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Prof.

Natasha Ramos

O Homem Nú

1ª parte – Leitura Partilhada

O HOMEM NU
          Ao acordar, disse para a mulher:
          – Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o
sujeito com a conta, de certeza. Mas acontece que ontem eu não
trouxe dinheiro da cidade, estou a zeros.
            – Explica isso ao homem – respondeu a mulher.
          – Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir
rigorosamente as minhas obrigações. Portanto, escuta... quando ele aparecer nós
vamos ficar quietos cá dentro, não fazemos barulho, para ele pensar que não está
ninguém em casa. Deixamo-lo bater até se cansar e amanhã eu pago.
       Pouco depois, o homem despiu o pijama, dirigiu-se à casa de banho para
tomar um banho, mas a mulher já lá estava dentro. Enquanto ele esperava,
resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de casa para ir buscar
o pão que o padeiro tinha deixado no parapeito. Como estava completamente nu,
olhou com cautela para um lado e para outro antes de se arriscar a dar dois
passos até ao embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o parapeito de mármore.
Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal os seus dedos tocaram
no pão, a porta atrás de si fechou-se com um estrondo, impulsionada pelo vento.
  Aterrorizado, precipitou-se até à campainha e, depois de tocá-la, ficou à
espera, olhando ansiosamente em seu redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do
chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. De certeza que a
mulher pensava que era o homem da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
          – Maria! Abre aí, Maria. Sou eu – chamou em voz baixa.
          Quanto mais batia, mais silêncio se fazia lá dentro.
       Enquanto isso, ouvia lá em baixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro
subir lentamente os andares… Desta vez, era o homem da televisão! Afinal não
era... Refugiado no lance da escada entre os andares, esperou que o elevador
passasse, e voltou para a porta do seu apartamento, sempre a segurar nas mãos
nervosas o pão:
          – Maria, por favor! Sou eu!
         Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos,
regulares, vindos lá de baixo… Tomado do pânico, olhou ao redor, fez uma
pirueta, e assim despido, com o pão na mão, parecia executar um ballet grotesco e
mal ensaiado. Os passos na escada aproximavam-se, e ele sem sitio para se
esconder. Correu para o elevador, carregou no botão. Foi o tempo de abrir a porta
e entrar, e a empregada passou, vagarosamente, subindo um lance das escadas.
Ele respirou, aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão. Mas eis
que a porta interna do elevador se fechou e ele começou a descer.
          – Ah, isso é que não! – gritou o homem nu, sobressaltado.
          E agora? Alguém lá em baixo iria abrir a porta do elevador e daria com ele
ali, todo nú, podia mesmo ser algum vizinho conhecido… Percebeu, desorientado,
que estava a ser levado cada vez mais longe do seu apartamento, começava a
viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais
autêntico e desvairado Regime do Terror!
          – Isso é que não! – repetiu, furioso.
Prof. Natasha Ramos

        Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares,


obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea
ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá em
baixo continuavam a chamar pelo elevador. Antes de mais nada: “Emergência:
parar”. Muito bem. E agora? Iria subir ou descer?

Atividade 1

Após a leitura da 1ª parte da crônica, vamos interpretar (por escrito ou oralmente)

1. Esta crónica está escrita na 1ª ou na 3ª pessoa?


2. Porque motivo é que o casal não podia abrir a porta do apartamento?
3. Com que objetivo é que o homem saiu do apartamento? E como é que ele estava?
4. O que é que aconteceu quando o homem saiu para ir buscar o pão que o padeiro
tinha deixado à porta de casa?
5. Porque é que a mulher não abriu a porta ao marido?
6. Retira do texto três verbos e indica o tempo e modo verbal.
7. Retira do excerto três advérbios.
8. Qual é que achas que foi o objetivo do autor ao colocar no texto as perguntas: “E
agora? Iria subir ou descer?”

Atividade 2

Agora, vamos criar um final para a crónica:

O teu texto deve ser curto, mas coerente com a parte que já vos dei. Usa a tua
imaginação... como é que achas que o homem saiu  desta situação? Tenta fazer
um final bem interessante, pode ser engraçado ou trágico. Quero que partilhes o
teu final na próxima explicação.

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