o Plano Nacional léguas e léguas a pé, de engenho a engenho, como uma
de Educação — PNE, ainda em tramitação no Congresso edição viva das Mil e uma noites. Que talento ela possuía
Nacional) e garantir que mais gente alcance o nível ple- para contar as suas histórias, com um jeito admirável de
35 no, é preciso melhorar a qualidade do ensino regular e falar em nome de todos os personagens! Sem nem um
dar atenção à Educação de Jovens e Adultos (EJA). Essa dente na boca, e com uma voz que dava todos os tons
modalidade é a chance para quem não pode estudar às palavras.
e segue puxando o Inaf para baixo. Uma década sem Menino de engenho, 2000.
alfabetizar de verdade.
Trancoso: escritor português do século XVI.
engelhada: enrugada.
É ATAXADE CRESCIMENTO
ENTRE Dó PLENAMENTE
Está em conformidade com as regras de concordân-
ALIABETILADOS. O Cito
PLRMAMEÇE EM Dj's
cia da norma-padrão da língua portuguesa a seguinte
frase escrita a partir do texto:
a) As histórias de Trancoso que Totonha costumava
contar à meninada causava comoção.
b) Eram possíveis perceber o quanto os garotos
gostavam dela e a recebiam com carinho.
c) Seu modo de narrar tinha um colorido todo espe-
cial de que se revestiam as palavras.
d) Era natural que seu modo peculiar de contar as
Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/
analfabetismo-dez-anos-depois-nao-saimos-lugar-697865.shtml. histórias despertassem nos garotos curiosidade.
Acesso em: 27 mar. 2014 (com supressões). e) Detentor de um vasto repertório de histórias, a
velha Totonha divertia os meninos do engenho.
Em “a porcentagem de cidadãos considerados plena-
mente alfabetizados permanece inalterada” (linhas 3 Unemat-MT 2019
a 5), o verbo “permanecer”, quanto à concordância:
a) deve ficar mesmo no singular, concordando com
Brasil registra 40 mil casos de intoxicação
o núcleo do sujeito “porcentagem”. por agrotóxicos em uma década
b) pode concordar também com a palavra “cida- No Paraná, estado com maior número de casos rela-
dãos”, ficando, neste caso, no plural. tados, comunidades se organizam para tentar se livrar dos
c) deve concordar com a palavra “cidadãos”, ficando, efeitos dos venenos. Uma das opções é 'corOna verde”.
neste caso, no plural. O agrotóxico é uma ferramenta de trabalho comum na
60 tada podem ter filhos com idade para terem seus próprios
Uma hipótese extraordinária, pelo menos para as pes- filhos. Então estão por aí os primeiros netos da internet.
soas com mais de 20 anos, está sendo colocada de pé por É tolo pensar que todo o enorme poder computacional à
linguistas de universidades dos Estados Unidos, da Rússia, disposição deles será usado para preservar preconceitos
Canadá e Austrália. Esses estudiosos estão propondo, em de comportamento e normas de linguagem prescritas por
resumo, que as mensagens trocadas pela rapaziada no 65 um bando de burocratas do século XVII”. Sua conclusão,
Twitter e em outros canais de conversa via internet estão porém, não é sombria para quem não vê essas mudanças
lançando as bases de uma linguagem mais eficiente para com o mesmo otimismo. A professora diz que não se deve
transmitir ideias e emoções do que aquela que o resto de encarar as linguagens como livros sagrados, mas como
nós considera as formas cultas de comunicação. “É dms é “espaços para inovação e convivência, espaços para di-
10 isso mesmo com ctz mesmo que ngm acredite não é brinks 70 versão e criatividade linguísticas, onde, gloriosamente,
xoxo”. Traduzindo a frase acima, apenas uma caricatura todos possam se expressar”. Que do caos nasça a luz. [...]
criada para efeito ilustrativo do fenômeno no Brasil: “É Adaptado de: ALCÂNTARA, Eurípedes. O idioma dos “netos da internet.
Jornal O Globo. Disponível em: https://oglobo.globo.com/opiniao/
demais. É isso mesmo, com certeza, mesmo que ninguém oidioma-dos-netos-da-internet-24082383. Acesso em: 06 jan. 2020
acredite. Não é brincadeira. Beijos e abraços”.
15 Os linguistas acreditam não haver nisso uma regres- 12. UFC-CE 2020 Assinale a alternativa que reescreve,
são primal simplificadora, mas uma saudável revolução conforme a norma gramatical, o trecho grifado em
capaz de comunicar ideias abstratas e complexas. É bom, “como uma língua cifrada, entremeada de sinais e
portanto, nos interessarmos pelo uso dessas abreviaturas sem pontuação para delimitar pausas pode ser uma
e dos emojis, imagens com sinais de positivo, negativo, revolução... (linhas 25-27)
20 palmas, risos, lágrimas e suas combinações capazes de a) Como línguas cifradas que entremeiam sinais.
produzir ainda outros significados. Emoji é uma palavra b) Como uma língua cifrada que entremie sinais.
composta por dois ideogramas japoneses — imagem e c) Como uma língua cifrada que entremea sinais.
letra. O leitor não familiarizado com essa nova forma de d) Como uma língua cifrada que entremiou sinais.
expressão deve, a essa altura, estar lo/ (do inglês, “laughing e) Como línguas cifradas que entremeiavam sinais.
25 out loud” ou “gargalhando”). Lol com razão, pois como
uma língua cifrada, entremeada de sinais e sem pontua- 13. UFC-CE 2020 Sobre o trecho “grandes e profundas
ção para delimitar pausas pode ser uma revolução, uma transformações históricas pelas quais passaram os
abrupta ruptura com o passado e vinda para ficar? Bem, idiomas falados hoje no mundo” (linhas 36-38), é cor-
as obras da literatura grega clássica, base da civilização reto afirmar que o verbo está no plural, porque:
30 ocidental, foram escritas sem pontuação ou espaço entre a) concorda com “transformações”.
as palavras. “Unir razão e emoção na dose exata em fra- b) tem como sujeito o pronome “quais”.
ses curtas é uma conquista enorme da vida on-line”, diz c) o sujeito é indeterminado e genérico.
Tyler Schnoebelen, linguista e cientista de dados de São d) concorda com o sujeito plural posposto.
Francisco, nos Estados Unidos. e) concorda com a ideia plural de “mundo”.
A forma feminina do adjetivo “restrita” se justifica por: A questão 17 refere-se ao texto O perdão custa
a) concordar com “linguagem”. caro, de Fabrício Carpinejar, publicado no jornal
b) referir-se a “liberação da mulher”. Zero Hora, no dia 20 de março de 2015, disponível
c) concordar com “Humanidade”. no site www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?
d) referir-se ao termo “política”. uf=1&local=1&source=a4727920.xmi&template =3916.
e) relacionar-se a “última conquista”. dwt&edition=26355§ion=1026.
15. PUC-RS 2022 O trecho de reportagem a seguir é re- Qualquer criança confessa. Ou pela pressão da ver-
ferência para a próxima questão. dade ou pela ameaça das informações desencontradas.
A confissão não expressa maturidade. Tem que ser
[...]
Esta revolução feminina que todo o planeta abraça, adulto mesmo para arcar com as consequências de seus
até os rincões mais hostis à mulher, ainda é um paradoxo.
atos e pagar a pena (que leva em conta a mentira e também
o tempo que manteve a mentira).
É assim neste Brasil-continente, onde, além disso, a maio-
ria das mulheres não é branca. Se por um lado se trata do Diante da quebra de lealdade no relacionamento, a
quinto país do mundo com maior número de feminicídios, sinceridade do arrependimento depende da contundência
também é verdade que nele aparecem hoje, mais visíveis da mudança e rápida e emocionada disponibilidade para a
do que nunca, e mais que em muitos outros lugares, a 10 retratação. Não pode haver vacilação e dúvida. Rompe-se
luta da mulher e seus movimentos de liberação. Há no radicalmente com o que trazia dor e duplicidade,
Brasil coletivos femininos em escolas públicas da periferia recusam-se barganha e atenuantes, é deixar uma vida para
e nas escolas para ricos nos bairros centrais. Na Grande trás e nascer de novo. Exige uma combinação enérgica de
São Paulo, a maior cidade da América Latina, começaram resistência emocional e determinação, para provar que
a ser vistos cartazes que incitam a denunciar a violência 15 nada se repetirá.
contra a mulher. E a mulher começa a estar presente em Pois se mostrar arrependido é diferente de cumprir o
arrependimento. =
todas as instituições do Estado e em todos os meios de o
[=
comunicação. O primeiro é um estado provisório, que pode ser da boca 4
uu
Disponível em: http:/Avashingtonpamplona.com.br/o-mundo-das- para fora, provocado pelo medo de perder alguém. Uma [eq
o
mulheres-tem-que-fazer-a-revolução-da-linguagem/. Acesso em: 10/08/21. 20 promessa, simplesmente, acalmando os ânimos acirrados.
o
O segundo é um processo de resiliência, definitivo, a revolução de uma realidade hostil a certo grupo ou clas-
para resgatar a igualdade e cicatrizar a confiança daquele se social. Constroem uma identidade para a defesa de
que se magoou. É quando transformamos a dívida em res- seus interesses, sejam eles a luta por um algum ideal ou
ponsabilidade, quando transformamos o castigo em justiça, o questionamento de uma realidade que se caracterize
25 quando aceitamos repor as perdas e recuperar o direito como impeditivo à realização de seus anseios. Tornam-se
de falar. Alinha-se a consciência novamente ao discurso. porta-vozes de um grupo de pessoas que se encontra numa
Amadurecimento é corrigir o que foi feito de errado mesma situação, seja social, econômica, política, religiosa,
pela dedicação, pelo trabalho, dar o exemplo de integri- entre outras. Gianfranco Pasquino, em sua contribuição ao
dade em sequência, sem jamais desistir. Com humildade, Dicionário de Política (2004), organizado por ele, Norberto
30 aguentar a desconfiança e a suspeita de quem feriu. Não Bobbio e Nicolau Mateucci, afirma (2) que os movimentos
desfrutará de meias-palavras, nem de um silêncio agradá- sociais constituem tentativas — pautadas em valores co-
vel: é o caso de se apresentar transparente na intenção e muns àqueles que compõem o grupo — de definir formas
didático nos pensamentos. de ação social para se alcançar determinados resultados.
Por um longo período, você que errou passará a ser o Por outro lado, conforme aponta Alain Touraine, na
35 único a confiar em si, e não conhecerá dias leves. Estará obra Em defesa da Sociologia (1976), para se compreender
em desvantagem nas conversas, precisará prestar satisfa- os movimentos sociais, mais do que pensar em valores
ções e confirmar horários. A reincidência estará sorrindo e crenças comuns para a ação social coletiva, seria ne-
à sua frente quando chora e se contorce de culpa. Terá cessário considerar as estruturas sociais nas quais os
vontade de retornar ao que era, onde mentia, fazia o que movimentos se manifestam. Cada sociedade ou estrutura
40 queria e não devia nada a ninguém. social teriam (5) como cenário um contexto histórico (ou
Pedir desculpa é fácil e indolor, diria que é um suspiro historicidades) no qual, assim como também apontava
letrado, mas carregar “eu errei” todo o dia nas costas que Karl Marx, estaria posto um conflito entre classes, terreno
é árduo e tarefa para fortes. das relações sociais, a depender dos modelos culturais,
Tudo pode ser consertado. Tudo. Desde que se en políticos e sociais. Assim, os movimentos sociais fariam
45 tenda que desculpa é para crianças, e reabilitação é para explodir os conflitos já postos pela estrutura social (gera-
adultos. Será obrigado a crescer. dora por si só da contradição entre as classes), sendo uma
ferramenta fundamental para a ação com fins de interven-
17. Ulbra-RS 2015 Tendo em vista o fragmento destaca-
ção e mudança dessa estrutura.
do, leia as afirmações a seguir e assinale a alternativa Dessa forma, para além das instituições democráticas
correta. como os partidos, as eleições e o parlamento, a existência
Por um longo período, você que errou passará a ser o dos movimentos sociais é (4) de fundamental importância
único a confiar em si, e não conhecerá dias leves. (|. 34-35) para a sociedade civil enquanto meio de manifestação
e reivindicação. Podemos citar como alguns exemplos
|. “Por um longo período” constitui-se no adjunto
de movimentos: o da causa operária, o movimento ne-
adverbial.
gro (contra racismo e segregação racial), o movimento
IH. “você que errou” pode ser substituído por “tu que
estudantil, o movimento de trabalhadores do campo, o
errou” sem alterar a concordância verbal.
movimento feminista, os movimentos ambientalistas, os
ll. Os verbos “passará” e “conhecerá” estão conju-
da luta contra a homofobia, os separatistas, os movimentos
gados na terceira pessoa do singular, no futuro do marxista, socialista, comunista, entre outros. Alguns desses
presente do modo indicativo. movimentos possuem atuação centralizada em algumas
IV. O termo “você” é o sujeito indeterminado do pe- regiões (como no caso de movimentos separatistas na
ríodo destacado. Europa). Outros, porém, com a expansão do processo de
V. A expressão “que errou” constitui-se na oração globalização (tanto do ponto de vista econômico como
subordinada substantiva objetiva direta. cultural) e a disseminação de meios de comunicação e
Está(ão) correta(s): veiculação da informação, rompem fronteiras geográficas
a) LlleV. em razão da natureza de suas causas, ganhando adeptos
por todo o mundo, a exemplo do Greenpeace, movimento
b) llelv.
ambientalista de forte atuação internacional.
c) lelll.
A existência de um movimento social requer uma
d) Somente a V.
organização muito bem desenvolvida, o que demanda a
e) LILILIVev.
mobilização de recursos e pessoas muito engajadas (3).
18. IFPE 2019 Os movimentos sociais não se limitam a manifestações
públicas esporádicas, mas trata-se de organizações que
Movimentos sociais: breve definição sistematicamente atuam para alcançar seus objetivos po-
Em linhas gerais, o conceito de movimento social se refe- líticos, o que significa haver uma luta constante e de longo
re à ação coletiva de um grupo organizado que objetiva prazo, dependendo da natureza da causa. Em outras pala-
alcançar mudanças sociais por meio do embate políti- vras, os movimentos sociais possuem uma ação organizada
co, conforme seus valores e ideologias, dentro de uma de caráter permanente por uma determinada bandeira.
determinada sociedade e de um contexto específicos, RIBEIRO, Paulo Silvino. Movimentos sociais: breve definição. Brasil
Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/
permeados por tensões sociais (1). Os movimentos so- movimentos-sociais-breve-definicao.htm. Acesso em: 22 set. 2018
ciais podem objetivar a mudança, a transição ou mesmo (adaptado).
no HOTEL LIMA, Jorge de. Poesia completa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1980. v. 1. p. 135-6.
MOLHADO E Em Credo, o poeta muda o tratamento do “Pai Nos-
OU Em TRAJES so”, normalmente apresentado na segunda pessoa do
plural, para a segunda pessoa do singular.
DE BANHO. Se voltarmos a segunda pessoa do plural, as formas
em negrito no poema passariam a ser, nessa ordem,
grafadas assim:
a) “estais”, “destes”, “tuas”, “teus”, “fazeis” e “procurais”.
b) “estai”, “destes”, “vossas”, “vossos”, “façais” e
“procurais”.
c) “estais”, “destes”, “vossas”, “vossos”, “fazei” e
“procurai”.
d) “estais”, “destes”, “vossas”, “vossos”, “fazeis” e
Observando o aviso, é possível constatar duas “procurais”.
ocorrências linguísticas (uma ligada à transgressão
PUC-Campinas 2018 (Adapt.) A frase que está em
gramatical e outra ligada à semântica). Essas ocorrên-
concordância com a norma-padrão da língua é:
cias são respectivamente de:
a) Deviam haver, naquele tempo, uns três ou quatro
a) concordância nominal e ambiguidade.
canais, restrito a uma programação de cinco ou
b) concordância verbal e ambiguidade.
seis horas por dia, que passaria, mais tarde a ocupar
c) flexão de gênero e polissemia.
24 horas.
d) ortografia e redundância.
b) Tendo surgido o celular, o que não tardou foram
e) regência verbal e léxico.
as mudanças de hábitos, entre eles, bastante no-
ESPM-SP 2017 Assinale a opção em que há uma tável, a falta de discrição com que as pessoas
transgressão às normas de concordância (nominal conversam, em alta voz, em espaços públicos.
ou verbal): c) Muitos jovens que não crêm que existiu um
a) Já passava do meio-dia e meia, quando muitas mundo sem TV, dificimente acreditarão que os
competições
já tinham sido iniciadas. celulares podem um dia não existirem.
b) Valor de bens de candidatos à Prefeitura da Capi- d) Seja quais forem as formas de entretenimento
tal superam o declarado à Justiça Eleitoral. que a TV propicia, todas, possivelmente sem ex-
c) Segundo a defesa, é necessário existência de cri- cessão, têm audiência garantida, o que mantém a
me de responsabilidade. publicidade que paga os custos da programação.
d) Fizeram críticas meio exageradas ao desempe- e) Sejovens se entreterem com filmes de qualidade,
nho da política externa. existe grandes possibilidades que venham a se
e) Após confrontos, uso de “burquíni”, mistura de interessar por outras formas de arte.
burca com biquíni, é proibido em 12 cidades
Univag-MT 2018 Assinale a alternativa em que a con-
francesas.
cordância está de acordo com a norma-padrão da
Unicentro-PR 2019 língua portuguesa.
a) Há meios para deixar a sociabilidade mais fácil
Credo
àquelas pessoas que as consideram difícil.
“Padre Nosso que estás no Céu,” b) Algumas pessoas têm dificuldade em agir com
perdi meu Credo que tu me deste. naturalidade quando se encontram em grupo.
Eu era menino: Creio em Deus Padre... c) Tanto a solidão como a diabetes são problemas
Que força me dava a tua oração! que devem ser combatido com políticas públicas.
Santa Maria, mãe de Jesus, d) Entre os fatores que favorece a criatividade está a
perdi as armas que Deus me deu! introspecção, ainda que seja temporária.
“Padre Nosso que estás no Céu,” e) Dizem que a solidão ocasional é necessário para
santificado seja teu nome, que se desenvolva uma autoconsciência sadia.
28. UFGD-MS 2019 Assinale a alternativa com as pala- Uma nova formulação do trecho “há quem morra por
vras que preenchem correta e respectivamente as muito ter comido durante a vida toda”, em conformida-
lacunas no período a seguir. de com a norma-padrão da língua, está em:
alguns dias, nesse local obras de arte a) Existe aqueles que morrem por que comem muito
valiosas. Hoje, só escombros de um incên- durante a vida toda.
dio que chocou a todos. b) Existem aqueles que morre porque come muito
a) Fazem, haviam, existe durante a vida toda.
b) Fazem, havia, existe c) Existe aqueles que morre porque come muito du-
c) Fazem, haviam, existem rante a vida toda.
d) Faz, haviam, existe d) Existem aqueles que morrem porque comem mui-
e) Faz, havia, existem to durante a vida toda.
e) Existem aqueles que morrem por que comem
29. UFRR 2020 A exemplo da frase “Fazia horas que
muito durante a vida toda.
procuravam uma sombra”, assinale a opção que apre-
senta concordância verbal semelhante de acordo 32. Unifesp 2019 Para responder à questão, leia o trecho
com a norma culta. do livro Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre.
a) Eles hão de fazer o que eu pedi.
Mas a casa-grande patriarcal não foi apenas fortaleza,
b) Choveram pedidos de ingressos para o show.
capela, escola, oficina, santa casa, harém, convento de
c) Faremos um recital de poesia na próxima sexta-
moças, hospedaria. Desempenhou outra função impor-
-feira.
tante na economia brasileira: foi também banco. Dentro
d) Houve problemas no caminho e não chegamos
das suas grossas paredes, debaixo dos tijolos ou mo-
a tempo.
saicos, no chão, enterrava-se dinheiro, guardavam-se
e) Recuperaram o tempo perdido ao encontrar o
joias, ouro, valores. Às vezes guardavam-se joias nas
ente querido.
capelas, enfeitando os santos. Daí Nossas Senhoras
30. ESPM-SP 2016 Em uma das opções a seguir, o verbo sobrecarregadas à baiana de teteias, balangandãs, co-
HAVER é impessoal e, por isso, não deveria estar no rações, cavalinhos, cachorrinhos e correntes de ouro. Os
plural. Assinale-a: ladrões, naqueles tempos piedosos, raramente ousavam
a) Traficantes da Favela do Alemão haviam orde- entrar nas capelas e roubar os santos. É verdade que um
nado o fechamento do comércio local, como roubou o esplendor e outras joias de São Benedito; mas
represália à morte de um deles. sob o pretexto, ponderável para a época, de que “negro
b) Por haverem patrimônio ilegal, muitos políticos foram não devia ter luxo”. Com efeito, chegou a proibir-se,
indiciados na investigação da Operação Lava Jato. nos tempos coloniais, o uso de “ornatos de algum luxo”
c) Até aqueles que estiveram envolvidos em tráfico pelos negros.
de influência se haverão com a Polícia Federal. Por segurança e precaução contra os corsá-
d) Em início de temporada, times grandes da Capital rios, contra os excessos demagógicos, contra as
não se houveram bem nos jogos da última rodada.
tendências comunistas dos indígenas e dos afri-
e) Em São Paulo e no Rio, houveram casos de po-
canos, os grandes proprietários, nos seus zelos
liciais espancados por jovens mascarados nos
exagerados de privativismo, enterraram dentro de
protestos de rua.
casa as joias e o ouro do mesmo modo que os mor-
31. Humanitas-SP 2019 Leia o trecho do romance de tos queridos. Os dois fortes motivos das casas-grandes
José Saramago para responder à questão. acabarem sempre mal-assombradas com cadeiras de ba-
lanço se balançando sozinhas sobre tijolos soltos que
No geral do ano há quem morra por muito ter co-
mido durante a vida toda, razão por que se repetem os de manhã ninguém encontra; com barulho de pratos
acidentes apoplécticos [...]. Mas não falta, por isso mesmo e copos batendo de noite nos aparadores; com almas
falecendo mais facilmente, quem morra por ter comido de senhores de engenho aparecendo aos parentes ou
pouco durante toda a vida, ou o que dela resistiu a um mesmo estranhos pedindo padres-nossos, ave-marias,
triste passadio de sardinha e arroz, mais a alface que deu gemendo lamentações, indicando lugares com botijas
a alcunha aos moradores, e carne quando faz anos sua de dinheiro. Às vezes dinheiro dos outros, de que os se-
majestade. [...] Mas esta cidade, mais que todas, é uma nhores ilicitamente se haviam apoderado. Dinheiro que
boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso compadres, viúvas e até escravos lhes tinham entregue
para o outro [...). para guardar. Sucedeu muita dessa gente ficar sem os
Memorial do convento, 1995. seus valores e acabar na miséria devido à esperteza ou à
morte súbita do depositário. Houve senhores sem escrú-
acidentes apoplécticos: acidentes vasculares. pulos que, aceitando valores para guardar, fingiram-se
passadio: refeição simples e habitual. depois de estranhos e desentendidos: “Você está maluco?
sobejo: farto.
Deu-me lá alguma cousa para guardar?”
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dade objetiva de pôr em prática os processos necessários para alcançar objetivos pessoais, profissionais e empresariais.
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(www.vencer.com.br, acesso em 12/07/2019).
No segmento: “de ter a vida que sempre sonhou”, no final do texto, percebe-se uma inadequação gramatical, do
mesmo tipo da que ocorre em:
a) O afrouxamento das leis de trânsito implica em mais responsabilidade dos motoristas.
b) A maneira por que falava era tão doce, tão encantadora que mantinha todos como que hipnotizados.
c) Afloresta, os animais, tudo lhe traziam recordações dolorosas do acidente que sofrera a poucos meses.
d) Há inúmeras situações de vida que nos moldam o caráter; mas a mim quem ensinou a ética foi meus pais.
34. UEL-PR 2019 Leia o fragmento, a seguir, retirado do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto, e responda à questão.
Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pleno Campo de Sant'Ana, no meio da multidão que jorrava das
portas da Catedral, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar. A sua sensação era que estava numa cidade estranha.
No subúrbio tinha os seus ódios e os seus amores; no subúrbio, tinha os seus companheiros, e a sua fama de violeiro per-
corria todo ele, e, em qualquer parte, era apontado; no subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem Cassi Jones de
Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de Sant'Ana para baixo, o que era ele? Não era nada. Onde acabavam os trilhos
da Central, acabava a sua fama e o seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-se, e representava-se a si mesmo como
esmagado por aqueles “caras” todos, que nem o olhavam. [...]
Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua inferioridade de inteligência, de educação; a sua rusticidade, diante
daqueles rapazes a conversar sobre cousas de que ele não entendia e a trocar pilhérias; em face da sofreguidão com que
liam os placards dos jornais, tratando de assuntos cuja importância ele não avaliava, Cassi vexava-se de não suportar a
leitura; comparando o desembaraço com que os fregueses pediam bebidas variadas e esquisitas, lembrava-se que nem
mesmo o nome delas sabia pronunciar; olhando aquelas senhoras e moças que lhe pareciam rainhas e princesas, tal e
qual o bárbaro que viu, no Senado de Roma, só reis, sentia-se humilde; enfim, todo aquele conjunto de coisas finas, de =
uu
atitudes apuradas, de hábitos de polidez e urbanidade, de franqueza no gastar, reduziam-lhe a personalidade de medíocre [=
4
uu
suburbano, de vagabundo doméstico, a quase cousa alguma. [4
o
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Garnier, 1990. p. 130-131.
9
u
Em relação aos recursos linguísticos presentes no texto, assinale a alternativa correta.
a) Em “ele percebia toda a sua inferioridade de inteligência, de educação; a sua rusticidade”, o ponto e vírgula é
usado para enumeração dos complementos do termo “inferioridade”.
b) No trecho “e, em qualquer parte, era apontado”, a palavra “apontado” está no masculino para concordar com
“subúrbio”.
c) No fragmento “Onde acabavam os trilhos da Central”, o verbo está no plural para concordar com seu comple-
mento “trilhos”.
d) Em “acabava a sua fama e o seu valimento”, o verbo está no singular para concordar com o sujeito “Campo de
SantAna”.
e) Em “tinha os seus companheiros, e a sua fama de violeiro”, a vírgula é utilizada para separar sujeitos diferentes.
IFNMG 2017 Uma vez pregada a existência de um pensamento e uma interpretação únicos, no entanto, para que
serviriam o diálogo e o confronto sadio de interpretações?
Ao observar a regra de concordância entre adjetivo e substantivo, sobre o trecho anterior, pode-se afirmar que:
a) trata-se de um caso facultativo de concordância. Nesse caso, poderia ser a concordância com os substantivos englo-
bados (pensamento e interpretação), ou com o núcleo mais próximo (interpretação).
b) há erro de concordância no trecho, uma vez que o adjetivo destacado deveria ser “única”, para concordar com
“uma interpretação”.
c) trata-se de caso de adjetivo posposto a substantivo. Conforme a gramática normativa, quando o adjetivo se
refere a dois substantivos de mesmo gênero, o adjetivo fica sempre no masculino e plural.
d) há erro de concordância no trecho, uma vez que o adjetivo destacado deveria ser “únicas” para concordar
com o núcleo mais próximo (Interpretação) e plural, porque também se refere a “pensamento”.
. Acafe-SC 2017 Assinale a frase em que o(s) verbo(s) concorda(m) com o sujeito em pessoa e número.
a) Assim que se concluiu a apuração dos votos, verificou-se que 2/3 do eleitorado votaram em branco ou anularam
o voto.
b) Com toda certeza, algumas coisas erradas haviam, sobretudo diante de algumas indagações que se fazia diante
dos resultados inesperados.
c) Para diversas obras importantes em Santa Catarina destinou-se recursos no próximo orçamento, mas penso que
os recursos não deve chegar a tempo de serem concluídas no até 2018.
d) Não se faz mais brincadeiras como no meu tempo de guri; hoje em dia, o que mais se vê é crianças trancadas em
casa brincando de videogame, acessando smartphone ou vendo TV.
Texto complementar
Concordância zero
Pesquisas recentes têm verificado que a falta de cumprimento às regras de concordância (e não só a elas) da gramática tradicional parece decorrer
do próprio funcionamento da língua e dos processos cognitivos envolvidos no uso que o falante pratica.
Um desses estudos é de Flávia Orci Fernandes, doutoranda em linguística na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que se dedica
desde 2013 a descrever e analisar a história da concordância especificamente em sentenças adjetivas (ou relativas) do português brasileiro — que são,
grosso modo, orações equivalentes a adjetivos.
Sujeito representado por um nome próprio no plural, Os Estados Unidos aplicam 121,4 milhões
o verbo fica no plural. de doses de vacinas contra a covid-19.
Em orações com verbo impessoal, o verbo Há no Brasil mais de 212 milhões de habitantes.
fica sempre na 32 pessoa do singular. Faz mais de trinta anos da redemocratização do Brasil.
Concordância com o pronome apassivador “se”. Definiram-se critérios para avaliação do candidato.
9
md
Casos de concordância Exemplos
Quando posposto a sujeito composto, o adjetivo irá para o plural. O texto e a ortografia estão adequados.
Nas expressões “é necessário”, “é proibido”, “é bom” e equivalentes: A venda de bebida alcoólica é proibida neste local.
quando o sujeito não estiver determinado, a expressão deve ficar, Os reparos são necessários para impedir o fechamento
preferencialmente, invariável. do estabelecimento.
Filme Livro
Doze homens e uma sentença. Direção: Sidney Lumet ,1957. Como chegar ao sim: a negociação de acordos sem con-
Doze membros do júri estão reunidos em uma sala e cessões, de Bruce Patton; William Ury; Roger Fischer.
devem entrar em concordância sobre o veredicto a ser Sextante: São Paulo, 2018.
dado no julgamento do caso de um jovem acusado de O livro apresenta estratégias de negociação para cons-
QB,
assassinato. truir concordâncias tanto no contexto profissional quanto
Site no contexto cotidiano, como em relações de amizade.
UFRGS 2019
ml
Cena 1
Em uma madrugada chuvosa, um trabalhador residente em São Paulo acorda, ao amanhecer, às cinco horas, toma rapida-
mente o café da manhã, dirige-se até o carro, acessa a rua, e, como de costume, faz o mesmo trajeto até o trabalho. Mas, em
um desses inúmeros dias, ouve pelo rádio que uma das avenidas de sua habitual rota está totalmente congestionada. A partir
dessa informação e enquanto dirige, o trabalhador inicia um processo mental analítico para escolher uma rota alternativa que
w
10 Cena 2
Mais tarde no mesmo dia, um casal residente na mesma cidade obtém financiamento imobiliário e decide pela compra
de um apartamento. São inúmeras opções de imóveis à venda. Para a escolha adequada do local de sua morada em São
Paulo, o casal deverá levar em conta, além do valor do apartamento, também outros critérios: variação do preço dos imó-
veis por bairro, distância do apartamento até a escola dos filhos pequenos, tempo gasto entre o apartamento e o local de
15 emprego do casal, preferência por um bairro tranquilo e existência de linha de ônibus integrada ao metrô nas proximidades
do imóvel — entre outros critérios.
Essas duas cenas urbanas descrevem situações comuns pelas quais passam diariamente muitos dos cidadãos re-
sidentes em grandes cidades. As protagonistas têm em comum a angústia de tomar uma decisão complexa, escolhida
dentre várias possibilidades oferecidas pelo espaço geográfico. Além de mostrar que a geografia é vivida no cotidiano,
20 as duas cenas mostram também que, para tomar a decisão que lhes seja mais conveniente, nossas protagonistas deverão
realizar, primeiramente, uma análise geoespacial da cidade. Em ambas as cenas, essa análise se desencadeia a partir
de um sistema cerebral composto de informações geográficas representadas internamente na forma de mapas mentais
que induzirão as três protagonistas a tomar suas decisões. Em cada cena podemos visualizar uma pergunta espacial. Na
primeira, o trabalhador pergunta: “qual a melhor rota a seguir, desde este ponto onde estou até o local de meu trabalho,
25 neste horário de segunda-feira?” Na segunda, o questionamento seria: “qual é o lugar da cidade que reúne todos os
critérios geográficos adequados à nossa moradia?”
A cena 1 é um exemplo clássico de análise de redes, enquanto a cena 2 é um exemplo clássico de alocação espacial —
duas das técnicas mais importantes da análise geoespacial.
A análise geoespacial reúne um conjunto de métodos e técnicas quantitativos dedicados à solução dessas e de outras
30 perguntas similares, em computador, cujas respostas dependem da organização espacial de informações geográficas em um
determinado tempo. Dada a complexidade dos modelos, muitas técnicas de análise geoespacial foram transformadas em
linguagem computacional e reunidas, posteriormente, em um sistema de informação geográfica. Esse fato geotecnológico
contribuiu para a popularização da análise geoespacial realizada em computadores, que atualmente é simplificada pelo
termo geoprocessamento.
Adaptado de: FERREIRA, Marcos César. Iniciação à análise geoespacial:
teoria, técnicas e exemplos para geoprocessamento. São Paulo: Editora UNESP, 2014. p. 33-34.
Se a palavra informações (|. 22) fosse substituída pela expressão um dado, quantas outras palavras seriam alteradas
no segmento das linhas 21a 23 para fins de concordância?
a) 1. c) 3. e) 5.
b) 2. d) 4.
UFRGS 2019
Recebi consulta de um amigo que tenta deslindar segredos da língua para estrangeiros que querem aprender português.
Seu problema: “se digo em uma sala de aula: “Pessoal, leiam o livro X”, como explicar a concordância? Certamente, não se
diz 'Pessoal, leia o livro X'””.
Pela pergunta, vê-se que não se trata de fornecer regras para corrigir eventuais problemas de padrão. Trata-se de en-
tender um dado que ocorre regularmente, mas que parece oferecer alguma dificuldade de análise. Em primeiro lugar, é
óbvio que se trata de um pedido (ou de uma ordem) mais ou menos informal. Caso contrário, não se usaria a expressão
“pessoal”, mas talvez “Senhores” ou “Senhores alunos”.
Em segundo lugar, não se trata da tal concordância ideológica, nem de silepse (hipóteses previstas pela gramática para
explicar concordâncias mais ou menos excepcionais, que se devem menos a fatores sintáticos e mais aos semânticos; exem-
10 plos correntes do tipo “A gente fomos” e “o pessoal gostaram” se explicam por esse critério). Como se pode saber que não =
uu
se trata de concordância ideológica ou de silepse? A resposta é que, nesses casos, o verbo se liga ao sujeito em estrutura sem [=
4
uu
vocativo, diferentemente do que acontece aqui. E em casos como “Pedro, venha cá”, “venha” não se liga a “Pedro”, mesmo [4
o
que pareça que sim, porque Pedro não é o sujeito.
9
o
Para tentar formular uma hipótese mais clara para o problema apresentado, talvez se deva admitir que o sujeito de um verbo
15 pode estar apagado e, mesmo assim, produzir concordância. O ideal é que se mostre que o fenômeno não ocorre só com ordens
ou pedidos, e nem só quando há vocativo. Vamos por partes: a) é normal, em português, haver orações sem sujeito expresso e,
mesmo assim, haver flexão verbal. Exemplos correntes são frases como “chegaram e saíram em seguida”, que todos conhecemos
das gramáticas; b) sempre que há um vocativo, em princípio, o sujeito pode não aparecer na frase. o que ocorre em “meninos,
saiam daqui”; mas o sujeito pode aparecer, pois não seria estranha a sequência “meninos, vocês se comportem”; c) se forem
20 aceitas as hipóteses a) e b) (diria que são fatos), não seria estranho que a frase “Pessoal, leiam o livro X” pudesse ser tratada
como se sua estrutura fosse “Pessoal, vocês leiam o livro x”. Se a palavra “vocês” não estivesse apagada, a concordância
se explicaria normalmente; d) assim, o problema real não é a concordância entre “pessoal” e “leiam”, mas a passagem de
“pessoal” a “vocês”, que não aparece na superfície da frase.
Este caso é apenas um, dentre tantos outros, que nos obrigariam a considerar na análise elementos que parecem não
25 estar na frase, mas que atuam como se lá estivessem.
Adaptado de: POSSENTI, Sírio. Malcomportadas línguas. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. p. 85-86.
De acordo com o autor do texto, a explicação para a concordância verbal da frase “Pessoal, leia o livro X' (|. 3) está re-
lacionada ao fato de a concordância verbal se fazer com um sujeito não expresso nem fonética nem ortograficamente.
Assinale a alternativa em que se encontra outro exemplo desse mesmo fenômeno gramatical de que trata o autor do texto.
a) Meninos, vocês se comportem.
b) Chegaram e saíram em seguida esses meninos.
c) Gente, chegaram as pizzas!
d) Gurizada, já terminaram a prova?
e) Guria, tu já leu o livro que o professor indicou?
3. IFRR 2018 Marque a alternativa que apresenta uma frase com equívoco de concordância nominal.
a) Os brasileiros foram tomados de uma alegria, esperança e emoção contagiantes nos jogos da Copa do Mundo.
b) Os candidatos consideraram difícil o simulado e a redação.
c) A mulher e o homem pareciam preocupados com a notícia.
d) Saí ontem com os campeões José e Beatriz.
e) Quando vamos ao cinema, gostamos de comprar pipocas.
5. Insper-SP 2019
A Escrava Isaura foi composta fora do enquadramento habitual dos outros romances e é algo excêntrica em relação a
eles: conta as desditas de uma escrava com aparência de branca, educada, de caráter nobre, vítima dum senhor devasso e
cruel, terminando tudo com a punição dos culpados e o triunfo dos justos. A narrativa se funda em pessoas e lugares alheios
à experiência de Bernardo Guimarães — fazenda luxuosa de Campos, a cidade do Recife — reclamando esforço aturado de
imaginação. O resultado não foi bom: o livro se encontra mais próximo das lendas que dos outros romances, quando o seu
próprio caráter de tese requeria maior peso de realidade.
O malogro da obra é devido em parte à tese que desejou expor, e que faz da construção novelística mero pretexto, já que
não soube transcender o tom esquemático, de parábola. Mas, considerada a situação brasileira do tempo, daí provém igualmente
o alcance humano e social que consagrou o livro, destacando-o como panfleto corajoso e viril, que pôs em relevo ante a ima-
ginação popular situações intoleráveis de cativeiro. Numa literatura tão aplicada quanto a nossa, não é qualidade desprezível.
Tanto mais quanto o romancista timbrou em passar da descrição à doutrina, pondo na boca de personagens (sobretudo na parte
decorrida em Recife) tiradas e argumentos abolicionistas.
Antonio Candido. Formação da literatura brasileira, 2000. Adaptado.
- IFNMG 2016
Lixo Urbano: Veja como o movimento dumpster diving aproveita o que desperdiçamos todos os dias.
Conhecido como dumpster diving, o movimento busca compartilhar restos alimentícios a fim de acabar
com a fome das pessoas
Diariamente, toneladas de comidas são jogadas fora em todo o mundo. De acordo com dados da Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura, cerca de um terço de todos os alimentos produzidos no mundo, avaliados em um
trilhão de dólares, é malgasto a cada ano.
É comum que em restaurantes, feiras e supermercados algumas embalagens com produtos alimentícios sejam descartadas
por estarem danificadas ou perto da data de vencimento. Já em residências, as pessoas consomem mais do que precisam e
acabam desperdiçando alimentos em ótimas condições de uso.
Foi neste contexto que surgiu o dumpster diving. Cada vez mais conhecido e com mais adeptos, o movimento é com-
posto por “mergulhadores de lixeiras”, que buscam restos de comidas — como pão, chocolate, verduras — e compartilham os
achados, gratuitamente, para saciar a fome das pessoas.
10 O movimento nasceu em Nova lorque, mas se tornou popular na Europa graças aos alemães Benjamin Schmitt e Helena
Jachmann, dois jovens motivados pela indignação ante o desperdício de toneladas de comida. Para facilitar e otimizar o
compartilhamento de comida, a dupla conta com um site, que em 2013, após seis meses no ar, já contava com aproxima-
damente 8.200 usuários cadastrados.
A prática de mergulho no lixo, que também é conhecida como bin-diving, containering, DMart, dumpstering, tatting,
15 skipping ou recycled food, enfrenta muitos problemas, já que existem inúmeros argumentos que vão contra o movimento.
Movimento contra
Isso porque, os praticantes estão expostos a riscos para a saúde. Além disso, alguns países têm legislações rigorosas, que
preveem penas e multas para quem revira o lixo alheio e se apossa de itens que pertenciam a outra pessoa.
Outro ponto defendido por especialistas, na área de saúde e alimentícia, é de que muitos varejistas deveriam vender
20 o estoque que vai para o lixo a preços reduzidos. Os mesmos, no entanto, afirmam que o risco é maior para eles, já que as
pessoas que comprarem o produto podem estar expostas a riscos de saúde.
Disponível em: www.pensamentoverde.com.br/atitude/lixo-urbano-veja-como-o-movimento-dumpster-diving-aproveitao-que-desperdicamos-
todos-os-dias/. Acessado em: 27 ago. 2015. (Adaptado)
Em *... cerca de um terço de todos os alimentos produzidos no mundo, avaliados em um trilhão de dólares, é malgasto
a cada ano.” (linhas 2-3)
Marque a opção CORRETA:
a) Há possibilidade de utilização de singular ou plural para concordar com a palavra “alimentos”.
b) Se a expressão “cerca de um terço” fosse substituída pela expressão “a maior parte de todos os alimentos...”
admitir-se-ia somente o plural.
c) Se a expressão “cerca de um terço” fosse substituída pela expressão “a maior parte de todos os alimentos...”
admitir-se-ia somente o singular.
d) Há concordância verbal porque no caso de sujeito com expressão “cerca de”, o verbo deve concordar com
o numeral.
PUC-Campinas 2018
Visita a um sebo
Quem quiser hoje adquirir um livro usado, ou uma edição rara, consulta na internet sites especializados, onde há
milhões de títulos para entrega em casa. Até pouco tempo atrás o interessado deveria percorrer os “sebos” — livrarias de
publicações usadas —, sujar os dedos, entupir as narinas de pó e contar com muita sorte para achar o que procurasse.
Milhares de pessoas faziam do hábito de frequentar os sebos um vício permanente: não imaginavam ficar sem visitá-los =
uu
uma ou mais vezes por semana. [=
4
Entremos neste, um dos últimos que vão resistindo à supremacia da internet. É um estabelecimento grande, com muitos uu
[4
o
ácaros, sim, mas apinhado de livros que o proprietário e seus funcionários buscaram ordenar por assunto. Nas prateleiras
101
da entrada há ficção científica e compêndios de autoajuda. Misticismo e literatura policial seguem oferecendo o que cos-
tuma interessar às multidões. Mas logo surgem lições de física, da newtoniana à einsteiniana, onde se pode aprender algo
sobre entropia e buracos negros, a teoria cosmológica do big bang e os princípios da relatividade. Adiante, com um pouco
de sorte, você se depara com uma boa edição de A origem das espécies, do mestre Darwin, ao lado de uma apostila com
explicações e questões sobre genética.
Num cantinho entre as estantes há objetos igualmente envelhecidos, não sei se para vender ou só decorar: uma am-
pulheta, uma espátula para abrir folhas coladas, uma bússola, um mata-borrão de madeira, uma caixinha de metal para
rapé (assim me informou o dono). Já no corredor seguinte estão as obras de literatura. Lendo títulos e nomes de autores,
não há como não ver passar diante dos olhos quadros da História, universal ou nacional: a mitologia grega, Adriano e o
império romano, os poemas épicos, as sombras da Inquisição em O nome da rosa, a saga dos navegantes portugueses em
Os Lusíadas, a ação da Companhia de Jesus no Brasil colonial, a Inconfidência mineira recontada nos versos de Cecília
Meireles, a abolição da escravatura cantada por Castro Alves, poetas e prosadores do Modernismo de 22, os romancistas
de 30... Alguma preocupação com a ordem cronológica, no caso da Literatura Brasileira, revela que passou por aqui algum
aluno de Letras...
Vejo com alguma nostalgia o destino das grandes enciclopédias: quem as comprará agora, tendo o Google ao alcance
de um toque numa tecla? Quando menino ia à casa de um vizinho que dispunha de uma grande enciclopédia (creio que
a Mirador) para me ajudar em trabalhos escolares, que iam desde a erosão do solo ao levantamento dos nossos recursos
hídricos, dos vários ciclos econômicos da nossa história à importância das imigrações de estrangeiros nos séculos XIX
e XX. O vizinho gostava de me ajudar, baforando o cachimbo perfumado e consultando os volumes com os óculos de
lentes grossas. Minha “pesquisa” era, quando muito, uma glosa do que achava na enciclopédia, quando não uma cópia
descarada...
O bom cheiro de café toma conta do sebo. Vejo que usaram um velho coador de pano, talvez para acompanhar a idade dos
livros... Enquanto me sirvo reparo numa estante diferente, fechada com portas de vidro. O dono do sebo me explica que são obras
raras, ou porque autografadas pelos autores, ou por serem uma edição com valor especial — como a de um exemplar de Grande ser-
tão: veredas, de 1956, dedicado afetuosamente por Guimarães Rosa a um amigo diplomata, seu antigo colega alemão da época da
Il Guerra. Quando lhe perguntei como é que um livro como aquele tinha ido parar ali, o dono só piscou: “segredos do ofício,
segredos da minha garimpagem...”
O melhor de um sebo talvez sejam as “pechinchas”: uma boa antologia de poetas arcádicos ou uma bem apresentada
história das Revoluções do século XVIII saem por menos do que custa um ingresso de cinema. Gosto também de ler margi-
nálias, essas notas que os leitores mais participativos acrescentam às páginas, a lápis ou a tinta: “Esse Maquiavel tem cada
uma”, “Implacável análise do neoliberalismo”, “É assim que se resume a ação dos bolcheviques?”, “Sem base esse argumento
contra os insumos químicos” etc. etc.
Acabo saindo sem comprar muita coisa: um livro já clássico sobre Machado de Assis, um velho manual de culinária
(para um amigo que se julga um chef) e uma História da Pintura que há tempos vinha procurando. É possível que o advento
da internet tenha me deixado mais preguiçoso: ouço música, encontro artigos, me informo, discuto, edito, posto, tudo pelo
computador. Mas tenho, ainda, um pé nos sebos: são como que despojos de um museu que se oferecem ao visitante; são
pegadas finais de uma época em que os livros eram encarregados de encadernar as páginas aonde íamos perseguir conheci-
mento, informação, propostas políticas, sonhos, dados, roteiros, análises, súmulas, tratados, manifestos, confissões...
Num sebo, esse caos se organiza de alguma forma para que um leitor, se promovido a explorador, quem sabe encontre
algum tesouro.
Gervásio Pereira Neves, inédito.
Palavras do texto inspiraram as frases que seguem, que devem, entretanto, ser consideradas independentes dele.
A redação que está clara e em concordância com a norma-padrão da língua é:
a) Até a pouco tempo, não seria viável, na maior parte dos estados brasileiros, as compras que a internet propicia,
mas isso não implica que a venda de livros foi irrelevante.
b) Proprietários de sebo lhe convenceram em ser representante do grupo, sob a condição de receber apoio quan-
do houvesse algum evento do setor, mesmo que ele os avisasse a última hora.
c) Misto de depósito de obras usadas e de espaço a explorar, os sebos teimaram em permanecer pela cidade, a
lembrar que sempre houve quem se dispusesse a incluí-los entre suas rotas obrigatórias.
d) Acredito que ela tinha ido ajudá-lo, sim, na organização das obras, se alguém tivesse dito que ele tinha urgência
disso, pois, sempre era gentil com ela, intervia a seu favor, quando a criticavam.
e) Meio constrangida, porque não quis assinar os dois últimos abaixo-assinado que circularam entre os sebos, dissimu-
lou o mal-estar tentando pôr os livros aonde ficassem mais visíveis ao interessado.
Quais são os referentes dos pronomes relativos (1) e (2) destacados no texto? Explique sua resposta com base na
relação de concordância verbal estabelecida entre esses pronomes e os verbos das orações adjetivas que eles
iniciam.
É necessário um esforço de todos para que sempre se... continuamente as melhorias, acima de tudo
pensando no desenvolvimento sustentável.
Considerando a concordância verbal, a alternativa correta é:
a) aconteceram — caiu — existem — resolve-se — deverão haver — busque
b) aconteceu — caíram — existem — resolve-se — deverá haver — busquem
c) aconteceram — caíram — existem — resolvem-se — deverá haver — busquem
d) aconteceram — caíram — existe — resolvesse — deverá haver — busque
103
A definição de espaços protegidos é uma estratégia de IV. Em “há espaços protegidos criados por lei” e em
proteção ambiental de escolhas radicais. Trata-se de uma “há espaços protegidos criados por ato dos pro-
limitação de usos do território que, na maior parte das prietários” (22 parágrafo), se substituíssemos as
vezes, é feita sem considerar a necessária equalização de formas do verbo “haver” pelas do verbo “existir”,
interesses sobre o território, causando conflitos excessivos este deveria ser grafado no plural, por não manter
e desnecessários. É evidente que a criação de unidades a impessoalidade daquele.
de conservação, por exemplo, pode se mostrar importante V. Notrecho “a legislação ambiental brasileira é pró-
ferramenta para a conservação da biodiversidade e para
diga em estabelecer uma disciplina territorial”
a manutenção de processos ecológicos. A imposição dos
(2º parágrafo), a preposição foi utilizada devido à
seus limites sob o território não pode ser feita, no entanto,
regência do adjetivo que a antecede, funcionan-
como mera regra de exclusão das populações locais e
do como elemento de ligação entre esse nome e
situadas em seu entorno.
o complemento que ele rege.
Essa situação mostra-se agravada quando a imposição
de proibições, embargos ou limites absolutos é feita pelo Estão CORRETAS, apenas, as proposições
poder judiciário, nos termos de um conflito limitado ao a) Ile ll. ce) II IVev. e) |llev.
presente nos autos de um processo judicial, no qual a b) IL Vev. d) | llelV.
participação limita-se às partes, sem, necessariamente,
considerar todas as populações envolvidas na decisão e 12. IFTO 2018
impactadas pelo precedente. Na maior parte das vezes,
o judiciário impõe soluções de ruptura, que não podem Somos todos românticos
contemplar vias alternativas, considerando a peculiaridade Walcyr Carrasco. Revista Época, 21/3/2017.
do fato ou as tecnologias disponíveis para conciliar os
Ela é feminista. Liberada. Vai à balada, escolhe quem
interesses ambientais com os da sustentabilidade.
quer. Mas anda com um sapatinho de cristal na bolsa. Ele
Diferentemente do que acontece com a definição
também. Tímido ou pegador, sonha, no fundo, com aquela
dos espaços protegidos, que é uma previsão estática de
limitação de usos, a sustentabilidade necessita de uma moça que diz sim a tudo. Os tempos mudaram, as ideias
governança dinâmica, que possa equilibrar riscos e al- evoluíram. Mas, no íntimo, cada um sonha com um prínci-
terações da situação ambiental com benefícios sociais pe ou princesa encantado. Um garoto na adolescência faz
das intervenções humanas no ambiente. Essa análise é uma divisão clara e cruel. Há as garotas “galinhas”, para
incompatível com regras predefinidas, estanques, ou com “pegar”. E as para namorar. As “galinhas” topam relações
a solução binária decorrente dos processos judiciais. eventuais, porque gostam. Como se gostar de sexo fosse
BUENO, Francisco de Godoy. A gestão de espaços ambientais algo negativo. O que ele quer, enfim? Uma difícil. Que,
protegidos. Jornal Gazeta do Povo. Publicado em 22 maio 2019. além do interesse físico, proporcione o sentimento român-
www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/a-gestao-de-espacos-
ambientais-protegidos/. Acesso em: 25 maio 2019 (adaptado). tico, acalente a ideia de um dia ter lar e filhos. Mesmo que
seja apenas um sonho distante. Uma amiga comentou,
As regras de concordância promovem, em um desanimada, que, cada vez que saía com alguém, o su-
texto, a correspondência harmoniosa entre as pala- jeito já propunha um motel. Ela ia, por acreditar que era
vras e as expressões que o compõem; e as regras o começo de uma relação. Ensinei-lhe a velha regra que
de regência, por sua vez, tratam das relações de li em algum texto americano.
dependência entre os termos que formam a oração e — Nunca da primeira ou segunda vez. Só na terceira
entre as orações que o constituem. Sobre sintaxe de ou quarta vez que saírem. Ela não viu muito sentido, mas...
concordância e de regência, analise as proposições Era romântica. Queria uma relação. Ele ficou nervoso da
a seguir, acerca de trechos do texto, e assinale a al- primeira e da segunda. Na quarta, já estavam namorando.
ternativa CORRETA. E ainda dizia aos amigos.
l. Em “há espaços protegidos criados por ato dos — Ela não é qualquer uma. Os amigos se calavam.
proprietários” e em “há os espaços protegidos Todos já tinham ido com ela ao motel.
criados por ato do poder público” (2º parágrafo), o Sonhos românticos estão em alta. Há grupos, geralmen-
verbo haver é impessoal e, portanto, intransitivo, te evangélicos, que só praticam sexo depois do casamento.
podendo, por essa razão, ser grafado no singular. Ele e ela. O caso mais famoso foi o do jogador Kaká. Parece
IH. Notrecho “Deve o poder público e a coletividade estranho para a maioria de nós, que prefere fazer sexo em
defendê-lo e preservá-lo” (1º parágrafo), a forma todas as oportunidades possíveis. Mas funciona. O namoro
verbal em destaque, por estar anteposta ao seu começa com o sonho de encontrar alguém ideal. Continua
sujeito, pôde ser grafada no singular, concordan- com o desejo reprimido, no máximo um beijinho. Quando
do, apenas, com o núcleo mais próximo. o sexo acontece, depois do casamento, é uma explosão.
HW. Em “Nesse intuito, destaca-se como medida de Pode não ser tão bom — o sexo, como o esporte, exige
execução desse dever a definição de espaços prática para melhorar. Mas para o casal é o máximo. Existe
territoriais especialmente protegidos” (1º parágra- projeto romântico maior? Ter alguém único, que nos preen-
fo), o elemento destacado poderia ser pluralizado, cha totalmente, é um sonho tão forte que a ideia de existir
concordando, dessa forma, com “espaços territo- uma “alma gêmea” mexe com a gente. Fiz uma novela
riais [...] protegidos”, e não haveria alteração de com esse nome e foi um sucesso absoluto na Rede Globo,
sentido no trecho. inclusive na reapresentação.
105
c) Quando passarem veículos pesados pela rua. De face do objeto puro, registrando (teoricamente sem inter-
ônibus para cima. Bicicletas e Volkswagen, por exemplo, ferência de outro texto) as noções e impressões que iriam
podem ser chutados junto com a bola e se entrar é gol. constituir seu próprio texto. Essa estética repousa na utopia
DO INTERVALO PARA DESCANSO — Você deve estar da originalidade absoluta pela experiência imediata, que
brincando! levava o escritor a desconfiar da influência mediadora de
DA TÁTICA — Joga-se o futebol de rua mais ou menos obras alheias.
como o futebol de verdade (que é como, na rua, com reve- Mas nós sabemos que, embora filha do mundo, a obra
rência, chamam a pelada), mas com algumas importantes é um mundo, e que convém antes de tudo pesquisar nela
variações. O goleiro só é intocável dentro da sua casa, mesma as razões que a sustêm como tal. A sua razão espe-
para onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar cífica é a disposição dos núcleos de significado, formando
na área adversária tabelando com uma Kombi. Se a bola uma combinação singular, segundo a qual a realidade do
dobrar a esquina é córner. mundo foi reordenada, transformada, desfigurada ou até
VERISSIMO, Luis Fernando. Futebol de rua. Disponível em: http:// posta de lado, para dar nascimento ao outro mundo que
contobrasileiro.com.br/futebol-de-ruacronica-de-luis-fernando- a obra constitui.
verissimo/. Acesso em: 05 maio 2018 (adaptado).
Ver criticamente a obra é escolher um dos momen-
Quanto à construção sintática de orações e períodos tos do processo como plataforma de observação. Num
e às consequências semânticas dessa construção no extremo, é possível encará-la como uma duplicação da
texto, analise as assertivas a seguir. realidade, de maneira que o trabalho imitativo fique re-
duzido a um registro sem grandeza, pois se era para fazer
Il. No período “os dois times devem reunir-se rapi-
igual, por que não deixar a realidade em paz? Já no outro
damente para deliberar o que fazer”, a conjunção
extremo é possível ver a obra como um objeto manufa-
destacada introduz uma relação de finalidade en-
turado com arbítrio soberano, que alcança significação
tre as ações de “reunir” e “deliberar”.
na medida em que nada tem a ver com a realidade. Mas
Il. O período “É permitido entrar na área adversária”,
seria melhor a visão que pudesse rastrear na obra o mundo
também estaria adequado com relação à sintaxe de
como material de origem, para surpreender no processo
concordância se fosse redigido da seguinte manei-
vivo da montagem a singularidade da forma segundo a
ra: “É permitida a entrada na área adversária”.
qual se dá a ver um mundo novo.
HI. No trecho “Joga-se o futebol de rua mais ou me-
nos como o futebol de verdade”, a conjunção Marcel Proust (1871-1922): romancista, ensaísta e
destacada estabelece uma relação causal entre o crítico literário francês, autor de Em Busca do Tempo
futebol de rua e o futebol de verdade. Perdido, publicada em sete volumes.
IV. Em “No desespero, usa-se qualquer coisa que
Adaptado de: CANDIDO, Antonio. O discurso e a cidade. Rio de
role”, se o substantivo destacado, que é sujeito Janeiro: Ouro sobre azul, 2013, p. 107-108.
da oração, estivesse no plural; o verbo, obrigato-
riamente, seria flexionado no plural: “usam-se”. As frases que seguem foram motivadas por palavras
V. Em “No caso de se usar uma pedra [...] reco- do texto, mas devem ser analisadas independen-
menda-se jogar de sapatos”, a expressão grifada temente. A redação que se apresenta clara e em
relaciona de forma concessiva o fato de usar uma concordância com a norma-padrão da língua é:
pedra à recomendação de jogar de sapatos. a) São possíveis, a meu ver, as três ou quatro últimas
soluções apresentadas para resolver o problema
Estão CORRETAS, apenas, as afirmativas da montagem da estrutura, e que recaia a decisão
a) Lllelll. sobre a que mais evite gastos excessivos.
b) ILVev. b) Visto atentamente a proposta, ainda que possa
c) Llllev. convir a muitos, deve merecer reparos, pois contêm
d) |llelV. arbítrios inaceitáveis, motivo pelo qual devemos
e) II Vev. encará-la até mesmo com excesso de cautela.
c) Ao avaliar criticamente a obra, o responsável
14. PUC-Campinas 2020
apontou vários deslizes técnicos, sem conside-
Literatura e realidade rar em que erros todos estamos sujeitos numa
Hoje está na moda dizer que uma obra literária edificação, por isso alguns parceiros acabaram
é constituída mais a partir de outras obras, que a pre- freiando seu entusiasmo.
cederam, do que em função de estímulos diretos da d) O processo foi examinado por profissional com-
realidade, pessoal, social ou física. Deve haver boa dose petente, que a ele devemos grande respeito, mas
de verdade nisso. Todas as vezes, dizia Proust, que um se sustiver a crítica velada ao juíz da causa, pode-
grande artista nasce, é como se o mundo fosse criado mos ser prejudicados.
de novo, porque nós começamos a enxergá-lo conforme e) Foiconsenso que cada um dos representantes das
ele o mostra. empresas interessadas nos leilões devem conhe-
Para o Naturalismo, a obra era essencialmente uma cer em minúcias o processo todo, posicionando-se
transposição direta da realidade, como se o escritor con- crítica, e criteriosamente sobre cada específico
seguisse ficar diante dela na situação de puro sujeito em ponto.
A propagação da ignorância*
Astor Wartchow**
Nunca foram tantas as oportunidades e alternativas de acesso ao saber, à educação, à escolarização, à cultura e à pro-
dução científica. A superoferta e a exuberância tecnológica e a instantaneidade dos modernos meios de conhecimento e
comunicação, a exemplo de aparelhos celulares multimídia e da própria internet, garantem essa possibilidade.
Porém, a plena receptividade, a compreensão, o estabelecimento e o desenvolvimento desse saber ainda dependem do
esforço e do empenho pessoal e individual. Daí que observamos e vivenciamos uma incrível contradição.
Ao mesmo tempo em que avançamos grandiosamente na produção/divulgação do saber científico e no conhecimento
acerca da existência, da convivência e da experiência humana, nunca foi tão expressivo o número de pessoas (com)parti-
lhando superstições e explicações simplistas, erradas e idiotizantes. Como se verdadeiras fossem!
Exemplo de propagação e massificação da ignorância é a crescente oferta e divulgação dos manuais de autoajuda, com
10 práticas e garantias de “sucesso pessoal, no amor e nas finanças”. Como se a ideologia do “eu posso!” não dependesse de
fundamentos educacionais. [...]
Além disso, há a “indústria e comércio” da fé e seus teólogos da prosperidade, que “expurgam demônios e abençoam
carteiras de trabalho”. Alguns mediante quitação de boleto bancário. Caso de polícia.
Propaga-se ignorância, intolerância, preconceitos e falsa ciência, sem restrições e sem constrangimentos. Como se
15 houvesse uma genialidade natural, uma geração espontânea do saber. São simplificações ingênuas e travestidas em falso
conhecimento e senso comum. Esse fato é, porém, compreensível. Afinal, com tantos corações carentes de afeto, ouvidos
ávidos de atenção e estômagos vazios, não deveria ser surpresa a supremacia da ignorância, da estupidez, da idiotia, da
mistificação e do curandeirismo.
* Texto publicado no Jornal Zero Hora, em 4 set. 2014. Disponível em: http:/Awp.clicrbs.com.br/opiniaozh/2014/09/04/artigo-a-propagacao-da-ignorancia/.
Acesso em 26 set. 2014. Adaptação. **Advogado.
Considerando as regras de regência e de concordância, assinale a única alternativa em que a substituição proposta
está de acordo com as regras da variedade linguística culta.
a) “Nunca foram tantas as oportunidades e alternativas” (linha 1) / Nunca houveram tantas oportunidades e
alternativas.
b) “dependem do esforço e do empenho pessoal e individual” (linhas 4-5) / demandam por esforço e empenho
pessoal e individual.
c) “acerca da existência, da convivência e da experiência humana” (linha 7) / relativo a existência, a convivência e
a experiência humana.
d) “Propaga-se ignorância” (linha 14)/ propagam-se asneiras.
e) “São” (linha 15)/ Tratam-se de.
10
md
atividades. Segundo os pesquisadores, isso acontece porque a expectativa de receber os retornos e atualizações em redes
sociais e sua satisfação liberam doses de dopamina no cérebro, neurotransmissor responsável pelas sensações de euforia,
excitação e prazer. Contudo, em doses elevadas, a substância bloqueia o acesso ao córtex pré-frontal, onde acontecem as
análises e decisões racionais. Esse tipo de compulsão foi quantificado por um levantamento do aplicativo Dscout's. O mo-
nitoramento de 94 usuários de smartphones durante cinco dias revelou que, em média, os participantes tocaram em seus
celulares 2.617 vezes em um único dia. Para 10% dos usuários, esse índice chegou a 5.427 vezes.
Novas tecnologias podem ajudar a combater esse impulso restringindo o acesso ao celular durante os percursos. Ferra-
mentas podem bloquear a entrada de notificações e enviar uma resposta automática aos remetentes, avisando que o usuário
está ao volante naquele momento. O software do startup israelense Cellepathy vai além: combina Inteligência Artificial aos
sensores dos equipamentos para identificar e bloquear os aparelhos quando estiverem dentro de um carro em movimento.
“Nossos clientes hoje são corporações que implementam o recurso nos celulares dos funcionários como parte de sua política
de segurança, mas é algo que devia ser item obrigatório de fábrica em todos os dispositivos móveis, assim como aconteceu
com os airbags nos carros”, defende o fundador Sean Ir.
Adaptado de: https://dialogando.com.br/categoria/comportamento. Acesso em: 02/05/2018.
17. UEPG-PR 2020 Assinale o que for correto quanto aos elementos que estruturam o texto.
01 No 1º período do 2º parágrafo, a locução verbal “consegue ignorar” está na 3º pessoa do singular para concor-
dar com a expressão “grande parte” que forma o sujeito da oração.
02 Nos 1ºe 2º períodos do 3º parágrafo, o verbo “poder” que precede os verbos “ajudar e “bloquear” estabelece
uma condição de probabilidade às ações estabelecidas pelos dois últimos verbos citados.
04 A conjunção “contudo” que inicia o 3º período do 2º parágrafo pode ser substituída por “porém” sem causar
comprometimento ao contexto.
08 O último período do 1º parágrafo foi redigido na forma interrogativa, provavelmente para anunciar a resposta que
está expressa no parágrafo seguinte.
Soma:
18. UEPG-PR 2020 Assinale o que for correto no que se refere à ortografia, acentuação e concordância verbal e nominal.
01 Dirigir com uma das mãos só é permitido pela lei nos casos em que o motorista deve fazer sinal regulamentares
de braço, mudar à marcha do veículo ou acionar equipamentos e acessórios do veículo.
02 Segundo a Polícia Rodoviária, se o condutor estiver dirigindo a 100 km/h e se distrair com o aparelho por quatro
ou cinco segundos, tirando os olhos da estrada, seguirá cerca de 120 m às cegas.
04 Com ligações, acesso a Internet e inúmeros aplicativos disponíveis, o uso dos celulares e smartphones estão
entre as inflações de trânsito mais cometidas.
08 Alto índice de acidentes e mortes estimula o desenvolvimento de novas tecnologias para impedir o uso dos apa-
relhos ao volante.
Soma:
19. Unicentro-PR 2018 Sobre as regras gramaticais de concordância, assinale o que estiver incorreto.
a) Contiveram-se o rapaz e seus familiares durante o tumulto.
b) A maioria dos clientes optaram por retirar o prêmio em dinheiro.
c) Naquele dia, fizemos bastantes exercícios de fixação.
d) Mesmo com todo trabalho, estávamos menos cansados que no dia anterior.
e) As condições dos pacientes pioraram muito, o que deixou os médicos bastantes preocupados.
FGV-SP 2020
Se, no texto, em lugar de “vosso”, fosse usado o pronome “teu” ou “seu”, a concordância nos quatro primeiros versos
estaria correta apenas em:
a) “Compadre José, compadre, / que na relva está deitado: converse e não sabe / que teu filho é chegado?”
b) “Compadre José, compadre, / que na relva estás deitado: conversa e não sabes / que seu filho é chegado?”
c) “Compadre José, compadre, / que na relva estais deitado: converse e não saiba / que seu filho é chegado?”
d) “Compadre José, compadre, / que na relva está deitado: conversas e não saibas / que teu filho é chegado?”
e) “Compadre José, compadre, / que na relva estás deitado: conversas e não sabes / que teu filho é chegado?”
IFNMG 2019
Lançamento do novo
site do CMI Brasil!
Odeia a mídia? | e.
CMlI-Brasil;::....
ETR Ele Cl midiaindependente.org
No trecho “... uma alternativa a mídia comercial que distorce os fatos [...)” nota-se um desvio quanto à norma-padrão
de uso da linguagem em relação à(ao):
a) regência verbal
b) concordância nominal e crase
c) regência nominal
d) emprego de conjunções
109
23. Unesp 2016 A questão focaliza um trecho do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078 de 11 de setembro
de 1990).
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
|- a proteção da vida, saúde e segurança contra os ricos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços
considerados perigosos ou nocivos;
Il — a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha
e a igualdade nas contratações;
HI — a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
IV—a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V— a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de
fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
VI — a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;
VII — o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII — a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias
de experiências;
IX — a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.
Art. 72 Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de
que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas
competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos
nas normas de consumo.
www.planalto.gov.br
Nos trechos “asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade das contratações” (inciso Il) e “assegurada a pro-
teção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados” (inciso VIl), a análise das concordâncias dos adjetivos em
destaque permite afirmar que
a) apenas a primeira ocorrência está correta.
b) apenas a segunda ocorrência está correta.
c) as duas ocorrências são aceitáveis, mas não corretas.
d) as duas ocorrências estão incorretas.
e) as duas ocorrências estão corretas.
24. UFVJM-MG 2016 Assinale a alternativa em que a concordância nominal e a justificativa para sua utilização estão
corretas, segundo o português padrão.
a) Já havia bastantes cadeiras na sala. (Por ser classificado como adjetivo nessa oração, bastante deve concordar
em gênero e número com o substantivo que determina.)
b) Ficamos alertos para atendê-lo quando necessitasse de ajuda. (Alerta nessa oração é classificada como adjetivo
por isso deve concordar em número e gênero com o substantivo.)
c) Os meninos se encontravam nas piores condições possível. (Quando “possível” está acompanhado de “pior” ele
funciona como advérbio devendo permanecer invariável.)
d) Precisa de um tempo a só com ele para provar sua inocência. (A locução “a só” funciona como adjetivo devendo
flexionar em número para concordar com o substantivo que determina.)
7
PORTA CORTA-FOGO
MANTENHA FECHADO
Fonte: www.google.com.br/imagens — acessado em 27/05/2013.
111
Assinale o que for correto.
01 A palavra “embora” (linha 6) é uma conjunção coordenada adversativa utilizada para introduzir uma ressalva ou
um contraste ao que foi mencionado na oração principal.
02 Nalinha 25, a palavra “conhecida” é um adjetivo que atribui uma característica ao substantivo “pessoa” (linha 25),
com o qual mantém uma relação de concordância nominal.
04 Na linha 49, a conjunção integrante “que” introduz uma oração subordinada substantiva.
08 Na linha 64, o autor optou pelo uso do artigo “a” antes do pronome “cada” e, com isso, apresentou uma interpre-
tação definida e determinada.
16 Enquanto na linha 33 o advérbio “Já” modifica uma expressão nominal, na linha 73 ele modifica um advérbio.
Soma:
Assinale a alternativa CORRETA em que há a possibilidade de uma outra concordância nominal, destacada nos
parênteses.
a) “Elaborados de modo a facilitar a leitura, os manuais de medicina popular continham a descrição das moléstias
[...]" — (ELABORADA).
b) “[...] contribuíram para a instrução acadêmica de inúmeros praticantes leigos da medicina: senhores e senhoras
de escravos [...]" — (LEIGO).
c) “[...] bem como os conselhos e medicamentos que deveriam ser empregados em cada uma delas, de fácil formu-
lação e úteis na economia doméstica” — (ÚTIL).
d) “Os manuais de medicina popular do dr. Chernoviz foram essenciais na difusão de saberes e práticas aprovados
pelas instituições médicas oficiais [...]” — (APROVADAS).
29. Ulbra-RS A questão está baseada no texto Professor no paraíso, escrito pelo colunista Gilberto Dimenstein para a
Folha de São Paulo no dia 16 de outubro de 2001, caderno Cotidiano.
Professor no paraíso
Uma das melhores escolas dos Estados Unidos descobriu um meio eficiente de estimular seus alunos: obrigá-los a ficar
longe da escola — e por muito tempo. Durante 60 dias por ano, além das férias, eles não precisam pisar na sala de aula.
A escola de ensino médio Summit Preparatory High School está chamando a atenção de educadores de todo o mundo
por dois motivos: brilha no ranking das melhores dos Estados Unidos e, pública, tem seus alunos escolhidos por sorteio,
5 muitos deles vindos de famílias pobres. Perguntei ao diretor da escola, Brian Johnson, se os pais não tinham estranhado a
novidade. “No começo, um pouco, mas depois eles viram a melhora nas notas. Quase todos os alunos entram na faculdade.”
É como se, na prática, estivessem reciclando o significado (e, para muitos, o prazer) de “matar” aula. Hoje eles estão
definindo uma nova geografia do aprender e repensando o professor, cujo dia foi comemorado neste fim de semana.
Localizada numa cidade chamada Redwood, perto de San Francisco, na Califórnia, a Summit é uma escola pública
10 independente, gerida com total autonomia por uma instituição sem fins lucrativos.
Ela já nasceu com um objetivo: não apenas pôr todos os seus alunos nas faculdades, mas também ajudá-los a ingressar
no mercado de trabalho da região, hoje repleto de empresas ligadas à tecnologia da informação carentes de trabalhadores
qualificados. Daí a ideia de tirar os alunos da escola, reservando uma semana ao final de quatro meses.
A complexidade da experiência está na gestão de uma série de parcerias para assegurar aos alunos espaços fora da es
15 cola, formando uma comunidade de aprendizagem. São oferecidos, em companhias profissionais, cursos de dança, teatro,
música e computação, bem como estágios em empresas ou em laboratórios de universidades. “É incrível ver brilhar os olhos
deles!”, diz o engenheiro Paulo Blikstein, que recebe alguns desses alunos em seu laboratório em Stanford, nas proximida-
des da Summit. Blikstein tem visto como as melhores escolas da região, especialmente as particulares, vêm mudando seu
currículo, de modo a oferecer atividades extracurriculares com professores das universidades em áreas como nanotecnologia
20 ou impressão digital.
30. UFSC Marque a única frase em que a concordância nominal aparece de maneira inadequada.
a) Obrigava sua corpulência a exercício e evolução forçada.
b) Obrigava sua corpulência a exercício e evolução forçados.
c) Obrigava sua corpulência a exercício e evolução forçadas.
d) Obrigava sua corpulência a forçado exercício e evolução.
e) Obrigava sua corpulência a forçada evolução e exercício.
113
Naturalmente, a boa ou razoável escolarização é mui- poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um
to maior em escolas particulares: professores menos mal cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo
pagos, instalações melhores, algum livro na biblioteca, que a crônica é um gênero menor.
crianças mais bem alimentadas e saudáveis — pois o es- “Graças a Deus”, seria o caso de dizer, porque sendo
tado não cumpre o seu papel de garantir a todo cidadão assim ela fica mais perto de nós. E para muitos pode servir
(especialmente a criança) a necessária condição de saúde, de caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto,
moradia e alimentação. mas para a literatura. Por meio dos assuntos, da composição
Faxinar a miséria, louvável desejo da nossa presidenta, solta, do ar de coisa sem necessidade que costuma assumir,
é essencial para nossa dignidade. Faxinar a ignorância — ela se ajusta à sensibilidade de todo dia. Na sua despreten-
que é uma outra forma de miséria — exigiria que nos orça- são, humaniza; e esta humanização lhe permite preservar
mentos da União e dos estados a educação, como a saúde, certa profundidade de sentido e certo acabamento de forma.
tivesse uma posição privilegiada. Não há dinheiro, dizem. O fato de ficar tão perto do dia a dia age como quebra do
Mas políticos aumentam seus salários de maneira vergo- monumental e da ênfase — riscos de excessos que outros
nhosa, a coisa pública gasta nem se sabe direito onde, gêneros literários correm com frequência.
enquanto preparamos gerações de ignorantes, criados sem No Brasil ela tem uma boa história, como a de José
limites, nada lhes é exigido, devem aprender brincando. de Alencar na seção de jornal “Ao correr da pena”. Nesse
Não lhes impuseram a mais elementar disciplina, como mesmo século XIX, nas crônicas de Machado de Assis
se não soubéssemos que escola, família, a vida sobretudo, notava-se o corte elegante de um artigo lúcido e leve.
se constroem em parte de erro e acerto, e esforço. Mas, se No decênio de 30 do século XX, a crônica moderna se
não podemos reprovar os alunos, se não temos mesas e consolidou no Brasil como um gênero bem nosso, culti-
cadeiras confortáveis e teto sólido sobre nossa cabeça nas vado por um número crescente de escritores, como Mário
salas de aula, como exigir aplicação, esforço, disciplina e de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de
limites, para o natural crescimento de cada um? Andrade. Nesse período, apareceu aquele que de certo
Cansei de falas grandiloquentes sobre educação, en- modo seria “o” cronista, voltado de maneira exemplar e
quanto não se faz quase nada. Falar já gastou, já cansou, praticamente exclusiva para esse gênero: Rubem Braga.
já desiludiu, já perdeu a graça. Precisamos de atos e fatos,
Parece às vezes que escrever crônica obriga a uma
orçamentos em que educação e saúde (para poder ir à certa comunhão, produz um ar de família que aproxima
escola, prestar atenção, estudar, render e crescer) tenham
os autores num nível acima da sua singularidade e das suas
um peso considerável: fora isso, não haverá solução. A diferenças. É que a crônica brasileira bem realizada (que
educação brasileira continuará, como agora, escandalo- evidentemente em nada impede a verticalidade da ficção
samente reprovada.
de Clarice Lispector ou a monumentalidade da prosa de
http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/educacao-
um Guimarães Rosa) participa de uma língua-geral lírica,
reprovada-um-artigo-de-lya-luft/ irônica, casual, ora precisa, ora vaga, amparada por um
diálogo rápido e certeiro, ou por uma espécie de monó-
Observe:
logo comunicativo.
Há coisa de trinta anos, eu ainda professora univer-
sitária, recebíamos as primeiras levas de alunos saídos rés de: próximo de.
de escolas enfraquecidas pelas providências negativas...
Adaptado de: CANDIDO, Antonio. Recortes. São Paulo:
Recurso de concordância semelhante ao utilizado Companhia das Letras, 1993, p. 23-29, passim.
1
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Na manchete a seguir, publicada pelo jornal O Popular, é possível verificar que há um erro de escrita, segundo a
normal-padrão.
aShatilov/Shutterstock.com
Redes sociais oferecem
vantagens, mas traz riscos
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Martin cume 85 fr MOI
Leia um trecho do livro Pântano de sangue, de Pedro Bandeira, e, em seguida, preencha as lacunas do texto de
acordo com a concordância e as demais regras da norma-padrão.
— Kara, vaiser — detempo correr todo o Pantanal atrás do tal Ente. Andrade é o tipo do sujeito que acre-
ditanas providências — .Poraínão chegara lugar nenhum. Esse Mike Sierrabrava, como chefão do
crime — — estámais. protegido dogqueo Papa. Se nem a polícia internacional conseguiu
pistasobreele, não. nósque vamos descobrir.
BANDEIRA, Pedro. Pântano de sangue. São Paulo: Moderna, 2014. p. 98.
Está correto:
a) perda — oficial - vamos — organizados — bom — quaisquer — será
b) perca — oficiais — vamos — organizado — bem — qualquer — serei
c) perca — oficial — vou — organizado — bem — qualquer — seremos
d) perda — oficiais — vou — organizados — bom — quaisquer — serei
e) perda — oficiais — vamos — organizado — bem — qualquer — seremos
[...] o adjetivo concorda em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural) com o substantivo ou pronome a
que se refere (sujeito da oração). Combinam-se com o sujeito da mesma forma os artigos, os pronomes, os numerais e os
particípios, que exercem função semelhante à do adjetivo.
MARTINS, Eduardo. Com todas as letras. São Paulo: Moderna, 2000. p. 20.
Com base nesse excerto, podemos identificar que há erro de concordância em uma das frases a seguir. Qual das
alternativas deve ser corrigida?
a) Será lançado no semestre que vem uma nova revista.
b) Por estar inconformado com a decisão do diretor, um grupo marcou uma reunião com ele.
c) Um casal saiu desta cidade e foi para o interior.
d) Faz muito tempo que não saio de casa.
e) A maioria das pessoas se ofende muito fácil.
;
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a
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A: ia a ; K | 4
: q 1 " E Ea
Y H
Na tirinha, observamos que o personagem está claramente incomodado com o calor excessivo. Ele expressa isso
de várias formas, seja evidenciando suas sensações (“Que calor!”, questionando se algo vai mudar (“O que foi isso? Um
trovão?”) ou utilizando ironia para dizer que as coisas só vão piorar (“Foi só o Sol fazendo mitose e se multiplicando em
dois.” além da linguagem corporal. Em todos esses enunciados, as ideias foram expressas por meio de frases que ora se
organizaram sem a presença de um verbo, ora a presença de um ou mais verbos.
UE Neto)
Frase é um enunciado com sentido completo. Quando nela não há verbos, dizemos que a frase é nominal; quando há, é
denominada frase verbal. A frase verbal pode ser classificada em período simples (se possui um só verbo) ou período com-
posto (se tem dois ou mais verbos). Dentro de cada período pode haver uma ou mais orações, ou seja, estruturas linguísticas
organizadas em torno de um ou mais verbos.
Ao dizer “Que calor!”, uma informação completa é transmitida, apesar de nenhum verbo ser utilizado nesse enuncia-
do. Assim, podemos concluir que é possível redigir frases com uma só palavra (como quando gritamos “Socorro”, em um
contexto de perigo, ou dizemos “Silêncio”, em locais onde é preciso atentar ao tom de voz, para garantir a harmonia ou
com poucas palavras, como aconteceu no primeiro, no terceiro e no quarto quadrinho.
Que calor!
Umtrovão? —————» Semverbo ————» Frases nominais
Não!
Na primeira frase do terceiro quadrinho, percebemos que a mensagem é transmitida com o uso de um só verbo (“foi”),
por isso chamamos a frase de período simples ou sentença simples. Já no último quadrinho, a segunda frase é organizada
de modo diferente, ou seja, possui mais de um verbo (“foi”, “fazendo” e “multiplicando”, portanto essa frase é denominada
período composto ou sentença complexa.
Q Saiba mais
Embora o termo “sentença” seja utilizado, de forma geral, como sinônimo de “período” (inclusive em alguns vestibulares),
tais vocábulos possuem significados diferentes. “Sentença” diz respeito às possibilidades de uso de frases a que o usuário
da língua tem acesso no sistema linguístico. É como se, ao abrir um guarda-roupa, pudéssemos verificar todas as diversas
combinações disponíveis para nos vestirmos em certa ocasião. Os linguistas conseguem descrever esse rol de opções da
nossa “gramática interna” ao analisar os textos que produzimos no dia a dia, nas mais diversas situações. Assim, enquanto
a palavra “sentença” refere-se a uma categoria descritiva do sistema da língua, considerando seu uso efetivo, “período”
remete ao estudo formal da língua como um sistema abstrato, sem vínculo obrigatório real dos usuários. Ambos são termos
que remetem às estruturas das frases, mas a opção por “sentença” tem sido mais comum entre os linguistas que visam a
um estudo de língua relativo a situações reais de comunicação.
Dentro das frases, as partes que se organizam em torno de um verbo ou uma locução verbal são chamadas de oração.
As orações podem ter sentido completo e, assim, serem independentes ou possuir sentido incompleto, a depender umas
das outras para que sua informação fique clara. Observe:
A relação entre as orações 2 e 3 é de independência; no entanto, as duas, em relação à oração 1, evidenciam uma
dependência. Isso porque o termo “Sol” aparece na primeira parte do período, então, enquanto a oração 1 traz a ideia
principal, as orações 2 e 3 estão subordinadas a ela. Nesse caso, podemos dizer que a relação entre as orações 2 e 3
com a oração 1 é de subordinação.
Relação de subordinação entre as orações
WN
Foi só o Sol [que estava] fazendo mitose e se multiplicando em dois.
Oração principal
, y
Oração dependente da primeira
(sentido fundamental) (sentido incompleto)
O pronome relativo “que” poderia ter sido utilizado para substituir o termo anterior, evitando-se, assim, a repetição de
“o Sol”. Na tirinha, no entanto, o autor optou por usar apenas o verbo no gerúndio (“fazendo”), construindo uma oração
mais reduzida. Com ou sem o pronome, fica claro que as orações 2 e 3 acrescentam uma caracterização ao termo a que
se refere, pois sozinhas elas não teriam sentido. Afinal, se alguém dissesse “fazendo mitose e se multiplicando em dois”,
automaticamente iríamos querer saber a que termo essas ações fazem referência.
Concluímos, assim, que o período composto (ou sentença complexa) pode ser organizado por um processo:
* de coordenação (com orações de sentidos independentes).
* de subordinação (com orações de sentidos dependentes).
* misto (com orações tanto de sentidos independentes como as que são dependentes entre si).
A seguir, conheceremos com mais detalhes os períodos compostos por coordenação, ou seja, aqueles em que as
orações se relacionam de forma independente.
AME SS epa
Ca epa Efe o
O estudo dos períodos compostos por coordenação e subordinação mostra que, na língua, as frases podem ser organizadas pm
de modo a evidenciar entre si relações de independência ou de dependência. Isso também ocorre na vida, já que a ciência uu
[=
comprova que todo organismo multicelular possui um tempo determinado para existir, e há momentos de nossa existência 4
uu
em que somos mais dependentes (como quando somos bebês) ou mais independentes (em geral, na fase adulta). [3
o
119
Coordenação: usos da conjunção e sentidos
Em um período composto por coordenação, as orações podem se relacionar de duas formas: por justaposição ou
por conexão. Isso significa que as orações de sentido independente podem estar lado a lado, sem que haja nenhuma
conjunção entre elas (chamadas de orações coordenadas assindéticas); ou podem se ligar por meio de uma conjunção
(denominadas orações coordenadas sindéticas).
A propaganda a seguir tem o objetivo de conscientizar sobre a importância da coleta seletiva de lixo.
É possível perceber que o primeiro período em destaque no cartaz é composto por coordenação,já que as orações
que formam a frase têm sentidos independentes. Observe que a conjunção “e” é utilizada no início da segunda oração,
mas não no da primeira.
Período composto por coordenação
Pratique a coleta seletiva e separe o lixo.
Conjunção coordenativa
(indica relação de adição entre as duas orações)
O uso de conjunções entre as orações pode evidenciar um valor semântico a que o leitor e o produtor de textos
também precisam estar atentos: relação de soma de ideias, de alternância ou escolha, de oposição, de conclusão ou de
explicação. Com base nesses tipos de relação, as orações coordenadas sindéticas podem ser classificadas em: aditivas,
alternativas, adversativas, conclusivas ou explicativas.
A ausência de conjunções também tem sua função. No slogan da propaganda, observamos uma relação de coorde-
nação entre duas orações que compõem um mesmo período. No entanto, dessa vez, nenhuma conjunção foi utilizada.
Período composto por coordenação
Cidade limpa Direito seu, dever de todos.
Concluímos, assim, que o uso ou não de conjunção para relacionar orações de um período composto é uma decisão
do enunciador e atende a seus interesses específicos em uma situação comunicativa concreta.
As orações coordenadas são bastante comuns em receitas, anúncios publicitários, folhetos e cartazes. Isso ocorre porque
elas apresentam, em geral, uma estrutura mais simples que a das orações subordinadas, o que torna a transmissão da infor-
mação mais direta e facilita a compreensão leitora. Assim, em textos desse tipo, podemos encontrar tanto frases formadas
por período simples como as que fazem uso de período composto por coordenação.
“sm
Na tirinha, no primeiro período, a conjunção “e” estabelece uma relação de adição entre a primeira e a segunda oração,
isto é, as duas ações realizadas pelo garoto são somadas: morder e ver.
Ao analisar o restante da tirinha, podemos resumir a dúvida gerada após a discussão entre os personagens da se-
guinte forma:
Todas as goiabas têm larvas ou somente algumas as têm?
Nesse período, as orações estão ligadas pelo conectivo “ou”, que indica alternância. Isso significa que, entre duas
opções, uma escolha é obrigatória.
Conhecer as conjunções coordenativas pode nos ajudar a perceber as relações estabelecidas entre as orações da sentença
complexa. =
u
[=
* Conectivos que indicam soma de ideias: e, nem, não só... mas também, mas ainda. z
mt
* Conectivos que indicam alternância (escolha) de ideias: ou... ou, já... já, ora... ora, quer... quer, ou. [2
[TR
121
Orações coordenadas (relações de oposição, explicação e conclusão)
O cartaz a seguir faz parte de uma campanha contra o trabalho infantil e cnama a atenção para os perigos a que crian-
ças e adolescentes podem estar expostos quando começam a realizar serviços profissionais diversos desde muito cedo.
Acervo do
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Observe que a frase “Você não vê, mas existe” possui duas informações: “não vê” e “existe”. Considerando que, de
forma geral, acreditamos que só existe aquilo que podemos ver, essas ideias evidenciam uma oposição. Essa aparente
“incoerência” é uma estratégia argumentativa com o objetivo de chamar a atenção do leitor para “abrir os olhos” para o
problema; é um convite para que ele tome uma atitude em relação a isso, seja não contratando menores, seja denunciando
quem o faz.
O uso da oração coordenada sindética adversativa, portanto, é fundamental para a construção de sentidos do texto.
* Conectivos que indicam oposição: mas, porém, no entanto, entretanto, todavia, contudo.
De forma geral, em textos argumentativos podemos encontrar períodos compostos por coordenação formados por
orações que estabelecem entre si relações de explicação e de conclusão. Isso porque, ao apresentar uma ideia, expli-
cações podem ser necessárias, e, ao encerrar uma argumentação, o uso de ideias conclusivas são bastante úteis para
sintetizar o que é defendido.
A ONU chegou a essa conclusão com atraso, pois sua estrutura de governança é antiquada [...].
, Y
Oração coord. assindética Oração coord. sindética explicativa
conjunção explicativa
No período composto acima é possível observar que há dois verbos na sentença, portanto duas orações. A primeira
delas não apresenta conjunção,já a segunda é introduzida pela conjunção “pois”. Note que, nesse contexto, ela introduz
uma explicação: a segunda oração justifica o termo “atraso” apresentado na primeira, afirmando que a “governança é
antiquada”.
conjunção conclusiva conjunção aditiva
t t
Manda, portanto, o poder econômico e não [manda] a ciência.
y
Oração coord.
y
Oração coord.
sindética conclusiva sindética aditiva
No período que encerra o artigo de opinião lido, também podemos observar duas orações, ambas com conjunções
de valor semântico diferentes: uma conclusiva e outra aditiva. A primeira evidencia uma conclusão possível a partir do que
havia sido apresentado anteriormente no texto;
já a segunda estabelece uma relação de adição entre as orações e une
termos que têm a mesma função sintática.
Perceba que, ao fazer tal afirmação, o autor faz uma crítica com base naquilo que foi apresentado antes: muita
burocracia e demora para tomar atitudes levam ao favorecimento dos interesses econômicos dos seres humanos
(já que eles “converteram 8% da vegetação nativa dos continentes em plantações, pastagens e cidades”) e deixam
de lado um fato científico fundamental (isto é, “a biomassa de todos os animais [...] depende inteiramente da saúde pm
uu
[=
das plantas”). pr
uu
A oração coordenada sindética conclusiva — e a conjunção “portanto” — têm função fundamental no texto: sinalizar [3
o
para o leitor a que conclusão chegou o autor do artigo depois de analisar os fatos expostos.
123
Oração coordenada Oração coordenada um outro cão carregando um pedaço de carne ainda maior.
sindética explicativa sindética conclusiva Soltou então o pedaço que carregava e se jogou na água para
Introduzida por conjunção Introduzida por conjunção pegar o outro.
que evidencia uma explicação. que marca conclusão de ideias. Resultado: não ficou nem com um nem com outro, pois
A ONU precisa mudar, Cuidar do meio ambiente
o primeiro foi levado pela correnteza e o segundo não existia.
porque dela dependem ações é tarefa de todos, logo preciso
importantes. fazer a minha parte. Cuidado com a cupidez.
ESOPO. 200 fábulas de Esopo. Tradução de Antônio Carlos Vianna.
Porto Alegre: L&PM, 2017. p. 17.
* Conectivos que indicam explicação: pois (antes do Observe que na fábula a ação de “soltar a carne” é
verbo), porque, que, porquanto. uma conclusão a que o cão chega depois de analisar um
* Conectivos que indicam conclusão: pois (após o ver- fato que ele acreditava ser verdadeiro. Veja ainda que,
bo), portanto, assim, então, logo, por isso. posteriormente, o “resultado” é esclarecido para um leitor
desavisado que não tenha compreendido o motivo de o
É importante notar também que o uso de conjunções cão não ter ficado “nem com um, nem com outro pedaço
explicativas e conclusivas não ocorre só em textos argumen- da carne”.
tativos, uma vez que elas sempre serão úteis quando o intuito
Em suma, as orações coordenadas que estabele-
for compartilhar uma explicação e apresentar uma conclusão.
cem relações de explicação e conclusão — e as demais
Leia a fábula a seguir.
estudadas neste capítulo — são comuns em situações co-
O cão e o pedaço de carne municativas diversas, já que evidenciam relações lógicas
Um cão atravessava um riacho com um pedaço de carne entre partes de um texto, contribuindo para a coerência
na boca. Quando viu seu reflexo na água, pensou que fosse dos enunciados que produzimos diariamente.
ami mataray'Shutterstock.com
do Tiro oa R Mas avisar aos outros quanto é amargo
Cumprir o trato injusto e não falhar
NE | rebp DoLEraR
Mas avisar aos outros quanto é injusto
0 ToRi nin! U ido) orar toa Sofrer o esquema falso e não ceder
Mas avisar aos outros quanto é falso
Dizer também que são coisas mutáveis...
No fragmento “Ou gosto muito ou não gosto”, as pa- E quando em muitos a não pulsar
lavras destacadas são conjunções coordenativas e — do amargo e injusto e falso por mudar —
estão unindo duas orações. A esse tipo de oração, então confiar à gente exausta o plano
damos o nome de coordenada:
de um mundo novo e muito mais humano.
a) aditiva. d) explicativa.
CAMPOS, G. Tarefa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
b) adversativa. e) alternativa.
c) conclusiva. Na organização do poema, os empregos da conjun-
ção “mas” articulam, para além de sua função sintática,
5. UEL-PR 2019 (Adapt.) a) a ligação entre verbos semanticamente seme-
Tem uma frase boa que diz: uma língua é um dialeto lhantes.
com exércitos. Um idioma só morre se não tiver poder polí- b) a oposição entre ações aparentemente inconci-
tico”, explica Bruno [Astorina, da Olimpíada Internacional liáveis.
de Linguística. E não dá para discordar. Basta pensar na c) a introdução do argumento mais forte de uma se-
infinidade de idiomas que existiam no Brasil (ou em toda
quência.
América Latina) antes da chegada dos europeus — hoje são
d) o reforço da causa apresentada no enunciado in-
apenas 227 línguas vivas no país. Dominados, os índios
trodutório.
perderam sua língua e cultura. O latim predominava na
e) a intensidade dos problemas sociais presentes
Europa até a queda do Império Romano. Sem poder, as
fronteiras perderam força, os germânicos dividiram as cida- no mundo.
des e, do latim, surgiram novos idiomas. Por outro lado, na
7. Enem 2013
Espanha, a poderosa região da Catalunha ainda mantém seu
idioma vivo e luta contra o domínio do espanhol.
Não é à toa que esses povos insistem em cuidar de
À PREGUIÇA É A MÃE DE
TODOS 05 VÍCIOS, MAS UMA
seus idiomas. Cada língua guarda os segredos e o jeito MÃE É UMA MAE E É PRECISO
de pensar de seus falantes. “Quando um idioma morre, ESPEITÁ-LA, PRONTO! ;<
morre também a história. O melhor jeito de entender o
sentimento de um escravo é pelas músicas deles”, diz
Luana Vieira, da Olimpíada de Linguística. Veja pelo
aimará, uma língua falada por mais de 2 milhões de pes-
soas da Cordilheira dos Andes. Nós gesticulamos para trás
ao falar do passado. Esses povos fazem o contrário. “Eles
acreditam que o passado precisa estar à frente, pois é algo
que já não visualizamos. E o futuro, desconhecido, fica
atrás, como se estivéssemos de costas para ele, explica. Disponível em: http://clubedamafalda.blogspot.com.br.
CASTRO, Carol. Blá-blá-blá sem fim. Galileu, ed. 317, dez. 2017, p. 31. Acesso em: 21 set. 2011.
Acerca de trechos do texto, considere os exemplos a Nessa charge, o recurso morfossintático que colabora
seguir quanto à presença de oração coordenada. para o efeito de humor está indicado pelo(a)
|. “os germânicos dividiram as cidades”. a) emprego de uma oração adversativa, que orienta
H. “e luta contra o domínio do espanhol”. a quebra da expectativa ao final.
HI. “os índios perderam sua língua e cultura”. b) uso de conjunção adversativa, que cria uma rela-
IV. “em cuidar de seus idiomas”. ção de causa e efeito entre as ações.
Assinale a alternativa correta. c) retomada do substantivo “mãe”, que desfaz a am-
a) Somente os exemplos le Il são corretos. biguidade dos sentidos a ele atribuídos.
b) Somente os exemplos | e IV são corretos. d) utilização da forma pronominal “la”, que reflete um =
uu
c) Somente os exemplos Ill e IV são corretos. tratamento formal do filho em relação à “mãe” [=
4
d) Somente os exemplos |, Ile Ill são corretos. e) repetição da forma verbal “é”, que reforça a rela- tu
[4
o
e) Somente os exemplos Il, Ill e IV são corretos. ção de adição existente entre as orações.
12
Leia o trecho a seguir. sou um leitor culto. Esse tema do que passa por meio de,
Técnicos brasileiros não evoluem, pois são indiretamente, era importante para Barthes. Ele adorava
o caso da brincadeira de passar o anel, onde o que está
cúmplices de um sistema viciado
50 em jogo é tanto o roçar das mãos quanto o destino do
Não bastasse o futebol de péssima qualidade propos- objeto. Pois bem, fui percebendo que a escrita nas redes
to pelos treinadores, os jogadores ainda fazem cera e os sociais é uma forma de roçar as mãos, tanto quanto de
torcedores invadem o campo para quebrar tudo saber, afinal, onde foi parar o anel. O indireto dessa
CAJU, Paulo Cesar. Placar, 12 nov. 2021. Disponível em: https://placar. escrita, o que por meio dela se diz, é uma pura abertura
abril.com.br/coluna/paulo-cezar-caju/tecnicos-brasileiros-nao-evoluem-
pois-sao-cumplices-de-um-sistema-viciado/. Acesso em: 11 nov. 2022. 55 ao outro.
FRANCISCO BOSCO Adaptado de Alta ajuda. Rio de Janeiro: Foz, 2012.
O termo sublinhado no título da notícia introduz, no
contexto analisado, noção de: Além disso, a publicização da intimidade não significa
necessariamente autopromoção do eu. Ela pode ativar
a) finalidade. d) concessão.
uma dimensão importante da comunicação humana.
b) consequência. e) condição.
(I. 39-42)
c) explicação.
O valor da frase sublinhada, em relação àquela que a
Uerj 2016 antecede, pode ser caracterizado como:
a) opositivo c) explicativo
Resisti a entrar para o Facebook e, mesmo quando já
b) conclusivo d) conformativo
fazia parte de sua rede, minha opinião sobre ela não era
das melhores: fragmentação da percepção, e portanto da 10. IFMT 2019
capacidade cognitiva; intensificação do narcisismo exi-
bicionista da cultura contemporânea; império do senso A lebre e a tartaruga
comum; indistinção entre o público e o privado. Não sei
A lebre vivia a se gabar de que era o mais veloz de
se fui eu quem mudou, se foram meus “amigos” ou se
todos os animais. Até o dia em que encontrou a tartaruga.
foi a própria rede, mas, hoje, sem que os traços acima
— Eu tenho certeza de que, se apostarmos uma cor-
tenham deixado de existir, nenhum deles, nem mesmo
rida, serei a vencedora — desafiou a tartaruga.
10 todos eles em conjunto me parecem decisivos, ao menos
na minha experiência: agora compreendo e utilizo a rede A lebre caiu na gargalhada.
social como a televisão do século XXI, com diferenças e — Uma corrida? Eu e você? Essa é boa!
vantagens sobre a TV tradicional. — Por acaso você está com medo de perder? — per-
A internet, as tecnologias wiki de interação e as re- guntou a tartaruga.
15 des sociais têm uma dimensão, para usar a expressão — É mais fácil um leão cacarejar do que eu perder
do escritor Andrew Keen, de “culto do amador”, mas tal uma corrida para você — respondeu a lebre.
dimensão convive com o seu oposto, que é essa crítica No dia seguinte a raposa foi escolhida para ser a juíza
da mídia tradicional pela nova mídia, cujos agentes mui- da prova. Bastou dar o sinal da largada para a lebre dispa-
tas vezes nada têm de amadores. Assim, a metatelevisão rar na frente a toda velocidade. A tartaruga não se abalou
20 do Facebook opera tanto selecionando conteúdo da TV e continuou na disputa. A lebre estava tão certa da vitória
tradicional como submetendo-o à crítica. E faz circular que resolveu tirar uma soneca.
ainda informações que a TV, por motivos diversos, su- “Se aquela molenga passar na minha frente, é só cor-
prime. Alguns acontecimentos recentes, no Brasil e no rer um pouco que eu a ultrapasso” — pensou.
mundo, tiveram coberturas nas redes sociais melhores
A lebre dormiu tanto que não percebeu quando a tarta-
25 que nos canais tradicionais. A divergência é uma virtude
ruga, em sua marcha vagarosa e constante, passou. Quando
democrática, e as redes sociais têm contribuído para isso
acordou, continuou a correr com ares de vencedora. Mas,
(e para derrubar ditaduras onde não há democracia).
A publicização da intimidade, sem nenhuma transfi- para sua surpresa, a tartaruga, que não descansara um só
guração que lhe confira o estatuto de interesse público, é minuto, cruzou a linha de chegada em primeiro lugar.
30 muito presente na rede. Deve-se lembrar, entretanto, que Desse dia em diante, a lebre tornou-se o alvo das
redes sociais não são exatamente um espaço público, mas chacotas da floresta.
um espaço privado ampliado ou uma espécie nova e híbrida Quando dizia que era o animal mais veloz, todos
de espaço público-privado. Seja como for, aqui também é o lembravam-na de uma certa tartaruga...
usuário que decide sobre o registro em que prevalecerá sua FONTAINE, Jean de la. Fábula de Esopo. Adaptada por Lucia Tulchinski.
2. ed. São Paulo: Scipione, 2010.
35 experiência. E não se deve exagerar no tom crítico a essa
dimensão; o registro imaginário, narcisista, de promoção do No excerto “Mas, para sua surpresa, a tartaruga, que
eu é humano, demasiadamente humano, e até certo ponto não descansara um só minuto, cruzou a linha de chega-
necessário. Deve-se apenas relativizá-lo; ora, essa relativi-
da em primeiro lugar”, a palavra em destaque poderia
zação vigora igualmente nas redes sociais. Além disso, a
ser substituída por outra ,que o
40 publicização da intimidade não significa necessariamente
texto não sofreria mudança de sentido.
autopromoção do eu. Ela pode ativar uma dimensão im-
portante da comunicação humana. a) conjunção aditiva.
Roland Barthes, escritor francês, costumava dizer b) conjunção adversativa.
que a linguagem sempre diz o que diz e ainda diz o que c) conjunção conclusiva.
45 não diz. Por exemplo, ao citar o nome de Barthes, estou, d) conjunção alternativa.
além de dizer o que ele disse, dizendo que eu o li, que e) conjunção explicativa.
2
x
a) 2. d) 5.
«4
q
o)
b) 3. e) 6.
E
o c) 4.
E
o
o
Cc
- Leia o excerto de notícia a seguir e responda às ques-
EE
a tões que a ele se referem.
Il. Nos fragmentos “Estou bem protegido!”, “Vou dar a) O primeiro período da notícia é formado por vá-
uma volta ali foral” e “Protegido você está em rias orações. Como ele é denominado? Por quê?
casa!”, temos exemplos de frases verbais. b) As orações que compõem esse período são coor-
Il. No fragmento “Paciência, meu filho, paciência..”, denadas sindéticas ou assindéticas? Justifique
temos um exemplo de frase nominal. sua resposta.
Il. No fragmento “Protegido você está em casal”, te-
mos um exemplo uma sentença complexa. Uece 2019
IV. Todos os enunciados da tirinha são exemplos de
frases verbais.
Conheça 5 atitudes simples para preservar o
Agora, assinale a alternativa que indica a(s) preposi- meio ambiente
ção(ões) correta(s). É possível mudar muito fazendo atitudes simples em
a) Apenas |. seu cotidiano.
b) Apenas IV. Não é mais nenhum segredo que as mudanças climá- -
uu
c) Apenasle ll. ticas e agressão ao meio ambiente estão entre as ameaças [m
z
d) Apenaslle Ill. mais graves à humanidade e, se nada for feito, em poucos uu
[02
o
e) Apenasl,lle Ill. séculos, a Terra como conhecemos pode deixar de existir.
127
Mas [...] pouca gente parece perceber ou compreen- d) “[...] e desligue o computador durante a noite” é
der o que pode fazer de fato para mudar a situação. Não é coordenada aditiva, porque é independente das
preciso muito: atitudes simples no dia a dia podem ajudar outras orações e se liga a uma outra oração dan-
a minimizar os danos causados no meio ambiente.
do ideia de adição.
Economize energia
Comece trocando as lâmpadas por modelos eficien- UFSM-RS Assinale a sequência de conjunções que
tes. [...]. Em seguida, preste atenção para não deixar estabelecem, entre as orações de cada item, uma cor-
luzes acesas em cômodos que não estão sendo utiliza- reta relação de sentido.
15 dos e desligue o computador durante a noite. Nas tarefas
1. Correu demais, ... caiu.
domésticas, busque ser mais eficiente, por exemplo, es-
perando acumular roupas o suficiente para encher uma .- Dormiu mal, ... os sonhos não o deixaram em paz.
BWwN
máquina antes de lavá-las. A matéria perece, ... a alma é imortal.
Economize papel Leu o livro, ... é capaz de descrever as persona-
20 Evite impressões desnecessárias: ingressos (quando há gens com detalhes.
a opção de e-ticket), extratos de banco, via da compra no 5. Guarde seus pertences, ... podem servir mais tarde.
cartão, contas que podem ser pagas online... [...] Ao usar
a) porque, todavia, portanto, logo, entretanto
papel para anotações, certifique-se de usá-lo por completo
b) porisso, porque, mas, portanto, que
antes de reciclar. E, na hora de dar presentes, experimente
25 reutilizar papéis antigos ou buscar novas formas criativas
c) logo, porém, pois, porque, mas
de embrulhá-los. d) porém, pois, logo, todavia, porque
Tenha um dia vegetariano e) entretanto, que, porque, pois, portanto
Você não precisa parar de comer carne, mas experi-
Observe os períodos a seguir.
mente deixar de consumir carne por somente um dia. São
30 necessários 9,5 mil litros de água para produzir cada meio Il. Vou a sua casa, mas não falarei contigo.
quilo de carne, e cada hambúrguer que vem de animais Il. Foi mal na prova, mas foi se divertir com seus amigos.
que pastam em áreas desmatadas causou a destruição de HH. Os alunos estavam ansiosos, mas queriam ir bem
cinco metros quadrados de floresta. na prova.
Desligue a torneira
35 Só de desligar a torneira ao escovar os dentes, por A conjunção mas introduz orações coordenadas
exemplo, é possível economizar 18 litros de água por dia. adversativas que apresentam ideias ou valores diferen-
Experimente fazer o mesmo quando for ensaboar as mãos tes. Em |, Ile Ill há, respectivamente, a ideia ou valor de:
ou as louças na pia na hora de lavá-las para economizar a) compensação, justificativa, contraste.
ainda mais. b) compensação, compensação, justificativa.
40 Reduza o consumo de plástico c) não compensação, não compensação, objeção.
Você já deve ter ouvido falar da ilha de plástico no d) não compensação, compensação, justificativa.
Pacífico. Ela é formada por 4 milhões de toneladas de e) comparação, objeção, compensação.
plástico [...]. Reduzir o consumo de plástico no dia a dia
é fundamental para reverter este cenário. Muitas cidades Fuvest-SP Dentre os períodos transcritos abaixo, um
45 brasileiras já aboliram a sacola plástica no supermercado é composto por coordenação e contém uma oração
[...]. Tenha a própria garrafinha para quando precisar tomar coordenada sindética adversativa. Assinale a alterna-
água: cerca de 90% das garrafas de plástico não são reci- tiva correspondente a esse período.
cladas e acabam em aterros. E, se for usar copos plásticos,
a) A frustração cresce e a desesperança não cede.
[...] adote a técnica de marcar o nome com uma caneta
b) O que dizer sem resvalar para o pessimismo, a
50 em vez de jogá-lo no lixo cada vez que for tomar algo.
Adaptado de MARASCIULO, Marília. Conheça 5 atitudes simples
crítica pungente ou a autoabsolvição?
para preservar o meio ambiente. Revista Galileu. Disponível c) É também ocioso pensar que nós, da tal elite, te-
em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/MeioAmbiente/
mos riqueza suficiente para distribuir.
noticia/2019/01/conheca-5-atitudes-simplespara-preservar-o-meio-
ambiente.html. 2019. Acesso em: 20 de maio de 2019. d) Sejamos francos.
e) Em termos mundiais somos irrelevantes como
O excerto “Em seguida, preste atenção para não deixar
luzes acesas em cômodos que não estão sendo utiliza- potência econômica, mas ao mesmo tempo ex-
dos e desligue o computador durante a noite” (linhas tremamente representativos como população.
13-15) é um período composto. Com relação às orações
10. UEM-PR 2021
desse período, assinale a afirmação INCORRETA.
a) “Em seguida, preste atenção” é uma oração su- Mineração e garimpo disputam área
bordinada substantiva subjetiva, porque esse maior do que a Bélgica dentro da
trecho é o sujeito da oração principal. Terra Indígena Yanomami
b) “[...] para não deixar luzes acesas em cômodos” é
Naira Hofmeister / Pedro Papini
uma oração subordinada adverbial final, porque
Tiros de fuzil, bombas de gás, ameaças. Indígenas da
exprime o objetivo do que se declara na oração
terra Yanomami, um imenso território no coração da Ama-
principal.
zônia, passaram o último mês sob ataque de garimpeiros.
c) “[...] que não estão sendo utilizados” é uma ora- Desde 10 de maio, quando sete embarcações abriram fogo
ção adjetiva restritiva, porque particulariza o contra dezenas de indígenas sentados à beira do rio Urari-
termo “cômodos”, exercendo função de adjunto coera, nenhuma semana se passou sem que novas ameaças
adnominal desse termo. fossem registradas. A mais recente foi em 17 de junho,
12
tw
Luciana quis aproximar-se das pessoas grandes, mas momentânea descontentou-a: se privassem o diabo daqueles
lembrou-se do que lhe tinha acontecido na véspera. An- apêndices, ele ficaria reduzido a um brinquedo ordinário.
10 dara com mamãe pela cidade, percorrera diversas ruas, Estremeceu maravilhada, num susto que encerrava prazer,
satisfeita. Num lugar feio e escorregadio, onde a água 75 uma visão patenteou-lhe a figura monstruosa. Certamente o
da chuva empoçava, resistira, acuara e caíra no chão, diabo tinha gênio ruim, em horas de zanga batia nas pessoas
sentara-se na lama, esperneando e berrando. Em casa, com o rabo, espetava-as com os chifres. E retinto, da cor de
antes de tirar-lhe a camisa suja, mamãe lhe infligira três Seu Adão carroceiro...
15 palmadas enérgicas. Por quê? Luciana passara o dia ten- — Esta menina tem parte com o diabo.
tando reconciliar-se com o ser poderoso que lhe magoara 80 E puxava as orelhas de Luciana. Por quê? Certamente
as nádegas. Agora, na presença da visita, essa criatura forte o diabo também fugia de casa. Lisonjeada e medrosa com
não anunciava perigo. a terrível associação, Luciana persistia na desobediência.
Luciana aproximou-se do sofá nas pontas dos pés, Seu Adão, apesar de negro, não tinha parte com o
20 imitando as mulheres que usam sapato alto. Convidava a diabo, provavelmente um sujeito sisudo, triste, como tio
irmã para brincar de moça, mas acabava arranjando-se só. 85 Severino. O beiço franzido e o olho duro de tio Severino.
E lá ia ela remedando um pássaro que se dispõe a voar, — Esta menina tem parte com o diabo. A fala
inclinada para a frente, os calcanhares apoiados em saltos ranzinza feria-lhe os ouvidos. Dedos finos e nervosos
enormes e imaginários. Assim aparelhada, chamava-se agarravam-na. Um susto, a impressão de ter perdido
25 D. Henriqueta da Boa-Vista. qualquer coisa e achar-se em risco. Findo o sobressal-
Tio Severino era notável: vermelho, tinha maçarocas 90 to, imaginara-se protegida por entidades vigorosas e
brancas no rosto, o beiço e o queixo rapados, a testa brilhan- imortais. Agora a frase de tio Severino firmava-lhe a con-
te, sobrancelhas densas e óculos redondos. Entre os dentes vicção. Com certeza possuía as qualidades necessárias
amarelos, a voz escorria pausada, nasal, incompreen- para instruir-se e confirmar o juízo de tio Severino. Dona
30 sível. Luciana percebia as palavras, mas não atinava com Henriqueta da Boa-Vista era um azougue: tinha jeito de
a significação delas. Rondou por ali um instante, mas 95 quem sabe onde o diabo dorme. Ainda não sabia, mas ha-
fatigou-se. E ia esgueirar-se para o corredor, quando veria de saber. Descobriria o lugar onde o diabo dorme.
algumas sílabas da conversa indistinta lhe avivaram a re- Dona Henriqueta da Boa-Vista se largaria pelo mundo,
cordação de outras sílabas vagas, largadas por um moleque importante, os calcanhares erguidos, em companhia de
35 na rua. Repetiu bem alto as palavras do moleque. seres enigmáticos que lhe ensinariam a residência do
— Esta menina sabe onde o diabo dorme. 100 diabo. Mais tarde seu Adão a embarcaria na carroça:
Luciana teve um deslumbramento. O coraçãozinho — “Foi um dia uma princesa bonita que tinha uma estrela
saltou, uma alegria doida encheu-a. Sentiu-se feliz e ne- na testa”. Luciana recusava as princesas e as estrelas. Seu
cessitou desabafar com alguém. Cruzou a sala. Espalhou Adão coçaria o pixaim, encolheria os ombros. Levá-la-ia
40 as revistas e as bonecas, pôs-se a dançar em cima delas. para a gaiola. Mamãe recebê-la-ia zangadíssima. E daria,
Regressou, muito leve, boiando naquela claridade que a 105 quando seu Adão se retirasse, várias chineladas em Dona
envolvia e penetrava. Henriqueta da Boa-Vista. Sem dúvida. Mas isso ainda
— Esta menina sabe onde o diabo dorme. estava muito longe — e Luciana aborrecia tristezas.
Tio Severino tinha feito uma revelação extraordiná- Graciliano Ramos. Luciana. In: Insônia. Record
14a Ed. Rio, São Paulo: 1978. p. 61-68.
45 ria, e Luciana devia comportar-se como pessoa que sabe
onde o diabo dorme. Voltou a caminhar nas pontas dos Atente ao que se diz sobre as orações do seguinte
pés, de uma parede a outra, simulando não ver o sofá e excerto: “Ouvindo rumor na porta da frente e os pas-
a poltrona. Estava sendo observada, notavam nela sinais sos conhecidos de tio Severino, Luciana ergueu-se
esquisitos, sem dúvida.
estouvada, saiu do corredor, entrou na sala, parou
50 — Foi tio Severino quem disse.
indecisa, esperando que a chamassem. Ninguém re-
— Ah!
parou nela”. (linhas 1-4)
Papai e mamãe, silenciosos, refletindo na opinião
rouca do parente grande, com certeza diziam “Ah!” por Il. A primeira oração, construída com o verbo ouvir
dentro e orgulhavam-se da filha sabida. no gerúndio, pode ser reescrita da seguinte ma-
55 A cena da véspera atravessou-lhe o espírito e neira: (Quando ouviu rumor na porta da frente e
importunou-a. Sentada numa poça de água suja, grita- os passos de tio Severino, Luciana...).
ra, enlameara-se toda. Naquele despropósito não era Ill. Os verbos empregados no pretérito perfeito do
D. Henriqueta da Boa Vista — Que vergonha! indicativo sugerem as ações de Luciana (ergueu-
A culpada era a mamãe, que tivera a infeliz ideia de -se, saiu, entrou, parou) foram percebidas pelo
60 levá-la a lugares diferentes da calçada tranquila, do quintal narrador depois de concluídas.
sombrio. Na esquina do quarteirão principiava o mistério: Hl. Embora sem um conectivo que evidencie uma
barulho de carros, gritos, cores, movimentos, prédios al- relação semântica entre as últimas orações do
tos demais. Talvez o diabo dormisse num deles. Em qual? trecho, pode-se depreender um sentido de adi-
Desanimada, confessou, interiormente, a sua ignorância.
ção (e esperou) e de oposição (chamassem, mas),
65 E, relativamente ao diabo só podia garantir baseada nas
ligando-as.
informações da cozinheira, que ele era preto, possuía chi-
fres e rabo. Para quê? Admirou-se dessa extravagância. Que Está correto o que se diz em
precisão tinha ele de chifres e rabo? Preto estava certo. No a) lellapenas.
bairro moravam alguns pretos, sem chifres nem rabo. E se a b) lelllapenas.
70 cozinheira estivesse enganada? No espírito de Luciana, pouco c) llelllapenas.
inclinado a dúvidas, a pergunta esmoreceu, mas a indecisão d) |llelll.
131
15. Ifal 2018 Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, 18. Em Édipo Rei, tragédia grega de Sófocles, a Esfinge
em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um ar- devora a todos que não lhe respondam ao seguinte
senal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que enigma: “Decifra-me ou te devoro”. Nesse período há
aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair presença de duas orações que estabelecem entre si
toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da reli- uma relação de
gião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, a) adição. d) explicação.
envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só b) alternância. e) oposição.
negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? c) conclusão.
Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limi-
tava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda
19. No título de notícia a seguir, o conector discursivo
destacado no texto exprime ideia de:
afirmar, e ele não formulava incredulidade; diante do mis-
tério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando. Brasil vai às Olimpíadas de Inverno com a
(MACHADO DE ASSIS. Obras completas em quatro volumes, volume 2.
São Paulo: Editora Nova Aguilar, 2015, p. 435)
melhor equipe da história, mas sem chance
de pódio
Assinale a opção em que não haja correspondência
COSTA, Guilherme. Globo Esporte, 17 jan. 2022. Disponível em:
de ideias com a frase: “E digo mal, porque negar é https://ge.globo.com/olimpiadas/blogs/brasil-em-paris/noticia/brasil-
ainda afirmar.” vai-as-olimpiadas-de-inverno-com-a-melhor-equipe-da-historia-mas-
a) E digo mal, pois que negar é ainda afirmar... sem-chance-de-podio.ghtml. Acesso em: 18 jan. 2022.
As conjunções “e”, “Portanto” e “mas” estabelecem Diego Souza ironiza torcida do Palmeiras
entre as orações, respectivamente, relação de: O Palmeiras venceu o Atlético-GO pelo placar de 1
a) adição — explicação — conclusão a O, com um gol no final da partida. O cenário era para
ser de alegria, já que a equipe do Verdão venceu e deu um
b) adição — conclusão — oposição
importante passo para conquistar a vaga para as semifinais,
c) separação — explicação — oposição mas não foi bem isso que aconteceu.
d) adição — exclusão — justificação O meia Diego Souza foi substituído no segundo tempo
e) explicação — conclusão — oposição debaixo de vaias dos torcedores palmeirenses e chegou a fa-
zer gestos obscenos respondendo à torcida. Ao final do jogo,
23. Unifesp Considere o trecho da Bíblia para responder o meia chegou a dizer que estava feliz por jogar no Verdão.
à questão. — Eu não estou pensando em sair do Palmeiras. Estou
muito feliz aqui — disse.
E disse [Deus]: Certamente tornarei a ti por este tempo Perguntado sobre as vaias da torcida enquanto era
da vida; e eis que Sara tua mulher terá um filho. E Sara substituído, Diego Souza ironizou a torcida do Palmeiras.
escutava à porta da tenda, que estava atrás dele. — Vaias? Que vaias? — ironiza o camisa 7 do Verdão,
E eram Abraão e Sara já velhos, e adiantados em ida- antes de descer para os vestiários.
de; já a Sara havia cessado o costume das mulheres. Disponível em: http://oglobo.globo.com. Acesso em: 29 abr. 2010.
Assim, pois, riu-se Sara consigo, dizendo: Terei ainda
deleite depois de haver envelhecido, sendo também o meu A progressão textual realiza-se por meio de relações se-
senhor já velho? [...] mânticas que se estabelecem entre as partes do texto.
E concebeu Sara, e deu a Abraão um filho na sua Tais relações podem ser claramente apresentadas pelo
velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe tinha falado. emprego de elementos coesivos ou não ser explicitadas,
(www.bibliaonline.com.br, Gn 18. 10-12;21,2.) no caso da justaposição. Considerando-se o texto lido,
a) no primeiro parágrafo, o conectivo já que marca
Em uma relação de consequência entre os segmentos
* Assim, pois, riu-se Sara consigo... do texto.
* .. que Deus /he tinha falado. b) no primeiro parágrafo, o conectivo mas explicita uma
a conjunção pois tem valor e o prono- relação de adição entre os segmentos do texto.
me lhe refere-se ao termo c) entre o primeiro e o segundo parágrafos, está im-
plícita uma relação de causalidade.
Os espaços devem ser preenchidos, respectivamen- d) no quarto parágrafo, o conectivo enquanto es-
a
te, com tabelece uma relação de explicação entre os uw
[=
a) conclusivo e Abraão d) explicativo e Abraão segmentos do texto. 4
uu
b) explicativo e Sara e) condicional e Abraão e) entre o quarto e o quinto parágrafos, está implícita [4
a
c) causale Sara uma relação de oposição.
13
tw
26. Cesgranrio-RJ 2º. Unifesp
tranquila” Os dois-pontos (:) do período acima pode- 4. Em um período composto por coordenação, as con-
ty
riam ser substituídos por vírgula, explicitando-se o junções coordenativas são responsáveis por conectar
nexo entre as duas orações pela conjunção: duas orações que são sintaticamente independentes
a) portanto entre si. Assinale a seguir a alternativa que não possui
b) e esse tipo de conjunção.
c) como a) Meu irmão é mais inteligente do que eu.
d) pois b) Cheguei tarde, porém consegui encontrar a loja
e) embora aberta.
c) Paula não gosta de filmes nem de séries.
31. UFMS Observe o emprego das conjunções nos pe- d) Choverá muito, portanto não iremos acampar
ríodos a seguir. amanhã.
Il. Ora Maria estuda História, ora ela ouve música. e) Não foi à festa, porque teve outro compromisso.
Il. Ou você estuda História, ou você ouve música.
- FGV-SP 2016
tw
UM
13
Achava-se justamente a caminho da “sua” circuns- Por vislumbrar justa causa a autorizar a devolução do
crição, quando, depois de tantos naufrágios no sentido prazo para manifestação, a 8º Câmara de Direito Público
figurado, pereceu num naufrágio concreto, deixando sau- do Tribunal de Justiça de São Paulo anulou decisão de
dades a um reduzido círculo de amigos, um medíocre primeiro grau que havia rejeitado uma peça apresentada
libreto de ópera e algumas traduções, do francês, de ro- intempestivamente.
mances de cordel, aos pesquisadores de curiosidade, e as [...]
Porém, no T)-SP, o entendimento foi em sentido con-
Memórias de um sargento de milícias ao seu país.
trário [...].
Paulo Rónai, Encontros com o Brasil. Rio de Janeiro:
Edições de Janeiro, 2014. “Destarte, há justa causa a ser considerada na es-
pécie, porquanto há comprovação idônea de que ainda
No primeiro parágrafo, o conectivo “entretanto” intro- na fluência do prazo para manifestar-se sobre a resposta,
duz uma oração que contém, em relação à associação a patrona da autora foi contaminada pelo coronavírus,
feita no período anterior, ideia de estava em convalescença e consequentemente impedida
a) similitude. d) causa. da prática de atos processuais”, afirmou.
b) explicação. e) condição. VIAPIANA, Tábata. T)-SP aceita peça intempestiva de advogada que
c) contraste. perdeu prazo por Covid-19. Consultor Jurídico, 8 abr. 2021. Disponível em:
www.conjur.com.br/2021-abr-08/tj-sp-aceita-peca-intempestiva-
advogada-perdeu-prazo. Acesso em: 19 jan. 2022.
- O vocabulário jurídico utiliza certos termos que não
uv
são comuns no dia a dia de um falante da língua por- Que tipo de relação a conjunção “destarte” estabelece
tuguesa. Raramente utilizada em situações orais e com o que se afirma no período anterior
coloquiais, uma das conjunções utilizadas no cam- a) adição. d) separação.
po jurídico é “destarte”. No texto a seguir, temos um b) oposição. e) explicação.
exemplo do uso dessa conjunção. c) conclusão.
LD CTT TE
Preconceitos
Por outro lado, se afirmo “Fulano caiu do prédio mas não morreu”, é de se observar que a negação de uma das consequências previsíveis mostra
uma quebra de expectativa: afinal, pessoas que caem de prédios têm grande chance de morrer, porém não foi o caso dessa em particular. Igualmente,
a negação de uma consequência “natural”, típica das adversativas, pode estar implícita numa informação como “Fulano caiu do prédio mas saiu ileso”.
O “mas” serve para dizer que eu e você comungamos da mesma expectativa cúmplice, alicerçada sobre nossa experiência de vida, e, ao mesmo
tempo, que o meu espanto quanto à quebra dessa expectativa é possivelmente também o seu. Há algo de retórico nesse tipo de formulação.
Este sentido complexo e demasiadamente humano de “mas” talvez esteja mais próximo do seu significado do que alguma função lógica. Também
por isso, as adversativas acabam servindo para revelar preconceitos.
Se alguém disser que “Fulano é tonganês mas é educado” considera implicitamente os tonganeses mal-educados e, ao mesmo tempo, tem a
expectativa de que os seus ouvintes comunguem do mesmo preconceito.
Em uma análise do discurso, nada é mais eficiente do que a adversativa para invadirmos a mente alheia do falante e descobrirmos o que pensa
sobre o mundo.
PTI ES Adu
Música
> “Mais uma vez”, de Renato Russo.
Depois de descrever algumas situações ruins da vida (gente que machuca, que engana, que não sabe amar), o eu lírico da canção,
por meio de orações adversativas, desconstrói os aspectos negativos elencados em alguns versos e traz uma visão positiva, em
que a vida será melhor. Na letra, é possível observar também orações coordenadas alternativas, além de diversos versos em que
há orações subordinadas.
Disponível em: www.letras.mus.br/renato-russo/1213616/
Crônica
“Namorados”, de Luis Fernando Verissimo. O Estado de S. Paulo, 13 jun. 2004. pm
uu
A crônica é estruturada em uma sequência de diálogos formados por orações assindéticas, postas uma ao lado da outra. As [=
pr
orações da conversa entre os namorados são conectadas por pausas representadas pela pontuação, como vírgula, ponto e uu
[3
vírgula, dois-pontos ou travessão. o
137
CIP DATA
ET
139
7. No enunciado “O hospital que mais cresce na cidade e o que atende o maior número de convênios”, temos:
a) duas orações, em que a primeira depende da segunda.
b) duas orações independentes.
c) duas orações, em que a segunda depende da primeira.
d) duas orações subordinadas.
e) um período simples.
IO período é composto por coordenação, pois não há relação de dependência sintática entre as orações.
Hl. O período é composto por coordenação assindética, porque não há a presença de conectivos ligando-as.
Il. O fragmento “que discorda da minha opinião política nas redes, “... política nas redes sociais ..” é uma oração
independente.
Assinale a alternativa que indica a(s) afirmativa(s) correta(s):
a) apenas | .
b) apenas ll.
c) apenas Ill.
d) apenas ll e III.
e) apenaslelll.
9. Udesc
O espelho
[...]
Sendo talvez meu medo a revivescência de impressões atávicas? O espelho inspirava receio supersticioso aos pri-
mitivos, aqueles povos com a ideia de que o reflexo de uma pessoa fosse a alma. Via de regra, sabe-o o senhor, é a
superstição fecundo ponto de partida para a pesquisa. A alma do espelho — anote-a — esplêndida metáfora. Outros, aliás,
5 identificavam a alma com a sombra do corpo; e não lhe terá escapado a polarização: luz — treva. Não se costumava
tapar os espelhos, ou voltá-los contra a parede, quando morria alguém da casa? Se, além de os utilizarem nos manejos
de magia, imitativa ou simpática, videntes serviam-se deles, como da bola de cristal, vislumbrando em seu campo es-
boços de futuros fatos, não será porque, através dos espelhos, parece que o tempo muda de direção e de velocidade?
Alongo-me, porém. Contava-lhe...
10 [...]
ROSA, Guimarães. Primeiras estórias. 50º ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 122.
10. Observando o período “Eu engordei e não consigo encontrar com facilidade roupas bonitas e baratas do meu tama-
nho”, encontramos duas orações que estabelecem entre si que tipo de relação?
11. Enem Cultivar um estilo de vida saudável é extremamente importante para diminuir o risco de infarto, mas também de
problemas como morte súbita e derrame. Significa que manter uma alimentação saudável e praticar atividade física regular-
mente já reduz, por si só, as chances de desenvolver vários problemas. Além disso, é importante para o controle da pressão
arterial, dos níveis de colesterol e de glicose no sangue. Também ajuda a diminuir o estresse e aumentar a capacidade física,
fatores que, somados, reduzem as chances de infarto. Exercitar-se, nesses casos, com acompanhamento médico e modera-
ção, é altamente recomendável.
ATALIA, M. Nossa vida. Época. 23 mar. 2009.
CIRCULAR
Mantenha os ambientes
bem ventilados e ajude a
diminuir a incidência do
bis
E jovens rias
N E PÁTRIA AMADA
prevanção
Compras DON NSDNDa! ocean Ea BRA IL
No período “Mantenha os ambientes bem ventilados e ajude a diminuir a incidência do vírus”, a conjunção “e” estabele
que tipo de relação? Esse conectivo poderia ser substituído por “mas”, sem que haja prejuízo do sentido à mensagem?
Justifique sua resposta.
Febre do momento, as figurinhas (ou stickers, em inglês) são o exemplo mais recente de como a tecnologia anda criando
ferramentas para nos comunicarmos — ou nos trumbicarmos.
Ao lado dos emojis, elas seduzem por serem divertidas, fofas, criativas. Mas também por preencherem lacunas da lin-
guagem verbal.
5 — A escrita sempre tentou trazer um pouco da oralidade, usando sinais como o ponto de exclamação e reticências.
Mas, nesse aspecto, sempre foi limitada — reconhece a professora da Faculdade de Letras da UFMG Vera Menezes. —
Com emojis e stickers, você transmite com facilidade a ironia, a brincadeira.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/figurinhas-viram-febre- -nos-celulares-inspiram-debates-sobre-futuro-da-comunicacao-23772274.
Acesso em: 18 set. 2019
A oração “por serem divertidas, fofas, criativas” (linhas 5-6) veicula uma ideia de:
a) Adição; comparação =
uu
b) Adversidade; intensificação [=
4
uu
c) Negação; modo [4
o
d) Inclusão; adição
141
14. Leia a manchete. A imagem foi elaborada como forma de crítica à alta
no preço do tomate, em 2013. Se a conjunção “ou”
Homem cai nos trilhos do Metrô em SP e fosse trocada por “e”, o sentido veiculado na imagem
maquinista consegue parar o trem a tempo; seria mantido? Por quê?
veja vídeo
17. No longa-metragem Batman: o cavaleiro das trevas, o
VANIQUE, Glória; MATARAZZO, Renata. G1, 18 nov. 2019. Disponível
em: https://g1 .globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/11/18/homem- personagem que dá nome ao filme diz: “Ou se morre
cai-nos-trilhos-do-metro-em-sp-e-maquinista-consegue-parar-o-trem-a- como herói, ou vive o bastante para se tornar o vilão”.
tempo-veja-video.ghtml. Acesso em: 20 jan. 2022.
Nesse período, os vocábulos em destaque expres-
Sabendo que essa manchete é um período composto sam uma ideia de:
por coordenação, explique qual é a função da conjun- a) alternância.
ção coordenativa aditiva “e” no enunciado. b) concessão.
c) comparação.
15. Leia o texto a seguir. d) modo.
Há pessoas que serão sempre lembradas dos cor- e) consequência.
pos que têm. Pescoços que giram acompanhando seus
movimentos pela rua, cotovelos chamando a atenção do 18. IFMT 2017
vizinho. Xingamentos, provocações. Uma metralhadora Tecnologia ajuda a integrar idosos
de olhares. Nem sempre hostis, verdade, às vezes mali-
Pesquisas feitas com alunos de cursos de informáti-
ciosos ou curiosos apenas, quem sabe até casuais, mas
ca para a terceira idade mostram que a tecnologia tem
invariavelmente estranhando aquele corpo, fazendo com
um impacto positivo na rotina de idosos e aposentados.
que ele não só se sinta um elemento intruso, estranho,
Ao aprender a usar o computador e navegar na internet,
mas também se dê conta de que é visto exatamente dessa grande parte dos homens e mulheres com mais de 65 anos
forma. E o pior: ainda vão lhe dizer que é coisa da sua ca- se comunica mais com filhos e netos, faz novos amigos e se
beça — o famoso gaslighting, essa prática enlouquecedora. sente estimulado intelectualmente e integrado à sociedade.
Vão dizer para o menino que cresceu sendo a única No entanto, a pesquisadora ressalta que as expec-
criança negra na sala de aula, quiçá do colégio, com ex- tativas dos idosos ao aprenderem a usar o computador
ceção do pessoal da limpeza e segurança. Para a mulher vão além da comunicação ou do acesso às informações
gorda existindo num mundo em que “você emagreceu” é cotidianas: elas estão relacionadas com a inserção no
um dos maiores elogios. [...] Para a pessoa com deficiência mundo atual, dominado pelos conteúdos digitais, e com a
encarada ora com pena, ora como se fosse um peso, um sensação de independência e liberdade. “Aprender a usar
estorvo. Para a travesti tratada em público como corpo o computador é também ter conhecimento para lidar com
abjeto, mas em sigilo como objeto de desejo, reles coisa a tecnologia em outros locais, como bancos, e para en-
em ambos os casos... tender vocabulários e códigos que estão por toda parte.”
[...] Não à toa, mais de 80% dos entrevistados na pesquisa
MOIRA, Amara. Que corpo é o seu. Revista Trip, 17 dez. 2018. afirmaram que o computador trouxe mudanças positivas
Disponível em: https://revistatrip.uol.com.br/trip/amara-moira-reflete- em sua vida e 87% disseram que adquiriram novas ha-
sobre-nossos-corpos-e-os-padroes-que-sao-impostos-a-existencia.
Acesso em: 20 jan. 2022. bilidades. Para a bancária aposentada Cristina Souza, de
75 anos, o maior benefício foi a autonomia. “Quando vi
No período sublinhado, a segunda oração expressa uma receita maravilhosa na televisão e a apresentadora
relação de equivalência à ideia iniciada na primeira falou que os detalhes e os ingredientes estavam no site,
oração. Diante dessa afirmativa, analise a presença percebi que precisava aprender como isso funcionava.
das conjunções “ora... ora...” nesse período. Que isso tinha vindo para ficar”, conta.
Ela ganhou um computador de presente do filho e se
16. Observe a imagem. matriculou em um curso. “No começo, foi difícil. Parecia
que não ia dar conta, mas depois você descobre um novo
VENDO OU TROCO
monticello/Shutterstock.com
143
25. Observe a imagem. 29. EEAR-SP Em relação à classificação das orações
coordenadas sindéticas destacadas, assinale a alter-
é 17 q nativa incorreta.
Kindlena/Shutterstock.com
a) Ela não só foi a primeira, mas também foi a mais
aplaudida. (aditiva)
r 1a
ey é
b) Fale agora ou permanecerá calado para sem-
pre. (conclusiva)
“A
c) Eu queria convencê-lo, mas os argumentos não
vs foram suficientes. (adversativa)
dj) Cumprimente-o, pois hoje venceu mais uma eta-
pa de sua vida. (explicativa)
28. FGV-SP
Pastora de nuvens, fui posta a serviço por uma cam-
pina tão desamparada que não principia nem também
termina, e onde nunca é noite e nunca madrugada. A relação de sentido estabelecida entre as orações
(Pastores da terra, vós tendes sossego, que olhais para em verde é de:
o sol e encontrais direção. Sabeis quando é tarde, sabeis a) finalidade. d) adição.
quando é cedo. Eu, não.) b) conclusão. e) explicação.
c) alternativa.
Esse trecho faz parte de um poema de Cecília Meireles,
intitulado Destino, uma espécie de profissão de fé da 32. Leia o texto a seguir.
autora. A educação em saúde é um campo de conhecimento e
O conjunto das duas orações coordenadas que com- de prática na área da atenção à saúde que busca promover a
põem o segundo verso da segunda estrofe — que saúde e prevenir as doenças nos diversos níveis de complexi-
olhais para o sol e encontrais direção — tem sentido dade do processo de saúde-doença. Desta forma, a educação
a) explicativo. em saúde é compreendida como o processo de aprendizagem
b) comparativo. teórico-prático que possui a finalidade de integrar diversos
c) condicional. saberes, como o científico, o popular e o do senso comum,
d) concessivo. possibilitando que os indivíduos envolvidos desenvolvam uma
e) temporal. visão crítica acerca da produção do cuidado em saúde.
Ee R/T
IFMT 2016
Aagancê!
Et ir TRES
As. V É
145
Os períodos do primeiro e do segundo quadrinho: pensamento. Que tortura! E não é só isso: envergonho-me
“Sonhei que estava atrás do Chapeuzinho Vermelho... por esta ou aquela passagem em que me acho, em que me
mas quando alcancei vi que eram três” 45 dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pú-
a) têm estabelecida, entre si, uma relação de oposi- blica... Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra,
ção expressa pela conjunção mas. que julgo que esse mal-estar, com que às vezes acordo,
vem dela, unicamente dela. Quero abandoná-la; mas não
b) são compostos por quatro orações subordina-
posso absolutamente. De manhã, ao almoço, na coletoria,
das: adverbiais e substantivas, sendo a primeira
50 na botica, jantando, banhando-me, só penso nela. À noite,
subjetiva, a segunda objetiva direta, a terceira
quando todos em casa se vão recolhendo, insensivelmente
concessiva e a quarta temporal. aproximo-me da mesa e escrevo furiosamente. Estou no
c) têm sujeito inexistente, uma vez que não existe sexto capítulo e ainda não me preocupei em fazê-la pública,
um elemento que pratique a ação expressa pelo anunciar e arranjar um bom recebimento dos detentores da
verbo. 55 opinião nacional. Que ela tenha a sorte que merecer, mas
d) não têm seu sentido complementado pela lingua- que possa também, amanhã ou daqui a séculos, despertar
gem não verbal, o que dificulta o entendimento um escritor mais hábil que a refaça e que diga o que não
do texto. pude nem soube dizer.
e) contribuem para a formalidade do texto devido ao [...] Imagino como um escritor hábil não saberia dizer o
fato de possuírem concordância verbal e nominal. 60 que eu senti lá dentro. Eu que sofri e pensei não o sei narrar.
Já por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a página,
achei-a incolor, comum, e, sobretudo, pouco expressiva do
Uerj 2013 que eu de fato tinha sentido.
LIMA BARRETO Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo:
Recordações do escrivão Isaías Caminha Penguin Classics Companhia das Letras, 2010.
Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa
Na descrição de sua situação e de seus sentimentos,
espécie de animal. O que observei neles, no tempo em que
o narrador utiliza diversos recursos coesivos, dentre
estive na redação do O Globo, foi o bastante para não os
amar, nem os imitar. São em geral de uma lastimável limi- eles o da adição.
tação de ideias, cheios de fórmulas, de receitas, só capazes O fragmento do texto que exemplifica o recurso da
de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar, adição está em:
curvados aos fortes e às ideias vencedoras, e antigas, adstri- a) repletos de orgulho de suas cartas que sabe
tos a um infantil fetichismo do estilo e guiados por conceitos Deus como tiraram. (l. 30-31)
obsoletos e um pueril e errôneo critério de beleza. Se me b) me dispo em frente de desconhecidos, como uma
10 esforço por fazê-lo literário é para que ele possa ser lido, mulher pública... (|. 44-46)
pois quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos c) Sofro assim de tantos modos, por causa desta
ao espírito geral e no seu interesse, com a linguagem aces- obra, que julgo que esse mal-estar, com que às
sível a ele. É esse o meu propósito, o meu único propósito. vezes acordo, vem dela... (|. 46-48)
Não nego que para isso tenha procurado modelos e normas.
d) Que ela tenha a sorte que merecer, mas que pos-
15 Procurei-os, confesso; e, agora mesmo, ao alcance das
sa também, amanhã ou daqui a séculos, despertar
mãos, tenho os autores que mais amo. [...] Confesso que os
leio, que os estudo, que procuro descobrir nos grandes ro- um escritor mais hábil (|. 55-57)
mancistas o segredo de fazer. Mas não é a ambição literária
que me move ao procurar esse dom misterioso para animar
20 e fazer viver estas pálidas Recordações. Com elas, queria
3. Leia um trecho de um poema de Olavo Bilac.
modificar a opinião dos meus concidadãos, obrigá-los a Profissão de fé
pensar de outro modo, a não se encherem de hostilidade e
[...]
má vontade quando encontrarem na vida um rapaz como
Torce, aprimora, alteia, lima
eu e com os desejos que tinha há dez anos passados. Tento
A frase; e enfim,
25 mostrar que são legítimos e, se não merecedores de apoio,
No verso de ouro engasta a rima,
pelo menos dignos de indiferença.
Como um rubim.
Entretanto, quantas dores, quantas angústias! Vivo aqui
só, isto é, sem relações intelectuais de qualquer ordem.
Quero que a estrofe cristalina,
Cercam-me dois ou três bacharéis idiotas e um médico
Dobrada ao jeito
30 mezinheiro, repletos de orgulho de suas cartas que sabe
Do ourives, saia da oficina
Deus como tiraram. [...] Entretanto, se eu amanhã lhes
Sem um defeito
fosse falar neste livro — que espanto! que sarcasmo! que
[..]
crítica desanimadora não fariam. Depois que se foi o dou- LIMA, Alceu Amoroso (org.). Olavo Bilac: poesia. 1977.
tor Graciliano, excepcionalmente simples e esquecido de
As orações coordenadas possuem independência sin-
35 sua carta apergaminhada, nada digo das minhas leituras,
não falo das minhas lucubrações intelectuais a ninguém, e tática, podendo ou não serem introduzidas por uma
minha mulher, quando me demoro escrevendo pela noite conjunção. As orações que apresentam conjunção são
afora, grita-me do quarto: chamadas orações coordenadas sindéticas, e as que
— Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório para amanhã! não possuem, são classificadas em orações coordena-
40 De forma que não tenho por onde aferir se as minhas das assindéticas. Diante dessa afirmação, localize no
Recordações preenchem o fim a que as destino; se a minha poema de Bilac orações coordenadas assindéticas e
inabilidade literária está prejudicando completamente o seu explique qual é o tema tratado nesse fragmento.
(ot
f alo Romantismo no Brasil: José de Alencar
e Manuel Antônio de Almeida
O Romantismo foi um movimento estético de grande relevância no Brasil. Esse período
foi essencial na formação da identidade cultural de nosso país e, consequentemente,
no surgimento de grandes romancistas, como José de Alencar e Manuel Antônio de
Almeida. Neste capítulo, vamos nos aprofundar na obra desses dois prosadores para
entender por que eles são importantes para nossa literatura.
José de Alencar: romancista múltiplo Segundo o próprio Alencar, a literatura brasileira —
assim como sua própria obra — poderia ser dividida em
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no ho-
três fases: a primitiva, a histórica e a pós-independência
rizonte, nasceu Iracema.
política.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos
mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe No prefácio do romance Sonhos d'ouro, Alencar escre-
de palmeira. veu uma tese sobre a literatura brasileira, propondo uma
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a bau- classificação segundo o que ele entendia da produção
nilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. literária até aquele período. Como toda tese, elajá foi re-
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria vista e podemos dizer que Iracema é também um romance
o sertão e as matas do Ipu?” onde campeava sua guerreira histórico, além de indianista — ou primitivo, como classificou
tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando José de Alencar.
alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as pri-
O período orgânico desta literatura conta já três fases.
meiras águas.
A primitiva, que se pôde chamar aborígene, são as lendas
ALENCAR, José de. Iracema. Disponível em: http://www.dominiopublico.
gov.br/download/texto/bv000136.pdf. Acesso em: 29 jul. 2022. e mitos da terra selvagem e conquistada; são as tradições que
embalaram a infância do povo, e ele escutava, como o filho
O romance indianista lracema foi escrito por um dos a quem a mãe acalenta no berço com as canções da pátria,
autores mais relevantes do Romantismo no Brasil e repre- que abandonou.
senta a formação do povo brasileiro pelo encontro de dois Iracema pertence a essa literatura primitiva, cheia de san-
povos: os indígenas e os portugueses colonizadores. tidade e enlevo, para aqueles que veneram na terra da pátria
O autor José Martiniano de Alencar nasceu em 1829 a mãe fecunda — alma mater, e não enxergam nela apenas o
no estado do Ceará. Em 1840, já com 11 anos, mudou-se chão onde pisam.
para o Rio de Janeiro para cursar a educação básica. Em O segundo período é histórico; representa o consórcio
seguida, foi para São Paulo, formando-se no curso de Di- do povo invasor com a terra americana, que dele recebia a
reito em 1850. cultura, e lhe retribuía nos eflúvios de sua natureza virgem e
Após a formação, de volta ao Rio de Janeiro, dedicou- nas reverberações de uma natureza esplêndida.
-se à carreira de advogado e também ao jornalismo. Em Ao conchego desta pujante criação, a têmpera se apura,
1856, já era redator-chefe do Diário do Rio de Janeiro, toma alas a fantasia, a linguagem se impregna de módulos mais
jornal onde foram publicados Viuvinha e O guarani. Alcan- suaves; formam-se outros costumes, e uma existência nova,
çou reconhecimento graças às suas produções e às críticas pautada por diverso clima, vai surgindo.
que fez à obra Confederação dos Tamoios, de Gonçalves É a gestação lenta do povo americano, que devia sair da
de Magalhães. estirpe lusa, para continuar no novo mundo as gloriosas tra-
Em 1860, viajou para o Ceará durante uma campanha dições de seu progenitor. Esse período colonial terminou com
eleitoral, retomando contato com sua terra natal, que o ins- a independência. A ele pertencem o Guarani e as Minas de
pirou a escrever Iracema. A obra foi lançada em 1865 e Praia. Há aí muita e boa messe a colher para o nosso romance
está até hoje entre as principais obras literárias brasileiras. histórico; mas não exótico e raquítico como se propôs a ensi-
José de Alencar foi um dos autores que mais contribuiu ná-lo a nos beócios, um escritor português.
para a criação da identidade cultural brasileira. A terceira fase, a infância de nossa literatura, começada
com a independência política, ainda não terminou; espera es-
critores que lhe deem os últimos traços, e formem o verdadeiro
OSTILL is Franck Camhi/Shutterstock.com
primitiva: primeira.
eflúvios: aromas.
beócios: ignorantes.
Iracema guardiã, de Zenon Barreto, fibra de vidro, Praia de Iracema,
em Fortaleza, Ceará.
O autor produziu obras diversas que ajudaram a mol-
Após a Independência, iniciou-se a busca por uma dar a identidade do nosso país, apresentando cultura,
identidade nacional desassociada de Portugal. Para se al- costumes e hábitos da população local. Sua intenção era
cançar uma cultura própria, foi necessário revisar e resgatar expor um retrato abrangente do país, representando suas
o passado da nação, anterior à chegada do colonizador. diversas faces.
148 LÍNGUA PORTUGUESA + Capítulo 5 « Romantismo no Brasil: José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida
José de Alencar foi o escritor que mais publicou ro- O guarani
mances em sua época, e o sucesso de suas obras fizeram O romance O guarani teve a primeira publicação em
dele a figura central do Romantismo no Brasil. As imagens
folhetim para, em seguida, ser compilado em um livro, no
e os símbolos que ele criou são relevantes e conhecidos
final de 1857, tornando-se o segundo romance de José
até os dias de hoje.
de Alencar. O lançamento ajudou a consolidar o autor com
reconhecimento do público e da crítica literária.
Museu Júlio de Castilhos, Porto Alegre.
149
Em uma caçada, D. Diogo, irmão de Cecília, acidental- Iracema
mente mata uma indígena aimoré, o que desencadeia o Este é um dos romances mais famosos do Romantismo
desejo de vingança por parte da família da indígena. Peri, brasileiro. A obra foi escrita em 1865 e conta a história de
então, passa a defender não somente Cecília, mas toda amor entre Iracema, indígena tabajara e filha do pajé, e Martim,
a sua família das tentativas de ataque dos aimorés e de português aliado dos pitiguaras, inimigos dos tabajaras.
Loredano, um empregado da fazenda que tenta sequestrar
Cecília e roubar o patrão, D. Antônio.
ARS E TUEIS
A esse tempo Loredano já tinha chegado à alpendrada, onde lracema é um nome inventado pelo autor, que uniu dois
o esperava uma nova e terrível surpresa, uma última decepção. vocábulos do tupi: “ira” (mel) e “ema” (lábios). O nome
Lançando-se do quarto de Cecília, sua intenção era ga- também é um anagrama, ou seja, a transposição das letras
nhar o fundo da casa, pronunciar a senha convencionada, e da palavra “américa”. Por isso, considera-se que Iracema
senhor do campo voltar com seus cúmplices, raptar a menina, seja uma alegoria da América, e Martim um símbolo do
e vingar-se de Peri. colonizador europeu.
Mal sabia porém que o índio tinha destruído toda a sua
maquinação; chegando ao pátio viu o alpendre iluminado por
fachos, e todos os aventureiros de pé cercando um objeto que lracema, descrita como a virgem dos lábios de mel, é a
não pôde distinguir. guardiã da jurema, uma bebida ministrada por seu pai aos
Aproximou-se e descobriu o corpo de seu cúmplice Bento guerreiros da tribo que proporciona sonhos e visões. Ela
Simões, que jazia no chão alagado do pavimento [...). vive em liberdade e na companhia de uma jandaia, ave de
ALENCAR, José de. O guarani. Disponível em: bico negro e penas coloridas. Em uma de suas andanças
http:/Awww.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000135.pdf. pela mata, Iracema decide descansar em uma clareira no
Acesso em: 29 jul. 2022.
meio da floresta quando vê, pela primeira vez, Martim, um
Peri é batizado por D. Antonio para que ele possa con- guerreiro branco.
fiar Cecília aos seus cuidados. No ataque final dos aimorés
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a
contra a família de Cecília, Peri foge com ela para longe,
virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.
enquanto D. Antônio explode sua própria casa matando
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estra-
todos os seus inimigos com ele.
nho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem
— Se tu fosses cristão, Peril... nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o
O índio voltou-se extremamente admirado daquelas palavras. azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos
— Por quê?... perguntou ele. cobrem-lhe o corpo.
— Por quêt?... disse lentamente o fidalgo. Porque se tu fos- Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha
ses cristão, eu te confiaria a salvação de minha Cecília, e estou embebida no arco partiu Gotas de sangue borbulham na face
convencido de que a levarias ao Rio de Janeiro, à minha irmã. do desconhecido.
O rosto do selvagem iluminou-se; seu peito arquejou de De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da es-
felicidade; seus lábios trêmulos mal podiam articular o turbi- pada, mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião
lhão de palavras que lhe vinham do íntimo da alma. de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu
— Peri quer ser cristão! exclamou ele. mais d'alma que da ferida.
D. Antônio lançou-lhe um olhar úmido de reconhecimento. O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei
— A nossa religião permite, disse o fidalgo, que na hora eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu
extrema todo o homem possa dar o batismo. Nós estamos com para o guerreiro, sentida da mágoa que causara.
o pé sobre o túmulo. Ajoelha, Peri! A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compas-
O índio caiu aos pés do velho cavalheiro, que impôs-lhe siva O sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha
as mãos sobre a cabeça. homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo
— Sê cristão! Dou-te o meu nome. a ponta farpada.
Peri beijou a cruz da espada que o fidalgo lhe apresentou, O guerreiro falou:
e ergueu-se altivo e sobranceiro, pronto a afrontar todos os — Quebras comigo a flecha da paz?
perigos para salvar sua senhora. — Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de
ALENCAR, José de. O guarani. Disponível em: http:/Avww.dominiopublico.
meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram
gov.br/download/texto/bv000135.pdf. Acesso em: 29 jul. 2022.
outro guerreiro como tu?
Nos trechos selecionados podemos ter uma noção de — Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das
como Alencar construía a figura do herói nacional. Peri, a terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus.
princípio, é retratado como um selvagem de características — Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras,
medievais. Ao longo da obra, o autor suaviza a imagem senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema.
que se tinha do indígena, transformando-o em um homem ALENCAR, José de. Iracema. Disponível em: http:/Awww.dominiopublico.
gov.br/download/texto/bv0001 36.pdf. Acesso em: 29 jul. 2022.
nobre, puro, leal e católico, disposto a sacrificar tudo pelo
amor e pela honra. José de Alencar propõe por meio do lracema leva Martim para sua tribo, onde ele é bem
amor de Peri e Ceci a síntese de dois mundos: o indígena recebido, permanecendo sob a proteção do pajé. Martim
e o europeu. A união desses dois mundos seria a origem logo confessa ser aliado dos inimigos do povo tabajara,
da brasilidade. mas o pajé declara que ele é enviado de Tupã, por isso
150 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 5 « Romantismo no Brasil: José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida
passa pelo rito da hospitalidade. Martim, porém, nega-se lendária, uma explicação poética que José de Alencar criou
a escolher uma mulher para si, como parte desse rito. Ele com o objetivo de construir um passado mítico e delinear a
está interessado em Iracema, mas logo descobre que, por identidade brasileira. O enredo é considerado uma lenda
ser a guardiã da jurema, deve manter-se virgem. de como o estado do Ceará, onde Alencar nasceu, teria
O interesse entre Martim e Iracema é mútuo, o que faz surgido. Da união entre Iracema (indígena) e Martim (colo-
com que os dois fiquem juntos e acabem fugindo, primei- nizador europeu) nasceu Moacir, que representa a gênese
ro, para a tribo dos pitiguara e, depois, para uma cabana da nacionalidade brasileira, sendo o primeiro cearense. O
perto do mar. coqueiro que marca o local onde Iracema foi enterrada é
onde se ouvia o lamento da jandaia, ave símbolo do Ceará.
Quatro luas tinham alumiado o céu depois que Iracema
Por isso a região ficou conhecida por esse nome: Ceará
deixara os campos do Ipu; e três depois que ela habitava nas
praias do mar a cabana de seu esposo. significa “canto da jandaia”.
A alegria morava em sua alma. A filha dos sertões era
seus cuidados.
O romance, que também recebe o subtítulo “lenda do
— lracema!... Ceará”, ajudou a difundir alguns vocábulos do tupi, nomes
A triste esposa e mãe soabriu os olhos, ouvindo a voz
indígenas e costumes das tribos que povoavam o país antes
amada. Com esforço grande, pôde erguer o filho nos braços,
da chegada do colonizador, criando uma imagem de nação.
e apresentá-lo ao pai, que o olhava extático em seu amor.
— Recebe o filho de teu sangue. Era tempo; meus seios Senhora
ingratos já não tinham alimento para dar-lhe!
Pousando a criança nos braços paternos, a desventurada O romance Senhora foi publicado pela primeira vez
mãe desfaleceu, como a jetica, se lhe arrancam o bulbo. O em 1875 e conta a história de Aurélia Camargo, Fernando
esposo viu então como a dor tinha consumido seu belo corpo; Seixas e Adelaide Amaral. A obra é estruturada em quatro
mas a formosura ainda morava nela, como o perfume na flor partes: O preço, Quitação, Posse e Resgate.
caída do manacá. Na primeira parte, conhecemos a personagem Auré-
lracema não se ergueu mais da rede onde a pousaram os lia: uma moça rica, inteligente e bonita da alta sociedade.
aflitos braços de Martim. O terno esposo, em quem o amor Ela é órfã e herdeira de uma grande fortuna. Está sempre
renascera com o júbilo paterno, a cercou de carícias que en- acompanhada de D. Firmina, que desconfia de todos que
cheram sua alma de alegria, mas não a puderam tornar à vida: se aproximam de Aurélia, julgando que são atraídos apenas
o estame de sua flor se rompera. pela beleza e pela fortuna da moça.
— Enterra o corpo de tua esposa ao pé do coqueiro que Aurélia decide se casar e pede auxílio por carta para o
tu amavas. Quando o vento do mar soprar nas folhas, Iracema Sr. Lemos, solicitando que ele arranje seu casamento com
pensará que é tua voz que fala entre seus cabelos. Fernando Seixas, noivo de Adelaide Amaral. Fernando acei-
O doce lábio emudeceu para sempre; o último lampejo ta se casar mesmo sem conhecer sua noiva. Seu interesse
despediu-se dos olhos baços. no casamento é financeiro, mas ele se surpreende quando
ALENCAR, José de. Iracema. Disponível em: http:/Avww.dominiopublico.
gov.br/download/texto/bv0001 36.pdf. Acesso em: 29 jul. 2022.
descobre quem é sua futura esposa.
151
Somente na segunda parte da obra o leitor descobre a história de Aurélia, filha de D. Emília e Pedro Camargo, filho
bastardo de um fazendeiro rico. O pai de Aurélia morre, deixando a viúva e a filha em condições precárias. Aurélia se
apaixona por Fernando Seixas, que, igualmente pobre, tem o dever de sustentar a mãe viúva e suas duas irmãs. Aurélia e
Fernando namoram e chegam a noivar, mas ele é um rapaz que gosta de se exibir na sociedade carioca, o que o leva a
gastar mais do que pode. A vaidade de Fernando deixa sua família em uma situação difícil, por isso ele acaba rompendo
o compromisso com Aurélia para se casar com uma moça rica, Adelaide Amaral.
[...] Seria a abastança do Amaral que atraíra Fernando, e não o amor de Adelaide?
A moça repeliu constantemente essa ideia [...]; mas chegou o momento em que lhe arrancaram a dúvida consoladora.
Recebeu uma carta anônima. Comunicavam-lhe que Seixas a tinha abandonado por um dote de trinta contos de réis. Aca-
bando de ler estas palavras levou a mão ao seio, para suster o coração que se lhe esvaía.
Nunca sentira dor como esta. Sofrera com resignação e indiferença o desdém e o abandono; mas o rebaixamento do ho-
mem, a quem amava, era um suplício infindo, de que só podem fazer ideia os que já sentiram apagarem-se os lumes d'alma,
ficando-lhes a inanidade.
Debalde, Aurélia refugiou-se nos primeiros sonhos de seu amor. A degradação de Seixas repercutia no ideal que a menina criara
em sua imaginação, e imprimia-lhe o estigma. Tudo ela perdoou a seu volúvel amante; menos o tornar-se indigno do seu amor.
ALENCAR, José de. Senhora. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000071 .pdf. Acesso em: 29 jul. 2022.
Aurélia, então, tendo recebido a herança que lhe cabia, decide vingar-se por ter sido abandonada, solicitando o
casamento às escuras, promovido pelo dote da moça, o que motivou o interesse de Fernando.
A terceira parte descreve o cotidiano do casal Aurélia e Fernando, que vive um casamento de aparências, pois na
intimidade se atacam e se desprezam mutuamente. Aurélia o acusa de ter se vendido por dinheiro, Fernando se vê
na posição de servo da esposa, tendo que obedecer a tudo o que ela ordena. Na última parte, os verdadeiros sentimentos
e desejos de ambos começam a ficar mais claros: Fernando passa por uma transformação que o leva à redenção por
causa do amor que sente por Aurélia. Ele começa a trabalhar para pagar sua dívida com a esposa e pedir o divórcio.
Ao perceber a mudança do esposo, Aurélia declara seu amor, e o casamento é consumado.
— Um instante! disse Aurélia.
— Chamou-me?
— O passado está extinto. Estes onze meses, não fomos nós que os vivemos, mas aqueles que se acabam de separar, e para
sempre. Não sou mais sua mulher; o senhor já não é meu marido. Somos dois estranhos. Não é verdade?
Seixas confirmou com a cabeça.
— Pois bem, agora ajoelho-me eu a teus pés, Fernando, e suplico-te que aceites meu amor, este amor que nunca deixou de
ser teu, ainda quando mais cruelmente ofendia-te.
[...]
— Não, Aurélia! Tua riqueza separou-nos para sempre.
A moça desprendeu-se dos braços do marido, correu ao toucador, e trouxe um papel lacrado que entregou a Seixas.
— O que é isto, Aurélia?
— Meu testamento.
Ela despedaçou o lacre e deu a ler a Seixas o papel. Era efetivamente um testamento em que ela confessava o imenso amor
que tinha ao marido e o instituía seu universal herdeiro.
— Eu o escrevi logo depois do nosso casamento; pensei que morresse naquela noite, disse Aurélia com um gesto sublime.
Seixas contemplava-a com os olhos rasos de lágrimas.
— Esta riqueza causa-te horror? Pois faz-me viver, meu Fernando. É o meio de a repelires. Se não for bastante, eu a dissiparei.
x
As cortinas cerraram-se, e as auras da noite, acariciando o seio das flores, cantavam o hino misterioso do santo amor conjugal.
ALENCAR, José de. Senhora. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000071 .pdf. Acesso em: 29 jul. 2022.
Podemos observar nesse romance de costumes de Alencar a contradição na forma como a questão
Museu d'Orsay, Paris.
financeira é encarada por Aurélia, que, como toda heroína romântica, prioriza o sentimento ao dinheiro.
Sua grande decepção com Fernando residia no fato de ele ter se “vendido” pelo dinheiro do pai de
Adelaide Amaral, mas a protagonista, ao receber sua herança, não hesitou em “comprar” Fernando
para si. Além disso, no final da obra declara seu amor ao marido, mostrando que, em seu testamento,
todo o dinheiro seria entregue a ele. O sentimentalismo é uma das características do Romantismo, mas
a ascensão social por meio do dinheiro é apreciada pelo espírito burguês, daí a contradição.
Os romances Senhora juntamente com Diva e Lucíola compõem a tríade de perfis femininos de
José de Alencar. As protagonistas desses romances urbanos — cujo tema é o amor — são personagens
femininas fortes e complexas, por isso elas se distanciam da figura feminina idealizada comum ao
movimento romântico. Esse é um dos elementos que distingue essas obras das demais escritas por
Alencar. O objetivo do autor era entender os sentimentos e as motivações da mulher da sociedade
brasileira. Suas personagens se transformam ao longo da narrativa alcançando autonomia pouco
comum em uma sociedade machista, paternalista e moralista.
A obra Dança na cidade, de Renoir, é uma representação dos bailes que ocorriam frequente- . Dança na cidade, de
mente na sociedade burguesa. Assim como na obra Senhora, esses eventos sociais eram muito Mason e Reno A
valorizados, pois possibilitavam que homens e mulheres pudessem conversar mais abertamente, tela,Museu, d'Orsay,
dando origem à corte e, consequentemente, a casamentos. Paris, França.
152 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 5 « Romantismo no Brasil: José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida
A diversidade da obra de Alencar Memórias de um sargento de milícias é uma obra pe-
Como vimos anteriormente, a obra de Alencar pode culiar do Romantismo brasileiro. Apesar do sucesso que
ser dividida em três fases e compõe um panorama do fez com o público leitor, foi ignorada pela crítica por muito
Brasil. Em seus romances indianistas, ele apresenta a tempo, até que, em 1894, o crítico literário José Veríssimo
figura do herói brasileiro, exaltando o indígena valente, redescobriu o livro e fez uma nova edição dele. No prefácio,
nobre e corajoso. definiu a obra como antirromântica, por não se adequar
Em seus romances urbanos, expõe os costumes da aos padrões dessa estética. José Veríssimo considerou
sociedade burguesa, principalmente a carioca. Já nos Memórias de um sargento de milícias uma obra precursora
romances regionalistas, ele demonstra o interesse pelas do Realismo.
regiões mais afastadas do Brasil, abordando temas e Por algumas décadas a obra foi avaliada segundo o
situações de espaços afastados do centro urbano, des- critério de Veríssimo, até que Mario de Andrade, no prefácio
tacando as figuras do interior e suas peculiaridades. de uma nova edição, filiou-a à antiga tradição espanhola
Para Alencar era importante que sua obra representasse de novelas picarescas.
o passado, o presente, a cidade, o campo, o litorale o
sertão do país. UE +)
Picaresco é algo engraçado por ser grotesco. Na tradição
espanhola, o pícaro é uma espécie de anti-herói, ou seja,
um personagem trapaceiro, malandro.
A obra de José de Alencar abrange todas as linhas temá-
ticas do Romantismo; ele escreveu romances urbanos —
temas amorosos e sociais que se desenrolam no espaço Já nos anos 1970, o crítico literário Antonio Candido
urbano — e regionalistas — temas e situações que se escreveu um ensaio em que analisou a obra de Manuel
desenrolam longe do espaço urbano. Entre os romances Antônio de Almeida definindo-a como uma fábula realista,
urbanos, destacamos Diva e Senhora. Os romances re-
um romance malandro, um romance romântico excêntrico.
gionalistas mais famosos de Alencar são O sertanejo e Til.
Podemos considerar a obra como uma fábula, por ter
viés moralizante e apresentar personagens similares aos
dos contos, como um padrinho e um vilão. Seu realis-
Manuel Antônio de Almeida e o mo reside nas descrições das festas e dos costumes. A
romance de malandro obra apresenta o primeiro malandro de nossa literatura,
A custa de muitos trabalhos, de muitas fadigas, e so- Leonardinho. Os traços românticos estão na idealização
bretudo de muita paciência, conseguiu o compadre que o da sociedade retratada.
menino frequentasse a escola durante dois anos e que O brilhantismo da narrativa pode ser associado ao fato
aprendesse a ler muito mal e escrever ainda pior. Em todo de ter sido escrita por um autor jovem — Almeida tinha 21
este tempo não se passou um só dia em que ele não levasse anos na época — que não parecia ter a ambição ou a pre-
uma remessa maior ou menor de bolos; e apesar da fama tensão de se tornar um escritor ou alcançar renome. Isso
que gozava o seu pedagogo de muito cruel e injusto, é fica evidente pelo descuido com a correção gramatical,
preciso confessar que poucas vezes o fora para com ele:
por exemplo. Ao contrário dos autores românticos — que
o menino tinha a bossa da desenvoltura, e isto, junto com
utilizavam uma linguagem bastante formal —, Almeida faz
as vontades que lhe fazia o padrinho, dava em resultado
a mais refinada má-criação que se pode imaginar. Achava uso de uma linguagem informal e direta para época, e,
ele um prazer suavíssimo em desobedecer a tudo quanto apesar de ser um romance urbano, seu foco não está na
se lhe ordenava. burguesia, mas nas classes mais humildes da sociedade,
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. apresentando personagens do subúrbio da cidade do Rio
São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 88. de Janeiro, por isso a importância não apenas literária dessa
obra, mas documental e histórica.
Esse trecho descreve o protagonista de Memórias de
um sargento de milícias na infância. Logo, fica evidente
Enredo e análise da obra
por que esse romance se diferencia das demais obras ro-
mânticas: não há traços comuns aos heróis românticos na A narrativa inicia-se antes do nascimento do protago-
caracterização de Leonardo, que pode ser definido como nista, Leonardo, situando o leitor no tempo e no espaço
um verdadeiro malandro. em que a história vai se desenrolar. Os pais de Leonardo
Manuel Antônio de Almeida nasceu na cidade do Rio se conhecem no navio que os trouxe de Portugal, mas sua
de Janeiro em 1831 e teve uma vida curta, aos 30 anos mãe acaba abandonando o marido e o filho no Brasil e re-
morreu em um naufrágio. Sua família era pobre e ele pre- torna à sua terra natal. O pai também abandona o menino
cisou trabalhar para custear seus estudos, atuando como e o deixa com o padrinho, chamado de Barbeiro, que se N
e
tradutor e jornalista. responsabiliza pela criação do garoto. -
pd
Entre 1852 e 1853, publicou em folhetins Memórias [...] Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do
Wu
fo
Ea
de um sargento de milícias, no Correio Mercantil. A obra navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela,
foi publicada em romance de dois volumes em 1854, sob o e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no
pseudônimo “Um brasileiro”. Somente depois da morte de pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se
Manuel, um amigo fez a edição da obra em volume único como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de
atribuindo a verdadeira autoria. disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era
153
isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: leva- Foi aquilo objeto de geral espanto. Ficariam todos muito
ram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se contentes com a simples soltura do Leonardo; e não só ele
a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem aparecia solto e livre, como até elevado ao posto de sargento,
desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os o que já não é no exército pouca coisa.
dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias.
de muitos anos. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 251.
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir
O típico final feliz romântico não deve enganar o leitor;
certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês
a obra é permeada por um tom cômico, tendo os aconte-
manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do be-
cimentos mais divertidos destacados para atrair o leitor. A
liscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável
narrativa, ágil e movimentada, é uma coletânea de cenas da
menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho,
vida no subúrbio do Rio de Janeiro, nas primeiras décadas
cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que
nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E do século XIX.
este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o A leveza da trama também se deve à diluição da ideia
que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos maniqueísta vigente no Romantismo: a oposição entre o
é o herói desta história. bem e o mal não é tão marcada como em outras obras
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. desse período. As personagens não são modelos de
São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 34. comportamento, seus erros são até banalizados, pois o
Leonardinho é um menino muito preguiçoso nos intuito não é fazer uma crítica ou analisar as personagens,
estudos e malandro, abusando constantemente da bon- apenas apresentar um retrato da sociedade com tom leve
dade do seu padrinho, que peca por excesso de afeto. e irônico.
O menino sempre se envolve em confusão e é detesta- Assim, o autor apresenta alguns dos problemas sociais,
do pela vizinhança, mas seu padrinho não enxerga sua como o sistema jurídico, o sistema educacional e a influên-
verdadeira índole. Quando atinge a adolescência, apai- cia do clero, satirizando que nenhuma mudança relevante
xona-se por Luisinha, uma moça tímida, desajeitada e aconteceu entre o período do reinado de D. João VI (1808-
herdeira de uma riqueza. 1821) e a segunda metade do século XIX, quando o livro
foi escrito.
Cremos, pelo que temos referido, que para nenhum dos
leitores será ainda duvidoso que chegara ao Leonardo a hora
t&y Estabelecendo relações ]
de pagar o tributo de que ninguém escapa neste mundo, ainda
que para alguns seja ele fácil e leve, e para outros pesado e O período joanino — tempo em que se passa o romance
custoso: o rapaz amava. É escusado dizer a quem. Memórias de um sargento de milícias — foi um momen-
Como é que a sobrinha de D. Maria, que a princípio to importante da história do Brasil. Em 1808, a Corte
tanto desafiara a sua hilaridade por esquisita e feia, lhe viera portuguesa transferiu-se para o Brasil dando início a
depois a inspirar amor, é isso segredo do coração do rapaz um momento de grande desenvolvimento em nosso
que nos não é dado penetrar: o fato é que ele a amava, e país. A criação de faculdades e teatros, a abertura dos
isto nos basta. portos para nações amigas e a criação da Imprensa
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. Nacional são marcos desse período, mas, apesar dos
São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 34. investimentos e melhorias, havia muitos problemas so-
ciais que foram abordados na obra de Manuel Antônio
Suas investidas são atrapalhadas por José Manuel, um
de Almeida.
homem interesseiro que deseja conquistar Luisinha, mas
também pela decepção da moça ao descobrir o caso de
Museu Nacional dos Coches, Lisboa.
154 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 5 « Romantismo no Brasil: José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida
9 Saiba mais
Teatro romântico
O gênero dramático também teve seu espaço durante o Romantismo. O chamado teatro romântico teve início em Paris com
a encenação da peça Hernani, de Victor Hugo, em 1831. No Brasil, o teatro se tornou uma atividade regular nesse período,
com a expansão do ambiente social e a consolidação do público, que estimulava a produção de novos espetáculos.
Os principais dramaturgos do Romantismo brasileiro e algumas de suas obras são:
* Martins Pena: O Juiz de paz na roça, O noviço, Quem casa quer casa.
* Joaquim Manuel de Macedo: O cego, Lusbela, Cincinato quebra-louças.
* Gonçalves Dias: Beatriz Cenci, Patkull, Leonor de Mendonça, Boabdlil.
* José de Alencar: Verso e reverso, O demônio familiar, O jesuíta.
A seguir, destacamos um trecho da peça O juiz de Paz na roça, de Martins Pena, considerada a primeira comédia de cos-
tumes do teatro brasileiro:
AEE
2 Leia o trecho a seguir para responder às questões “As mulheres chegaram e disseram:
1e2. “Peri, primeiro de todos, tu és belo como o sol, e
flexível como a cana selvagem que te deu o nome; as
O índio começou, na sua linguagem tão rica e poéti-
mulheres são tuas escravas”.
ca, com a doce pronúncia que parecia ter aprendido das
“Peri ouviu e não respondeu; nem a voz de sua mãe,
auras da sua terra ou das aves das florestas virgens, esta
nem o canto dos guerreiros, nem o amor das mulheres,
simples narração:
“Era o tempo das árvores de ouro. o fez sorrir.
“Na casa da cruz, no meio do fogo, Peri tinha visto
“A terra cobriu o corpo de Ararê, e as suas armas;
a senhora dos brancos; era alva como a filha da lua; era
menos o seu arco de guerra.
“Peri chamou os guerreiros de sua nação e disse: bela como a garça do rio.
“Pai morreu; aquele que for o mais forte entre todos, “Tinha a cor do céu nos olhos; a cor do sol nos cabe-
terá o arco de Ararê. Guerra!” los; estava vestida de nuvens, com um cinto de estrelas e
“Assim falou Peri; os guerreiros responderam: “Guerra! uma pluma de luz.
“Enquanto o sol alumiou a terra, caminhamos; quando “O fogo passou; a casa da cruz caiu.
a lua subiu ao céu, chegamos. Combatemos como Goitacás. “De noite Peri teve um sonho; a senhora apareceu;
Toda a noite foi uma guerra. Houve sangue, houve fogo. estava triste e falou assim:
“Quando Peri abaixou o arco de Ararê, não havia na “Peri, guerreiro livre, tu és meu escravo; tu me seguirás
taba dos brancos uma cabana em pé, um homem vivo; por toda a parte, como a estrela grande acompanha o dia”.
tudo era cinza. “A lua tinha voltado o seu arco vermelho, quando
“Veio o dia e alumiou o campo; veio o vento e levou tornamos da guerra; todas as noites Peri via a senhora na
a cinza. sua nuvem; ela não tocava a terra, e Peri não podia subir
“Peri tinha vencido; era o primeiro de sua tribo, e o ao céu.
mais forte de todos os guerreiros. “O cajueiro quando perde a sua folha parece morto; a
uu
[=
“Sua mãe chegou e disse: não tem flor, nem sombra; chora umas lágrimas doces 4
“Peri, chefe dos Goitacás, filho de Ararê, tu és grande, como o mel dos seus frutos. uu
x
u.
tu és forte como teu pai; tua mãe te ama”. “Assim Peri ficou triste.
“Os guerreiros chegaram e disseram: “A senhora não apareceu mais; e Peri via sempre a
“Peri, chefe dos Goitacás, filho de Ararê, tu és o mais senhora nos seus olhos. [...]
valente da tribo e o mais temido do inimigo; os guerreiros “O sol chegava ao meio do céu e Peri chegava tam-
te obedecem”. bém ao rio; avistou longe a tua casa grande.
155
“A virgem branca apareceu. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto
“Era a senhora que Peri tinha visto; não estava triste dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a
como da primeira vez; estava alegre; tinha deixado lá a virgem pelo nome; outras remexe o uru te palha matiza-
nuvem e as estrelas. da, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do
“Peri disse: crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as
'A senhora desceu do céu, porque a lua sua mãe dei- tintas de que matiza o algodão.
xou; Peri, filho do sol, acompanhará a senhora na terra”. ALENCAR, José de. Iracema. Disponível em: http://www.dominiopublico.
“Os olhos estavam na senhora; e o ouvido no coração de gov.br/download/texto/bv000136.pdf. Acesso em: 2 dez. 2021.
156 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 5 « Romantismo no Brasil: José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida
todas as suas faltas, como de alcançar-lhe aquele rápido Passado o tempo indispensável do luto, o Leonardo,
acesso de posto. em uniforme de sargento de milícias, recebeu-se na Sé
Fica também explicada a presença do major em casa com Luisinha, assistindo à cerimônia a família em peso.
da Maria-Regalada. ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias.
São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.257-258.
Depois disto entraram todos em conferência. O major
desta vez achou o pedido muito justo, em consequência - Antonio Candido define Memórias de um sargento de
do fim que se tinha em vista. Com a sua influência tudo milícias como um “romance malandro”. Não apenas
alcançou; e em uma semana entregou ao Leonardo dois Leonardo, mas outras personagens agem de maneira
papéis: um era a sua baixa de tropa de linha; outro, sua desonesta. Explique como a atitude de Maria-Regalada
nomeação de sargento de milícias. justifica a definição de Antonio Candido.
Além disto recebeu o Leonardo ao mesmo tempo carta
de seu pai, na qual o chamava para fazer-lhe entrega do 10. O que é possível concluir sobre a evolução do prota-
que lhe deixara seu padrinho, que se achava religiosa- gonista, considerando o ponto inicial de Leonardo e o
mente intacto. desfecho que ele teve conforme o trecho destacado.
nais ralos
JOSE DE ALENCAR
dera E
q outts cparonço & o veniaduo inmuntor da R
cultura eternamente
eenimento
O id a 23
em prepara, Cos
157
2. Fuvest-SP 2018 Leia o texto e responda ao que se pede. cena transcrita, em que o Pajé tabajara abre as
Não veem teus olhos lá o formoso jacarandá, que vai portas de sua cabana para o colonizador, sem
subindo às nuvens? A seus pés ainda está a seca raiz da oferecer resistência.
murta* frondosa, que todos os invernos se cobria de rama 04 Ao acender “o fogo da hospitalidade”, conforme
e bagos vermelhos, para abraçar o tronco irmão. Se ela não o trecho transcrito, Iracema, que antes já havia
morresse, O jacarandá não teria sol para crescer tão alto. quebrado — em um gesto de arrependimento e
José de Alencar, Iracema. desejo de selar a paz — a “flecha homicida” que
disparara contra o guerreiro branco, se oferece (e
*murta: arbusto, árvore pequena. oferece seu povo) simbolicamente, sem resistên-
cia, à colonização europeia.
08 Moacir, o filho da dor, nascido da união entre
a) É possível relacionar a imagem da murta ao desti-
lracema e Martim e, portanto, da índia brasileira
no de Iracema no romance? Explique.
com o colonizador branco português, simboliza
b) Afrase “Se ela não morresse, o jacarandá não te-
o primeiro brasileiro. No entanto, pouco tempo
ria sol para crescer tão alto” pode ser entendida
após seu nascimento, a mãe morre, imersa na
como uma alegoria do processo de colonização
solidão e no abandono, e Moacir é criado e edu-
do Brasil? Explique.
cado pelo pai, de modo que a cultura tabajara
UEM-PR 2018 Leia o fragmento retirado do romance acaba esquecida.
Iracema, de José de Alencar, e assinale o que for 16 O romance é narrado em primeira pessoa, pela
correto sobre o fragmento, sobre a obra a que ele narradora protagonista. Trata-se de uma es-
pertence, sobre seu autor e o Romantismo. tratégia narrativa amplamente utilizada pelos
escritores românticos, de tendência indianista,
— Ele veio, pai.
com o objetivo de dar voz ao índio que, historica-
— Veio bem. É Tupã que traz o hóspede à cabana de
mente, fora silenciado em favor da perspectiva do
Araquém.
Assim dizendo, o Pajé passou o cachimbo ao estran- colonizador português.
geiro; e entraram ambos na cabana. Soma:
O mancebo sentou-se na rede principal, suspensa no
centro da habitação. ITA-SP 2019 Senhora, de José de Alencar, é uma
Iracema acendeu o fogo da hospitalidade; e trouxe obra representativa do Romantismo porque apresenta
o que havia de provisões para satisfazer a fome e a sede: a) um par romântico que, para se casar, enfrenta a
trouxe o resto da caça, a farinha-d'água, os frutos silvestres, rivalidade de suas famílias.
os favos de mel, o vinho de caju e ananás. [...] b) personagens masculinas cuja retidão de caráter é
Quando o guerreiro terminou a refeição, o velho Pajé sempre inabalável.
apagou o cachimbo e falou: c) importantes cenários naturais, circunscritos ao
— Vieste? ambiente urbano.
— Vim — respondeu o desconhecido. d) o protagonista moldado irreversivelmente pela
— Bem-vindo sejas. O estrangeiro é senhor na cabana educação e pelo meio social.
de Araquém. [...] Se queres dormir, desçam sobre ti os e) uma protagonista virtuosa e movida sobretudo
sonhos alegres; se queres falar, teu hóspede escuta. pelo sentimento amoroso.
O estrangeiro disse:
— Sou dos guerreiros brancos, que levantaram a taba UPF-RS 2019 Sobre o romance Lucíola, de José de
nas margens do Jaguaribe, perto do mar, onde habitam os Alencar, apenas é incorreto afirmar que
pitiguaras, inimigos de tua nação. Meu nome é Martim, a) destaca-se, na narrativa, a oscilação de Lúcia en-
que na tua língua quer dizer filho de guerreiro; meu san- tre dois polos opostos, a pureza e o vício.
gue, o do grande povo que primeiro viu as terras de tua b) o amor de Paulo estimula em Lúcia, que fora
pátria. [...] Há três sóis partimos para a caça; e perdido prostituída em sua juventude, o desejo de rege-
dos meus, vim aos campos dos tabajaras. nerar-se e de cultivar os germes de virtude que
— Foi algum mau espírito da floresta que cegou o conservara no coração.
guerreiro branco no escuro da mata — respondeu o ancião. c) a castidade desenvolve-se na busca gradativa
A cauã piou, além, na extrema do vale. Caía a noite.
da simplicidade, do contato com a natureza e do
ALENCAR, ). Iracema; Cinco minutos. São Paulo:
Martin Claret, 2011. p. 36-37.
afastamento, por parte da heroína, em relação ao
luxo e à sofisticação.
01 O romance a que pertence o fragmento acima d) Lúcia é influenciada pelas normas vigentes, mes-
apresenta a lenda da fundação do Ceará e, por ex- mo consciente das causas sociais da prostituição,
tensão, da nação brasileira. Isso ocorre por meio assumindo-a como um erro seu e renunciando à
da união de Iracema, a índia que dá nome à obra, e paixão sensual.
Martim, o colonizador português. e) Paulo opõe-se frontalmente às convenções sociais
02 O romance está repleto de referências (idealiza- e assume uma relação amorosa com a heroína,
das à moda romântica) ao processo de conquista sem preocupar-se com sua própria reputação e
do Brasil pelos portugueses. Um exemplo é a com seu futuro profissional.
158 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 5 « Romantismo no Brasil: José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida
&
O. Unesp 20241 Escritor refletido e cheio de recurso, a sua 9. UFSC Este último passo acabou de desorientar comple-
obra é uma das minas da literatura brasileira, até hoje, e tamente o Leonardo: ainda bem não tinham expirado as
embora não pareça, tem continuidades no Modernismo. últimas notas do canto, e já, passando-lhe rápido pela
Nossa iconografia imaginária, das mocinhas, dos índios, mente um turbilhão de ideias, admirava-se ele de como
das florestas, deve aos seus livros muito da sua fixação é que havia podido inclinar-se por um só instante a
social; de modo mais geral, para não encompridar a lis- Luisinha, menina sensaborona e esquisita, quando ha-
ta, a desenvoltura inventiva e brasileirizante da sua prosa viam no mundo mulheres como Vidinha.
ainda agora é capaz de inspirar. Decididamente estava apaixonado por esta última.
(Roberto Schwarz. Ao vencedor as batatas, 2000. Adaptado.)
O leitor não se deve admirar disto, pois não temos
O comentário refere-se ao escritor cessado de repetir-lhe que o Leonardo herdara de seu pai
a) Raul Pompeia. aquela grande cópia de fluido amoroso que era a sua prin-
b) Manuel Antônio de Almeida. cipal característica. Com esta herança parece porém que
c) José de Alencar. tinha ele tido também uma outra, e era a de lhe sobrevir
d) Tomás Antônio Gonzaga. sempre uma contrariedade em casos semelhantes. José
e) Aluísio Azevedo. Manuel fora a primeira; vejamos agora qual era, ou antes
quem era a segunda.
Mackenzie-SP 2015 Assinale a alternativa incorreta
Se o leitor pensou no que há pouco dissemos, isto é,
sobre a prosa romântica brasileira.
que naquela família havia três primos e três primas, e se
a) Destacam-se autores como Manuel Antônio de
agora acrescentarmos que moravam todos juntos, deve
Almeida, Bernardo Guimarães, José de Alencar,
ter cismado alguma coisa a respeito. Três primos e três
Joaquim Manuel de Macedo e Visconde de Taunay.
primas, morando na mesma casa, todos moços... não há
b) Retrata a sociedade da época embasada pela
nada mais natural; um primo para cada prima, e está tudo
ideologia positivista e pelo cientificismo.
arranjado. Cumpre porém ainda observar que o amigo do
c) Costuma girar em torno da descrição dos costu-
Leonardo tomara conta de uma das primas, e que deste
mes da sociedade da época, criando identificação
modo vinha a haver três primos para duas primas, isto
com o público-leitor.
é, o excesso de um primo. À vista disto o negócio já se
d) É composta de romances de costumes, urbanos,
torna mais complicado. Pois para encurtar razão, saiba-se
indianistas, regionalistas e históricos.
que havia dois primos pretendentes a uma só prima, e
e) Visconde de Taunay é um dos representantes do
essa era Vidinha, a mais bonita de todas; saiba-se mais
romance regionalista com a obra Inocência.
que um era atendido e outro desprezado: logo, o amigo
Ufam 2015 Assinale a alternativa que se refere ao Leonardo terá desta vez de lutar com duas contrariedades
oo
estilo posterior: o Realismo. Deve-se isso ao fato rapaz, que antes sofria por amor a Luisinha, apai-
de apresentar tipos caricaturais, das classes baixas xona-se por Vidinha logo após conhecê-la. Pouco
da sociedade, tipos que lutam pela sobrevivência depois, tem um relacionamento com a amante do
em meio a enganos e procura de emprego. Toma-largura. Por fim, casa-se com Luisinha.
159
08 Caso a oração reduzida de infinitivo “a de lhe 12. ITA-SP 2017 O livro Memórias de um sargento de
sobrevir sempre uma contrariedade em casos milícias, de Manuel Antônio de Almeida, mostra como,
semelhantes” (Ref. 1) fosse reescrita como uma no Brasil, os agentes do poder costumam, por vezes,
oração desenvolvida, teríamos “a de que lhe so- confundir as esferas do público e do privado. Como
brevinha sempre uma contrariedade em casos afirma o narrador, no capítulo XLV: “Já naquele tempo
semelhantes”. (e dizem que é defeito nosso) o empenho, o compa-
16 Notrecho “José Manuel fora a primeira” (Ref. 2), te- dresco, eram uma mola de todo o movimento social”.
mos um desvio na concordância nominal, porque No enredo, isso é ilustrado pelo comportamento de
o adjetivo primeira deveria estar no masculino, de Vidigal, que
forma a concordar com José Manuel. a) teve, na infância, uma educação familiar muito
permissiva, que lhe afrouxou o caráter.
Soma:
b) sempre foi, desde menino, resistente aos valores
10. Unicamp-SP 2014 O excerto a seguir é o trecho final éticos ensinados pela escola e pela Igreja.
de Memórias de um sargento de milícias, de Manuel c) teve expostas suas desventuras amorosas, sen-
Antônio de Almeida. do, muitas vezes, objeto da chacota coletiva.
d) optou, por interesse, pela carreira de meirinho,
O segredo que a Maria-Regalada dissera ao ouvido respeitada e promissora na época.
do major no dia em que fora, acompanhada por D. Maria
e) revelou ter um caráter não tão rígido ao ceder aos
e a comadre, pedir pelo Leonardo, foi a promessa de que,
apelos de sua amante.
se fosse servida, cumpriria o gosto do major.
Está pois explicada a benevolência deste para com 13. FICSAE-SP 2016 Era no tempo do rei.
o Leonardo, que fora ao ponto de não só disfarçar e ob- Uma das quatro esquinas que formam as ruas do
ter perdão de todas as suas faltas, como de alcançar-lhe Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, cha-
aquele rápido acesso de posto. mava-se nesse tempo — O Canto dos Meirinhos —; e bem
Fica também explicada a presença do major em casa lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro
da Maria-Regalada. favorito de todos os indivíduos dessa classe (que goza-
Depois disto entraram todos em conferência. O major va então de não pequena consideração). Os meirinhos
desta vez achou o pedido muito justo, em consequência de hoje não são mais do que a sombra caricata dos
do fim que se tinha em vista. Com a sua influência tudo meirinhos do tempo do rei: esses eram gente temível
alcançou; e em uma semana entregou ao Leonardo dois e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos
papéis: — um era a sua baixa de tropa de linha; outro, sua extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia
nomeação de Sargento de Milícias. todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era
Além disto recebeu o Leonardo ao mesmo tempo carta entre nós e um elemento da vida: o extremo oposto eram
de seu pai, na qual o chamava para fazer-lhe entrega do os desembargadores [...).
que lhe deixara seu padrinho, que se achava religiosa-
mente intacto. O trecho apresentado inicia o romance Memórias
Passado o tempo indispensável do luto, o Leonardo, de um Sargento de Milícias, escrito em forma de
em uniforme de Sargento de Milícias, recebeu-se na Sé folhetim entre 1852 e 1853 por Manoel Antônio de
com Luizinha, assistindo à cerimônia a família em peso. Almeida. Deste romance como um todo, é correto
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias. afirmar que
Cotia: Ateliê Ed., 2000. a) reveste-se de comicidade, na linha do pitoresco,
a) Que diferença significativa pode ser estabelecida e desenvolve sátira saborosa aos costumes da
entre a condição inicial do herói do romance e sua época, que atinge todas as camadas sociais, em
condição final, reproduzida no trecho anterior? particular os políticos e os poderosos.
b) Essa condição foi alcançada por mérito de Leonardo? b) apresenta personagem feminina, Luisinha, cuja
Justifique. descrição fere a caracterização sempre idealizada
do perfil de mulher dentro da estética romântica.
11. Unicamp-SP Em uma passagem célebre de Memórias c) caracteriza um romance histórico que pretende
de um sargento de milícias, pode-se ler, a respeito da narrar fatos de tonalidade épica e heroica da vida
personagem de Leonardo Pataca, que “o homem era brasileira, ambientados no tempo do rei e vividos
romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia por seus principais protagonistas.
naquele tempo” (Manuel Antônio de Almeida, Memórias d) configura personagens populares que, pela pri-
de um sargento de milícias. Rio de Janeiro: Livros Técni- meira vez, comparecem no romance brasileiro e
cos e Científicos, 1978, p. 19). que se tornam responsáveis pelo desprestígio da
a) De que maneira a passagem apresentada explici- literatura brasileira junto ao público-leitor da época.
ta o lugar peculiar ocupado pelo livro de Manuel
Antônio de Almeida no Romantismo brasileiro? 14. FICSAE-SP 2016 Considerando as situações amo-
b) Como essa peculiaridade do livro se manifesta, rosas que se mostram no romance Memórias de um
de maneira geral, na caracterização das persona- Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida,
gens e na construção do enredo? é correto afirmar que
160 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 5 « Romantismo no Brasil: José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida
a) há um relacionamento amoroso desinteressado 2 Leia o texto extraído do segundo ato de O demônio
de
entre José Manoel e Luisinha que se efetiva por familiar e responda às questões 16 e 17.
um casamento feliz e duradouro. EDUARDO (Rindo-se) — Eis um corretor de casamen-
b) cresce uma paixão entre Vidinha e Leonardo que tos, que seria um achado precioso para certos indivíduos
resulta em união estável, consumada em casa- do meu conhecimento! Vou tratar de vender-te a algum
mento aprovado por todos, mesmo tendo o herói deles para que possas aproveitar teu gênio industrioso.
tomado gosto pela vida de vadio. PEDRO — Oh! Não! Pedro quer servir a meu senhor!
c) renasce em Luisinha o sentimento adormecido que Vosmecê perdoa; foi para ver senhor rico!
nutria por Leonardo e, após a decepção da primeira EDUARDO — E o que lucras tu com isto?! Sou tão
união conjugal, casa-se com ele em bodas festivas pobre que te falte com aquilo de que precisas? Não te trato
e amparadas em herança recebida e na promoção mais como um amigo do que como um escravo?
às fileiras das Milícias no posto de sargento. PEDRO — Oh! Trata muito bem, mas Pedro queria
d) resulta do casamento feliz de Leonardo-Pataca que o senhor tivesse muito dinheiro e comprasse carro
com Maria das Hortaliças, o nascimento de um bem bonito para...
EDUARDO — Para... Dize!
menino, fruto de uma pisadela e de um beliscão e
PEDRO — Para Pedro ser cocheiro de senhor!
que será a felicidade de todos porque nunca será
EDUARDO — Então a razão única de tudo isto é o
malsinado.
desejo que tens de ser cocheiro?
15. FGV-RJ 2016 Leia o texto a seguir para responder à PEDRO — Sim, senhor!
EDUARDO — (Rindo-se) — Muito bem! Assim,
questão.
pouco te importava que eu ficasse mal com a pessoa
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo que estimava; que me casasse com uma velha ridícula, que
algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se, porém, vivesse maçado e aborrecido, contanto que governasses
do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe dois cavalos em um carro! Tens razão!... E eu ainda devo
por proteção de quem, alcançou o emprego de que o dar-me por muito feliz, que fosse esse motivo frívolo,
vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde mas inocente, que te obrigasse a trair a minha confiança.
tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não (Eduardo sai.)
sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira ALENCAR, José de. O demônio familiar. 4. ed.
das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitota. O São Paulo: Martin Claret, 2013. p. 54-55.
Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de
sua mocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão. 16. UEL-PR 2020 Sobre as relações entre O demônio fa-
Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do miliare o Romantismo, considere as afirmativas a seguir.
navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto |. O vínculo da peça com o Romantismo decorre do
dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valen- franco abolicionismo, apesar da negação da con-
te pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse cessão de alforria a Pedro.
por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e H. A comicidade da peça realça a tonalidade ro-
deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão máântica, pois expõe a fragilidade da nobreza de
nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em caráter como marca central do estilo de época.
forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia HI. A defesa da família e o discurso moralista predomi-
de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena
nam como forma de exaltação de valores românticos.
de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta
IV. A relevância dos relacionamentos amorosos
vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os
como tópicos centrais da peça contribui para
dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam
sê-lo de muitos anos. acentuar as conexões com o Romantismo.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias. Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas | e Il são corretas.
Embora de fato pertençam ao Romantismo, as Memórias
b) Somente as afirmativas | e IV são corretas.
de um sargento de milícias não apresentam as carac- c) Somente as afirmativas Ill e IV são corretas.
terísticas mais típicas e notórias desse movimento. No d) Somente as afirmativas |, Ile Ill são corretas.
entanto, analisando-se o trecho aqui reproduzido, ve-
e) Somente as afirmativas ||, Ill e IV são corretas.
rifica-se que nele se apresenta claramente o seguinte
traço do Romantismo: 17. UEL-PR 2020 Quanto à relação entre Eduardo e Pedro,
a) preferência pela narração de aventuras fabulosas assinale a alternativa correta.
e extraordinárias. a) Embora invoque outros motivos no trecho, Pedro
b) tendência a emitir juízos morais sobre as condu- cansa-se de servir como escravo de Eduardo e a
La
tas das personagens. planeja criar problemas para seu senhor como [=
4
c) livre expressão de conteúdos eróticos incomuns forma de vingança. uu
x
u.
e chocantes. b) Eduardo e Pedro mantêm relações com camara-
d) tematização franca e aberta da vida popular e dagem; isso permite ao escravo mover-se com
cotidiana. relativa liberdade e eventualmente tomar iniciati-
e) busca do raro e do exótico, como meio de fuga da vas que desagradam ao senhor, como evidencia
realidade burguesa. o trecho.
161
c) Pedro promove trocas de correspondência para as vizinhas de Eduardo com a finalidade de afastá-lo de Henri-
queta; embora Eduardo descubra as artimanhas do escravo, ele se convence de que o melhor é desposar a viúva.
d) Até esta cena, Eduardo depositava confiança irrestrita em Pedro, fundamentada no comportamento exemplar, na
eficiência e na prontidão com que o escravo executava as tarefas a ele atribuídas.
e) Ainterpretação da justificativa de Pedro como frivolidade demonstra o desdém de Eduardo pelas aspirações do
escravo, o que torna este último cada vez mais insatisfeito.
15. UEL-PR 2019 Leia a seguir o fragmento retirado da obra O demônio familiar, de José de Alencar.
CENA XIII — Alfredo, Azevedo
Alfredo — É raro encontrá-lo agora, Sr. Azevedo. Já não aparece nos bailes, nos teatros.
Azevedo — Estou-me habituando à existência monótona da família.
Alfredo — Monótona?
Azevedo — Sim. Um piano que toca; duas ou três moças que falam de modas; alguns velhos que dissertam sobre a
carestia dos gêneros alimentícios e a diminuição do peso do pão; eis um verdadeiro tableau de família no Rio de Janeiro. Se
fosse pintor faria um primeiro prix au Conservatoire des Arts.
Alfredo — E havia de ser um belo quadro, estou certo; mais belo sem dúvida do que uma cena de salão.
Azevedo — Ora, meu caro, no salão tudo é vida; enquanto que aqui, se não fosse essa menina que realmente é espiri-
tuosa, D. Carlotinha, que faríamos, senão dormir e abrir a boca?
Alfredo — É verdade; aqui dorme-se, porém sonha-se com a felicidade; no salão vive-se, mas a vida é uma bem triste
realidade. Em vez de um piano há uma rabeca; as moças não falam de modas, mas falam de bailes; os velhos não dissertam
sobre a carestia, mas ocupam-se com a política. Que diz deste quadro, Sr. Azevedo, não acha que também vale a pena de
ser desenhado por um hábil artista, para a nossa “Academia de Belas-Artes”?
Azevedo — A nossa “Academia de Belas-Artes”? Pois temos isto aqui no Rio?
Alfredo — Ignorava?
Azevedo — Uma caricatura, naturalmente... Não há arte em nosso país.
Alfredo — A arte existe, Sr. Azevedo, o que não existe é o amor dela.
Azevedo — Sim, faltam os artistas.
Alfredo — Faltam os homens que os compreendam; e sobram aqueles que só acreditam e estimam o que vem do es-
trangeiro.
Azevedo (Com desdém) — Já foi a Paris, Sr. Alfredo?
Alfredo — Não, senhor; desejo, e ao mesmo tempo receio ir.
Azevedo — Por que razão?
Alfredo — Porque tenho medo de, na volta, desprezar o meu país, ao invés de amar nele o que há de bom e procurar
corrigir o que é mau. [...]
ALENCAR, ). O demônio familiar. 4. ed. São Paulo: Martin Claret, 2013. p. 90-92.
Com base na obra O demônio familiar, de José de Alencar, responda aos itens a seguir.
a) Acena ressalta uma temática comumente explorada por José de Alencar. Indique qual é essa temática e explique
como a cena a aborda.
b) De acordo com a temática indicada no item a), aponte a personagem que mais se aproxima das concepções
defendidas por Alencar. Justifique sua resposta.
EO CTT UTAD
“Arte é criação”
Em uma luta quase solitária, Esbell publicou artigos em diferentes espaços para fazer sua discordância chegar à academia. Ele defendia o uso
de seu conceito por entender que a definição da academia associava a produção dos artistas indígenas à arte contemporânea, definida em bases
eurocêntricas. O grito ecoou entre os acadêmicos, que o convidaram para conversar.
“Eu tive a impressão que os antropólogos e pesquisadores da arte estavam querendo dizer que nós não fazíamos arte, que não sabíamos o que
é isso e que viemos a conhecer a partir deles, dos europeus, quando isso não é verdade. Arte, para nós, é criação, é transformação pura”, explicou.
SOARES, João Pedro. A “armadilha psicodélica” de Jaider Esbell. Made for minds, 4 nov. 2021. Disponível em:
https:/Awww.dw.com/pt-br/a-armadilha-psicod%C3%A9lica-de-jaider-esbell/a-59717656. Acesso em: 29 jul. 2022.
J
162 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 5 « Romantismo no Brasil: José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida
José de Alencar
O autor é o romancista mais importante do movimento romântico, responsável também por contribuir na consolidação
da Literatura Brasileira.
Um dos objetivos de Alencar era fundar uma tradição literária do Brasil, por isso se empenhou em criar símbolos
permanentes no imaginário brasileiro.
Sua obra oferece um panorama abrangente do Brasil, intencionando representar por meio da literatura todos os
espaços do país.
A sua produção literária é dividida em três fases: a primitiva, a histórica e a pós-independência.
Suas obras apresentavam histórias de heróis locais, além dos valores da sociedade burguesa.
Suas obras indianistas são responsáveis pela fundação de uma literatura nacionalista com base nas lendas, nos mitos
e nas tradições indígenas.
Em O guarani, Peri, o herói indígena, guia e protege o colonizador em uma terra selvagem e hostil. É a obra inaugural
do indianismo.
Iracema tem estrutura de lenda, pois se propõe a contar a história da fundação do estado do Ceará, onde Alencar
nasceu. Apresenta o início da colonização, a vida selvagem e o processo de miscigenação do povo brasileiro.
Nessas obras observamos algumas características alencarianas, como a idealização do indígena e da natureza brasi-
leira, além da formação do passado mítico do Brasil.
Os romances urbanos de Alencar apresentam os costumes da sociedade burguesa carioca. Senhora é um exemplo
de como o autor construiu personagens de complexidade e profundidade psicológica.
Seus romances abordam temas como o amor, o casamento e o dinheiro como meio de ascensão social.
A obra apresenta cenas do cotidiano no subúrbio do Rio de Janeiro de forma sarcástica e cômica, com um narrador
livre de julgamentos.
Apresenta o primeiro malandro da literatura brasileira, o protagonista que representa um herói popular longe das
idealizações românticas.
A linguagem é simples, direta e despretensiosa. As personagens são tipos sociais, pessoas comuns e pobres.
EM Sites
al Museu de Arte Moderna — MAM. Disponível em: www.3dexplora.com.br/seutour.aspx?codigo=xqYm4VuESN5&play=1 &hl=
0O&qs=1&wh=1 &p=0&ts=1. Acesso em: 29 jul. 2022.
Tour virtual pela exposição de Arte Indígena Contemporânea no Museu de Arte Moderna — MAM.
Livros
SS O demônio familiar, de José de Alencar. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/biO00 164.pdf.
Acesso em: 29 jul. 2022.
Nesta peça teatral, José de Alencar expõe o debate em torno do tempo da escravidão em meados do século XIX. a
uu
[=
Lucíola, de José de Alencar. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000137.pdf. Acesso em: 4
uu
29 jul. 2022. x
u.
Este romance urbano, com Diva e Senhora, formam a tríade de perfis de mulher de José de Alencar.
Antes o mundo não existia, de Umusi Pãrôkumu e Torâm Kehríri. Rio de Janeiro: Dantes, 2019.
Esta obra é a primeira de autores indígenas a ser publicada no Brasil. A primeira edição é de 1980. A obra é um registro da me-
mória sobre a origem do mundo e da humanidade por um povo que a transmitiu na oralidade através dos tempos.
163
Exercícios complementares
1. Fuvest-SP O Pajé falou grave e lento: — Se a virgem Não havia, porém, em Aurélia nem sombra do ridií-
abandonou ao guerreiro branco a flor de seu corpo, ela culo pedantismo de certas moças que, tendo colhido em
morrerá; mas o hóspede de Tupã é sagrado; ninguém o leituras superficiais algumas noções vagas, se metem a
ofenderá; Araquém o protege. tagarelar de tudo.
José de Alencar, Iracema. ALENCAR, José de. Senhora. Disponível em: http:/Awvww.dominiopublico.
gov.br/download/texto/bn000011 .pdf. Acesso em: 29 jul. 2022.
a) Tendo em vista, no contexto da obra, a lógica que
rege o comportamento do Pajé, explique por Os textos | e Il, apesar de pertencerem ao movimento
que, para ele, “a virgem” (lracema) deverá morrer romântico, são distintos na maneira como apresen-
e o “guerreiro branco” (Martim) deverá ser poupado, tam suas heroínas. Qual das suas apresentações está
caso estes tenham mantido relações sexuais. mais de acordo com a estética romântica. Justifique.
b) Considerando, no contexto da obra, a caracteri- - À descrição que José de Alencar faz de Aurélia no
zação da personagem Martim, explique por que texto Il, destaca
foi apenas quando estava sob o efeito do “vinho a) sua beleza, humildade e brilho natural.
de Tupã” que ele manteve, pela primeira vez, re- b) a imaturidade da personagem devido sua pouca
lações sexuais com lracema. idade.
c) sua inteligência, sagacidade e complexidade.
Fuvest-SP /racema faz parte da tríade indianista de
d) seu caráter ambicioso e caprichoso.
José de Alencar, juntamente com outros dois romances:
a) Quais? ITA-SP 2018 Em Senhora, de José de Alencar, há uma
b) Cada um desses romances teria uma finalidade histó- cena em que Aurélia sai bruscamente do jardim, onde
rica. Qual teria sido a intenção do autor com Iracema? estava com Seixas, vai para a sala e fecha as corti-
Utilize os trechos a seguir para responder às questões nas para apagar os reflexos da “claridade argentina
Pe
164 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 5 « Romantismo no Brasil: José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida
7. UPF-RS 2016 Em Senhora, de José de Alencar, pode- a história do finado padrinho de Leonardo; outras vezes
-Se observar que o autor emprega, de modo recorrente, porém, e estas eram maior número, o agregado, refina-
ao longo da narrativa, uma linguagem para do vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à
sustentar certo grau de diante do tema cen- árvore familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-
tral do romance, o casamento por dinheiro. -la a dar frutos, e o que é mais ainda, chegava mesmo
Assinale a alternativa cujas informações preenchem a dar cabo dela. E o caso é que, apesar de tudo, se
corretamente as lacunas do enunciado. na primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil
a) jurídica/hermetismo. exigências, se lhe batiam a cada passo com os favores
na cara, se o filho mais velho da casa, por exemplo, o
b) jornalística/imparcialidade.
tomava por seu divertimento, e à menor e mais justa
c) metafórica/idealização.
queixa saltavam-lhe os pais em cima tomando o partido
d) jornalística/sensacionalismo.
de seu filho, no segundo aturavam quanto desconcerto
e) metafórica/realismo.
havia com paciência de mártir, o agregado tornava-se
ITA-SP 2017 Na ficção romântica, em geral, o destino quase um rei em casa, punha, dispunha, castigava os
das personagens femininas é a felicidade pelo casa- escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos
mento ou a morte trágica. Nesse aspecto, Til, de José mais particulares negócios.
de Alencar, traz um final inovador, resultante do amadu- Em qual dos dois casos estava ou viria estar em breve
recimento de Berta após conhecer a história de Besita, o nosso amigo Leonardo? O leitor que decida pelo que
sua mãe. Podemos afirmar isso acerca do romance em se vai passar.
(Manuel Antônio de Almeida. Memórias de um
questão, pois Berta Sargento de Milícias, 1994.)
a) recusa-se a se casar com Miguel quando desco-
bre ser filha incógnita de Luís Galvão. O romance de Manuel Antônio de Almeida aborda cos-
b) abre mão do casamento, ainda que com algum tumes da sociedade do Rio de Janeiro do século XIX.
sofrimento, optando por cuidar de Zana e Brás. Um deles é a presença comum de agregados nas casas.
c) aceita ser reconhecida legalmente como filha No texto, essa figura é descrita
por Luís Galvão, mostrando-se mais flexível que a) com certa reserva,
já que se tratava de uma pes-
a mãe. soa que não era bem vista pela família.
d) enfrenta o assédio de Jão Fera, que violentou b) por dois vieses, conforme a sua relação com a fa-
Besita. mília: ou era útil a esta ou a explorava.
e) assassina Ribeiro, como vingança pela morte da c) de modo divertido, como uma pessoa que sur-
mãe. preendia não raro pelo seu humor e pela sua
simpatia.
Famerp-SP 2020 Quanto à matéria, o romance bra- d) como vítima do sistema, uma vez que a família a
sileiro nasceu regionalista e de costumes; ou melhor, explorava, chegando a tratá-la como um escravo.
pendeu desde cedo para a descrição dos tipos huma- e) de forma positiva, dado que os laços afetivos es-
nos e formas de vida social nas cidades e nos campos. tabelecidos com a família eram legítimos.
O romance histórico se enquadrou aqui nesta mesma
orientação; o romance constituiu desen- 11. PUC-SP 2016 Memórias de um Sargento de Milícias
volvimento à parte, do ponto de vista da evolução do cronologicamente faz parte da literatura romântica
gênero, e corresponde a certas necessidades, poéticas brasileira; no entanto, torna-se uma obra atípica em
e históricas, de estabelecer um passado heroico e len- relação ao momento em que foi escrita. Das alterna-
dário para a nossa civilização, a que os tivas abaixo, indique a que não valida essa afirmação
desejavam, numa utopia retrospectiva, dar tanto quanto porque
possível traços autóctones. a) seu enredo é marcado por intenso e trágico sofri-
A figura dominante do período, , passou mento amoroso cujo desfecho concretiza um final
por todas essas vertentes e em todas deixou boas obras. feliz, com a união conjugal e ascensão social dos
(Antonio Candido. Formação da literatura brasileira, 1975. Adaptado.) personagens.
b) sua linguagem é marcada pela oralidade e co-
As três lacunas do texto são preenchidas por:
loquialidade, em tom de crônica jornalística,
a) urbano — românticos — Manuel Antônio de Almeida.
ilustrando a prática de que se deve escrever
b) indianista — românticos — José de Alencar.
como se fala.
c) urbano — naturalistas — Aluísio Azevedo.
c) obra caracterizada pela ausência do tom açuca-
d) urbano — românticos — José de Alencar.
rado e idealizador da literatura romântica, visto N
e) indianista — naturalistas — Aluísio Azevedo.
que as relações sentimentais não se dão nem tu
-
4
10. Famema-SP 2020 |...] no tempo em que se passavam pela grandeza no sofrimento, nem pela redenção o,
[4
os fatos que vamos narrando nada mais havia comum do pela dor. a
que ter cada casa um, dois e às vezes mais agregados. d) a caracterização dos personagens ou fere a des-
Em certas casas os agregados eram muito úteis, por- crição sempre idealizada do perfil feminino ou
que a família tirava grande proveito de seus serviços, e já configura traços de um herói pelo avesso mais
tivemos ocasião de dar exemplo disso quando contamos marcado por defeitos que por virtudes.
165
12. ESPM-SP Os leitores devem estar lembrados de que Chegaram com feliz viagem ao seu destino; tomaram
o nosso antigo conhecido, de quem por algum tempo o seu carregamento de gente, e voltaram para o Rio. Gra-
nos temos esquecido, o Leonardo-Pataca, apertara-se ças à lanceta do nosso homem, nem um só negro morreu,
em laços amorosos com a filha da comadre, e que o que muito contribuiu para aumentar-lhe a sólida repu-
com ela vivia em santa e honesta paz. Pois este viver tação de entendedor do riscado.
santo e honesto deu em tempo oportuno o seu resul- ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias.
166 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 5 « Romantismo no Brasil: José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida
Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era a) mudança e imobilismo.
autoridade e mandava. Fabiano sempre havia obedecido. b) realismo e alucinação.
Tinha muque e substância, mas pensava pouco, desejava c) religiosidade e materialismo.
pouco e obedecia. d) liberdade e opressão.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2007. p. 28. e) localismo e cosmopolitismo.
a) Que semelhanças e diferenças podem ser apon- 17. UPE 2017
tadas entre o Major Vidigal, de Memórias de um
sargento de milícias, e o soldado amarelo, de Texto 1
Vidas secas? Amor
b) Como essas semelhanças e diferenças se rela-
cionam com as características de cada uma das Amemos! Quero de amor
obras? Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
15. Fuvest-SP 2015 Considerando-se o intervalo entre o
Que desmaia de paixão!
contexto em que transcorre o enredo da obra Memórias
Na tu'alma, em teus encantos
de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de
Almeida, e a época de sua publicação, é correto afirmar E na tua palidez
que a esse período corresponde o processo de E nos teus ardentes prantos
a) reforma e crise do Império Português na América. Suspirar de languidez!
b) triunfo de uma consciência nativista e nacionalista Quero em teus lábios beber
na colônia. Os teus amores do céu,
c) independência do Brasil e formação de seu Esta- Quero em teu seio morrer
do nacional.
No enlevo do seio teu!
d) consolidação do Estado nacional e de crise do re-
Quero viver d'esperança,
gime monárquico brasileiro.
Quero tremer e sentir!
e) Proclamação da República e instauração da Pri-
meira República. Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
16. FGV-SP 2015 (Adapt.) Era no tempo do rei.
Vem, anjo, minha donzela,
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do
Minh'alma, meu coração!
Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, cha-
mava-se nesse tempo — O canto dos meirinhos —; e bem Que noite, que noite bela!
lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro Como é doce a viração!
favorito de todos os indivíduos dessa classe (que goza- E entre os suspiros do vento
va então de não pequena consideração). Os meirinhos Da noite ao mole frescor,
de hoje não são mais do que a sombra caricata dos Quero viver um momento,
meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível Morrer contigo de amor!
e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos (Álvares de Azevedo)
extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia
todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda Texto 2
era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto Era no tempo do rei.
eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e Uma das quatro esquinas que formam as ruas do
estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se
Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, cha-
passavam os terríveis combates das citações, provarás,
mava-se nesse tempo — O canto dos meirinhos —; e bem
razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro
que se chamava o processo. favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava
Daí sua influência moral. então de não pequena consideração). Os meirinhos de
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
hoje não são mais do que a sombra caricata dos meiri-
Já na frase de abertura das Memórias de um sar- nhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida,
gento de milícias — “Era no tempo do rei” (ref. 1) —, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da
que remete ao mesmo tempo à abertura-padrão formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de
dos contos da carochinha e ao período joanino da Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um a
uu
história do Brasil, manifestam-se as duas moda- elemento de vida: o extremo oposto eram os desembar- [=
4
lidades do tempo presentes nessa obra: uma, de gadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, Em,
[e
o
caráter lendário e intemporal e, outra, de caráter fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis
histórico bem determinado. O convívio dessas duas combates das citações, provarás, razões principais e finais,
modalidades do tempo indica que, do ponto de vis- e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.
ta dessa obra, a história brasileira caracterizou-se Daí sua influência moral.
pela conjunção de (Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida)
167
Sobre os textos 1 e 2, analise as proposições a seguir 18. UCS-RS 2014 Sobre o Romantismo brasileiro, é cor-
e assinale com V as Verdadeiras e com F as Falsas. reto afirmar que
O Texto 1 tematiza o amor como sentimento da a) o principal poeta foi Gonçalves de Magalhães,
ação interior do sujeito, deixando transparecer que inaugurou a Escola Romântica no Brasil,
seu estado afetivo; revela a intimidade de um a partir da publicação de 4 confederação dos
amor irresoluto e ambivalente. tamoios.
O poeta Álvaro de Azevedo transita entre um b) a dramaturgia romântica brasileira teve pelo
amor humano e um amor divino, numa tentativa menos um grande nome: Martins Pena, que se
de equacionar seus desejos pela mulher amada especializou em comédias e escreveu O noviço.
e pela imagem de mulher divinizada. c) a prosa de José de Alencar pode ser classificada
A obra Memórias de um Sargento de Milícias em urbana, rural, histórica, regionalista, naturalista
caracteriza-se como uma novela, ao apresentar e indianista.
uma sequência de células dramáticas, ou episó- d) os romances indianistas de José de Alencar são
dios semelhantes a capítulos, posicionados numa representativos da cultura brasileira, uma vez que
ordem linear temporal. os casais protagonistas são sempre constituídos
O Texto 2, fragmento de Memórias de um Sargento por uma mulher branca e um homem indígena,
de Milícias, caracteriza-se como um romance, e é como Ceci e Peri.
baseado nos valores sociais, contemporâneos ao e) o escritor Castro Alves é chamado de “poeta
autor da obra. dos escravos”, porque os poemas de Espumas
A sequência CORRETA, de cima para baixo, é: Flutuantes, quando publicados em livro, torna-
a) FVV-F e) VEVV e) VNV-F-F ram-se imediatamente um libelo em defesa do
b) VVNV-F d) VV-FV fim do tráfico negreiro.
CRRUR Cane a ea an acer a ar a an an aa aa an a ana aaa area nara rar canan canas a sea sas CARR R CCR UR RAR UR a ERR UR RL UCL UU UU RL UC UR UA a UR a RAR na arena na ara ares ca nas aa cana a canada
Como se sabe, dragões são grandes lagartos ou serpentes aladas, com hálito de fogo e poderes sobrenaturais. Presentes
na mitologia de povos tão diversos como chineses, europeus e astecas, são vistos ora como fonte de sabedoria e força, ora
como feras malignas.
Conta-se que, há muito tempo, um dragão saiu dos verdes mares bravios, em uma praia nomeada em homenagem à índia
Iracema, personagem de José de Alencar (1983 [1865]). No mito do romancista cearense, a “virgem dos lábios de mel” não
foi vítima do dragão, e sim do cavaleiro que deveria protegê-la, Martin Soares Moreno. Do encontro do colonizador com a
jovem tabajara nasceu Moacir — o “filho da dor”, conforme a etimologia alencarina.
GODIM, M. P. Linda. O dragão e a cidade: lendas do Ceará. Museologia e Patrimônio — Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia
e Patrimônio, Unirio. v. 2, n. 2, p. 13-26, jul./dez. 2009. p. 14. Disponível em: http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/
download/69/69. Acesso em: 5 out. 2022.
Considere a representação histórica de Martim Soares Moreno, colonizador que inspirou a criação da personagem
alencariana, e explique por que Iracema, alegoria da América, “não foi vítima do dragão, e sim do cavaleiro que deveria
protegê-la”.
Sobre a obra de José de Alencar, analise as seguintes afirmações e classifique-as como verdadeiras (V) ou falsas (F)
José de Alencar tinha como objetivo retratar o lado mais obscuro da sociedade brasileira, denunciando a escravidão.
Ele foi o principal romancista do movimento Romântico brasileiro, escreveu romances indianistas, históricos,
urbanos e regionalistas.
Alencar destacou-se como poeta e sua produção tem forte viés sentimentalista e místico.
O projeto literário de José de Alencar forma um panorama da cultura brasileira, retratando os diversos aspectos da
sociedade.
Comparando o enredo de Memórias de um sargento de milícias com outros romances urbanos, como Senhora, de
José de Alencar, qual é o principal diferencial desse romance?
168 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 5 * Romantismo no Brasil: José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida
A dificulda la pobr
Benjamin Kennington,
tela, 167 cm X 148 cm, Art Galle
South Australia, Adelaide, Au
EEE EEE ESSES EEE SEER EEE EEE EEE
do ideal [...)”.
MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira, volume Il: pervagação: percorrer diversas direções; andar sem caminho.
do Realismo à Belle Époque. São Paulo: Cultrix, 2016. p. 12.
a
Realismo português uu
[um
4
Em Portugal, apesar da consolidação do liberalismo, a uW
fo
o
sociedade vivia um momento de estagnação econômica, tec-
nológica e científica. A Europa via o crescimento significativo
da produção industrial, mas Portugal ainda vivia um período
de produção artesanal. O atraso de grandes cidades portu- A Universidade de Coimbra, uma das mais antigas ainda em funcionamento
guesas, como Lisboa e Porto, em relação a outras capitais no mundo. Está localizada na cidade de Coimbra, em Portugal.
171
Em 1871, outro evento colaborou para acirrar os âni- e fase pós-realista: essa é uma fase que mistura in-
mos entre a velha e a nova geração, as Conferências fluências do Romantismo, tendências do Realismo/
Democráticas. Idealizadas pelos jovens da Universidade Naturalismo e do Impressionismo. O tom de crítica é
de Coimbra, como Antero de Quental, Teófilo Braga, Eça de acentuado. Destacam-se as obras A ilustre casa de
Queirós, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro e Ramalho Ramires, de 1897, e À cidade e as serras, de 1901.
Ortigão — conhecidos como Geração de 70 -, a série de
As obras de Queirós determinaram os traços do Realis-
conferências causou agitação política e intelectual, mas foi
mo português. O autor imprimia um tom bastante sarcástico
condenada pelo governo e pela Igreja católica, que con-
e mordaz em seus textos, que tinham a função de denunciar
seguiram encerrar as reuniões por decreto. No entanto, a
os falsos valores das instituições portuguesas, como a Igreja
essa altura, as principais ideias já haviam sido difundidas
católica e o casamento.
e circulavam de modo a garantir que o Realismo aprofun-
dasse suas raízes em solo português.
CASE TUrIS
E e) Émile Zola (1840-1902) é um importante escritor francês.
Considerado o maior representante do Naturalismo e de
A Questão Coimbrã aconteceu no ano de 1865 e foi um
caráter libertário e combativo, escreveu Germinal, de
embate literário e ideológico que colocou os antigos
1881, obra que compõe os clássicos universais e narra
e consagrados escritores românticos de um lado e os
a revolta de um grupo de mineiros. Para escrever esse
jovens escritores realistas portugueses de outro. Estes
livro, Zola trabalhou e viveu meses na mina de carvão
defendiam uma literatura mais fiel à realidade, voltada
onde uma greve ocorreu.
aos problemas sociais e com linguagem mais próxima
do cotidiano.
O crime do padre Amaro
O crime do padre Amaro é um romance publicado em
Eça de Queirós (1845-1900)
folhetins no ano de 1875 que conta a história de Amaro, um
José Maria Eça de Queirós é o nome de maior desta- jovem sacerdote designado para a província de Leiria, onde
que entre os prosadores realistas de Portugal. Ele nasceu
vive em um quarto alugado na casa da Sra. Joaneira e sua
em Póvoa de Varzim e cursou Direito na Universidade de jovem filha Amélia. A moça é educada segundo os mol-
Coimbra, onde conheceu Antero de Quental e Teófilo Braga des religiosos e incentivada a crer em tudo o que os padres
e integrou o grupo de jovens intelectuais liderado por eles. dizem; seu perfil, portanto, é de uma personagem ingênua
Depois que se formou, atuou pouco tempo como advo- e sonhadora.
gado na cidade de Évora, retornando à capital para trabalhar
como jornalista. Nesse período, participou das Conferências Amélia ouvia aquelas histórias, encantada. Gostava então
Democráticas proferindo o discurso “A nova literatura: o Rea- tanto de festas de igreja e da convivência dos santos, que dese-
lismo como nova expressão da arte”. Também foi diplomata, java ser uma “freirinha, muito bonita, com um veuzinho muito
servindo seu país em Cuba, Inglaterra e França. branco”. A mamã era muito visitada por padres.
Em 1878, Eça de Queirós se casou e passou a se [...] Foi assim crescendo entre padres. [...] Já então sabia
dedicar integralmente à sua obra literária. Escreveu ro- o catecismo e a doutrina: na mestra, em casa, por qualquer
mances, contos, literatura de viagem e hagiografias, além “bagatela”, falavam-lhe sempre dos castigos do Céu; de tal
de textos jornalísticos. Preferiu não interferir na Questão sorte que Deus aparecia-lhe como um ser que só sabe dar o
sofrimento e a morte, e que é necessário abrandar, rezando
Coimbrã, mas foi um ativo defensor das novas ideias lite-
e jejuando, ouvindo novenas, animando os padres. Por isso,
rárias. Suas obras são objetivas e claras, e sua intenção
se às vezes ao deitar lhe esquecia uma Salve-Rainha, fazia
era criar romances com uma função social evidente, se-
penitência no outro dia, porque temia que Deus lhe mandasse
guindo o pensamento de sua época, que entendia a obra
sezões ou a fizesse cair na escada.
literária como um utensílio, uma ferramenta de combate
QUEIRÓS, Eça de. O crime do padre Amaro. Disponível em:
e de denúncia. http://www. dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000226.pdf.
Eça de Queirós foi influenciado pelas obras de Gustave Acesso em: 1º nov. 2022.
Flaubert e Émile Zola, por isso defendia uma literatura que
O convívio com Amélia desperta os desejos de Amaro,
incitasse o questionamento e a investigação da vida social
que passa a cortejar a moça. Ela corresponde às investi-
da burguesia portuguesa. Sua obra é tradicionalmente di-
das do jovem pároco e passa a ignorar seu noivo, João
vidida em três fases:
Eduardo. Amélia e Amaro tornam-se amantes e vivem
e textos iniciais: são obras nas quais é possível notar a tranquilamente, até que a jovem fica grávida. Para evitar
influência romântica, publicadas em folhetins e depois o escândalo, Amélia é enviada para viver com uma madri-
organizadas no volume Prosas bárbaras. nha em lugar afastado de Leiria. Ela dá à luz o filho, mas
e fase realista: O período mais radical do autor, iniciado morre pouco tempo após o parto; já o bebê é entregue
em 1875 com a publicação do romance O crime do a uma “tecedeira de anjos” — mulheres que recebiam be-
Padre Amaro, seguido por O primo Basílio, de 1878, bês indesejados em troca de dinheiro; as crianças, muitas
e Os Maias, de 1888. Nessas obras, Eça de Queirós vezes, morriam devido às más condições sanitárias a que
critica a hipocrisia da burguesia e do clero. eram expostas.
O crime do padre Amaro é um romance tese e foi revisto por Eça de Queirós pelo menos três vezes. Trata-se de
um retrato da sociedade portuguesa da segunda metade do século XIX e apresenta uma forte crítica à vida eclesiástica,
principalmente ao celibato. A contradição entre aquilo que os sacerdotes pregam e o que vivem na realidade fica bastante
evidente na comparação entre a pobreza da população e a riqueza que permeia o clero e nas relações imorais que o
cônego Dias e Amaro mantêm com as devotas Sra. Joaneira e Amélia.
Ao longo da leitura, observa-se que Amaro não possui vocação para a vida eclesiástica, uma vez que o sacerdócio
não foi, para ele, uma escolha feita por devoção, mas por interesses pessoais. Aos poucos, seu personagem revela-se um
homem inescrupuloso, capaz de fazer o que for necessário para manter sua posição e seguir exercendo seu domínio, por
meio da religião, sobre as pessoas. Mesmo tendo se apaixonado por Amélia, não hesita em abandoná-la nem em entregar
seu filho, mesmo depois de saber o destino dessas crianças, como fica explícito no trecho anterior. Ao saber da morte de
Amélia, embora demonstre algum arrependimento, este é passageiro, logo superado e sem potencial para desencadear
a redenção do personagem.
— Ó Amaro, e você a escrever-me que queria retirar-se para a serra, ir para um convento, passar a vida em penitência.
O padre Amaro encolheu os ombros:
— Que quer você, padre-mestre?... Naqueles primeiros momentos... Olhe que me custou! Mas tudo passa...
— Tudo passa, disse o cônego. E depois de uma pausa: — Ah! Mas Leiria já não é Leiria!
Passearam então um momento em silêncio, numa recordação que lhes vinha do passado, os quinos divertidos da S. Joaneira, a
as palestras ao chá, as passeatas ao Morenal, o Adeus e o Descrido cantados pelo Artur Couceiro e acompanhados pela pobre uu
[=
4
Amélia que, agora, lá dormia no cemitério dos Poiais, sob as flores silvestres... uu
[e4
QUEIRÓS, Eça de. O crime do padre Amaro. Disponível em: ra
http://www. dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000226.pdf. Acesso em: 1º nov. 2022.
A tese desenvolvida no romance é a de que a religião — no caso, o catolicismo — figura como a causa da decadência
de Portugal e de outros países católicos. Há na obra longos diálogos que discutem, entre outros temas, o celibato, as
relações políticas do clero e a riqueza da Igreja católica.
173
O primo Basílio Jorge foi heroico durante toda essa tarde. Não podia estar
muito tempo na alcova de Luísa, a desesperação trazia-o num
Um dos mais famosos romances de Eça de Queirós, O
movimento contraditório; mas ia lá a cada momento, sorria-lhe,
primo Basílio foi escrito entre 1875 e 1877 e conta a história
conchegava-lhe a roupa com as mãos trêmulas; e ela dormitava,
de Luísa, uma moça nascida em Lisboa, muito bonita, frívola e
ficava imóvel a olhá-la feição por feição, com uma curiosidade
sonhadora, casada com Jorge, um engenheiro de pouca am-
dolorosa e imoral, como para lhe surpreender no rosto vestígios
bição que a mima muito. Eles formam um casal de pequenos
de beijos alheios, esperando ouvir-lhe nalgum sonho da febre
burgueses, vivendo em uma casa confortável e inseridos no seu
murmurar um nome ou uma data; e amava-a mais desde que a
grupo de convivência. Jorge é funcionário do ministério, e Luísa
supunha infiel, mas de um outro amor, carnal e perverso. De-
preenche seus dias ociosos e entediantes lendo romances.
pois ia-se fechar no escritório, e movia-se ali entre as paredes
Tornou a espreguiçar-se. E saltando na ponta do pé des- estreitas, como um animal numa jaula. Releu a carta infinitas
calço, foi buscar ao aparador por detrás de uma compota um vezes, e a mesma curiosidade roedora, baixa, vil, torturava-o
livro um pouco enxovalhado, veio estender-se na voltaire, quase sem cessar: Como tinha sido? Onde era o Paraíso? Havia uma
deitada, e, com o gesto acariciador e amoroso dos dedos so- cama? Que vestido levava ela? O que lhe dizia? Que beijos dava?
bre a orelha, começou a ler toda interessada. Era a Dama das QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. São Paulo: Companhia das Letras,
Camélias. Lia muitos romances; tinha uma assinatura, na Bai- 2015. p. 428-429.
xa, ao mês. Em solteira, aos dezoito anos, entusiasmara-se por
Jorge, apesar de tudo, perdoa sua esposa, mas Luísa
Walter Scott e pela Escócia; desejara então viver num daqueles
castelos escoceses, que têm sobre as ogivas os brasões do clã, acaba morrendo. Basílio, já de volta a Lisboa, ao saber da
mobiliadas com arcas góticas e troféus de armas, forrados de morte da prima, só lamenta não ter trazido consigo sua aman-
largas tapeçarias, onde estão bordadas legendas heroicas, que te parisiense e segue sua vida de maneira inconsequente.
o vento do lago agita e faz viver [...]. Mas agora era o moderno O romance de Eça de Queirós causou escândalo na
que a cativava, Paris, as suas mobílias, as suas sentimentalidades. sociedade portuguesa e faz uma crítica à criação romântica
QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. São Paulo: Companhia das Letras, das mulheres. O primo Basílio tem uma evidente relação
2015. p. 29-30. com a obra Madame Bovarye chama a atenção para o fato
de as mulheres da época não receberem uma educação
voltaire: tipo de poltrona. que de fato as preparasse para vida adulta. O romance tam-
bém critica o casamento como meio de defender interesses
Jorge precisa fazer uma viagem para o Alentejo e deixa econômicos e sociais — Luísa e Basílio não são movidos por
Luísa sozinha, que se sente ainda mais entediada. A mono- amor, mas por desejo e frivolidade.
tonia cotidiana da moça é quebrada pela visita de Basílio, É interessante observar como Eça de Queirós cria seus
seu primo com quem tivera um namoro na adolescência. De personagens, os tipos sociais e o perfil psicológico que cons-
moral duvidosa e sedutor, Basílio se aproveita da ausência trói para cada um. Merecem destaque Sebastião e Juliana,
de Jorge para conquistar Luísa e torná-la sua amante. A que, mesmo sendo uma personagem secundária, concentra
sonhadora Luísa se deixa seduzir pelo primo, que não via autenticidade e vigor que falta aos personagens principais; ela
desde que ele se mudara para o Brasil. é considerada uma das criações mais expressivas de Queirós.
Luísa olhava-o. Achava-o mais varonil, mais trigueiro. No
A ilustre casa de Ramires
cabelo preto anelado havia alguns fios brancos; mas o bigode
pequeno tinha o antigo ar moço, orgulhoso e intrépido; os olhos, O romance A ilustre casa de Ramires pertence à última
quando ria, a mesma doçura amolecida, banhada num fluido. fase das obras de Eça de Queirós e foi publicado em 1897.
Reparou na ferradura de pérola da sua gravata de cetim preto, Ele conta a história de Gonçalo Mendes Ramires, o último
nas pequenininhas estrelas brancas bordadas nas suas meias descendente de uma família tradicional de Portugal. Seus an-
de seda. A Bahia não o vulgarizara. Voltava mais interessante! tepassados foram homens importantes que acompanharam de
QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. São Paulo: Companhia das Letras, perto o surgimento e o desenvolvimento da nação portuguesa.
2015. p.73. Como forma de suprir sua vontade de se lançar no
meio literário e ganhar projeção social, Gonçalo Mendes
trigueiro: da cor do trigo maduro; moreno. Ramires se propõe a escrever uma novela histórica tendo
como base a trajetória de sua nobre família; ele, porém, não
Os dois se tornam amantes, mas são descobertos se anima para realizar tal pesquisa e utiliza como inspiração
por Juliana, a criada de Luísa, que passa a chantagear o um antigo poema de seu tio D. Duarte que conta os feitos
casal. Juliana tem em seu poder algumas cartas trocadas de seu antepassado Tructesindo Mendes Ramires.
pelo casal e as utiliza para obrigar a patroa a lhe servir Gonçalo Mendes Ramires (como confessava esse severo
como empregada em sua própria casa. Juliana é vingativa genealogista, o morgado de Cidade) lhe era certamente o mais
e tirânica. Luísa adoece pouco a pouco com a situação, e genuíno e antigo Fidalgo de Portugal. Raras famílias, mesmo
Basílio foge para Paris. coevas, poderiam traçar a sua ascendência, por linha varonil e
Abandonada pelo amante, Luísa fica de cama e, com a sempre pura, até aos vagos Senhores que entre Douro e Minho
ajuda de Sebastião, amigo de Jorge, consegue recuperar mantinham castelo e terra murada quando os barões francos
as cartas que Juliana usava para chantageá-la. No entanto, desceram, com pendão e caldeira, na hoste do Borguinhão. E
uma dessas cartas chega ao conhecimento de Jorge, que os Ramires entroncavam limpidamente a sua casa, por linha
descobre a infidelidade da esposa. pura e sempre varonil, no filho do Conde Nuno Mendes, aquele
Augusto Malta/ACGRJ
Gonçalo Ramires é, na verdade, o representante da
decadência da aristocracia rural, um momento em que o
sistema de fidalguia perde cada vez mais força enquan-
to a burguesia enriquece e toma para si cargos políticos
que garantem sua perpetuação no poder. Por isso, além
de destaque no mundo das letras, Gonçalo Ramires de-
seja alcançar o poder político para recuperar o prestígio
social. Sua preocupação está na manutenção do poder,
da influência e do prestígio dos Ramires. Essa postura ir-
responsável — que busca apenas interesses próprios — na
política consiste em uma das críticas de Eça de Queirós.
A ambição de Gonçalo Ramires é tamanha que ele
é capaz de fazer um acordo perverso com seu antigo
desafeto, André Cavaleiro, um político desonesto que
havia ofendido sua irmã, Gracinha Ramires, na juventude. Imagem de cortiço no século XX. N
uu
Gonçalo Ramires mostra-se, então, contraditório: apesar -
4
de se ressentir com a ofensa feita à irmã, não hesita em As manifestações artísticas dos poetas e ficcionistas mt,
[4
To
se aliar a Cavaleiro por conveniência; a generosidade que românticos no Brasil, como a poesia social de Castro Alves,
destina aos pobres se confunde com sua personalidade o romance Senhora, de José de Alencar, a crítica anticlerical
autoritária e superior; ao mesmo tempo que o personagem de Bernardo Guimarães em O seminarista e o contradis-
tenta resgatar a glória da casa Ramires, julga-se impotente curso de Maria Firmina dos Reis em Úrsula, já apontavam
e incapaz. para a crise que tomava forma em nosso país.
175
De fato, a partir da extinção do tráfico, em 1850, acelerara-se
177
Machado de Assis publicou seu primeiro conto aos 19 Entre 1881 e 1893, três movimentos estéticos dis-
anos e, a partir daí, passou a colaborar com diversos jornais, tintos coexistiram na literatura brasileira: o Realismo, o
como Correio Mercantil, O Paraíba e o Diário do Rio de Naturalismo — que vamos estudar mais profundamente
Janeiro. Também se envolveu com a política, chegando a mais adiante — e o Parnasianismo. Dentro de cada um
se candidatar para o cargo de deputado, mas retirou sua desses movimentos, os autores criaram seus estilos indi-
candidatura. Em 1869, casou-se com Carolina Xavier de viduais, abraçando com maior ou menor ênfase algumas
Novais e, em 1873, foi nomeado para um cargo no Minis- de suas características típicas.
tério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Foi então O que muitos críticos e teóricos contemporâneos —
que ele alcançou estabilidade econômica e passou a se entre eles o professor doutor Gustavo Bernardo — vêm
dedicar ainda mais à escrita. Em 1897, tornou-se o primeiro discutindo é que Machado de Assis tem um estilo tão
presidente da recém-fundada Academia Brasileira de Le- singular que apenas o encaixar dentro do Realismo
tras, atuando de forma relevante na interlocução entre os não seria suficiente. No entanto, independentemente
intelectuais e o público-leitor. da posição do crítico, todos concordam com a genia-
lidade daquele que ficou conhecido como o Bruxo do
Augusto Malta/Biblioteca Nacional do Brasil, Rio de Janeiro
Discurso metaficcional
Fotografia do Morro do Livramento (Rio de Janeiro, RJ), de Augusto Malta
(1864-1957). Machado de Assis nasceu e passou a infância na área central
da cidade. Capítulo LXXI/O senão do livro
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me
9 Saiba mais canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns
magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai
Maria Leopoldina da Câmara Machado, a mãe de Machado
um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a
de Assis, nasceu no Açores, um arquipélago no oceano
sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás
Atlântico. O território faz parte de Portugal.
ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens
pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narra-
ção direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o
Estilo machadiano
meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda,
Tradicionalmente, Machado de Assis é estudado andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o
dentro do movimento estético do Realismo. Essa classi- céu, escorregam e caem...
ficação, no entanto, tem caráter didático. Isso porque a ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Disponível em:
obra de Machado de Assis foi produzida dentro desse https://machado.mec.gov.br/obra-completa-lista/item/download/16
ff646a924421ea897f27cf6d2 1e6bb23. Acesso em: 7 out. 2022.
período que entendemos como realista, mas devemos
ter em mente que a definição de um estilo de época, Uma das características mais marcantes da obra de
embora ajude a definir as principais características do Machado de Assis é o uso de estratégias metaficcionais,
conjunto de obras de um período, não serve para ca- como a frequência com que um narrador machadiano
tegorizá-las como algo estanque, ou seja, vedado, sem se dirige a um leitor, não apenas para informá-lo de
abertura para exceções. algo, mas também o questionando, sempre com vista a
Os personagens “A cartomante”
Devido à postura niilista adotada, Machado de Assis Um dos contos mais conhecidos de Machado de Assis é
criava personagens que evidenciavam sua falta de fé na “A cartomante”, que apresenta a história de quatro persona-
humanidade. Em sua maioria, os personagens masculinos gens: Vilela, Rita, Camilo e uma cartomante. Vilela e Camilo
demonstram baixa inteligência, falta de ambição e mediocri- são amigos de infância que se reencontram após alguns anos
dade. As personagens femininas são egoístas, dissimuladas de separação. Vilela está casado com Rita, que logo também a
uu
e vaidosas. Os personagens são salvos por seu status, em se torna íntima de Camilo; ambos acabam se apaixonando [=
4
uma crítica à sociedade que valoriza quem possui dinheiro e se tornando amantes. Camilo passa a receber cartas anôni- uu
x
u.
e poder em detrimento da essência do ser. mas que reprovavam seu comportamento imoral e garantiam
Seus personagens retratam essa dualidade entre a que o caso amoroso era de conhecimento de todos. Por
essência e a aparência, a sanidade e a loucura, além da medo, ele se distancia de Rita, que, sofrendo por essa indife-
relatividade do caráter e da moral humana, a falsidade das rença, consulta uma cartomante. A cartomante, prontamente,
convenções sociais, a irracionalidade e a crueldade. Em tranquiliza Rita com suas adivinhações.
179
Camilo ainda recebe outras cartas, e, por precaução, os O tema do conto é o adultério, que, como já estuda-
amantes se afastam, mas combinam meios de se comunicar. mos, é bastante explorado por autores do Realismo, por
Vilela, pouco tempo depois, começou a ficar sombrio e des- ser o ponto fraco do casamento, instituição que serve de
confiado. Rita logo comunicou isso ao amante, e decidiram base para a burguesia. No conto de Machado, porém,
continuar distantes até que se descobrisse a causa da mudança cabe observar como o narrador apresenta e analisa cada
de Vilela, mas, no dia seguinte, ele envia um bilhete para Camilo. personagem, conseguindo, em uma narrativa curta, propor
diferentes perspectivas daquilo que está narrando. Tanto
No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo
este bilhete de Vilela: “Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te Rita quanto Camilo são apresentados de forma negativa,
sem demora.” Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, já que, passadas as primeiras inseguranças do caso amo-
advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por roso, convivem normalmente com Vilela, sem nenhum tipo
que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse de pudor. Já o marido enganado permanece sempre o
realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou mesmo, o fiel amigo e esposo. Esse contraste acentua a
todas essas cousas com a notícia da véspera. gravidade da traição.
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. A cartomante. /n: ASSIS, Joaquim Maria
Machado de. Várias histórias. Disponível em: http:/Avww.dominiopublico. Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita,
gov.br/download/texto/bv000256.pdf. Acesso em: 12 nov. 2022. como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo,
fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno
A caminho de seu encontro com Vilela, Camilo passa em
na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos,
frente à casa da cartomante e, apesar de ser cético e de ter
remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi
achado graça de Rita por acreditar no que ele considera uma curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que
superstição, sente-se tentado a entrar e consultar seu próprio fu- o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora,
turo,
já que está receoso pelo encontro com o amigo de infância. braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas a pedre-
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor gulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando
tem um grande susto... estavam ausentes um do outro. A confiança e a estima de Vilela
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo. continuavam a ser as mesmas.
— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma ASSIS, Joaquim Maria Machado de. A cartomante. In: ASSIS, Joaquim Maria
Machado de. Várias histórias. Disponível em: http:/Avww.dominiopublico.
cousa ou não... gov.br/download/texto/bv000256.pdf. Acesso em: 1º nov. 2022.
— À mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu: disse-lhe só que esperasse. Rá- Somente com a chegada das cartas anônimas Camilo
pido pegou outra vez das cartas e baralhou-as, com os longos passa a sentir medo e pensa em fugir. Rita, porém, segue
dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs inconsequente. O narrador inicia um processo cuidadoso
os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. de análise psicológica; o efeito de suspense é intensifica-
Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso. do com o recebimento do bilhete de Vilela por Camilo e
— As cartas dizem-me... os acontecimentos que se desenrolam no caminho deste
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. até a casa do amigo. O narrador machadiano envolve o
Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada leitor nessa narrativa, guiando-o até o final, considerado,
aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava por muitos, inesperado.
tudo. Não obstante, era indispensável muita cautela: ferviam
invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza “Uns braços”
de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou,
Machado de Assis apresenta no conto “Uns braços”
recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
a história do jovem Inácio, um rapaz de 15 anos que foi
— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele esten-
enviado pelo pai para viver como aprendiz de procurador
dendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.
judiciário. Confiado ao solicitador Borges e afastado da fa-
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. A cartomante. In: ASSIS, Joaquim Maria
Machado de. Várias histórias. Disponível em: http://www.dominiopublico. mília — sua mãe, seu pai e suas irmãs —, Inácio passou a
gov.br/download/texto/bv000256.pdf. Acesso em: 1º nov. 2022. morar nos fundos da casa do agora patrão. O rapaz se apai-
Nesse conto, estão presentes algumas características xona por D. Severina, personagem que vive como esposa
que destacam a obra de Machado de Assis. Em primei- de Borges. Essa paixão torna o rapaz bastante distraído, o
ro lugar, a quebra de linearidade: o conto já inicia com a que faz que seu patrão o repreenda grosseiramente.
conversa dos amantes sobre a visita de Rita à cartomante. Inácio estremeceu, ouvindo os gritos do solicitador, re-
Nesse momento, ainda não sabemos quem eles são, ape- cebeu o prato que este lhe apresentava e tratou de comer,
nas é possível perceber que são um casal apaixonado e debaixo de uma trovoada de nomes, malandro, cabeça de
com muita intimidade, mas é somente após o fim desse vento, estúpido, maluco.
diálogo que o narrador volta no tempo e nos explica como — Onde anda que nunca ouve o que lhe digo? Hei de
Rita e Camilo chegaram àquele ponto. Também podemos contar tudo a seu pai, para que lhe sacuda a preguiça do corpo
observar o uso de estratégias metaficcionais pelo narrador com uma boa vara de marmelo, ou um pau; sim, ainda pode
com o propósito de conduzir o leitor a desbravar a narrativa: apanhar, não pense que não. Estúpido! maluco!
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Uns braços. In: ASSIS, Joaquim Maria
“Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura e nenhuma Machado de. Várias histórias. Disponível em: http://www.dominiopublico.
explicação das origens. Vamos a ela”. gov.br/download/texto/bv000256.pdf. Acesso em: 1º nov. 2022.
zada nas obras Contos fluminenses (1869), Histórias da Neste jantar, a que meus amigos deram o nome de ban-
meia-noite (1873), Papéis avulsos (1882), Histórias sem quete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas,
data (1884), Várias histórias (1896), Páginas recolhidas conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo),
(1899) e Relíquias de casa velha (1906). no intuito de lhe dar um aspecto simbólico.
181
[...] podiam roubar sem pecado. Pancrácio, que estava à Memórias póstumas de Brás Cubas
espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio abraçar-me
Ao verme que primeiro roeu as frias carnes
os pés. Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobri-
do meu cadáver dedico como saudosa lembrança
nho), pegou de outra taça, e pediu à ilustre assembleia que
estas memórias póstumas
correspondesse ao ato que acabava de publicar, brindando ao
primeiro dos cariocas. Ao leitor
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Bons dias! Disponível em:
Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros
http:/Avww.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv0001 67.pdf.
Acesso em: 6 maio 2022. para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não
admira, nem provavelmente consternará, é se este outro livro
Nesse trecho, podemos observar que o narrador-cronista não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte,
faz parte da elite escravagista, mas quer passar a imagem de e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade,
homem moderno, dando a liberdade a um rapaz de nome de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma
Pancrácio. A fim de chamar a atenção para seu ato — dar livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe
liberdade ao rapaz antes mesmo da obrigatoriedade da lei —, meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado.
o narrador oferece um jantar cujo objetivo parece ser antes Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não
propagandear sua atitude do que celebrar a liberdade de é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a
Pancrácio, que sequer participa da comemoração. Em outro gente grave achará no livro umas aparências de puro romance,
trecho, o leitor pode concluir pelo diálogo entre narrador e ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance
Pancrácio que pouca coisa muda depois da alforria. usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos
frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião. Mas eu
No dia seguinte, chamei o Pancrácio e disse-lhe com rara ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro
franqueza: remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor pró-
— Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa ami- logo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito
ga, já conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que... obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo
— Oh! meu senhô! fico. extraordinário que empreguei na composição destas Memórias,
— Um ordenado pequeno, mas que há de crescer. Tudo trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente
cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nas- extenso, aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra
ceste, eras um pirralho deste tamanho; hoje estás mais alto que em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa;
eu. Deixa ver; olha, és mais alto quatro dedos... se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.
— Artura não qué dizê nada, não, senhô... Brás Cubas
— Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis: mas é de ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.
São Paulo: Ateliê Editorial, 20017. p. 67.
grão em grão que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito
mais que uma galinha.
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Bons dias! Disponível em: nimiamente: grandemente.
http://machado.mec.gov.br/obra-completa-lista/item/
download/47 943b588353799b28d3220f4cde0f051.
Acesso em: 6 maio 2022. Assim começa um dos romances mais celebrados da
literatura brasileira. Uma obra bastante estranha, se conside-
Machado de Assis evidencia a hipocrisia da atitude
desse narrador escravagista, apegado à sua posição de rarmos que o narrador diz estar morto. Um narrador defunto
superioridade, que apenas finge estar alinhado com o pen- conta as memórias de sua vida. Brás Cubas é membro de
samento iluminista e a causa abolicionista. Uma vez tendo
uma família rica, o único filho homem. Na adolescência, se
dado a liberdade a Pancrácio, garante meios de manter o apaixona por Marcela, uma cortesã interessada apenas em
status quo, recorrendo à violência (verbal, psicológica e física) explorá-lo financeiramente. Ao tomar conhecimento do caso,
como meio de rebaixamento do negro. A crítica machadiana seu pai decide enviá-lo a Portugal com o intuito de fazê-lo
atinge um ponto importante, já que a abolição não deu fim a estudar Direito na Universidade de Coimbra.
todas as atrocidades cometidas por esse sistema colonial e -.. Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos
escravagista que imperou em nosso país por séculos. de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze
Também vale destacar que o autor criava narradores- contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as
-cronistas que, por vezes, ocupavam lugares que eram alvo raias de um capricho juvenil.
de crítica do próprio Machado de Assis. — Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma
universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem
[...] o acionamento de perfis identitários diversos para sério e não para arruador e gatuno.
a posição do narrador — algumas vezes em oposição clara — ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.
atende a uma demanda estética, já que parece mimetizar o São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. p. 101-102.
comportamento de certos tipos sociais da época, colocando-os
Depois de formado, Brás Cubas retorna ao Brasil, e seu
em situações burlescas, para melhor evidenciar seus vícios.
pai se apressa em arranjar uma candidatura e uma noiva
SOARES, Ivanete Bernardino. O ethos narrativo em Bons dias!,
de Machado de Assis. Machado Assis linha, v. 5, n. 10, para o filho. Mas a eleita, Virgília, o troca por Lobo Neves —
dez. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/mael/a/ que também consegue a candidatura de Brás Cubas — com
WLyTYFTbkv5ZIv)KFZ34hMB/ lang=pt. Acesso em: 18 out. 2022.
a intenção de receber um título de nobreza. Mais tarde,
Esses tipos sociais não são comuns nas crônicas, mas Brás Cubas e Virgília se reencontram e tornam-se amantes.
sim uma característica peculiar das crônicas machadianas. Com a ajuda de D. Plácida, o caso dos dois se prolonga
seguida, narra seu nascimento, sua infância e sua juventu- em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há
de. Como podemos perceber na leitura do trecho que inicia um ano? Professor. Que é agora? Capitalista! Olha para si, para
esta aula, trata-se de um narrador que comenta sua própria as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo,
obra e dialoga com o leitor. Além disso, alude a autores e Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para
183
os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo O recebimento dessa herança muda a vida do então
entra na mesma sensação de propriedade. — Vejam como Deus professor Rubião, que sai de Barbacena rumo ao Rio de
escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem Janeiro com o intuito de usufruir da herança. No trem, ele
casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança conhece o casal Sofia e Cristiano Palha e, em sua inocên-
colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; cia, conta sobre a herança, sem imaginar que o casal viria
de modo que o que parecia uma desgraça... a tirar proveito dele. Chegando ao Rio de Janeiro, Sofia e
ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Rio de Janeiro: Cristiano travam uma amizade com Rubião e passam a se
Antofágica, 2021. p. 19.
encontrar com frequência.
Rubião passa a demonstrar interesse por Sofia, que
Acervo da Biblioteca Nacional do Brasil, Rio de Janeiro
185
O trecho que abre esta aula também inicia o romance Portugal —, atuaram em diversas atividades educacionais
experimental 4 falência, de Júlia Lopes de Almeida. Logo nas em sua terra natal. Quando imigraram para o Brasil, no
primeiras linhas da obra, somos transportados para o Rio de final da década de 1850, deram continuidade a suas
Janeiro da década de 1890, em um dia de calor escaldante e atividades educacionais fundando um colégio e, depois,
intensa movimentação na rua São Bento. Na ação, acompa- um internato feminino.
nhamos o transporte do café que precisa chegar às docas e Júlia Lopes de Almeida foi criada em uma família com
ser embarcado em grandes navios responsáveis por levar o forte projeto de desenvolvimento intelectual. Seus pais e
grão mundo afora — o precioso grão de café que enriqueceu, sua irmã, Adelina Lopes Vieira, cuidaram de sua alfabe-
mas também levou à falência muitas famílias. tização, mas também Júlia teve professores particulares.
A família mudou-se do Rio de Janeiro para Campinas, no
ga
a
A
o
interior de São Paulo, em 1867, logo após o retorno do pai
8o de Júlia Lopes de Almeida da Alemanha, onde se dedicou
>
e a estudar Medicina.
2
Y
ê Em Campinas, o pai de Júlia fundou um hospital, ga-
nhando prestígio e reconhecimento da sociedade local.
êN
e
Nesse período, a cidade estava crescendo rapidamente,
éõ devido ao sucesso do comércio cafeeiro. A família Lopes
e
g
2 de Almeida teve, portanto, contato com as famílias mais
o
E]o3 ricas e intelectuais da região.
2
o
o
A estreia de Almeida como escritora aconteceu aos
33
Éo
19 anos de idade, em dezembro de 1881, com a publi-
z
e5
cação de um texto na Gazeta de Campinas. A publicação
contou com o apoio e o incentivo de seu pai, apesar de
no século XIX a carreira de escritora ser malvista para
mulheres. Esse pensamento não a impediu de ser uma
Embarque de café para a Europa, de Gilberto Ferrez, fotografia, 18 cm X 24 cm,
contribuinte recorrente nos jornais, publicando pelo menos
Instituto Moreira Salles.
dois textos por mês. Em 1884, Júlia Lopes de Almeidajá es-
crevia artigos mais elaborados e estreou sua própria coluna,
Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles
187
Francisco Teodoro chega ao Brasil ainda criança, e sua Cada homem é criado para um fim. O dele tinha sido o
família fixa residência no Rio de Janeiro, onde ele cresce e de ganhar dinheiro; ganhara-o, cumprira o seu destino. Não
faz sua fortuna. É um homem extremamente preocupado podendo recomeçar, inutilizado para a ação, devia acabar de
em acumular riqueza e manter sua posição social, sempre uma vez. Toda a energia da sua vida se concentraria num movi-
negligenciando as relações pessoais e o afeto. E pensando mento único e decisivo. [...] Pouco a pouco a casa adormecia,
em sua posição social que decide se casar com o intuito até que se encheu toda do pesado silêncio do sono. À uma
de perpetuar seu nome e alcançar mais um título: o de
hora Francisco Teodoro levantou-se muito pálido, persignou-
-se e rezou, ali mesmo, entre o lampejar das molduras e o ar
chefe de família.
atrevido do cavalheiro de bronze. Finda a oração, caminhou
Para que lhe serviria o que juntara, se o não comparti- resolutamente para a sua secretária. A bulha dos seus passos
lhasse com uma esposa dedicada e meia dúzia de filhos que firmes abafou um sussurro leve de saias que deslizavam pela
lhe herdassem virtudes e haveres? No seu sonho começou a escada abaixo. Francisco Teodoro tirou da gaveta o seu revól-
esboçar-se a ideia de um herdeiro. Teria um rapaz, que usasse ver, olhou-o um instante e encostava-o no ouvido quando a
o seu nome, seguisse as suas tradições e fosse, sobretudo, um mulher apareceu na porta, muda de terror, estendendo-lhe as
continuador daquela casa da rua de S. Bento, que engrande- mãos. Ele cerrou logo os olhos à tentação da vida e apressou
ceria com o seu prestígio, a sua mocidade, bem assente no o tiro. E toda a casa acordou aos gritos de Camila que, com
apoio e na experiência paterna. O filho seria a sua estátua os braços no ar, clamava por socorro.
viva, nele reviveria, mais perfeito e melhor. Esse ao menos ALMEIDA, Júlia Lopes de. A falência. São Paulo:
teria infância, seria instruído. E tanto aquela ideia o perseguia, Companhia das Letras, 2019. p. 287-288.
que num domingo de sol abriu-se ao Matos, que acolheu com A narrativa, então, toma outro rumo. Apenas Mário, que
ar solene e discreto as confidências do amigo. Lembrava-se já havia se casado com uma jovem rica, consegue se salvar
muito bem da cara com que o outro lhe respondera: — Sei o da falência. Todas as mulheres da casa Teodoro são aban-
que você quer. Tivemos aqui na vizinhança uma família que donadas na miséria e precisam se mudar para uma casa
está mesmo ao pintar... Gente pobre, mas de educação. A humilde. Camila ainda acredita que um casamento com seu
filha mais velha é a que lhe convém. Bonita e grave. Muito
amante, Dr. Gervásio, pode salvá-la da ruína e, ao mesmo
digna. Francisco Teodoro murmurou: — Pois uma mulher
tempo, dar a ela a oportunidade de se unir a um homem
assim é que me servia.
por amor. Mas a personagem sofre uma grande decepção,
ALMEIDA, Júlia Lopes de. A falência. São Paulo:
Companhia das Letras, 2019. p. 38. pois descobre que seu amante é casado.
Sua escolhida é Camila, que conhece por meio de um Gervásio, pondo-lhe as mãos nos ombros, fê-la sentar-se
amigo. Trata-se de uma moça bem-educada e bonita, mas outra vez, com brandura.
de origem pobre, razão pela qual ela vê no casamento uma — Para quê? perguntou-lhe ela, quase chorando.
forma de ascensão social. Não há laços afetivos entre o — Para te dizer tudo: eu sou casado.
Camila abafou um grito, tapando a boca com a mão. Ele
casal; o casamento é, desde o início, uma transação social
dissera aquilo num desabafo, na ânsia do golpe inevitável,
e econômica. Desse matrimônio sem amor nascem quatro
com uma voz cortante como a de um machado lanhando um
filhos: Mario, Ruth e as gêmeas Lia e Rachel. A família vive
tronco verde. Roto o segredo, apiedou-se logo e falou com
em um palacete em Botafogo, bairro nobre da cidade do Rio
humildade, muito chegado a ela. Também pensara nisso, ela,
de Janeiro. Completam o núcleo Nina, sobrinha de Camila, também a quereria fazer sua aos olhos de toda a gente, mas
e Noca, uma mulata que trabalha como empregada da casa. estava preso a outra mulher, até que a morte...
Como em outras obras do Realismo, logo se percebe — A morte! suspirou Camila.
que a tranquilidade e a harmonia da família não passam E ele continuou, muito comovido:
de fachada. Olhando mais de perto, compreendemos que — Viste-a uma vez, lembras-te? Era aquela mulher de luto
a família é bastante disfuncional. Francisco Teodoro não que encontramos na volta do Netuno. Achaste-a bonita... per-
assume nenhuma responsabilidade dentro de seu lar, ape- cebeste a nossa impressão e tiveste ciúmes... Eu não queria que
nas cumpre seu papel de provedor material, sem ligações soubesse... mas agora a explicação deve ser completa, dir-te-ei
afetivas com sua esposa e seus filhos. Mário, o filho mais toda a verdade. Meu pobre amor, perdoa-me... Gervásio segu-
velho, é um jovem irresponsável, com atitudes inconse- rou nas mãos de Camila; ela retirou-as devagar e fixou-o com
quentes, que esbanja a fortuna do pai com prostitutas; um olhar de tão clara interrogação, que ele continuou mais
Ruth se dedica quase exclusivamente às artes, vivendo baixo, mastigando as palavras:
desconectada da realidade; Camila tem uma vida social — Sim. Amei-a muito! Casei-me por amor; mas no dia em
marcada por festas e, diante da indiferença do marido, que percebi que ela me enganava, deixei-a... Morávamos no
acaba cedendo às investidas de Dr. Gervásio, que se torna Rio Grande, ela ficou lá com a mãe, eu voltei para aqui.
seu amante. Quis divorciar-me... Ela opôs-se; opõe-se ainda; quer ter-me
O ponto de virada desse romance se dá quando Francisco acorrentado como um cão: consegue-o. É tudo. Era tudo. Camila
percebeu o melindre do segredo, mantido para evitar-lhe uma
Teodoro perde sua fortuna em um mal negócio. Esse homem,
ofensa. A razão iluminava-se-lhe; Ela não podia ser aos olhos
que construiu uma vida baseada no trabalho e no acúmulo
daquele homem nem melhor nem mais digna do que a outra que
de riqueza, encontra-se velho demais para recomeçar sua
ele desprezara; a mesma culpa as nivelava, e se ele não encon-
vida. Sem enxergar sentido no conforto familiar e sem poder
trara perdão para a esposa, como encontraria respeito para ela?
cumprir com seu papel de provedor material, decide dar
ALMEIDA, Júlia Lopes de. A falência. São Paulo:
cabo da própria vida por não aguentar a sua situação. Companhia das Letras, 2019. p. 319-320.
189
O Naturalismo, porém, tem um olhar mais voltado para as ciências e revela
Coleção particular
a aproximação da elite intelectual ao conceito de livre-pensamento. Os persona-
gens que encontramos nos romances-teses estão submetidos às leis naturais e
científicas. No trecho que abre esta aula, é possível perceber o viés determinista
e a crença de que o sujeito é condicionado pela hereditariedade e influencia-
do pelo meio em que vive e o momento em que as ações se desenrolam. Na
descrição do personagem João Romão, podemos observar a ligação entre sua
loucura e desespero de acumular riqueza e as características físicas: baixote,
socado, cabelos à escovinha. Sua fixação por dinheiro é associada, portanto, até
a seus traços físicos.
No Brasil, a segunda metade do século XIX foi um período marcado por
transformações sociais, eventos históricos e políticos. Como vimos anterior-
mente, o tráfico negreiro foi encerrado, ou seja, a escravidão foi gradualmente
proibida no país, de modo que houve o aumento da imigração europeia e o
aumento da exportação do café. Com certo atraso, consequentemente, o Brasil
iniciou seu processo de industrialização. Em 1889, aconteceu a Proclamação da
República. O marechal Deodoro da Fonseca tornou-se o primeiro presidente de
nosso país. Todos esses acontecimentos influenciaram os naturalistas por aqui
e motivaram sua escrita. Além disso, os pensamentos de Karl Marx, Friedrich
Engels, Charles Darwin, Auguste Comte e Hippolyte Taine também impactaram A mendiga, de Almeida Júnior, 1899, óleo sobre
a literatura da época, tanto na Europa como no Brasil. tela, 144 cm X 88 cm, coleção particular.
Karl Marx (1818-1883): filósofo alemão que desenvolveu uma teoria cujo núcleo é o trabalho; por meio dele se modifica
a relação entre o ser humano e a natureza. Essa teoria explica a história humana como uma luta de classes e prevê que o
capitalismo chegará ao fim devido a seus contrastes internos, que levariam a uma revolução — e, por conseguinte, à ascensão
ao poder — do proletariado.
Friedrich Engels (1820-1895): o revolucionário, nascido na Prússia — atual território da Alemanha —, foi parceiro de Karl Marx
e o ajudou a desenvolver e divulgar o marxismo. Ele denunciou a precariedade da vida dos operários no sistema capitalista.
Auguste Comte (1798-1857): pensador francês considerado o criador da Sociologia e do Positivismo, uma doutrina que
engloba Filosofia, Sociologia e Política e defende que o conhecimento científico é a única forma verdadeira de conhecimento,
ou seja, uma teoria só é verdadeira se comprovada por métodos científicos.
Hippolyte Taine (1828-1893): historiador francês, seguidor da doutrina positivista. Taine desenvolveu uma teoria que defende
que o comportamento humano é regido por três fatores: a raça (hereditariedade), o meio ambiente e o momento histórico.
E 1)
A zoomorfização é um recurso importante para compreender o Naturalismo, pois consiste na animalização dos persona-
gens. O intuito dessa estratégia era atribuir características de animais aos humanos para evidenciar o lado mais instintivo e
irracional do sujeito.
ANN Ness
dores cariocas, no final do século XIX. O espaço onde o
enredo se desenrola é, principalmente, um cortiço no su-
búrbio do Rio de Janeiro, que pertence a João Romão, um
português ávido por dinheiro — tão ávido que está disposto
a conquistá-lo mesmo que seja de forma ilícita.
Ele adquire uma fortuna se aproveitando de Bertoleza,
uma escravizada fugida que conseguiu juntar dinheiro
com a renda de sua quitanda; suas economias foram con-
quistadas com dificuldade e deveriam ser empregadas
na compra de sua carta de alforria, mas ela é enganada
por João Romão, que arranja uma carta falsa e se apossa
dessas economias para construir um pequeno negócio.
Ele também se apropria de um terreno, rouba material
de construção, constrói algumas casas de aluguel, uma
pedreira e, por fim, prospera rapidamente.
191
Nada lhes escapava, nem mesmo as escadas dos pedreiros, O dia passou-se inteiro na computação dos prejuízos e
os cavalos de pau, o banco ou a ferramenta dos marceneiros. a dar-se balanço no que se salvara do incêndio. Sentia-se um
E o fato é que aquelas três casinhas, tão engenhosamente fartum aborrecido de estorrilho e cinza molhada. Um duro
construídas, foram o ponto de partida do grande cortiço de silêncio de desconsolo embrutecia aquela pobre gente. Vultos
São Romão. sombrios, de mãos cruzadas atrás, permaneciam horas esqueci-
Hoje quatro braças de terra, amanhã seis, depois mais das, a olhar imóveis os esqueletos carbonizados e ainda úmidos
outras, ia o vendeiro conquistando todo o terreno que se das casinhas queimadas. [...]
estendia pelos fundos da sua bodega; e, à proporção que O Miranda apresentou-se na estalagem logo pela manhã,
o conquistava, reproduziam-se os quartos e o número o ar compungido, porém superior. Deu um ligeiro abraço em
de moradores. João Romão, falou-lhe em voz baixa, lamentando aquela ca-
Sempre em mangas de camisa, sem domingo nem dia tástrofe, mas felicitou-o porque tudo estava no seguro.
santo, não perdendo nunca a ocasião de assenhorear-se do O vendeiro, com efeito, impressionado com a primeira
alheio, deixando de pagar todas as vezes que podia e nunca tentativa de incêndio, tratara de segurar todas as suas proprie-
deixando de receber, enganando os fregueses, roubando nos dades; e, com tamanha inspiração o fez que, agora, em vez de
pesos e nas medidas, comprando por dez réis de mel coado o lhe trazer o fogo prejuízo, até lhe deixaria lucros.
que os escravos furtavam da casa dos seus senhores, apertando — Ah, ah, meu caro! Cautela e caldo de galinha nunca
cada vez mais as próprias despesas, empilhando privações fizeram mal a doente!... segredou o dono do cortiço, a rir.
sobre privações, trabalhando e mais a amiga como uma junta Olhe, aqueles é que com certeza não gostaram da brincadeira!
de bois, João Romão veio afinal a comprar uma boa parte da acrescentou, apontando para o lado em que maior era o grupo
bela pedreira, que ele, todos os dias, ao cair da tarde, assentado dos infelizes que tomavam conta dos restos de seus tarecos
um instante à porta da venda, contemplava de longe com um atirados em montão.
resignado olhar de cobiça. — Ah, mas esses, que diabo! nada têm que perder!... con-
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Disponível em: siderou o outro.
http://www. dominiopublico.gov.br/download/texto/bv00001 5. pdf. E os dois vizinhos foram até o fim do pátio, conversando
Acesso em: 1º nov. 2022
em voz baixa.
A prosperidade de João Romão causa muito incômo- — Vou reedificar tudo isto! declarou João Romão, com
do em seu vizinho, Miranda, que também é português, um gesto enérgico que abrangia toda aquela Babilônia des-
mas menos rico. Miranda vive um casamento de fechada mantelada.
com Estela e tem uma filha chamada Zulmira. Em sua casa, E expôs o seu projeto: tencionava alargar a estalagem, en-
vivem, além dos escravizados, Botelho, um ex-empregado, trando um pouco pelo capinzal. Levantaria do lado esquerdo,
e Henrique, um estudante de Medicina que se torna amante encostado ao muro do Miranda, um novo correr de casinhas,
de Estela. aproveitando assim parte do pátio, que não precisava ser tão
grande; sobre as outras levantaria um segundo andar, com uma
O Miranda rebentava de raiva. longa varanda na frente toda gradeada. Negociozinho para ter
— Um cortiço! exclamava ele, possesso. Um cortiço!
ali, a dar dinheiro, em vez de uma centena de cômodos, nada
Maldito seja aquele vendeiro de todos os diabos! Fazer- menos de quatrocentos a quinhentos, de doze a vinte e cinco
-me um cortiço debaixo das janelas!... Estragou-me a casa, mil-réis cada um!
o malvado! AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Disponível em:
E vomitava pragas, jurando que havia de vingar-se, e pro- http:/Awww.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv00001 5.pdf.
testando aos berros contra o pó que lhe invadia em ondas as Acesso em: 1º nov. 2022.
salas, e contra o infernal baralho dos pedreiros e carpinteiros Depois da reconstrução do cortiço, João Romão decide
que levavam a martelar de sol a sol. investir em si mesmo, melhorando sua aparência e seu nível
O que aliás não impediu que as casinhas continuassem cultural. Ele passa, então, a desejar estreitar os laços com
a surgir, uma após outra, e fossem logo se enchendo, a Miranda, que é notoriamente mais refinado que ele. Seu
estenderem-se unidas por ali a fora, desde a venda até quase intuito é casar-se com uma mulher fina e educada. Para
ao morro, e depois dobrassem para o lado do Miranda e
isso, passa a cortejar Zulmira, tornando-se um grande ami-
avançassem sobre o quintal deste, que parecia ameaçado por
go de Miranda e concretizando a negociação matrimonial.
aquela serpente de pedra e cal.
Antes, ele se livra de Bertoleza, sua amante, denunciando-a
O Miranda mandou logo levantar o muro.
para seus antigos donos. Desiludida, ao descobrir a traição
Nada! aquele demônio era capaz de invadir-lhe a casa
do português, a escravizada se suicida. Por ironia, pouco
até a sala de visitas!
depois desses acontecimentos, João Romão recebe um
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Disponível em:
http://Awww.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv00001 5. pdf. diploma de sócio da Comissão Abolicionista.
Acesso em: 12 nov. 2022.
A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe,
Com o tempo, um novo cortiço se forma nas proximi- com uma das mãos espalmada no chão e com a outra seguran-
dades da estalagem São Romão. Ao perceber o risco da do a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.
concorrência, João Romão se enfurece e dá início a uma Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembai-
rivalidade entre as duas habitações coletivas, o que logo nharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto
contamina seus moradores, culminando em uma morte de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém con-
e em um incêndio que obriga João Romão a reconstruir seguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara
seu cortiço. o ventre de lado a lado.
193
escancara-se ao leitor a presença do darwinismo, pois as Por fim, Sérgio trava uma amizade com Egbert. O
relações nesse ambiente escolar retratado pelo narrador relacionamento dos dois é mais idílico, leem juntos his-
são pautadas na tese da seleção dos mais fortes. tórias de amor e brincam ao ar livre, até que Sérgio se
A submissão a que os mais novos e mais fracos são apaixona por D. Ema, e a amizade entre os meninos se
submetidos vai das tarefas escolares, que eles são obri- mostra insustentável.
gados a fazer para seus protetores, a ações que sugerem, O menino Sérgio encara a vida dentro do colégio
sempre de maneira implícita, um caminho de vazão a pul- de formas distintas: às vezes depressivo, às vezes en-
sões sexuais dos adolescentes matriculados no colégio. tregando-se à religiosidade, às vezes se rebelando. Por
Sérgio desenvolve alguns laços no decorrer da jornada fim, fica doente e recebe os cuidados e a proteção de
escolar que rememora durante a narrativa: o primeiro é Ema, a mulher de Aristarco, o diretor do Ateneu. Sérgio,
Sanches, uma espécie de tutor que o ajudava com a ma- como outros meninos do colégio, apaixona-se por Ema,
téria. O rapaz era extremamente afetuoso com Sérgio, mas que é vista pelos estudantes de forma deturpada: meio
suas demonstrações aconteciam sempre em lugares ermos, mãe, meio namorada.
escuros. Próximo aos adultos, ele disfarçava sua afeição. Foi
Surpreendendo-nos com esta frase, untuosamente
descartado após uma proposta que o narrador não revela
escoada por um sorriso, chegou a senhora do diretor,
aos leitores, mas que recebeu com aversão.
D. Ema. Bela mulher em plena prosperidade dos trinta anos
Uma vez, ao escurecer, passeando eu calado, com de Balzac, formas alongadas por graciosa magreza, erigin-
o Sanches igualmente, vendo escapar o dia para além das do, porém, o tronco sobre quadris amplos, fortes como a
montanhas, percebi que o meu companheiro balbuciava uma maternidade; olhos negros, pupilas retintas, de uma cor
pergunta. Falou desatento, admirando o crepúsculo com a só, que pareciam encher o talho folgado das pálpebras;
testa franzida, na meia abstração que era o seu ricto costu- de um moreno rosa que algumas formosuras possuem, e
meiro. Estávamos a um rodeio da avenida que circundava o que seria também a cor do jambo, se jambo fosse rigoro-
gramal, oposto à cancela onde conversavam os inspetores. Os samente o fruto proibido. Adiantava-se por movimentos
colegas jogavam barra através da grama, ou se divertiam ao oscilados, cadência de minueto harmonioso e mole que o
saut-de-mouton em pontos afastados. Como não apreendi a corpo alternava. Vestia cetim preto justo sobre as formas,
pergunta, o Sanches repetiu. Escapou-me involuntário o riso... reluzente como pano molhado; e o cetim vivia com ou-
Abarbava-me a mais rara espécie de pretendente! Eu ria com sada transparência a vida oculta da carne. Esta aparição
franqueza, mas abismado. Era de uma extravagância original maravilhou-me.
aquele Sanches! Hoje, ele é engenheiro em uma estrada de POMPEIA, Raul. O Ateneu. Disponível em:
http:/www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000297.pdf.
ferro do sul, um grave engenheiro... Acesso em: 12 nov. 2022.
Vendo que não nos podíamos entender, meteu entre nós
o esplendor da tarde, e resolvemos o embaraço concordando O Ateneu, ao contrário das obras realistas e naturalis-
ambos num parecer unânime a respeito. tas, não busca representar objetivamente uma realidade.
POMPEIA, Raul. O Ateneu. Disponível em: Por se tratar de uma rememoração, é impossível ser fiel aos
http:/Awww.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000297.pdf.
Acesso em: 12 nov. 2022. eventos, assumindo traços impressionistas. A escola e as
relações entre alunos, professores e funcionários dentro
Bento Alves, por sua vez, desenvolve uma profun- daquele ambiente são vistos e expostos da perspectiva
da afeição por Sérgio. Ele também exerce influência na pessoal, ou seja, das impressões de Sérgio.
formação do rapaz, indicando leituras para esse narrador- Também é uma obra com traços expressionistas,
-personagem. Bento chega a frequentar a casa de Sérgio em que se observam o exagero e a caricaturização da
nas férias e conquista o afeto da família dele. No entanto, realidade, de traços psicológicos e físicos dos perso-
tudo acaba com um acesso de fúria por parte de Bento, que nagens, além da distorção da percepção da realidade,
espanca Sérgio e dias depois sai do colégio. que a torna grotesca.
Na biblioteca, Bento Alves escolhia-me as obras: imaginava as Mas o romance apresenta também características tí-
que me podiam interessar; e propunha a compra, ou as comprava picas do Naturalismo, principalmente ligadas à corrupção
e oferecia ao Grêmio, para dispensar-se de mas dar diretamente. pelo meio, à luxúria e às pulsões sexuais. O determinismo
No recreio não andávamos juntos; mas eu via de longe o amigo, do meio e dos instintos na transformação do protagonista
atento, seguindo-me o seu olhar como um cão de guarda. é bastante evidente. Além disso, o livro faz uma forte crítica
Soube depois que ameaçava torcer o pescoço a quem pen- social, atacando o sistema educacional vigente na época.
sasse apenas em me ofender; seu irmão adotivo! confirmava. Consequentemente, a obra critica a própria sociedade, que
Eu, que desde muito assumira entre os colegas um belo ar acredita na fachada moralista e ordeira dos pais que entre-
de impávida altania, modificava-me com o amigo, e me sentia gavam seus filhos a um ambiente de corrupção e violência.
bem na submissão voluntária, como se fosse artificial a bravura, A decadência desse sistema também pode ser associada
à maneira da conhecida petulância feminina. à da própria monarquia, em um recurso adotado para que
POMPEIA, Raul. O Ateneu. Disponível em:
o microcosmo (Ateneu), no romance, reflita o macrocosmo
http:/Avww.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000297.pdf.
Acesso em: 1º nov. 2022. (fim do Império).
Texto |
Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã.
Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do
chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria
que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em
verdade, vos digo que pensava em outra cousa. Cortejava
o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor.
Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas
Fonte: https://historia-arte.com/obras/vagon-de-tercera-clase (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano
Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os
A obra Vagão da terceira classe (1865), de Honoré
morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu,
Daumier, é um exemplo da estética de artistas realis- tudo entra na mesma sensação de propriedade.
tas que rompem com os temas adotados ao longo do “Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas”,
Romantismo. Quais elementos da tela evidenciam o pensa ele. Semana Piedade tem casado com Quincas Borba,
pensamento realista? apenas me daria uma esperança colateral. Não casou;
ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que
Leia o texto seguinte. o que parecia uma desgraça...
Dom Quixote, leitor voraz, fidalgo pacato, de tan- ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Rio de Janeiro: Antofágica, 2020. p. 19.
to ler novelas de cavalaria, resolve correr o mundo para
Texto Il
colocar em prática o conhecimento que adquiriu com
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias
suas leituras. Acompanhado de Sancho Pança, enfrenta
pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro
moinhos de vento, gigantes, cavaleiros inimigos; resgata
lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso
donzelas; ajuda rainhas; lamenta a ausência de Dulcineia.
vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações
Esses conflitos são pautados pelo engano. Dom Quixote
me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu
vê as coisas como elas não são. Uma estalagem humilde não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto
transforma-se em castelo. Moinhos transformam-se em autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que
gigantes. Um pangaré vira cavalo notável. Uma análise o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés,
mais apressada crava que as leituras derreteram os miolos que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas
de Dom Quixote. [...] Há quem diga que as leituras de no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
ficção acabaram com a vida do personagem. Há quem Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-
diga que as leituras de ficção salvaram a vida de Dom -feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara
Quixote [personagem célebre de Cervantes do livro pu- de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prós-
blicado em 1605] [...]. peros, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui
“DOM Quixote” — leitores. Cruzeiro do Sul, 31 jul. 2014. acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos!
Disponível em: https:/Avww2 .jornalcruzeiro.com.br/materia/561588/
dom-quixote-leitores. Acesso em: 1º nov. 2022. ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. p. 69.
O trecho acima se refere ao célebre personagem
O que é possível observar a respeito do foco narrativo
da obra de Miguel de Cervantes, Dom Quixote de la
em Quincas Borba que difere da solução encontrada
Mancha. De que maneira esse personagem pode ser
por Machado de Assis para Memórias póstumas de
comparado a Emma Bovary, personagem da obra de
Brás Cubas, sua obra anterior?
Gustave Flaubert?
Como se constrói a estratégia de zoomorfismo no tre-
Eça de Queirós afirmava que o Realismo “é a anatomia s
cho a seguir, do romance A falência, de Júlia Lopes uu
do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta [=
de Almeida? 4
a nossos próprios olhos — para nos conhecermos, para uu
Os carregadores serpeavam por meio de tudo aquilo, x
a
que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para con-
como formigas em correição, com a cabeça vergada ao
denar o que houver de mau na nossa sociedade”.
peso da saca, roçando o corpo latejante nas ancas lustrosas
Explique de que maneira a afirmação de Eça de Queirós
dos burros.
contraria a proposta do movimento romântico, anterior ALMEIDA, Júlia Lopes de. A falência. São Paulo:
ao movimento realista. Companhia das Letras, 2019. p. 22.
195
7. Leia a seguir a reflexão do crítico literário Araripe Júnior
sobre o “estilo” praticado “nesta terra”, isto é, no Brasil.
Z Leia o trecho a seguir para responder às questões 9 e 10.
Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as
O estilo, nesta terra, é como o sumo da pinha, que,
manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Riti-
quando viça, lasca, deforma-se, e, pelas fendas irregulares, nha, e tragava dois dedos de parati “pra cortar a friagem”.
poreja o mel dulcíssimo, que as aves vêm beijar; ou como Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele,
o ácido do ananás do Amazonas, que desespera de sabor, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe
deixando a língua a verter sangue, picada e dolorida. os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crisálida.
ARARIPE JÚNIOR, Tristão de Alencar. Obra crítica de Araripe
A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contempla-
Junior apud CAIRO, Luiz Roberto Velloso. Araripe Júnior: Um Taine
às avessas? Disponível em: https://seer.ufrgs.br/organon/article/ tivo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil
viewFile/28689/17372. Acesso em: 1º nov. 2022. patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores
que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos
O modo pelo qual o crítico explica a feição que o “esti- de ambição; para idealizar felicidades novas, picantes e
lo” assume “nesta terra” indica que ele compartilha com violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais
o Naturalismo um postulado fundamental idealizado amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava
por Taine. Que postulado é esse? Que conotação ele gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso resignando-se,
ganha no Brasil? vencido, às imposições do sol e do calor [...].
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos
Leia o trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo. os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo
Rita, essa noite, recolhera-se aflita e assustada. abrasileirou-se. [...] A revolução afinal foi completa:
Deixara de ir ter com o amante e mais tarde admirava- a aguardente de cana substituiu o vinho; a farinha de
-se como fizera semelhante imprudência; como tivera mandioca sucedeu à broa; a carne-seca e o feijão-preto
coragem de pôr em prática, justamente no momento ao bacalhau com batatas e cebolas cozidas; a pimenta-
mais perigoso, uma coisa que ela, até aí, não se sentira -malagueta e a pimenta-de-cheiro invadiram vitoriosamente
com ânimo de praticar. No íntimo respeitava o capoeira; a sua mesa; o caldo verde, a açorda e o caldo de unto
tinha-lhe medo. Amara-o a princípio por afinidade de foram repelidos pelos ruivos e gostosos quitutes baianos,
temperamento, pela irresistível conexão do instinto lu- pela muqueca, pelo vatapá e pelo caruru; a couve à mi-
xurioso e canalha que predominava em ambos, depois neira destronou a couve à portuguesa; o pirão de fubá ao
continuou a estar com ele por hábito, por uma espécie de pão de rala, e, desde que o café encheu a casa com o seu
vício que amaldiçoamos sem poder largá-lo; mas desde aroma quente, Jerônimo principiou a achar graça no cheiro
que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a do fumo e não tardou a fumar também com os amigos.
sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Disponível em: http://Awww.dominiopublico.
da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita gov.br/download/texto/bv00001 5.pdf. Acesso em: 1º nov. 2022.
preferiu no europeu o macho de raça superior.
. Otrecho destacado evidencia a tese de condicionamen-
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Disponível em: http:/Awww.dominiopublico.
gov.br/download/texto/bv000015.pdf. Acesso em: 1º nov. 2022. to do indivíduo pelo meio defendida pelos naturalistas.
Quais elementos serviram para modificar Jerônimo?
De acordo com o texto, o comportamento de Rita Baia-
na em relação ao português Jerônimo associa-se a qual 10. Em que momento o “abrasileiramento” de Jerônimo
aspecto do Naturalismo? Justifique. se dá por completo? Justifique.
Exercícios propostos e
1. Uepa A Estética Realista primou pela objetivação e d) O céu parece baixo e de neblina,
clareza na exposição dos fatos cotidianos. Estes O gás extravasado enjoa-me, perturba;
traços nortearam a intenção do autor de denunciar o E os edifícios, com as chaminés, e a turba
drama psicológico vivenciado pelo homem da épo- Toldam-se duma cor monótona e londrina.
ca, condicionado a viver em um mundo materialista, e) Espreitam-te, por cima, as frestas dos celeiros;
por isso em Cesário Verde, poeta representativo O Sol abrasa as terras já ceifadas,
desta estética, é recorrente a referência ao mal- E alvejam-te, na sombra dos pinheiros,
-estar ante à modernização da cidade. Analise os Sobre os teus pés decentes, verdadeiros,
versos e identifique a alternativa que comprove As saias curtas, frescas, engomadas.
a afirmação. Unifesp 2013 Leia os versos de Cesário Verde.
a) Milady, é perigoso contemplá-la,
Quando passa aromática e normal, Duas igrejas, num saudoso largo,
Com seu tipo tão nobre e tão de sala, Lançam a nódoa negra e fúnebre do Clero:
Com seus gestos de neve e de metal. Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,
b) Quando eu via, invejoso, mas sem queixas, Assim que pela história eu me aventuro e alargo.
Pousarem borboletas doidejantes Disponível em: www.astormentas.com. Acesso em: 28 nov. 2017.
Nas tuas formosíssimas madeixas,
Daquela cor das messes lourejantes. Em relação à Igreja, o eu lírico assume, nesses versos,
c) Talvez já te não lembres com desgosto uma posição:
Daquelas brancas noites de mistério, a) anticlerical. d) saudosista.
Em que a Lua sorria no teu rosto b) submissa. e) ambígua.
E nas lajes campais do cemitério. c) evangelizadora.
quase eclesiástica.
[...]
Ao meio-dia veio o Libaninho, o beato mais activo
de Leiria; e subindo a correr os degraus, já gritava com a
sua voz fina:
— ÁS. Joaneira!
— Sobe, Libaninho, sobe, disse ela, que costurava
à janela.
— Então o senhor pároco veio, hem? perguntou o
Libaninho, mostrando à porta da sala de jantar o seu rosto
gordinho cor de limão, a calva luzidia; e vindo para ela
com o passinho miúdo, um gingar de quadris:
Cortadores de pedra, de Gustave Courbet, 1840, óleo sobre tela, 56 cm X 65 cm. — Então que tal, que tal? Tem bom feitio?
A S. Joaneira recomeçou a glorificação de Amaro:
Para o escritor português Eça de Queirós, havia ex-
a sua mocidade, o seu ar piedoso, a brancura dos seus
trema necessidade de demonstrar ao público quanto
dentes...
a arte realista se fazia diferente e superior às demais
— Coitadinho! Coitadinho! dizia o Libaninho, babando-
artes, sobretudo por retratar o homem em seu meio.
-se de ternura devota. — Mas não se podia demorar, ia para
A partir dessa afirmação, selecione a frase do autor a repartição! — Adeus, filhinha, adeus! — E batia com a
sobre o Realismo que mais dialoga com o quadro sua mão papuda no ombro da S. Joaneira. — Estás cada vez
de Courbet. mais gordinha! Olha que rezei ontem a salve-rainha que tu
a) É a negação da arte pela arte; é a proscrição do me pediste, ingrata!
convencional, do enfático e do piegas. A criada tinha entrado.
b) É a abolição da retórica considerada arte de pro- — Adeus, Ruça! Estás magrinha: pega-te com a
mover a emoção, usando da inchação do período, Senhora Mãe dos Homens. — E avistando Amélia pela
da epilepsia da palavra. porta do quarto entreaberta: — Ai, que estás mesmo
c) Éaarte que nos pinta a nossos olhos [...] para con- uma flor, Melinha! Quem se salvava na tua graça bem
denar o que houver de mau na sociedade. eu sei!
d) O romance tem de nos transmitir a natureza em E apressado, saracoteando-se, com um pigarrinho
quadros exatíssimos, flagrantes, reais. agudo, desceu a escada rapidamente, ganindo:
e) [...] é uma reação contra o romantismo: o romantis- — Adeusinho! Adeusinho, pequenas!
mo era a apoteose do sentimento. (CAPÍTULO IV)
Uerj 2019 O fragmento de texto apresentado nesta Em O crime do padre Amaro, Eça de Queirós tece du-
prova foi retirado do romance O crime do padre Amaro, ras críticas a alguns grupos da sociedade portuguesa
de Eça de Queirós. (Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da de fins de século XIX. Identifique o grupo social que
Moeda, 2000) é alvo da crítica do autor no Fragmento |. Apresen-
te, também, um recurso expressivo empregado para
Fragmento |
construir a crítica pretendida, ilustrando-o com um
Ao outro dia, na cidade, falava-se da chegada do pá- exemplo extraído das falas do narrador.
roco novo, e todos sabiam já que tinha trazido um baú de
lata, que era magro e alto, e que chamava padre-mestre Uerj 2015
ao cónego Dias.
As amigas da S. Joaneira, — as íntimas — a D. Maria da
O primo Basílio
Assunção, as Gansosos, tinham ido logo pela manhã a casa la encontrar Basílio no Paraíso pela primeira vez.
dela para se porem ao facto... Eram nove horas; Amaro E estava muito nervosa: não pudera dominar, desde
saíra com o cónego. A S. Joaneira, radiosa, importante, pela manhã, um medo indefinido que lhe fizera pôr
recebeu-as no alto da escada, de mangas arregaçadas, um véu muito espesso, e bater o coração ao encontrar
nos arranjos da manhã; e imediatamente, com animação, Sebastião. Mas ao mesmo tempo uma curiosidade inten-
contou a chegada do pároco, as suas boas maneiras, o sa, múltipla, impelia-a, com um estremecimentozinho
que tinha dito... de prazer. — la, enfim, ter ela própria aquela aventura o]
uu
Foi-lhes mostrar o quarto do padre, o baú de lata, uma que lera tantas vezes nos romances amorosos! Era uma fes
4
prateleira que lhe arranjara para os livros.[...] forma nova do amor que ia experimentar, sensações uu
[4
u
A S. Joaneira ia mostrando as outras maravilhas do excepcionais! Havia tudo — a casinha misteriosa, o se-
pároco, — um crucifixo que estava ainda embrulhado num gredo ilegítimo, todas as palpitações do perigo! Porque
jornal velho, o álbum de retratos, onde o primeiro cartão o aparato impressionava-a mais que o sentimento; e
era uma fotografia do Papa abençoando a cristandade. a casa em si interessava-a, atraía-a mais que Basílio!
Todas se extasiaram. Como seria? [...] Desejaria antes que fosse no campo,
197
numa quinta, com arvoredos murmurosos e relvas fofas; HI. [...] a Titi tomou o embrulho, fez mesura aos
passeariam então, com as mãos enlaçadas, num silêncio santos, colocou o sobre o altar, devotamente desatou
poético; e depois o som da água que cai nas bacias de pedra o nó do nastro* vermelho; depois, com o cuidado de
daria um ritmo lânguido aos sonhos amorosos... Mas era quem teme magoar um corpo divino, foi desfazendo
num terceiro andar — quem sabe como seria dentro? [...] uma a uma as dobras do papel pardo... Uma brancura
E ao descer o Chiado, sentia uma sensação deliciosa em de linho apareceu...
ser assim levada rapidamente para o seu amante, e mesmo
olhava com certo desdém os que passavam, no movimento *nastro: fita.
da vida trivial — enquanto ela ia para uma hora tão roma-
nesca da vida amorosa! [...] Imaginava Basílio esperando-a
estendido num divã de seda; e quase receava que a sua IV. As relíquias eram valores! Tinham a qualidade oni-
simplicidade burguesa, pouco experiente, não achasse pa- potente de valores!
lavras bastante finas ou carícias bastante exaltadas. Ele devia Eça de Queirós, A Relíquia.
ter conhecido mulheres tão belas, tão ricas, tão educadas
a) As passagens acima são revelações de diferen-
no amor! Desejava chegar num cupê seu, com rendas de
tes objetos, todos eles contemplados no romance
centos de mil-réis, e ditos tão espirituosos como um livro...
como relíquias. Explicite a que objetos cada um
A carruagem parou ao pé duma casa amarelada, com
uma portinha pequena. Logo à entrada um cheiro mole dos trechos se refere.
e salobre enojou-a. A escada, de degraus gastos, subia b) No último parágrafo do romance, Teodorico
ingrememente, apertada entre paredes onde a cal caía, e reflete: “... houve um momento em que me fal-
a umidade fizera nódoas. No patamar da sobreloja, uma tou esse descarado heroísmo de afirmar, que,
janela com um gradeadozinho de arame, parda do pó batendo na terra com pé forte, ou palidamente
acumulado, coberta de teias de aranha, coava a luz suja elevando os olhos ao céu — cria, através da uni-
do saguão. E por trás duma portinha, ao lado, sentia-se o versal ilusão, ciências e religiões”. Qual dos três
ranger dum berço, o chorar doloroso duma criança. excertos melhor se aplica à reflexão de Teodo-
[...] rico? Justifique.
Luísa viu logo, ao fundo, uma cama de ferro com
uma colcha amarelada, feita de remendos juntos de chitas FICSAE-SP 2018 Jacinto, personagem de A cidade e
diferentes; e os lençóis grossos, dum branco encardido e as serras, deixa Paris e vai para Tormes, em Portugal. Lá
mal lavado, estavam impudicamente entreabertos...
vive em contato com o campo, em uma quinta herdada
QUEIRÓS, Eça de. Obras de Eça de Queiroz. Porto: Lello & Irmão, s/d.
de seus ancestrais. Sua presença desperta curiosidade
e suas ações contribuem para
quinta: pequena propriedade campestre. a) ser considerado a reencarnação de D. Sebastião,
lânguido: sensual.
que era aguardado por todos e que chegaria en-
chiado: bairro de Lisboa.
volto em denso nevoeiro.
cupê: antiga carruagem fechada.
salobre: salgado. b) ser chamado de “o pai dos pobres”, devido às re-
nódoas: manchas. formas e às benfeitorias nas casas dos rendeiros
impudicamente: sem pudor. e ao atendimento dispensado à melhoria de con-
dições de vida de seus empregados.
O texto apresenta o contraste entre o cenário desejado c) revelá-lo como miguelista, da facção opressora
pela personagem Luísa e aquele que verdadeiramente do povo português, e de esconder em sua casa a
encontrou. pessoa de D. Miguel, sob o disfarce de um criado.
Transcreva duas frases da narrativa: uma que expresse d) viver a experiência da natureza que tanto amava
o desejo da personagem e outra que indique a reali- e de adquirir conhecimento de agricultura no tra-
dade encontrada. balho diuturno da terra.
Fuvest-SP 2019 Considere os seguintes trechos do FCMSCSP 2022 0 era a apoteose do senti-
romance 4 Relíquia. mento; o é a anatomia do caráter. É a crítica
I. E agora, para que cada um esteja prevenido e possa do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos
fazer as orações que mais lhe calharem, devo dizer o que — para nos conhecermos, para que saibamos se somos
é a relíquia... verdadeiros ou falsos, para condenar o que houve de
[...] mau na nossa sociedade.
Il. Esmagada, com um rouco gemido, a Titi aluiu* (Eça de Queirós apud Domício Proença Filho. Estilos de época na
literatura, 1978. Adaptado.)
sobre o caixote, enlaçando-o nos braços trêmulos... Mas
o Margaride coçava pensativamente o queixo austero, Jus- As lacunas no texto devem ser preenchidas, respec-
tino sumira-se na profundidade dos seus colarinhos, e o tivamente, por
ladino** Negrão escancarava para mim uma bocaça negra, a) Romantismo e Realismo.
de onde saía assombro e indignação!
b) Arcadismo e Romantismo.
c) Naturalismo e Realismo.
* aluiu: desabou.
d) Arcadismo e Simbolismo.
** ladino: espertalhão.
e) Romantismo e Parnasianismo.
199
Unicamp-SP 2021 No conto “O espelho”, de Machado Quais estão corretas?
de Assis, uma personagem assume a palavra e narra a) Apenas | . d) Apenas l e III.
uma história. Assinale a alternativa que explicita sua b) Apenas ll. e) |llell.
interlocução com os cavalheiros presentes. c) Apenas Ill.
a) “Lembra-me de alguns rapazes que se davam co-
migo, e passaram a olhar-me de revés, durante UFRGS 2020 Em Papéis avulsos, há pouca ação,
algum tempo” predominando exposição de doutrinas sobre o com-
b) “Ah! pérfidos! Mal podia eu suspeitar a intenção portamento humano, por meio do diálogo ou da fala
secreta dos malvados" de um personagem que assume a narração.
c) “Imaginai um homem que, pouco a pouco, emer- Esse recurso formal pode ser observado em
ge de um letargo, abre os olhos sem ver, depois a) “O alienista” e “A chinela turca”.
começa a ver” b) “A sereníssima República” e “Uma visita de
d) “O espelho estava naturalmente muito velho; mas via- Alcebíades”.
-se-lhe ainda o ouro, comido em parte pelo tempo.” c) “O segredo do Bonzo” e “D. Benedita”.
(Machado de Assis, O Espelho. Campinas: Editora da Unicamp, 2019.) d) “O empréstimo” e “Verba testamentária”.
e) “Teoria do medalhão” e “O espelho”.
'3. Unicamp-SP 2021 O conto “O Espelho”, de Machado
de Assis, apresenta o esboço de uma teoria sobre a Texto para as questões 16 e 17.
Pe,
alma humana. A tese apresentada defende a existên- — Canudos pretos! exclamou ele.
cia de duas almas (interior e exterior), que completam Eram as calças pretas que eu acabava de vestir. Excla-
o homem. Contudo, o narrador faz uma distinção entre mou e riu, um risinho em que o espanto vinha mesclado
as almas que mudam de natureza e estado e aquelas de escárnio, o que ofendeu grandemente o meu melindre de
que são enérgicas. Escolha a alternativa que ilustra, homem moderno. Porque, note V. Ex.a, ainda que o nosso
no conto, a mutabilidade da alma exterior. tempo nos pareça digno de crítica, e até de execração, não
a) A liderança é a força sem a qual o poder político gostamos de que um antigo venha mofar dele às nossas bar-
de Oliver Cromwell se extingue. bas. Não respondi ao ateniense; franzi um pouco o sobrolho
b) A patente é a marca de distinção, sem a qual Ja- e continuei a abotoar os suspensórios. Ele perguntou-me
cobina se extingue.
então por que motivo usava uma cor tão feia...
— Feia, mas séria, disse-lhe. Olha, entretanto, a graça
c) Os versos de Luís de Camões são uma declara-
do corte, vê como cai sobre o sapato, que é de verniz,
ção de amor à pátria, pela qual o poeta se dispõe
embora preto, e trabalhado com muita perfeição.
a morrer.
E vendo que ele abanava a cabeça:
d) As moedas de ouro são o valor visível sem o qual
— Meu caro, disse-lhe, tu podes certamente exigir que
Shylock prefere morrer. o Júpiter Olímpico seja o emblema eterno da majestade:
14. UFRGS 2020 No livro de contos Papéis avulsos, “a é o domínio da arte ideal, desinteressada, superior aos tem-
recusa assídua dos mitos”, conforme Alfredo Bosi
pos que passam e aos homens que os acompanham. Mas
a arte de vestir é outra coisa. Isto que parece absurdo ou
assinala em ensaio sobre a obra machadiana, mani-
desgracioso é perfeitamente racional e belo, — belo à nossa
festa-se na crítica a teorias e a pretensas verdades,
maneira, que não andamos a ouvir na rua os rapsodas re-
que são satirizadas.
citando os seus versos, nem os oradores os seus discursos,
A respeito dessa crítica nos contos, considere as afir-
nem os filósofos as suas filosofias. Tu mesmo, se te acos-
mações abaixo. tumares a ver-nos, acabarás por gostar de nós, porque...
Il. Há, em “A chinela turca”, a história de Duarte, um — Desgraçado! bradou ele atirando-se a mim.
jovem escritor responsável pela criação de obras Antes de entender a causa do grito e do gesto, fiquei
renovadoras da tradição literária, no entanto não sem pinga de sangue. A causa era uma ilusão. Como eu
reconhecido pela crítica, que privilegia apenas os passasse a gravata à volta do pescoço e tratasse de dar o
autores consagrados. laço, Alcibíades supôs que ia enforcar-me, segundo con-
H. Há, em “O segredo do Bonzo”, os personagens fessou depois. E, na verdade, estava pálido, trêmulo, em
Patimau e Languru, considerados “grandes físi- suores frios. Agora quem se riu fui eu. Ri-me, e expliquei-
cos e filósofos”, que arrastam consigo multidões -lhe o uso da gravata, e notei que era branca, não preta,
e “pessoas capazes de dar a vida por eles”, pelas posto usássemos também gravatas pretas. Só depois de
ideias que divulgam, tais como a origem dos gri- tudo isso explicado é que ele consentiu em restituir-ma.
los e o princípio da vida futura, contido na gota de Atei-a enfim, depois vesti o colete.
sangue de uma vaca. — Por Afrodita! exclamou ele. És a coisa mais sin-
Hl. Há, em “A sereníssima República”, conto cujo tí- gular que jamais vi na vida e na morte. Estás todo cor da
tulo se refere ao nome de uma sociedade de noite — uma noite com três estrelas apenas — continuou
aranhas falantes, um governo que adotava um apontando para os botões do peito. O mundo deve andar
sistema eleitoral em que bolas com os nomes dos
imensamente melancólico, se escolheu para uso uma cor
tão morta e tão triste. Nós éramos mais alegres; vivíamos...
candidatos eram postas dentro de um saco, de
ASSIS, Machado de. “Uma visita de Alcibíades” (Carta do
onde se extraíam anualmente um certo número desembargador X... ao chefe de polícia da Corte). In: Papéis avulsos.
de eleitos para as carreiras públicas. São Paulo: Penguin Classics & Companhia das Letras, 2011. p. 230-1.
201
Dois dos mais significativos aspectos da obra do 22. Fuvest-SP 2013 (Adapt.) No excerto a seguir, narra-
autor de Dom Casmurro estão relacionados ao seu -se parte do encontro de Brás Cubas com Quincas
ceticismo e à crítica corrosiva e sarcástica da so- Borba, quando este, reduzido à miséria, mendigava
ciedade brasileira do seu tempo. Publicado entre nas ruas do Rio de Janeiro.
outubro de 1881 e março de 1882, O alienista narra a Tirei a carteira, escolhi uma nota de cinco mil-réis, —
trajetória de Simão Bacamarte, médico voltado para a menos limpa, — e dei-lha [a Quincas Borba]. Ele recebeu-
a pesquisa, entendimento e cura dos males do es- -ma com os olhos cintilantes de cobiça. Levantou a nota
pírito. Tomando por base o fragmento selecionado, ao ar, e agitou-a entusiasmado.
comente criticamente a visão de Machado de Assis — In hoc signo vinces!* bradou.
sobre os postulados do pensamento positivista e E depois beijou-a, com muitos ademanes de ternura,
da ideologia do progresso tão valorizados no fim e tão ruidosa expansão, que me produziu um sentimento
do século XIX. misto de nojo e lástima. Ele, que era arguto, entendeu-me;
ficou sério, grotescamente sério, e pediu-me desculpa da
2. Unicamp-SP 2022 [...] eu sou um pobre relojoeiro
alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via,
que, cansado de ver que os relógios deste mundo não
desde muitos anos, uma nota de cinco mil-réis.
marcam a mesma hora, descri do ofício. [...] Um exem-
— Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu.
plo. O Partido Liberal, segundo li, estava encasacado e
— Sim? acudiu ele, dando um bote para mim.
pronto para sair, com o relógio na mão, porque a hora
— Trabalhando, concluí eu.
pingava. Faltava-lhe só o chapéu, que seria o chapéu
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Dantas, ou o chapéu Saraiva (ambos da chapelaria Aris-
tocrata); era só pô-lo na cabeça, e sair. Nisto passa o
*“In hoc signo vinces”: citação em latim que significa
carro do paço com outra pessoa, e ele descobre que ou
“com este sinal vencerás” (frase que teria aparecido
o seu relógio está adiantado, ou o de Sua Alteza é que
no céu, junto de uma cruz, ao imperador Constantino,
se atrasara. Quem os porá de acordo?
antes de uma batalha).
(Machado de Assis, Bons dias! Introdução e notas John Gledson. 3. ed.
Campinas: Editora da Unicamp, 2008, p. 79.)
Com relação ao excerto da crônica de Machado de Tendo em vista a autobiografia de Brás Cubas e as con-
Assis, publicada em 5 de abril de 1888 na Gazeta de siderações que, ao longo de suas Memórias póstumas,
Notícias, é correto afirmar que a metáfora mecânica faz ele tece a respeito do tema do trabalho, comente o
conselho que, no excerto, ele dá a Quincas Borba:
referência à passagem do tempo, aludindo à expectativa
“— Trabalhando, concluí eu”.
de mudança de
a) regime a partir de discordâncias políticas que le- 23. Fuvest-SP Leia o trecho de Dom Casmurro, de Machado
varam à eleição do governo imperial. de Assis, para responder ao que se pede.
b) século, marcada pela perspectiva da chegada do
Um dia [Ezequiel] amanheceu tocando corneta
meteorito de Bendegó na corte imperial.
com a mão; dei-lhe uma cornetinha de metal. Comprei-
c) mentalidade escravagista, com um pacto político
-lhe soldadinhos de chumbo, gravuras de batalhas que
para suspensão de costumes imperiais.
ele mirava por muito tempo, querendo que lhe expli-
d) legislação, com a alternância entre partidos
casse uma peça de artilharia, um soldado caído, outro
para a formação de um novo ministério do go-
de espada alçada, e todos os seus amores iam para o
verno imperial.
de espada alçada. Um dia (ingênua idade!) perguntou-
. UFRGS 2018 Leia as seguintes afirmações sobre os -me impaciente:
romances Dom Casmurro, de Machado de Assis, e — Mas, papai, por que é que ele não deixa cair a
Diário da queda, de Michel Laub. espada de uma vez?
Il. Os dois romances são narrados em primeira pes- — Meu filho, é porque é pintado.
soa, como processo de compreensão do vivido. — Mas então por que é que ele se pintou?
H. Os dois narradores apresentam uma relação Ri-me do engano e expliquei-lhe que não era o sol-
amorosa com esposa e filhos, reproduzindo a tra- dado que se tinha pintado no papel, mas o gravador, e
dição familiar. tive de explicar também o que era gravador e o que era
Hi. O balanço final dos narradores de cada roman- gravura: as curiosidades de Capitu, em suma.
ce demonstra grande aprendizado, a partir das a) Se estabelecermos uma analogia ou um paralelo en-
experiências vividas, repleto de esperança e de tre a gravura, de que se fala no excerto, e o romance
otimismo. Dom Casmurro, os termos “gravador” e “gravura” cor-
Quais estão corretas? responderão a que elementos internos do livro?
a) Apenas |. b) Continuando no mesmo paralelo entre gravura
b) Apenas Il. e Dom Casmurro, pode-se considerar que a lição
c) Apenasle ll. dada pelo pai ao filho, a respeito da gravura, serve
d) Apenas Ile Ill. de advertência também para o leitor do romance?
e) |llelll. Justifique sua resposta.
203
Trecho 2 Com Dom Casmurro, obra publicada em 1899, depois
Desse antigo verão que me alterou a vida restam de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e de
ligeiros traços apenas. E nem deles posso afirmar que Quincas Borba (1891), Machado de Assis deixa marcas
efetivamente me recorde. O hábito me leva a criar um indeléveis de que a Literatura Brasileira vivia um novo
ambiente, imaginar fatos a que atribuo realidade. período literário, bem diferente do Romantismo. Nessas
RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 26. obras, nota-se uma forma diferente de sentir e de ver a
A partir da leitura desses trechos, explique como, em realidade, menos idealizada, mais verdadeira e crítica:
cada uma das obras referidas, o narrador aborda as uma perspectiva realista. O trecho apresentado acima
possibilidades de a escrita reconstituir o passado. representa essa perspectiva porque o narrador
a) exagera nas imagens poéticas traduzidas por
28. ITA-SP O texto a seguir é o início da obra Dom Casmurro, “fluido misterioso”, “praia”, “cabelos espalhados
de Machado de Assis. pelos ombros” em uma realização imagética da
Uma noite dessas, vindo da cidade para o Engenho mulher que o tragava como fazem as ondas de
Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, um mar em ressaca.
que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, b) deixa-se levar pelas ondas que saíam das pupi-
sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e las de Capitu em um fluido, misterioso e enérgico,
acabou recitando-se versos. A viagem era curta, e os versos que o arrasta depressa como uma vaga que se
pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, retira da praia em dias de ressaca, não adiantan-
porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três do agarrar-se nem aos braços nem aos cabelos
ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse da moça.
a leitura e metesse os versos no bolso. c) retira-se da praia como as vagas em dias de res-
[...] No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes saca por não ser capaz de dizer a Capitu o que
feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizi-
está sentindo ao olhá-la nos olhos sem quebrar
nhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados,
a dignidade mínima daquele momento em que
deram curso à alcunha, que afinal pegou.
duas pessoas apaixonam-se.
[...] Não consultes dicionários. Casmurro não está
d) solicita à “retórica dos namorados” uma compara-
aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o
ção que seja, ao mesmo tempo, exata e poética
vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por
capaz de descrever os olhos de Capitu, revelan-
ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar
cochilando! Também não achei melhor título para a minha do a dificuldade de apresentar uma verdade que
narração; se não tiver outro daqui até o fim do livro, vai não estrague a idealização romântica.
este mesmo. e) ridiculariza a retórica dos românticos ao afir-
mar que os olhos de Capitu pareciam com uma
Considere as afirmações a seguir referentes ao trecho,
ressaca do mar e, por isso, não seria capaz de
articuladas ao romance:
descrevê-los de maneira poética, traduzindo, as-
Il. Onarradorjá apresenta seu estilo irônico de narrar.
sim, o realismo literário de sua época.
H. O narrador assume uma alcunha que o caracteriza
ao longo do enredo. 30. UFRN A passagem transcrita a seguir faz parte do
HI. Os eventos narrados no trecho inicial desenca- capítulo IX (“Transição”), de Memórias póstumas de
deiam o conflito central da obra. Brás Cubas.
IV. O título Dom Casmurro não caracteriza adequa-
E vejam agora com que destreza, com que arte faço
damente o personagem Bentinho. eu a maior transição deste livro. Vejam: o meu delírio
Estão corretas apenas: começou em presença de Virgília; Virgília foi meu grão
a) lell. d) lelV. pecado da juventude; não há juventude sem meninice;
b) lelll. e) lilelv. meninice supõe nascimento; e eis aqui como chegamos
c) llelll. nós, sem esforço, ao dia 20 de outubro de 1805, em que
nasci. Viram? Nenhuma juntura aparente, nada que divirta
29. EsPCEx-SP 2018 “Retórica dos namorados, dá-me
a atenção pausada do leitor: nada.
uma comparação exata e poética para dizer o que foram
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.
aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz São Paulo: Ática, 2000.
de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles
foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. Este fragmento ilustra bem o estilo narrativo da obra,
É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não que é marcada pela
sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que ar- a) liberdade técnica com que se encadeiam os
rastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, eventos da história.
nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às b) rigidez da técnica narrativa, indispensável à esco-
outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos la realista.
espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as c) fidelidade à ordem cronológica linear dos acon-
pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e tecimentos.
escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.” d) negação da cientificidade narrativa típica da es-
ASSIS. Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Ática, 1999. p. 55 (fragmento) cola romântica.
. UFRGS Considere as seguintes afirmações, sobre exemplo, cartas ou bilhetes, historietas etc. — em-
ty
l. Brás Cubas manteve um caso amoroso com Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado
Marcela na juventude e, depois de conhecer a de Assis:
filosofia de Quincas Borba, voltou a tentar con-
Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pen-
quistar a antiga namorada.
sante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação
H. Virgília conheceu Brás Cubas antes de casar-se
da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será
com Lobo Neves; não resistindo aos encantos
corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá
do antigo namorado, manteve um caso com Brás
de graça aos vermes.
Cubas depois da morte de Nhã-Loló. ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo:
Brás Cubas conheceu Quincas Borba quando Ateliê Editorial, 2001. p. 120.
filosofia para não causar mal-estar ao amigo. somente, para Nhonhô, depois de o fitar muito tempo,
e) O cunhado Cotrim é um homem desagradável, carrancudo. Não me tratou mal nem bem. Não sei o que
mas bom pagador, e discreto a ponto de evitar que vai acontecer; Deus queira que isto passe. Muita cautela,
suas ações de caridade venham a ser divulgadas. por ora, muita cautela.”
205
Capítulo CVIII guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam
Que se não entende a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora
Eis aí o drama, eis aí a ponta da orelha trágica de e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo
Shakespeare. Esse retalhinho de papel, garatujado em racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que
partes, machucado das mãos, era um documento de aná-
virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão;
ao vencedor, as batatas. [...] Aparentemente, há nada mais
lise, que eu não farei neste capítulo, nem no outro, nem
talvez em todo o resto do livro. Poderia eu tirar ao leitor contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam
o gosto de notar por si mesmo a frieza, a perspicácia e o um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um
ânimo dessas poucas linhas traçadas à pressa; e por trás benefício, não só porque elimina os organismos fracos,
delas a tempestade de outro cérebro, a raiva dissimulada,
incapazes de resistência, como porque dá lugar à obser-
vação, à descoberta da droga curativa. A higiene é filha de
o desespero que se constrange e medita, porque tem de
resolver-se na lama, ou no sangue, ou nas lágrimas? podridões seculares; devemo-la a milhões de corrompidos
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. e infectos. Nada se perde, tudo é ganho.
(Quincas Borba, 2016.)
Atente para o excerto, considerando-o no contexto da
obra a que pertence. Nele, figura, primeiramente, o bi- 37. Unesp 2020 Está empregado em sentido figurado o
lhete enviado a Brás Cubas por Virgília, na ocasião em termo sublinhado em:
que se torna patente que o marido da dama suspeita a) “nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtual-
de suas relações adúlteras. Segue-se ao bilhete um co- mente a destrói”.
mentário do narrador (cap. CVIIl). Feito isso, considere b) “a supressão de uma é condição da sobrevivên-
a afirmação que segue: cia da outra”.
No excerto, o narrador frisa aspectos cuja presença se c) “Uma das tribos extermina a outra e recolhe os
costuma reconhecer no próprio romance machadiano despojos”.
da fase madura, entre eles, d) “Daío caráter conservador e benéfico da guerra”.
Il. o realce da argúcia, da capacidade de exame e) “não chegam a nutrir-se suficientemente e mor-
acurado das situações e da firmeza de propósito, rem de inanição”.
ainda quando impliquem malignidade. 38. Unesp 2020 Considerando o contexto histórico de
l. a relevância da observação das relações interpes-
produção, verifica-se no trecho uma alusão irônica
soais e dos funcionamentos mentais correspondentes. a) àteoria darwiniana.
Ill. a operação consciente dos elementos envolvidos
b) à filosofia idealista.
no processo de composição literária: narração, c) aideologia capitalista.
personagens, motivação, trama, intertextualidade, d) à filosofia iluminista.
recepção etc. e) a ideologia socialista.
Está correto o que se indica em
a) |, somente. 39. Fuvest-SP 2020 E Sofia? interroga impaciente a leitora,
b) Il, somente. tal qual Orgon: Et Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é
c) lell, somente. naturalmente a mesma, — também ela comia bem, dormia
d) Ile ll, somente. largo e fofo, — coisas que, aliás, não impedem que uma
e) |llelll. pessoa ame, quando quer amar. Se esta última reflexão é o
motivo secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que
Para responder às questões 37 e 38, leia o trecho de sois muito indiscreta, e que eu não me quero senão com
uma fala do personagem Quincas Borba, extraída do dissimulados.
romance Quincas Borba, de Machado de Assis, publi- Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao
cado originalmente em 1891. fim da comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a
Atalaia chamou-lhe “o anjo da consolação”. E não se pense
— [...] O encontro de duas expansões, ou a expansão
que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse; ao con-
de duas formas, pode determinar a supressão de uma de-
trário, resumindo em Sofia toda a ação da caridade, podia
las; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a
mortificar as novas amigas, e fazer-lhe perder em um dia o
supressão de uma é condição da sobrevivência da outra,
trabalho de longos meses. Assim se explica o artigo que a
e a destruição não atinge o princípio universal e comum.
mesma folha trouxe no número seguinte, nomeando, parti-
Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu
cularizando e glorificando as outras comissárias — “estrelas
um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas
de primeira grandeza”.
apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim
Machado de Assis, Quincas Borba.
adquire forças para transpor a montanha e ir à outra ver-
tente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas No excerto, o autor recorre à intertextualidade, dialo-
tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam gando com a comédia de Moliêre, Tartufo (1664), cuja
a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, personagem central é um impostor da fé. Tal é a fama da
nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma peça que o nome próprio se incorporou ao vocabulário,
das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí inclusive em português, como substantivo comum, para
a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas designar o “indivíduo hipócrita” ou o “falso devoto”. No
públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a contexto maior do romance, sugere-se que a tartufice
no, loucura e morte da personagem Rubião. lera, mandava respeitar a propriedade atual. Que lhe impor-
e) O narrador se refere à constelação do Cruzeiro tavam escravos futuros, se os não compraria? O pajem ia ser
do Sul como metáfora do universo essencialmente forro, logo que ele entrasse na posse dos bens. Palha descon-
orientado pelo amor. versou, e passou à política, às câmaras, à guerra do Paraguai,
207
tudo assuntos gerais, ao que Rubião atendia, mais ou menos. a) No Realismo, o casamento é apresentado como
Sofia escutava apenas; movia tão somente os olhos, que sabia uma instituição falida, o que propicia a sugestão
bonitos, fitando-os ora no marido, ora no interlocutor. do tema em inúmeras obras literárias.
— Vai ficar na Corte ou volta para Barbacena? per- b) As narrativas da segunda metade do século XIX
guntou o Palha no fim de vinte minutos de conversação. visam fazer um retrato da sociedade, desmasca-
— Meu desejo é ficar, e fico mesmo, acudiu Rubião;
rando as relações idealizadas.
estou cansado da província; quero gozar a vida. Pode ser
c) No Realismo, o adultério subverte o ideal român-
até que vá à Europa, mas não sei ainda. Os olhos do Palha
tico de casamento, tema principal nas obras dos
brilharam instantaneamente.
realistas Eça de Queirós, Machado de Assis e
Machado de Assis, Quincas Borba.
José de Alencar.
4. FGV-SP 2014 Manifesta-se, no excerto de Quincas
d) Embora o adultério feminino seja um assunto trata-
do em inúmeras obras realistas, Machado de Assis
Borba, um tema que, relativamente frequente na ficção
propõe o tema com ambiguidade em suas obras.
dos dois últimos séculos, é central nesse romance, a
e) Atrilogia realista de Machado de Assis apresenta
saber, o tema
a) do contraponto entre o apego provinciano à tradi- o assunto da charge, embora a consumação do
ção e a modernização urbana. adultério não se confirme nas três obras.
b) do interiorano ingênuo esbulhado pela gente da . UPF-RS 2015 Bento Santiago, no romance Dom
capital. Casmurro, de Machado de Assis, afirma que sua vida
c) do “fugere urbem” — o do abandono das cidades, começou, efetivamente, aos quinze anos, no dia em
em busca do bucolismo campestre. que se descobriu apaixonado por Capitu. De fato, ele
d) da mulher sentimental, dividida entre dois amores. já a amava antes, mas não tinha consciência disso.
e) da oposição entre tendências nacionalistas e Quem revela ao narrador-protagonista a verdadeira
cosmopolitas. natureza do sentimento que ele nutria por sua amiga
— Outra de menos...
— Outra de menos...
— Outra de menos...
O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe
corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e eu pu-
desse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções
há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições
morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro
homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um
relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.
Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfa-
do, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-me cá
dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas
que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não
ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1992 (fragmento).
Pe,
49. Unicamp-SP 2014 [...] Marcela amou-me durante quinze E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a
meses e onze contos de réis; nada menos. alma pelos olhos enamorados.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das
Ateliê Editorial, 2001. p. 101. impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz
Então apareceu o Lobo Neves, um homem que não ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da
era mais esbelto que eu, nem mais elegante, nem mais fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas,
lido, nem mais simpático, e todavia foi quem me arrebatou que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira vir-
Virgília e a candidatura... [...] Dutra veio dizer-me, um ginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta;
dia, que esperasse outra aragem, porque a candidatura de era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce
Lobo Neves era apoiada por grandes influências. Cedi [...). que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com
Uma semana depois, Virgília perguntou ao Lobo Neves, a o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a
sorrir, quando seria ele ministro. lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia
— Pela minha vontade, já; pela dos outros, daqui a muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe
um ano. os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela
Virgília replicou: saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir
— Promete que algum dia me fará baronesa? dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrio-
— Marquesa, porque serei marquês. nal, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer,
Desde então fiquei perdido. uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam
Idem, p. 138. em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa
fosforescência afrodisíaca.
[...] Virgília deixou-se estar de pé; durante algum AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.
tempo ficamos a olhar um para o outro, sem articular
palavra. Quem diria? De dois grandes namorados, de 51. Fuvest-SP 2015 Em que pese a oposição progra-
duas paixões sem freio, nada mais havia ali, vinte anos mática do Naturalismo ao Romantismo, verifica-se no
depois; havia apenas dois corações murchos, devastados excerto — e na obra a que pertence — a presença de
pela vida e saciados dela, não sei se em igual dose, mas uma linha de continuidade entre o movimento român-
enfim saciados. tico e a corrente naturalista brasileira, a saber, a
Idem, p. 76. a) exaltação patriótica da mistura de raças.
a) No romance, Brás Cubas estabelece vínculos b) necessidade de autodefinição nacional.
amorosos, em diferentes momentos, com Marcela c) aversão ao cientificismo.
e com Virgília. Explique a natureza desses dois d) recusa dos modelos literários estrangeiros.
vínculos, considerando a classe social das perso- e) idealização das relações amorosas.
nagens envolvidas.
b) Considerando o último excerto, como o narrador 52. Fuvest-SP 2015 Entre as características atribuídas, no
Brás Cubas avalia sua vivência amorosa ao final texto, à natureza brasileira, sintetizada em Rita Baiana,
do romance? aquela que corresponde, de modo mais completo,
ao teor das transformações que o contato com essa
50. Unicamp-SP 2021 “Era Noca, que vinha toda alterada. mesma natureza provocará em Jerônimo é a que se
— Nossa Senhora! Quebrou-se o espelho grande expressa em: N
do salão! a) “era o calor vermelho das sestas da fazenda”. e
-
— Quem foi que o quebrou? Perguntou Nina, para b) “era a palmeira virginal e esquiva que se não tor-
4
Wu
dizer alguma coisa. fo
ce a nenhuma outra planta”. Ea
— Ninguém sabe. Veja só, que desgraça estará para
c) “era o veneno e era o açúcar gostoso”.
acontecer! Espelho quebrado: morte ou ruína.
d) “era a cobra verde e traiçoeira”.
— Morte! Se fosse a minha...”
Júlia Lopes de Almeida, A Falência. Campinas: Editora da Unicamp,
e) “fera]a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito
2018, p. 257.) tempo em torno do corpo dele”.
209
Fuvest-SP 2015 O efeito expressivo do texto — bem a) compleição moral condicionada ao poder aquisitivo.
como seu pertencimento ao Naturalismo em literatura — b) temperamento inconstante incompatível com a
baseia-se amplamente no procedimento de explorar vida conjugal.
de modo intensivo aspectos biológicos da natureza. c) formação intelectual escassa relacionada a des-
Entre esses procedimentos empregados no texto, só vios de conduta.
NÃO se encontra a d) laço de dependência ao projeto de reeducação
a) representação do homem como ser vivo em inte- de inspiração positivista.
ração constante com o ambiente.
e) sujeição a modelos representados por estratifica-
b) exploração exaustiva dos receptores sensoriais
ções sociais e de gênero.
humanos (audição, visão, olfação, gustação), bem
como dos receptores mecânicos. UEG-GO 2020 Daí a pouco, em volta das bicas era
c) figuração variada tanto de plantas quanto de ani- um Zzum-zum crescente; uma aglomeração tumultuosa
mais, inclusive observados em sua interação. de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara,
d) ênfase em processos naturais ligados à reprodu- incomodamente, debaixo do fio d'água que escorria da
ção humana e à metamorfose em animais. altura e uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mu-
e) focalização dos processos de seleção natural lheres precisavam já prender as saias entre as coxas para
como principal força direcionadora do processo não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços
evolutivo. e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo
todo para o alto do casco; os homens, esses não se preo-
Fuvest-SP 2015 Para entender as impressões de
cupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a
Jerônimo diante da natureza brasileira, é preciso ter
cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força
como pressuposto que há
as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as
a) um contraste entre a experiência prévia da perso- palmas da mão.
nagem e sua vivência da diversidade biológica do AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo:
país em que agora se encontra. FTD, 1993. p. 41.
o “dono de casa de jogo”, pois este ao menos representa o H. A morte terrível de Bertoleza destoa do anda-
capital da sua banca, suscetível de ir à glória, ao passo que mento geral do romance, marcado pelo lirismo
o outro nenhum capital representa, nem arrisca, ficando, da narração, característica naturalista presente no
além de tudo, isento da pecha de mal procedido. texto de Aluísio Azevedo.
211
HW. A última frase do trecho sugere que João Romão O guerreiro falou:
receberá a comissão a despeito do fim de Bertoleza, — Quebras comigo a flecha da paz?
em uma alegoria do Brasil: abolicionista na sala de — Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem
visitas, escravocrata na cozinha. de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca
213
CTT TT]
O realismo francês
O pai do movimento realista foi Gustave Courbet (1819-77). Homem de grande pragmatismo, desafiou o gosto convencional por pinturas históricas
e temas poéticos, insistindo que “a pintura é essencialmente uma arte concreta e tem de ser aplicada às coisas reais e existentes”. Quando lhe pediram
que pintasse anjos, respondeu: “Nunca vi anjos. Se me mostrarem um, eu pinto.”
Seu credo era “tudo que não aparece na retina está fora do domínio da pintura”. Como resultado, Courbet se limitava a temas próximos ao lar,
como “Enterro em Ornans”, tela de 6,6 m de comprimento retratando um funeral na província em tons terrosos frios. Nunca antes tinha sido realizada
em tamanho épico — reservado para obras históricas grandiosas — uma pintura sobre gente comum. Os críticos esbravejaram que era tristemente vulgar.
Quando um júri de arte se recusou a exibir
O romance também é metaficcional, além de adotar a e Aluísio Azevedo é autor de O mulato — obra inaugural do
quebra de linearidade, ironia, pessimismo, entre outras ca- Naturalismo — e O cortiço.
racterísticas da prosa machadiana. e Ocortiço é a obra mais conhecida de Azevedo. Nela, po-
O Humanitismo é uma teoria desenvolvida por Quincas Borba demos observar traços importantes da estética naturalista,
que defende que apenas os mais fortes sobrevivem. Ela como a predominância do coletivo e o determinismo.
mistura pensamentos de diversas religiões e correntes filo- e Atransformação dos personagens pelo meio ao longo da
sóficas. Pode ser entendida como uma sátira aos diversos obra é evidente, principalmente com Jerônimo e Pombinha.
“ismos” em voga no final do século XIX. * O cortiço, na obra homônima, passa por um processo de
antropomorfização, ganha vida e é comparado a um orga-
Júlia Lopes de Almeida nismo vivo, como um ser humano ou um animal.
Júlia Lopes de Almeida é uma figura importante do Realismo * Raul Pompeia também é um autor de destaque nesse mo-
no Brasil que sofreu um processo de apagamento ao longo vimento. A obra O Ateneu critica um sistema educacional
do século XX. falido e tem traços autobiográficos. A narrativa conta as
Atuou ativamente na esfera cultural e intelectual de sua memórias de infância do narrador-personagem.
época, tanto no Brasil quanto no exterior. Foi umas das * Ocolégio interno para meninos, Ateneu, é um microcosmo
idealizadoras da Academia Brasileira de Letras, que fre- da sociedade do século XIX. Há uma tensão interna que
quentou após seu marido ter sido nomeado como imortal. opõe os fortes e os fracos em uma constante batalha por
Seu romance A falência, de 1901, conta a história de Teodoro domínio e sobrevivência. Podemos observar a incorporação
Francisco, um português ambicioso e sua família: Camila, a da teoria darwinista no romance.
Livros Vídeo
SS Madame Bovary, de Gustave Flaubert. São Paulo: Com- Q LITERATURA PUC-SP. Projeto Literatura e Vestibular.
panhia das Letras, 2011. A falência, Júlia Lopes de Almeida — PUCSP / SMESP.
Obra fundamental do Realismo, seu enredo é uma crítica YouTube. Disponível em: https://www.youtube.com/
à burguesia e a seus valores. watch?v=It-EAgZC6GhM. Acesso em: 11 out. 2022.
Nesse projeto, são analisados aspectos da vida e da obra
Germinal, de Émile Zola. São Paulo: Estação Liberdade,
A falência, de Júlia Lopes de Almeida.
2012.
a
O romance narra uma revolta de mineiros na cidade de Filmes uu
[um
Montsou, onde estes são submetidos a terríveis condi- Memórias póstumas. Direção: André Klotzel. 2001. 4
uW
ções de trabalho. Esse filme é uma comédia baseada na obra Memórias fo
o
póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
Realismo e realidade na literatura: um modo de ver o Brasil,
de Tânia Pellegrini. São Paulo: Estação Liberdade, 2012. Capitu. Direção: Luiz Fernando Carvalho. 2008.
A obra aborda os principais aspectos do movimento rea- A minissérie brasileira com cinco capítulos é baseada na
lista em diálogo com grandes pensadores da literatura. obra Dom Casmurro, de Machado de Assis.
215
Exercícios complementares
1. Fuvest-SP 2020 Considere os seguintes trechos: H. Ao ser sincero com Crispim, Teodorico conquista
Il. Era um pedreiro de Naim [...]. O açoite dos intenden- a vida de burguês que sempre almejou.
tes rasgara-lhe a carne; depois a doença levara-lhe a ll. Teodorico dá ouvidos à mensagem de Cristo, ar-
força, como a geada seca a macieira. E agora, sem repende-se de sua hipocrisia beata e abraça a fé
trabalho, com os filhos de sua filha a alimentar, pro- católica.
curava pedras raras nos montes — e gravava nelas Está correto o que se afirma apenas em
nomes santos, sítios santos, para as vender no Tem- a) |.
plo aos fiéis. Em véspera de Páscoa, porém, viera um bj) ll.
Rabi de Galileia cheio de cólera que lhe arrancara o c) lell.
seu pão!... d) llelll.
H. [...] E nós tivemos de fugir, apupados pelos merca- e) lelll.
dores ricos, que, bem encruzados nos seus tapetes
Fuvest-SP 2014 Com base na leitura da obra A
de Babilônia, e com o seu lajedo bem pago, ba-
cidade e as serras, de Eça de Queirós, publicada
tiam palmas ao Rabi... Ah! Contra esses o Rabi
nada podia dizer, eram ricos, tinham pago! [...] originalmente em 1901, é correto concluir que, nela,
Mas eu fui expulso pelo Rabi, somente porque encontra-se:
sou pobre! a) o prenúncio de uma consciência ecológica que
HI. [...] Bati no peito, desesperado. E a minha angústia iria eclodir com força somente em finais do sé-
culo XX, mas que, nessa obra, já mostrava um
toda era por Jesus ignorar esta desgraça, que, na
violência do seu espiritualismo, suas mãos miseri- sentido visionário, inspirado pela invenção dos
cordiosas tinham involuntariamente criado, como a motores a vapor.
chuva benéfica por vezes, fazendo nascer a semen-
b) uma concepção de hierarquia civilizacional entre
teira, quebra e mata uma flor isolada. as regiões do mundo, na qual, a Europa represen-
Eça de Queirós, A relíquia. taria a modernidade e um modelo a seguir, e a
América, O atraso e um modelo a ser evitado.
apupados: vaiados.
c) a construção de uma associação entre indiví-
duo e divindade, já que, no livro, a natureza é,
fundamentalmente, símbolo de uma condição
“Se quiséssemos recolher tudo o que já foi encon-
interior a ser alcançada por meio de resignação
trado [da cruz de Cristo], daria para lotar um navio. O
e penitência.
Evangelho conta que a cruz podia ser levada por um
d) a manifestação de um clima de forte otimismo,
homem. Encher a Terra com tamanha quantidade de
decorrente do fim do ciclo bélico mundial do
fragmentos de madeira que nem 300 homens aguen-
tariam levar é uma desfaçatez”, já afirmava o teólogo século XIX, que trouxe à tona um anseio de mo-
francês Jean Calvino, profundamente cristão, em seu dernização de sociedades em vários continentes.
Tratado das Relíquias, publicado em 1543. A observa- e) uma valorização do meio rural e de modos de
ção de Calvino continua viva cinco séculos depois. Os vida a ele associados, nostalgia típica de um mo-
pedaços da chamada Vera Cruz, a cruz em que Jesus mento da história marcado pela consolidação da
de Nazaré foi executado segundo a tradição cristã, são industrialização e da concentração da maior parte
considerados relíquias de primeira categoria pela Igreja da população em áreas urbanas.
Católica, mas aparentemente são tão numerosos que
dão a impressão de que Cristo foi um gigante crucifi- Unicamp-SP 2015 Sobre 4 cidade e as serras, de
cado em dois troncos de sequoias. Eça de Queirós, é correto afirmar:
Manuel Ansede, “Fragmentos da cruz de Cristo dariam para “lotar um a) A descrição do espaço parisiense no roman-
navio inteiro”. In: El país, Caderno “Ciência”. Março de 2016. Adaptado. ce retrata exclusivamente o submundo de uma
a) Identifique as personagens que atuam como narra-
metrópole do final do século XIX e revela as con-
doras em cada um dos excertos de Eça de Queirós. tradições do processo de urbanização.
b) É possível afirmar que o romance A Relíquia en-
b) O romance, cuja primeira edição é de 1901, faz
dossa a perspectiva adotada por Manuel Ansede
uma apologia da vida urbana e do desenvolvi-
a respeito de elementos pertinentes à tradição mento técnico que marcaram o final do século XIX
nas grandes cidades europeias.
cristã? Justifique.
c) No romance, Zé Fernandes é uma personagem
- Fuvest-SP 2019 Atente para as seguintes afirmações secundária que ganha importância no desenvolvi-
relativas ao desfecho do romance A Relíquia, de Eça mento da narrativa ao apresentar a “seu Príncipe”,
de Queirós: Jacinto, a luxuosa Paris.
Il. Oautorrevela, por meio de Teodorico, sua descren- d) No romance, é das rendas provenientes de proprie-
ça num Jesus divinizado, imagem que é substituída dades agrícolas em Portugal que provém o sustento
pela ideia de Consciência. da cara e refinada vida de Jacinto em Paris.
com aquele acento chato e falso que denuncia logo quanto Eça de Queirós, no século XIX, retrata-
o estrangeiro. Na língua verdadeiramente reside a ram a sociedade de seus respectivos tempos,
nacionalidade; — e quem for possuindo com crescen- revelando o comportamento nada edificante
te perfeição os idiomas da Europa vai gradualmente que ela exibia.
217
/ Instrução: Para a próxima questão, marque V (verda-
deiro) ou F (falso).
2-2 O discurso dos narradores revela emoções
resultantes das experiências por eles próprios
vivenciadas, o que torna ambas as narrativas
UFPE 2013 A construção das personagens em Eça de
comprometidas, de tal modo que o adultério
Queirós e em Machado de Assis apresenta particulari-
não se confirma, contribuindo para que as his-
dades que distinguem os dois escritores. Partindo da
tórias não se concluam com a comprovação
leitura crítica dos dois textos que se seguem, julgue as
do triângulo amoroso, pois ambas terminam
proposições seguintes.
em aberto.
Texto | 3-3 Capitu é uma personagem acerca da qual, “em-
Tinha dado onze horas no cuco da sala de jantar. Jorge bora não possamos ter a imagem nítida da sua
fechou o volume de Luís Figuier que estivera folheando fisionomia, temos uma intuição profunda de seu
devagar, estirado na velha voltaire marroquim escuro, es- modo de ser”. Por sua vez, Luísa, de acordo com
preguiçou-se, bocejou e disse: Machado de Assis, “resvala no lodo, sem vonta-
— Tu não te vais vestir, Luísa? de, sem repulsa, sem consciência”.
— Logo. 4-4 O primo Basílio e Dom Casmurro têm persona-
Ficara sentada à mesa a ler o Diário de Notícias, no gens femininas, que, apesar de se integrarem
seu roupão da manhã de fazenda preta, bordado a suta- plenamente à classe burguesa, nutrem um
che, com largos botões de madrepérola; o cabelo louro profundo respeito à instituição familiar e se
um pouco desmanchado, com um tom seco do calor caracterizam por serem simplesmente criadas
do travesseiro, enrolava-se, torcido no alto da cabeça para vivenciar circunstâncias e acontecimen-
pequenina, de perfil bonito; a sua pele tinha a brancura tos, sem que tenham o menor poder de decisão
tenra e láctea das louras; com o cotovelo encostado à sobre eles.
mesa acariciava a orelha, e, no movimento lento e suave
dos seus dedos, dois anéis de rubis miudinhos davam 10. Ambos os trechos a seguir foram retirados do conto
cintilações escarlates. [...] Ânsia eterna, de Júlia Lopes de Almeida. Cada um de-
QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. les reflete um tipo diferente de anseio. Quais seriam
eles? Como são evidenciados?
Texto Il
Trecho |
Capitu
Ao princípio, mal desfazia uma página achava-me a
— Que é que você tem?
fazer outra. Este martírio ainda dura; todo o meu protesto
— Eu? Nada.
de acabar fica onde começa o desejo de criar mais e me-
— Nada, não; você tem alguma coisa.
lhor. Posto o ponto-final em um livro, abre-se-me logo a
Quis insistir que nada, mas não achei língua. Todo eu
vontade de escrever o primeiro período de outro livro. E
era olhos e coração, um coração que desta vez ia sair, com
é sempre assim; afinal, por que e para quê? Se os velhos
certeza, pela boca fora. WNão podia tirar os olhos daquela como os novos trabalhos não me trazem à consciência
criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em nem glória nem tranquilidade? Para quê? não sei... Por
um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos, quê? porque é preciso obedecer, porque a natureza me
feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, fez tal o caniço...
à moda do tempo, desciam-lhe pelas costas. Morena, olhos
claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e Trecho Il
o queixo largo. As mãos, a despeito de alguns ofícios rudes, Nunca vi uns olhos assim. Num instante, desviando-se
eram curadas com amor; não cheiravam a sabões finos nem da companheira, eles voltaram-se para os meus... e não
águas de toucador, mas com água do poço e sabão comum te posso explicar a sensação deliciosa que me agitou. [...]
trazia-as sem mácula. Calçava sapatos de duraque, rasos e Os olhos azuis da moça diziam-me no seu brilho discreto
velhos, a que ela mesma dera alguns pontos. e sagrado: — Eu farei a tua felicidade. Sou educada, sou
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. ativa, sou modesta; compreendo e amo as artes e tenho
o coração aberto para as ternuras conjugais e maternas.
0-0 Os dois autores, do século XIX, revelam concep-
[...] Acreditarás que eu ia todos os dias ao Passeio Público?
ções díspares ao construir suas personagens,
Percorria-o inutilmente: não a encontrava nunca; em todo
pois, enquanto Machado de Assis cria tipos caso não desistia, a esperança de ver os olhos azuis guiava-
femininos frágeis e sem vida, Eça de Queirós -me através das ruas ensombradas. Se as árvores falassem,
dá-lhes alma. que diriam de mim aquelas árvores! Que idílios, que lindos
1-1 Os dois textos explicitam as diferenças so- devaneios tive ali! eram verdadeiros sonhos de adolescen-
ciais existentes entre as duas personagens. te, perfumando a vida profanada do homem desiludido e
A primeira, Luísa, é descrita como uma autên- amargo. Ela já tinha para mim uma designação puríssima,
tica burguesa, enquanto a segunda, Capitu, era a minha noiva, e eu procurava-a, parecendo-me que só
como uma adolescente pobre, cujo único ob- com o vê-la os meus dias se tornariam risonhos e plácidos.
jetivo é alcançar a ascensão social, ainda que ALMEIDA, Júlia Lopes de. Ânsia eterna. In: ALMEIDA, Júlia Lopes de.
Ânsia eterna. Disponível em: https:/Avww?2 .senado.leg.br/bdsf/bitstream/
para isso precise agir de modo a contrariar a handle/id/580577/Ansia Eterna 2ed.pdf?sequence=6&isAllowed=y.
moral vigente. Acesso em: 19 out. 2022.
219
15. Unesp 2016 Leia o excerto do conto “A cartomante”, 2 Leia o trecho do conto “A igreja do Diabo”, de Machado
de Machado de Assis, para responder à questão. de Assis (1839-1908), para responder às questões de
Hamlet observa a Horácio que há mais coisas no céu 16 a 18.
e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto.
explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa Deu-se pressa em enfiar a cogula beneditina, como hábito
sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por de boa fama, e entrou a espalhar uma doutrina nova e
ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas
é que o fazia por outras palavras. do século. Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as de-
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em lícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos.
nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da Confessava que era o Diabo; mas confessava-o para reti-
consulta antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Ape- ficar a noção que os homens tinham dele e desmentir as
nas começou a botar as cartas, disse-me: “A senhora gosta histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas.
de uma pessoa...” Confessei que sim, e então ela continuou — Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das noi-
a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que tes sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, mas
eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não o Diabo verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza,
era verdade... a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos
— Errou! interrompeu Camilo, rindo. homens. Vede-me gentil e airoso. Sou o vosso verdadeiro
— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu
tenho andado, por sua causa. Você sabe, já lhe disse. Não desdouro, fazei dele um troféu e um lábaro, e eu vos darei
ria de mim, não ria... tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério Era assim que falava, a princípio, para excitar o entu-
e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos siasmo, espertar os indiferentes, congregar, em suma, as
pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse al- multidões ao pé de si. E elas vieram; e, logo que vieram,
gum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, o Diabo passou a definir a doutrina. A doutrina era a que
repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por podia ser na boca de um espírito de negação. Isso quanto
essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois... à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes
[...] sutil, outras cínica e deslavada.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anôni- Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser subs-
ma, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a tituídas por outras, que eram as naturais e legítimas. A
aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim
desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa também a avareza, que declarou não ser mais do que a
de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu mãe da economia, com a diferença que a mãe era robusta,
que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura e a filha uma esgalgada. A ira tinha a melhor defesa na
gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas existência de Homero; sem o furor de Aquiles, não haveria
cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também a Ilíada: “Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu”...
nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de di- [...] Pela sua parte o Diabo prometia substituir a vinha
minuir os obséquios do marido, para tornar menos dura do Senhor, expressão metafórica, pela vinha do Diabo,
a aleivosia do ato. locução direta e verdadeira, pois não faltaria nunca aos
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e me- seus com o fruto das mais belas cepas do mundo. Quanto
drosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a à inveja, pregou friamente que era a virtude principal,
verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que
que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento.
repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O Diabo
algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três incutia-lhes, a grandes golpes de eloquência, toda a nova
cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser ordem de coisas, trocando a noção delas, fazendo amar
advertência da virtude, mas despeito de algum preten- as perversas e detestar as sãs.
dente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição que
mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude ele dava da fraude. Chamava-lhe o braço esquerdo do ho-
é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o mem; o braço direito era a força; e concluía: Muitos homens
interesse é ativo e pródigo. são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos fossem
Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia canhotos; não era exclusivista. Que uns fossem canhotos,
que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria outros destros; aceitava a todos, menos os que não fossem
então sem remédio. nada. A demonstração, porém, mais rigorosa e profunda, foi a
Contos: uma antologia, 1998. da venalidade. Um casuísta do tempo chegou a confessar que
era um monumento de lógica. A venalidade, disse o Diabo,
Há, no penúltimo parágrafo, o emprego de uma figura era o exercício de um direito superior a todos os direitos.
de retórica que consiste no alargamento semântico de Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu
termos que designam dois entes abstratos pela atribui- chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal,
ção a eles de traços próprios do ser humano. Quais são mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não
os dois entes abstratos que passam por tal processo? podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua
Justifique sua resposta. Como se denomina tal figura fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria
de retórica? consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no absurdo e
221
21. Mackenzie-SP 2013 Assinale a alternativa correta. 24. Unifesp 2016 O que primeiro chama a atenção do
a) Areferência às “crônicas da vila de Itaguaí” (linha 1), crítico na ficção deste escritor é a despreocupação
como documento de que se extraiu o relato, prova com as modas dominantes e o aparente arcaísmo da
que o conto resultou de um fato verídico. técnica. Num momento em que Gustave Flaubert siste-
b) A informação de que D. Evarista não era bonita matizara a teoria do “romance que narra a si próprio”,
nem simpática (linha 7) corrobora a hipótese de apagando o narrador atrás da objetividade da narra-
que “estava assim apta para dar-lhe filhos robus- tiva; num momento em que Émile Zola preconizava
tos, sãos e inteligentes” (linhas 13 e 14). o inventário maciço da realidade, observada nos me-
c) A frase “D. Evarista mentiu às esperanças do nores detalhes, ele cultivou livremente o elíptico, o
Dr. Bacamarte” (linha 15) insinua que a mulher, incompleto, o fragmentário, intervindo na narrativa
embora sabendo de sua infertilidade, nada revelou com bisbilhotice saborosa.
ao marido. A sua técnica consiste essencialmente em sugerir as
d) Arazão pela qual o médico intencionava casar-se
coisas mais tremendas da maneira mais cândida (como os
ironistas do século XVIII); ou em estabelecer um contraste
era a possibilidade de procriar, já que avaliava
entre a normalidade social dos fatos e a sua anormalidade
positivamente o fato de a mulher reunir “con-
essencial; ou em sugerir, sob aparência do contrário, que
dições fisiológicas e anatômicas de primeira
o ato excepcional é normal, e anormal seria o ato corri-
ordem” (linhas 10 e 11).
queiro. Aí está o motivo da sua modernidade, apesar do
e) Otio do Dr. Simão posicionou-se contra o casa-
seu arcaísmo de superfície.
mento, exclusivamente pelo fato de D. Evarista não Antonio Candido. Vários escritos, 2004. Adaptado.
ter aqueles atributos femininos que tanto aprecia-
va, OU seja, não ser “bonita nem simpática” (linha 7). O comentário do crítico Antonio Candido refere-se ao
escritor
22. Mackenzie-SP 2013 Com base no texto, considere as a) Machado de Assis.
seguintes afirmações sobre Machado de Assis: b) José de Alencar.
l. Embora pertença ao Realismo, produziu tam- c) Manuel Antônio de Almeida.
bém, na juventude, obras naturalistas, como, por d) Aluísio Azevedo.
exemplo, “O alienista”, conto em que valoriza o e) Euclides da Cunha
cientificismo da época.
H. Posicionou-se criticamente com relação aos valo- 25. ITA-SP 2015 Em Dom Casmurro, de Machado de Assis,
res de seu tempo, questionando a supremacia da Bentinho toma alguns episódios como evidências da
perspectiva científica vigente na segunda metade traição de Capitu, entre os quais NÃO consta
do século XIX. a) a impressionante semelhança entre Ezequiel, tanto
HI. A concepção irônica da vida já se revela no criança como adulto, e Escobar.
fragmento lido, na medida em que se frustra a con- b) o encontro dele com Escobar na porta de sua
fiança na avaliação científica do biótipo da mulher. casa, quando retorna mais cedo do teatro.
Assinale: c) o fato de Dona Glória, a mãe dele, começar a
a) se as afirmações |, Il e Ill estiverem corretas. mostrar-se fria com a nora e com o neto.
b) se apenas as afirmações | e Il estiverem corretas. d) a emoção de Capitu no velório de Escobar, quando
c) se apenas as afirmações Il e Ill estiverem corretas. ela tenta em vão disfarçar o choro.
d) se apenas as afirmações | e Ill estiverem corretas. e) a cena em que ele a vê escrevendo uma carta a
e) se as afirmações |, Il e Ill estiverem incorretas. Escobar, mas ela diz que está fazendo contas.
23. Fuvest-SP 2016 Nesse livro, ousadamente, varriam-se de 26. PUC-PR Leia o capítulo IV de Dom Casmurro, de
um golpe o sentimentalismo superficial, a fictícia unidade Machado de Assis, transcrito integralmente a seguir:
da pessoa humana, as frases piegas, o receio de chocar José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar
preconceitos, a concepção do predomínio do amor so- feição monumental às ideias; não as havendo, servia a
bre todas as outras paixões; afirmava-se a possibilidade prolongar as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão,
de construir um grande livro sem recorrer à natureza, que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede,
desdenhava-se a cor local; surgiram afinal homens e mu- e vi-o passar com as suas calças brancas engomadas. A
lheres, e não brasileiros (no sentido pitoresco) ou gaúchos, gravata de cetim preto, com um arco de aço por dentro,
ou nortistas, e, finalmente, mas não menos importante,
imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque
patenteava-se a influência inglesa em lugar da francesa.
de chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de
Lúcia Miguel-Pereira, História da Literatura Brasileira — Prosa de ficção —
de 1870 a 1920. Adaptado. cerimônia. Era magro, chupado, com um princípio
de calva; teria os seus cinquenta e cinco anos. Levantou-
O livro a que se refere a autora é -se com o passo vagaroso do costume, não aquele vagar
a) Memórias de um sargento de milícias. arrastado se era dos preguiçosos, mas um vagar calculado
b) Til. e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes
c) Memórias póstumas de Brás Cubas. da consequência, a consequência antes da conclusão.
d) Ocortiço. Um dever amaríssimo!
e) A cidade e as serras. ASSIS, Machado de. Dom Casmurro.
223
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação d) começava a vê-la como uma mulher comum, sem
exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de atrativos especiais, como demonstra o trecho: eu
Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra nada achei extraordinário...
da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. e) deixava de vê-la como uma mulher enigmática,
Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia como está sugerido em: Olhos de ressaca? Vá, de
daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova.
e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a
vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. 32. Fuvest-SP 2021 Rubião fitava a enseada, — eram oito
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. horas da manhã. Quem o visse, com os polegares meti-
dos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa
29. Unifesp Considere as afirmações sobre o que diz o
de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de
narrador do texto de Sabino: água quieta; mas em verdade vos digo que pensava em
Il O mistério a que ele se refere decorre de uma outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era,
narrativa ambígua, na qual há uma constante os- há um ano? Professor. Que é agora! Capitalista. Olha
cilação entre a possibilidade — ou não — de Capitu para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe
ter cometido o adultério. deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o
Il. No romance a que ele se refere, o triângulo amoro- jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e
so é formado por Capitu, Escobar e Quincas Borba. tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma
l. Asua frase final denuncia-o convicto de que Capitu sensação de propriedade.
não traiu o marido. — Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas,
Está correto o que se afirma apenas em: pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba,
a) |. d) lelll. apenas me daria uma esperança colateral. Não casou;
b) II. e) Ilelll. ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que
c) lell. o que parecia uma desgraça...
Machado de Assis, Quincas Borba.
30. Unifesp No texto de Sabino, o narrador questiona a
O primeiro capítulo de Quincas Borba já apresenta ao
traição de Capitu. Lendo o texto de Machado, pode-se
leitor um elemento que será fundamental na construção
entender que esse questionamento decorre de
do romance:
a) os fatos serem narrados pela visão de uma perso-
a) a contemplação das paisagens naturais, como se lê
nagem, no caso, o narrador em primeira pessoa,
em “ele admirava aquele pedaço de água quieta”,
que fornece ao leitor o perfil psicológico de Capitu.
b) a presença de um narrador-personagem, como
b) a personagem ser vista por José Dias como oblí-
se lê em “em verdade vos digo que pensava em
qua e dissimulada, o que gerou mal-estar no
outra coisa”.
apaixonado de Capitu, deixando de vê-la como
c) a sobriedade do protagonista ao avaliar o seu
uma mulher de encantos.
percurso, como se lê em “Cotejava o passado
c) a apresentação da personagem Capitu ser feita
com o presente”.
no romance de maneira muito objetiva, sem ex-
d) osentido místico e fatalista que rege os destinos,
pressão dos sentimentos que a vinculavam ao
como se lê em “Deus escreve direito por linhas
homem que a amava.
tortas”.
d) os aspectos psicológicos de Capitu serem apre-
e) areversibilidade entre o cômico e o trágico, como se
sentados apenas pelos comentários de José Dias,
lê em “de modo que o que parecia uma desgraça..”.
o que torna a sua caracterização muito subjetiva.
e) o amado de Capitu não conseguir enxergar nela 33. Fuvest-SP 2021 Leia o texto para responder à questão.
características mais precisas e menos misteriosas, O Nessa mesma noite, leu-lhe o artigo em que advertia
que o faz descrevê-la de forma bastante idealizada. o partido da conveniência de não ceder às perfídias do
poder, apoiando em algumas províncias certa gente cor-
31. Unifesp Para o narrador, os olhos de Capitu eram
rupta e sem valor. Eis aqui a conclusão:
olhos de ressaca, como a vaga que se retira da praia,
“Os partidos devem ser unidos e disciplinados. Há
nos dias de ressaca. Entende-se, então, que ele
quem pretenda (mirabile dictu!*) que essa disciplina e
a) começava a nutrir sentimento de repulsa em re-
união não podem ir ao ponto de rejeitar os benefícios
lação a ela, como está sugerido em [seus olhos] que caem das mãos dos adversários. Risum teneatis!**
entrassem a ficar crescidos, crescidos e som- Quem pode proferir tal blasfêmia sem que lhe tremam as
brios, com tal expressão que... carnes? Mas suponhamos que assim seja, que a oposição
b) se sentia fortemente atraído por ela, como possa, uma ou outra vez, fechar os olhos aos desmandos
comprova o trecho: Traziam não sei que fluido do governo, à postergação das leis, aos excessos da au-
misterioso e enérgico, uma força que arrastava toridade, à perversidade e aos sofismas. Quid inde?***
para dentro... Tais casos, — aliás, raros, — só podiam ser admitidos
c) passou a desconfiar da sinceridade dela, como quando favorecessem os elementos bons, não os maus.
está exposto em: mas dissimulada sabia, e queria Cada partido tem os seus díscolos e sicofantas. É inte-
ver se se podiam chamar assim. resse dos nossos adversários ver-nos afrouxar, a troco
225
Ill. O enredo é situado no tempo do Brasil colônia, o que 40. Fuvest-SP 2015 (Adapt.) A uma religiosidade de su-
se revela desde a abertura, com a informação sobre perfície, menos atenta ao sentido íntimo das cerimônias
os fatos relatados terem ocorrido no tempo do rei. do que ao colorido e à pompa exterior, quase carnal em
IV. Rubião e o casal Sofia e Cristiano Palha consti- seu apego ao concreto [...]; transigente e, por isso mes-
tuem o triângulo amoroso em torno do qual giram mo, pronta a acordos, ninguém pediria, certamente, que
os acontecimentos do romance. O confronto de se elevasse a produzir qualquer moral social poderosa.
emoções entre a paixão de Rubião e os ciúmes Religiosidade que se perdia e se confundia num mundo
de Palha determina o desenlace. sem forma e que, por isso mesmo, não tinha forças para
Assinale a alternativa correta. lhe impor sua ordem.
a) Apenas as afirmativas | e Il são verdadeiras. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. (Adapt.).
b) Apenas as afirmativas |, Il e Ill são verdadeiras. Tendo em vista essas reflexões de Sérgio Buarque de
c) Apenas as afirmativas Ile Ill são verdadeiras. Holanda a respeito do sentido da religião na formação
d) Apenas as afirmativas Il, Ille IV são verdadeiras. do Brasil, responda ao que se pede.
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.
Os juízos aqui expressos por Sérgio Buarque de Holanda
38. encontram exemplificação em Memórias póstumas de
Brás Cubas, de Machado de Assis, especialmente na
Capítulo III parte em que se narra o período de formação do me-
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, nino Brás Cubas? Justifique sucintamente.
enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando
a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os 41. Fuvest-SP Meses depois fui para o seminário de S. José.
metais que amava de coração; não gostava de bronze, mas Se eu pudesse contar as lágrimas que chorei na véspera
o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se e na manhã, somaria mais que todas as vertidas desde
explica este par de figuras que esta aqui na sala: um Mefis- Adão e Eva. Há nisto alguma exageração; mas é bom ser
tófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria enfático, uma ou outra vez, para compensar este escrú-
a bandeja — primor de argentaria, execução fina e acabada. pulo de exatidão que me aflige.
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro.
O criado esperava teso e sério. Era espanhol; e não foi sem
resistência que Rubião o aceitou das mãos de Cristiano; por Considerando-se o contexto desse romance de
mais que lhe dissesse que estava acostumado aos seus criou- Machado de Assis, pode-se afirmar corretamente que,
los de Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o no trecho apresentado, ao comentar o próprio estilo,
amigo Palha insistiu, demonstrando-lhe a necessidade de o narrador procura:
ter criados brancos. Rubião cedeu com pena. O seu bom a) afiançar a credibilidade do ponto de vista que lhe
pajem, que ele queria pôr na sala, como um pedaço da
interessa sustentar.
província, nem pôde deixar na cozinha, onde reinava um
b) provocar o leitor, ao declará-lo incapaz de com-
francês, Jean; foi degradado a outros serviços.
preender o enredo do livro.
ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. v. 1. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1993 (fragmento). c) demonstrar que os assuntos do livro são mero
pretexto para a prática da metalinguagem.
Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor d) revelar sua adesão aos padrões literários estabe-
e da literatura brasileira. No fragmento apresentado, a
lecidos pelo Romantismo.
peculiaridade do texto que garante a universalização
e) conferir autoridade à narrativa, ao basear sua ar-
de sua abordagem reside
gumentação na história sagrada.
a) no conflito entre o passado pobre e o presente
rico, que simboliza o triunfo da aparência sobre 42. Unicamp-SP Os trechos a seguir foram extraídos de
a essência. Dom Casmurro, de Machado de Assis.
b) no sentimento de nostalgia do passado devido
à substituição da mão de obra escrava pela dos Trecho |
imigrantes. Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini,
c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que repre- não só pela verossimilhança, que é muita vez toda a
sentam o desejo de eternização de Rubião. verdade, mas porque a minha vida se casa bem à defi-
d) na admiração dos metais por parte de Rubião, nição. Cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois
que metaforicamente representam a durabilidade um quatuor...
dos bens produzidos pelo trabalho. ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Cotia:
Ateliê Editorial, 2008. p. 213.
e) na resistência de Rubião aos criados estrangei-
ros, que reproduz o sentimento de xenofobia.
Trecho Il
39. Fuvest-SP 2015 (Adapt.) Qual é a relação entre o “sis- Nada se emenda bem nos livros confusos, mas tudo
tema de filosofia” do “Humanitismo”, tal como figurado se pode meter nos livros omissos. Eu, quando leio algum
nas Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado desta outra casta, não me aflijo nunca. O que faço, em
de Assis, e as correntes de pensamento filosófico e chegando ao fim, é cerrar os olhos e evocar todas as cou-
científico presentes no contexto histórico-cultural em sas que não achei nele. Quantas ideias finas me acodem
que essa obra foi escrita? Explique resumidamente. então! Que de reflexões profundas! Os rios, as montanhas,
227
Nas primeiras versões das Memórias póstumas de Brás Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa,
Cubas, constava, no final do capítulo LXXI, aqui repro- na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um
duzido, o seguinte trecho, posteriormente suprimido Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti
pelo autor: algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de
finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da
[... Heis de cair.] Turvo é o ar que respirais, amadas melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair
folhas. O Sol que vos alumia, com ser de toda a gente, desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro
é umSolopacoereles de... e umas aparências de puro romance, ao passo que a gente
frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica
As duas palavras que aparecem no final desse trecho,
privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que
no lugar dos espaços pontilhados, podem servir para
são as duas colunas máximas da opinião.
qualificar, de modo figurado, a mescla de tonalidades Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião,
estilísticas que caracteriza o capítulo e o próprio li- e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo.
vro. Preenchem de modo mais adequado as lacunas O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que
as palavras as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemen-
a) acaso e invernia. te, evito contar o processo extraordinário que empreguei
b) finados e ritual. na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro
c) senzala e cabaré. mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás des-
d) cemitério e carnaval. necessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é
e) eclipse e cerração. tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não
agradar, pago-te com um piparote, e adeus.
46. Fuvest-SP 2014 No breve “Prólogo da 3º edição” das Brás Cubas
Memórias póstumas de Brás Cubas, assinado pelo
O texto acima é do romance Memórias póstumas de
autor, Machado de Assis, constava o seguinte trecho:
Brás Cubas, escrito por Machado de Assis, e se intitula
Capistrano de Abreu, noticiando a publicação do livro, “Ao Leitor”. Revela a percepção do narrador de que
perguntava: “As Memórias póstumas de Brás Cubas são um a) terá o mesmo número de leitores que Stendhal
romance?” Macedo Soares, em carta que me escreveu por e por isso propõe-se a explicitar o processo de
esse tempo, recordava amigamente as Viagens na minha
composição da obra.
terra. Ao primeiro respondia já o defunto Brás Cubas (como
b) não conseguiu seguir o modelo livre de Sterne e
o leitor viu e verá no prólogo dele que vai adiante) que sim e
Xavier de Maistre, pois colocou na obra algumas
que não, que era romance para uns e não o era para outros.
rabugens de pessimismo.
Quanto ao segundo, assim se explicou o finado: “Trata-se
c) terá a acolhida tanto da gente grave quanto da
de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a
forma livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não
gente frívola, que são as duas colunas máximas
sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo”. Toda essa da opinião.
gente viajou: Xavier de Maistre à roda do quarto, Garrett d) tem consciência das fragilidades do texto, porque
na terra dele, Sterne na terra dos outros. De Brás Cubas se é uma obra de finado e escrita com a pena da
pode talvez dizer que viajou à roda da vida. galhofa e a tinta da melancolia.
O que faz do meu Brás Cubas um autor particular é o e) dirige-se ao leitor e sabe da qualidade que a obra
que ele chama “rabugens de pessimismo”. Há na alma deste em si mesma tem, independentemente da opi-
livro, por mais risonho que pareça, um sentimento amargo nião favorável ou não que ele possa ter.
e áspero, que está longe de vir dos seus modelos. É taça
que pode ter lavores de igual escola, mas leva outro vinho. 48. PUC-SP 2017 Não acabarei, porém, o capítulo, sem dizer
que vi morrer no hospital da Ordem, adivinhem quem?....
Machado de Assis.
a linda Marcela; e vi-a morrer no mesmo dia em que, visi-
Considerando esse trecho no contexto da obra à qual tando um cortiço, para distribuir esmolas, achei... Agora
se incorpora, atenda ao que se pede. é que não são capazes de adivinhar... achei a flor da
a) Identifique um aspecto das Memórias póstumas de moita, Eugênia, a filha de Dona Eusébia e do Vilaça, tão
Brás Cubas capaz de ter suscitado a dúvida expressa coxa como a deixara, e ainda mais triste.
por Capistrano de Abreu. Explique resumidamente. O trecho acima é do romance Memórias Póstumas de
b) Em que consistem os “lavores de igual escola”, a Brás Cubas, de Machado de Assis, e refere persona-
que se refere o autor, no final do trecho? Explique gens que tiveram relacionamentos amorosos na vida
sucintamente. do narrador. Assim, indique a alternativa correta sobre
47. PUC-SP 2014 tais relacionamentos.
a) Marcela fora, na adolescência, a protagonista de
Ao Leitor um amor tumultuado com Brás Cubas, mas inter-
Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus rompido pelo pai furioso que o envia a Coimbra
livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. para estudar Direito.
O que não admira nem provavelmente consternará é se b) Ambas exerceram grande poder de sedução so-
este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, bre Brás Cubas, mas foram preteridas por Virgília,
nem cinquenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? com quem Brás acabou se casando.
49. FICSAE-SP 2016 Um dos capítulos do romance 51. Unifesp 2015 O crítico Massaud Moisés assinala o fi-
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado losofismo como uma das características de Memórias
de Assis, denomina-se O Humanitismo. Partilha da póstumas de Brás Cubas, romance que inaugura a
grande sátira que constitui a obra e se torna um “non- produção madura de Machado de Assis. Tal filosofis-
sense” das memórias nela apresentadas. — Assim, a mo pode ser identificado na passagem:
respeito do Humanitismo, de acordo com o romance, a) “O fundador da minha família foi um certo Damião
é INCORRETO afirmar que Cubas, que floresceu na primeira metade do sé-
a) é umateoria que, criada por Brás Cubas e difundida culo XVIII. Era tanoeiro de ofício, natural do Rio de
por Quincas Borba, apoia-se no princípio de humani- Janeiro, onde teria morrido na penúria e na obs-
tas que, segundo seu autor, rege as condicionantes curidade, se somente exercesse a tanoaria.”
da vida e da morte, não obstante revigorar o sinto- b) “Entre o queijo e o café, demonstrou-me Quincas
ma da hipocondria e exaltar a existência da dor. Borba que o seu sistema era a destruição da dor.
b) é uma teoria, espécie de mescla bufa de pensa- A dor, segundo o Humanitismo, é uma pura ilusão.
mentos filosóficos que vão da tradição grega até Quando a criança é ameaçada por um pau, antes
o século XIX, utilizada por Machado de Assis para mesmo de ter sido espancada, fecha os olhos e
fazer caricatura do Positivismo e do Evolucionismo, treme; essa predisposição, é que constitui a base
teorias científicas e filosóficas em voga na época. da ilusão humana, herdada e transmitida.”
c) é uma doutrina de valorização da vida, defendida c) “Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma
por um mendigo que acaba seus dias em plena sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha
loucura, caracterizando, essa situação, forte ironia bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessen-
como marca estruturante desta obra machadiana. ta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro,
d) é uma teoria que convém a Brás Cubas para jus- possuía cerca de trezentos contos e fui acompa-
tificar a vacuidade de sua existência e dar a ele nhado ao cemitério por onze amigos.”
uma ilusão da descoberta de um sentido para sua d) “Não houve nada, mas ele suspeita alguma coisa;
vida e pela qual ele acaba se orientando. está muito sério e não fala; agora saiu. Sorriu uma
50. FICSAE-SP 2017 vez somente, para Nhonhô, depois de o fitar muito
tempo, carrancudo. Não me tratou mal nem bem.
Uma reflexão imoral Não sei o que vai acontecer; Deus queira que isto
Ocorre-me uma reflexão imoral, que é ao mesmo tem- passe. Muita cautela, por ora, muita cautela.”
po uma correção de estilo. Cuido haver dito, no capítulo 14, e) “Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma
que Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, escrava, porque me negara uma colher do doce
vivia. Viver não é a mesma coisa que morrer; assim o afir- de coco que estava fazendo, e, não contente com
mam todos os joalheiros desse mundo, gente muito vista na o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho,
gramática. Bons joalheiros, que seria do amor se não fossem e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha
os vossos dixes e fiados? Um terço ou um quinto do univer- mãe que a escrava é que estragara o doce 'por
sal comércio dos corações. Esta é a reflexão imoral que eu pirraça”; e eu tinha apenas seis anos.”
pretendia fazer, a qual é ainda mais obscura do que imo-
ral, porque não se entende bem o que eu quero dizer. 52. ITA-SP 2017 Sobre Memórias póstumas de Brás
O que eu quero dizer é que a mais bela testa do mundo Cubas, de Machado de Assis, é INCORRETO afirmar
não fica menos bela, se a cingir um diadema de pedras que o protagonista
finas; nem menos bela, nem menos amada. Marcela, por a) destaca, no período de sua adolescência, a paixão
exemplo, que era bem bonita, Marcela amou-me... [...] por Marcela.
Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos b) se mostra melancólico no negativo balanço final a
de réis; nada menos. (a
de suas lembranças. [um
4
Do texto em pauta, integrante do romance Memórias c) relata com franqueza e sem autocomplacência as uW
fo
Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, É experiências que viveu. o
229
53. Unicamp-SP 2020 Resumindo seus pensamentos de IH. A crônica apresenta um chamado para que mulhe-
vencido, Francisco Teodoro disse alto, num suspiro: res de atuação pública — espaço majoritariamente
— Trabalhei, trabalhei, trabalhei, e aqui estou como masculino — mantenham características convencio-
Jó! [...] nadas como femininas, em especial no vestuário.
— Como Jó! Repetiu ele furioso, arrancando as barbas HI. A autora, ao falar do vestuário feminino, está tra-
e unhando as faces. Não lhe bastava o arrependimento, a tando também de meio, raça e gênero, temas
dor moral, queria o castigo físico, a maceração da carne, estruturantes do debate literário no final do sécu-
para completa punição da sua inépcia. lo XIX, início do XX.
Não saber guardar a felicidade, depois de ter sabido Quais estão corretas?
adquiri-la, é sinal de loucura. Ele era um doido? Sim, ele a) Apenas ll. d) Apenasle Ill.
era um doido. Tal qual o avô. Riu alto; ele era um doido!
b) Apenas ll. e) Llle Il.
Júlia Lopes de Almeida. A Falência. Campinas: Editora da Unicamp,
2018, p. 296.) c) Apenaslell.
a) O protagonista de 4 Falência encarna um tipo re- 55. UFPR 2020 Ao mesmo tempo em que narram fatos,
presentativo da sociedade brasileira do século XIX. os narradores de Casa de Pensão e Clara dos Anjos
Aponte quatro características desse tipo social também assumem postura intrusa e opinativa: eles in-
constatadas na trajetória de Francisco Teodoro. terrompem a narração de acontecimentos e inserem
b) No excerto acima, o narrador se detém no momento seus comentários e opiniões, apresentando análises
em que o protagonista, atormentado, revê sua traje- sociológicas ou psicológicas de acontecimentos, am-
tória e se recorda do avô. Caracterize a voz narrativa bientes e personagens. Nas alternativas abaixo, foram
nesse excerto e explique seu funcionamento. transcritos trechos dos dois romances. Assinale a
alternativa em que se observa tal atitude intrusa e opi-
54. UFRGS 2018 Leia o trecho da crônica O vestuário nativa do narrador no romance de Aluísio Azevedo.
feminino, de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). a) “Por outro lado, as mulatas folgavam em tê-lo perto
É uma esquisitice muito comum entre senhoras inte- de si, achavam-no vivo e atilado, provocavam-lhe
lectuais, envergarem paletó, colete e colarinho de homem, ditos de graça, mexiam com ele, faziam-lhe per-
ao apresentarem-se em público, procurando confundir-se, guntas maliciosas, só para 'ver o que o demônio
no aspecto físico, com os homens, como se lhes não bas- do menino respondia”. E logo que Amâncio dava
tassem as aproximações igualitárias do espírito. a réplica, piscando os olhos e mostrando a ponta
Esse desdém da mulher pela mulher faz pensar que: da língua, caíam todas num ataque de riso, a olha-
ou as doutoras julgam, como os homens, que a mentali- rem umas para as outras com intenção.”
dade da mulher é inferior, e que, sendo elas exceção da b) “Muita vez chorou de ternura, mas sempre às es-
grande regra, pertencem mais ao sexo forte, do que do condidas; muita vez sentiu o coração saltar para
nosso, fragílimo; ou que isso revela apenas pretensão de o filho, mas sempre se conteve, receoso de cair
despretensão. no ridículo./ E não se lembrava, o imprudente, de
Seja o que for, nem a moral nem a estética ganham que o amor de pai é bem ao contrário do amor
nada com isso. Ao contrário; se uma mulher triunfa da má de filho; não se lembrava de que aquele nasce e
vontade dos homens e das leis, dos preconceitos do meio subsiste por si e que este precisa ser criado; que
e da raça, todas as vezes que for chamada ao seu posto aquele é um princípio e que este é uma consequên-
de trabalho, com tanta dor, tanta esperança, e tanto susto cia; que um vem de dentro para fora e que o outro
adquirido, deve ufanar-se em apresentar-se como mulher. vem de fora para dentro.”
Seria isso um desafio? c) “O seu ideal na vida não era adquirir uma personali-
Não; naturalíssimo pareceria a toda a gente que uma dade, não era ser ela, mesmo ao lado do pai ou do
mulher se apresentasse em público como todas as outras. futuro marido. Era constituir função do pai, enquanto
[...] solteira, e do marido, quando casada. Não imagi-
Os colarinhos engomados, as camisas de peito chato, nava as catástrofes imprevistas da vida, que nos
dão às mulheres uma linha pouco sinuosa, e contrafeita, empurram, às vezes, para onde nunca sonhamos ter
porque é disfarçada. [...] de parar. Não via que, adquirida uma pequena pro-
Nas cidades, sobre o asfalto das ruas ou o saibro das fissão honesta e digna do seu sexo, auxiliaria seus
alamedas, não sabe a gente verdadeiramente para que ra- pais e seu marido, quando casada fosse”
zão apelar, quando vê, cingidas a corpos femininos, essas d) “A casa da família do famoso violeiro não ficava
toilettes híbridas, compostas de saias de mulher, coletes e nas ruas fronteiras à gare da Central; mas, numa
paletós de homem... Nem tampouco é fácil de perceber o transversal, cuidada, limpa e calçada a paralelepí-
motivo por que, em vez da fita macia, preferem essas se- pedos. Nos subúrbios, há disso: ao lado de uma
nhoras especar o pescoço num colarinho lustrado a ferro, rua, quase oculta em seu cerrado matagal, topa-se
e duro como um papelão! uma catita, de ar urbano inteiramente. Indaga-se
Considere as seguintes afirmações sobre o trecho. por que tal via pública mereceu tantos cuidados
l. A crônica, publicada em 1906, registra as exi- da edilidade, e os historiógrafos locais explicam:
gências que uma sociedade patriarcal impõe a é porque nela, há anos, morou o deputado tal ou
mulheres que circulam no âmbito público. o ministro sicrano ou o intendente fulano.”
231
Fez-se necessário uma Literatura condizente com A sequência correta de preenchimento dos parênteses,
o real e, para tanto, a zoomorfização de personagens de cima para baixo, é
foi utilizada com maior ênfase. Paralelo ao Realismo, a) V>-V-F—-F
o Naturalismo é o momento em que mais se verifica b) V>V>V>V.
este fenômeno. (Uesla Lima Soares, O Animal Humano: e) V-F-F-V.
Os paradigmas da zoomorfização social e sua repre- d) F-F-F-V.
sentação literária, Anais do Festival Literário de Paulo
e) V-V-V-F
Afonso, 2017).
[O zoomorfismo] ocorre quando “o que é próprio 60. Famerp-SP 2017 Leia o trecho do romance O cortiço,
do homem se estende ao animal e permite, por simetria, de Aluísio Azevedo, para responder à questão.
que o que é próprio do animal se estenda ao homem.” Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de
(Antonio Cândido, De Cortiço a Cortiço, Novos Estudos CEBRAP, 1991).
um ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e socada,
Considere as seguintes afirmações: de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre
l. A zoomorfização se opôs frontalmente às idea- suas vizinhas.
lizações românticas, sendo uma característica Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a
exclusiva do Naturalismo. quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela dis-
IH. Segundo Antonio Candido, não é possível haver punha para benzer erisipelas e cortar febres por meio de
distinção entre ser humano e animal, no sentido rezas e feitiçarias. Era extremamente feia, grossa, triste, com
de que um cede característica ao outro e vice-versa. olhos desvairados, dentes cortados à navalha, formando
Hi. A definição de Antonio Candido sobre zoomor- ponta, como dentes de cão, cabelos lisos, escorridos e ainda
fismo é construída por meio de um processo retintos apesar da idade. Chamavam-lhe “Bruxa”. Depois
seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda. A primei-
chamado quiasmo.
ra, mulata antiga, muito séria e asseada em exagero: a sua
A respeito de tais afirmações, deve-se dizer que:
casa estava sempre úmida das consecutivas lavagens. Em lhe
a) somente | está correta.
apanhando o mau humor punha-se logo a espanar, a varrer
b) somente Il está correta.
febrilmente, e, quando a raiva era grande, corria a buscar
c) somente Ill está correta.
um balde de água e descarregava-o com fúria pelo chão
d) somente le Il estão corretas.
da sala. A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno
e) somente le Ill estão corretas.
quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos
59. UFRGS 2017 Leia o segmento abaixo, do terceiro ca- de macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas sustentava
pítulo de O cortiço, de Aluísio Azevedo. ainda a sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus
Padre, aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum cres-
a troco de pequenas concessões na medida e no peso das
cente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas.
compras que Florinda fazia diariamente à venda.
[...] O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos
O cortiço, 2007.
os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes disper-
sas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Uma relação correta entre o trecho apresentado e o
Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se movimento literário em que O cortiço está inserido é:
discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já a) a referência cuidadosa e delicada à sexualidade
se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação das personagens é parte de um esforço, típico do
sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que Realismo, para apresentar o ser humano em sua to-
mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da talidade sem sobrecarregar um de seus aspectos.
vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de b) a caracterização das personagens como indiví-
respirar sobre a terra. duos únicos e isolados da coletividade, deixando
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes em segundo plano suas relações sociais, é um
afirmações sobre o segmento. traço típico do Naturalismo.
O segmento apresenta a descrição do cortiço c) a preferência das personagens pela razão e seu
sem destacar um personagem, com ênfase na desprezo pela fé, em uma estratégia para valo-
coletividade para ações triviais de homens, mu- rizar a ciência e a objetividade e desvalorizar a
lheres e crianças. religião, são características do Realismo.
O despertar, matéria cotidiana, é figurado como d) a valorização da vida perto da natureza, com per-
fato rotineiro de pessoas executando seus hábitos sonagens que abrem mão dos métodos e dos
higiênicos matinais. objetos frutos da tecnologia para se ligarem à
A linguagem do narrador, preocupado em mostrar tranquilidade de uma vida sem máquinas, é uma
a dimensão natural presente nas ações humanas, característica do Naturalismo.
evidencia-se em expressões como “prazer animal e) a descrição das características vulgares das per-
de existir”. sonagens e a frequente associação entre homens
O objetivo, nesse segmento, é apresentar o cortiço e e animais, que ajudam a estabelecer uma con-
a venda como empreendimentos comerciais usa- cepção biológica do mundo, são características do
dos no enriquecimento de João Romão. Naturalismo.
62. Fuvest-SP 2018 O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes
dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se*
discussões e rezingas**; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguí-
nea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer
animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas; fazendo compras.
Duas janelas do Miranda abriram-se. Apareceu numa a Isaura, que se dispunha a começar a limpeza da casa.
— Nhá Dunga! gritou ela para baixo, a sacudir um pano de mesa; se você tem cuscuz de milho hoje, bata na porta, ouviu?
Aluísio Azevedo, O cortiço.
O mulato
Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática do Sotero dos Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos de francês e
tocava modinhas sentimentais ao violão e ao piano. Não era estúpida; tinha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito,
e por vezes lamentara não ser mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha; bordava como poucas, e dispunha de
uma gargantazinha de contralto que fazia gosto de ouvir.
Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa
nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias.
— Mulato!
Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele.
Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; as reticências dos que lhe falavam de seus antepassados; a reserva
e a cautela dos que, em sua presença, discutiam questões de raça e de sangue.
AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996 (fragmento).
a
uu
O texto de Aluísio Azevedo é representativo do Naturalismo, vigente no final do século XIX. Nesse fragmento, o nar- [=
4
rador expressa fidelidade ao discurso naturalista, pois uu
[e4
To
a) relaciona a posição social a padrões de comportamento e à condição de raça.
b) apresenta os homens e as mulheres melhores do que eram no século XIX.
c) mostra a pouca cultura feminina e a distribuição de saberes entre homens e mulheres.
d) ilustra os diferentes modos que um indivíduo tinha de ascender socialmente.
e) critica a educação oferecida às mulheres e os maus-tratos dispensados aos negros.
233
BNCC em foco ia
!. Considere o trecho e seus conhecimentos do conto de Machado de Assis, A desejada das gentes, para responder
à próxima questão.
— Casou com o senhor, aposto?
— Não me relembre essa triste cerimônia; ou antes, deixe-me relembrá-la, porque me traz algum alento do passado. Não
aceitou recusas nem pedidos meus; casou comigo à beira da morte. Foi no dia 18 de abril de 1859. Passei os últimos dois dias,
até 20 de abril ao pé da minha noiva moribunda, e abracei-a pela primeira vez feita cadáver.
— Tudo isso é bem esquisito.
— Não sei o que dirá a sua fisiologia. A minha, que é de profano, crê que aquela moça tinha ao casamento uma aversão
puramente física. Casou meio defunta, às portas do nada. Chame-lhe monstro, se quer, mas acrescente divino.
ASSIS, Machado de. A desejada das gentes. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua0001 83.pdf. Acesso em: 12 nov. 2022.
No conto de Machado de Assis, a personagem Quintília é alvo de desejo de diversos rapazes, porém é inacessível,
uma vez que se recusa a casar. No entanto, diante da doença que a levaria à morte, a moça realiza o desejo do Con-
selheiro, casando-se com ele “meio defunta”. A decisão de Quintília permite concluir que
Il. A concepção machadiana de desejo está intrinsecamente associada à vaidade humana, logo, diante da morte,
não importa mais a Quintília as recusas que faz ao casamento.
H. A apreensão do objeto de desejo só é possível quando não há mais interesse daquele que deseja, o que se
explica pela frase final do Conselheiro.
HI. A certeza da felicidade no matrimônio é a razão do pedido de casamento aceito por Quintília, uma vez que era seu
desejo mais profundo na juventude.
IV. A vontade narcísica de ser desejado impede ao Conselheiro de enxergar a nulidade do casamento com uma
moça prestes a morrer.
São corretas apenas:
a) |.
b) lell.
c) IllelV.
d) Il.
e) lelV.
Considerando a análise de Alfredo Bosi e o enredo de O Ateneu, a qual corrente científica do século XIX é possível
associar o romance?
| EM13LPO1 e EMI3LP4
Leia o trecho do romance A falência, de Júlia Lopes de Almeida, para responder à questão.
Olhou com desprezo para o seu belo corpo de mulher ardente. Era um despojo, de que valia? Lembrou-se com terror das
filhas, aquelas crianças nascidas dela, predestinadas para o Sofrimento. Caminhariam alegremente para o Amor, e o Amor
só lhes daria decepção e miséria. Numa angústia, Camila interrogou com olhar ansioso a treva muda: Senhor, que haveria
no mundo para salvação das almas doloridas?! Alguma coisa falou-lhe no ar, em um rasgo de poesia, que subia as estrelas:
a música de Ruth. A essência da lágrima purificava-se no som, com um poder de infinita pacificação. Então a viúva teve
inveja da filha, daquele ideal puríssimo, que não lhe traria nunca o travo de um desengano. A arte a consolaria do homem,
pensou, quando chegasse o dia de o amar e de o servir...
ALMEIDA, Júlia Lopes de. A falência. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 322.
No trecho, a personagem Camila reflete sobre sua vida, sua relação com Dr. Gervásio e a maneira que ele a enganou.
De que maneira a visão da personagem sobre o amor se relaciona com o Realismo? Que saída ela enxerga para a
mulher nesse cenário?
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Zoran Karapancev/Shutterstock.co
[...]
Depois de Teófilo Dias, cujas Fanfarras, de 1882, podem
chamar-se, de direito, o nosso primeiro livro parnasiano, a
corrente terá mestres seguros em Alberto de Oliveira, Raimundo
Correia, Olavo Bilac, Francisca Júlia. Renovada pelo forte li-
rismo de Vicente de Carvalho, ela perduraria tenazmente até
o segundo decênio do século XX [...]
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2. ed.
São Paulo: Cultrix, 1975 p. 246.
Profissão de Fé
Le poête est ciseleur,
Le ciseleur est poête.
VICTOR HUGO
[...]
N
Invejo o ourives quando escrevo: uu
-
Imito o amor 4
mt,
Com que ele, em ouro, o alto relevo [4
ra
Faz de uma flor.
237
Por isso, corre, por servir-me, O parnasiano típico acabará deleitando-se na nomeação de
Sobre o papel A pena, como em prata firme alfaias, vasos e leques chineses, flautas gregas, taças de coral,
Corre o cinzel. ídolos de gesso em túmulos de mármore... e exaurindo-se na sen-
sação de um detalhe ou na memória de um fragmento narrativo.
Corre; desenha, enfeita a imagem, Entre a sua atitude estética e a de um pintor impressionista
A ideia veste: há uma diferença de peso: a mão deste é mais leve e pura,
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem menos carregada de intenções; mas subsiste em ambos como
Azul-celeste. fundo comum a ambição de fixar meridianamente o jogo das
impressões individuais.
Torce, aprimora, alteia, lima De tal poética nasce a composição do quadro, da cena,
A frase; e, enfim, do retrato:
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim. Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Quero que a estrofe cristalina,
Contador sobre o mármor luzidio,
Dobrada ao jeito
Entre um leque e o começo de um bordado.
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
Fino artista chinês, enamorado,
E que o lavor do verso, acaso,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Por tão subtil,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.
Mas, talvez por contraste à desventura,
E horas sem conto passo, mudo, Quem o sabe?... de um velho mandarim
O olhar atento, Também lá estava a singular figura;
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento. Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
Porque o escrever — tanta perícia, De olhos cortados à feição de amêndoa.
Tanta requer, BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2. ed.
Que oficio tal... nem há notícia São Paulo: Cultrix, 1975. p. 248.
De outro qualquer.
Os poemas mais ortodoxos do Parnasianismo se con-
Assim procedo. Minha pena centram na descrição de objetos decorativos, como vemos
Segue esta norma, no soneto “Vaso chinês”. Essa descrição permite ao leitor
Por te servir, Deusa serena, imaginar uma imagem que pode ser desenhada ou pintada,
Serena Forma! como um quadro.
[...]
BILAC, Olavo. Profissões de fé. Disponível em: Raimundo Correia (1859-1911)
http:/Awww.dominiopublico.gov.br/download/texto/bi000179.pdf.
Acesso em: 11 jul. 2022.
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
O poeta mais popular do Parnasianismo no Brasil é Olavo A nostalgia da composição de Olavo Bilac está
Bilac; inspirado pelos grandes sonetistas Camões e Bocage, presente, principalmente, no seu livro póstumo Tarde,
criou poemas que o tornaram conhecido dos leitores brasi- publicado em 1919. O tom reflexivo simboliza a matu- a
(a
leiros, o que lhe rendeu a alcunha de “príncipe dos poetas”. ridade do autor, e os temas crepusculares ou outonais [um
4
retratam a finitude da vida e a proximidade da morte. uW
Hoje parece consenso da melhor crítica reconhecer em fo
o
A valorização da forma é um projeto estético do
Bilac não um grande poeta, mas um poeta eloquente, capaz
Parnasianismo, mas nem todos os poemas e poetas
de dizer com fluência as coisas mais díspares, que o tocam de
leve, mas o bastante para se fazerem, em suas mãos, literatura. seguiram a rigidez e a busca pela perfeição. As ressonân-
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2. ed. São Paulo:
cias filosóficas, ou mesmo psicológicas, surgiram entre
Cultrix, 1975. p. 254. os poemas mais rígidos e descritivos.
239
Velho Tema Transporta-me, de vez, numa ascensão ardente,
Só a leve esperança, em toda a vida,
À deliciosa paz dos Olímpicos-Lares,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Onde os deuses pagãos vivem eternamente,
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda. E onde, num longo olhar, eu possa ver contigo,
Passarem, através das brumas seculares,
O eterno sonho da alma desterrada Os poetas e os Heróis do grande mundo antigo.
Sonho que a traz ansiosa e embevecida, MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira, v. 2. São Paulo:
Cultrix, 2016.
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida. A imagem da musa, comum nos textos parnasianos
que aludem com frequência à mitologia e à beleza clás-
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos sica, ganha ênfase no poema de Francisca Júlia dada a
Toda arreada de dourados pomos. representação do feminino em referência à musa propria-
mente dita, aquela que inspira os poetas, e à deusa Vênus,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos divindade do amor e da beleza na mitologia romana. A evo-
Porque está sempre apenas onde a pomos cação da musa é um recurso retórico que visa à inspiração
E nunca a pomos onde nós estamos.
e à clareza do eu lírico.
CARVALHO, Vicente de. Poemas e canções. São Paulo: Cardoso,
Filho & Cia., 1908. Disponível em: https:/Awww.portalcatarina.ufsc.br/
documentos/?action=download&id=42987. Acesso em: 11 jul. 2022. Simbolismo: a poesia das sensações
Vicente de Carvalho é um exemplo de poeta parnasiano
Noite estrelada, 1889, de Van Gogh, óleo sobre tela, com 74 cm X 92 cm.
Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). .
Monet, Édouard Manet e Auguste Renoir. O trigo de ouro dentre o sol floresce
E és a suprema Religião que eu sigo...
O Missal dos Missais, que resplandece,
A igreja soberana que eu bendigo
E onde murmuro a solitária prece!...
Musee Marmottan Monet, Paris.
241
Violões que choram
Ah! plangentes violões dormentes, mornos, x5
Em 1857, Charles Baudelaire (1821-
Soluços ao luar, choros ao vento... 2
”
-1867) chocou o público com sua obra
Tristes perfis, os mais vagos contornos, g2
5
Bocas murmurejantes de lamento. 5> As flores do mal dada a abordagem ao
mundo boêmio e à simbologia do mal
5
>
Noites de além, remotas, que eu recordo, 6 proposta em versos considerados imorais
«4
Noites da solidão, noites remotas e à época, com os quais o poeta afirmava
2
a “extrair a beleza do mal”. Considerado
Que nos azuis da Fantasia bordo, z
a
Vou constelando de visões ignotas. 2 um precursor do Simbolismo, Baudelaire
g
[...] 5
c
despreza a sociedade em uma postura
Quando os sons dos violões vão soluçando, individualista, em que o misticismo se as-
Quando os sons dos violões nas cordas gemem, socia ao exotismo de sua poética.
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem
[...] Simbolismo no Brasil
Vozes veladas, veludosas vozes, O Simbolismo no Brasil não teve a mesma recepção
Volúpias dos violões, vozes veladas,
por parte do público em comparação ao Parnasianismo.
Vagam nos velhos vórtices velozes
Apesar de contar com o surgimento da editora Magalhães
Dos ventos, vivas, vas, vulcanizadas.
[...] e Companhia, que buscava novos autores para estrear
CRUZ E SOUSA. Faróis. Belém: Nead. Disponível em http:/Awww. no mercado, a poesia avessa ao espírito nacionalista e
dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00079a.pdf. mais apegada ao misticismo não convenceu o público
Acesso em: 11 jul. 2022.
erudito.
Enquanto em Portugal os simbolistas foram prestigia-
Beaux Arts Museum, Lyon.
243
“Ismália”, poema mais famoso de Alphonsus de Guimaraens, é o símbolo de uma busca eterna representada pela moça
que, enlouquecida no alto de uma torre, se joga ao mar com a intenção de abraçar a lua nele refletida.
MD SS ep dA Te
No final de 2019, o rapper paulistano Emicida lançou o álbum AmarElo, cujo título foi inspirado em um poema de Paulo
Leminski, “amar é um elo/entre o azul/e o amarelo”. O trabalho apresenta referências simbólicas presentes na música
brasileira, além de temas voltados ao amor, às questões políticas e antirracistas e aos direitos civis negados a minorias.
Entre as canções está “Ismália”, composta por Vinicius Leonard Moreira, Renan Samam e o próprio Emicida, com uma letra
de significativa força e crítica social que clama por justiça e igualdade do povo negro discriminado. Enquanto a Ismália do
poema simbolista de Alphonsus de Guimaraens remete ao limite entre o plano físico e a alma, a personagem de Emicida
cai ao chão por consequência de sua cor de pele, alvo representativo de um contexto histórico-social que ainda apresenta
questões raciais a serem tratadas, resquícios da escravidão e da opressão do povo negro. A ressignificação de “Ismália”
chama a atenção para o racismo estrutural ainda presente na sociedade brasileira, que aproxima as inúmeras Ismálias negras
à figura feminina de Alphonsus de Guimaraens, tornadas vítimas de transtornos psicológicos,já que o céu lhes é negado.
J
2? Leia os poemas a seguir para responder às questões Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
1e2. Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Texto | S Braç P
BILAC, Olavo. Tarde. In: Antologia: poesias. São Paulo: Martin Claret,
A um poeta 2002. (Coleção A Obra-Prima de Cada Autor). Disponível em:
http:/Avww.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000288.pdf.
Surge et ambula! Acesso em: 11 jul. 2022.
TU, que dormes, espírito sereno, 1. Aponte as características comuns entre o poema do
Posto à sombra dos cedros seculares, autor realista Antero de Quental e do poeta parnasia-
Como um levita à sombra dos altares, no Olavo Bilac.
Longe da luta e do fragor terreno, .
2. Releia o poema de Antero de Quental e explique
Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno, como ele se distancia da proposta estética do
Afugentou as larvas tumulares... Parnasianismo.
Para surgir do seio d'esses mares 5 . x '
8 Í 2 Leiao poema para responder às questões 3 e 4.
Um mundo novo espera só um aceno... &—
Vaso chinês
Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções... Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Mas de guerra... e são vozes de rebate! Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzídio,
Ergue-te, pois, soldado do Futuro, Entre um leque e o começo de um bordado.
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate. Fino artista chinês, enamorado,
QUENTAL, Antero de. Antologia. Organização de José Lino Grunewald. Nele pusera o coração doentio
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. (Poesia de todos os tempos).
o, o . Em rubras flores de um sutil lavrado,
Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ . .
bv000027.pdf. Acesso em: 11 jul. 2022. Na tinta ardente, de um calor sombrio.
245
1. Unicamp-SP 2022 a) Apaisagem de silêncio e harmonia descrita no poe-
ma difere do chamado locus amoenus (espaço
As ondas ameno) dos poetas árcades devido à ausência do
Entre as trêmulas mornas ardentias, componente humano típico do contexto pastoril.
A noite no alto-mar anima as ondas. b) No poema, a representação do anoitecer indica
Sobem das fundas úmidas Golcondas, a passagem do tempo, como comprova a estrofe
Pérolas vivas, as nereidas frias: final, na qual versos primordialmente narrativos so-
Entrelaçam-se, correm fugidias, bressaem à meditação sobre o espaço do parque.
Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas, c) Como poema Paisagem, Francisca Júlia inova no
Vestem as formas alvas e redondas contexto do Parnasianismo brasileiro ao adotar o
De algas roxas e glaucas pedrarias. verso livre na descrição da paisagem do parque.
d) No poema, a construção lírica da paisagem evoca
Coxas de vago ônix, ventres polidos os sentidos da visão, da audição, do tato e do ol-
De alabastro, quadris de argêntea espuma, fato, assim como sensações de movimento, o que
Seios de dúbia opala ardem na treva;
confirma a afinidade estética da poesia de Fran-
E bocas verdes, cheias de gemidos, cisca Júlia com a linguagem simbolista.
Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,
Soluçam beijos vãos que o vento leva... - Considere o soneto “Paisagem”, de Francisca Júlia e
(Olavo Bilac, Tarde. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1919, p. 48)
comente a estrutura, considerando setratar de um poe-
ma parnasiano.
ardentia: sf. fosforescência sobre as ondas do mar, a
Unioeste-PR 2020 Leia atentamente o fragmento
à noite.
abaixo, retirado do soneto “O incêndio de Roma”, de
golconda: s. f. (fig.) mina de riquezas.
Olavo Bilac, e assinale a alternativa CORRETA.
nereida: sf. cada uma das ninfas do mar, filhas de Nereu.
Nero, com o manto grego ondeando ao ombro, assoma
(Disponíveis em www aulete.com.br/ Acessado em 30/07/2021.)
entre os libertos, e ébrio, engrinaldada a fronte,
Em relação ao soneto de Olavo Bilac (no contexto de sua lira em punho, celebra a destruição de Roma.
época), é correto afirmar que a seleção lexical favorece a
a) Atemática proposta, isto é, a Antiguidade Clássica,
a) descrição objetiva que o eu lírico faz da fantasia
bem como o cuidado formal, soneto com versos
amorosa recorrendo à riqueza mineral dos oceanos.
alexandrinos, é inerente ao Parnasianismo.
b) representação estética que o eu lírico faz do de-
b) O movimento parnasiano no Brasil tem início com a
sejo amoroso associado a fenômenos naturais.
publicação de Missal e broquéis, de Cruz e Sousa.
c) descrição científica que o eu lírico faz do corpo
c) Pode-se afirmar, pelo caudal da obra que produ-
feminino recorrendo a fenômenos da natureza.
ziram, que Olavo Bilac e Cruz e Sousa foram os
d) representação natural que o eu lírico faz do jogo
grandes nomes da literatura parnasiana brasileira.
de sensualidade associado à mitologia grega.
dj) O nome Parnasianismo deriva de Arcádia, região
UnB-DF 2017 da Grécia, onde vivem em harmonia com a natu-
reza, simbolizando um ideal de vida.
Paisagem e) Simbolismo e Parnasianismo no Brasil produziram
Dorme sob o silêncio o parque. Com descanso, temas e textos análogos dada a proximidade tem-
Aos haustos, aspirando o finíssimo extrato poral entre as duas escolas, a ponto de muitos
Que evapora a verdura e que deleita o olfato, teóricos fundirem e confundirem as expressões
Pelas alas sem fim das árvores avanço. de cada movimento literário.
Ao fundo do pomar, entre as folhas, abstrato
Em cismas, tristemente, um alvíssimo ganso De UPF-RS 2020 O é um estilo de época
Escorrega de manso, escorrega de manso do século XIX, que tem entre suas características a
Pelo claro cristal do límpido regato. , à expressão da e a preocupação
Nenhuma ave sequer sobre a macia alfombra com . Assinale a alternativa cujas informações
Pousa. Tudo deserto. Aos poucos escurece preenchem corretamente as lacunas do enunciado.
A campina, a rechã sob a noturna sombra. a) Parnasianismo / subjetividade / individualidade / a
E enquanto o ganso vai, abstrato em cismas, pelas perfeição formal.
Selvas adentro entrando, a noite desce, desce... b) Romantismo / objetividade / impessoalidade / o
E espalham-se no céu camândulas* de estrelas... conteúdo.
* rosário de contas grossas c) Romantismo / subjetividade / impessoalidade / a
Francisca Júlia. Paisagem. Internet: perfeição formal.
www.dominiopublico.org.br (com adaptações).
d) Parnasianismo / objetividade / impessoalidade / a
Considerando o poema Paisagem, da poeta brasileira perfeição formal.
Francisca Júlia, publicado em 1895, julgue os itens a e) Parnasianismo / objetividade / individualidade / o
seguir. conteúdo.
mal e racionalidade na condução temática, o soneto fluxo e refluxo das ondas do mar, o voo dos pássaros,
de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as etc.). Esteticistas, anseiam uma arte universalista.
emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na Em Portugal, tentou-se introduzir esse movimento;
concepção do eu lírico, esse julgamento revela que certamente, impregnou alguns poetas, exerceu influência,
247
mas não passou de prurido, que pouco alterou o ritmo 12. UPE 2019 Leia os poemas, compare-os e observe os
literário do tempo. Na verdade, o modo fortuito como momentos literários a que pertencem.
alguns se deixaram contaminar da nova moda poética
Texto 1
revelava apenas veleidade francófila, em decorrência de
razões de gosto pessoal ou de grupos restritos: faltou-lhes Flores da Lua
intuito comum. Brancuras imortais da Lua Nova,
(Massaud Moisés. A literatura portuguesa, 1999. Adaptado.) Frios de nostalgia e sonolência...
Sonhos brancos da Lua e viva essência
As informações apresentadas no texto referem-se à
Dos fantasmas noctívagos da Cova.
literatura
a) simbolista, cuja busca pelo Belo implicou a li- Da noite a tarda e taciturna trova
berdade na expressão dos sentimentos. O texto Soluça, numa trêmula dormência...
deixa claro que essa literatura alcançou notável Na mais branda, mais leve florescência
aceitação entre os poetas da época. Tudo em Visões e Imagens se renova.
b) simbolista, cuja preocupação com a expres-
são do sentimento filia-se à tradição poética do Mistérios virginais dormem no Espaço,
Dormem o sono das profundas seivas,
Renascimento. O texto deixa claro que essa lite-
Monótono, infinito, estranho e lasso...
ratura teve um desenvolvimento tímido na cena
literária portuguesa. E das Origens na luxúria forte
c) parnasiana, cuja preocupação com a objetividade Abrem nos astros, nas sidéreas leivas
a opõe ao subjetivismo romântico. O texto deixa Flores amargas do palor da Morte.
claro que essa literatura não se impôs na cena li- Cruz e Sousa
terária portuguesa.
Texto 2
d) parnasiana, cuja liberdade de expressão e cujo
compromisso social permitem fundamentar a Arte Cantem outros a clara cor virente
pela Arte. O texto deixa claro que essa literatura
Do bosque em flor e a luz do dia eterno...
Envoltos nos clarões fulvos do oriente,
teve pouco espaço na cena literária portuguesa.
Cantem a primavera: eu canto o inverno.
e) realista, cuja influência da tradição clássica é
fundamental para se chegar à perfeição. O texto Para muitos o imoto céu clemente
deixa claro que essa literatura teve uma dissemi- É um manto de carinho suave e terno:
nação irregular na cena literária portuguesa. Cantam a vida, e nenhum deles sente
Que decantando vai o próprio inferno.
11. UEM-PR 2019 O modo de fazer arte não é o mesmo
em cada época ou em cada cultura. A comédia e a tra- Cantem esta mansão, onde entre prantos
gédia, por exemplo, deram origem a muitos gêneros e Cada um espera o sepulcral punhado
concepções teatrais. Com relação ao teatro, assinale De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos...
o que for correto.
Cada um de nós é a bússola sem norte.
01 O teatro simbolista no Brasil rejeitou a abordagem
Sempre o presente pior do que o passado.
da vida real, e a produção de peças teatrais foi pe- Cantem outros a vida: eu canto a morte.
quena. Como exemplo podemos citar a Comédia Alphonsus de Guimarães
do coração, de Paulo Magalhães.
02 Na Grécia Antiga o teatro foi um espaço de Texto 3
educação do cidadão. Os dois gêneros mais A Morte
importantes surgiram em Atenas nas formas de Oh! a jornada negra! A alma se despedaça...
tragédia e comédia. Tremem as mãos... O olhar, molhado e ansioso, espia,
04 Na Idade Média, embora o teatro fosse utilizado E vê fugir, fugir a ribanceira fria,
pela Igreja como um instrumento para a manuten- Por onde a procissão dos dias mortos passa.
ção dos costumes, também houve encenações
teatrais burlescas, que promoveram o riso e criti-
No céu gelado expira o derradeiro dia,
Na última região que o teu olhar devassa!
caram os costumes.
E só, trevoso e largo, o mar estardalhaça
08 Em suas quatro fases, a linguagem adotada pelo No indizível horror de uma noite vazia...
Teatro de Arena no Brasil esteve distante do rea-
lismo nacional, marcado por tensões políticas e Pobre! por que, a sofrer, a leste e a oeste, ao norte
sociais. E ao sul, desperdiçaste a força de tua alma?
16 Aobra de João Cabral de Melo Neto, Morte e vida Tinhas tão perto o Bem, tendo tão perto a Morte!
Severina, tem como tema a trajetória do migrante
Paz à tua ambição! paz à tua loucura!
nordestino em busca de melhores condições de
A conquista melhor é a conquista da Calma:
vida. — Conquistaste o país do Sono e da Ventura!
Soma: Olavo Bilac
249
Considerando as particularidades do uso da lin- 18. UFRGS 2018 No bloco superior abaixo, estão lista-
guagem nos textos literários e as características do dos os movimentos literários brasileiros; no inferior,
Simbolismo brasileiro, assinale a alternativa correta características desses movimentos. Associe adequa-
damente o bloco inferior ao superior.
quanto ao poema de Cruz e Sousa:
1. Arcadismo
a) As metáforas presentes na última estrofe do poe-
ma ajudam a construir a ideia global de que nem 2. Parnasianismo
“Nero, com o manto grego ondeado ao ombro, assoma Considerando esta breve caracterização, assinale a
Entre os libertos, e ébrio, engrinaldada a fronte, alternativa em que se verifica o trecho de um poema
simbolista.
Lira em punho, celebra a destruição de Roma”.
“Ah! por estes sinfônicos ocasos
a) “É um velho paredão, todo gretado,
A terra exala aromas de áureos vasos,
Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensanguentado
Incensos de turíbulos divinos”.
E num pouco de musgo em cada fenda.”
a) A impassibilidade de Nero (1º terceto) perante b) “Erguido em negro mármor luzidio,
o incêndio devastador pode ser interpretada Portas fechadas, num mistério enorme,
como a representação ideal do artista na esté- Numa terra de reis, mudo e sombrio,
tica parnasiana. Sono de lendas um palácio dorme.”
b) A destruição de Roma (1º terceto) alude a um fato c) “Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
histórico e faz do Imperador Nero a representa- Casualmente, uma vez, de um perfumado
ção de um louco. Contador sobre o mármor luzidio,
c) Ao contrário de Olavo Bilac, Cruz e Sousa con- Entre um leque e o começo de um bordado.”
seguiu vencer os preconceitos e sobrepor-se ao d) “Sobre um trono de mármore sombrio,
jugo de uma sociedade hostil e escravocrata. Num templo escuro e ermo e abandonado,
d) A exploração da musicalidade, de assonâncias e Triste como o silêncio e inda mais frio,
de aliterações e a presença de vocabulário litúrgi- Um ídolo de gesso está sentado.”
co são comuns na poesia de Cruz e Sousa. e) “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
e) A percepção do objeto (pôr do sol) não pela vi- De luares, de neves, de neblinas!...
são, mas pela audição — sinestesia — caracteriza O Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
poema aludido no 2º terceto. Incensos dos turíbulos das aras...”
Parnasianismo
* O Parnasianismo foi um movimento literário do final do século XIX voltado, exclusivamente, à poesia. Os poetas desse período
visavam à “arte pela arte”, rejeitando o sentimentalismo romântico e a denúncia social do Realismo.
* As principais características da estética parnasiana são a preocupação com a estrutura do poema, privilegiando a forma fixa
do soneto e os versos decassílabos, a erudição e o trabalho com as rimas ricas.
* No Brasil, os autores que se destacaram formavam a chamada Tríade Parnasiana: Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e
Olavo Bilac.
* Os temas clássicos foram comuns nos poemas parnasianos. O texto era tido como um objeto de arte, fazendo com que o
poeta parnasiano fosse comparado a um ourives lapidador da palavra.
Simbolismo
* O Simbolismo foi um movimento estético do final do século XIX que representava as incertezas do contexto histórico
da época, as quais geraram desconfianças nos artistas. Como reação à objetividade do Realismo e do Naturalismo e ao
sentimentalismo romântico, os poemas simbolistas apresentavam-se vagos e subjetivos, o que os aproximava do Impres-
sionismo nas artes
* As características de destaque do Simbolismo são a musicalidade, associada ao recurso da aliteração e da assonância, e a pre-
sença de rimas ricas. Por se tratar de um movimento estético sensorial, a sinestesia é uma das marcas da linguagem simbolista.
* No Brasil, os principais autores foram Francisca Júlia, Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, cujas obras têm como prin-
cipais temas o mistério, a morte, o pessimismo, a imagem noturna e a religiosidade.
Filme
Quanto vale ou é por quilo. Direção: Sérgio Bianchi. 2005. N
PTD EE a) uu
-
O filme brasileiro de 2005, dirigido por Sérgio Bianchi, estabelece uma relação análoga entre o regime
mais? 4
escravocrata do século XIX e a atual forma de exploração da miséria por meio do marketing social e de mt,
[4
ações solidárias mascaradas pela fachada de instituições. To
251
CI fa DATE)
. Acafe-SC 2017 Diferentemente do Realismo e do - UFPE Ainda que o fazer poético seja um tema
Naturalismo, que se voltavam para o exame e para a crí- recorrente na Literatura brasileira, suas diversas con-
tica da realidade, o Parnasianismo representou na poesia cepções são apresentadas de modo diferenciado de
um retorno ao clássico, com todos os seus ingredientes:
época para época. Assim, a partir da leitura dos poe-
mas a seguir, analise as proposições seguintes.
o princípio do belo na arte, a busca do equilíbrio e da
perfeição formal. Os parnasianos acreditavam que o sen- Texto |
tido maior da arte reside nela mesma, em sua perfeição,
Longe do estéril turbilhão da rua,
e não na sua relação com o mundo exterior.
Beneditino escreve! No aconchego
CEREJA; MAGALHÃES, 1999, p. 334.
Do claustro, na paciência e no sossego,
Sobre o Parnasianismo, assinale a alternativa correta. Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!
a) Os maiores expoentes do Parnasianismo, na
poesia e na prosa, ocuparam-se da literatura in- Mas que na forma se disfarce o emprego
dianista, na qual exaltavam a dignidade do nativo Do esforço; e a trama viva se construa
e a beleza superior da paisagem tropical. De tal modo, que a imagem fique nua
b) Um exemplo de poesia parnasiana é a obra
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Suspiros poéticos e saudade, de Gonçalves de
Não se mostre na fábrica o suplício
Magalhães, na qual o poeta anuncia a revolução
Do mestre. E natural, o efeito agrade,
literária, libertando-se dos modelos românticos, Sem lembrar os andaimes do edifício:
considerados ultrapassados.
c) Os parnasianos consideravam que certos prin- Porque a Beleza, gêmea da Verdade
cípios românticos, como a simplicidade da Arte pura, inimiga do artifício,
linguagem, valorização da paisagem nacional, em- É a força e a graça na simplicidade.
prego de sintaxe e vocabulário mais brasileiros, Olavo Bilac — A um poeta.
253
XII 9. UPF-RS 2021 Sobre o Simbolismo no Brasil, apenas é
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo incorreto afirmar que:
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, a) O processo da sublimação e a obsessão pela cor
branca são traços recorrentes na obra de Cruz e
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
Sousa.
E abro as janelas, pálido de espanto...
b) No Brasil, a estética simbolista tem como marco a
publicação de Missal e Broquéis, de Cruz e Sousa.
E conversamos toda a noite, enquanto
c) A aliteração, a assonância e a metáfora são figu-
A Via-láctea, como um pálio aberto,
ras de linguagem bastante utilizadas nos textos
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
simbolistas.
Inda as procuro pelo céu deserto.
d) Alphonsus de Guimaraens e Cruz e Sousa foram
os autores simbolistas mais representativos do
Direis agora: “Tresloucado amigo! movimento no Brasil.
Que conversas com elas? Que sentido e) São características do Simbolismo a poesia
Tem o que dizem, quando estão contigo?” permeada pelo subjetivismo e a temática da trans-
cendência, também presentes no Parnasianismo.
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido 10. EsPCEx-SP Leia a estrofe que segue e assinale a al-
Capaz de ouvir e de entender estrelas.” ternativa correta, quanto às suas características.
BILAC, Olavo. Antologia: Poesias. Martin Claret, 2002. p. 37-55. Via “Visões, salmos e cânticos serenos
Láctea. Disponível em: http:/www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/bv000289.pdf. Acesso em: 19/08/2019. Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
IME-RJ 2020 Dentre as afirmações abaixo, assinale a Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...”
que é falsa em relação ao texto.
a) Valorização da forma como expressão do belo e
a) Há uma nítida despreocupação quanto à perda
a busca pela palavra mais rara — Parnasianismo.
de razão por parte da voz poética que, inclusive,
b) Linguagem rebuscada, jogos de palavras e jogos
abre as janelas para melhor “conversar com as
de imagens, característica do cultismo — corrente
estrelas”. do Barroco.
b) É possível falar em um movimento argumentativo c) Incidência de sons consonantais (aliterações)
no soneto que se desenvolve em forma de diálo- explorando o caráter melódico da linguagem —
go com um hipotético interlocutor e conclui que Simbolismo.
só os que amam são capazes de realizar a proeza d) Pessimismo da segunda geração romântica, mar-
descrita. cada por vocábulos que aludem a uma existência
c) Aluz do dia é recebida com tristeza pela voz poé- mais depressiva — Romantismo.
tica, o que deixa ver a valorização da capacidade e) Lírica amorosa marcada pela sensualidade explícita
de entender as estrelas e, consequentemente, que substitui as virgens inacessíveis por mulheres
seu apreço pelo estado de enamoramento. reais, lascivas e sedutoras — Naturalismo.
d) São versos que se eternizam pelo tema escolhi-
11. ESPM-RJ 2016 Das definições abaixo, uma delas nos
do, o amor, mote universal e atemporal.
remete diretamente ao período literário conhecido
e) A invisibilidade do ser amado, que sequer é no-
como Simbolismo. Assinale-a:
meado, tampouco caracterizado fisicamente, é
a) É a arte do conflito, do contraste, da contradição,
uma das características mais marcantes do movi-
do dilema e da dúvida, que se expressam pelo
mento romântico, ao qual o soneto está filiado, de
acúmulo de antíteses, paradoxos e oxímoros.
acordo com a periodização literária.
b) A “arte pela arte” é um dos seus princípios cen-
. IME-RJ 2020 É correto afirmar que a ideia principal trais. A poesia volta-se para o belo (esteticismo),
do texto. para o zelo da perfeição formal, descompromis-
a) sustenta que a atividade poética é a única forma sada com os problemas do mundo.
de realizar uma compreensão subjetiva do mundo c) Aderiu ao cientificismo e ao materialismo, opondo-
e da existência. -se à metafísica, à religião e a tudo que escapasse
b) expressa a concepção segundo a qual o sen- aos limites da matéria.
timento amoroso pode ensejar uma atitude de d) Propõe uma volta aos modelos clássicos greco-
contemplação e êxtase diante da realidade. -romanos e renascentistas. Exalta a vida pastoril,
c) constrói um diálogo hipotético entre o poeta e campestre, entendendo que a felicidade e a bele-
alguém para evidenciar uma forma religiosa de za decorrem da vida no campo.
experiência pessoal. e) Adotou a teoria das correspondências que pro-
d) revela a atitude de sagacidade e de lucidez ne- põe um processo cósmico de aproximação entre
cessárias ao fazer poético. as realidades, expresso por meio da sinestesia,
e) exprime o ponto de vista de valorização do bom a qual consiste no cruzamento de percepção de
senso próprio da vida cotidiana. um sentido para outro.
13. UPE 2016 Enquadram-se os três sonetos em distintos A leitura dos poemas comprova que o tema da mor-
Movimentos Literários. Leia-os e analise-os. te tanto quanto o tema do amor estão presentes em
Poema 1 textos de todos os movimentos literários e em produ-
ção de diferentes poetas. Nos três poemas, o tema
Já da morte o palor me cobre o rosto, da morte é ponto fundamental. Sobre isso, assinale a
Nos lábios meus o alento desfalece,
alternativa CORRETA.
Surda agonia o coração fenece,
a) Álvares de Azevedo, em diversos poemas, ao fa-
E devora meu ser mortal desgosto!
lar da morte, tema pelo qual tem certa obsessão,
Do leito embalde no macio encosto usa constantemente a palavra palor, cujo sentido
Tento o sono reter!... já esmorece cromático se refere à palidez mórbida da morte, ca-
O corpo exausto que o repouso esquece... racterística da poesia desse autor.
Eis o estado em que a mágoa me tem posto! b) Olavo Bilac toma a morte muito poucas vezes
como tema, ainda que, ao fazê-lo, cria um eu lí-
O adeus, o teu adeus, minha saudade, rico despojado de tom confessional, próprio do
Fazem que insano do viver me prive Romantismo, mantendo assim imparcialidade e
E tenha os olhos meus na escuridade. impessoalidade.
c) O poema 3 apresenta elementos cromáticos e
Dá-me a esperança com que o ser mantive!
sinestésicos, tais como doce tristeza e noite es-
Volve ao amante os olhos por piedade,
cura. Contudo, embora seu tema seja a morte, o
Olhos por quem viveu quem já não vive!
autor não utiliza esse vocábulo, substituindo-o por
(Álvares de Azevedo, Lira dos 20 anos)
metáforas, o que é próprio daqueles que fazem
Poema 2 parte do parnaso.
d) Há, no poema 2, determinados elementos que re-
A Morte
velam, à semelhança do 3, preocupação com os
Oh! a jornada negra! A alma se despedaça... aspectos formais, aproximando-os do Classicismo N
Tremem as mãos... O olhar, molhado e ansioso, espia, pe]
e do Arcadismo. -
E vê fugir, fugir a ribanceira fria 4
e) Existe uma ordem sequencial dos poemas que uu
Por onde a procissão dos dias mortos passa. [eq
To
permite ao leitor relacioná-los ao Simbolismo,
No céu gelado expira o derradeiro dia, Romantismo e Parnasianismo. Dessa forma, po-
Na última região que o teu olhar devassa! de-se afirmar que o poema 1 é simbolista, pois
E só, trevoso e largo, o mar estardalhaça apresenta um discurso de cunho confessional,
No indizível horror de uma noite vazia... peculiar a esse movimento literário.
255
14. UEM-PR 2016 Assinale o que for correto sobre o poe- 15. Unesp 2016 A questão aborda um poema do portu-
ma abaixo e sobre seu autor, Cruz e Sousa. guês Eugênio de Castro (1869-1944).
interesse as discussões feitas no campo da bio- d) Determinismo, pois o meio em que vive a pessoa
logia e da medicina, acreditando na possibilidade amada determina o ritmo de sua vida.
de tornar esse conhecimento como base para a e) Ornamentação exagerada, pois há vocabulário rit-
criação de seus romances. mado com exclusividade de rimas ricas.
257
Ca R/T
O soneto de Olavo Bilac pertence à coletânea Via Láctea e, embora seja um poema parnasiano, apresenta alguma
relação com o Romantismo. Explicite-a.
mod Up ata UR Sa
Rabi tira
TOA SRU
PR RR e
Assista ao documentário AmarElo — É Tudo Pra Ontem, do rapper Emicida, dirigido por Fred Ouro Preto, e faça as
anotações pertinentes sobre o panorama apresentado da escravidão no Brasil, a história do trabalho em São Paulo,
a situação das periferias e a cultura hip hop. Depois da análise do documentário, escreva um comentário para ser
publicado em rede social e, em seguida, responda às questões a seguir.
Relacione as dificuldades do negro no mercado cultural, como as enfrentadas pelo poeta negro Cruz e Sousa no final
do século XIX, e a situação da cultura negra no século XXI.
Associe a personagem Ismália do poema de Alphonsus de Guimaraens com a personagem negra presente na música
homônima de Emicida. Considere os contextos de cada produção na construção textual.
Coleção Particular
Bonde virado pela população na praça da República, no
Rio de Janeiro, durante a Revolta da Vacina em 1904.
Para a construção da avenida Central no Rio de Janeiro (atual avenida Rio Branco), foram demolidos mais de 600 imóveis, e milhares de pessoas
ficaram desalojadas.
Mais ou menos é assim o subúrbio, na sua pobreza e no abandono em que os poderes públicos o deixam. Pelas primeiras
horas da manhã, de todas aquelas bibocas, alforjas, trilhos, morros, travessas, grotas, ruas, sai gente, que se encaminha para a
estação mais próxima; alguns, morando mais longe, em Inhaúma, em Cachambi, em Jacarepaguá, perdem amor a alguns níqueis
e tomam bondes que chegam cheios às estações. Esse movimento dura até às dez horas da manhã e há toda uma população de
certo ponto da cidade no número dos que nele tomam parte. São operários, pequenos empregados, militares de todas as patentes,
inferiores de milícias prestantes, funcionários públicos e gente que, apesar de honesta, vive de pequenas transações, do dia a dia,
em que ganham penosamente alguns mil-réis. O subúrbio é o refúgio dos infelizes. Os que perderam o emprego, as fortunas; os
que faliram nos negócios, enfim, todos os que perderam a sua situação normal vão se aninhar lá; e todos os dias, bem cedo, lá
descem à procura de amigos fiéis que os amparem, que lhes deem alguma coisa, para o sustento seu e dos filhos.
[...] Tudo é tão caro como no subúrbio, propriamente. Não há água, ou, onde há, é ainda nos lugarejos do Distrito Federal
que o governo federal caridosamente supre em algumas bicas públicas; não há esgotos; não há médicos, não há farmácias. Ainda
dentro do Rio de Janeiro, há algumas estradas construídas pela Prefeitura, que se podem considerar como tal; mas, logo que se
chega ao Estado, tudo falta, nem nada há embrionário.
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Disponível em: http:/Awvww.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000048.pdf. Acesso em: 3 nov. 2022.
O período marcado pela cultura cosmopolita na Europa entre o fim do século XIX e o início do século XX ficou conhe-
cido como Belle Époque. A atmosfera de progresso e industrialização incentivou os países a investirem na urbanização
e no saneamento das cidades e no entretenimento do público. Por isso, jornais, revistas, livrarias, teatros, cafeterias e
boulevards foram inaugurados em grandes centros, como Paris, símbolo da exportação da cultura.
No Brasil, cidades como São Paulo, Manaus e Belém foram alvo da “europeização” associada à imagem de desenvolvi-
mento do país. Após a Proclamação da República, a então capital do país, Rio de Janeiro, foi a cidade idealizada para se tornar
a “Paris tropical”, alvo da reconfiguração que visava demolir as casas antigas e conferir à paisagem um ar de modernidade
condizente com as intenções de desenvolvimento do país. Esse processo de demolição e edificação de prédios e palácios
é chamado de bota-abaixo.
Durante a gestão do prefeito Francisco Pereira Passos, entre 1902 e 1906, o projeto de reestruturação urbanística foi
colocado em prática, tendo como um dos principais destaques a construção de uma avenida aos moldes parisienses, a
avenida Central, hoje avenida Rio Branco, com 2 quilômetros de extensão, originados da praça Mauá, local de chegada
dos estrangeiros pelos navios aportados.
Para o embelezamento da cidade que se tornaria o balneário do Brasil, cortiços foram derrubados, e milhares de
famílias ficaram desalojadas. Nesse período, prédios importantes foram erguidos, como o suntuoso e belíssimo Theatro
Municipal do Rio de Janeiro, construído ao longo de quatro anos e meio. No entanto, nasciam nesse contexto as constru-
ções desordenadas e sem infraestrutura que passaram a ser chamadas de favelas.
FARSE TUEIS
Favela é o nome popular da planta da família das euforbiáceas Cnidoscolus
Rita Barreto/Fotoarena
quercifolius, típica da região de Canudos, Bahia. O termo favela passou a ser usado
como sinônimo de conjunto de habitações populares após a ocupação do Morro
da Providência pelos soldados que lutaram na Guerra de Canudos e pressionavam
o governo a pagar-lhes os soldos devidos.
260 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 8 » Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
Os conflitos políticos e a busca pelo retrato do país
Coleção Particular
sequência a retirada dos interventores e a reconquista do poder pelas oligarquias.
Na Bahia, um movimento similar ocorreu em Canudos, quando a figura fanática
de Antônio Conselheiro, homem religioso que profetizava a transformação do
sertão em mar, criou a comunidade de Belo Monte, local de e destino de milhares
de fiéisg ficaram desalojadas. descontentes com a situação de vida nos latifúndios
baianos. A crise com o poder republicano nasceu do incentivo à desobediência
civil de Conselheiro, como o não pagamento de impostos.
In: Don Quixote: Jornal Ilustrado de Angelo Agostini.
Rio de Janeiro, n. 82, 1987
O embate entre conselheiristas e soldados do Exército brasileiro resultou na Guerra de Canudos, uma das batalhas
mais sangrentas do país, na qual morreram aproximadamente 25 mil pessoas. O governo federal enviou 13 mil soldados
para dar fim à guerra, que incendiaram todas as casas do arraial de Belo Monte.
O cangaço também foi um movimento que vigorou no sertão nordestino caracterizado pelo nomadismo de homens
armados impulsionados pelo caos vivido na região que se rebelavam contra o coronelismo. Entre os principais nomes de
líderes do cangaço estão Jesuíno Alves de Melo Calado, o Brilhante, que atuou no final do século XIX, e Virgulino Ferreira
da Silva, o Lampião, que no ápice da fama foi considerado o Rei do Cangaço, sendo acompanhado por Maria Gomes de
Oliveira, a Maria Bonita, primeira mulher a ingressar em um bando de cangaceiros.
No Norte do Brasil, o ciclo da borracha foi responsável pelo auge econômico da região entre os anos de 1879
a 1912, com a extração e o comércio do látex das seringueiras. As cidades da região amazônica, centros comerciais do
progresso urbano, representaram o grande desenvolvimento do período, que também teve como consequência a mi- a
gração de milhares de trabalhadores e a falta de investimento do governo, que não apoiava os produtores de borracha. uu
[=
4
Houve outros movimentos importantes no Sudeste do país, como a Revolta da Vacina e a Revolta da Chibata, esta uu
[e4
constituindo um motim organizado pelos soldados da Marinha no Rio de Janeiro, em 1910, contra a violência praticada To
por marinheiros brancos com o uso da chibata a fim de punir os marinheiros negros.
chibata: vara flexível e longa usada para açoitar animais ou castigar pessoas, como marinheiros ou negros no período escravocrata.
261
O conflito em torno da vacina se intensificou com a
In: O malho. Rio de Janeiro, 111 ed., 1904
contrava na rua. Recolhia-as às delegacias, depois juntavam na Nesse contexto de conflitos e agitação popular situa-se
Polícia Central. Aí, violentamente, humilhantemente, arreben- o Pré-Modernismo, que não costuma ser considerado pro-
tava-lhes os cós das calças e as empurrava num grande pátio. priamente uma escola literária, mas um período de transição
Juntadas que fossem algumas dezenas, remetia-as à Ilha das
que aproxima os autores não pela coerência estilística ou
Cobras, onde eram surradas desapiedadamente.
projeto literário, mas pela abordagem comum, muitas vezes
BARRETO, Lima. Diário íntimo. Disponível em: http:/www.dominiopublico.
gov.br/download/texto/bn000066.pdf. Acesso em: 12 jul. 2022. com demarcado viés político ou crítica social, buscando um
retrato das diferentes realidades do país.
A Revolta da Vacina foi um motim popular ocorrido em
A expressão que dá nome a esse momento de produ-
novembro de 1904, na cidade do Rio de Janeiro, após a ção singular foi cunhada por Tristão de Ataíde, pseudônimo
obrigatoriedade no território nacional motivada por Oswaldo do crítico Alceu Amoroso Lima, em seu livro de 1932, Qua-
Cruz. Apesar do alto número de internações por varíola, dro sintético da literatura brasileira, no qual ele afirma que
a população rejeitava a vacina influenciada por notícias se trata de um momento de ecletismo literário.
falsas que circulavam à época, como a de que as pessoas
vacinadas sofreriam uma mutação que transformariam suas Eclético, porque o trecho que vai entre o Simbolismo e o
feições humanas em bovinas. Modernismo se caracteriza, acima de tudo, por não poder ser
resumido numa escola dominante e, ao contrário, compre-
ender a coexistência de simbolistas, realistas e parnasianos,
até mesmo os da geração que, em 1920, iriam desencadear o
A vacina contra a varíola foi descoberta em 1796 pelo Modernismo. Foi o Pré-Modernismo.
médico britânico Edward Jenner, após observar que pes- Tristão de Ataíde apud SILVA, Maurício Pedro. A Hélade e o Subúrbio:
soas que ordenhavam vacas não contraíam a doença ou Confrontos Literários na Belle Époque Carioca. São Paulo: Edusp, 2006. p. 35.
manifestavam-na de maneira mais branda. Em seu expe-
rimento, Jenner extraiu líquido de lesões da ordenhadora Esse momento literário tem como características o con-
Sarah Nelmes, infectada com a varíola bovina, e injetou servadorismo do século XIX e o anúncio de elementos
na pele de um menino de 8 anos, James Phipps, que estéticos das propostas modernas que ganharam fôlego,
desenvolveu a doença de maneira branda e curou-se ra- posteriormente, na Semana de 22, marco do Modernismo
pidamente. Alguns meses depois, Jenner injetou líquido brasileiro, conforme estudaremos mais adiante. Entre os
com a varíola humana nesse mesmo garoto, mas ele não autores de maior destaque na prosa estão Lima Barreto,
contraiu a doença; já estava imune a ela. Monteiro Lobato e Euclides da Cunha;já na poesia, o autor
pré-modernista de maior destaque é Augusto dos Anjos.
Wellcome Collection, Londres
262 LÍNGUA PORTUGUESA « Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
Os diferentes conflitos espalhados pelo país causaram O preconceito racial na pele de Isaías Caminha e
tensões locais. É importante considerar que a natureza desses Clara dos Anjos
conflitos era diversa, pois as regiões brasileiras apresentavam
O romance de estreia do autor foi Recordações do
movimentos distintos — pela jagunçagem, pelo cangaço, pelo
escrivão Isaías Caminha, publicado em 1909, obra repu-
movimento operário, pelas lutas armadas por terra, entre ou-
diada pelos jornalistas da época. O protagonista relata as
tros. Como consequência, portanto, há vários cenários que, condições desfavoráveis de reconhecimento no meio jor-
somados às desigualdades sociais, levam a uma produção
nalístico por questões raciais.
estética múltipla, representativa de diversos brasis.
Não sei o que sentia de ignóbil em mim mesmo e naquilo
Lima Barreto: o olhar para o subúrbio tudo, que no fim estava sombrio, calado e cheio de remor-
—— ——=
sos. Desesperava-me o mau emprego dos meus dias, a minha
passividade, o abandono dos grandes ideais que alimentara.
263
A utopia quixotesca de Policarpo Quaresma - Segunda parte: proposta de reforma da agricultura
nacional.
Reprodução
Ao se mudar para o Sítio Sossego, em Curuzu, o major
decide provar o valor da terra brasileira por meio da
produção agrícola sem aditivos, mas sua plantação é
ERA [o atacada por formigas, as saúvas.
* Terceira parte: alistamento voluntário no Exército.
de Policarpo Em apoio a Floriano Peixoto na Revolta da Armada,
Eco Policarpo se alista voluntariamente para servir a pátria
com o intuito de conseguir que a autoridade nacional
fosse respeitada. Após ser transferido para desenvolver
o trabalho de carcereiro, o major percebe as injustiças
cometidas com os presos políticos. Ao decidir denun-
ciar as arbitrariedades, é preso e condenado à morte
por traição.
Mas, como é que ele tão sereno, tão lúcido, empregara sua A obra simbólica de Lima Barreto ironiza a alegoria da
vida, gastara o seu tempo, envelhecera atrás de tal quimera? terra perfeita por meio do “triste fim” do protagonista ingênuo
Como é que não viu nitidamente a realidade, não a pressentiu
e sonhador, que se deixa levar pelo idealismo quixotesco.
logo e se deixou enganar por um falaz ídolo, absorver-se nele,
dar-lhe em holocausto toda a sua existência? Foi o seu isolamen-
to, o seu esquecimento de si mesmo; e assim é que ia para a cova,
9 Saiba mais
sem deixar traço seu, sem um filho, sem um amor, sem um beijo Dom Quixote de la Mancha, obra publicada em 1605 por
mais quente, sem nenhum mesmo, e sem sequer uma asneira! Miguel de Cervantes, tem como protagonista um personagem
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. conhecido como “cavaleiro da triste figura”. Apaixonado por
Disponível em: http:/Avww.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000159.pdf. romances de cavalaria, o fidalgo enlouquece, acreditando
Acesso em: 3 nov. 2022.
ser um cavaleiro errante, quando passa a viver aventuras
O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, publi- ao lado de seu fiel escudeiro Sancho Pança. Símbolo da
cado em 1915, tem como pano de fundo a Revolta da ingenuidade, Dom Quixote vive fantasias, luta contra moi-
Armada (1893-1894) e como protagonista o burocrata Major nhos de vento e exércitos de ovelhas e busca o amor de
Policarpo Quaresma, tomado por um patriotismo ufanista sua amada Dulcineia.
que o cega em relação à realidade do país.
264 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
O pessimismo e o aspecto cientificista, além da di- Euclides da Cunha: o retrato de
vagação metafísica e da angústia existencial, são outras um sertão desconhecido
características dos sonetos de Augusto dos Anjos, autor
repudiado pela crítica à época.
Psicologia de um Vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância, Fotografia de casa do arraial de Belo Monte.
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e
uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil
Produndissimamente hipocondríaco, soldados.
Este ambiente me causa repugnância... Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos mo-
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia mentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la
Que se escapa da boca de um cardíaco. sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la
vacilante e sem brilhos.
Já o verme — este operário das ruínas — CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Três, 1984 (Biblioteca
Que o sangue podre das carnificinas do Estudante). Disponível em: http://Awww.dominiopublico.gov.br/
Come, e à vida em geral declara guerra, download/texto/bv000091 pdf. Acesso em: 12 jul. 2022.
265
positivista, com o qual Euclides flertou por um curto tempo resultou em uma das batalhas mais sangrentas da história
em sua vida estudantil. Seu posicionamento político e con- do Brasil. Os combatentes não se renderam às forças ar-
trário à monarquia leva-o a um ato de insubordinação que madas e sofreram trágico genocídio.
resulta em seu desligamento da carreira militar. O retrato do sertão idealizado nas obras do regionalismo
O autor, ainda jovem, publicou poemas de caráter liber- romântico é descrito de forma minuciosa na obra euclidiana a
tário e, posteriormente, passou a trabalhar como jornalista, fim de se traçar um panorama fiel à realidade brasileira. Essa
escrevendo para jornais como a Província de São Paulo característica aproxima alguns dos autores do Pré-Modernismo
(atual O Estado de S. Paulo), o que lhe possibilitou expressar que buscavam a identidade do país tão contraditório.
suas ideias republicanas e democráticas. Em 1897, em dois
de seus artigos publicados, Euclides da Cunha expressou
sua primeira ideia sobre a rebelião ocorrida em Canudos.
O termo “dialética” tem origem grega (dialetiké), cujo
Neles, já é possível notar a pesquisa minuciosa do autor significado é interação de ideias. Trata-se, portanto, de
sobre os aspectos topográficos da região, além da aproxi- um método de diálogo do pensamento racional, em que
mação do meio e do ser humano sob a óptica científica. duas ideias opostas conduzem a outras ideias. Essa me-
E sobre as chapadas desertas e desoladas alevantam-se todologia surgiu com os filósofos pré-socráticos e foi
desenvolvida por Platão. A revolução do conceito de
quase que exclusivamente os mandacarus (cereus) silentes
dialética ocorreu no século XIX por meio das discussões
e majestosos; árvores providenciais em cujos galhos e raí-
de Karl Marx acerca do Socialismo Científico, cujo pen-
zes armazenam-se os últimos recursos para a satisfação da
samento se baseava nas relações econômicas pautadas
sede e da fome ao viajante retardatário — cactáceas gigantes
na produção material da sociedade e na luta de classes.
que, revestidas de grandes frutos de um vermelho rutilante e 1 A
subdividindo-se com admirável simetria em galhos ascenden-
tes, igualmente afastados, patenteiam a conformação típica e Os Sertões: a linguagem e a divisão da obra
bizarra de grandes candelabros firmados sobre o solo...
[...]
Reprodução
Sem transição apreciável, entretanto, a estas secas intensas
e nefastas, sucedem, bruscamente às vezes, as quadras chuvo-
sas e benéficas: impetuosas correntes rolam sobre o leito de
rios que dias antes ainda completamente secos davam ideia
de largas estradas tortuosas, lastradas de quartzito fragmentado
e grés duríssimo, conduzindo a lugares remotos do sertão.
[...]
Como se vê naquela região, intermitentemente, a natureza
parece oscilar entre os dois extremos — da maravilhosa exu-
berância à completa esterilidade. Este último aspecto, porém,
infelizmente, parece predominar.
[...]
Capa de HQ inspirada em Os Sertões: a luta, de Euclides da Cunha.
O homem e o solo justificam assim de algum modo, sob
um ponto de vista geral, a aproximação histórica expressa no
A obra de Euclides da Cunha apresenta uma linguagem
título deste artigo. Como na Vendeia o fanatismo religioso que
peculiar e um olhar crítico sobre a problemática dos con-
domina as suas almas ingênuas e simples é habilmente apro-
veitado pelos propagandistas do império. trastes do Brasil. A imagem hostil do sertão e o sertanejo
CUNHA, Euclides da. A nossa Vendeia. O Estado de S. Paulo, 14 mar. marginalizado ganham dimensão poética em refinada des-
1897. Disponível em: https://euclidesite.com.br/obras-de-euclides/ crição, narrativa dramática e por vezes hermética, em razão
cronicas/a-nossa-vendeia/. Acesso em: 12 jul. 2022.
do vocabulário rebuscado. O estilo arcaico, permeado de
A perspectiva científica e filosófica que norteia a escrita artifícios linguísticos, é reconhecido como marca barroca
de Euclides da Cunha é fruto de seus estudos acerca das da obra, o que levou a crítica a considerar a linguagem de
correntes deterministas, evolucionistas e positivistas, en- Os Sertões como barroco científico.
cabeçadas, respectivamente, por Hippolyte Taine, Charles Os aspectos da linguagem científica, comumente,
Darwin e Auguste Comte, além de pensadores sociais, surgem em questões de vestibular, pois as descrições na-
como Karl Marx e Émile Durkheim. No entanto, as equi- turalistas e as referências deterministas aproximam Euclides
vocadas hipóteses de ações “propagandistas do império” da Cunha de um marcante movimento do século XIX, o Na-
praticadas pelos jagunços presentes no seu artigo “A nossa turalismo. Além dessa observação, é preciso atentar ao fato
Vendeia” são revisadas após sua chegada ao arraial de de que a obra dialoga com Geografia, História, Sociologia,
Belo Monte e o contato direto com o sertanejo. Seu pen- entre outras áreas do conhecimento humano.
samento dialético trabalha literariamente as inconsistências Euclides da Cunha acreditava na interligação da ciência
das teorias estudadas e a imagem em defesa do jagunço. e da arte, o que é notável na divisão lógica da obra: A terra,
Euclides da Cunha fez a cobertura jornalística dos úl- O homem, A luta.
timos dias da Guerra de Canudos, liderada pelo religioso
Antônio Conselheiro. O conflito armado entre os jagunços hermético: obscuro, algo de difícil compreensão.
do arraial e os milhares de soldados enviados pelo Exército
266 LÍNGUA PORTUGUESA « Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
A TERRA seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés, sentado
sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo
Na primeira parte, o autor faz um tratado minucioso
ridícula e adorável.
sobre o território, descrevendo as características do bioma
CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Três, 1984 (Biblioteca
Caatinga não apenas da região de Canudos, mas daquela do Estudante). Disponível em: http:/Awww.dominiopublico.gov.br/
que abrange a bacia de São Francisco, resultado de sua pes- download/texto/bv000091 .pdf. Acesso em: 12 jul. 2022.
Coleção particular
quitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A no Ceará, em 1830, e mor-
sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela reu na Bahia, em 1897. Após
o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a perder os pais, assumiu o
armazém da família para
estrutura corretíssima das organizações atléticas. É desgra-
sustentar suas irmãs mais
cioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no
novas. Sem sucesso, passou
aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza,
a dar aulas e a trabalhar em
sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação um cartório da região. De-
de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente pois de ser abandonado pela
abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter mulher, percorreu diversas ci-
de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se dades do sertão nordestino
invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; fazendo pregações e dando
a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com conselhos, o que originou seu
um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando nome. Conforme conquistava O registro de batismo de
sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápi- vários fiéis por meio dessas Antônio Conselheiro.
a
do, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, pregações, a Igreja e o Estado demonstravam incômodo. La
[=
num bambolear característico, de que parecem ser o traço Em Canudos, usou do misticismo religioso para ganhar 4
uu
ainda mais fiéis, enquanto pregava uma saída para a misé- x
u.
geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na mar-
ria da população. Esse contexto impedia que os coronéis
cha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro,
e proprietários de terra se aproveitassem da exploração
bater o isqueiro, ou travar ligeira conversa com um amigo,
da mão de obra da população local, o que desencadeou
cai logo — cai é o termo — de cócoras, atravessando largo os ataques contra Canudos.
tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o
267
Monteiro Lobato: a imagem do A representação do homem interiorano é um aspecto
caipira do interior paulista não visto nas obras literárias sob a perspectiva apresen-
tada por Monteiro Lobato. A obra Urupês trouxe à tona a
Arquivo/CB/D.A Press
observação das condições sociais e econômicas de um
espaço desconsiderado pela literatura brasileira até o
momento. Como um autor do Pré-Modernismo, Lobato re-
presenta um dos muitos brasis ainda não vistos, com suas
particularidades típicas do mundo rural, espaço conhecido
de perto pelo autor herdeiro da Fazenda do Buquira, no
Vale do Paraíba.
Urupês, obra publicada em 1918, é constituída de
14 contos e traça um perfil do caboclo visto como pregui-
çoso, fraco e passivo, o parasita da terra que explora seus
recursos sem consciência ambiental.
268 LÍNGUA PORTUGUESA « Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
postura e do vocabulário de determinados personagens
vistos como pejorativos. Em 2014, um mandado de se-
gurança foi levado ao Supremo Tribunal Federal com o
Lis FainofiStockphoto.com
objetivo de retirar o livro Caçadas de Pedrinho da lista de
obras distribuídas em escolas públicas.
Nesse sentido, o debate sobre o julgamento de
obras literárias consideradas racistas a partir de frag-
mentos textuais, bem como a revisão ou manutenção
de trechos e termos pejorativos requer avaliação cui-
dadosa, análise precisa e bom senso. O anacronismo
presente em qualquer discussão desse teor não pode
cercear o direito de acesso à obra de Monteiro Lobato,
mas, por outro lado, o leitor crítico deve estar ciente
da presença, na obra, de abordagens e visões que, se
eram normalizadas à época, hoje devem ser lidas com o
devido discernimento de que, na nossa sociedade atual,
Urupê é o nome de um tipo de cogumelo não comestível
não devem mais ser toleradas.
que tem o formato de orelha. Conhecido popularmente
como orelha-de-pau, o fungo presente em troncos de
árvores foi associado a Jeca Tatu, personagem caricato AM EAdA TETO TS :
apresentado como parasita da terra.
Confronto de ficções: Bacurau e
resistência frente ao imperialismo na era
Monteiro Lobato é uma figura controversa. Em sua do capitalismo global
editora Monteiro Lobato & Cia, ele revolucionou o merca- [...] Bacurau alcança sua potencialidade crítica ao
do editorial no século XX com ações significativas, como não ser lido por uma ótica maniqueísta — do bem contra
importar maquinário, inovar com capas coloridas, remode- o mal, os mocinhos e os bandidos — pois a narrativa
lar o pagamento dos autores, além de vender milhares de fílmica navega nesse complexo de estilos e discursos,
livros. Autor da célebre frase “Um país se faz com homens evidenciando suas contradições e embates. A escolha
e livros”, valorizava a leitura como fator fundante para o desses estilos, como queremos dizer, não foi ao mero
desenvolvimento de um país. Contudo, sua participação no acaso. O ponto crucial, para nós, é o embate entre
movimento eugênico, tendo sido integrante da Sociedade o Norte global e o Sul global, bastante evidente: os
Eugênica de São Paulo, fundada em 1918, que defendia a invasores — enquanto que nas histórias dos westerns
superioridade da raça branca, coloca o autor no centro de norte-americanos muitas vezes eram protagonizados
discussões sobre racismo. pelos índios, através de uma lógica de estigmatização
Amigo do médico eugenista Renato Kehl, com quem para cobrir o verdadeiro invasor (o homem branco) — são
trocou cartas sobre a necessidade de higienização nacio- agora outros.
nal, o autor apoiava as medidas eugênicas como um ato Esses contrastes e contradições no filme evocam os
fundamental para se constituir uma população brasileira. efeitos da “mundialização”, que segundo Augé (2012),
é constituída, por um lado, pela “globalização”, “que
Acabo de ler sua conferência sobre eugenia, lida na A. C. corresponde à extensão sobre toda a superfície do glo-
de M. e confesso-me envergonhado por só agora travar conhe- bo do mercado dito liberal e das redes tecnológicas de
cimento com um espírito tão brilhante como o teu, untado para comunicação e de informação”, e por outro lado, “ao
tão nobres ideais e servido, na expressão do pensamento, para que poderíamos chamar de consciência planetária ou
um estilo verdadeiramente “eugênio” pela clareza, equilíbrio 'planetarização” (AUGÉ, 2012, p. 33). É nesse contexto
e rigor vernacular. que ocorrem as contradições entre o global e o local,
[..] o exterior e o interior, entre as forças de homogeneiza-
Tu és o pai da eugenia no Brasil [...]. Precisamos lanças, ção e a história não hegemônica a partir do ponto de |
vulgarizar estas ideias. A humanidade precisa de uma coisa vista de um povo. As contradições se fazem presentes
só: poda. É como a vinha. por todo planeta, pois o dito progresso moderno não
HABIB, Paula Arantes Botelho Briglia. Saneamento, eugenia e literatura:
abarca sua totalidade de concretização, por mais que
os caminhos cruzados de Ranato Kehl e Monteiro Lobato. In: Simpósio
Nacional de História, 24., 2007, São Leopoldo. Anais [...]. os meios de comunicação e informações de massa nos N
pe]
São Leopoldo: ANPUH, 2007. Disponível em: https://anpuh.org.br/ deem essa impressão. -
4
uploads/anais-simposios/pdf/2019-01/1548210412 156d47b6171e9a5e uu
BRAGATTO, Marcello Gaiani; MARGOTTO, Mário Victor Marques.
966d70ae2f48227b.pdf. Acesso em: 12 jul. 2022. [eq
Confrontos de ficções: Bacurau e resistência frente ao imperialismo u
na era do capitalismo global. In: Seminário de Comunicação e
As narrativas publicadas para o público infantil, na série Territorialidades, 5., 2019, Espírito Santo. Anais [...).
Sítio do Picapau Amarelo, se viram às voltas com a dis- Espírito Santo: Universidade Federal do Espírito Santo, 2019.
Disponível em: https://periodicos.ufes.br/poscom/article/
cussão sobre racismo, a polêmica de revisão de termos view/30649/550. Acesso em: 22 jul. 2022.
considerados preconceituosos em seus livros, além da N A
269
Vanguardas europeias
Everett Collection/Shutterstock.com
Natureza morta com guitarra, Juan Gris. Natureza Morta, 1913. Óleo sobre tela. Coleção particular.
[...]
Você respira agora ares mediterrâneos
Sob o florir perene dos limoeiros litorâneos
Com os companheiros sai de barco a passeio
Dois da Turbie um de Menton de Nice o terceiro
Espreitamos os polvos do fundo com pavor
E entre as algas nadam peixes símbolos do Salvador
Tu estás no jardim de um albergue na região de Praga
Tu te sentes feliz há uma rosa sobre a mesa
E observas em vez de escrever teu conto em prosa
A cetônia a dormir no coração da rosa
[...]
APOLLINAIRE, Guillaume. Zona apud DIAS, Letícia Lopes de Sousa dos Santos. A vanguarda cubista na lírica de Apollinaire. UFG, 2015. Disponível em:
https:/files.cercomp.ufg.briweby/up/80/0/TCEM2015-L%C3% ADnguaEstrangeira-LeticiaLopesSouza.pdf. Acesso em: 3 nov. 2022.
Os conflitos de ordem política no início do século XX causaram instabilidade na Europa. As incertezas trazidas pelo
contexto de guerra se intensificaram com descobertas que revelavam um mundo invisível aos olhos. Com o telefone, era
possível ouvir a voz de quem estava distante, o telégrafo sem fio podia trazer as mais diversas informações do outro lado
do mundo, o microscópio ampliava um universo invisível ao ser humano.
As teorias científicas do século XIX não eram mais capazes de aplacar as desconfianças que nasciam junto do novo
século. O ser humano já não dominava nem mesmo as noções de tempo e espaço, rompidas com a teoria da relativi-
dade, e o mundo físico deixava de parecer palpável. O conhecimento de si mesmo era atravessado pelo conceito de
inconsciente trazido pela Psicanálise. Nesse panorama permeado pela dúvida, em que o absoluto já não cabia, a arte
abraçou o relativo, rompeu com as convenções e tradições do passado, criou outros caminhos e referências estéticas e
apresentou um olhar de vanguarda.
vanguarda: guarda avançada ou a parte frontal de um exército. Seu uso metafórico se refere a setores de maior pioneirismo,
consciência ou combatividade dentro de determinado movimento social, político, científico ou artístico.
9 Saiba mais
Freud é considerado o pai da Psicanálise. Suas ideias tiveram grande impacto sobre as socieda-
des e moldaram a forma de enxergar os sujeitos. Entre os conceitos propostos por Freud está
o de inconsciente, que, mais que um lugar anatômico, constitui um lugar psíquico, que possui
mecanismos e conteúdos próprios. Assim, de acordo com o psicanalista, os sonhos, por exemplo,
trazem manifestações desse inconsciente.
Sigmund Freud.
270 LÍNGUA PORTUGUESA « Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
O trecho de “Zona”, poema do francês Guillaume Apollinaire, revela uma grande influência do Cubismo, uma vez que
o texto propõe diversos pontos de vista sobre uma situação, às vezes com a alternância da perspectiva em um mesmo
verso (“Tu te sentes feliz há uma rosa sobre a mesa”). Os poemas com essa influência, ademais, são caracterizados por
se aproximarem da pintura,
já que pretendem fornecer ao leitor uma imagem quase tangível daquilo que a poesia trata.
Nesse sentido, o leitor tem várias perspectivas sobrepostas de um mesmo espaço, tal como notamos na variedade de
planos dos objetos dispostos na mesa do quadro de Juan Gris, Natureza morta com guitarra.
As vanguardas europeias surgem com o intuito de romper com os parâmetros artísticos adotados até o momento,
libertando-se da busca pela representação figurativa da realidade observada. Assim, as obras deixam de apresentar o
caráter linear e procuram captar a atmosfera dinâmica da modernidade. Essa nova linguagem é incorporada nas cinco
vanguardas artísticas: Cubismo, Futurismo, Expressionismo, Dadaísmo e Surrealismo.
Cubismo
O Cubismo originou-se da exposição da obra As senhoritas de Avignon, do pintor espanhol Pablo Picasso, em 1907,
em que cinco mulheres nuas são representadas em planos irregulares sob formas geométricas. As figuras disformes carac-
terizam o antiacademicismo das vanguardas artísticas, rompem com a harmonia e a simetria clássicas, fazendo a obra aludir
a uma imagem fragmentada. Os principais representantes do Cubismo na pintura são Pablo Picasso e Georges Braque.
A literatura aderiu ao ilogismo e à seleção de quadros simultâneos em seus poemas e despertou o interesse de a
autores, como o português Mário de Sá Carneiro, que escreveu em sua correspondência ao amigo Fernando Pessoa. uu
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[...] confesso-lhe, meu caro Pessoa, sem estar doido, eu acredito no cubismo. Quer dizer: acredito no cubismo, mas não nos [e4
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quadros cubistas até hoje executados. Mas não me podem deixar de ser simpáticos aqueles que, num esforço, tentam em vez
de reproduzir vaquinhas a pastar e caras de madamas mais ou menos nuas — antes, interpretar um sonho, um som, um estado
de alma, uma deslocação do ar, etc. [...] Resumindo: eu creio nas intenções dos cubistas; simplesmente considero artistas que
não realizaram aquilo que pretendem.
SÁ-CARNEIRO, Mário de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 754-755.
271
Futurismo
Entre as vanguardas europeias, o Futurismo é a que adotou uma forte postura voltada à iconoclastia e exaltava as
máquinas, a modernidade, a velocidade e a violência. Seu idealizador, o italiano Filippo Tommaso Marinetti, divulgou as
ideias do movimento em seu Manifesto Futurista, publicado no jornal francês Le Figaro, em 1909.
1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
[...]
4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel
de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que
correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.
[...]
9. Nós queremos glorificar a guerra — a única higiene do mundo — o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos liber-
tários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.
10. Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo
e toda vileza oportunista e utilitária.
MARINETTI, Filippo Tommaso. Manifesto Futurista apud BELARMINO, Ana Paula. O Futurismo de Fillipo Tommaso Marinetti. Disponível em:
https:/Ayww.acrobatadasletras.com.br/201 6/06/0-futurismo-de-filippo-tommaso-marinetti.html. Acesso em: 22 jul. 2022.
iconoclastia: termo associado à contestação e ao indivíduo que destrói imagens religiosas, ou se opõe à sua adoração.
A ideia de aniquilação da memória e dos símbolos do passado levou Marinetti ao extremo do desejo de demolição das
bibliotecas e dos museus e a afirmar que a síntese da velocidade representada no motor de um automóvel se sobressai
à obra Vitória de Samotrácia, escultura feminina alada encontrada, no século XIX, nas ruínas do santuário dos grandes
deuses, atualmente, exposta no Museu do Louvre, em Paris.
O culto à velocidade, à ordem, o prestígio às máquinas e o apelo à guerra apresentam o caráter ideológico que mais
tarde levaram Marinetti a se associar ao movimento fascista na Itália.
muratart/Shutterstock.com
No Brasil, embora não haja uma vertente literária propriamente futurista, há alguns textos de autores do Modernismo
que apresentam características do Futurismo, como o poema “Metalúrgica”, de Oswald de Andrade, que alude à construção
de uma estrada de ferro produzida por homens trabalhando o aço em uma metalúrgica. Algumas das características dos
textos futuristas estão ligadas ao objetivo de levar o leitor a participar da construção textual, por isso elementos como os
adjetivos e a pontuação são eliminados.
272 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
Expressionismo
O Expressionismo nasceu na Alemanha, em 1910, em reação radical ao movimento
No poema “Inspiração”, a cidade é apresentada como um espaço dinâmico e inquieto visto nos contrastes. A cultura,
a tradição e a própria história da cidade, bem como a problemática social, ganham formas burlescas e alteradas.
Dadaísmo
As provocações do Dadaísmo foram divulgadas nos números publicados da Revista
Reprodução
Dada, criada por um grupo de artistas liderados pelo romeno Tristan Tzara. Nascido em
Zurique, Suíça, em 1916, o nome do movimento foi inspirado no termo “dada”, que signifi-
ca “nada”. Tzara, inclusive, produziu um texto contendo uma espécie de receita para criar
poemas desse movimento.
incompreendido do público. a
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TZARA, Tristan. Receita de um poema dadaísta. Só Literatura. Disponível em: [=
https:/Avww.soliteratura.com.br/premodernismo/premodernismo18.php. Acesso em: 12 jul. 2022. 4
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u.
Abolir a lógica e dessacralizar a arte, recusando qualquer lógica ou princípio racional,
é o que define o Dadaísmo, materializado nas obras do francês Marcel Duchamp, criadas
a partir da proposta conhecida como Ready-made. Duchamp promovia a ruptura com a “ Nip e
artesania artística, ressignificando o conceito de arte ao deslocar determinado objeto de
seu espaço cotidiano, elevando-o à categoria de obra de arte. A fonte, Marcel Duchamp, 1917.
273
Surrealismo
e Salvador Dalí, Fundación Gala-Salvador Dali/AUTVIS, Brasil, 2020
A persistência da memória, relógios derretidos, Salvador Dalí, 1931. Museu de Arte Moderna, Nova York.
Os estudos psicanalíticos desenvolvidos no século XX pelo médico austríaco Sigmund Freud, os quais abordavam
o sistema psíquico humano, foram importantes no projeto estético do Surrealismo. As obras surrealistas valorizavam a
fantasia, o elemento onírico, tomando como base o inconsciente humano e explorando os limites da realidade. O irracional
norteia as obras de pintores como Salvador Dalí, René Magritte, Marc Chagall e Frida Kahlo. O mentor do movimento, o
poeta francês André Breton, escreveu o Manifesto Surrealista, em que expressa a valorização do irracionalismo na criação
artística e o interesse pela loucura.
[...] Só a imaginação me dá contas do que pode ser, e é bastante para suspender por um instante a interdição terrível; é
bastante também para que eu me entregue a ela, sem receio de me enganar (como se fosse possível enganar-se mais ainda).
Onde começa ela a ficar nociva, e onde se detém a confiança do espírito? Para o espírito, a possibilidade de errar não é, antes,
a contingência do bem?
Fica a loucura “a loucura que é encarcerada”, como já se disse bem. Essa ou a outra.. Todos sabem, com efeito, que os loucos
não devem sua internação senão a um reduzido número de atos legalmente repreensíveis, e que, não houvesse estes atos, sua
liberdade [...]
BRETON, André. Manifesto Surrealista, 1924. Disponível em:
http:/www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ma000015.pdf. Acesso em: 12 jul. 2022.
1. A obra Clara dos Anjos, escrita por Lima Barreto ao longo de 18 anos, conta a história de uma jovem negra que,
apesar dos cuidados da família, é iludida e usada por um rapaz branco. Ambientado no subúrbio negro do Rio de
Janeiro do início do século XX, o romance apresenta personagens fora do padrão. Leia o trecho da análise a seguir
e justifique essa afirmação.
[...] Joaquim dos Anjos, carteiro, pai de família e músico amador, que amava tocar modinhas e fazer rodas de choro em
sua casa, casado há mais de vinte anos com Engrácia, uma dona de casa religiosa e com boa instrução. [...] Como fruto do
casamento de Joaquim e Engrácia, nasce Clara dos Anjos, uma jovem negra de pele clara de dezoito anos que “fora criada
com o recato e os mimos que, na sua condição, talvez lhe fossem prejudiciais”. [...]
Cassi é retratado [...] como um “branco sardento, insignificante, de rosto e de corpo” [...] “o tipo mais completo de
vagabundo doméstico” e um malandro “incapaz de um trabalho continuado”.
SOUSA, Fernanda Silva e. O autor para quem as vidas negras importam. In: BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Escureceu, 2021. p. 196-198.
274 LÍNGUA PORTUGUESA « Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
2. Leia o trecho da obra de Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Quaresma.
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importa-
vam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil?
Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. [...] E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que
achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? [...] Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série,
melhor, um encadeamento de decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete.
BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma.
Disponível em: http:/Awvww.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000013 pdf. Acesso em: 12 jul. 2022.
O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, é a história de um nacionalista fanático que, quixotes-
camente, tenta resolver os males sociais de seu tempo. O fragmento destacado evidencia o descontentamento de
Policarpo diante de suas frustradas iniciativas patrióticas. Selecione uma dessas iniciativas e explique por que razão
esse patriotismo “era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete”.
CAPÍTULO ESPECIAL
OS SAMOIEDAS
Vazios estais de Cristo, vós que vos justificais pela lei;da graça tendes caído.
São Paulo aos Gálatas
Queria evitar, mas me vejo obrigado a falar na literatura da Bruzundanga. É um capítulo dos mais delicados, para tratar
do qual não me sinto completamente habilitado.
Dissertar sobre uma literatura estrangeira supõe, entre muitas, o conhecimento de duas coisas primordiais: ideias
gerais sobre literatura e compreensão fácil do idioma desse povo estrangeiro. Eu cheguei a entender perfeitamente a lín-
gua da Bruzundanga, isto é, a língua falada pela gente instruída e a escrita por muitos escritores que julguei excelentes;
mas aquela em que escreviam os literatos importantes, solenes, respeitados, nunca consegui entender, porque redigem
eles as suas obras, ou antes, os seus livros, em outra muito diferente da usual, outra essa que consideram como sendo a
verdadeira, a lídima, justificando isso por ter feição antiga de dois séculos ou três.
Quanto mais incompreensível é ela, mais admirado é o escritor que a escreve, por todos que não lhe entenderam o escrito.
Lembrei-me, porém, que as minhas notícias daquela distante república não seriam completas, se não desse algumas
informações sobre as suas letras; e resolvi vencer a hesitação imediatamente, como agora venço.
A Bruzundanga não podia deixar de tê-las, pois todo o povo, tribo, clã, todo o agregado humano, enfim, tem a sua
literatura e o estudo dessas literaturas muito tem contribuído para nós nos conhecermos a nós mesmos, melhor nos compre-
endermos e mais perfeitamente nos ligarmos em sociedade, em humanidade, afinal.
Seria uma falha minha nada dizer eu sobre as belas-letras da Bruzundanga que as tem como todos os países, a não ser
o nosso que, conforme sentenciou a Gazeta de Notícias, não merece tê-las, pois o literato não tem função social na nossa
sociedade, provocando tal opinião o protesto de um sociólogo inesperado. Devem estar lembrados desse episódio — creio
eu. Continuemos, porém, na Bruzundanga.
Nela, há a literatura oral e popular de cânticos, hinos, modinhas, fábulas, etc.; mas todo esse folk-lore não tem sido
coligido e escrito, de modo que, dele, pouco lhes posso comunicar.
BARRETO, Lima. Os Bruzundangas. Belém: Nead. Disponível em: http://Awww.dominiopublico.gov.br/
download/texto/ua000170.pdf. Acesso em: 12 jul. 2022.
Considerando que a obra póstuma de Lima Barreto, Os Bruzundangas, é uma sátira da vida brasileira na incipiente
República, indique a figura de linguagem usada de forma recorrente pelo narrador e seu efeito de sentido no texto.
Texto |
O deus-verme
Fator universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria, a
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Na superabundância ou na miséria, [=
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Verme — é o seu nome obscuro de batismo. uu
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275
Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrópicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão...
Texto Il
Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Apresentação e notas de Antônio Medina Rodrigues. Ilustrações Dirceu Marins.
São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
Apesar de se tratar de tipos de produção bastante distintas, poesia e prosa, além de terem sido escritos em séculos
diferentes, o soneto de Augusto dos Anjos e a dedicatória do romance de Machado de Assis apresentam proximi-
dade temática. Comente essa afimação.
No livro Os Sertões, Euclides da Cunha aborda o episódio da Guerra de Canudos (1896-1897), apoiado no pensamento
cientificista presente em obras naturalistas, como O cortiço, de Aluísio Azevedo. Identifique esse aspecto no trecho
da obra O cortiço e explique como ele se relaciona com Os Sertões.
Texto Il
[...] Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de carne onde se resumem todas as características da
espécie. [...]
De pé ou sentado as ideias se lhe entramam, a língua emperra e não há de dizer coisa com coisa.
De noite, na choça de palha, acocora-se em frente ao fogo para “aquentá-lo”, imitado da mulher e da prole.
Para comer, negociar uma barganha, ingerir um café, tostar um cabo de foice, fazê-lo noutra posição será desastre in-
falível. Há de ser de cócoras. [...]
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!
LOBATO, Monteiro. Urupês. São Paulo: Globo, 2012. Disponível em: https://reciclaleitores.com.br/wp-content/
uploads/2019/03/Urupes-conto-Monteiro-Lobato.pdf. Acesso em: 12 jul. 2022.
Estabeleça um comparativo entre a figura do sertanejo apresentado na obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, e o
caipira da obra Urupês, de Monteiro Lobato.
276 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
7. Leia o texto a seguir para responder à questão.
Nos sonhos, com frequência experimentamos a sensação de que as pessoas e objetos se fundem e trocam de lugar. Nosso
gato pode ser ao mesmo tempo nossa tia, e o nosso jardim pode ser a África.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Tradução de Álvaro Cabral. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 2008. p. 592.
O texto de Gombrich pode ser associado a obras do Surrealismo. Considere o conceito sobre essa vanguarda euro-
peia e explique a associação.
8. Enem
ARGAN, G. €. Arte moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
O quadro Les Demoiselles dAvignon (1907), de Pablo Picasso, representa o rompimento com a estética clássica e a
revolução da arte no início do século XX. Essa nova tendência se caracteriza pela
a) pintura de modelos em planos irregulares.
b) mulher como temática central da obra.
c) cena representada por vários modelos.
d) oposição entre tons claros e escuros.
e) nudez explorada como objeto de arte.
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Unique Forms of Cotinuity in Space, de Giacomo Balla. Imagem da escultura Vitória de Samotrácia.
As duas esculturas, embora sejam produzidas em contextos bastante distintos e com propostas estéticas díspares, apre-
sentam elementos em comum. Comente-os.
277
10. Observe as obras a seguir. Depois, selecione e explique aquela que apresenta proposta vanguardista.
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A reprodução proibida, René Magritte. Natureza-morta com maçãs e laranjas, Paul Cezanne.
Enem 2021 Não que Pelino fosse químico, longe disso; mas era sábio, era gramático. Ninguém escrevia em Tubiacanga que
não levasse bordoada do Capitão Pelino, e mesmo quando se falava em algum homem notável lá no Rio, ele não deixava
de dizer: “Não há dúvida! O homem tem talento, mas escreve: 'um outro”, “de resto'...” E contraía os lábios como se tivesse
engolido alguma cousa amarga.
Toda a vila de Tubiacanga acostumou-se a respeitar o solene Pelino, que corrigia e emendava as maiores glórias nacio-
nais. Um sábio...
Ao entardecer, depois de ler um pouco o Sotero, o Candido de Figueiredo ou o Castro Lopes, e de ter passado mais uma
vez a tintura nos cabelos, o velho mestre-escola saía vagarosamente de casa, muito abotoado no seu paletó de brim mineiro,
e encaminhava-se para a botica do Bastos a dar dous dedos de prosa. Conversar é um modo de dizer, porque era Pelino
avaro de palavras, limitando-se tão-somente a ouvir. Quando, porém, dos lábios de alguém escapava a menor incorreção de
linguagem, intervinha e emendava. “Eu asseguro, dizia o agente do Correio, que...” Por aí, o mestre-escola intervinha com
mansuetude evangélica: “Não diga “asseguro', Senhor Bernardes; em português é garanto”.
E a conversa continuava depois da emenda, para ser de novo interrompida por uma outra. Por essas e outras, houve muitos
palestradores que se afastaram, mas Pelino, indiferente, seguro dos seus deveres, continuava o seu apostolado de vernaculismo.
BARRETO, L. A Nova Calitórnia. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 24 jul. 2019.
278 LÍNGUA PORTUGUESA « Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
2. UFSC 2020 Olham-se os quartos e todos aqueles homens, muitas vezes moços, sem moléstia comum, que não falam,
que não se erguem da cama nem para exercer as mais tirânicas e baixas exigências da nossa natureza, que se urinam, que
se rebolcariam no próprio excremento, se não fossem os cuidados dos guardas e enfermeiros, pensa-se profundamente,
dolorosamente, angustiosamente sobre nós, sobre o que somos; pergunta-se a si mesmo se cada um de nós está reservado
aquele destino de sermos nós mesmos, o nosso próprio pensamento, a nossa própria inteligência, que, por um desarranjo
funcional qualquer, se há de encarregar de levar-nos àquela depressão de nossa própria pessoa, aquela depreciação da
nossa natureza, que as religiões querem semelhante a 'Deus, àquela quase morte em vida.
Parece tal espetáculo com os célebres cemitérios de vivos que um diplomata brasileiro, numa narração de viagem, diz
ter havido em ?Cantão, na China.
Nas imediações dessa cidade, um lugar apropriado de domínio público era reservado aos “indigentes que se sentiam
morrer. Dava-se-lhes? comida, roupa e o caixão fúnebre em que se deviam enterrar. Esperavam tranquilamente a Morte.
Assim me pareceu pela primeira vez que deparei com tal quadro, com repugnância, que provoca a pensar mais pro-
fundamente sobre ele, e aquelas sombrias vidas sugerem a noção em torno de nós, de nossa existência e a nossa vida, só
vemos uma grande abóbada de trevas, de negro absoluto. Não é mais o dia azul-cobalto e o céu ofuscante, não é mais o
negror da noite picado de estrelas palpitantes; é a treva absoluta, é toda ausência de luz, é o mistério impenetrável e um
não poderás ir além que confessam a nossa própria inteligência e o próprio pensamento.
LIMA BARRETO, Afonso Henriques de. O cemitério dos vivos. In: LIMA BARRETO, Afonso Henriques de. Diário do hospício; O cemitério dos vivos.
São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 168-169.
Com base na leitura do texto e na leitura integral de O cemitério dos vivos, escrita entre os anos de 1919 e 1920, no contexto
sócio-histórico e literário da obra e, ainda, de acordo com a variedade padrão da língua escrita, é correto afirmar que:
01 a obra é um romance ficcional, ainda que escrito com base em memórias e reflexões presentes no diário em que
Lima Barreto relata sua experiência como interno em um hospício.
02 a escrita autobiográfica do autor de origem humilde, discriminado como mulato, denuncia a vida de seus antepas-
sados quando trazidos para o Brasil em navios negreiros.
04 a narrativa explora o remorso do protagonista Mascarenhas, que, num momento de perda da razão, assassina a
própria esposa e é internado em um hospício.
08 na frase sublinhada, o ponto e vírgula pode ser substituído por dois-pontos sem prejuízo ao sentido do texto.
16 o pronome oblíquo “lhes” (referência 5) retoma o referente “indigentes” (referência 4).
32 o excerto faz referência à existência de um livro chamado “O cemitério dos vivos”, publicado na China, que inspirou
o título da obra de Lima Barreto.
64 as palavras “Deus” (referência 1), “Cantão” (referência 2) e “China” (referência 3) são grafadas com inicial maiúscula
por se tratar de nomes próprios.
Soma:
3. UFPR 2020 Ao mesmo tempo em que narram fatos, os narradores de Casa de Pensão e Clara dos Anjos também
assumem postura intrusa e opinativa: eles interrompem a narração de acontecimentos e inserem seus comentários
e opiniões, apresentando análises sociológicas ou psicológicas de acontecimentos, ambientes e personagens. Nas
alternativas abaixo, foram transcritos trechos dos dois romances. Assinale a alternativa em que se observa tal atitude
intrusa e opinativa do narrador no romance de Aluísio Azevedo.
a) “Por outro lado, as mulatas folgavam em tê-lo perto de si, achavam-no vivo e atilado, provocavam-lhe ditos de
graça, mexiam com ele, faziam-lhe perguntas maliciosas, só para “ver o que o demônio do menino respondia”. E
logo que Amâncio dava a réplica, piscando os olhos e mostrando a ponta da língua, caíam todas num ataque de
riso, a olharem umas para as outras com intenção”.
b) “Muita vez chorou de ternura, mas sempre às escondidas; muita vez sentiu o coração saltar para o filho, mas sempre
se conteve, receoso de cair no ridículo./ E não se lembrava, o imprudente, de que o amor de pai é bem ao contrário
do amor de filho; não se lembrava de que aquele nasce e subsiste por si e que este precisa ser criado; que aquele é
um princípio e que este é uma consequência; que um vem de dentro para fora e que o outro vem de fora para dentro”.
c) “O seu ideal na vida não era adquirir uma personalidade, não era ser ela, mesmo ao lado do pai ou do futuro
marido. Era constituir função do pai, enquanto solteira, e do marido, quando casada. Não imaginava as catástrofes
imprevistas da vida, que nos empurram, às vezes, para onde nunca sonhamos ter de parar. Não via que, adquirida
uma pequena profissão honesta e digna do seu sexo, auxiliaria seus pais e seu marido, quando casada fosse”.
d) “A casa da família do famoso violeiro não ficava nas ruas fronteiras à gare da Central; mas, numa transversal,
cuidada, limpa e calçada a paralelepípedos. Nos subúrbios, há disso: ao lado de uma rua, quase oculta em seu
cerrado matagal, topa-se uma catita, de ar urbano inteiramente. Indaga-se por que tal via pública mereceu tantos a
La
cuidados da edilidade, e os historiógrafos locais explicam: é porque nela, há anos, morou o deputado tal ou o [=
4
ministro sicrano ou o intendente fulano”. uu
x
u.
e) “O provinciano, muito desvigorizado com a moléstia, sentia perfeitamente que os lúbricos impulsos, que dantes
lhe inspirava a graciosa rapariga, iam-se agora destecendo e dissipando à luz de um novo sentimento de gratidão
e respeito. A primitiva Amélia desaparecia aos poucos, para dar lugar àquela extremosa criança, àquela irmãzinha
venerável, que lhe enchia o quarto com o frescor balsâmico de sua virgindade e rociava-lhe o coração com a
trôfega mimalhice de sua ternura”.
279
4. UFPR 2019 Considere o seguinte trecho do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto:
Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas é que vive uma grande parte da população da cidade, a cuja existência
o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras inúteis e suntuárias noutros pontos
do Rio de Janeiro. (Clara dos Anjos, p. 38.)
Com base no trecho selecionado e na leitura integral do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto, assinale a alter-
nativa correta.
a) O narrador é imparcial ao descrever os cenários do subúrbio e de outros pontos da cidade, demonstrando neu-
tralidade na constatação das diferenças entre as regiões.
b) O subúrbio é descrito ora de modo realista, ora de modo idealizado, contribuindo para a construção de uma
visão, por vezes, romantizada da pobreza.
c) O narrador disseca com rigor quase sociológico os problemas políticos da época, citando fatos e personagens
históricos reais que se misturam à narrativa.
d) O romance apresenta o ambiente do subúrbio aliando a descrição pormenorizada do espaço físico à caracteriza-
ção dos personagens que o habitam.
e) Os vários bairros e personagens que estão nos arredores da linha férrea do trem urbano são descritos como um
conjunto indiferenciado, como se cada bairro não tivesse sua característica própria.
5. Enem PPL 2019 A nossa emotividade literária só se interessa pelos populares do sertão, unicamente porque são pitorescos
e talvez não se possa verificar a verdade de suas criações. No mais é uma continuação do exame de português, uma retórica
mais difícil, a se desenvolver por este tema sempre o mesmo: Dona Dulce, moça de Botafogo em Petrópolis, que se casa com
o Dr. Frederico. O comendador seu pai não quer porque o tal Dr. Frederico, apesar de doutor, não tem emprego. Dulce vai
à superiora do colégio de irmãs. Esta escreve à mulher do ministro, antiga aluna do colégio, que arranja um emprego para
o rapaz. Está acabada a história. É preciso não esquecer que Frederico é moço pobre, isto é, o pai tem dinheiro, fazenda ou
engenho, mas não pode dar uma mesada grande.
Está aí o grande drama de amor em nossas letras, e o tema de seu ciclo literário.
BARRETO, L. Vida e morte de MJ Gonzaga de Sá. Disponível em: www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 10 ago. 2017.
Situado num momento de transição, Lima Barreto produziu uma literatura renovadora em diversos aspectos. No frag-
mento, esse viés se fundamenta na
a) releitura da importância do regionalismo.
b) ironia ao folhetim da tradição romântica.
c) desconstrução da formalidade parnasiana.
d) quebra da padronização do gênero narrativo.
e) rejeição à classificação dos estilos de época.
5. Uece 2018
Não se zanguem
A cartomancia entrou decididamente na vida nacional.
Os anúncios dos jornais todos os dias proclamam aos quatro ventos as virtudes miríficas das pitonisas.
Não tenho absolutamente nenhuma ojeriza pelas adivinhas; acho até que são bastante úteis, pois mantêm e sustentam
no nosso espírito essa coisa que é mais necessária à nossa vida que o próprio pão: a ilusão.
Noto, porém, que no arraial dessa gente que lida com o destino, reina a discórdia, tal e qual no campo de Agramante.
A política, que sempre foi a inspiradora de azedas polêmicas, deixou um instante de sê-lo e passou a vara à cartomancia.
Duas senhoras, ambas ultravidentes, extralúcidas e não sei que mais, aborreceram-se e anda uma delas a dizer da outra
cobras e lagartos.
Como se pode compreender que duas sacerdotisas do invisível não se entendam e deem ao público esse espetáculo de
brigas tão pouco próprio a quem recebeu dos altos poderes celestiais virtudes excepcionais?
A posse de tais virtudes devia dar-lhes uma mansuetude, uma tolerância, um abandono dos interesses terrestres, de forma
a impedir que o azedume fosse logo abafado nas suas almas extraordinárias e não rebentasse em disputas quase sangrentas.
Uma cisão, uma cisma nessa velha religião de adivinhar o futuro, é fato por demais grave e pode ter consequências
desastrosas.
Suponham que F. tenta saber da cartomante X se coisa essencial à sua vida vai dar-se e a cartomante, que é dissidente
da ortodoxia, por pirraça diz que não.
O pobre homem aborrece-se, vai para casa de mau humor e é capaz de suicidar-se.
O melhor, para o interesse dessa nossa pobre humanidade, sempre necessitada de ilusões, venham de onde vier, é que
as nossas cartomantes vivam em paz e se entendam para nos ditar bons horóscopos.
(BARRETO, Lima. Vida urbana: artigos e crônicas. 2º ed. São Paulo: Brasiliense, 1961.)
280 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
A crônica Não se zanguem serve para mostrar muitas características que podem ser encontradas na literatura de Lima
Barreto de forma geral. Assinale a opção que NÃO condiz com essas características.
a) Há presente, na prosa literária de Lima Barreto, uma galeria de fatos e personagens que ilustra bem o panorama
dos primeiros vinte anos do século XX carioca, apresentando a cidade do Rio de Janeiro com seus problemas e
sua disparidade cultural, econômica e política.
b) As obras do autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma estão pautadas em temáticas socialmente engajadas,
que denunciam mazelas e criticam assuntos do cotidiano.
c) Oteor satírico e humorístico está presente fortemente nos escritos literários de Lima Barreto.
d) Como escritor vinculado ao chamado Pré-Modernismo, Lima Barreto apresentou-nos uma prosa em linguajar
excessivamente formal.
Lima Barreto foi o autor homenageado em 2017 na 15º FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty). Durante um
evento, um grupo do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) protestou contra
cortes e atrasos de salários. Analise a faixa exposta pelos profissionais da educação durante a FLIP e responda:
Unisc-RS 2016 Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto a seguir.
O início do chamado Pré-modernismo na Literatura brasileira data de 1902, com a publicação de . Além dessa
obra relevante, de autoria de , merece destaque o romance , publicado por em 1915. Já na poesia, o
principal nome deste período foi , autor de
a) Urupês / Graça Aranha / Macunaíma ! Domingos Olímpio / Mário de Andrade / Cinza das horas.
b) Canaã / Euclides da Cunha / Triste fim de Policarpo Quaresma ! Monteiro Lobato / Manuel Bandeira / Eu e outras
poesias.
c) Canaã / Monteiro Lobato / Luzia-Homem / Mário de Andrade / Manuel Bandeira / Broquéis.
dj) Urupês / Monteiro Lobato / Macunaíma ! Mário de Andrade / Manuel Bandeira / Cinza das horas.
e) Os Sertões / Euclides da Cunha / Triste fim de Policarpo Quaresma / Lima Barreto / Augusto dos Anjos / Eu e
outras poesias.
Mackenzie-SP 2016 Leia o poema de Augusto dos Anjos para responder à questão.
Versos a um coveiro
Numerar sepulturas e carneiros,
Reduzir carnes podres a algarismos,
Tal é, sem complicados silogismos, N
uu
A aritmética hedionda dos coveiros! -
4
mt,
[4
ra
Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!
281
Oh! Pitágoras da última aritmética, mergulhando no âmago da terra amplíssima lentamente
Continua a contar na paz ascética emergindo num ondear longínquo de chapadas...
Dos tábidos carneiros sepulcrais Este fácies geográfico resume a morfogenia do grande
maciço continental.
Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros, CUNHA, Euclides da. Os Sertões.
Porque, infinita como os próprios números
Mackenzie-SP 2015 Assinale a alternativa INCORRE-
A tua conta não acaba mais!
TA sobre o contexto histórico e literário da prosa pré-
-modernista a que pertence o fragmento de Os Sertões.
carneiros: criptas, subterrâneos sepulcrais.
a) Os prosadores pré-modernistas produziram uma
fúlgidos: brilhantes.
ascética: próprio do asceta, de quem se entrega a literatura problematizadora da realidade brasileira
práticas espirituais, levando vida contemplativa. de sua época.
tábidos: pobres, corruptos. b) Entre os temas pré-modernistas, esté o subde-
tíbias: ossos que constituem a perna. senvolvimento do sertão nordestino.
rádios: ossos que constituem o antebraço. c) A investigação social presente na prosa pré-mo-
úmeros: ossos que vão do cotovelo ao ombro. dernista colabora para o aprofundamento do
sentimento ufanista nacional.
É correto afirmar que em “Versos a um coveiro”: d) A prosa da época é marcada por obras de análise
a) a construção do soneto com léxico das áreas da e interpretação social significativas para a literatu-
Biologia e da Matemática reduz o impacto poético ra brasileira.
da composição. e) O pré-modernismo antecipou formal ou tematica-
b) a composição textual estruturada na função fática mente práticas e ideias que foram desenvolvidas
e no uso de terminologia científica ampliam o va- pelos modernistas.
lor literário do soneto.
c) o racionalismo científico e a opção pela com- Mackenzie-SP 2015 A partir do fragmento de Os Ser-
posição em forma de soneto vinculam o poema tões, pode-se afirmar que todas as afirmações estão
selecionado aos ideais do movimento Naturalista. corretas, EXCETO:
d) a exploração de caracteres patológicos, mórbidos a) o autor compõe seu texto com traços tanto de
e pútridos afastam a possibilidade de o presente uma prosa científica quanto de uma prosa literária.
soneto ser considerado relevante para o universo b) a constante utilização de termos científicos, como
da literatura brasileira. cumeadas, taludes e morfogenia, compromete o
e) o emprego de terminologia técnica, das áreas da valor literário da obra.
Biologia e da Matemática, concede tom de racio-
c) destacam-se contrastes geográficos do Brasil,
nalidade à morte, tratada de forma quantificável.
como evidenciado no fragmento: Mas ao derivar
Texto para as questões 10 e 11. para as terras setentrionais diminui gradualmente
Pe,
10 De sorte que quem o contorna, seguindo para o norte, obra Os Sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909),
observa notáveis mudanças de relevos: a princípio o traço em que se narram eventos referentes a uma das ex-
contínuo e dominante das montanhas, precintando-o, com pedições militares enviadas pelo governo federal para
destaque saliente, sobre a linha projetante das praias, de- combater Antônio Conselheiro e seus seguidores se-
pois, no segmento de orla marítima entre o Rio de Janeiro diados em Canudos.
15 e o Espírito Santo, um aparelho litoral revolto, feito da
envergadura desarticulada das serras, riçado de cumea- Oitocentos homens desapareciam em fuga, abando-
das e corroído de angras, e escancelando-se em baías, nando as espingardas; arriando as padiolas, em que se
e repartindo-se em ilhas, e desagregando-se em recifes estorciam feridos; jogando fora as peças de equipamento;
desnudos, à maneira de escombros do conflito secular desarmando-se; desapertando os cinturões, para a carreira
20 que ali se trava entre os mares e a terra; em seguida, trans- desafogada; e correndo, correndo ao acaso, correndo em
posto o 15º paralelo, a atenuação de todos os acidentes — grupos, em bandos erradios, correndo pelas estradas e
serranias que se arredondam e suavizam as linhas dos pelas trilhas que as recortam, correndo para o recesso das
taludes, fracionadas em morros de encostas indistintas no caatingas, tontos, apavorados, sem chefes...
horizonte que se amplia; até que em plena faixa costeira Entre os fardos atirados à beira do caminho ficara, logo
25 da Bahia, o olhar, livre dos anteparos de serras que até lá o ao desencadear-se o pânico — tristíssimo pormenor! — o ca-
repulsam e abreviam, se dilata em cheio para o ocidente, dáver do comandante. Não o defenderam. Não houve um
282 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
breve simulacro de repulsa contra o inimigo, que não viam de longos braços, longas pernas, como um símio. Tinha
e adivinhavam no estrídulo dos gritos desafiadores e nos a face cor de cobre, a barba rala e, sob uma aparência
estampidos de um tiroteio irregular e escasso, como o de de fraqueza muscular, não havia ninguém mais valente
uma caçada. Aos primeiros tiros os batalhões diluíram-se. que ele a roçar. Com isto era um tagarela incansável. De
Apenas a artilharia, na extrema retaguarda, seguia va- manhã, quando chegava, aí pelas seis horas, já sabia todas
garosa e unida, solene quase, na marcha habitual de uma as intriguinhas do município.
revista, em que parava de quando em quando para varrer O roçado tinha por fim ganhar terreno ao mato, no
a disparos as macegas traiçoeiras; e prosseguindo depois, lado do norte do sítio, que o capão invadira. Obtido ele,
lentamente, rodando, inabordável, terrível... o major plantaria obra de meio alqueire ou pouco mais
[...] de milho, e nos intervalos batatas-inglesas, cultura nova
Um a um tombavam os soldados da guarnição estoica. em que depositava grandes esperanças. Já se fizera a der-
Feridos ou espantados os muares da tração empacavam; rubada e o aceiro estava aberto; Quaresma, porém, não
torciam de rumo; impossibilitavam a marcha. lhe quisera atear fogo. Evitava assim calcinar o terreno,
A bateria afinal parou. Os canhões, emperrados, eliminando dele os princípios voláteis ao fogo. Agora o seu
imobilizaram-se numa volta do caminho... trabalho era separar os paus mais grossos, para aproveitar
O coronel Tamarindo, que volvera à retaguarda, como lenha; os galhos miúdos e folhas, ele removia para
agitando-se destemeroso e infatigável entre os fugitivos, longe, onde então queimaria em coivaras pequenas.
penitenciando-se heroicamente, na hora da catástrofe, da Isso levava tempo, custava tombos ao seu corpo mal
tibieza anterior, ao deparar com aquele quadro estupendo, habituado aos cipós e tocos; mas prometia dar um rendi-
procurou debalde socorrer os únicos soldados que tinham mento maior ao plantio.
ido a Canudos. Neste pressuposto ordenou toques repetidos
de “meia-volta, alto!”. As notas das cornetas, convulsivas,
Lima Barreto é conhecido como expoente do pré-
emitidas pelos corneteiros sem fôlego, vibraram inutilmen- -modernismo, período de intensa movimentação lite-
te. Ou melhor — aceleraram a fuga. Naquela desordem só rária que marcou a transição entre o simbolismo e o
havia uma determinação possível: “debandar!”. modernismo. Para alguns críticos, não é considerado
Debalde alguns oficiais, indignados, engatilhavam uma escola literária, por não possuir uma linha única a
revólveres ao peito dos foragidos. Não havia contê-los. Pas- ser seguida, sendo, no entanto, um importante período
savam; corriam; corriam doudamente; corriam dos oficiais;
da literatura nacional com traços particulares. Entre as
corriam dos jagunços; e ao verem aqueles, que eram de
principais características desse movimento, estão:
preferência alvejados pelos últimos, caírem malferidos, não
se comoviam. O capitão Vilarim batera-se valentemente a) linguagem rebuscada e repleta de jogos de pala-
quase só e ao baquear, morto, não encontrou entre os vras, idealismo, egocentrismo, sentimentalismo e
que comandava um braço que o sustivesse. Os próprios retrato da burguesia.
feridos e enfermos estropiados lá se iam, cambeteando, b) linguagem culta, narrativa lenta que acompanha o
arrastando-se penosamente, imprecando os companheiros tempo psicológico, descrições objetivas, ambien-
mais ágeis... tação em espaços urbanos e denúncia social,
As notas das cornetas vibravam em cima desse tumulto,
muitas vezes de forma irônica.
imperceptíveis, inúteis...
c) linguagem formal, com vocabulário elaborado e
Por fim cessaram. Não tinham a quem chamar. A in-
fantaria desaparecera... moderação na apresentação de sentimentos,
(Os Sertões, 2016.) rigor estético e artístico, temas universais e valori-
zação da cultura clássica.
12. Unifesp 2018 O trecho narra d) sincretismo estético, linguagem simples, nacionalis-
a) a debandada trágica dos seguidores de Antônio mo e regionalismo, marginalidade das personagens,
Conselheiro.
exposição da realidade brasileira com enfoque em
b) a completa aniquilação do povoado de Canudos.
temas históricos, políticos, sociais e econômicos.
c) o desfecho desastroso da expedição militar.
e) exacerbação do realismo, cientificismo, visão me-
d) o desmantelamento dos dois grupos de combatentes.
canicista do homem como produto do meio social e
e) a resistência heroica dos soldados do governo.
linguagem objetiva em detrimento da subjetividade.
13. Unifesp 2018 No trecho, o estilo de Euclides da
15. Unicamp-SP 2016 Em ensaio publicado em 2002,
Cunha pode ser caracterizado, sobretudo, como
Nicolau Sevcenko discorre sobre a repercussão da obra
a) transgressor.
de Euclides da Cunha no pensamento político nacional.
b) informal.
c) didático. Acima de tudo Euclides exaltava o papel crucial do
agenciamento histórico da população brasileira. Sua maior
d) lacônico. a
aposta para o futuro do país era a educação em massa das uu
e) rebuscado. [=
camadas subalternas, qualificando as gentes para assumir 4
uu
14. UFMS 2023 Leia o trecho de Triste fim de Policarpo
em suas próprias mãos seu destino e o do Brasil. Por isso se x
u.
viu em conflito direto com as autoridades republicanas, da
Quaresma, de Lima Barreto.
mesma forma como outrora lutara contra os tiranetes
Quaresma e seus empregados trabalhavam agora lon- da monarquia. Nunca haveria democracia digna desse
ge, faziam um roçado, e fora para auxiliar esse serviço que nome enquanto prevalecesse o ambiente mesquinho e
contratou o Felizardo. Era este um camarada magro, alto, corrupto da república dos medíocres [...]. Gente incapaz
283
e indisposta a romper com as mazelas deixadas pelo la- c) Raduan Nassar, na descrição de um de seus
tifúndio, pela escravidão e pela exploração predatória da personagens, critica o congressista brasileiro,
terra e do povo. corrupto e drogado, sempre pronto a defender o
[...] Euclides expôs a mistificação republicana de uma governo.
ordem excludente e um progresso comprometido com o
d) O fragmento faz parte da crônica/conto Urupês,
legado mais abominável do passado. Sua morte precoce
em que Monteiro Lobato descreve o Jeca Tatu,
foi um alívio para os césares. A história, porém, orgulhosa
de quem a resgatou, não deixa que sua voz se cale. tecendo críticas violentas ao caboclo brasileiro.
(Nicolau Sevcenko, O outono dos césares e a primavera da história.
e) No texto em questão, Monteiro Lobato, conhecido
Revista da USP, São Paulo, n. 54, p. 30-37, jun-ago 2002.) por suas obras infantis, defende a nacionalização
do petróleo em detrimento de políticos medío-
a) No último período do texto, há uma ocorrência do
cres e puxa-sacos.
conectivo “porém”. Que argumentos do texto são
articulados por esse conectivo? 18. Unicamp-SP 2017 Além de escrever Dom Quixote
b) Apresente o argumento que embasa a posição das crianças, Monteiro Lobato leva o “cavaleiro errante”
atribuída a Euclides da Cunha em relação ao lema para o Sítio do Picapau Amarelo.
da Bandeira Nacional. Lá na varanda, Dom Quixote conversava com Dona
Benta sobre as aventuras, e muito admirado ficou de saber
16. UFRGS-RS 2020 Considere as seguintes afirmações
que sua história andava a correr mundo; escrita por um tal
sobre os romances abaixo.
de Cervantes. Nem quis acreditar; foi preciso que Narizi-
Il. A personagem Bertoleza, de O cortiço, represen-
nho lhe trouxesse a edição de luxo ilustrada por Gustavo
ta um entrave às ambições de João Romão de Doré. O fidalgo folheou o livro muito atento às gravuras,
ascender socialmente, razão pela qual ele planeja que achou ótimas, porém falsas.
devolvê-la ao seu antigo senhor, na condição de — Isso não passa duma mistificação! — protestou ele.
escrava que era. — Esta cena aqui, por exemplo. Está errada. Eu não espetei
H. Euclides da Cunha narra, em “A luta”, terceira par- este frade, como o desenhista pintou — espetei aquele lá.
te de Os sertões, as formas de organização e as — Isto é inevitável — disse Dona Benta. — Os historia-
estratégias de combate dos sertanejos, liderados dores costumam arranjar os fatos do modo mais cômodo
por Antônio Conselheiro, que derrotam o Exército para eles; por isto a História não passa de histórias.
Republicano. Adaptado de Monteiro Lobato, O Picapau Amarelo. São Paulo:
Brasiliense, 2004, p. 18.
HI. O personagem Ricardo Coração dos Outros, em
Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, Na cena narrada,
é um músico popular, que goza da estima da mais a) Dona Benta mostra a Dom Quixote que a história
alta sociedade carioca, por ser a expressão ca- dele não é, de forma alguma, uma mistificação.
racterística da alma nacional. b) Dona Benta convence Dom Quixote de que as
Quais estão corretas? gravuras não refletem a História dos fatos.
a) Apenas |. c) Dona Benta concorda com Dom Quixote e critica
b) Apenas ll. o fato de a História ser fruto de interesses.
c) Apenasle ll. dj) Dona Benta opõe-se a Dom Quixote e critica a for-
d) Apenaslle Ill.
ma como a história dele é narrada nos livros.
e) |Llelll. 19. UEM-PR 2021 Sobre o Cubismo, assinale o que for
17. Unioeste-PR 2018 Com base no texto abaixo, assina-
correto.
01 O movimento artístico teve como enfoque a bidi-
le a alternativa CORRETA.
mensionalidade das figuras, quebrando as regras
O fato mais importante de sua vida é sem dúvida
tradicionais da perspectiva.
votar no governo. [...] Vota. Não sabe em quem, mas vota.
02 Na superfície de suas pinturas, os artistas procu-
[...] O sentimento de pátria lhe é desconhecido. Não tem
ravam retratar elementos que poderiam ser vistos
sequer a noção do país em que vive. [...] Em matéria de
como se estivessem inteiros para o observador.
civismo, não sobe de ponto. [...] A sua medicina corre
04 Pablo Picasso foi um artista importante desse mo-
parelhas com o civismo. [...] O veículo usual das drogas
vimento. Em uma de suas obras, Les demoiselles
é sempre a pinga — meio honesto de render homenagem
d'iAvignon, há clara referência a máscaras e a es-
à deusa Cachaça. [...] Só ele não fala, não canta, não ri,
culturas da arte negra africana.
não ama.
08 A estética cubista baseava-se na destruição da
a) O texto, extraído do romance Lavoura arcaica,
harmonia clássica das figuras, rompendo com a
de Raduan Nassar, ironiza o povo brasileiro, cuja
pintura acadêmica.
indolência e falta de patriotismo envergonham
16 O movimento encerrou-se nos anos 1910, por
o País. isso não se encontram referências cubistas no
b) O narrador de Lavoura arcaica descreve a vida
trabalho dos artistas modernos brasileiros.
dos agregados, na fazenda do pai, interesseiros e
preguiçosos, vítimas do álcool e da pobreza. Soma:
284 LÍNGUA PORTUGUESA « Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
20. VEL-PR 2021 Analise as imagens a seguir. 21. UEL-PR 2021 A obra “Roda de Bicicleta”, de Marcel
Duchamp, de 1913, inaugurou a proposta de readymade,
utilizando objetos prontos, não construídos pelo artista,
na produção da obra de arte.
c) PopArt
A obra Guernica, de Picasso, e o painel Guerra da obra d) Futurismo
Guerra e Paz, de Portinari, são dois dos trabalhos mais e) OpAr
conhecidos desses artistas.
Com base nas imagens e nos conhecimentos sobre 22. Enem PPL 2020
as obras de Picasso e Portinari, assinale a alternativa
correta.
a) A obra Guernica apresenta características ex-
pressionistas percebidas na composição e nas R
formas utilizadas por Picasso; o painel de Portinari : (é
foi concebido no contexto do movimento fauvista. ]
b) A obra Guernica apresenta uma paleta de co- 4 |||
res contrastantes para evidenciar a violência da
guerra; no painel de Portinari são utilizadas cores - Pe
fortes e quentes, contrastes e delineamento das É Carl nl
figuras para retratar o sofrimento.
c) A obra Guernica minimiza o sofrimento humano
ao enfocar uma perspectiva mais objetiva e rea-
lista; o painel de Portinari apresenta o horror da
guerra de forma fotográfica por meio de uma
perspectiva clássica.
d) A obra Guernica apresenta personagens sem
AMARAL, T. O mamoeiro, 1925, óleo sobre tela.
sentimentalismos e representados de forma tri-
dimensional; o painel de Portinari revela preo- As vanguardas europeias trouxeram novas perspec- [o]
cupação com a nitidez e o realismo das figuras e tivas para as artes plásticas brasileiras. Na obra O [E
dos temas. mamoeiro, a pintora Tarsila do Amaral valoriza rá
e) A obra Guernica retrata o bombardeio à cidade a) a representação de trabalhadores do campo. o
basca durante a guerra civil espanhola; o painel b) as retas em detrimento dos círculos.
Guerra retrata a guerra, de uma forma geral, como c) os padrões tradicionais nacionalistas.
algo que sempre existiu e continuará existindo na d) a representação por formas geométricas.
humanidade. e) os padrões e objetos mecânicos.
285
23
23. Fuvest-SP 2019 c) construção de perspectiva, apresentada na so-
breposição de planos visuais.
d) processo de automatismo, indicado na repetição
da imagem do homem.
e) procedimento de colagem, identificado no reflexo
do livro no espelho.
286 LÍNGUA PORTUGUESA « Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
Não voltou mais. A que ilha indescoberta a)
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
e) Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente,
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus! b)
Enem 2016
Texto |
Texto Il
Tenho um rosto lacerado por rugas secas e profundas,
sulcos na pele. Não é um rosto desfeito, como acontece
com pessoas de traços delicados, o contorno é o mesmo
mas a matéria foi destruída. Tenho um rosto destruído.
DURAS, M. O amante. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
287
Texto complementar
[...] Depois de abolido o trabalho escravo, não há mais motivo de identificar “quilombos” para enviar tropas, reprimi-los e castigar os escravos
fugidos. De fato, as poucas décadas que separam a identificação de “quilombos” e a generalização da palavra “favela” foi um período em que a
existência de comunidades pobres residentes nos morros da cidade foi muito pouco mencionada.
Não obstante, considerando que as colinas do Rio de Janeirojá se encontravam habitadas muito antes de ter início a história das favelas, e que
tais colinas não foram abandonadas por algumas décadas para depois serem repovoadas por uma população com as mesmas origens étnico-culturais
e vivendo nos mesmos tipos de habitação; não nos parece incoerente supor que a emergência das favelas na cidade, como argumentou Campos
(2004), tenha alguma continuidade histórica em relação aos quilombos do século XIX. É claro que no início do século XX, na esteira do aumento
populacional e do processo de urbanização da cidade, muitos novos agrupamentos foram constituídos e, mesmo aqueles já presentes nas colinas do
Rio, terminaram se adensando e adquirindo novas características.
De todo modo, a história que foi construída sobre a origem das favelas não fincou suas raízes nos quilombos. Por algum motivo, essa associação
foi feita com o episódio de Canudos e o sertão nordestino. E a pergunta que nós temos que fazer é: o que significa vincular a guerra de Canudos à
gênese das favelas da cidade?
[.]
À associação entre o episódio de Canudos e o Morro da Providência permitiu transpor a dualidade litoral/sertão para a capital da República,
constituindo uma nova dualidade: a cidade/favela (VALLADARES, 2000). Já na segunda década do século XX (ABREU, 1994), a palavra “favela” deixou
de ser somente um signo toponímico para tornar-se um substantivo comum e uma classe de área.
[...]
ALMEIDA, Rafael Gonçalves de. A ressignificação do mito de origem da favela pela arte de Maurício Hora. Espaço e Cultura, UERJ, Rio de Janeiro, n. 46, p. 45-60.
jul./dez. de 2019. p.45-46. Disponível em: https:/Awww.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/download/48848/32651. Acesso em: 5 jul. 2022.
Pré-Modernismo
O Pré-Modernismo não é considerado uma escola literária; foi, então, um período de transição correspondente às primeiras
décadas do século XX no Brasil que apresentou em suas produções elementos do passado estético, uma postura crítica
voltada ao conservadorismo, ao passo que prenuncia aspectos de modernidade, que ganharão força após a Semana de 22.
Os principais autores da prosa pré-modernista apresentam um panorama do cenário regional brasileiro, trazendo à tona pe-
culiaridades da cultura local e rompendo com determinados estereótipos humanos e culturais.
Lima Barreto é um importante autor preocupado em abordar os subúrbios e denunciar práticas de preconceito racial e social. Sua
crítica ao espírito nacionalista idealizador do país ganhou forma no protagonista de sua obra Triste fim de Policarpo Quaresma.
Na poesia, o autor de destaque é Augusto dos Anjos, que privilegia as formas tradicionais da poesia convencional, como
sonetos metrificados, mas traz uma inovação ao adotar uma linguagem escatológica. Sua única obra publicada se chama Eu.
Euclides da Cunha, com sua emblemática obra Os Sertões, traçou de maneira minuciosa uma imagem do sertão da Bahia na
cobertura jornalística da Guerra de Canudos. A imagem da terra e do homem sertanejo ganham uma dimensão que foge do
retrato estereotipado do ambiente hostil.
Monteiro Lobato dá espaço para as questões da decadência cafeeira do interior do estado de São Paulo e à figura humana,
o Jeca Tatu, desprezado pelo poder público.
Vanguardas europeias
As vanguardas europeias ou vanguardas artísticas surgiram no início do século XX como forma de romper com as convenções
artísticas consideradas passadistas.
Diante do contexto turbulento do incipiente século XX, as vanguardas rejeitavam a arte figurativa, a simetria, o equilíbrio e a
preocupação em reproduzir a realidade de forma verossímil.
O Cubismo apelava às formas geométricas. O Futurismo elogiava o progresso, o dinamismo e a velocidade da moderni-
dade. O Expressionismo radicalizava com obras irracionais em oposição à arte impressionista. O Dadaísmo ressignificava
o conceito de arte, dessacralizando o objeto artístico. O Surrealismo associava-se ao mundo onírico, ao estado do in-
consciente humano.
PTS A Ur
Vídeo
Q CANAL Univesp. Notícias Univesp — Racismo na Obra de Monteiro Lobato — João Luís Cardoso Ceccantini. YouTube. Disponível
em: https://youtu.be/p9e1 prp-TD8. Acesso em: 5 jul. 2022.
Nesse vídeo, o professor especialista na obra de Monteiro Lobato, João Luís Cardoso Ceccantini, do Departamento de Literatura da
Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Assis, SP, comenta a polêmica em torno do racismo na obra do autor pré-modernista.
Filme
E Guerra de Canudos. Direção: Sergio Rezende. 1997.
Esse filme se baseia no episódio bélico da Guerra de Canudos, ocorrido no final do século XIX no sertão da Bahia.
288 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
Gp ATAET
1. Enem 2020 Na sua imaginação perturbada sentia a na- a grande frase que definia a sua ideia da expressão e,
tureza toda agitando-se para sufocá-la. Aumentavam as num gesto, sulcou o alto da página de oferta com a frase
sombras. No céu, nuvens colossais e túmidas rolavam sublime: “lívida homenagem do autor”...
para o abismo do horizonte... Na várzea, ao clarão inde- Está aí como um grande gramático faz uma obra-prima.
ciso do crepúsculo, os seres tomavam ares de monstros... Leiam-na e verão como a coisa é bela.
As montanhas, subindo ameaçadoras da terra, perfila- (Sátiras e outras subversões, 2016.)
espírito amigo que lhe ensinara a pensar... a) situação social de enunciação representada. o
Mas “pálida homenagem”... Professor, autor de um b) divergência teórica entre gramáticos e literatos.
livro de filologia, cair na vulgaridade da expressão comum: c) pouca representatividade das línguas indígenas.
“pálida homenagem"? Não. E pensou. E de sua grave me- d) atitude irônica diante da língua dos colonizadores.
ditação, de seu profundo pensamento, saiu a frase límpida, e) tentativa de solicitação do documento demandado.
289
5. Unesp 2020 Leia o excerto do romance Clara dos É possível estabelecer um paralelo entre a passagem
Anjos, de Lima Barreto. e outros textos da Literatura brasileira por apresenta-
Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em rem reflexões críticas em relação à miséria, similares
pleno Campo de Sant'Ana, no meio da multidão que jor- ao pensamento de Olga. Essa abordagem ocorre nas
rava das portas da Central, cheia da honesta pressa de referências abaixo, exceto em uma. Assinale o item cuja
quem vai trabalhar. A sua sensação era que estava numa obra não é passível de ser relacionada com o exposto.
cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os seus a) Em Urupês, de Monteiro Lobato, a personagem
amores; no subúrbio, tinha os seus companheiros, e a sua Jeca Tatu, da zona rural do vale do Paraíba paulista,
fama de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte, com sua “casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos
era apontado; no subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, que moram em toca e gargalhar o João-de-Barro”.
era bem Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do b) Em O Cortiço, de Aluísio Azevedo, João Romão, na
Campo de Sant'Ana para baixo, o que era ele? Não era sua ganância, “não comia um ovo, do que no entan-
nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua
to gostava imenso; vendia-os todos e contentava-se
fama e o seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-se, e
com os restos da comida dos trabalhadores”.
representava-se a si mesmo como esmagado por aqueles
c) Em Morte e Vida Severina, de João Cabral de
“caras” todos, que nem o olhavam. [...]
Melo Neto, a carpideira afirma ao retirante Severino
Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua in-
ferioridade de inteligência, de educação; a sua rusticidade, que naquela região do agreste “pouco existe o que
diante daqueles rapazes a conversar sobre coisas de que lavrar”.
ele não entendia e a trocar pilhérias; em face da sofregui- d) Em Vidas Secas, de Graciliano Ramos, o narrador
dão com que liam os placards! dos jornais, tratando de apresenta a personagem Fabiano muitas vezes
assuntos cuja importância ele não avaliava, Cassi vexava-se em condição de penúria, “encolhia-se na presen-
de não suportar a leitura; comparando o desembaraço ça dos brancos e julgava-se cabra”.
com que os fregueses pediam bebidas variadas e esqui- e) Em Duelo, de Guimarães Rosa, a personagem
sitas, lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia Timpim Vinte-e-Um vive na miséria, carrega umas
pronunciar; olhando aquelas senhoras e moças que lhe mandioquinhas para a “mulher, que teve criança”
pareciam rainhas e princesas, tal e qual o bárbaro que viu, e “não tem nada lá em casa p'ra ela comer”.
no Senado de Roma, só reis, sentia-se humilde; enfim, todo
aquele conjunto de coisas finas, de atitudes apuradas, de UEM-PR 2017 (Adapt.) Assinale o que for correto.
hábitos de polidez e urbanidade, de franqueza no gastar, 01 Os sermões de Padre Vieira são marcados por
reduziam-lhe a personalidade de medíocre suburbano, de profunda introspecção e moralismo. Avessos às
vagabundo doméstico, a quase coisa alguma. questões mundanas e ao trato com o contexto
(Clara dos Anjos, 2012.) político, tornaram-se clássicos pelo caráter trans-
cendente de sua retórica eloquente.
'placards: nome que se dava às tabuletas que traziam 02 A poesia de Augusto dos Anjos é reconhecida pela
resultados de competições esportivas, publicados dificuldade de ser classificada em um movimento
nos jornais. estético determinado. Embora usasse, muitas vezes,
formas consagradas, como o soneto, os assuntos
a) No excerto, o narrador contrapõe dois espaços. de seus poemas não se conformavam a nenhum
Identifique-os. quadro normativo esperado. Sua poesia é marcada
b) Na poesia árcade também ocorre a contraposição pela degradação da matéria até a putrefação.
de dois espaços, o que vem a ser um importante 04 Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, o autor uti-
tópico dessa poesia. Quais são esses espaços? liza um artifício que demora muitas páginas até ser
revelado. De fato, o narrador desvia nossa atenção
. ESPM-SP 2019 O trecho que segue é da personagem quando afirma que não é um defunto-autor, mas um
Olga, de Triste Fim de Policarpo Quaresma, romance autor-defunto. Na verdade, o narrador Brás Cubas
de Lima Barreto. não morreu e nos narra, a partir da velhice, sua his-
O que mais a impressionou no passeio foi a miséria tória. Ele finge sua morte para nos enganar quanto
geral, a falta de cultivo, a pobreza das casas, o ar triste, à sua neutralidade em relação à história narrada.
abatido da gente pobre. [...] Havendo tanto barro, tanta 08 José de Alencar é um dos nomes mais impor-
água, por que as casas não eram de tijolos e não tinham tantes do Romantismo brasileiro. Seu projeto de
telhas? Era sempre aquele sapê sinistro e aquele “sopapo” escrever sobre o Brasil não conheceu limites e o
que deixava ver a trama de varas, como o esqueleto de um fez passar por várias formas de romance: indianis-
doente. Por que ao redor dessas casas não havia culturas, ta, regionalista, histórico e urbano. Além disso, foi
uma horta, um pomar? [...] Não podia ser preguiça só ou
poeta, dramaturgo, escreveu crítica literária, en-
indolência. Para o seu gasto, para uso próprio, o homem
saios sobre a literatura brasileira, não se furtando
tem sempre energia para trabalhar relativamente. [...] Seria
a terra? Que seria? E todas essas questões desafiavam a a participar de polêmicas vigorosas. Em Iracema,
sua curiosidade, o seu desejo de saber, e também a sua confere expressão literária à formação da identi-
piedade e simpatia por aqueles párias, maltrapilhos, mal dade brasileira, narrando a relação de amor entre
alojados, talvez com fome, sorumbáticos!... a índia Iracema e o português Martim.
(Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma) Soma:
290 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
8. UEM-PR 2018 Leia o poema de Augusto dos Anjos e e, acima de tudo, pela irreverência da linguagem,
assinale o que for correto. como se pode constatar em vocábulos como “es-
carro”, “lama”, “cigarro”.
Versos íntimos
Soma:
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera. Leia o texto extraído da primeira parte, intitulada
De,
Somente a Ingratidão — esta pantera — “A terra”, da obra Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Foi tua companheira inseparável! A obra resultou da cobertura jornalística da Guerra de
Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal
Acostuma-te à lama que te espera! O Estado de S. Paulo de agosto a outubro de 1897, e
O Homem, que, nesta terra miserável, foi publicada apenas em 1902. Após a leitura, responda
Mora, entre feras, sente inevitável às questões de 9 a 12.
Necessidade de também ser fera.
Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de 1897],
Toma um fósforo. Acende teu cigarro! as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um
canhoneio frouxo de tiros espaçados e soturnos, encon-
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
tramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
onde as colinas se dispunham circulando um vale único.
Pequenos arbustos, icozeiros virentes viçando em tufos
Se a alguém causa ainda pena a tua chaga, intermeados de palmatórias de flores rutilantes, davam
Apedreja essa mão vil que te afaga, ao lugar a aparência exata de algum velho jardim em
Escarra nessa boca que te beija! abandono. Ao lado uma árvore única, uma quixabeira
ANJOS, A. Eu e outras poesias. São Paulo: Martin Claret, 2002. p. 103.
alta, sobranceando a vegetação franzina.
O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão
e protegido por ela — braços largamente abertos, face vol-
quimera: referência às fantasias inalcançáveis, às ilu-
vida para os céus — um soldado descansava.
sões, às utopias.
Descansava... havia três meses.
Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coro-
01 O autor do poema é classificado pela crítica como nha da Mannlicher estrondada, o cinturão e o boné jogados
escritor tipicamente parnasiano. Isso porque seus a uma banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em
versos, a exemplo do que ocorre no poema trans- luta corpo a corpo com adversário possante. Caíra, certo,
derreando-se à violenta pancada que lhe sulcara a fronte,
crito, são caracterizados pela descrição, pela
manchada de uma escara preta. E ao enterrarem-se, dias
impessoalidade face ao objeto descrito e pelo
depois, os mortos, não fora percebido. Não compartira,
tom racional das ideias e das imagens, à moda de por isto, a vala comum de menos de um côvado de fundo
Olavo Bilac. em que eram jogados, formando pela última vez juntos, os
02 O eu lírico dirige-se a um interlocutor — um ami- companheiros abatidos na batalha. O destino que o remo-
go — para explicar-lhe que a causa das desilusões vera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concessão:
humanas são as quimeras, ou seja, as ilusões, os livrara-o da promiscuidade lúgubre de um fosso repug-
sonhos, as fantasias. Sendo assim, o melhor para nante; e deixara-o ali há três meses — braços largamente
o “Homem” é não depositar ou nutrir esperança
abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes,
para os luares claros, para as estrelas fulgurantes...
em coisa alguma ou em alguém.
E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conser-
04 No último terceto, o eu lírico aconselha o seu vando os traços fisionômicos, de modo a incutir a ilusão
interlocutor a apedrejar a mão que o afaga e a es- exata de um lutador cansado, retemperando-se em tran-
carrar na boca que o beija. Isso porque, se assim quilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja. Nem um
o fizer, ele simplesmente estará se antecipando à verme — o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria —
desilusão que, inevitavelmente, sucede à quime- lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem
ra, conforme já anunciara no primeiro terceto. decomposição repugnante, numa exaustão imperceptível.
08 A decomposição da matéria é um dos temas Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas suges-
mais recorrentes da obra de Augusto dos Anjos.
tivo, a secura extrema dos ares.
Nesse poema, o verso “Acostuma-te à lama que (Os Sertões, 2016.)
como os demais poemas de Augusto dos Anjos amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha,
são considerados precursores do Modernismo ou róseas, e bagas vermelhas.
Mannilicher: rifle projetado por Ferdinand Ritter von
brasileiro. Isso porque são marcados pela liberda-
Mannlicher.
de formal, pela casualidade dos temas abordados
291
Unesp 2021 Anteriormente ao texto transcrito, Euclides d) Tomando como modelo a queda da Bastilha, esse
da Cunha menciona a existência de “higrômetros ines- romance repercutiu entre nós a destruição de
perados e bizarros” na paisagem. Constitui exemplo de uma etnia.
higrômetro inesperado e bizarro no texto transcrito: e) Por vezes, o exibicionismo da oratória faz desse
a) a disposição geográfica das colinas. discurso histórico uma peça algo enigmática.
b) a ação dos vermes a decompor o cadáver.
c) o corpo abandonado do soldado.
14. PUC-Campinas 2016 A valorização da mestiçagem,
d) a quixabeira solitária, cercada por vegetação
como uma das marcas características da nossa for-
franzina. mação cultural, é indicada por Euclides da Cunha
e) a secura extrema dos ares.
numa formulação famosa, em que comparecem estas
expressões:
10. Unesp 2021 A linguagem do texto pode ser caracte- a) O sertanejo é antes de tudo um forte / Hércules-
rizada como -Quasímodo.
a) erudita e lacônica. b) Miguilim e Dito / nascidos ali no Mutum.
b) rebuscada e técnica. c) Fabiano e Sinha Vitória / matutavam junto ao
c) coloquial e prolixa. fogo.
d) subjetiva e informal. d) Riobaldo é Tatarana / agora chefe de jagunços.
e) hermética e impessoal. e) Macunaíma era herói da nossa gente / ai que
preguiça!
11. Unesp 2021 Além da primeira parte intitulada “A terra”,
outras duas partes, intituladas “O homem” e “A luta”, 15. Imed-RS 2015 Em sua obra Urupês, publicada em
compõem Os sertões. Verifica-se assim, na própria es- 1918, Monteiro Lobato apresenta uma de suas perso-
trutura da obra, uma nítida influência do nagens mais representativas: Jeca Tatu. Sobre o autor
a) Determinismo. e sua obra, é possível afirmar que:
b) Idealismo. Il. A personagem Jeca Tatu representa a miséria e o
c) | Iluminismo. atraso econômico do país, principalmente o des-
d) Socialismo. caso do governo em relação ao Brasil rural.
e) Liberalismo. ll. Jeca Tatu remete à figura do homem caboclo, e
sua aparência ligada à falta de higiene passou a
12. Unesp 2021 Considerando o contexto histórico de
ser relacionada à campanha sanitarista aderida
produção do texto, o soldado abandonado e seu
por Monteiro Lobato.
“adversário possante” podem ser identificados, em
ll. Sem educação e alheio aos acontecimentos de
termos políticos, como seu país, Jeca Tatu representa a ignorância do
a) militarista e civilista, respectivamente.
homem do campo.
b) abolicionista e escravista, respectivamente.
Qualis) está(ão) correta(s)?
c) escravista e abolicionista, respectivamente.
a) Apenas |.
d) republicano e monarquista, respectivamente.
b) Apenas Ill.
e) monarquista e republicano, respectivamente.
c) Apenaslell.
d) Apenas le Ill.
Para responder às questões 13 e 14, considere o texto
Pe
a seguir.
e) | llelll.
Euclides fora um dos que deram à nossa história um 16. Unicamp-SP 2016 Quanto ao conto Negrinha, de
“estilo”: uma forma de pensar e sentir o país [...] Não Monteiro Lobato, é correto afirmar que:
casualmente ele conferira lugar especial ao fenômeno da a) O narrador adere à perspectiva de dona Inácia,
mestiçagem [...] Ele teria descoberto nossa “tendência” à fazendo com que o leitor enxergue a história
fusão, nossa aptidão para a “domesticação da natureza” guiado pela óptica dessa personagem e se tor-
e para a religiosidade. A figura do sertanejo como “forte ne cúmplice dos valores éticos apresentados no
de espírito” por excelência era o símbolo de nossa origi- conto.
nalidade completa. b) O modo como o narrador caracteriza o contexto
(GOMES, Ângela de Castro. História e historiadores. A política cultural
histórico no conto permite concluir que Negrinha
do Estado Novo. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1996. p. 195)
é escrava de dona Inácia e, portanto, está fadada
13. PUC-Campinas 2016 O seguinte trecho crítico alude a uma vida de humilhações.
à obra prima de Euclides da Cunha: c) A maneira como o narrador comenta as caracte-
a) Avasta erudição histórica costuma desviar o leitor rísticas atribuídas às personagens contrasta com
do plano central desse grande romance intimista. as falas e as ações realizadas por elas, o que ca-
b) A descrição minuciosa da terra, do homem e da racteriza um modo irônico de apresentação.
luta situa essa obra literária no nível da cultura d) O narrador apresenta as falas e pensamentos das
científica e histórica. personagens de modo objetivo; assim, o leitor
c) Não se poderia imaginar que um testemunho sobre fica dispensado de elaborar um juízo crítico sobre
a vida nos internatos resultasse num romance épico. as relações de poder entre as personagens.
292 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
17. Fema-SP 2017 Leia o poema de Augusto dos Anjos 19. UEPG-PR 2020 As vanguardas artísticas europeias in-
para responder à questão. fluenciaram a produção artística das décadas seguintes
em vários lugares do mundo. Sobre os diferentes movi-
Versos íntimos mentos que marcaram o século XX na música erudita e
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável nas artes visuais, assinale o que for correto.
Enterro de tua última quimera!. 01 O Impressionismo foi uma vertente artística surgida
Somente a Ingratidão — esta pantera — no final do século XIX, com forte destaque no campo
Foi tua companheira inseparável! da pintura, representada por artistas como Claude
Monet e Auguste Renoir, que desencadeou o pro-
Acostuma-te à lama que te espera!
cesso artístico revolucionário, firmado no século XX.
O Homem, que, nesta terra miserável,
02 Claude Debussy, considerado o pai da Música
Mora, entre feras, sente inevitável
Moderna, na obra “Prelúdio à Tarde de um Fauno”
Necessidade de também ser fera.
(1894), se desprende levemente das regras tradi-
Toma um fósforo. Acende teu cigarro! cionais de harmonia e composição, estruturadas
O beijo, amigo, é a véspera do escarro, no sistema musical tonal.
A mão que afaga é a mesma que apedreja. 04 Um exemplo de performance musical colaborativa
Se a alguém causa inda pena a tua chaga, ou participativa, direcionada ao público, propos-
ta por John Cage, foi a peça 4'33” (4 minutos e
Apedreja essa mão vil que te afaga, 33 segundos).
Escarra nessa boca que te beija! os O Surrealismo foi um movimento da literatura e
(Eu e outras poesias, 2011.) das artes plásticas que iniciou na França, no início
do século XX, sob a liderança do francês André
'quimera: fantasia, utopia. Breton. Para os surrealistas, a obra de arte resul-
tava da expressão automática do pensamento,
Para o eu lírico, o Homem é um ser deliberadamente incoerente, com prevalência
a) especial, destinado a viver em harmonia com absoluta do sonho e do inconsciente.
seus semelhantes, apesar do meio ambiente que
Soma:
o perturba de tempos em tempos.
b) social, que se aperfeiçoa na presença de outros 20. UEM-PR 2020 Sobre as vanguardas artísticas, assinale
homens, podendo assim enfrentar as hostilidades o que for correto.
do ambiente. 01 Uma de suas características é a crença no poder
c) alienado, que evita o confronto com outros seres transformador da realidade por meio da arte.
e se abstém de situações em que pode superar a 02 Apesar de inseridas em contextos e em épocas
sie aos outros. distintas, as vanguardas têm semelhanças ideoló-
d) solitário, que descarta comportamentos desregra- gicas e de ação, as quais as tornam similares.
dos e desmedidos que busquem prazeres infinitos. 04 Diversas vanguardas produziram manifestos,
e) desajustado, em frequente embate com o am- documentos ou escritos teóricos nos quais reve-
biente hostil e com a crueldade de outros seres laram sua concepção de arte.
que o cercam. os Novos padrões estéticos e rupturas com estilos
são propostos pelas vanguardas, além de novos
18. UEPG/PSS-PR 2020 Com relação à História das Artes
repertórios de signos.
Visuais, assinale o que for correto.
16 O acesso à informação, por meio da difusão do
01 A repercussão do Expressionismo no campo da
mundo digital, foi fundamental para o surgimento
pintura resultou em imagens densas que refletiam
das primeiras vanguardas artísticas.
o sentimento dos artistas. Se para eles o mundo
se apresentasse obscuro e sombrio, assim tam- Soma:
bém seria sua obra. 21. UEL-PR 2020 Algumas vanguardas artísticas eu-
02 Os artistas do Surrealismo buscavam manifestar o
ropeias criadas na primeira metade do século XX
universo dos sonhos e do inconsciente, represen-
foram manifestações artístico-literárias que criticavam
tando-os na pintura com traços sintéticos e cores uma concepção tradicional de museu, introduzindo
puras, O que dava a impressão ao espectador de
uma estética marcada pela experimentação e pela
que a obra estava inacabada.
subjetividade, que influenciaria fortemente diversas
04 A Art Déco foi um estilo artístico financiado pela
manifestações culturais em todo o mundo.
corte Francesa do século XVIII, que retornou aos Sobre as principais correntes vanguardistas e suas res- N
valores da Antiguidade greco-romana de raciona- pectivas características, assinale a alternativa correta.
uu
-
lismo, harmonia e equilíbrio. 4
a) O Surrealismo apresentava a exaltação da tecnolo- Em,
[eq
08 Os pintores cubistas Pablo Picasso e Georges ue
gia, das máquinas, da velocidade e do progresso.
Braque representaram os objetos como se esti-
b) O Expressionismo evidenciava a decomposição
vessem abertos, com todos os lados no seu plano
e a fragmentação das formas geométricas, afir-
frontal em relação ao observador.
mando que um mesmo objeto poderia ser visto
Soma: de vários ângulos.
293
c) O Cubismo valorizava a subjetividade e buscava 24. PUC-Campinas 2018 Dentre as vanguardas artísticas
transmitir ao mundo a situação do homem, com europeias que emergiram no entreguerras, destaca-se o
seus vícios e horrores. a) futurismo, movimento artístico e literário surgido na
d) O Futurismo defendia a criação por meio das ex- Itália, marcado pela publicação do Manifesto Futurista
periências nascidas no imaginário e na atmosfera de Filippo Marinetti, que anunciava uma nova ordem
onírica, sem interferências da razão. após a destruição massiva provocada pela guerra.
e) O Dadaísmo surgiu como oposição à guerra e ressal- b) surrealismo, vanguarda que despontou na França,
tava a espontaneidade da arte pautada na liberdade bastante influenciada pela psicanálise, que teve
de expressão, no absurdo e na irracionalidade. como um de seus principais expoentes André Breton
22. ESPM-SP 2019 Paul Klee — “Equilíbrio Instável” reúne e valorizava os impulsos do inconsciente ante a
pela primeira vez na América Latina mais de 100 obras crise da racionalidade provocada pela guerra.
do artista. A exposição ocorre no Centro Cultural Banco c) expressionismo, movimento artístico que aflorou
do Brasil paulistano e depois entra em turnê pelo país, na Alemanha, liderado por Pablo Picasso, voltado
passando por Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Amigo de à denúncia realista do terrível quadro social pro-
Kandinsky, o artista lecionou, com ele, na Bauhaus, a mí- vocado pela derrota desse país na guerra.
tica escola de design que serviu de farol da vanguarda até d) impressionismo, gênero pictórico que emergiu nos
ser fechada pelos nazistas. Incluído em uma lista de artis- Países Baixos e na França, marcado pela subjetivi-
tas considerados degenerados pelo regime nazista, Klee dade, pela melancolia e pela angústia suscitados
dizia que 'a arte não reproduz o visível, mas torna visível nos indivíduos traumatizados pela guerra.
uma verdade verdadeira que jaz no âmago das coisas”. e) fauvismo, corrente artística cujo nome deriva de
(Folha de São Paulo, 13 de fevereiro, 2019) “fauve”, fera em francês, que tinha por objetivo
retratar o mundo bárbaro, não civilizado, porém
exótico e capaz de apresentar novos paradigmas
de modernidade à Europa arrasada após a guerra.
294 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 8 « Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
As formas plásticas nas produções africanas conduzi- b) Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
ram artistas modernos do início do século XX, como Minha mãe ficava sentada cosendo.
Pablo Picasso, a algumas proposições artísticas deno- Meu irmão pequeno dormia.
minadas vanguardas. A máscara remete à Eu sozinho menino entre mangueiras
a) preservação da proporção. lia a história de Robinson Crusoé.
b) idealização do movimento. Comprida história que não acaba mais.
c) estruturação assimétrica. (Carlos Drummond de Andrade, “Infância”, em Alguma poesia.)
295
2 Leia o texto que aborda a possibilidade de racismo na obra de Monteiro Lobato para responder às questões 2 e 3.
Isso tudo já era sabido e discutido, até que em 2011 se tornou pública uma carta do escritor enviada a Arthur Neiva, em
10 de abril de 1928, publicada na revista Bravo! (maio de 2011) e reproduzida pela Carta Capital. Ali vemos que o criador do
Visconde de Sabugosa e de Barnabé defendia a Ku Klux Klan e seus ideais, que envolviam a morte do outro, repugnando-lhe
a formação do povo de seu próprio país:
“País de mestiços, onde branco não tem força para organizar uma Kux-Klan (sic), é país perdido para altos destinos [...]
Um dia se fará justiça ao Ku-Klux-Klan; tivéssemos aí uma defesa desta ordem, que mantém o negro em seu lugar, e estaríamos
hoje livres da peste da imprensa carioca — mulatinho fazendo jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem
do negro destrói a capacidade construtiva”.
É conhecido o surrado argumento indulgente de que o “momento histórico” autorizava certas liberdades de que o es-
critor lançava mão em sua literatura infantil do período pós-escravocrata de cunho nostálgico. Porém, é necessário observar
que o contexto histórico não é uma imunidade ou conformidade, como se todo contemporâneo de Stalin devesse cultivar o
stalinismo, e por aí vai. Thomas Mann, um contemporâneo de Lobato (apenas sete anos mais velho que o brasileiro), adotara
uma posição muito diversa, de antagonismo às tendências então dominantes na Alemanha de seu tempo. [...]
[...]
Diante dos fragmentos acima, podemos cruzar alguns dados com os parâmetros definidos pelo Supremo Tribunal Federal
no HC 82.424-2. Não pretendemos aqui fazer uma análise completa da obra desse relevante editor e tradutor brasileiro.
No entanto, com alguns fragmentos do livro citado e com base no precedente do Tribunal Constitucional, nos parece que o
livro O Choque das Raças (ou O Presidente Negro) contém os mesmos ingredientes que se prestaram a condenar cidadãos
em tempos recentes por escritos racistas e motivariam mesmo (nos termos do parágrafo 4º, do artigo 20, da Lei 7.716/1989)
a destruição desses escritos.
RIBEIRO, Rodrigo de Oliveira. Literatura e racismo: uma análise sobre Monteiro Lobato e sua obra. Conjur, 12 dez. 2015.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-dez-12/literatura-racismo-analise-monteiro-lobato-obra.
Acesso em: 7 jul. 2022.
[EMA3LP17]
2. De acordo com o texto, a obra de Monteiro Lobato apresenta os “mesmos ingredientes [...] racistas” que levam cida-
dãos à condenação nos termos da Lei 7:716/1989. Com base nessa afirmação, convide um professor de História ou de
Literatura para desenvolver um debate sobre o tema. Para essa atividade, que pode ser realizada em grupo, procure
criar um roteiro com perguntas e informações sobre o autor de maneira que se discuta a coerência da aplicabilidade
da lei sobre a obra de Monteiro Lobato.
[EMI3LP33|
>. Pesquise sobre os aspectos considerados racistas na obra de Monteiro Lobato, os quais já foram tema de reportagens
e notícias. Selecione um desses textos jornalísticos e compartilhe a leitura com sua turma com o intuito de promover
uma discussão sobre as denúncias feitas. Não se esqueça de indicar as referências bibliográficas adequadas.
296 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 8 * Pré-Modernismo e vanguardas europeias: os contrastes no início do século XX
tirachad/Freepik
José Pacheco
1910 o 1932
ç aê 1939 .
z z Tem início a Segunda z
E < Guerra Mundial. Salazar E
= 5 decide não se envolver z
5 E no conflito, mantendo 5
z 5 Portugal neutro durante É
E a guerra. 8
As colônias portuguesas
na África começam a se 1986
rebelar contra Portugal. Ex-primeiro
A primeira foi Angola e, ministro de
em seguida, Guiné e Portugal, Mário
Moçambique. Soares é eleito
presidente, e o
país torna-se
membro da
Comunidade
Econômica
Europeia.
298 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
Os textos publicados na revista Orpheu, em 1915, pre-
tendiam romper com a cultura passadista. Por essa razão,
é possível notar os ecos das vanguardas europeias, como
o Futurismo e o Surrealismo, uma vez que elas, respecti-
vamente, propunham o apelo à modernidade e a rejeição
à representação da realidade nas obras.
5 O grupo de autores modernistas desse primeiro mo-
35
Z
33
mento ficou conhecido como Geração Orpheu. Mário de
&5
Sá-Carneiro (1890-1916), um dos nomes de destaque do
2z
8o grupo, amigo próximo de Fernando Pessoa, contribuiu para
>
32
a revista com textos e ajuda financeira.
so5
2
% Eu não sou eu nem sou outro,
S Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para Outro.
AMORIM, Bernardo Nascimento de. Entre a conservação (do eu) e a
Dom Sebastião ascendeu ao trono ainda muito jovem, (sua) dispersão: tensões e transcendência em Céu em fogo, de Mário
de Sá-Carneiro, um exemplar das escritas modernas do eu. Itinerários,
com apenas 3 anos de idade, após a morte de seu avô, Araraquara, n. 40, p. 235-248, jan./jun. 2015. Disponível em:
o rei João Ill. A crise vivenciada por Portugal a partir de http:/www.repositorio.ufop.br/bitstream/123456789/6961/1/ARTIGO
1580, com a instauração da União Ibérica, está direta- EntreConservaçãoDispersão.pdf. Acesso em: 13 jul. 2022.
mente ligada à figura de Dom Sebastião. O jovem rei Filho de um militar distante de casa em razão das inú-
desapareceu durante a batalha de Alcácer-Quibir, no meras viagens e órfão de mãe aos 2 anos de idade, Mário
Marrocos, em cruzada de Portugal para fazer cessar as foi criado pela avó. Aos 22 anos, foi viver em Paris, onde
ameaças à costa lusitana. Seu desaparecimento gerou
enfrentou a depressão e acabou cometendo suicídio, aos
grave crise à Coroa, pois não havia um herdeiro legítimo
26 anos. As cartas trocadas com o amigo Fernando Pessoa
para ocupar o trono, e desencadeou o árduo período
são fonte de estudos acerca da obra de ambos, sendo a de
de decadência de Portugal. O mito do sebastianismo foi
Mário marcada por angústia, solidão e a busca de si mesmo,
uma crença originada a partir desse evento simbólico,
enquanto a de Pessoa é carregada de nacionalismo crítico,
propagando o retorno do rei e a recuperação das gló-
teor irônico e provocativo, além de certo experimentalismo
rias do país.
típico das vertentes modernistas.
299
Fernando Pessoa: a poesia ortônima Pode objectar-se, além de muita coisa desdenhável num
artigo que tem de não ser longo, que o actual momento polí-
tico não parece de ordem a gerar génios poéticos supremos,
300 LÍNGUA PORTUGUESA + Capítulo 9 » Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
O título do poema refere-se à descrição ou análise A segunda parte de Mensagem, Mar português, alu-
que uma pessoa faz de si mesma, o que o crítico literário de ao momento áureo de Portugal, durante as Grandes
Massaud Moisés associou à mediunidade. O prefixo “auto” Navegações. Os poemas retomam os feitos de Bartolomeu
evidencia que o psicografado, no entanto, não está no pla- Dias, Fernão de Magalhães e Vasco da Gama, além de
no espiritual, mas dentro do poeta. estabelecer um diálogo intertextual com Os lusíadas, es-
pecialmente os episódios “O gigante Adamastor” e “O
Assim, penetramos na camada psicológica ou psicanalíti-
velho do restelo”, em que Fernando Pessoa ressignificou a
ca. “Auto” e “psico” funcionariam em decorrência da equação
filosófica, como sinônimos, ou, se se preferir, como estruturas
glória portuguesa. O poema “Mar português”, reproduzido
mentais correspondentes a algo como consciente e inconscien- anteriormente, é um dos mais conhecidos da obra.
te [...] como se o sujeito fosse o espelho no qual se mira, [...] A última parte do livro, O encoberto, aborda os símbo-
MOISÉS, Massaud. Fernando Pessoa: o espelho e a esfinge. los e os avisos sobre o futuro de Portugal, anunciado nas
2. ed. rev. e ampl. São Paulo, Cultrix. 3. ed. 2009. p. 53. tradições proféticas que previam o Quinto Império, crença
messiânica sobre o retorno da glória de Portugal.
Na psicografia de si mesmo, o poeta afirma ser um
fingidor, ou seja, aquele que cria a ficção, cria “a dor que Quinto / Nevoeiro
deveras sente”. Mas, sendo fingidor, a própria afirmação é
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
um espelho do que é dito.
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Mensagem: uma obra épica moderna
Que é Portugal a entristecer —
O livro Mensagem foi o único publicado por Fernando Brilho sem luz e sem arder,
Pessoa, em 1934, consequência de sua participação no Como o que o fogo-fátuo encerra.
concurso de poesia Prêmio Antero de Quental, promovido Ninguém sabe que coisa quer.
pelo Secretariado de Propaganda Nacional. A obra ficou em Ninguém conhece que alma tem,
segundo lugar no concurso,
já que não atendia à exigência Nem o que é mal nem o que é bem.
do número mínimo de páginas. É considerada uma epopeia (Que ânsia distante perto chora?)
moderna, pois retoma os feitos heroicos lusitanos, tal como Tudo é incerto e derradeiro.
o fez o poema épico de Luís Vaz de Camões, Os lusíadas, Tudo é disperso, nada é inteiro.
publicado em 1572. Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
Por se tratar de um livro do Modernismo português, É a Hora!
as marcas modernas, como a síntese, os versos curtos e a Valete, Frates.
liberdade métrica, estão presentes nos 44 poemas distribuí- PESSOA, Fernando. Mensagem. Edição de António Apolinário Lourenço;
ilustrações Kaio Romero. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2015. p. 187.
dos em três partes: Brasão, O encoberto e Mar português. Disponível em: http:/Avww.dominiopublico.gov.br/download/texto/
Cada uma das partes representa a alma de Portugal, pe000004.pdf. Acesso em: 13 jul. 2022.
como afirmava o poeta. Na primeira parte, estão os poemas
O mito sebastianista associa-se a essas lendas por relacio-
que representam os signos do brasão português, as pedras
nar a imagem do rei desaparecido, Dom Sebastião, ao futuro
basilares da nacionalidade. As figuras reais e lendárias são
do país lusitano. A imagem do nevoeiro guarda o cavaleiro
retomadas em uma linha temporal organizada por poemas
que simbolicamente traria glórias mais uma vez a Portugal.
que remetem a eventos ocorridos na constituição do país,
A expressão usada no final do poema, “Valete Frates” (Saúde,
como uma nação gloriosa. Assim, cada um dos poemas
irmãos), é uma saudação nacionalista convocando o povo
têm como título o nome de um rei, um conde ou alguém que
português a confiar nessa hora gloriosa tão esperada.
foi parte importante da história portuguesa, como D. Afonso
Henriques, D. Dinis e D. João III. O marinheiro: drama estático em um quadro
Além das obras produzidas sob o espírito nacionalista
de Fernando Pessoa e da sua vasta produção heterônima,
há algumas de outros gêneros, como O marinheiro, peça
Reprodução
301
— Um dia, que chovera muito, e o horizonte estava mais incerto, o marinheiro cansou-se de sonhar... Quis então recordar
a sua pátria verdadeira..., mas viu que não se lembrava de nada, que ela não existia para ele... Meninice de que se lembrasse, era a
na sua pátria de sonho; adolescência que recordasse, era aquela que se criara... Toda a sua vida tinha sido a sua vida que sonhara...
E ele viu que não podia ser que outra vida tivesse existido... Se ele nem de uma rua, nem de uma figura, nem de um gesto materno
se lembrava... E da vida que lhe parecia ter sonhado, tudo era real e tinha sido... Nem sequer podia sonhar outro passado, conceber
que tivesse tido outro, como todos, um momento, podem crer... Ó minhas irmãs, minhas irmãs... Há qualquer cousa, que não sei
o que é, que vos não disse... Qualquer cousa que explicaria isto tudo... A minha alma esfria-me... Mal sei se tenho estado a falar...
Falai-me, gritai-me, para que eu acorde, para que eu saiba que estou aqui ante vós e que há cousas que são apenas sonhos...
PESSOA, Fernando. O marinheiro. Apresentação e notas: Marcos Lopes e Ana Maria Ferreira Côrtes. Campinas, SP: Unicamp, 2020. Disponível em:
https://Awww institutoclaro.org.br/educacao/para-aprender/roteiros-de-estudo/estudar-em-casa-conheca-o-marinheiro-de-fernando-pessoa/. Acesso em: 13 jul. 2022.
O sonho do personagem é mesclado à cena onde se encontram as três veladoras. A ausência de uma das marcas do gênero
dramático — as rubricas — permite a sobreposição de um plano ao outro, “Ó minhas irmãs, minhas irmãs... [...] Falai-me, gritai-me,
para que eu acorde, para que eu saiba que estou aqui ante vós e que há cousas que são apenas sonhos..”. Nesse sentido, a
natureza psicológica da obra aborda um mundo produzido de forma onírica, o qual deixa uma atmosfera de dúvida na peça.
A heteronímia é uma criação de Fernando Pessoa que consiste no desdobramento lírico. Sabemos que o eu lírico é a
voz do sujeito que enuncia o poema; embora o limite entre os dois seja tênue, o eu lírico se encontra no campo estético, não
na realidade do poeta. Alguns autores, para omitir sua identidade, optam pelo pseudônimo, no entanto esse recurso ainda
permite entender que a voz lírica se associa ao autor. Já o heterônimo se difere significativamente, pois se refere a um jogo
profundo de identidade, de autoria, de visão de mundo, de elaboração estética do sujeito criado pelo autor, não se tratando
de identidade falsa do autor, mas de um outro autor criado por ele.
Fernando Pessoa desde a infância criava heterônimos; o primeiro foi Chevalier de Pas, para quem o poeta escrevia cartas
aos 6 anos de idade. Ao longo de sua produção, foram criados por volta de 70 heterônimos, sendo os mais conhecidos Alberto
Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Tais nomes dizem respeito a outros seres, poetas e prosadores, em que Pessoa se multiplicava: possuem identidade pró-
pria, “biografia”, e a sua produção estética ou filosófica ostenta características peculiares e inconfundíveis. Os heterônimos
assim personalizados resultariam de um desdobramento semelhante ao do dramaturgo, radicado no esforço de abranger,
gnoseologicamente, todas as modalidades do real: cada um dos seres que povoavam a vida interior do poeta corresponderia
a uma das formas-padrão de conhecimento do mundo e dos homens, ou seja, a uma cosmovisão — paradigma.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12. ed. rev., ampl. e. atual. São Paulo: Cultrix, 1975.
sobre a vida mediante o que lhe diziam os astros. Mapa astral elaborado por Fernando Pessoa.
302 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
Alberto Caeiro: o mestre dos heterônimos nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase:
aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata
Homem do campo, Alberto Caeiro (1889-1915) nasceu
que tive. E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e
em Lisboa e não teve uma educação formal, o que se nota em
tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi,
seus poemas de linguagem simples e versos livres. Porém,
a fio, também, os seis poemas que constituem a “Chuva oblí-
a origem e a simplicidade evidentes na poética de Caeiro
qua”, de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente... Foi o
não significavam abordagem temática simplista, uma vez
regresso de Fernando Pessoa Alberto Caeiro a Fernando Pessoa
que o poeta apresenta apelo ao sensorialismo em versos
ele só. Ou, melhor, foi a reacção de Fernando Pessoa contra a
com teor filosófico. A vida campestre e o ambiente bucó-
sua inexistência como Alberto Caeiro.
lico propiciaram ao poeta uma relação com a vida distinta Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, de 13 de janeiro de
daquela desenvolvida pelo conhecimento científico ou 1935. In: Correspondência 1923-1935. Lisboa: Assírio & Alvim, 1999.
enciclopédico. Caeiro vê e sente o mundo sem os vícios Disponível em: https://casafernandopessoa.pt/pt'fernando-pessoa/textos/
heteronimia. Acesso em: 7 jul. 2022.
da civilização e os exageros propiciados pela metafísica.
O prefácio de O guardador de rebanhos foi escrito
Se às vezes digo que as flores sorriem
por Ricardo Reis, outro heterônimo de Pessoa. A troca de
E se eu disser que os rios cantam,
cartas e a crítica literária de um em relação ao outro faz
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
parte da complexidade artística da heteronímia. Segundo
E cantos no correr dos rios...
Ricardo Reis, a obra do poeta Alberto Caeiro é marcada
É porque assim faço mais sentir os homens falsos
por um paganismo não pensado, mas vivido, já que sua
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.
ignorância do mundo letrado lhe permitiu um progresso
[...]
PESSOA, Fernando. Poesia completa de Alberto Caeiro. São Paulo:
profundo das sensações.
Companhia das Letras, 2005. p. 56.
Ricardo Reis: o poeta clássico
A linguagem simples, a ausência de formas fixas e mé-
trica, a objetividade em ver o mundo natural como ele é, Em oposição à simplicidade e ao sensorialismo de
dispensando o ato de pensar, imprimem à poesia de Alberto Caeiro, Ricardo Reis (1887-) é o heterônimo clássico
Caeiro complexidade filosófica. Seus poemas apresentam de Pessoa. Nasceu no Porto, teve educação rígida em co-
metáfora e comparações inúmeras, presença da nature- légio jesuíta, estudou latim, formou-se em Medicina e se
za e defesa do conhecimento empírico em detrimento da mudou para o Brasil em 1919, dada a sua postura política
metafísica. Assim, para esse heterônimo há metafísica em em defesa da monarquia. Sua poesia apresenta a atmosfera
pensar em nada. clássica da tradição poética, sendo claras as referências
O pensamento se opõe à razão na perspectiva do poe- ao modelo greco-latino, como o tema da natureza, a mito-
ta, pois ele não aceita as coisas como são, imaginando-as. logia e o tema do carpe diem, resultante da consciência
Por esse motivo, o sentido da visão é predominante na da efemeridade da vida. Seus poemas apresentam métrica,
poesia de Caeiro, como se a sensação do mundo revelasse predileção por formas fixas e sintaxe complexa; no entanto,
a verdade sobre ele. As flores e rios existem, uma vez que o paganismo aproxima-o de seu mestre Caeiro.
podem ser vistos e sentidos. Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
[...] Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Creio no mundo como num malmequer, Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
Porque o vejo. Mas não penso nele (Enlacemos as mãos).
Porque pensar é não compreender... Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
O mundo não se fez para pensarmos nele Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
(Pensar é estar doente dos olhos) Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo. Mais longe que os deuses.
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
PESSOA, Fernando. Poesia completa de Alberto Caeiro. São Paulo: Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Companhia das Letras, 2005. p. 19. Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Em sua carta ao amigo Adolfo Casais Monteiro, Fernando
[...]
Pessoa afirmou que criou Alberto Caeiro no Dia Triunfal,
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
8 de março de 1914, quando escreveu em pé os poemas que
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
compõem o livro O guardador de rebanhos do poeta bucólico.
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
[...] Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Pagãos inocentes da decadência.
Num dia em que finalmente desistira — foi em 8 de Março de PESSOA, Fernando. Odes de Ricardo Reis. Lisboa: Ática, 1946 Ns
(imp.1994). Disponível em: http://arquivopessoa.net/textos/3427. uu
1914 — acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um -
Acesso em: 7 set. 2022. 4
papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que o
[e
posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de O desejo de aproveitar a vida ao lado da amada, a vida o
êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal que “passa e não fica, nada deixa e nunca regressa”, é uma
da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com evidência do pensamento horaciano na poesia de Reis, que
um título, “O guardador de rebanhos”. E o que se seguiu foi também apresenta racionalismo, rejeição ao arrebatamento
o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o amoroso e preocupação formal.
303
9 Saiba mais Poema em linha reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Reprodução
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado
sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa que mora Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
no Brasil, é um poeta clássico voltado ao contemplativo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
da natureza. No livro de José Saramago publicado em Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida...
1984 O ano da morte de Ricardo Reis, o personagem Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
desembarca em Lisboa, em dezembro de 1935, após Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
dezesseis anos distante de seu país, num momento po- Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
lítico crítico para Portugal, que estava sob o regime da
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
ditadura salazarista. Ricardo Reis é um homem solitário,
imerso em uma narrativa fantástica, na qual dialoga com
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez
o fantasma de Fernando Pessoa e acompanha as notícias foi vil?
nos jornais a distância, apenas como um observador do Ó príncipes, meus irmãos,
mundo ao redor. Figuras históricas estão presentes ao Arre, estou farto de semideuses!
longo das páginas e compõem a duplicidade do livro, Onde é que há gente no mundo?
em que a vida de Ricardo Reis em um hotel se mescla Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
a acontecimentos importantes, como os eventos prece- Poderão as mulheres não os terem amado,
dentes da Segunda Guerra Mundial. A obra rompe com Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
as fronteiras entre realidade e literatura, uma caracte- E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
rística estilística de Saramago, e coloca diante do leitor
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
densos parágrafos e diálogos em texto corrido, em que
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
a pontuação é reinventada seguindo o ritmo prosódico
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
da oralidade da língua portuguesa.
CAMPOS, Álvaro de. Poema em linha reta. Disponível em:
https:/Avww.dbd puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0510408 09.
cap 02.pdf. Acesso em: 7 set. 2022.
Álvaro de Campos: o engenheiro pessimista O poema de Álvaro de Campos traz à tona a sua
O engenheiro Álvaro de Campos nasceu em Tavira, acidez sobre a hipocrisia social, sobre as máscaras que
em 1890, estudou engenharia naval na Escócia e passou as pessoas vestem para ocultar fraquezas e defeitos.
a morar em Lisboa. Voltado ao Futurismo, sua poesia A perfeição renegada pelo eu lírico mostrou sua difi-
exaltou as máquinas e o progresso, muitas vezes, de culdade em relacionar-se com pessoas falsas que não
forma violenta, em poemas longos constituídos de ver- se permitem expor, como se fossem “semideuses”, das
sos livres. quais ele estava farto.
Os versos enérgicos do poeta engenheiro apresen- A produção desse heterônimo é dividida em três
tavam recursos como a onomatopeia, que busca imitar fases: a decadentista, a futurista e a pessimista. Um dos
os sons das máquinas em elogio à modernidade. Outro poemas mais conhecidos da última fase é “Tabacaria”,
aspecto de sua poesia é a crítica social, a angústia e o no qual o eu lírico experimentou uma epifania ao ob-
pessimismo. A frustração diante da vida e a nostalgia servar da janela de seu quarto as pessoas em frente a
aproximaram a produção de Álvaro de Campos do próprio uma tabacaria. A cena observada levou-o ao questio-
Fernando Pessoa, o que levou a crítica a considerá-lo o namento da própria existência e à reflexão sobre as
alter ego do poeta português. ilusões humanas.
304 LÍNGUA PORTUGUESA + Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
[...]
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
[...]
CAMPOS, Álvaro de. Tabacaria. Poesias de Álvaro de Campos. Disponível em: https://www.uel.br/pessoal/pInatti/Textos-escolhidos/Fernando%2
OPessoa%20
-%20Alvaro%20de%20Campos%20-%20Tabacaria%20Nao%20sou%20Onada
— htm. Acesso em: 7 set. 2022.
O eulírico fica estupefato diante da própria alienação sobre as ilusões e as questões existenciais: “Estou hoje perplexo,
como quem pensou e achou e esqueceu”.
Modernismo no Brasil
Antecedentes da Semana de Arte Moderna
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte
pura, guardando os eternos rirmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos
dos grandes mestres. [...]
A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob
a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos de cansaço
e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. [...]
LOBATO, Monteiro. A propósito da Exposição Malfatti. Estadão, 20 dez. 2017. Disponível em: http://m.acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,
a-proposito-da-exposicao-malfatti--monteiro-A lobato,13042,0.htm. Acesso em: 7 set. 2022.
No Brasil, os primeiros anos do século XX foram importantes no processo de enriquecimento da cidade de São
Paulo, especialmente por razão do avanço industrial impulsionado pela economia cafeeira. O novo cenário propiciou
a mudança do eixo cultural, antes na cidade do Rio de Janeiro, local de entrada e saída dos produtos comercializados
no país.
A cidade de São Paulo se tornou palco de um mito da
Museu Lasar Segall - Ibram/Ministério do Turismo
305
Nos anos que antecederam a Semana de 22, na capital No dia 14, o Correio Paulistano informou que o salão,
paulistana, havia a circulação de intelectuais e de artistas na abertura, esteve “constantemente cheio de amadores
inspirados nas propostas vanguardistas no campo da arte. e curiosos”. O jornal notou nos quadros “um aspecto original e
Expressionismo e Cubismo, entre outras tendências bizarro”, e explicou que a arte ali exposta era “essencialmente
moderna”, distanciada dos “métodos clássicos”.
artísticas, foram tema de exposições e discussões que mar-
A artista, de acordo com o texto, tinha o traço “quase vio-
caram os jornais da época, embora o termo “futurismo”
lento”, e sua paisagem era “larga e iluminada”. Em algumas
tenha sido usado com cautela pelos modernistas.
telas, os detalhes cediam lugar “para a mais forte impressão
O efeito foi explosivo. A expressão “futurismo” resumia do conjunto”. Em 16 de dezembro, quatro dias depois, do
um sentimento de época, e incendiou a imaginação de artistas vernissage, o mesmo Correio afirmava que a exposição da srta.
e escritores dentro e fora da Europa. A primeira exposição da Malfatti era “o acontecimento artístico de maior importância
nova corrente aconteceu em Milão, em abril de 1911. [...] desses últimos dias”.
Na literatura, os futuristas lançaram o brado de “liber- GONÇALVES, Marcos Augusto. 1922: a semana que não terminou.
dade para as palavras”, sugerindo a exploração do design São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 105.
tipográfico da época, da linguagem publicitária e da escrita O texto inoportuno de Lobato, “A propósito da expo-
fragmentada. [...] sição Malfatti”, no entanto, acabou se destacando, sendo,
Os modernistas [...] usavam habitualmente o termo “fu-
posteriormente, intitulado de “Paranoia ou mistificação?”,
turismo”, mas o faziam em sentido elástico, para designar as
publicado pelo autor na sua coletânea As ideias de Jeca
propostas mais ou menos renovadoras que se opunham às
Tatu. A expressão enfática que substituiu o título original
receitas “passadistas” e “acadêmicas”. A polarização “futu-
caracterizou a imagem do artista moderno adepto das no-
rismo X passadismo” servia como tática retórica eficaz — mas
vas ideais, a quem Monteiro Lobato se opunha.
também simplificadora. Esse aspecto do discurso modernista,
que se apresentava como ruptura com o “velho”, acabava Embora eles se deem como novos precursores duma arte
por atirar na lata de lixo do “passadismo” manifestações a ir, nada é mais velho de que a arte anormal ou teratológica:
variadas, às quais, diga-se, não raro os próprios “novos” nasceu com a paranoia e com a mistificação. De há muitos já
estavam atados. que a estudam os psiquiatras em seus tratados, documentan-
GONÇALVES, Marcos Augusto. 1922: a semana que não terminou. do-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas
São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 19.
dos manicômios. A única diferença reside em que nos ma-
Para os modernistas, o apelo às vanguardas europeias nicômios esta arte é sincera, produto ilógico de cérebros
não estava intrinsicamente relacionado aos seus princípios transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas
básicos, a exemplo do Futurismo, que causava certo des- exposições públicas, zabumbadas pela imprensa e absorvidas
conforto pelas ideias contraditórias lideradas por Filippo por americanos malucos, não há sinceridade nenhuma, nem
Marinetti, que pendia para uma postura fascista. nenhuma lógica, sendo mistificação pura.
Apesar dessa ressalva por parte dos modernistas, a in- [...]
fluência vanguardista na arte causou furor, como a polêmica Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e
entre a pintora Anita Malfatti e o escritor Monteiro Lobato. tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte caricatu-
Monteiro Lobato publicou, em 1917, no jornal O Estado ral. É extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora
penetrado. Caricatura da cor, caricatura da forma — caricatura
de S. Paulo, um artigo com severa crítica direcionada à
que não visa, como a primitiva, ressaltar uma ideia cômica, mas
exposição de Anita Malfatti realizada na capital paulistana.
sim desnortear, aparvalhar o espectador. A fisionomia de que
Recém-chegada de Nova York, onde estudou as tendências
sai de uma destas exposições é das mais sugestivas. Nenhuma
contemporâneas que diferiam muito da arte convencional
impressão de prazer, ou de beleza denuncia as caras; em todas,
apreciada no Brasil, Malfatti foi encorajada por amigos, ape-
porém, se lê o desapontamento de quem está incerto, duvidoso
sar da posição tradicional dos familiares, a expor suas obras,
de si próprio e dos outros, incapaz de raciocinar, e muito des-
o que se concretizou na mostra intitulada por ela mesma de
confiado de que o mistificam habilmente.
Exposição de Pintura Moderna Anita Malfatti. LOBATO, Monteiro. A propósito da Exposição Malfatti. Estadão, 20 dez.
A crítica de Lobato categorizou os artistas em dois gru- 2017. Trecho do artigo de Monteiro Lobato. Disponível em:
http://m.acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,a-proposito-da-exposicao-
pos: um que ele considerava “normal”, pois seriam fiéis aos
malfatti-monteiro-lobato, 13042,0.htm. Acesso em: 7 set. 2022.
mestres e clássicos da arte figurativa e verossímil, “guardando
os eternos rirmos da vida, e adotados para a concretização Além do icônico O homem amarelo, algumas das obras
das emoções estéticas”; e o outro seria “anormal”, por ado- expostas por Malfatti foram A mulher de cabelos verdes,
tarem teorias a que ele chamou de efêmeras. Ventania e O barco.
A tendência expressionista de Anita Malfatti presente Em 1919, Manuel Bandeira publicou sua obra Carnaval,
em seus 53 trabalhos, distribuídos em cinco blocos — a qual, além dos versos livres em ruptura com a esté-
Figuras, Paisagens, Gravuras, Aquarelas e Caricaturas e tica e formas fixas convencionais, apresentou um dos
desenhos — incomodou o conservadorismo de Lobato, poemas mais importantes desse momento cultural que
defensor da arte tradicional. Ainda que o artigo do escritor rejeitava a arte passadista: “Os sapos”. Apesar de Bandeira
tenha sido um termômetro para o momento que seria o di- não ter comparecido ao evento em razão de sua saúde
visor de águas da arte brasileira, dada a repercussão e o debilitada, o poema ganhou representatividade, pois
desgaste causado com a pintora, outros veículos de imprensa foi declamado por Ronald de Carvalho na abertura da
enalteceram a originalidade de Anita Malfatti. Semana de 22.
306 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
No poema “Os sapos”, Bandeira sinalizou de maneira irônica e irreverente os princípios da estética modernista.
O coaxar martelado dos sapos é uma referência à poesia parnasiana e uma crítica à métrica e à sonoridade, ironiza-
das na própria estrutura do poema, que faz uso de medida regular. As diversas espécies de sapo são usadas como
metáfora para os poetas, sendo o sapo-cururu referência ao modernista afastado do grupo parnasiano, em busca de
uma linguagem coloquial e mais adequada à simplicidade cotidiana brasileira.
Em 1921, foram realizadas exposições de obras de Vicente do Rego com temática indígena, além de
publicados em jornais e revistas diversos textos de Menotti Del Picchia, Cândido Mota Filho e Mário
de Andrade acerca da proposta modernista. No Palácio Trianon, Oswald de Andrade discursou sobre a revolução
modernista.
A arte, sendo manifestação da Vida, não pode furtar-se às leis da vida. As filosofias variam; as ciências variam; a mo-
ralidade varia; o costume varia; o Universo vive em constante transformação; os seres variam, os minérios endurecidos
variam. Por que a arte há de ser mumificada, há de estancar-se diante da muralha chinesa? Hoje, os heróis da estética estão
vendo a realização de seu sonho. A Arte será, como sempre foi, o espelho de uma época. Modificar-se-á com os caprichos
incompreensíveis da vida; mas, em todas as suas manifestações, terá liberdade, imensa liberdade. Imitar o clássico, copiar
o passado, cingir-se e estritamente, a ele, é matar a arte. Ela é a inspiração e não imitação; arte é sentimento livre e não
servilismo. Como impor à ultra-sensibilidade moderna o passado calmo, diverso, para nós, quase que incompreensível?
A Arte tem algo de Proteu. E encarar a Arte é encarar Proteu. Absurdo!
A Semana de Arte Moderna. Portal Artes. Trecho do discurso de Oswald de Andrade. Disponível em: https://portalartes.com.br/
historia/a-semana-de-22/semana-de-arte-moderna.html. Acesso em: 7 set. 2022.
O texto de Oswald de Andrade referiu-se à arte como um elemento que deve se modificar, não podendo “ser
mumificada” e estancada no passado, pois deve ser, segundo os novos paradigmas modernistas, “inspiração e
não imitação”.
A proposta de arte libertária foi propulsora do
Coleção particular
que seria o Modernismo após a Semana de 22.
Porém, o conservadorismo apresentou sua resis-
tência, manifestando-se em discurso, em artigos
e em notas na imprensa. De um lado, havia a pu-
blicação das críticas, como a de Monteiro Lobato
a Anita Malfatti; do outro, a defesa da inovação,
como uma espécie de resposta à postura rígida.
Em 1921, na série intitulada Mestres do passado,
composta de sete artigos publicados no Jornal do
Commercio, Mário de Andrade expôs a rejeição
à superficialidade da estética parnasiana, eviden-
ciando a necessidade de superação do passado.
Diante dos eventos que abalaram a produção
artística e as discussões acadêmicas sobre os ru-
mos da arte no Brasil, um grupo de intelectuais e
artistas organizou um festival de artes plásticas,
música e literatura em fevereiro de 1922, realizado
no Theatro Municipal de São Paulo: a Semana de
Arte Moderna. Organizadores da Semana de Arte Moderna, após almoço no Hotel Terminus.
És Estabelecendo relações
O rapper paulistano Emicida não poderia encontrar melhor espaço para o lançamento de seu último trabalho, AmarElo,
apresentado em novembro de 2019 no Theatro Municipal de São Paulo.
O retorno ao passado é um olhar para ressignificar o território de São Paulo e o lugar do negro ao longo dos séculos.
Embora a Semana de 22 tenha sido um grandioso evento com vistas a dar novo sentido à cultura brasileira, revisando
o passado colonial, ainda se tratava de uma proposição da elite, sobretudo a paulistana. A imagem da pluralidade
a
étnico-cultural condicionou a valorização do país que nascia em meio ao progresso do incipiente século XX, mas uu
[=
as vozes das minorias caladas no período colonial não apresentavam autonomia, uma vez que as revistas, as obras 4
uu
literárias, as composições musicais, os manifestos e a Semana de 22 foram encabeçados por intelectuais da elite da [e4
ra
cidade de São Paulo.
Às vésperas do centenário da Semana de Arte Moderna, reavaliar o papel dos agentes da cultura no Brasil, como Emicida em
seu grandioso evento no Theatro Municipal, foi uma ação de significativa relevância para que não se permita o apagamento
cultural de grupos minoritários no cenário cultural e em outros âmbitos sociais.
307
A geração heroica de 22 de revistas, jornais e obras literárias compostas nos moldes
modernistas. Essa ideia de reformar o país culturalmente
O Elisabeth di Cavalcanti
foi exposta por Menotti del Picchia em seu artigo “Na maré
DE ARTE “[...] Casimiro de Abreu não pôde, com seu lirismo român-
308 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
René Thiollier foi um dos patrocinadores do projeto mo- Os novos caminhos estéticos também foram apresen-
dernista, obtendo junto ao prefeito de São Paulo, Firmiano tados no formato de manifestos de espírito combativo.
de Morais Pinto, o aluguel do Theatro Municipal, no valor de O primeiro foi o Manifesto pau-brasil, criado em 1924 por
847 mil-réis por uma semana. Oswald de Andrade, o qual propunha apreciar a arte com
A abertura do evento, a noite de segunda-feira do dia olhos primitivos, sem a contaminação externa.
13 de fevereiro de 1922, teve o poema “Os sapos”, de
A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre
Manuel Bandeira, declamado por Ronald de Carvalho, a po-
nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
esia de Guilherme de Almeida, as conferências “A emoção
O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-
estética na arte moderna”, de Graça Aranha, e “A pintura
-Brasil. [...]
e a escultura moderna no Brasil”, de Ronald de Carvalho.
[...]
Na mesma noite, ainda houve a apresentação musical de Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros
Villa-Lobos e Ernani Braga. As duas noites seguintes con- em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genea-
taram com palestras e mais músicas de Guiomar Novaes. logia das idéias.
A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológi-
— THEATRO MUNICIPAL —
Reprodução
ca. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos.
Como somos. Não há luta na terra de vocações acadêmicas.
Há só fardas. Os futuristas e os outros.
Semana de ARTE MODERNA Uma única luta — a luta pelo caminho. Dividamos: poesia
de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação. [...]
HOJE, 13 de Fevereiro ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropofágico. In: TELES, Gilberto
Reprodução
e Esculptora.
Os desdobramentos da Semana de 22
Os anos que se seguiram à Semana de 22 foram produ-
tivos no que se refere à circulação de revistas e manifestos
que visavam divulgar os anseios da produção estética bra-
sileira. A revista Klaxon, publicada entre os anos de 1922 e
1923, destacava seus objetivos, como o elogio ao progresso
e a busca por novas formas artísticas, ressaltando que a Capa do livro Pau-Brasil, 1925. Oswald de Andrade. Coleção Guita e José
arte não é imitação do real. O título da revista era associado Mindlin (São Paulo, SP).
309
Após quatro anos do surgimento do primeiro manifesto, Oswald de Andrade, em 1928, criou uma proposta mais
anarquista, cuja perspectiva fazia uma revisão sobre o aspecto genuíno da cultura brasileira.
Esse novo olhar para a criação estética considerou a cultura do outro, a estrangeira, como elemento fundamental
da constituição da identidade de um país. A frase “Tupi, or not tupi that is the question” alude à fala de Hamlet na peça
homônima, usando da irreverência para brincar com o jogo semântico entre o verbo “to be” da língua inglesa e o termo
“tupi”, intimamente ligado à constituição da identidade nacional.
O Manifesto antropofágico se baseava nos rituais de antropofagia indígena para propor a assimilação crítica da cultura
estrangeira mediante à metáfora do devoramento. O quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, dado de presente de aniver-
sário para Oswald de Andrade, tornou-se símbolo do movimento antropofágico.
Revisando
1. Leia o artigo de Fernando Pessoa publicado na Revista 2. Leia a epígrafe de abertura do livro Mensagem, de
A Águia em 1912. Fernando Pessoa, cuja tradução é “Bendito Deus Nosso
Senhor que nos deu o sinal”,
[...] Mas é precisamente por isso que mais concluível
se nos afigura O próximo aparecer de um supra-Camões Benedictus Dominus Deus Noster qui dedit nobis
na nossa terra. É precisamente este detalhe que marca a signum.
completa analogia da atual corrente literária portuguesa Ao se considerar a tradução, o título e a simbologia da
com aquelas, francesa e inglesa, onde o nosso raciocínio obra como um todo, pode-se afirmar que a epígrafe
descobriu o acompanhamento literário das grandes épo- apresenta caráter místico. Explique por quê.
cas criadoras. Porque a corrente literária, como vimos,
precede sempre a corrente social nas épocas sublimes Leia o poema seguinte.
de uma nação. Que admira que não vejamos sinal de
Terceiro
renascença na vida política, se a analogia nos manda que
o vejamos apenas uma, duas ou três gerações depois do 'Screvo meu livro à beiramágoa.
auge da corrente literária? Ousemos concluir isto, onde Meu coração não tem que ter.
o raciocínio excede o sonho: que a atual corrente literá- Tenho meus olhos quentes de água.
ria portuguesa é completa e absolutamente o princípio Só tu, Senhor, me dás viver.
de uma grande corrente literária, das que precedem as Só te sentir e te pensar
grandes épocas criadoras das grandes nações de quem Meus dias vácuos enche e doura.
a civilização é filha. Mas quando quererás voltar?
PESSOA, Fernando. O poeta para além de sua poesia. Seleção e Quando é o Rei? Quando é a Hora?
notas de Monica Figueiredo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. Quando virás a ser o Cristo
(Fernando Pessoa: percurso em prosa). v. 1.
De a quem morreu o falso Deus,
O livro de Fernando Pessoa, em que o autor pretende E a despertar do mal que existo
assumir o estatuto do supra-Camões, é Mensagem, A Nova Terra e os Novos Céus?
pois nele se nota Quando virás, ó Encoberto,
a) a imitação fiel dos versos de Luís Vaz de Camões. Sonho das eras português,
b) a influência do “doce estilo novo”, os versos Tornar-me mais que o sopro incerto
decassílabos. De um grande anseio que Deus fez?
c) a desconsideração com o maior poeta clássico Ah, quando quererás voltando,
português. Fazer minha esperança amor?
d) a busca em suplantar os valores do passado de
Da névoa e da saudade quando?
Portugal.
Quando, meu Sonho e meu Senhor?
PESSOA, Fernando. Mensagem. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2015. p. 175.
e) o diálogo de vertente nacionalista com a obra Disponível em: http://Awww.dominiopublico.gov.br/download/texto/
épica camoniana. pe000004.pdf. Acesso em: 13 jul. 2022.
310 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
A imagem mística presente na última parte do livro - Leia o poema de Ana Cristina Cesar para responder à
Mensagem — “O Encoberto” — é recorrente na obra e próxima pergunta.
predominantemente associada à figura de
a) D. Sebastião, rei desaparecido na Batalha de
Psicografia
Alcácer-Quibir. Também eu
b) D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal. saio à revelia
e procuro uma síntese nas demoras
c) D. João — O Primeiro —, rei da Dinastia de Avis.
cato obsessões com fria têmpera e digo
d) Nun'Álvares Pereira — o condestável —, cavaleiro
do coração: não soube e digo
militar português. da palavra: não digo (não posso ainda acreditar
e) Ulisses, figura heroica associada à fundação de na vida) e demito o verso como quem acena
Portugal. e vivo como quem despede a raiva de ter visto.
GUIMARÃES, Ana Rosa Gonçalves de Paula. Acerca do fazer poético e da
Leia o poema de Fernando Pessoa. fragmentação em Ana Cristina Cesar. Interfaces, v. 11, n. 2, p. 223, 2020.
Disponível em: https:/revistas.unicentro.br/index.php/revista.
interfaces/
Isto article/viewFile/6129/4475. Acesso em: 13 jul. 2022.
311
na forma ou na cor, decorrem de que chamamos sentir. A crítica de Monteiro Lobato se debruçou, especial-
Quando as sensações do mundo externo transformam-se mente, sobre o fato de Anita Malfatti apresentar uma
em impressões cerebrais, nós “sentimos”; para que sintamos arte com tendência expressionista, ou seja, uma arte
de maneiras diversas, cúbicas ou futuristas, é forçoso ou que vinculada à proposta das vanguardas europeias.
a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o Esse posicionamento do crítico pode ser confirmado
nosso cérebro esteja em “pane” por virtude de alguma grave no trecho:
lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer no homem
a) “nos manicômios esta arte é sincera, produto iló-
normalmente, através da porta comum dos cinco sentidos,
gico de cérebros transtornados”.
um artista diante de um gato não poderá sentir senão um
gato, e é falsa a interpretação que do bichano fizer um totó, b) “estética forçada no sentido de extravagâncias de
um escaravelho ou um amontoado de cubos transparentes. Picasso e companhia”.
Estas considerações são provocadas pela exposição da c) “em que alto grau possui umas tantas qualidades
Sra. Malfatti onde se notam acentuadiíssimas tendências para inatas da mais fecundas”.
uma atitude estética forçada no sentido de extravagâncias de d) “um artista diante de um gato não poderá sentir
Picasso e companhia. Essa artista possui um talento vigoroso, senão um gato”.
fora do comum. Poucas vezes através de uma obra torcida e) “Essa artista possui um talento vigoroso, fora do
para má direção se notam tantas e tão preciosas qualidades comum”.
latentes. Percebe-se de qualquer daqueles quadrinhos como a
sua autora é independente, como é original, como é inventiva, 10. A pluralidade étnico-cultural aliada ao tom de humor
em que alto grau possui umas tantas qualidades inatas das mais presente nos poemas do livro Pau-brasil, de Oswald
fecundas na construção duma sólida individualidade artística. de Andrade, evidencia
Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama
a) a rasa contribuição das raças na construção da
de arte moderna, penetrou nos domínios dum impressio-
identidade brasileira.
nismo discutibilíssimo, e põe todo o seu talento a serviço
duma nova espécie de caricatura. b) a visão conservadora sobre a formação miscige-
Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo nada no país.
e “tutti quanti” não passam de outros tantos ramos da arte c) a imagem alegre e anarquista oriunda da varie-
caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não dade étnica.
havia até agora penetrado. d) o preconceito ao português e à sua digna atitude
LOBATO, Monteiro. Paranoia ou mistificação? Artigo publicado no jornal colonizadora.
O Estado de S. Paulo em 20 de dezembro de 1917, com o título
“A Propósito da Exposição Malfatti”. Disponível em: http:/Avww.mac.usp.br/
e) a miscigenação como um processo desenvolvido
mac/templates/projetos/educativo/paranoia.html. Acesso em: 13 jul. 2022. ao longo dos séculos.
Exercícios propostos E
1. Unifesp 2019 A fuga retratada no poema é uma fuga
-Ê Leia o poema “Sou um evadido”, do
p portu- escritor
guês Fernando Pessoa, para responder às questões a) do anonimato. d) da sociedade.
delas. b) da identidade. e) da aparência.
c) da multiplicidade.
Sou um evadido.
Logo que nasci 2. Unifesp 2019 O eu lírico inclui o leitor em sua
Fecharam-me em mim, argumentação
Ah, mas eu fugi. a) naterceira estrofe, apenas.
Se a gente se cansa b) na primeira estrofe, apenas.
Do mesmo lugar, c) na quarta estrofe, apenas.
Do mesmo ser d) na segunda estrofe, apenas.
Por que não se cansar? e) na segunda e na terceira estrofes.
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte!, 3. Unifesp 2019 “Rima rica” é aquela que ocorre entre
Oxalá que ela palavras de classes gramaticais diferentes, a exemplo
Nunca me encontre. do que se verifica
Ser um é cadeia, a) na primeira estrofe (“nasci”/“fugi”) e na segunda
Ser eu é não ser. estrofe (“lugar"/“cansar”).
Viverei fugindo b) na terceira estrofe (“monte”/“encontre”), apenas.
Mas vivo a valer. c) na segunda estrofe (“lugar"/“cansar”), apenas.
(Obra poética, 1997.) d) na primeira estrofe (“nasci"/“fugi”) e na terceira es-
trofe (“monte”/“encontre”).
e) na segunda estrofe (“lugar"/“cansar”) e na terceira
* “andar a monte”: andar fugido das autoridades. a sia o
estrofe (“monte”/“encontre”).
312 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
4. UFRGS 2018 Leia as seguintes afirmações sobre os e) Acima da verdade estão os deuses.
poemas “Autopsicografia” e “Isto”. A nossa ciência é uma falhada cópia
l. Em ambos os poemas, são apresentados os prin- Da certeza com que eles
cípios de Pessoa para a construção da poesia, Sabem que há o Universo.
constituindo-se como “arte poética”. Leia o poema de Alberto Caeiro para responder à
H. Nos dois poemas, não há referência à figura do questão seguinte.
leitor.
ll. Em ambos os poemas, o sujeito lírico admite O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
construir sua poética inventando e falseando. Mas o tejo não mais belo que o rio que corre pela minha
Quais estão corretas? [aldeia
a) Apenas ll. d) Apenasle Ill. Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
b) Apenas Il. e) |llelll. O Tejo tem grande navios
c) Apenasle ll. E navega nele ainda,
Para aqueles que veem em tudo o que lá não está,
5. UFRGS 2018 Assinale a alternativa correta sobre o
A memória das naus.
poema VI, de Chuva oblíqua.
O Tejo desce de Espanha
a) O poema é escrito em versos brancos e livres,
E o Tejo entra no mar em Portugal.
constituindo um exemplo do interseccionismo de
Toda a gente sabe isso.
Pessoa.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
b) O poema apresenta a temática da infância como
E para onde ele vai
o tempo da felicidade.
E donde ele vem.
c) O sujeito lírico apresenta-se eufórico, festivo e
satisfeito. E por isso, porque pertence a menos gente,
d) Osujeito lírico recorda a infância em preto e branco. É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
e) O sujeito lírico sente a multidão no teatro como a Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
possibilidade de encontrar a felicidade. Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
6. Unesp 2017 Carpe diem: Esse conhecido lema, extraí- Ninguém nunca pensou no que há para além
do das Odes do poeta latino Horácio (65 a.C.-8 a.C.)
Do rio da minha aldeia.
sintetiza expressivamente o seguinte motivo: saber
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
aproveitar tudo o que se apresente de positivo (mesmo
que pouco) e transitório. Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
CAEIRO, Alberto. O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha
(Renzo Tosi. Dicionário de sentenças latinas e gregas, 2010. Adaptado.)
aldeia. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/wk000378.pdf. Acesso em: 13 jul. 2022.
Das estrofes extraídas da produção poética de
Fernando Pessoa (1888-1935), aquela em que tal motivo Qual é a imagem do rio apresentada por Alberto Caeiro
se manifesta mais explicitamente é: no poema?
a) Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito. . UFRGS 2017 Assinale a alternativa correta sobre
A cor das flores não é a mesma ao sol Mensagem, de Fernando Pessoa.
De que quando uma nuvem passa a) Mensagem traz as marcas da vanguarda sen-
Ou quando entra a noite sacionista, na medida em que busca articular
E as flores são cor da sombra. a história de Portugal ao mito, em um mesmo
b) Cada um cumpre o destino que lhe cumpre, poema.
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja, b) A imagem do mar expressa simbolicamente a
Nem deseja o que cumpre. busca do infinito, que poderia apaziguar as al-
c) Como um ruído de chocalhos mas atormentadas de Fernando Pessoa e de
Para além da curva da estrada, seus heterônimos.
Os meus pensamentos são contentes. c) Fernando Pessoa, nessa obra publicada em vida,
Só tenho pena de saber que eles são contentes, deu voz a seus heterônimos para expor uma visão
Porque, se o não soubesse, poética e múltipla sobre a história portuguesa.
Em vez de serem contentes e tristes,
d) Dom Sebastião é uma figura central para com-
Seriam alegres e contentes. Ns
preender Mensagem e a expectativa de uma
d) Tão cedo passa tudo quanto passa! uu
[mm
possível redenção de Portugal. 4
Morre tão jovem ante os deuses quanto uu
Nada se sabe, tudo se imagina. processo civilizacional, cristão, levado aos povos
Circunda-te de rosas, ama, bebe colonizados, são euforicamente celebrados em
E cala. O mais é nada. Mensagem.
313
2. Unicamp-SP 2016 Leia o poema “Mar Português”, de Fernando Pessoa.
MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
(Disponível em Disponível em: http:/Avww.jornaldepoesia.jor.br/fpesso0O3
.html.)
10. Unesp 2021 Futurismo. O Manifesto Futurista, de autoria do poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944),
foi publicado em Paris em 1909. Nesse manifesto, Marinetti declara a raiz italiana da nova estética: “queremos libertar
esse país (a Itália) de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários”. Falando da Itália para
o mundo, o Futurismo coloca-se contra o “passadismo” burguês e o tradicionalismo cultural. A exaltação da máquina e
da “beleza da velocidade”, associada ao elogio da técnica e da ciência, torna-se emblemática da nova atitude estética
e política.
(Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br. Adaptado.)
Verifica-se a influência dessa vanguarda artística nos seguintes versos do poeta português Fernando Pessoa:
a) Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ônibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
b) O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos merecidos da Verdade.
c) O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas...
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso...
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso...
d) Não me compreendo nem no que, compreendendo, faço.
Não atinjo o fim ao que faço pensando num fim.
É diferente do que é o prazer ou a dor que abraço.
Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.
e) Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
314 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
11. Unesp 2018 Ricardo Reis é, assim, o heterônimo clássi- 13. UFSCar-SP 2013 Leia o poema de Fernando Pessoa.
co, ou melhor, neoclássico: sua visão da realidade deriva Faróis distantes,
da Antiguidade greco-latina. Seus modelos de vida e de De luz subitamente tão acesa,
poesia, buscou-os na Grécia e em Roma. De noite e ausência tão rapidamente volvida,
(Massaud Moisés. “Introdução”. In: Fernando Pessoa. O guardador de Na noite, no convés, que consequências aflitas!
rebanhos e outros poemas, 1997.) Mágoa última dos despedidos,
Levando-se em consideração esse comentário, per- Ficção de pensar...
Faróis distantes...
tencem a Ricardo Reis, heterônimo de Fernando
Incerteza da vida...
Pessoa (1888-1935), os versos:
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente,
a) Nada perdeu a poesia. E agora há a mais as máquinas No acaso do olhar perdido...
Com a sua poesia também, e todo o novo gênero Faróis distantes...
[de vida A vida de nada serve...
Comercial, mundana, intelectual, sentimental, Pensar na vida de nada serve...
Que a era das máquinas veio trazer para as almas. Pensar de pensar na vida de nada serve...
b) Súbita mão de algum fantasma oculto Vamos para longe e a luz que vem grande vem menos
Entre as dobras da noite e do meu sono [grande.
Sacode-me e eu acordo, e no abandono Faróis distantes...
Da noite não enxergo gesto ou vulto. Ficções do interlúdio. Poesias de Álvaro de Campos, 1995.
c) Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. É correto afirmar que o poema apresenta um tom de:
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos a) indignação, e o eu lírico mostra-se inconformado
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. diante da ambição dos navegadores portugueses,
(Enlacemos as mãos.) simbolizados pelos faróis distantes.
d) À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica b) desdém, eo eulírico expressa seu desprezo pelas
Tenho febre e escrevo. pessoas que nunca vacilam, têm sempre certeza, a
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, qual é simbolizada pelos faróis distantes.
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos c) melancolia, e o eu lírico parece encontrar-se
[antigos. desiludido diante do caráter incerto da vida, sim-
e) O poeta é um fingidor. bolizado pelos faróis distantes.
Finge tão completamente d) confiança, e o eu lírico sente-se tranquilo diante
Que chega a fingir que é dor da natureza, simbolizada pelos faróis distantes.
A dor que deveras sente. e) esperança, e o eu lírico emprega um discurso afi-
nado com a crença ingênua em um futuro melhor,
12. PUC-SP
o qual é simbolizado pelos faróis distantes.
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos 14. UFPE
E os meus pensamentos são todos sensações. Texto 1
Penso com os olhos e com os ouvidos Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
E com as mãos e os pés Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na Cidade
E com o nariz e a boca.
E as mulheres gritavam,
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
Dois jogadores de xadrez jogavam
E comer um fruto é saber-lhe o sentido. O seu jogo contínuo.
Por isso quando num dia de calor À sombra de ampla árvore fitavam
Me sinto triste de gozá-lo tanto, O tabuleiro antigo,
E me deito ao comprido na erva, E, ao lado de cada um, esperando os seus
E fecho os olhos quentes, Momentos mais folgados,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Quando havia movido a pedra, e agora
Sei a verdade e sou feliz. Esperava o adversário.
Um púcaro com vinho refrescava
No poema de Alberto Caeiro: Sobriamente a sua sede.
a) avisão de mundo não se confunde com a sensação Ardiam casas, saqueadas eram
de mundo. As arcas e as paredes,
b) a atividade mental é muito lúcida e extremamente Violadas, as mulheres eram postas N
racional. Contra os muros caídos, uu
-
315
Texto 2 Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
...20S POUCOS as coisas perdem o seu contorno como E deixou-o pregado na cruz que há no céu
se estivessem cansadas de existir, será também o efeito de E serve de modelo às outras.
uns olhos que se cansaram de as ver. Ricardo Reis nunca Depois fugiu para o Sol
se sentiu tão só. Dorme quase todo o dia, sobre a cama E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
desmanchada, no sofá do escritório, chegou mesmo a ador- Hoje vive na minha aldeia comigo.
mecer na privada, aconteceu-lhe uma vez apenas, porque É uma criança bonita de riso e natural.
então acordara em sobressalto ao sonhar que podia morrer
Limpa o nariz ao braço direito,
ali, descomposto de roupas, um morto que não se respeita
não mereceu ter vivido. Chapinha nas poças de água,
(SARAMAGO, José. O ano da morte de Ricardo Reis.) Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Marque V (verdadeiro) ou F (falso).
Rouba a fruta dos pomares
0-0 Escritor contemporâneo, partidário do comu- E foge a chorar e a gritar dos cães.
nismo até a morte, José Saramago escreveu E, porque sabe que elas não gostam
romances históricos, como Memorial do con-
E que toda a gente acha graça,
vento, mas também enveredou pela fantasia,
Corre atrás das raparigas
como em Ensaio sobre a cegueira.
Que vão em ranchos pelas estradas
1-1 Dos heterônimos pessoanos, o clássico Ricardo
Com as bilhas às cabeças
Reis era defensor da monarquia e escreveu poe-
E levanta-lhes as saias.
mas de índole pagã, pregando uma absoluta
[...]
indiferença ao mundo circundante.
CAEIRO, Alberto. O guardador de rebanhos. In: PESSOA, Fernando.
2-2 Fernando Pessoa, que determinava o ano de Poemas de Alberto Caeiro. 10. ed. Lisboa: Ática, 1993.
nascimento e de morte de seus heterônimos, PESSOA, Fernando. Poesia completa de Alberto Caeiro.
apenas não determinou o fim de Ricardo Reis. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005. p. 28.
3-3 Saramago dedicou um importante romance a Considere a concepção de Alberto Caeiro sobre a
Ricardo Reis, cuja ideologia era compartilhada figura divina de Jesus e explique a dimensão dessa
pelo romancista português. imagem no poema.
4-4 Saramago apropriou-se da criação pessoana e
aproveitou para decretar o seu fim, ridicularizando- 16. UFRGS 2015 Leia o poema a seguir, presente em O
-o em O ano da morte de Ricardo Reis. guardador de rebanhos, de Alberto Caeiro, heterônimo
de Fernando Pessoa.
15. Leia o poema de Alberto Caeiro para responder à
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no
próxima questão.
[Universo...
Num meio-dia de fim de Primavera Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra
Tive um sonho como uma fotografia. [qualquer
Vi Jesus Cristo descer à terra. Porque eu sou do tamanho do que vejo
Veio pela encosta de um monte E não do tamanho da minha altura...
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva Nas cidades a vida é mais pequena
E a arrancar flores para as deitar fora Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
E a rir de modo a ouvir-se de longe. Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Tinha fugido do céu. Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe
Era nosso demais para fingir [de todo o céu,
De segunda pessoa da Trindade. Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos
No céu era tudo falso, tudo em desacordo [olhos nos podem dar,
Com flores e árvores e pedras. E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
No céu tinha que estar sempre sério Considere as seguintes afirmações sobre o poema.
E de vez em quando de se tornar outra vez homem l. Há uma oposição entre a aldeia e a cidade, e o
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer sujeito lírico prefere a primeira.
Com uma coroa toda à roda de espinhos ll. Há, na cidade, a riqueza, as grandes construções
E os pés espetados por um prego com cabeça que ampliam a visão de horizonte do sujeito lírico.
[...] Ill. Há desarmonia entre o poema e o conjunto de
Um dia que Deus estava a dormir O guardador de rebanhos, pois o livro tematiza a
E o Espírito Santo andava a voar, euforia modernizadora.
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três. Qualfis) está(ão) correta(s)?
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha a) Apenas |. d) Apenas Ile Ill.
[fugido. b) Apenas ll. e) Ile Il.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino. c) Apenaslell.
316 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
17. Uepa Como aludido, Ricardo Reis é um poeta doutriná- 3-3 Mar Português é um dos poemas presentes
rio. Ele considera a existência humana um jogo em que, na obra em análise. Nele, o poeta personifica
por definição, sairemos derrotados — o xeque-mate nos o mar, que há de reconhecer a disposição dos
é aplicado pelas mãos hábeis e insondáveis do Destino. portugueses para enfrentar todos os tipos de
OLIVEIRA, Paulo. In: Revista Discutindo Literatura. Ano 1. 2 ed. revezes, no ideal de conquistar as terras do
2-2 Em Mensagem, Fernando Pessoa deixa claro a) as cores e formas da pintura de Tarsila do Amaral. x
u.
317
Unifor-CE 2020 A Semana de Arte Moderna ocorreu UPF-RS 2016 Considere com atenção as afirmações
no Brasil em 1922. Este acontecimento histórico repre- a seguir.
senta o início do modernismo. Cada dia da semana Il. A Exposição de Anita Malfatti, realizada em 1917,
foi dedicado a uma arte diferente: pintura, escultura, e que recebeu uma crítica demolidora de Monteiro
poesia, literatura e música. Houve uma renovação na Lobato, foi o fato cultural mais importante na ges-
linguagem, liberdade criadora, ruptura com o passado e tação da Semana de Arte Moderna, pois ajudou a
um certo experimentalismo. Consagrados artistas par- unir os jovens artistas e intelectuais ao combate às
ticiparam da semana, dentre eles Mario de Andrade, estéticas que remontavam ao século XIX.
Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Guilherme de H. O primeiro livro que apresentou uma poesia in-
Almeida, Menotti Del Picchia dentre outros. tegralmente nova, afinada com as propostas de
Avalie as proposições a seguir sobre este movimento liberdade formal e com os ideais nacionalistas
cultural e artístico bem como suas consequências sociais. do grupo modernista em formação, foi Carnaval, de
Manuel Bandeira, publicado em 1919.
Reprodução
ll. Durante a realização da Semana de Arte Moder-
na, no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922,
o momento mais marcante foi aquele em Manuel
Bandeira declamou seu poema “Os sapos”, no
qual destila uma ironia violenta contra os poetas
simbolistas, sob os apupos, as vaias e os assobios
do público.
Está correto apenas o que se afirma em:
a) lell.
b) lelll.
c) |.
d) Il.
e) Il.
318 LÍNGUA PORTUGUESA « Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
l A prática da escrita de manifestos se conecta Assinale a alternativa que contém essa característica.
exclusivamente aos movimentos de vanguarda a) Idealização da natureza, pois no quadro apare-
latino-americanos, pois as vanguardas europeias cem frutos tropicais.
preferiram, no lugar do manifesto, o uso de lon- b) Equilíbrio e racionalismo, pois há na tela a predo-
gos tratados estéticos. minância de cores neutras.
H. Klaxon, publicada no ano de 1922 em São Paulo,
c) Resgate da cultura popular brasileira, por se tratar
e Estética, lançada em 1924 no Rio de Janeiro, fo-
de uma tela em que há elementos da fauna, da
ram duas revistas que contribuíram para o debate
flora e do cotidiano do país.
modernista ao longo da década de 1920.
d) Objetividade e racionalismo, por trazer à tona o
Il. Os “Manifesto da poesia Pau-Brasil" e “Manifes-
mar com todo o seu colorido.
to antropófago” contêm importantes diretrizes do
e) Religiosidade e cromatismo, principais caracterís-
grupo modernista formado ao redor da ação cul-
ticas da primeira geração do Modernismo.
tural de Oswald de Andrade e Mário de Andrade.
a) Estão corretas as afirmativas | e II. Para responder às questões de 26 a 28, considere o
ira
b) Estão corretas as afirmativas | e III. texto a seguir.
c) Estão corretas as afirmativas Il e III.
d) Todas as afirmativas estão corretas. Os modernistas de São Paulo, em especial Menotti
e) Nenhuma das afirmativas está correta. del Picchia e Oswald de Andrade, usavam habitual-
mente o termo “futurismo”, mas o faziam em sentido
UFRGS 2015 Assinale a alternativa correta sobre a elástico, para designar as propostas mais ou menos re-
Semana de Arte Moderna. novadoras que se opunham às receitas “passadistas” e
a) A Semana de Arte Moderna, liderada por intelec- “acadêmicas”. A polarização futurismo x passadismo
tuais e políticos paulistas, foi o evento que coroou servia como tática retórica eficaz — mas também sim-
o Modernismo Brasileiro, com a publicação de plificadora. Esse aspecto do discurso modernista, que
Macunaíma, de Mario de Andrade. se apresentava como ruptura com o “velho”, acabava
b) O Modernismo foi um movimento isolado, ocor- por atirar na lata do lixo do “passadismo” manifestações
rido na cidade de São Paulo, sem repercussão variadas, às quais, diga-se, não raro os próprios “novos”
nacional. estavam atados.
c) A briga entre Graça Aranha e Anita Malfatti serviu (GONÇALVES, Marcos Augusto. 1922 — A semana que não terminou.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 20)
de inspiração para a concepção da Semana.
d) A prática dos Manifestos, muito comum nas PUC-Campinas 2017 O autor do texto deixa ver uma
vanguardas europeias, foi repetida pelos mo- contradição entre adeptos do modernismo, ao ob-
dernistas, como forma de veicular seus ideais servar que:
estéticos e sociais.
a) a ruptura com as formas clássicas impedia qual-
e) As vanguardas europeias, por seu caráter des- quer retorno ao “velho”.
truidor e localista, são copiadas e seguidas pelos
b) o futurismo significa uma ruptura radical com o
artistas brasileiros, como Monteiro Lobato, Murilo
passadismo.
Mendes e Raul Bopp.
c) o futurismo era um compromisso com propostas
UPE 2014 A tela de Tarsila do Amaral apresenta uma renovadoras.
marcante característica do Modernismo. d) o passadismo era atirado de uma vez por todas
no lixo da história.
Reprodução
319
28. PUC-Campinas 2017 O afã de rompimento com o A partir da imagem acima e dos seus conhecimentos
passado e o entusiasmo presente em movimentos sobre esse período histórico:
artísticos contemporâneos ao futurismo, na Europa, a) indique uma característica que associa essa obra
ecoavam um contexto marcado: ao movimento modernista brasileiro.
a) pelos efeitos da industrialização nas grandes ca- b) Identifique uma das transformações vividas no
pitais europeias, responsável pela glamorização período pela sociedade brasileira que estão re-
de cidades como Londres,
e o desenvolvimento de presentadas na obra.
uma contracultura que questionava os hábitos
30. FCMSCSP 2023 Veio a Guerra de 14, o paulista com-
burgueses e preconizavam um “homem novo”,
prava manteiga da Dinamarca, bebia cerveja alemã, usava
mais próximo da natureza e do hedonismo.
papel higiênico inglês e pensava em latim. A campanha
b) pelo trauma das duas grandes guerras, que arrasa-
submarina fez tudo isso naufragar. [...) Os imigrantes ti-
ram as principais cidades e despertaram um forte nham a tradição do artesanato e da economia, fizeram as
desejo de renovação e a busca de novos paradig- primeiras fábricas. [...]. Nossa indústria encontrou uma
mas estéticos e projetos utópicos de sociedade grande sobra de famintos no campo para explorar, criou
que pudessem se contrapor ao niilismo vigente. bairros urbanos.
c) pela rejeição ao romantismo, à pintura de ca- (Oswald de Andrade. A revolução melancólica, 1978.)
valete e ao espírito da Belle Époque, diante do
O excerto reproduz a fala de um personagem do livro
evidente crescimento dos movimentos operários
A revolução melancólica, publicado em primeira edi-
e da disseminação das ideias socialistas e revolu-
ção em 1943. As palavras do personagem
cionárias, que conduziam os artistas à militância
a) explicitam as causas de um processo de transfor-
política de esquerda.
mação histórica regional.
d) pela herança do fascismo, que se amparara em
b) aludem à desindustrialização das nações envolvi-
discursos inflamados que saudavam a perspec-
das na Primeira Guerra Mundial.
tiva de construção de sociedades tecnológicas,
c) englobam as mudanças históricas em todas as re-
ordenadas, vanguardistas, semelhantes à norte-
giões do país.
-americana e opostas à velha Europa.
d) referem-se à estagnação da produção manufatu-
e) pela recusa crescente à arte academicista e à
reira no Brasil.
busca de propostas formais que traduzissem a
e) revelam a aplicação de capital estatal nos setores
realidade vertiginosa da modernidade, explo-
de bens de produção.
rando a beleza encontrada nas máquinas, nas
geometrias, no uso da eletricidade e na comuni- 31. FICSAE-SP Essa vanguarda baseia-se na crença na reali-
cação de massa. dade superior das formas específicas de associação, antes
negligenciadas, na onipotência dos sonhos e no jogo
29. PUC-Rio 2023 A tela “Operários”, de Tarsila do desinteressado do pensamento. André Breton, seu prin-
Amaral, foi apresentada ao público em 1933 e é con- cipal teórico, afirmou que o propósito dessa vanguarda
siderada, até hoje, um dos mais importantes registros era “resolver a contradição até agora vigente entre sonho
do modernismo brasileiro. Diversos rostos, represen-
e realidade pela criação de uma realidade absoluta, uma
tando os trabalhadores, estão aglomerados e olham supra-realidade.”
na mesma direção. A disposição das faces, em um (lan Chilvers (org.). Dicionário Oxford de arte, 2007. Adaptado.)
formato crescente, permite que se veja a paisagem
ao fundo. O texto trata de uma vanguarda que influenciou inú-
meros escritores do Modernismo brasileiro, qual seja,
a) o Futurismo.
b) o Surrealismo.
c) o Realismo.
d) o Simbolismo.
e) o Cubismo.
. Fuvest-SP 2022
Nun'Álvares Pereira
Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.
320 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
'Sperança consumada, Quantos filhos em vão rezaram!
S. Portugal em ser, Quantas noivas ficaram por casar
Ergue a luz da tua espada Para que fosses nosso, ó mar!
Para a estrada se ver! Valeu a pena? Tudo vale a pena
Fernando Pessoa. In: “A Coroa”, Parte |, Mensagem. Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
A primeira parte de Mensagem, organizada como um
Tem que passar além da dor.
correlativo poético do Brasão das Armas de Portugal,
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
perfila uma série de figuras míticas e históricas que
Mas nele é que espelhou o céu
teriam sido responsáveis pela formação nacional portu-
PESSOA, Fernando. Mensagem. Disponível em: http:/Awww.dominiopublico.
guesa. A seleção de Nunilvares Pereira para ocupar o gov.br/download/texto/pe000004.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
lugar da Coroa
a) sugere, pela imagem do halo de luz, que a verda- O texto | é um trecho de Os lusíadas, sobre o episódio
deira nobreza é de espírito. de “O velho do restelo”. Ali, há uma crítica à expansão
b) destaca, através da referência ao mito arturiano, O
marítima empregada por Portugal. Tendo essa afirma-
ção em mente, compare o texto | com o texto ll.
seu sangue bretão.
c) distingue, por meio do substantivo “sperança”, 34. Leia os trechos de poemas de Mensagem, de Fernando
um regente digno de seu posto. Pessoa.
d) enaltece, pela repetição da palavra espada, a
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
guerra como estrada para o futuro.
Qual a Sorte a não dá.
e) indica, associada ao adjetivo “consumada”, uma
Não coube em mim minha certeza;
visão desenganada da história.
Por isso onde o areal está
33. Leia os textos seguintes para responder à próxima Ficou meu ser que houve, não o que há.
questão. [...]
Sperai! Caií no areal e na hora adversa
Texto |
Que Deus concede aos seus
“Em tão longo caminho e duvidoso Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Por perdidos as gentes nos julgavam, Em sonhos que são Deus.
As mulheres co'um choro piedoso, [...]
Os homens com suspiros que arrancavam. Mestre de Paz, ergue teu gládio ungido;
Mães, esposas, irmãs, que o temeroso Excalibur do Fim, em jeito tal
Amor mais desconfia, acrescentavam Que sua luz ao mundo dividido
A desesperação e frio medo Revele o Santo Gral.
De já nos não tornar a ver tão cedo. Disponível em: http:/Avww.dominiopublico.gov.br/download/texto/
[...] pe000004.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
321
Sem identidade, hierarquias no chão, estilos misturados, a pós-modernidade é isto e aquilo, num presente aberto pelo e.
Vair Ferreira dos Santos, O que é o pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 2004, p. 110.)
Com base nas indicações cênicas (as didascálias) que abrem e fecham a peça O marinheiro, de Fernando Pessoa, é
correto afirmar que o seu estilo é
a) expressionista, dadas a ausência de ações dramáticas e a presença de sugestões alegóricas como, por exemplo,
o canto do galo.
b) simbolista, uma vez que os elementos que compõem a cena dramática sugerem alguns significados de natureza
filosófica.
c) realista, porque as imagens da noite, do luar e do alvorecer indicam precisamente a passagem do tempo.
d) pós-modernista, tendo em vista que os objetos descritos criam uma atmosfera mágica, na qual a ilusão não se
distingue da realidade.
UFRGS 2016 Assinale a alternativa CORRETA a respeito da vida e da obra do poeta português Fernando Pessoa.
a) Pessoa foi um dos líderes da revista de literatura Orpheu, juntamente com Mário de Sá-Carneiro e Eça de Queiroz.
b) A criação da revista de literatura Orpheu identifica Pessoa como um dos fundadores do Modernismo português.
c) Pessoa foi responsável pelo espírito derrotista, em que Portugal estava mergulhado no final do século XIX.
d) Os heterônimos de Pessoa, tais como Álvaro de Campos e Ricardo Reis, podem ser vistos como pseudônimos, utilizados
pelo poeta para burlar a censura.
e) A criação de heterônimos é uma prática comum aos poetas colaboradores da revista Orpheu.
Texto complementa
Jaider Esbell. Malditas e desejadas, 2013. Acrílica sobre tela, 350 cm X 400 cm. Coleção
Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea, Paraviana, Boa vista.
Em parceria com a 34 Bienal de São Paulo, que reúne até dezembro mais de 90 artistas vindos dos cinco continentes, o MAM-SP acaba de
inaugurar duas exposições que são ótimo complemento para os diálogos já propostos pela curadoria da Bienal, reunindo, em uma delas, expoentes
da arte indígena contemporânea; e, na outra, nomes icônicos e outros mais obscuros atuantes nos tempos da Semana de Arte Moderna de 1922,
que no ano que vem completa seu centenário. Saiba mais sobre as duas mostras abaixo e programe-se!
322 LÍNGUA PORTUGUESA « Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
Quem assina a curadoria — e integra a mostra com trabalhos de sua própria autoria — é Jaider Esbell. Nascido na região hoje demarcada
como a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, situada no nordeste de Roraima, Esbell, figura seminal da arte indígena contemporânea, atua de
forma múltipla e interdisciplinar, desempenhando as funções de artista, curador, escritor, educador, ativista e catalisador cultural e é também
um dos grandes destaques da 34º Bienal de São Paulo, onde apresenta obras como a série de telas 'A Guerra dos Kanaimés” e o livro “Carta
Ao Velho Mundo”.
MELLO, Nô. Arte indígena contemporânea em destaque e Modernismo revisado no MAM-SP. Vogue, 15 set. 2021 Disponível em:
https://vogue.globo.com/lifestyle/cultura/Arte/noticia/2021/09/arte-indigena-contemporanea-em-destaque-e-modernismo-revisado-no-mam-sp.html.
Acesso em: 10 nov. 2022.
Modernismo em Portugal
* No início do século XX, a arte em Portugal se voltou para o passado, devido à instabilidade política e ao descontentamento
da população.
* O Modernismo português teve início com a publicação da revista Orpheu, que contava com a colaboração dos portugueses
Eduardo Guimarães e Armando Côrtes-Rodrigues e do brasileiro Ronald de Carvalho.
* O objetivo da revista era romper com o saudosismo, e o grupo de autores modernistas desse ciclo ficou conhecido como
Geração Orpheu. Entre os destaques do grupo estão Mario de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa.
* A poesia ortônima de Fernando Pessoa é composta dos poemas assinados pelo próprio poeta. Essa produção discorre
sobre diversos temas, como o saudosismo e o nacionalismo crítico presentes em Mensagem, seu único livro publicado
em vida.
* Fernando Pessoa criava heterônimos desde a infância. Ao longo de sua produção, foram criados por volta de 70 heterônimos,
sendo os mais conhecidos Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Alvaro de Campos.
Modernismo No Brasil
* Os primeiros anos do século XX foram importantes no processo de enriquecimento da cidade de São Paulo, especialmente
em razão do avanço industrial impulsionado pela economia cafeeira.
* Acidade de São Paulo se tornou palco de um mito da emancipação cultural em 1922: a Semana de Arte Moderna.
* Oano da realização da Semana de Arte Moderna foi o do centenário de Independência do Brasil, ocorrida em 7 de setembro
de 1822. A relevância da data estava diretamente ligada às intenções da proposta modernista em romper com o passado
e com as amarras dos padrões de arte anteriores.
* Anecessidade de revisão do passado ganhava fôlego, pois o Brasil foi o país da América mais atrasado em figurar mudanças
como abolir a escravidão, conquistar a independência e abrir o comércio portuário estrangeiro.
* Os anos que se seguiram à Semana de 22 foram produtivas no que se refere à circulação de revistas e manifestos que visavam
divulgar os anseios da produção estética brasileira.
TT TA ETA
Músicas
0) CANAL Sinfônica Brasileira. Villa-Lobos — Bachianas Brasileiras nº 2 — IV. Tocata (O trenzinho do caipira). Minczuk. Disponível
em: https://youtu.be/wIG4h7|vj4Y. Acesso em: 7 jul. 2022.
Nesse vídeo, do Canal Sinfônica Brasileira, é possível ouvir a música composta pelo compositor e maestro Heitor Villa-Lobos e
apreciar as intervenções de vanguarda inseridas na música erudita.
SPOTIFY — streaming de música. Mensagem (Poemas de Fernando Pessoa e Músicas de André Luiz Oliveira). Disponível em:
https://open.spotify.com/album/1glvxzHoO 187GHZpHgW3MS3. Acesso em: 7 jul. 2022.
Na plataforma de streaming Spotify, é possível ouvir os poemas do livro Mensagem, de Fernando Pessoa, musicados por André
Luiz Oliveira.
EM Site
a
ly “Tarsila do Amaral”. Disponível em: https://tarsiladoamaral.com.br/. Acesso em: 24 out. 2022. uu
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Nesse site, você pode conhecer mais sobre a vida e a obra de Tarsila do Amaral. 4
uu
x
Vídeo u.
O Café Filosófico CPFL. Semana de 22: história e legado / Ivan Marques, Flávia Toni e Ana Paula Cavalcanti Simoni. Disponível
em: https://youtu.be/Y 70JvPFHXrw. Acesso em: 7 jul. 2022.
Nesse vídeo, do Canal Café Filosófico CPFL, Ivan Marques, Flávia Toni e Ana Paula Cavalcanti Simioni refletem sobre as propostas
da Semana de 22 e sobre o legado do evento histórico.
323
1. Unicamp-SP 2022 3. UFRGS 2017 Leia o poema abaixo, de Fernando Pessoa.
Tenho horror a de aqui a pouco vos ter já dito o Pobre velha música!
que vos vou dizer. As minhas palavras presentes, mal
eu as diga, pertencerão logo ao passado, ficarão fora Não sei porque agrado,
de mim, não sei onde, rígidas e fatais... Falo, e penso
Enche-se de lágrimas
nisto na minha garganta, e as minhas palavras parecem- Meu olhar parado.
-me gente...
Recordo outro ouvir-te.
Não sei se te ouvi
(Fernando Pessoa, O marinheiro. Campinas: Editora da
Unicamp, 2020, p. 51.) Nessa minha infância
Que me lembra em ti.
O que eu era outrora já não se lembra de quem Com que ânsia tão raiva
sou... Às vezes, à beira dos lagos, debruçava-me e Quero aquele outrora!
fitava-me... Quando eu sorria, os meus dentes eram E eu era feliz? Não sei:
misteriosos na água... Tinham um sorriso só deles, in- Fui-o outrora agora.
dependentes do meu...
(Idem, p. 52.)
Considere as seguintes afirmações sobre o poema.
|. O sujeito-lírico elege a “pobre velha música” para
Nos excertos acima, dois fenômenos são apresen- expressar o desejo de recuperar a infância.
tados ao leitor e constituem o principal problema H. O verso final indica que a felicidade passada
dramático da peça de Fernando Pessoa. Assinale a pode ser uma memória vivida no presente.
alternativa que identifica e explica corretamente es- HI. A musicalidade do poema, de métrica tradicional,
ses fenômenos.
traduz uma luta contra a poesia moderna, através
a) As palavras e as imagens tornam-se independen- da nostalgia presente em outros heterônimos.
tes da pessoa humana. Isso significa a cisão entre
Quais estão corretas?
o sujeito e o mundo ou, ainda, a crise de identida-
a) Apenas |. d) Apenasll e Ill.
de pessoal reiterada nos diálogos. b) Apenas ll. e) el llelll.
b) Proferir um discurso e ver-se refletido em um lago c) Apenasle ll.
são situações dramáticas que sugerem a unida-
de entre ser e existir. A questão central, quem eu UFRGS 2016 Leia o poema a seguir, presente em
sou, é resolvida no desfecho da peça. Mensagem, de Fernando Pessoa.
c) Lembrar e esquecer são dois aspectos insepará-
Noite
veis da estrutura dramática da peça. Se a imagem
refletida no lago não se assemelha à pessoa que A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
a contempla, as palavras, por sua vez, garantem a
O segundo pediu licença ao Rei
conexão entre o eu e a realidade exterior. De, na fé e na lei
d) O horror e o mistério das coisas são elementos Da descoberta, ir em procura
básicos desse drama. Eles produzem, nas per- Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.
sonagens, a convicção de que é útil narrar as Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
experiências do passado porque assim se revela Volveu do fim profundo
o seu verdadeiro significado. Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Unicamp-SP 2021 Certas imagens literárias podem Então o terceiro a El-Rei rogou
tornar-se nucleares para uma cultura. Assim, por Licença de os buscar, e El-Rei negou.
exemplo, a figura do marinheiro em Portugal. Ela ad- Como a um cativo, o ouvem a passar
quire significados diferentes em períodos históricos Os servos do solar.
E, quando o veem, veem a figura
distintos, mas conserva um elemento permanente.
Da febre e da amargura,
A semelhança entre a imagem do marinheiro em Com fixos olhos rasos de ânsia
Camões e em Fernando Pessoa reside Fitando a proibida azul distância.
a) no realismo moral do povo português, resultado Senhor, os dois irmãos do nosso Nome
da era das grandes navegações e da expansão — O Poder e o Renome —
do catolicismo. Ambos se foram pelo mar da idade
b) na representação de uma identidade coletiva e À tua eternidade;
individual sob o signo da mudança, do risco e da E com eles de nós se foi
travessia.
O que faz a alma poder ser de herói.
Queremos ir buscá-los, desta vil
c) na alegoria da degradação moral dos amantes e
Nossa prisão servil:
dos aventureiros, movidos pelo desejo sexual É a busca de quem somos, na distância
e pela cobiça material. De nós; e, em febre de ânsia,
d) nasimbolização dos ideais econômicos de Portugal, A Deus as mãos alçamos.
com reflexos na vida espiritual. Mas Deus não dá licença que partamos.
324 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
Considere as seguintes afirmações sobre o poema e Essa felicidade que supomos,
suas relações com o livro Mensagem. Árvore milagrosa, que sonhamos
Il. As três primeiras estrofes estão relacionadas a Toda arreada de dourados pomos,
um episódio real: a história dos irmãos Gaspar Existe, sim: mas nós não a alcançamos
e Miguel Corte Real que desapareceram em Porque está sempre apenas onde a pomos
expedições marítimas, no início do século XVI, E nunca a pomos onde nós estamos.
para desespero do terceiro irmão, Vasco, que Vicente de Carvalho. Poemas e Canções. 5. ed. São Paulo: Monteiro
Lobato & C. — Editores, 1923.
queria procurá-los, mas não obteve a autorização
do rei.
Cancioneiro, 150
H. O sujeito lírico, na quarta e na quinta estrofes, as-
Não sei se é sonho, se realidade,
sume a primeira pessoa do plural, sugerindo que
Se uma mistura de sonho e vida,
o drama individual dos irmãos pode representar
um problema coletivo: a perda de poder e reno-
Aquela terra de suavidade
me de Portugal, perda esta já associada à difícil Que na ilha extrema do sul se olvida.
situação do país no início do século XX, momento É a que ansiamos. Ali, ali
da escritura do poema.
A vida é jovem e o amor sorri.
HI. O diagnóstico das perdas de Portugal está ausente Talvez palmares inexistentes,
em outros poemas de Mensagem, por exemplo, Áleas longínquas sem poder ser,
Mar português, Autopsicografia e Nevoeiro, que Sombra ou sossego deem aos crentes
De que essa terra se pode ter.
apresentam a visão eufórica e confiante do sujeito
Felizes, nós? Ah, talvez, talvez,
lírico em relação ao futuro de Portugal.
Naquela terra, daquela vez.
Qual(is) está(ão) correta(s)?
a) Apenas |. d) Apenas Ile Ill. Mas já sonhada se desvirtua,
b) Apenas Il. e) |llelll. Só de pensá-la cansou pensar,
Sob os palmares, à luz da lua,
c) Apenasle ll.
Sente-se o frio de haver luar.
UFRGS 2016 Assinale a alternativa correta a respeito da Ah, nessa terra também, também
vida e da obra do poeta português Fernando Pessoa. O mal não cessa, não dura o bem.
a) Pessoa foi um dos líderes da revista de literatura Não é com ilhas do fim do mundo,
Orpheu, juntamente com Mário de Sá-Carneiro e Nem com palmares de sonho ou não,
Eça de Queiroz. Que cura a alma seu mal profundo,
b) Acriação da revista de literatura Orpheu identifica Que o bem nos entra no coração.
Pessoa como um dos fundadores do Modernismo É em nós que é tudo. É ali, ali,
português. Que a vida é jovem e o amor sorri.
c) Pessoa foi responsável pelo espírito derrotista, (30.08.1933)
em que Portugal estava mergulhado no final do (Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar Editora, 1965.)
século XIX.
Unesp Os poemas de Vicente de Carvalho e
d) Os heterônimos de Pessoa, tais como Álvaro de
Fernando Pessoa focalizam o tema da busca da fe-
Campos e Ricardo Reis, podem ser vistos como
licidade pelo ser humano e se servem de antigas
pseudônimos, utilizados pelo poeta para burlar a
alegorias para simbolizar o que seria essa felicida-
censura.
de que todo homem procura em sua vida, embora
e) A criação de heterônimos é uma prática comum
nem sempre a encontre. Identifique essas alegorias
aos poetas colaboradores da revista Orpheu.
em cada poema.
Instrução: Utilize os textos a seguir para responder às
Pe,
325
9. Unesp Os dois poemas se identificam por empregar Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu
mais de uma vez a palavra sonho com significado sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em
equivalente. O que querem dizer ambos os eu líricos mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de
com essa palavra no contexto dos poemas? todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma
suma de não eus sintetizados num eu postiço.
10. FGV-SP 2021 Leia o poema de Alberto Caeiro para (Fernando Pessoa)
responder à questão a seguir.
Texto II
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio. Verbo Ser
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores. Que vai ser quando crescer?
É preciso também não ter filosofia nenhuma. Vivem perguntando em redor. Que é ser?
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas. É ter um corpo, um jeito, um nome?
Há só cada um de nós, como uma cave!. Tenho os três. E sou?
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, e jeito?
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela. Ou a gente só principia a ser quando cresce?
(Obra poética, 1992.) É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
1 cave: pavimento de uma construção que fica abaixo
do nível do solo.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
De acordo com o poema,
Vou crescer assim mesmo.
a) o homem completo é aquele que une a filosofia Sem ser Esquecer.
ao contato com a natureza. (Carlos Drummond de Andrade)
b) a natureza parece melhor quando é apenas uma
ideia abstrata. 0-0 Otexto de Fernando Pessoa reflete sobre as várias
c) arazão é um obstáculo que impede o homem de formas que um “eu” pode assumir, gerando diver-
fruir a natureza. sas identidades. Com ele, podemos compreender
d) o cego utiliza seus outros sentidos para compen- melhor o projeto poético do autor português.
sar a ausência da visão. 1-1 No poema de Drummond, o sujeito poético
e) o autoconhecimento é um pré-requisito ao conhe- questiona a própria identidade, através de uma
cimento da realidade exterior. reflexão sobre o verbo “ser”, anunciado
já no tí-
tulo. Os versos “Ser; pronunciado tão depressa,
Instrução para as próximas duas questões: marque
Pe,
326 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
Fragmento | O tema tratado no poema é
Aos deuses peço só que me concedam o nada lhes a) necessidade de se buscar a verdadeira razão
pedir [...]. para uma vida plena.
b) fugacidade do tempo, remetendo à ideia de bre-
Fragmento Il vidade da vida.
[...] este Tejo que não corre pela minha aldeia, o Tejo c) busca pela simplicidade da vida, representada
que corre pela minha aldeia chama-se Douro, por isso, pela natureza.
por não ter o mesmo nome, é que o Tejo não é mais belo d) brevidade com que o verdadeiro amor perpassa
que o rio que corre pela minha aldeia. a vida das pessoas
e) rapidez com que as relações verdadeiras come-
Fragmento Ill
çam e terminam.
[...] não esquecer que todas as cartas de amor são
ridículas [...]. 14. Fuvest-SP Entre os seguintes versos de Alberto
Caeiro, aqueles que, tomados em si mesmos, ex-
Fragmento IV
pressam ponto de vista frontalmente contrário à
[...] eu tenho sido cómico às criadas de hotel. orientação dominante que se manifesta em A rosa
Fragmento V do povo, de Carlos Drummond de Andrade, são os
que estão em:
[...] sempre valeu a pena, seja a alma grande ou pe-
a) “Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o
quena, como mais ou menos disse o outro [...).
tenho: / O valor está ali, nos meus versos.”
José Saramago — O ano da morte de Ricardo Reis)
b) “Eu nunca daria um passo para alterar / Aquilo a
0-0 No primeiro fragmento, Saramago resgata um que chamam a injustiça do mundo.”
poema do heterônimo de Fernando Pessoa, c) “Como o campo é grande e o amor pequeno! /
protagonista do romance em foco, no qual há Olho, e esqueço, como o mundo enterra e as ár-
uma boa dosagem de fantástico, pois é o relato vores se despem”
dos encontros de Fernando Pessoa, já morto, dj) “Quandoaervacrescer em cima da minha sepultura, /
com Ricardo Reis, único dos heterônimos que seja esse o sinal para me esquecerem de todo”
não tem a biografia concluída por seu criador. e) “Quem me dera que eu fosse o pó da estrada /
1-1 “Todas as cartas de amor são ridículas” é um E que os pés dos pobres me estivessem pisando..”
verso de Álvaro de Campos; sendo ele um poeta
15. Unesp 2017 Leia o poema “Sonetilho do falso
clássico, epicurista, o sentimento amoroso sem-
Fernando Pessoa”, de Carlos Drummond de Andrade
pre vai lhe parecer inoportuno e ridículo.
(1902-1987), que integra o livro Claro enigma, publicado
2-2 No fragmento Il, José Saramago retoma, atra-
em 1951.
vés de um jogo de palavras, um poema de
Alberto Caeiro, o qual exalta o rio de sua al- Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
deia, reconhecendo que o Rio Tejo é bonito,
E das peles que visto
mas não mais do que aquele que corre pela
muitas há que não vi.
sua aldeia.
Sem mim como sem ti
3-3 No fragmento IV, as irreverências do heterônimo posso durar. Desisto
Álvaro de Campos, engenheiro nauta que cul- de tudo quanto é misto
tua a era da mecânica, refletem também o tédio e que odiei ou senti.
profundo resultante da inadaptação à socieda- Nem Fausto! nem Mefisto?,
de contemporânea. à deusa que se ri
4-4 O quinto fragmento resgata o poema Mar Portu- deste nosso oaristo3,
guês. Nele, Pessoa questiona se valeu a pena o eis-me a dizer: assisto
sacrifício da nação portuguesa, para conquistar além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto.
os mares.
(Claro enigma, 2012.)
327
16. PUC-SP Leia o poema a seguir, de Alberto Caeiro, e d) As características predominantes de sua obra
indique a alternativa que estabelece conexão entre o são o nacionalismo místico, presente principal-
poeta e o texto. mente em Mensagem, as sondagens sobre o ser,
a busca incessante pelo (autojconhecimento e a
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
tentativa de compreensão sobre o fazer poético.
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso, (Rogério de Almeida)
Porque quem ama nunca sabe o que ama e) [..] em sua obra, a heteronímia é apresentada de
Nem sabe por que ama, nem o que é amar... uma maneira tão particular, de tal forma unida à
Amar é a eterna inocência, dita ortônima, que hoje é impossível falar de uma
E a única inocência não pensar... sem a outra. (Lisa Carvalho Vasconcellos)
a) Médico e estudioso da cultura clássica, desen- 18. Relacione os fragmentos a seguir de acordo com as
volve em seus poemas temas mitológicos, em características dos heterônimos de Fernando Pessoa.
composições denominadas odes. |. “[...] Mas serenamente
b) Poeta bucólico, vive em contato direto com a Imita o Olimpo
natureza; daí sua lógica ser a mesma da ordem No teu coração.
natural. Os deuses são deuses
c) Como engenheiro do século XX e poeta futu- Porque não se pensam.”
rista, os temas de sua obra estão voltados para H. “[...] Começo a conhecer-me. Não existo.
as fábricas, a energia elétrica, as máquinas e a Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me
fizeram,
velocidade.
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
d) Apresenta um conceito direto das coisas, um ob- Sou isso, enfim [...)”.
jetivismo absoluto, apesar de a sensação não se
HI. “[...] Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
manifestar em seus poemas.
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
e) Cultor do paganismo, foi mestre apenas de Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Fernando Pessoa e manteve-se distanciado dos Porque quem ama nunca sabe o que ama
demais heterônimos. Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
328 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
19. PUC-Campinas 2016 O Modernismo de 22 caracte- 22. PUC-Campinas 2016 A razão pela qual o escritor
rizou-se, de fato, por algumas contradições, entre as Mário de Andrade dedicou a Paulo Prado seu romance
quais a que o texto aponta: Macunaíma é sugerida no próprio texto, uma vez que
a) Os mentores modernistas promoveram ideais es- nesse romance o autor pretende
téticos para agradar burgueses e aristocratas. a) romper com as amarras desse gênero da ficção,
b) Uma economia voltada para a industrialização apostando em uma narração caótica e puramente
propiciou o desenvolvimento da produção rural. experimental.
c) Membros da aristocracia paulista renunciaram a b) historiar a saga da família Prado, identificando-a
seu gosto estético em nome da arte popular. com a história dos chamados barões do café da
dj) Membros da recém-formada burguesia impuse- Pauliceia.
ram seu gosto estético aos aristocratas. c) criar um protagonista cuja história espelhe e
e) Um setor da economia rural estimulou um movi- transfigure a diversidade e a busca de identidade
mento cultural de raiz urbana e moderna. cultural do povo brasileiro.
20. PUC-Campinas 2016 O “espírito destruidor” que d) denunciar o nacionalismo das tendências artísti-
costuma atuar em um movimento de vanguarda está cas que retratam o Brasil como se fosse o centro
presente e bem tipificado nesta formulação de um do universo.
manifesto estético do Modernismo: e) lamentar o atraso de nosso país, enquanto suge-
a) Das tuas águas tão verdes não havemos de nos re que nosso futuro está na modernização e na
afastar. tecnologia.
b) Sê como o sândalo, que perfuma o machado que
23. PUC-Campinas 2016 A tendência de aprofundar o
o fere.
conhecimento do Brasil, em uma linha nacionalista e
c) Ainda se rebelam na Hélade os engenheiros de
tropical, no período referido no texto, está indiciada já
nossa reconstrução.
em expressões que identificam obras e grupos literá-
d) Penetra surdamente no reino das palavras.
rios, tais como
e) É preciso expulsar o espírito bragantino e as
a) Vamos caçar papagaios e Verde-amarelismo.
ordenações.
b) Afrauta de Pã e Tropicália.
21. PUC-Campinas 2016 Sobre o movimento a que o c) Os sertões e Pós-modernismo.
texto se refere é correto afirmar que, além de ter sido d) Acinza das horas e Futurismo.
uma manifestação intelectual e artística, e) Sentimento do mundo e Neoliberalismo.
a) foi um movimento político de contestação à ordem
social vigente, na medida em que rompeu com o 24. UEPG-PR 2016 Sobre a Semana de Arte Moderna no
conservadorismo elitista dominante nas artes. Brasil, assinale o que for correto.
b) expressou a pujança do movimento operário e 01 O Movimento Pau-Brasil, fundado por Oswald de
sua oposição à dominação oligárquica ao utilizar Andrade, propôs a valorização das raízes nacio-
as novas maneiras de encarar as artes. nais, que deveriam ser o ponto de partida para os
c) foi um movimento de protesto em relação às artistas brasileiros.
formas de expressão primitivista, que até então 02 A divisão entre os defensores de uma estética
predominavam nas artes plásticas e na literatura. conservadora e os de uma renovadora no Brasil
d) reafirmou os valores artísticos do Brasil rural e prevaleceu por muito tempo e atingiu seu clímax
patriarcal, assim como a permanência da estética na Semana de Arte Moderna realizada nos dias
naturalista e simplista da arte nacional. 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Mu-
e) transformou-se em um marco de resistência artís- nicipal de São Paulo.
tica à política tradicional da República Velha e ao
04 Em sua marcante atuação na Semana de Arte
modernismo norte-americano dominante.
Moderna de 1922, Tarsila do Amaral colabo-
Para responder às questões 22 e 23, considere o texto rou decisivamente para o desenvolvimento
a seguir. da arte moderna brasileira, pois produziu uma
Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira, de obra indicadora de novos rumos para a pintura
Paulo Prado (escritor a quem Mário de Andrade dedicou brasileira. a
(a
Macunaíma), é hoje um livro quase esquecido. Quando 08 Na Semana de Arte Moderna de 1922, o compo- [um
4
saiu, porém, alcançou êxito excepcional: quatro edições sitor Heitor Villa-Lobos apresentou as primeiras
uW
fo
o
entre 1928 e 1931. O momento era propício para tentar audições de várias obras, dentre elas a “Segunda
explicações do Brasil, país que se via a si mesmo como um Sonata”, “A Fiandeira”, “Solidão”, “Historietas” e
ponto de interrogação. Terra tropical e mestiça condenada “Num Berço Encantado”.
ao atraso ou promessa de um eldorado sul-americano?
BOSI, Alfredo. Céu, Inferno. São Paulo: Ática, 1988. p. 137. Soma:
329
25. PUC-Minas 2014 Finge que não existem!
Vai ser difícil, Excelência.
Exortação Mas não impossível!
Ribeiro Couto e Manuel Bandeira,
poetas do Brasil, H
do Brasil, nosso irmão, E os massacres no Alentejo, Excelência?
disseram: Oh nada de extraordinário a assinalar
“— É preciso criar a poesia brasileira, Senão os coveiros já teriam reclamado
de versos quentes, fortes, como o Brasil, Horas suplementares!
sem macaquear a literatura lusíada”. (Mário de Andrade)
Angola grita pela minha voz,
Texto 2
Pedindo a seus filhos nova poesia!
[...] Alerta
Angola, grande promessa do futuro, Lá vem o lança-chamas
forte realidade do presente, Pega a garrafa de gasolina
inspira novos ideais Átira
encerra ricos motivos Eles querem matar todo amor
Corromper o polo
É preciso inventar a poesia de Angola! Estancar a sede que eu tenho doutro ser
GOMES, Maurício. In: MACÊDO, Tania; CHAVES, Rita. Literaturas de Vem de flanco, de lado
língua portuguesa: marcos e marcas. Angola, 2007. p. 61.
Por cima, por trás
No poema, a literatura brasileira é vista como uma re- Átira
ferência para a literatura angolana. Segundo o texto, Átira
isso ocorre devido: Resiste
a) à autonomia da poesia brasileira em relação à poe- Defende
sia de Portugal. De pé
De pé
b) à indicação de semelhanças culturais e históricas
De pé
entre os dois países.
O futuro será de toda a humanidade
c) ao caráter político da literatura de resistência pro-
(Oswald de Andrade)
duzida no Brasil.
d) à capacidade de constante reinvenção dos poe- Acerca dos Textos 1 e 2, bem como dos seus autores
tas brasileiros. e do contexto histórico e literário em que estão inscri-
tos, analise as seguintes proposições.
26. UPE 2017 Il. O Texto 1 é um poema em que o autor se reve-
la comprometido com as causas sociais de seu
Texto 1
tempo, e em que um eu lírico questionador faz vir
Retrato de Novembro à tona imagens da indiferença de quem está no
poder, subjugando o oprimido.
I
H. Mário de Andrade foi o autor de Macunaíma, cujo
Os trabalhadores protestam na rua,
protagonista é um “herói sem nenhum caráter”,
Excelência.
uma espécie de mito grego, nascido na selva
Não me incomodam!
amazônica que vai até São Paulo, em busca de
Como?!
um valioso talismã. Sobre o nascimento desse
Não vou sair para essas bandas!
mito, confira o seguinte trecho: “No fundo do
Querem avistar-se com Vossa Excelência.
mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa
Não os conheço!
gente. Era preto retinto e filho do medo da noite”.
Já estão a fazer barulho.
HI. O Texto 2 é um poema, cujo eu lírico é um revolu-
Manda-os embora!
cionário, em luta por sua liberdade. A sua causa,
Não abalam.
isto é, o seu ideal, é a humanidade.
Manda-os calar!
IV. Para Oswald de Andrade, no seu Manifesto da
Não nos escutam, Excelência.
Poesia Pau-brasil, “a poesia existe nos fatos”. Isso
Bom, somos um país livre!
faz entender que ele conseguiu reunir, na sua
Mas a gritaria vai-nos incomodar.
poesia e na sua prosa, elementos para um olhar
Fecha as portas e as janelas!
crítico sobre a realidade brasileira.
Mesmo assim os ouviremos.
Tapa os ouvidos! Estão CORRETAS:
Também não resulta, Excelência. a) lell, apenas. d) Ile IV, apenas.
Então, ignora-os! b) I,llle IV, apenas. e) Li llelV.
Como?! c) Ile Ill, apenas.
330 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
27. UFJF-MG 2017
6. Maria da Glória
Preta pequenina do peso das cadeias. Cabelos brancos e um guarda-chuva.
O mecanismo das pernas sob a saia centenária desenrolava-se da casa lenta à escola pela manhã branca e de tarde azul.
la na frente bamboleando maleta pelas portas lampiões eu menino.
7. Felicidade
Napoleão que era um grande guerreiro que Maria da Glória conheceu em Pernambuco disse que o dia mais feliz da vida
dele foi o dia em que eu fiz a minha primeira comunhão.
8. Fraque do ateu
Saí de D. Matilde porque marmanjo não podia continuar na classe com meninas.
Matricularam-me na escola modelo das tiras de quadros nas paredes alvas escadarias e um cheiro de limpeza.
Professora magrinha e recreio alegre começou a aula da tarde um bigode de arame espetado no grande professor Seu Carvalho.
No silêncio tique taque da sala de jantar informei mamãe que não havia Deus porque Deus era a natureza.
Nunca mais vi o Seu Carvalho que foi para o Inferno.
ANDRADE, Oswald de. Memórias sentimentais de João Miramar. São Paulo: Globo, 1990.
Explique de que maneira o trecho do romance “Memórias sentimentais de João Miramar”, de Oswald de Andrade, caracte-
riza uma escrita de vanguarda modernista.
28. ESPM-SP 2016 O ensaísta Roberto Schwarz alude ao fato de haver no país um descompasso ideológico, isto é, o
desconcerto de uma sociedade escravista, mais as ideias importadas do liberalismo europeu. De onde a sensação
de que, no Brasil, as ideias estão deslocadas em relação ao seu uso europeu: há um desacordo entre a situação local
e o molde importado. As 'nossas' coisas, assim, não seriam nossas.
Dos itens a seguir, o exemplo literário que reflete o espírito do tema anteriormente exposto é:
a) “Alguém há de cuidar que é frase inchada/Daquela que lá se usa entre essa gente” (Cláudio Manuel da Costa)
b) “Invejo o ourives quando escrevo;/Imito o amor/Com que ele, em ouro, o alto-relevo/Faz de uma flor” (Olavo Bilac)
c) “Minha terra tem primores,/Que tais não encontro eu cá;/Em cismar — sozinho à noite —/Mais prazer encontro eu
lá;” (Gonçalves Dias)
d) “A praça! A praça é do povo/Como o céu é do condor” (Castro Alves)
e) “Tupi or not tupi, that is the question” (Oswald de Andrade)
29. IFPI 2022 Nas duas primeiras décadas do século XX, as incertezas políticas criaram um clima favorável para o desenvolvimento
de uma arte que criticava a cultura europeia e a frágil condição humana diante de um mundo cada vez mais complexo. Surgiram,
então, movimentos artísticos que buscavam questionar a civilização contemporânea, como o Dadaísmo e o Surrealismo.
(PROENÇA, 2019, p. 291)
Diante do texto acima, assinale as alternativas V para as alternativas VERDADEIRAS e F para as alternativas FALSAS.
Para o grupo de artistas Dadaístas, a arte perdera todo o sentido racional e lógico em meio à irracionalidade da guerra.
A obra “ Fonte”, de Marcel Duchamp, é um dos exemplos mais complexos da arte surrealista, que, ao questionar
os valores da sociedade, passavam também a questionar a própria arte.
Os Dadaístas propunham que a criação artística se libertasse das amarras do pensamento racional e sugeriam
que ela resultasse do automatismo psíquico, por meio da seleção e combinação de elementos ao acaso.
Mais do que a ideia do objeto pronto, deslocado de seu ambiente original para um espaço reservado à arte, o
que interessava ao movimento Dadá era também a provocação e o choque que a presença de tal objeto poderia
causar em uma exposição, assim como os debates que surgiriam em torno dela. a
La
Na pintura, essa proposta resultou em obras nas quais os artistas usaram o recurso da colagem. O objetivo era [=
4
satirizar e criticar os valores modernos e inovadores tão prezados pela sociedade, mas responsáveis pelo caos uu
x
u.
em que a Europa se encontrara.
Marque a alternativa cuja sequência aparece CORRETA:
a) VMVVF d) VEFREV.
bb MEMVV,F. e) VEEVYV.
o) FEVVF
331
30. Enem 2017 3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade
pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o
Texto |
movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida,
o salto mortal, o bofetão e o soco.
4. Nós afirmamos que a magnificência do mun-
do enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da
velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre
enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes
de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece
correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória
de Samotrácia.
5. Nós queremos entoar hinos ao homem que segura
o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada
também numa corrida sobre o circuito da sua órbita.
6. É preciso que o poeta prodigalize com ardor,
fausto e munificiência, para aumentar o entusiástico
fervor dos elementos primordiais.
MARINETTI, F. T. Manifesto futurista. In: TELES, G. M. Vanguardas
europeias e Modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1985.
332 LÍNGUA PORTUGUESA « Capítulo 9 « Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
33. PUC-RS 2019 E, de repente, e em derivação oposta Para fora da possibilidade do soco;
à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas
indivíduo. Num jacto, e à máquina de escrever, sem in- (ridículas,
terrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
de Campos — a Ode com esse nome e o homem com
o nome que tem. [...] Quando foi da publicação de Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
“Orpheu”, foi preciso, à última hora, arranjar qualquer Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
coisa para completar o número de páginas. Sugeri Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na
então ao Sá-Carneiro que eu fizesse um poema «an- [vida...
tigo» do Álvaro de Campos — um poema de como o
Álvaro de Campos seria antes de ter conhecido Caeiro Arre, estou farto de semideuses!
e ter caído sob a sua influência. E assim fiz o Opiário, Onde é que há gente no mundo?
em que tentei dar todas as tendências latentes do
Álvaro de Campos, conforme haviam de ser depois Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
reveladas, mas sem haver ainda qualquer traço de
contato com o seu mestre Caeiro. Foi dos poemas que Poderão as mulheres não os terem amado,
tenho escrito, o que me deu mais que fazer, pelo duplo Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
poder de despersonalização que tive que desenvolver. E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Mas, enfim, creio que não saiu mau, e que dá o Álvaro Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
em botão [...]. Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Fragmento adaptado de: Fernando Pessoa, Correspondência (1923-1935). Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
CAMPOS, Álvaro de (Fernando Pessoa). Poema em linha reta.
O texto em questão Disponível em: https://verdadesdepapel.wordpress.com.
l. esclarece que o heterônimo Álvaro de Campos é Acesso em: mar. 2017. Adaptado.
construído para se opor a Ricardo Reis. Álvaro de Campos, nesses versos, revela-se
Il. evidencia que o poeta ficcionaliza a relação entre
a) contrário às convenções sociais.
os heterônimos.
b) inseguro em face do momento vivido.
Hll. faz referência à gênese do heterônimo Álvaro de
c) convicto da precariedade do destino humano.
Campos.
d) consciente de ser uma exceção na sociedade de
Estão corretas as afirmativas
que faz parte.
a) le ll, apenas.
e) defensor da alma humana como propensa à cor-
b) le ll, apenas.
reção das próprias falhas.
c) Ile Ill, apenas.
d) |llelll. Leia o trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha para
responder às questões 35 e 36.
34. FBD-BA 2017 Leia o poema Álvaro de Campos
[...] Ali andavam entre eles três ou quatro moças,
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos,
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão
cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha. Ali por
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
então não houve mais fala ou entendimento com eles,
Indesculpavelmente sujo,
por a barbaria deles ser tamanha, que se não entendia
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar
nem ouvia ninguém.
[banho,
Disponível em: http://objdigital.bn.br/Acervo.
Digital/Livros eletronicos/
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, carta.pdf. Acesso em: 7 nov. 2022.
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das
[etiquetas,
35. Pesquise o poema “História do Brasil”, de Oswald de
Andrade, e estabeleça uma comparação com o trecho
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
da Carta de Pero Vaz de Caminha, evidenciando o
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
novo significado dado ao primeiro contato do europeu
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo
com o indígena. N
[ainda; uu
-
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, z
36. Releia o trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha na ,
[e
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de questão anterior. o
333
BNCC em foco
“sentimento-ideia”,"ou “emoção refletida”,mou “promessa de uma
nova civilização lusitana”, em suma, uma religião, uma filo-
Leia o Ultimatum Futurista, de Almada Negreiros, para sofia, uma política tipicamente portuguesas.
responder à questão seguinte. MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos.
São Paulo: Cultrix, 2002. p. 435.
ULTIMATUM FUTURISTA
AS GERAÇÕES PORTUGUESAS DO SÉCULO XX Qual movimento do início do século XX se contrapõem
JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS. ao saudosismo e o que ele defendia?
Eu não pertenço a nenhuma das gerações revolucio-
nárias. Eu pertenço a uma geração constructiva.
[...] Uerj 2013 Veja a capa do livro de Oswald de Andrade
Nós vivemos numa patria onde a tentativa demo- e leia o texto seguinte.
cratica se compromete quotidianamente. A missão da
Reprodução
Republica portugueza já estava cumprida desde antes de
5 de Outubro: mostrar a decadencia da raça. Foi sem du-
vida a Republica portugueza que provou conscientemente
a todos os cerebros a ruína da nossa raça, mas o dever
revolucionaria da Republica portugueza teve o seu limite
na impotência da criação. Hoje é a geração portugueza
do seculo XX quem dispõe de toda a fôrça criadora e
constructiva para o nascimento de uma nova patria intei-
ramente portugueza e inteiramente actual prescindindo
em absoluto de todas as epochas precedentes.
Vós, oh portuguezes da minha geração, nascidos
como eu no ventre da sensibilidade europeia do seculo XX
criae a patria portugueza de seculo XX.
[...]
Ide buscar na guerra da Europa toda a fôrça da nossa
patria. No front está concentrada toda a Europa, portanto
a Civilização actual.
A guerra serve para mostrar os fortes mas salva os
fracos.
A guerra não é apenas a data historica de uma nacionali-
dade; a guerra resolve plenamente toda a expressão da vida.
A guerra é a grande experiencia.
É certo que a capa de um livro é a marca de um
A guerra intensifica os instintos e as vontades e faz
produto que quer atrair o leitor. A associação seria
girar o Génio pio contráste dos incompletos. mais certeira se esse leitor a relacionasse ao contexto
NEGREIROS, José de Almada. Ultimatum Futurista às gerações
prortuguesas do século XX. Disponível em: https:/Awww.revistasema.pt/ histórico dos anos 1920, em que se traçava o projeto
uploads/1/2/4/5/124506462/sema3
142 147.pdf. modernista empenhado na construção de uma cons-
Acesso em: 13 jul. 2022. ciência do país, num processo de conhecimento da
O texto de Almada Negreiros apresenta dois ele-
realidade brasileira. Os modernistas queriam mesmo
“descobrir o Brasil”.
mentos associados ao contexto em que foi escrito,
RENATO CORDEIRO GOMES. Adaptado de
os termos “ultimatum” e “futurista”. Reflita sobre a www.revistadehistoria.com.br.
intenção do autor e o público-alvo a que se dirige
e explique o efeito de sentido do uso desses ter- Por meio de manifestos, livros e exposições, os moder-
mos específicos. nistas refletiram sobre a sociedade brasileira, avaliando
suas principais características e propondo a revisão da
identidade nacional.
Essa revisão está baseada na proposta de
Leia o trecho a seguir para responder à questão.
a) crítica da valorização romântica da natureza tropical.
O movimento saudosista tem início em 1910, com
a fundação da revista A Águia, órgão da “Renascença b) desqualificação das heranças coloniais luso-
Portuguesa”, que circulou até 1932, ao longo de três fa- -africanas.
ses. Teixeira de Pascoaes, que a dirigiu na segunda fase c) negação da cooperação cultural de artistas
iniciada em 1912, tornou-se o mentor e a figura mais estrangeiros.
relevante da sua geração. A saudade, preconiza ele, é d) reformulação da composição multiétnica da po-
palavra sem equivalente noutras línguas, e, por isso, é um pulação nativa.
334 LÍNGUA PORTUGUESA * Capítulo 9 * Modernismo: as novas propostas estéticas em Portugal e no Brasil
Gabarito
24. A
Frente 1
25. A
Capítulo 6 — Sintaxe do período simples I 26. E
1. D 43. Soma: 02 + 04 + 16 = 22
2. C 44. A
3. B 45. D
4. D 46. B
47. C
5. No cartaz, há um período composto, formado por um verbo e
uma locução verbal (“Pessoas idosas têm mais risco de serem 48. B
atropeladas.”), e um período simples, composto de um verbo 49. D
(“Dirija com atenção.”).
50. C
6. A
51. A
7. C
52. E
8. E
53. A
9. C
Exercícios complementares
10. A
11. B 1. D
335
20. B 2. E
21. No enunciado I, temos um predicado verbal, pois o verbo “par- 3. O objetivo é conscientizar as pessoas sobre a necessidade de de-
tilhar” precisa de complemento. No enunciado II, temos um nunciar a violência doméstica. O verbo “machuca” é transitivo
predicado nominal, pois há um verbo de ligação e um predicati- direto, tendo como complemento o trecho: “a família inteira”. Por-
vo do sujeito. tanto, “machuca a família inteira” é predicado verbal.
22. D
23. C Capítulo 7 — Sintaxe do período simples II
24. A
Revisando
25. E
1. Soma: 02 + 08 + 16 = 26
26. A
27. A 2. E
28. E 3. B
29. 2; 1; 2; 1 4. E
30. B 5. A
8. A afirmativa é falsa. Trata-se de um predicativo do sujeito. c) O interlocutor diz para uma pessoa chamada “Croitor” que o
médico lhe deu boas notícias.
9. O pronome possessivo “seus” está empregado como adjunto
adnominal. 6. A afirmação é falsa. Os três elementos destacados funcionam
sintaticamente como adjuntos adnominais.
10. a) “...sobre o aquecimento e mudanças...”.
7. “Grande” é adjunto adnominal de “Muralha”.
b) O sentido do enunciado fica limitado, pois não é possível sa-
ber a que aquecimento ou a que mudanças o pai se refere. 8. C
c) Houve prejuízo de sentido, pois não é possível mais identificar 9. No enunciado II. No enunciado I, o trecho destacado tem função
o tema central da fala do pai. de sujeito.
13. E 12. D
14. C 13. E
15. A 14. A
16. A 15. D
337
1. C 22. D
23. A
2. Nesse texto, “O domingo” de (Walter) Campos, poderíamos tra-
balhar inicialmente com o aspecto do vocabulário, porém não 24. B
será feita uma análise detalhada como no texto anterior, pois, 25. C
nesse caso, serão crianças ou jovens que não terão tantos pro-
blemas dessa natureza. Ainda assim, esse trabalho deve ser feito 26. B
de qualquer forma, mas sempre dentro de um contexto, para que 27. B
seja escolhida a acepção mais adequada. 28. E
3. A 29. D
30. E
5. C 1. B
6. B 2. D
7. E 3. B
8. D 4. B
9. B 5. C
10. B 6. D
7. C
Exercícios propostos
8. C
1. B
9. Os referentes do pronome “que”, em suas duas ocorrências,
2. B são “evidências” e “moduladores”, respectivamente. No primeiro
caso, o verbo “dar” concorda com o substantivo a que se refere;
3. a) “[...] – É tu, Volta Seca? Que é que tu queres? / – Quero que
tu leias para eu ouvir essa notícia de Lampião que o Diário no segundo, o verbo “ter” está no plural e concorda com o subs-
traz. [...]” tantivo a que faz referência.
34. C 19. B
35. A 20. E
36. B 21. A
22. B
BNCC em foco
23. A
1. D 24. C
2. E 25. C
3. A 26. B
27. B
28. C
Capítulo 9 — Sintaxe de período composto I
29. D
Revisando 30. D
1. B 31. Soma: 02 + 16 = 18
2. D 32. B
2. C 9. A
339
341
9. C
Exercícios propostos
10. C
1. D
11. D
2. A
12. C.
3. C
13. B
4. O grupo social que é alvo da crítica de Eça de Queirós é o grupo
das beatas. Amélia e S. Joaneira relacionam-se com os párocos 14. D
da região, sendo consideradas, por isso, concubinas. No empre- 15. E
go dos trechos “Todas se extasiaram”, “uma autoridade quase
16. A
eclesiástica” e “A S. Joaneira recomeçou a glorificação de Amaro:
a sua mocidade, o seu ar piedoso, a brancura dos seus dentes...”, 17. A
o autor fez uso de ironia para criticar esse grupo, pois descreve
18. C
religiosos vivendo relações carnais.
19. Tanto a chegada do médico à vila quanto os critérios utilizados
5. Frases que expressam o desejo de Luísa: “Desejaria antes que
pelo Dr. Bacamarte na escolha da futura esposa são comentados
fosse numa quinta, com arvoredos murmurosos e relvas fofas;
com ironia. No primeiro caso, configura-se a ideia de progresso
passeariam as mãos enlaçadas, num silêncio poético; e depois o
por meio da atividade científica. Em relação ao positivismo, per-
som da água que cai nas bacias de pedra daria um ritmo lânguido
cebe-se que D. Evarista é eleita por suas “condições fisiológicas
aos sonhos amorosos...”; “Imaginava Basílio esperando-a esten-
e anatômicas”, uma escolha que não tem relação com o amor ou
dido num divã de seda; e quase receava que a sua simplicidade
a beleza física.
burguesa, pouco experiente, não achasse palavras bastante fi-
nas ou carícias bastante exaltadas.”; “Desejava chegar num cupê 20. D
seu, com rendas de centos de mil-réis, e ditos tão espirituosos
21. A
como um livro...”.
Frases que denotam a realidade encontrada: “A carruagem 22. O conselho que Brás Cubas dirige a Quincas Borba é irônico
parou ao pé de uma casa amarelada, com uma portinha pe- e hipócrita, pois o trabalho nunca foi uma atividade exercida
quena.”; “Logo à entrada um cheiro mole e salobre enojou-a.”; pelo protagonista da história. Membro da elite carioca da se-
“A escada, de degraus gastos, subia ingrememente, apertada gunda metade do século XIX, Brás Cubas relacionou-se, na
entre paredes onde a cal caía, e a umidade fizera nódoas.”; “No sua adolescência, com uma prostituta (Marcela), roubando di-
patamar da sobreloja, uma janela com um gradeadozinho de nheiro do pai; depois, foi enviado a Coimbra, onde se formou
arame, parda do pó acumulado, coberta de teias de aranha, em Direito, profissão que não exerceu; e, por último, no capí-
coava a luz suja do saguão.”; “E por trás de uma portinha, ao tulo final – “Das negativas” –, ainda se vangloria afirmando:
lado, sentia-se o ranger de um berço, o chorar doloroso de “coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor
uma criança.”; “Luísa viu logo, ao fundo, uma cama de ferro com do meu rosto”.
343
345
17. E 37. A
18. B 38. A
19. O estudante fica encantado pelo mistério que o véu da viajante 39. O “Humanitismo” se constitui em uma demolidora sátira ao pen-
cria. Envolvido pela curiosidade, passa a imaginar e fantasiar samento científico dominante na segunda metade do século XIX,
que a mulher tem determinada aparência, os traços que ele isto é, ao evolucionismo, ao darwinismo social, ao positivismo e,
imagina são o estereótipo da aristocracia e o ideal de beleza até mesmo, ao espiritismo, entre os sistemas mais conhecidos.
segundo os parâmetros europeus. Mas ao remover o véu, des- Todas essas doutrinas tinham como base uma visão otimista da
cobre que a mulher que tanto idealizou e se apaixonou em tão realidade e se constituíam, em última instância, como formas de
pouco tempo é o oposto do que ele esperava. Sua clara decep- justificar a dominação de classe presente no coração da moder-
ção demonstra a sua imaturidade e fragilidade do sentimento na sociedade capitalista contemporânea ao autor. O absurdo
que cultivou. dessas concepções ficava ainda mais evidente em um país como
o Brasil, onde a força de trabalho era majoritariamente constituí-
20. A
da pela escravidão negra. Portanto, apesar de ter uma aparência
21. D risonha e bem-humorada, a frase síntese do Humanitismo – “Ao
22. C vencedor as batatas” – traz como pano de fundo a amarga rea-
lidade da exploração social do mundo capitalista moderno, na
23. C qual a vitória dos mais fortes sobre os mais fracos é tida como
24. A “natural” e meritocrática.
b) O excerto revela uma voz narrativa em 3a pessoa. A dinâmi- 4. A descrição do vaso chinês de forma pormenorizada é a ca-
ca estabelecida pelo narrador para revelar os pensamentos racterística de destaque no soneto de Alberto de Oliveira.
de Francisco Teodoro é composta de dois recursos narra- Esse elemento é comum nos textos descritivos, cujo intuito é
tivos: o discurso direto, marcado pelos travessões, e que transmitir as qualidades e observações de determinado objeto,
expressa as falas exatas do personagem; e o discurso por exemplo.
347
Exercícios propostos 2. Sugere-se que o professor combine com a classe uma data para
fazer uma discussão sobre o documentário AmarElo – É Tudo
1. B Pra Ontem. Pode ser criado um fórum na internet para que os
2. D estudantes opinem e façam as observações pertinentes às ques-
tões colocadas. Para a questão 5, salienta-se a necessidade de
3. Apesar da subjetividade, marca simbolista, o poema “Paisagem”
pesquisar um pouco mais sobre a vida do autor Cruz e Sousa,
da autora parnasiana Francisca Júlia apresenta estrutura rígida
bem como a recepção de suas obras Missal e Broquéis, publi-
(soneto). A métrica de versos dodecassílabos e a adoção de cadas em 1893 pela editora carioca Magalhães & Companhia. A
recursos como a aliteração são marcas do formalismo do Parna- partir dessas informações, é importante que sejam discutidas as
sianismo no poema. dificuldades ainda presentes na sociedade atual para que o ne-
4. A gro e sua cultura tenham espaço, reconhecimento e prestígio do
público. Nesse sentido, a apresentação feita pelo rapper Emicida
5. D
no Teatro Municipal de São Paulo é um sinônimo de resistência e
6. B ocupação pela periferia dos espaços elitizados.
7. A 3. A música “Ismália” ressignifica o poema de Alphonsus de Guima-
raens, evidenciando a luta, muitas vezes, perdida das mulheres
8. B
negras. Enquanto a loucura é o que leva a Ismália do poeta sim-
9. E bolista à morte, em um ato que alude ao suicídio, os efeitos do
10. C preconceito têm sérias consequências para a minoria negra,
especialmente, quando ela passa a negar a si mesma para ter
11. Soma: 02 + 04 + 16 = 22 aceitação social.
12. D
13. E
Capítulo 8 — Pré-Modernismo e vanguardas
14. A
europeias: contrastes no início do século XX
15. D
Revisando
16. C
17. C 1. Considerando o projeto de branqueamento da nação, iniciado
após a abolição, e as representações negativas de personagens
18. C
negros encontrados até então na literatura, as personagens apre-
19. E sentadas por Lima Barreto fogem do padrão, pois representam
349
20. E 22. D
22. D 24. B
23. C 25. E
24. A 26. D
25. E 27. A
1. B 3. Resposta pessoal.
2. A
3. D
Capítulo 9 — Modernismo: as novas propostas
4. A
estéticas em Portugal e no Brasil
5. a) No excerto, o narrador contrapõe o subúrbio e a cidade. O
subúrbio é o espaço no qual Cassi Jones se sente à von- Revisando
tade: nesse espaço, ele é conhecido e reconhecido, “tinha
1. E
personalidade” – apesar de sua “inferioridade de inteligência,
de educação”, de sua dificuldade de leitura e de sua inca- 2. A obra pessoana Mensagem apresenta caráter histórico e místico,
pacidade de circular naquele “conjunto de coisas finas” que porém os poemas retomam eventos, fatos e lendas associados a
caracteriza a cidade. Esta é descrita como o espaço da veloci- reis e figuras importantes que ajudaram a construir a história de
dade, do trabalho e dos hábitos de polidez e de urbanidade – Portugal, logo, o povo não é o foco da obra, ainda que haja abor-
mas, sobretudo, como o espaço do anonimato, e Jones se dagem significativa à questão do catolicismo português. O título
sente mal porque não é reconhecido. A cidade é ágil, marcada do livro e a epígrafe inicial evidenciam a existência de um sinal ou
pelos trilhos da Central do Brasil, e se conversa sobre tudo o uma mensagem enviada por Deus ao poeta para ser decodificada
que Jones não compreende e onde os conhecimentos adqui- e transmitida ao leitor, o que é elaborado ao longo dos 44 poemas.
ridos por meio da leitura são valorizados. 3. A
b) Os espaços que se opõem no Arcadismo são o campo e a 4. A metalinguagem é um recurso em que o código trata do pró-
cidade. O campo é o espaço bucólico, distante das agitações, prio código. No poema de Fernando Pessoa, o eu lírico aborda
das ambições e das degradações urbanas. É no campo que o próprio fazer literário associado ao fingimento poético, pois,
os poetas podem viver a vida de pastores: dedicados não ao mesmo a poesia sendo escrita por “ele mesmo”, trata-se de uma
comércio e ao acúmulo de propriedades, mas à subsistência, elaboração artístico-literária. Essa imaginação criativa é afirmada
ao amor às musas e à poesia; ali eles assumem pseudôni- na primeira estrofe: “Eu simplesmente sinto/Com a imaginação/
mos pastoris que assinam versos nos quais se materializam Não uso o coração”.
os ideais do carpe diem, do fugere urbem e do aurea me-
diocritas. É preciso aproveitar estoicamente a vida, de forma 5. O projeto de poesia heterônima de Fernando Pessoa consiste
equilibrada e desapegada, de maneira a experimentar a har- na fragmentação das identidades literárias do poeta. A criação
monia e projetá-la na produção literária. de várias personas, como Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro
de Campos, com características psicológicas e estilísticas dife-
6. B
rentes, associa-se ao estado de fingimento poético abordado no
7. Soma: 02 + 08 = 10 poema “Autopsicografia”.
8. Soma: 02 + 04 + 08 = 14 6. O poema de Fernando Pessoa classifica o poeta como um fin-
9. C gidor, ou seja, um criador do universo ficcional poético. O título
revela que se trata da análise que ele faz de si mesmo, eviden-
10. B
ciada pelo prefixo “auto”, já o poema de Ana Cristina Cesar,
11. A “Psicografia”, revela a escritura psicografada da alma.
12. D 7. Resposta pessoal. Sugere-se que os estudantes façam suas
13. B anotações e compartilhem-nas com os colegas na rede social
da turma.
14. A
15. E 8. Provavelmente, os estudantes terão selecionado obras que rompem
com a linearidade e a arte figurativa. Esse aspecto se difere da arte
16. C convencional, pois as obras não pretendem ser fiéis à realidade, já
17. E que os artistas são adeptos dos princípios das vanguardas europeias.
12. C 2. B
13. C 3. C
14. V; V; F; F; V 4. C
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