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Belo Horizonte
2022
Copyright ©2022 Thais Lopes
Mapa
C.M.P. Vargas
Ilustrações
Carol Zen
Dani tinha imaginado muitas coisas quando Lara falou que queria
proteção para uma pessoa, mas nenhuma delas era a
garota se segurando com força na sua cintura enquanto
ela acelerava a moto velha que tinha escondido perto da
cidade, mais cedo. A garota devia ter uns doze anos, no
máximo, mas não parecia. Quer dizer, parecia –
fisicamente. Mas não agia como se tivesse doze anos..
Lara tinha levado Dani para uma casa não muito
longe daquele bar, o que explicava porque era tão fácil
achar ela ali, e a garota já estava esperando quando ela
abriu a porta. Lara só havia avisado que era para ela ir
embora com Dani e que era para obedecê-la, e pronto. A
garota tinha pegado uma mochila que já estava
preparada e seguido Dani na direção da saída da cidade.
A garota não tinha questionado. Não havia falado
nada, só acompanhado Dani. E, o tempo todo, ela tinha
andado como alguém que sabia se esconder. Ela sabia
aproveitar as sombras, sabia como não fazer barulho e o
pior: sabia como fazer aquilo tudo parecer natural.
Talvez Dani devesse ter feito mais perguntas antes
de aceitar aquilo. Não que ela tivesse alguma ilusão de
que Lara fosse dar alguma informação antes de ter uma
garantia de que a garota estaria segura, mas... Ela era
nova demais para agir assim, mesmo para alguém que
tinha crescido em um setor dos vampiros.
Mas a garota nunca tinha andado de moto antes.
Pelo menos era o que parecia, pela forma como estava se
agarrando em Dani. E aquilo levando em conta que
aquela moto era velha, sem nada da velocidade que os
modelos mais recentes tinham. Mas era o que haviam
conseguido comprar para quando precisavam ganhar
tempo indo de um lugar para o outro. Combustível era
raro e caro o suficiente para qualquer tipo de veículo ser
um luxo.
Dani saiu do caminho e entrou no meio das árvores.
Toda a fronteira do Setor Dez, em qualquer direção, era
cercada de árvores. E não só na fronteira, mas uma área
de uns poucos quilômetros que funcionava como uma
medida de segurança adicional. Eles tinham câmeras de
vigilância e depósitos espalhados por toda parte ali,
porque era onde guardavam qualquer coisa que o
pessoal de segurança podia precisar em cima da hora –
como as motos.
Ela parou a moto dentro de um desses depósitos:
uma construção de um cômodo, reforçada, com
prateleiras cheias de caixas em todas as paredes, caixas
maiores no chão, cobertas por um tecido grosso que era
resistente ao fogo, e um espaço aberto bem no meio.
— Pode descer — Dani falou.
A garota a soltou e desceu da moto devagar, como
se não tivesse certeza de que ia conseguir continuar em
pé. Dani esperou antes de descer da moto também e
indicar a saída com um movimento de cabeça. A garota
foi naquela direção sem falar nada. Lara tinha falado
para ela obedecer, e ela estava obedecendo.
Dani puxou o portão de aço que estava enrolado no
alto da entrada e ativou as trancas antes de se virar para
a garota.
— Como você se chama? — Ela perguntou.
— Valissa.
Dani se forçou a não reagir. Aquilo era um nome de
vampiros.
— Sabe por que Lara pediu para você vir comigo? —
Ela insistiu.
A garota assentiu.
Dani bufou.
— E não vai me falar?
Ela balançou a cabeça.
Seria fácil demais se falasse. Dani realmente devia
ter perguntado mais.
— Você é o que de Lara? Irmã ou...
— Irmã.
Era o que Dani tinha imaginado. Lara parecia ser um
pouco mais nova que ela, o que queria dizer que a garota
era velha demais para ser sua filha.
— E você está obedecendo sem questionar nada por
quê?
Porque crianças não agiam daquele jeito.
A garota olhou para Dani.
— Porque não quero que me achem.
Um arrepio atravessou Dani. Ela conhecia aquele
olhar. Era o mesmo que tinha visto no espelho por anos,
enquanto estava fugindo com Alana. Mas Valissa era só
uma criança. Os vampiros podiam não ter quase nada
que se passasse por morais, mas crianças sempre
estavam seguras. Era lógica pura: se vampiros
atacassem crianças, ficariam sem seus lanchinhos depois
de uns anos.
A garota olhou para a frente. Estavam perto o
suficiente da mansão para ela ser visível entre as
árvores.
— É aqui que eu vou ficar? Vocês não têm uma
cidade?
Dani suspirou.
— Por enquanto, você fica aqui. Pelo menos essa
noite. E tem uma cidade, mas ela fica depois da casa.
A garota não falou mais nada.
Dani começou a andar na direção da mansão. A
garota continuou no lugar por alguns segundos,
parecendo concentrada, antes de ir atrás dela.
QUATRO