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Budismo humano, pois era algo artificialmente arranjado.

Assim, decidiou, aos vinte e nove anos,


deixar sua família e seu palácio para buscar a solução para o que lhe afligia: o sofrimento
humano.
    Sidarta, certa vez, em um dos seus passeios onde acabara de conhecer os sofrimentos
inevitáveis do homem, encontrara-se com um monge mendicante. Ele havia obervardo que
O Budismo é um religião onde não existe um conceito de Deus criador do o monge, mesmo vivendo miseravelmente, possuia um olhar sereno, como de quem estava
mundo e dos homens, e nem uma concepção de alma. O ensinamento tranquilo diante dos revezes da vida. Assim, quando decidiu ir em busca de sua iluminação,
fica concentrado no caminho que os homens devem seguir para atingir a Gautama resolveu se juntar a um grupo de brâmanes dedicados a uma severa vida
salvação, o nirvana ou a iluminação. ascética. Logo, porém, estes exercícios mortificadores do corpo demonstraram ser algo
inútil. A corda de um instrumento musical não pode ser retesada demais, pois assim ela
"Desvia sua face das decepções do mundo: desconfia dos sentidos, rompe, e nem pode ser frouxa demais, pois assim ela não toca. Não era mortificando o
porque eles são falsos. Mas dentro de teu corpo - o santuário de tuas corpo, retesando ao extremo os limites do organismo, que o homem chega à compreensão
sensações - busca o "Homem Eterno" no Impessoal; e quando o achares, da vida. Nem é entregando-se aos prazeres excessivamente que chegará a tal. Foi ai que
Sidarta chegou ao seu conceito de O Caminho do Meio : buscar uma forma de vida
após minuciosa busca, olha pra dentro de ti: tu és Buda."
disciplinada o suficiente para não chegar à completa indulgência dos sentidos, pois assim a
pessoa passa a ser dominada excessivamente por preocupações menores , e nem à
autotortura, que turva a consciência e afasta a pessoa do convívio dos seus semelhantes. A
vida de provações não valia mais que a vida de prazeres que havia levado anteriormente.
O Budismo é a religião pregada pelo Buda, um Príncipe hindu, de aproximadamente três Ele resolve, então, renunciar ao ascetismo e volta a se alimentar de forma equilibrada. Seus
mil anos atrás, quando a Índia era o berço de uma brilhante civilização, igualável à da companheiros, então, o abandonam escandalizados.
Grécia antiga. O Rei, pai de Buda, deu-lhe todos os meios para gozar a vida e todas as      Sozinho novamente, Sidarta procura seguir seu próprio caminho, confiando apenas na
diversões da época, mas ele preferiu meditar sobre como enfrentar os sofrimentos  própria intuição e procurando se conhecer a si mesmo. Ele procurava sentir as coisas,
inevitáveis como:  o nascimento, a velhice, a doença e a morte. Praticou então toda sorte evitando tecer qualquer conceitualização intelectual excessiva sobre o mundo que o
de penitências, levando uma vida de meditação. Porém, percebeu que era inútil tentar cercava. Ele passa a atrair, então, pessoas que se lhe acercam devido a pureza de sua
obter a liberdade espiritual martirizando o corpo, pois seria contra a natureza humana. alma e tranquilidade de espírito, que rompiam drasticamente com a vaidosa e estúpida
Após meditação e reflexão de longa data descobriu a verdade eterna e pregou durante divisão da sociedade em castas rígidas que separavam incondicioanalmente as pessoas a
50 anos, dos seus 80 anos de existência, ensinamentos que são chamados de Sutras. partir do nascimento, como hoje as classes sociais e dividem estupidamente a partir da
  desigual divisão de renda e, ainda mais, de
Diz a lenda - e lendas, assim como mitos e parábolas, resumem poética e figuradamente
berço.
Os ensinamentos de Buda faz com que o homem perceba as dificuldades da vida para
verdades espirituais e existenciais - que Sidarta resolve meditar sob a proteção de uma
que conheça a verdadeira felicidade. O homem fortalece seu caráter através do
figueira, a Árvore Bodhi. Lá o demônio, que representa simbolicamente o mundo terreno das
sofrimento, como uma condição inevitável à aquisição e acúmulo de virtudes. Ensina-nos
aparências sempre mutáveis que Gautama se esforçava por superar, tenta enredá-lo em
como enfrentá-lo e para isso procura indagar a causa do sofrimento através do passado.
dúvidas sobre o sucesso de sua tentativa de se por numa vida diferente da de seus
A seguir, ensina qual a atitude a tomar no presente e esclarece a conseqüência futura.
semelhantes, ou seja, vem a dúvida sobre o sentido disso tudo que ele fazia. Sidarta logo se
Mostra-nos qual o caminho a trilhar em nosso desconhecido mundo, porém, o mesmo
sai dessa tentativa de confundí-lo com a argumentação interna de que sua vida ganhou um
em que deveremos encontrar a plena e mútua felicidade
novo sentido e novos referenciais com sua escolha, que o faziam centrar-se no aqui e agora
sem se apegar a desejos que lhe causaria ansiedade.
    Ele tinha tudo de que precisava, como as aves do céu tinham da natureza seu sutento, e
Buda
toda a beleza do mundo para sua companhia. Mas Mara, o demônio, não se deu por
vencido, e, ciente do perigo que aquele sujeito representava para ele, tenta convencer
 
Sidarta a entrar logo no Nirvana - estado de consciência além dos opostos do mundo físico -
O termo "Buda" é um título, não um nome próprio. Significa "aquele que sabe", ou
imediatamente para evitar que seus insights sobre a vida sejam passados adiante. Aí é
"aquele que despertou", e se aplica a alguém que atingiu um superior nível de
possível que Buda tenha realmente pensado duas vezes, pois ele sabia o quanto era difícil
entendimento e a plenitude da condição humana. Foi aplicado, e ainda o é, a várias
as pessoas abandonarem seus preconceitos e apegos a um mundo resumido, por elas
pessoas excepcionais que atingiram um tal grau de elevação moral e espiritual que se
mesmas, a experiências sensoriais. Tratava-se de uma escolha difícil para Sidarta: o
tranformaram em mestres de sabedoria no oriente, onde se seguem os preceitos
usufruto de um domínio pessoal de um conhecimento transcendente, impossível de expor
budistas. Porém o mais fulgurante dos budas, e também o real fundador do budismo, foi
facilmente em palavras, e uma dedicação ao bem-estar geral, entre a salvação pessoal e
um ser de personalidade excepcional, chamado Sidarta Gautama. Siddharta Gautama, o
uma árdua tentativa de partilhar o conhecimento de uma consciência mais elevada com
Buddha, nasceu no século VI a. C. (em torno de 556 a. C.), em Kapilavastu, norte da
todos os homens e mulheres. Por fim,           Sidarta compreendeu que todas as pessoas
Índia, no atual Nepal. Ele era de linhagem nobre, filho do rei Suddhodana e da rainha
eram seus irmãos e irmãs, e que estavam enredaddos demais em ilusórias certezas para
Maya. Logo depois de nascido, Sidarta foi levado a um templo para ser apresentado aos
que conseguissem, sozinhos, uma orientação para onde deviam ir. Assim, Sidarta, o Buda,
sacerdotes, quando um velho sábio, chamado Ansita, que havia se retirado à uma vida
resolve passar adiante seus conhecimentos.
de meditação longe da cidade, aparece, toma o menino nas mãos e profetiza: "este
Quando todo o seu poder argumentativo e lógico de persuasão falham, Mara, o mundo das
menino será grande entre os grandes. Será um poderoso rei ou um um mestre espiritual
aparências, resolve mandar a Sidarta suas três sedutoras filhas: Desejo, Prazer e Cobiça,
que ajudará a humanidade a se libertar de seus sofrimentos".
que apresentam-se como mulheres cheias de ardor e ávidas de dar e receber prazer, e se
    Suddhodana, muito impressionado com a profecia, decide que seu filho deve seguir a
mostram como mulheres em diferentes idades (passado, presente e futuro).
primeira opção e, para evitar qualquer coisa que lhe pudesse influenciar contrariamente,
Mas Sidarta sente que atingiu um estágio em que estas coisas se apresentam como
passa a criar o filho longe de qualquer coisa que lhe pudesse despertar qualquer
ilusórias e passageiras demais, não sendo comparáveis ao estado de consciência mais
interesse filosófico e espiritual mais aprofundado, principalmente mantendo-o longe das
calma e de sublime beleza que havia alcançado. Buda vence todas as tentativas de Mara, e
misérias e sofrimentos da vida que se abatem sobre o comum dos mortais. Para isso,
este se recolhe, à espreita de um momento mais oportuno para tentar derrotar o Buda,
seu pai faz com que viva cercado do mais sofisticado luxo.
perseguindo-o durante toda a sua vida como uma sombra, um símbolo do extremo do
     Aos dezesseis anos, Sidarta casa-se com sua prima, a bela Yasodhara, que lhe deu
mundo dos prazeres.
seu único filho, Rahula, e passa a vida na corte, desenvolvendo-se intelectual e
     Sidarta transformou-se no Buda em virtude de uma profunda transformação interna,
fisicamente, alheio ao convívio e dos problemas da população de seu país.
psicológica e espiritual, que alterou toda a sua perspectiva de vida. "Seu modo de encarar a
    Mas o jovem príncipe era perspicaz, e ouvia os comentários que se faziam sobre a
questão da doença, velhice e morte mudo porque ele mudou" (Fadiman & Frager, 1986).
dura vida fora dos portões do palácio. Chegou a um ponto em que ele passou a
Tendo atingido sua iluminação, Buda passa a ensinar o Dharma, isto é, o caminho que
desconfiar do porquê de seu estilo de vida, e sua curiosidade ansiava por descobrir por
conduz à maturação cognitiva que conduz à libertação de boa parte do sofrimento terrestre.
que as referências ao mundo de fora pareciam ser, às vezes, carregadas de tristeza.
Eis que o número de discípulos aumenta cada vez mais, entre eles, seu filho e sua esposa.
    Contrariamente à vontade paterna - que tenta forjar um meio de Sidarta não perceber
Os quarenta anos que se seguiram são marcadas pelas intermináveis peregrinações, sua e
diferença alguma entre seu mundo protegido e o mundo externo -, o jovem príncipe, ao
de seus discípulos, através das diversas regiões da Índia.
atrevessar a cidade, se detém diante ante a realidade da velhice, da doença e da morte.
Quando completa oitenta anos, Buda sente seu fim terreno se aproximando. Deixa
Sidarta entra em choque e profunda crise existencial. De repente, toda a sua vida parecia
instruções precisas sobre a atitude de seus discípulos a partir de então:
ser uma pintura tênue e mentirosa sobre um abismo terrível de dor, sofrimento e perda a
       "Por que deveria deixar instruções concernetes à comunidade? Nada mais resta senão
que nem mesmo ele estava imune. Sua própria dor o fez voltar-se para o problema do
praticar, meditar e propagar a Verdade por piedade do mundo, e para maior bem dos
sofrimento humano, cuja solução tornou-se o centro de sua busca espiritual. Ele viu que
homens e dos deuses. Os mendicantes não devem contar com qualquer apóio exterior,
sua forma de vida atual nunca poderia lhe dar uma resposta ao problema do sofrimento
devem tomar o Eu - self - por seguro refúgio, a Lei Eterna como refúgio... e é por isso 4. Esforço correto ou exercitar a autodisciplina para evitar
que vos deixo, parto, tendo encontrado refúgio no Eu". pensamentos maus ou nocivos e desenvolver estados mentais
Buda morreu em Kusinara, no bosque de Mallas, Índia. Sete dias depois seu corpo foi positivos e saudáveis;
cremado e suas cinzas dadas as pessoas cujas terras ele vivera e morrera.
5. Plena atenção correta. "O budismo é uma religião do aqui e do
agora", avalia Arthur Shaker, da Casa de Dharma. Precisamos
aprender a desligar o piloto automático e prestar atenção a todas
Ensinamentos
as nossas ações, nossas falas, nossos pensamentos.

6. Concentração correta. "Qualquer religião ou prática sem


As quatro nobre verdades
concentração torna-se frágil", avalia o dr. Georges da Silva "e, na
oração, as palavras tornam-se inúteis". Nossa mente está sempre
O primeiro sermão de Buda após iluminar-se sob a sombra da figueira Bodhi, chamado
dispersa, quando conseguimos concentrá-la em um único objetivo
Sermão de Benares, foi sobre as Quatro Nobres Verdades. A verdade do sofrimento.
ela se torna poderosa, ensina ele.
"Tudo no universo é efêmero, transitório, mutável, perecível", ensina Georges da Silva,
autor do clássico Budismo: psicologia do autoconhecimento. Em suma, tudo é
impermanente. No entanto, nós nos apegamos às coisas como se elas devessem durar A introspecção ou sabedoria: "Todas as coisas são precedidas pela mente, guiadas pela
para sempre. Esse descompasso entre o que desejamos e a realidade do universo é que mente e criadas pela mente. Tudo o que somos hoje é resultado do que temos pensado. O
causa sofrimento. Por isso, a vida está ligada ao sofrimento. Nascer, adoecer, separar-se que pensamos hoje é o que seremos amanhã; nossa vida é criação de nossa mente. Se um
do que amamos, desejar e não ter, morrer, tudo nos faz sofrer. A verdade da causa do homem fala ou age com uma mente impura, o sofrimento o acompanha tão de perto como a
sofrimento. O que causa o sofrimento é o nosso desejo. Esse desejo ou ânsia tem por roda que segue a pata do boi que puxa a carroça", diz Carlos Lessa, citando o
base a idéia de que temos um eu pessoal que precisa ser satisfeito de qualquer maneira. Dhammapada, uma escritura budista. Para alcançar a sabedoria devemos seguir os dois
Buda dizia que todas as infelicidades e todos os conflitos, "das pequenas discussões de últimos princípios do Caminho de oito vias:
família até as grandes guerras entre as nações", segundo o professor Georges da Silva,
"têm suas raízes nessa sede de desejo. Em seu livro, o professor menciona uma fala de
7. O pensamento correto, que surge quando você desenvolve as
Buda a Rathapala que soa surpreendentemente moderna aos nossos ouvidos: "O mundo
qualidades do desapego, da compaixão e da não-violência; ;
sofre de frustração, ânsia e é escravo do desejo".A verdade da cessação do sofrimento.
Se o que gera sofrimento é o desejo, deixar de desejar traz a paz. É a ignorância do
homem em relação a sua própria condição que faz nascer o desejo e é esse desejo que 8.  Compreensão correta ou penetração, quer dizer compreender
faz sofrer. Eliminando a ignorância, elimina-se o desejo e, como conseqüência, o não com o intelecto, mas com a visão interior ou intuição.
sofrimento. O Caminho do Meio. Buda sabia, por experiência própria, que a felicidade
não vem da riqueza nem da privação exageradas. Nem um extremo nem outro: ele
ensinou o Caminho do Meio, que leva as pessoas a vencerem a ambição e o desejo, As seis perfeições
para alcançar uma vida com mais sabedoria.Matthieu Ricard, no livro O Monge e o
Filósofo, explica que essa "reflexão sobre a dor e o sofrimento deve nos animar a seguir À medida que trilhamos o Caminho das oito vias, vamos exercitando as seis qualidades que
o caminho do conhecimento. Dizem que o budismo é uma filosofia do sofrimento, mas, " nos farão atravessar o mar da imortalidade até o nirvana", como ensina a abadessa
de fato, quanto mais avançamos no caminho, mais a percepção do sofrimento vai dando Sinceridade, do Templo Zu Lai, de budismo Ch´an.
lugar a uma felicidade que impregna todo o nosso ser". Para os budistas, diz Matthieu
Ricard, "Buda é o grande médico, o doente somos nós todos; seus ensinamentos são o - Caridade, que inclui todas as formas de doar e de compartilhar o dharma.
tratamento e a prática espiritual é o processo de cura". - Moralidade, que elimina os sentimentos ruins, como o ódio, a cobiça, a inveja.
- Paciência, que traz a serenidade para entender as ações cometidos por outros, mais
ignorantes do que nós.
O nobre caminho das oito vias - Perseverança, para não desistir da prática do dharma.
- Meditação, que reduz a confusão da mente e leva à paz e à felicidade.
- Sabedoria, que desenvolve o poder de distinguir entre o que é ilusório e o que é real.
Para conseguir se libertar dos desejos e dos apegos, os homens devem seguir o
Caminho das Oito Vias ou o Nobre Caminho Óctuplo. A conduta correta: compaixão
irrestrita é a meta de todo budista. Não somente pelos seres humanos, mas por todos os
seres vivos. A sabedoria é a outra grande meta. O dr. Georges da Silva diz: "sem
sabedoria somos tolos de bom coração, sem compaixão somos intelectuais frios e
insensíveis". Para alcançar a iluminação é preciso unir as duas coisas. Esse é o objetivo
da conduta ética. Para ter uma conduta ética é preciso ter em mente três princípios, os
primeiros do Caminho de oito vias:

1. A palavra correta, isto é, não mentir, falar em vão, usar


palavras ásperas ou caluniosas: "se não tem nada útil para
dizer, guarde o nobre silêncio";

2. A ação correta, que tem a ver com os princípios básicos de


não matar, não roubar, não usar de violência e ser sábio em
relação à sexualidade;

3. O meio de vida correto. Nada disso adianta se no seu


trabalho você prejudica os outros, sejam esses outros pessoas,
animais ou a própria natureza.

A disciplina mental correta: em todas as tradições do budismo, a meditação ocupa um


lugar fundamental. É através dela "que se alcança o desenvolvimento mental e a visão
interior", afirma o dr. Georges da Silva. Para conseguir a disciplina mental, é preciso
exercitar outros três princípios:

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