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Ela não faz a menor ideia de para onde ir. Então encontrem o abrigo
e certifiquem-se de que Blaze e Aurora estejam lá. Mas não estou
brincando, não transfigurem.
— Sim, claro, mamãe — Sterling resmunga baixo, mas não
silenciosamente o suficiente para passar despercebido.
— Vamos, meninas. — Greyson balança o queixo em
direção à saída, aparentemente despreocupado com a velocidade.
— Se mandem! — Steel grita, de repente. — Eles estão
aqui.
Em um piscar de olhos, Steel desaparece. Eu ofego
enquanto os gêmeos e Ash me conduzem em direção à saída.
— Metido — murmura Sterling.
— Para onde ele foi? Ele está bem?
O que diabos está acontecendo?
— Steel sabe cuidar de si mesmo.
Seus comportamentos um tanto tranquilos diante da
situação obviamente tensa não me ajudam a acalmar. Na verdade,
meu batimento cardíaco se eleva e posso sentir meu pico de
adrenalina.
Luzes multicoloridas explodem ao redor da borda externa
da minha visão.
Não haverá como impedir a mudança de realidades agora.
Basta aguentar um pouco mais, Emberly. Talvez você
consiga encontrar um lugar seguro para se esconder.
Cometo o erro de olhar para trás antes de sairmos. As
cores explodem, e, de repente, entro no mundo espectral.
As mãos que me impulsionavam para a frente
desaparecem. O zumbido do alarme desvanece, mas trechos de
conversa chegam aos meus ouvidos. Soa como se as pessoas
estivessem falando muito longe de mim.
— Onde está…?
—… sfigurada parcialmente, porque isso…
—… vê-la, mas não consigo tocá-la…
— O que devemos…
A confusão me cerca até que meu olhar aterrissa em um
leão muito grande, muito dourado e muito familiar no meio da sala.
Seus pelos estão eriçados e um rosnado baixo emana de
seu peito. Eu vejo um pouco de cabelo preto entremeado entre a
juba.
Steel. Tão certa quanto estou de meu próprio nome, sei
que tem que ser ele.
A besta dourada começa a rondar para frente e para trás e
meu coração sobe na garganta. Um homem pálido e magro se
agacha no chão logo na frente do leão.
Envolto em uma névoa de escuridão, ele se lança como um
inseto, em movimentos bruscos, mas rápidos. O cabelo escuro do
homem toca os ombros e se eu tivesse que adivinhar, diria que não
é lavado há meses. Um bocado de fios ficam pendurados em
mechas frouxas e gordurosas que obscurecem a maior parte do seu
rosto.
Através dos fios, seus olhos brilham em azul gelo. Seus
lábios ensanguentados estão repuxados e revelam dentes afiados.
O homem, ou melhor, a criatura, sibila para Steel, que
rebate com um rosnado baixo e forte.
Isso é um vampiro? Primeiro os metamorfos e agora
vampiros? O que mais existe que não sei?
Eu tinha avançado, só percebendo isso quando o rosnado
de Steel me fez parar bruscamente e derrubar uma cadeira. O som
agudo ecoa na sala quase vazia.
A cabeça do homem-vampiro gira na minha direção. Sua
língua rosada sai de sua boca, lambendo ao longo do lábio superior
antes de acariciar os dois caninos.
Eu vou vomitar.
A criatura se move em minha direção com velocidade
sobrenatural. Meus olhos só veem um borrão de movimento.
As mandíbulas de Steel agarram sua perna e ele cai no
chão com um grito a apenas um metro e meio de onde estou.
De costas, eu me choco contra algo duro. Um par de mãos
agarra meus ombros e eu bato no que quer que esteja me
segurando.
— Ei, se acalme. Nós estamos aqui — sussurra Ash. —
Temos que sair agora.
— Sim, de preferência antes que Steel perceba que
transfiguramos. — Sterling surge do meu outro lado, com Greyson
junto.
Eu paro de lutar quando percebo que são Ash e os gêmeos
atrás de mim, todos envolvidos em uma aura branca suave, como a
minha. Mais uma confirmação de nossa diversidade compartilhada.
— O que é essa coisa? — A curiosidade mórbida se
sobrepõe ao meu senso de autopreservação, algo que não acontece
com frequência.
— É um Abandonado. Nós realmente precisamos sair
daqui — responde Greyson.
— Não podemos simplesmente deixar essa coisa com o
Steel. — Eu me viro para o gêmeo. Com certeza, ele concordaria
comigo.
Um momento depois, Steel atira a carcaça do vampiro – ou
seja lá que criatura é aquela – pela sala. O corpo se choca contra a
parede com um som nauseante de ossos triturados.
— Acho que ele tem tudo sob controle — responde
Greyson, secamente.
Sterling se move na minha frente e saltita no lugar,
claramente desejando entrar na luta.
— Nem pense nisso, cara. — Greyson aponta um dedo
para o irmão, com a sobrancelha arqueada.
— Sim. Sim, eu sei. Certo, vamos cair fora daqui.
Estamos quase saindo quando uma gargalhada
descontrolada perfura o ar. Até mesmo o mundo espectral odeia o
som. Ondas furiosas de luz vibram das paredes.
— Sim, corram seus pequenos híbridos nojentos. Nós
gostamos tanto da perseguição quanto da caça.
O gelo salpica através de minhas veias quando disparamos
pelas portas da cafeteria. A voz se transforma em um grito bárbaro
que é interrompido pelo som de coisas se quebrando.
Meu Deus, meu Deus. Não olhe para trás, Emberly.
Pela primeira vez, obedeço a mim mesma.
Estamos na metade do caminho do corredor quando as
portas do refeitório se abrem e golpeiam a parede.
Meus nervos estão tão agitados que mal reajo à nova
intrusão.
Um rosnado baixo faz Greyson parar.
Ash esbarra nele, eu me choco contra ela, e Sterling
tropeça em cima de mim.
Eu me viro assim que se afasta.
— Ai, merd… — Sterling murmura ao encarar seu irmão
em forma leonina.
Steel explode como fogos de artifício de luz branca. Fico
perplexa quando as partículas de luz formam o corpo masculino
antes de pulsar uma última vez revelando a figura de um Steel irado.
— O que estava pensando? — Ele caminha até defrontar
Sterling.
Greyson aparece e coloca uma mão sobre o ombro do
irmão mais velho.
— Calma, mano. Estávamos apenas protegendo a novata.
Ótimo, eles já esqueceram o meu nome.
O olhar de Steel se volta para mim. Suas sobrancelhas
negras acentuam o fogo azul incendiando seus olhos.
Dou um passo para trás, mas me recuso a dar a ele a
satisfação de abaixar o olhar em submissão.
— Está tentando se matar? Ou causar algo pior?
Espere. O quê?
— Só um completo idiota transfiguraria sem nenhuma
defesa com um Abandonado no recinto.
Seus olhos percorrem o meu corpo e os lábios levemente
curvados indicam que ele me considera alguém inferior.
Surpreendentemente, isso magoou.
— Você tem o quê, 16? É jovem demais para ter passado
pelo treinamento.
— Eu tenho 17. Mas o que isso importa? Eu cuido de mim
há tempo suficiente para saber que não preciso de você.
Ele ergue as sobrancelhas escuras e eu faço o mesmo.
Ele não é o único surpreso com essa resposta. Em
situações de fuga ou luta, eu geralmente sou do tipo que foge.
Sobrevivi todo esse tempo me misturando e me escondendo nas
sombras. Ser corajosa não é meu estilo.
Steel mal abre a boca para responder quando Sterling o
interrompe:
— Ela transfigurou pela metade. Não conseguimos tirá-la
de lá de outra forma.
— Pela metade? — pergunta ele, em descrença.
— É sério — Greyson concorda. — Nós podíamos vê-la no
plano terreno, mas ela só reagia ao reino espiritual. Não tinha o que
fazer.
O olhar raivoso de Steel se volta para mim. Eu me forço a
não me acovardar. Já lidei com valentões antes. Steel não é
novidade para mim.
— Transfigure de volta — ordena.
Pisco sem entender, rugas se formando entre minhas
sobrancelhas.
— Claro, assim que vocês me disserem o que isso significa
e me ensinarem como fazer.
Um rosnado bem humano ressoa através do peito de Steel
quando ele passa a mão pelo seu cabelo.
Ash se posta à minha frente, os cachos de seu cabelo
quase bloqueando completamente a minha visão do crianção furioso
na minha frente.
— Dê um tempo a ela, cara. Tudo é muito novo. Além
disso, não deveríamos conversar sobre isso agora. Temos que
chegar ao bunker.
Steel agita alguns dos cachos de Ash ao exalar. Passando
por ela, ele agarra meu braço e me puxa para longe de sua
proteção.
— Ei! Qual é o seu problema? — resmungo, me livrando do
seu agarre, mas sua atenção está em seus irmãos.
— Vou garantir que ela chegue em algum lugar seguro.
Vocês transfigurem de volta para o plano terreno. Vão direto para o
grupo de Blaze e Aurora para ter certeza de que eles chegaram em
segurança, e fiquem lá.
Quando Sterling abre a boca para discutir, Greyson cobre a
boca do irmão com a mão para impedi-lo e o puxa de volta.
— Vamos te encontrar quando tudo isso acabar.
Os gêmeos desaparecem no ar e eu sacudo a cabeça, não
acostumada a ver pessoas sumirem dessa forma.
Ash mordisca o lábio, inquieta, o olhar intercalando entre
mim e Steel.
— Você tem certeza de que pode levá-la? — ela pergunta.
Steel solta uma risada desprovida de humor.
— Você realmente acha que não vou conseguir cuidar
dela?
— Pouco convencido? — zombo.
A boca de Ash se transforma em um meio-sorriso.
— Eu te encontrarei quando a ameaça tiver sido eliminada.
— Seus olhos me imploram para concordar.
Eu não tenho muita escolha. Além disso, parece que o que
quer que esteja acontecendo, é mais seguro para ela não estar no
mundo espectral. Eu posso ter acabado de conhecê-la, mas não
quero que se machuque.
Eu respondo com um aceno de cabeça, e, logo após, ela
também desaparece.
Olhando para mim com arrogância, Steel se vira e segue
pelo corredor.
— Tente me acompanhar — dispara, por cima do ombro,
sem desacelerar.
Isto vai ser interessante.
Eu começo a ficar tonta à medida que tento acompanhar
Steel. A parte do subsolo da academia é mais extensa do que eu
havia imaginado; meu sentido de direção está confuso. Sem um
guia, eu provavelmente andaria por esse labirinto de corredores
eternamente.
Nós não passamos por nenhuma outra pessoa até agora,
mas os gritos que ecoam através dos corredores são o suficiente
para me deixar alerta.
Balançando a cabeça, afasto os meus medos. Não tenho
tempo a perder para emoções frívolas no momento.
Medo pode te matar.
Minha mente evoca uma visão de um Abandonado pálido.
Seus dentes pontiagudos visíveis e seu sibilar desumano. Cabelo
oleoso e ralo nas laterais da cabeça, dedos finos como gravetos
curvados e prontos para agarrar sua presa.
É apenas um pequeno momento de distração, mas longo o
suficiente para me distrair do fato de que Steel havia parado. Ergo
as mãos quando me choco com força às suas costas e seu cotovelo
golpeia minha barriga. Perco o fôlego na mesma hora com a
pancada.
O corpo de Steel mal se move com o contato.
Para não cair, enlaço sua cintura, pressionando o rosto
entre suas escápulas. Erguendo o olhar, vejo Steel me encarando
por sobre o ombro, com uma sobrancelha erguida.
Abro os braços e recuo vários passos. Minhas bochechas
queimam enquanto ele se vira.
— Desculpe. — Sem saber o que fazer com as mãos, eu
as ocupo com meu cabelo, checando se o boné ainda está no lugar.
— Não percebi que você tinha parado.
Obviamente.
Devo revirar os meus olhos para mim mesma. Não vou
culpá-lo se ele fizer.
Ao invés disso, ele ergue ainda mais a sobrancelha e sua
boca se curva ligeiramente. Vários segundos passam, segundos
constrangedores, e apenas nos encaramos. Então, como se ele se
lembrasse de algo, seu rosto enrijece como granito.
Um calafrio percorre meu corpo ao vislumbrar a mudança.
— Ótimo. Você é desastrada. — Até mesmo sua voz
mudou.
Não sou, gostaria de dizer, mas mordo a língua para ficar
quieta. Não teria sobrevivido por todos esses anos sem a minha
habilidade de engolir as palavras.
Como se lesse minha mente e considerasse meus
pensamentos divertidos, seus lábios se retorcem num sorriso cruel.
Meu estômago se agita conforme a vontade de socar sua cara
aumenta. Cerro os punhos e forço meus olhos a procurarem outras
coisas ao invés de pontos vulneráveis no seu corpo para esmurrar.
— Por que paramos? — pergunto, entredentes.
Eu nunca reajo dessa maneira com pessoas que não
conheço. Eu aperfeiçoei a habilidade de deixar insultos passarem ao
longo dos anos. É uma necessidade quando você é alvo constante
de bullying nas escolas.
— Eu ouvi… — Um grito interrompe suas palavras. Como
se fôssemos um, viramos a cabeça na direção do grito. Veio de um
corredor abaixo, logo disparamos até lá.
Assim que contornamos o corredor, um corpo atravessa a
parede na nossa frente, destruindo a mesma. Poeira, lascas de
madeira e pedaços de concreto voam para todos os lados enquanto
a pessoa se choca à parede oposta e cai ao chão.
Fico plantada no lugar. Steel corre para verificar a figura
encurvada.
— Potestades, pelo flanco esquerdo! Guardiões, pela
direita! Domínios, pela frente!
A voz de comando que veio através do buraco recém-
criado me tira do meu estado de choque e liberta meus membros.
Corro até onde Steel está agachado sobre o corpo.
Sangue escorre do nariz e da orelha esquerda do homem
enquanto Steel pressiona dois dedos contra o seu pescoço. Acredito
estar vendo seu peito se mexer, mas minha atenção é roubada por
um ruído alto que irrompe