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Diretoria 2019-2021

Delzio Salgado Bicalho


Presidente

Ricardo Aureliano Diniz Veado


Vice-Presidente Belo Horizonte, 20 de Março de 2020
Thelma de Figueiredo e Silva
Diretora Administrativa CORONAVIRUS NA GRAVIDEZ: CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
Cassiano de Souza Moreira
Diretor-Adjunto
SOGIMIG

Clovis Antonio Bacha


Diretor Comercial e Financeiro

Ines Katerina Damasceno Cavallo Cruzeiro Gabriel Costa Osanan, Inessa Beraldo de Andrade Bonomi, Clóvis Antônio
Diretora Sociocultural
Bacha, Cláudia Lourdes Soares Laranjeira, Francisco Lírio Ramos Filho, Regina
Marco Antonio Barreto de Melo Amélia Lopes Pessoa de Aguiar.
Diretor Científico

Inessa Beraldo de Andrade Bonomi


Diretora de Valorização e Defesa
Profissional

Marcio Alexandre Hipólito Rodrigues


Diretor de Relações Institucionais Esse documento foi produzido pela SOGIMIG, utilizado as melhores evidencias
Francisco Lirio Ramos Filho cientificas até o momento, com o objetivo de auxiliar os profissionais de saúde
Diretor de Ações Sociais
na condução das gestantes durante o período dessa epidemia.
Eduardo Batista Cândido
Diretor de Ensino e Residência Médica

Gabriel Costa Osanan


Diretor de Marketing e Comunicação
CONTEXTO DA EPIDEMIA
Mucio Barata Diniz
Diretor de Tecnologia da Informação e No final de dezembro de 2019 uma série de casos de pneumonias atípicas e
Mídias Sociais

Cláudia Lourdes Soares Laranjeira


graves foi relatado em Wuhan, na China. No dia 7 de janeiro foi identificado o
Diretora das Vice-Presidências e Regionais
agente causador dos quadros de pneumonia, um novo tipo de Coronavírus,
Conselho Consultivo denominado nCOV-2019. Desde então, o vírus se espalhou por várias partes do
Alim Alves Demian
mundo e já atingiu mais de 70 países. No Brasil, o primeiro caso da doença
Angelica Lemos Debs Dinis
Cristiana Fonseca Beaumoud (COVID-19) foi diagnosticado no dia 26\02\20 em paciente que retornou de
João Pedro Junqueira Caetano.
viagem de negócios da Itália, no Estado de São Paulo. Atualmente, a
João Tadeu Leite dos Reis
Juliana Coutinho Calcagno
transmissão já se tornou comunitária, ou seja, já ocorre dentro do Brasil.
Marcia Salvador Geo A maioria dos pacientes apresentará doença leve, 14% dos casos vão se
Maria Paula Moraes Vasconcelos
apresentar na forma grave e outros 5% necessitarão tratamento em unidade de
Maria Tereza Maia Penido Rebello
Renata Murad Macedo terapia intensiva.

Conselho Consultivo Nato


Carlos Henrique Mascarenhas Silva
Agnaldo Lopes da Silva Filho TRANSMISSÃO DO VÍRUS
Maria Ines de Miranda Lima
A principal forma de contágio do COVID-19 é através do contato direto de
Marcelo Lopes Cançado
Victor Hugo de Melo pessoa-pessoa, através das gotículas produzidas quando a pessoa
contaminada espirra, tosse ou mesmo fala e, que entram em contato com a
mucosa da boca, nariz ou olhos de pessoas saudáveis próximas (menos de
1,80 m de distância). O contágio por contato indireto parece ser outra forma
AV. JOÃO PINHEIRO, 161, SALA T09 importante de transmissão, e acontece quando, uma pessoa saudável encosta
CENTRO - BELO HORIZONTE/MG
em uma superfície que contém o vírus e, a seguir, leva sua mão a boca, nariz e
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olhos. A rápida disseminação do vírus possivelmente está relacionada, não apenas às suas formas de
contágio, mas a virulência do COVID-19, e especialmente ao fato de > 80% dos pacientes contaminados
poderem apresentar poucos ou nenhuns sintomas, mesmo quando estão eliminando o vírus intensamente.
O período médio de incubação da infecção por Coronavírus é de 5.2 dias, com intervalo que pode chegar
até 12.5 dias. A transmissibilidade dos pacientes infectados por COVID-19 é, em média, de 7 a 14 dias após
o início dos sintomas, mas também ocorre dias antes do aparecimento dos sintomas.

PREVENÇÃO
As medidas preventivas objetivam evitar o contato direto e indireto do vírus com as mucosas de pacientes
sadios. Apesar de tais medidas serem aparentemente simples, a sua implementação é um desafio no
cenário prático, pois envolve isolamento social, educação da população sobre o tema e mudanças de
hábitos, especialmente, de higiene.
São consideradas, até o presente momento, estratégias importantes para se reduzir a disseminação do
COVID-19 para todas as pessoas:
1) Evitar contato com indivíduos doentes ou com suspeita de infecção pelo COVID-19. O isolamento
social, ou seja, manter-se em casa sem contato com outras pessoas parece ser a melhor estratégia
para tentar quebrar a cadeia de transmissão do vírus. Para aqueles, os quais tal isolamento não é
possível, a presença de quaisquer sinais e sintomas gripais, febre ou mesmo contato com indivíduo
suspeito de ter infecção pelo COV-19, deve motivar o seu isolamento domiciliar por 7 a 14 dias a
depender da situação.
2) Etiqueta de tosse: as pessoas devem cobrir boca e nariz quando tossir ou espirrar para evitar que
gotículas contaminadas de salivas atinjam outras pessoas ou atinjam grandes distâncias. Para isso,
o uso de lenços descartáveis ou o posicionamento da boca próximo ao cotovelo com o braço fletido
é essencial. Não se deve utilizar a mão direta na boca/nariz ao tossir/espirrar. Imediatamente após,
higiene adequada com água e sabão ou álcool gel 70% é também necessário.
3) Higiene frequente das mãos com água e sabão e, se possível, sucedida por aplicação de álcool a
70%.
4) Utilizar máscaras, na vigência de sinais gripais, para se tentar reduzir a contaminação de outras
pessoas. Não é recomendado o uso de máscaras de forma preventiva, ou seja, na ausência de
sintomas, à exceção para os profissionais de saúde ao examinarem pessoas com sintomas gripais.
5) Limpar e desinfetar periodicamente objetos e superfícies tocados com frequência.

Obs.: Definição de contato: um contato é uma pessoa envolvida em qualquer um dos seguintes: prestar
atendimento direto a pacientes com COVID-19 sem o uso adequado equipamento de proteção individual
(EPI); estar no mesmo ambiente próximo a um paciente com COVID-19 (incluindo compartilhar local de
trabalho, sala de aula ou família ou participar da mesma reunião); viajar próximo (de 1 a 2 metros) a um
paciente COVID-19 em qualquer tipo de transporte.
GRAVIDEZ E O CORONAVÍRUS
As informações em relação à gestação e COVID-19 ainda são limitadas e teremos mais esclarecimentos à
medida que identificarmos as consequências da epidemia. Não há ainda dados de recém-nascidos com
mães que tiveram a doença no primeiro e segundo trimestre, contudo, até o presente momento não se
identificou aumento das taxas de abortamentos ou malformações visíveis ao ultrassom durante o pré-natal.
Importante lembrar que a hipertermia, por si só, independente da causa, é considerada um teratógeno e
também, fator de risco para abortamento. A ocorrência da transmissão vertical encontra-se em estudo e não
pode ser totalmente descartada, embora, estudos preliminares não identificaram a presença do vírus
COVID-19 em líquido amniótico e sangue de cordão em situações de infecção materna no terceiro trimestre.
Mas, também vale ressaltar que não foi identificada transmissão vertical nos casos de CoV-SARS e CoV-
MERS.
Ao contrário do que se esperava, baseando nos achados da infecção pelo H1N1, a COVID-19 em gestantes
tem letalidade semelhante ao do adulto jovem, ou seja, gestantes podem se contaminar e ter quadros
graves na mesma proporção da população jovem. O grupo de maior risco de morbimortalidade para o
Coronavírus continua sendo o grupo dos pacientes idosos e/ ou com comorbidades. Contudo, apesar das
gestantes não configurarem no grupo de maior risco, elas devem redobrar os cuidados para evitar
contaminação, pois seu adoecimento grave, como em qualquer doença sistêmica importante, pode
comprometer a saúde fetal, incluindo os riscos associados ao parto pré-termo.

PRÉ-NATAL EM TEMPOS DE CORONAVIRUS


As consultas de pré-natal devem ser mantidas durante o período da epidemia, pois, trata-se de atendimento
específico e que visa manter a saúde materno-fetal. A periodicidade das consultas e exames
complementares devem ser suficientes para garantir o cuidado adequado de cada gestante, evitando
excesso de visitas a locais com ambientes fechados e/ou com aglomeração de pessoas, que aumentam seu
risco de contato com indivíduo acometido pelo COVID-19. Nas pacientes com infecção diagnosticada ou
suspeitada e já em acompanhamento da infecção viral, a sua consulta de pré-natal deverá ser agendada
para quando finalizar o período de isolamento. É importante garantir o atendimento com equipamentos de
proteção individuais adequados a cada cenário clínico para se tentar evitar o aumento da disseminação do
COVID-19.
Podem-se sugerir alguns cuidados durante as consultas de pré-natal em geral com intuito de quebrar a
cadeia de transmissão do COVID-19:
 À recepção, deve-se perguntar às gestantes e seus acompanhantes sobre histórico de febre ou
sintomas gripais. No caso de resposta positiva, o casal deverá colocar máscaras cirúrgicas e
permanecer em área isolada.
 Deve-se reduzir ao máximo o tempo de espera da consulta de pré-natal.
 O tempo da consulta deve ser o necessário para se prestar uma assistência pré-natal adequada,
evitando prolongamentos excessivos.
 Higienizar todo o material utilizado a cada atendimento (ex: higienizar com álcool 70% o sonar, fita
métrica, termômetros dentre outros, após cada consulta).
 Promover a educação de pacientes e familiares para reconhecer precocemente sinais e sintomas de
COVID-19, assim como sinais de gravidade.
 Em função da pouca disponibilidade dos kits e o tempo necessário para o resultado dos exames, não
está indicado à realização rotineira do exame de detecção do COVID-19, mas, sim, iniciar medidas de
suporte e isolamento social da paciente e seus contatos.
 É direito garantido por lei a presença de acompanhante no atendimento obstétrico. Contudo, deve-se
discutir com o casal a possibilidade de apenas a gestante comparecer às consultas e aos exames de
pré-natal para se evitar aglomerações, durante o período da epidemia.
 Em toda consulta reforçar as medidas de prevenção do COVID-19 e estimular o isolamento domiciliar
nas situações, em que o paciente esteja com suspeita de COVID-19 ou que tenha tido contato recente
com pessoa com suspeita da infecção.
 Nos atendimentos de pacientes assintomáticas, a utilização de máscara poderá ser individualizada. A
OPAS\OMS não recomenda seu uso rotineiro nesses casos, mas ressalta que poderá ser utilizada, na
dependência das orientações da instituição local. Importante é que em caso de uso o mesmo se dê de
forma correta, pois, embora não se saiba do benefício ou não do uso profilático da máscara cirúrgica o
seu uso inadequado poderá acarretar em mais risco de contaminação.
 No atendimento de gestantes com sintomas (suspeita ou confirmada) recomenda-se o uso de EPIs,
recomendados pelas instituições nacionais. É importante ressaltar que a equipe de saúde pode se
tornar importante vetor do COVID- 19 e, portanto, o uso de EPIs é essencial, não apenas para evitar a
contaminação desse grupo de profissionais, mas também para evitar a contaminação de pacientes
saudáveis, no caso as gestantes.

AVALIAÇÃO MATERNA:

Gestantes sem sinais ou sintomas de COVID-19: deverão seguir as rotinas habituais de pré-natal,
de acordo com seu risco, presença de intercorrências ou morbidades. Em todas as consultas recomenda-se
investigar a presença de sintomas gripais e/ou contatos recentes com pessoas infectadas pelo COVID-19 e
mensurar a temperatura axilar. Considere prescrever o isolamento social e monitoramento da infecção, caso
a resposta o isolamento seja possível.
É altamente recomendável que os serviços de saúde se organizem para garantir que as gestantes
permaneçam o mínimo de tempo necessário para a realização das consultas de pré-natal, evitando ao
máximo aglomerações em salas de esperas. Também se justifica, no momento atual, a suspensão
temporária dos grupos de práticas educativas de gestantes. Os intervalos entre consultas e realização de
exames poderão ser ampliados, desde que acordado entre as partes e após apresentação dos riscos e
benefícios, com intuito de se evitar exposição desnecessária das gestantes a ambientes de maior risco para
contaminação. As equipes de saúde da família devem buscar formas de garantir o monitoramento domiciliar
dessas gestantes, seja por meio físico ou por meio virtual. Sugere-se que a saúde suplementar, também,
busque formas de monitoramento à distância das gestantes, no atual contexto da pandemia.

Gestantes com sinais COVID-19 leve (confirmadas ou não): deve-se investigar presença de sinais
de gravidade (ex: dispneia, dor torácica, taquipneia, desidratação, hemoptise, dentre outros) na anamnese e
durante o exame físico. Na ausência de sinais de gravidade e de comorbidades que contraindiquem o
acompanhamento ambulatorial (quadro 1)*, a paciente deverá ser encaminhada para o ambiente domiciliar,
para isolamento social, e cuidados de suporte tais como: uso de analgésicos comuns, hidratação oral
frequente e repouso. É essencial que a gestante esteja bem orientada sobre os sinais de agravamento para
que possa procurar maternidade de referência sem atrasos.

Quadro 1*: Contraindicações para acompanhamento ambulatorial da Síndrome Gripal

• Doenças cardíacas crônicas, congênitas, mal controladas ou descompensadas.


• Doenças respiratórias crônicas, incluindo DPOC e asma mal controlados.
• Doenças renais crônicas em estágio avançado (graus 3, 4 e 5), incluindo os casos em tratamento
dialítico.
• Transplantadas de órgãos sólidos e de medula óssea
• Imunossupressão por doenças e/ou medicamentos (em vigência de quimioterapia e/ou radioterapia,
entre outros medicamentos).
• Diabetes (conforme juízo clínico)
Adaptado de: Ministério da Saúde. Protocolo de Manejo Clínico do Coronavírus (COVID-19) na Atenção Primária à Saúde. Versão 2,
2020.

Gestantes com sinais de COVID-19 grave (confirmadas ou não): avaliar as gestantes


cuidadosamente tentando avaliar o impacto da doença respiratória. A gestante deverá ser encaminhada
para maternidade de referência para avaliar necessidade de propedêutica complementar e internação por
equipe multidisciplinar. Esse grupo específico de gestantes, possivelmente, necessitará da realização de
exames radiológicos, tais como radiografia e TC de tórax para definição do contexto clínico. Caso sejam
considerados necessários, eles deverão ser realizados sem atrasos. Cuidados para reduzir a exposição
fetal à radiação estão recomendados dentro das rotinas usuais do serviço. Destaca-se que a radiação
emitida durante o Raio-X de tórax (0.0005–0.01 mGy) ou uma TC de tórax (0.01–0.66 mGy) são
muito inferiores às doses consideradas teratogênicas (> 610 mGy). A gestante deve ser orientada sobre
os riscos e benefícios do exame.

Por fim, apesar de não existirem, até o momento, indícios de que a infecção pelo COVID-19 tenha evolução
clínica diferente na gravidez, mas, considerando que qualquer infecção grave na gestação pode
comprometer a evolução da mesma, principalmente, aumento o risco de prematuridade, parece justificável
envidar esforços para facilitar o afastamento profissional das gestantes que tiverem atividades de contato
direto com outras pessoas doentes.

AVALIAÇÃO FETAL
Não está claro o impacto da COVID-19 no ambiente intrauterino, assim como se ocorre transmissão vertical
durante uma infecção materna. Baseando-se nos quadros de pneumonias de outras etiologias na gestação,
existe o risco teórico da COVID-19 determinar repercussões fetais. A avaliação ultrassonográfica, a
realização de cardiotocografia ou mesmo da dopplervelocimetria em pacientes com doença aguda,
dependerá da clínica da paciente. É importante destacar a necessidade de desinfecção do material após
cada uso. Portanto, é fundamental que no seguimento das gestantes com suspeita ou confirmação de
infecção pelo COVID-19 seja incorporada a participação do médico obstetra nas decisões clínicas.
Tem-se ainda recomendado a realização de ultrassonografia 2 a 4 semanas do fim da infecção para
avaliação do crescimento fetal e líquido amniótico, associado ou não a dopplerfluxometria.

MOMENTO DA INTERRUPÇÃO DA GESTAÇÃO E ASSISTÊNCIA AO PARTO


Nesta fase da epidemia pouco se sabe sobre a melhor via de parto, considerando o que seria melhor para a
mãe e para o feto. As decisões sobre a interrupção da gravidez e o parto de emergência são desafiadoras
e baseadas em muitos fatores: idade gestacional, condição materna e estabilidade fetal. As consultas com
especialistas em obstetrícia, neonatal e terapia intensiva (dependendo da condição da mãe) são essenciais.
A infecção por COVID-19 em si não é uma indicação para o parto, a menos que haja uma necessidade de
melhorar a oxigenação materna.
Nos casos leves e estáveis a gravidez pode ser prolongada sob vigilância rigorosa. Nos casos críticos, a
continuação da gravidez pode comprometer a segurança da mãe e do feto. Em tais situações, a
antecipação do parto pode ser indicada mesmo em situação de prematuridade. O uso de corticoterapia
antenatal deve ser avaliado com bastante cautela analisando caso a caso os riscos e benefícios potenciais.
Os dados da literatura mostram que corticosteroides para o tratamento da pneumonia associada ao
Coronavírus devem ser evitados, pois não demonstraram ser benéficos para a Cov-MERS e poderiam, além
disso, levar ao atraso na depuração da Cov-MERS. Nos casos de gravidade extrema a interrupção da
gravidez poderá ser considerada uma opção antes que a viabilidade fetal seja alcançada para salvar a vida
da mulher, seguindo, para tanto, as diretrizes do abortamento previsto em lei em nosso país.
Por analogia com mulheres infectadas pelo H1N1, CoV-SARS ou CoV-MERS, mulheres em boas condições
gerais, sem restrição respiratória e sem comprometimento dos níveis de saturação de O2 podem se
beneficiar do parto vaginal, assim como o feto. A indução do trabalho de parto pode ser considerada quando
o colo uterino é favorável e não há deterioração da condição materna e fetal. Pode-se considerar encurtar o
segundo estágio pelo parto vaginal operatório, pois pode ser difícil para a mulher conseguir empurrar
ativamente enquanto estiver usando uma máscara cirúrgica. Durante todo o trabalho de parto deve-se
manter a saturação de oxigênio materna ≥ 95%. O acompanhamento fetal durante o trabalho de parto com
cardiotocografia é preferível. No entanto, naquelas com restrição respiratória, choque séptico e falência
aguda dos órgãos, a interrupção da gravidez por cesárea, a despeito do risco anestésico, parece ser a
melhor opção.
O parto de casos suspeitos, prováveis e confirmados de infecção por COVID-19, deve ser realizado em
sala de isolamento de pressão negativa preferivelmente. Mas, para situação de uso de salas de parto
comuns, deve-se ressaltar a necessidade de higienização específica, conforme protocolo institucional. .
Para a proteção da equipe medica e dos profissionais de saúde, o parto na água deve ser evitado. A
escolha da anestesia nos partos vaginais e/ou cesarianas deve ser compartilhada com o anestesiologista.
Tanto a anestesia regional quanto a anestesia geral podem ser consideradas, dependendo da condição
clínica da gestante e após consulta com o anestesista obstétrico.
Considerando que o isolamento social é, nesse momento, da epidemia uma ação essencial para o controle
da crise é necessário manter, também durante o trabalho de parto, as ações referentes a esse tema. Isso
significa a restrição da presença de doulas e, mesmo, com o devido aconselhamento da
gestante/casal/família, restringir acompanhantes e visitas. Para minimizar o sentimento de solidão,
principalmente, nos partos de baixo risco deve-se estimular a participação de forma virtual.

AMAMENTAÇÃO E O CORONAVIRUS
Até o presente momento não existe evidência suficiente para definir com clareza a segurança da
amamentação, assim como o impacto da separação do binômico mãe-filho. As recomendações variam de
acordo com o quadro clínico da gestante. Deve-se destacar que, para muitos recém-nascidos, a
amamentação é a única fonte de alimento, e, portanto, sua suspensão poderia fragilizar o recém-nascido e
deixá-lo ainda mais susceptível a infecção pelo COVID-19. Uma vez que, a preocupação relaciona-se mais
ao risco de transmissão direta, do que através do leite, nos casos em que a amamentação é autorizada,
cuidados para se evitar contato direto ou indireto devem ser promovidos rotineiramente. Nas pacientes com
doença grave, parece razoável suspender a amamentação, mantendo-se, entretanto, todas as medidas
para manter a lactação. Por outro lado, nos casos mais leves a amamentação poderá ser permitida, desde
que cuidados de higiene de mãos e uso de máscara cirúrgica sejam adotados. Em geral, recomenda-se
manter a amamentação.

TRATAMENTO
Não existe tratamento específico efetivo e comprovado contra a infecção por Coronavírus até o presente
momento, e mantém-se o mesmo do paciente não grávida. O tratamento é direcionado ao tratamento do
estado gripal e\ou doença respiratória e as infecções subsequentes. Em caso de suspeita ou confirmação
de infecção bacteriana o tratamento com antimicrobianos deve seguir as rotinas determinadas pelos
protocolos da instituição.
Uso da cloroquina no tratamento da COV-19: O uso de cloroquina associada ou não a Azitromicina parece
promissor no tratamento da infecção por COVID-19, mas tal terapêutica continua em investigação e só deve
ser utilizada em instituições com protocolos bem estabelecidos e após adequada orientações sobre riscos,
benefícios e momento experimental da terapêutica. Na gestação, ambas as drogas podem ser utilizadas.
Uso de antivirais no tratamento da COV-19: não existe tratamento antiviral comprovado para pacientes com
COVID-19 atualmente, embora medicamentos antirretrovirais estejam sendo testados em pacientes com
sintomas graves. Se o tratamento antiviral for considerado, isso deve ser feito após discussão cuidadosa
com os infectologistas; as pacientes grávidas devem ser cuidadosamente aconselhadas sobre os possíveis
efeitos adversos do tratamento antiviral para a própria paciente, bem como sobre o risco para o feto.
Lembrar que o uso do Oseltamivir nas gestantes com síndrome respiratória grave se mantém como conduta
recomendada.

Orientações gerais para abordagem hospitalar:


Recomendações para consultas na emergência obstétrica devem ser oferecidas de acordo com as
diretrizes locais atuais, assim como tem se sugerido recomendações para a abordagem intra hospitalar;

I. Local de Atendimento: gestantes com casos suspeitos, prováveis e confirmados de infecção por
COVID-19 com sinais de gravidade devem ser acompanhadas por hospitais terciários em
enfermarias de isolamento e equipamentos de proteção eficazes. O tratamento geral relaciona-se a
manter o equilíbrio de líquidos e eletrólitos; tratamento sintomático, como medicamentos
antipiréticos, antidiarreicos.
Os casos confirmados, em estado crítico, devem ser admitidos em uma sala de isolamento de
pressão negativa em uma UTI. Se salas de isolamento de pressão negativa não estiverem
disponíveis, os pacientes devem ser isolados em quartos individuais ou agrupados (em coorte)
quando a infecção por COVID-19 for confirmada.
 Vigilância: monitoramento atento e vigilante dos sinais vitais e do nível de saturação de oxigênio
para minimizar a hipóxia materna; realizar análises gasométricas arteriais; repetir imagem torácica
(quando indicado); avaliação regular do hemograma completo, testes de função renal e hepática e
testes de coagulação. O monitoramento da infecção bacteriana (hemocultura, microscopia e
urocultura) deve ser realizado, com o uso oportuno de antibióticos apropriados quando houver
evidência de infecção bacteriana secundária. Quando não há evidência clara de infecção bacteriana
secundária, deve-se evitar o uso empírico ou inadequado de antibióticos.
 Monitoramento fetal: realizar monitoramento da frequência cardíaca fetal (FCF) avaliação por
ultrassom do crescimento fetal e do volume de líquido amniótico com Doppler da artéria umbilical,
se necessário. Observe que os dispositivos de monitoramento e o equipamento de ultrassom
devem ser desinfetados adequadamente antes de serem utilizados novamente. A gravidez deve ser
gerenciada de acordo com os achados clínicos e ultrassonográficos, independentemente do
momento da infecção durante a gravidez.
 Critérios para definição de doença grave e crítica: O grau de gravidade da pneumonia por COVID-
19 é definido pelas diretrizes da Sociedade de Doenças Infecciosas da América / American Thoracic
Society para pneumonia adquirida na comunidade (Apêndice 1). A presença de 1 critério maior ou 3
menores indica pneumonia grave.

Tabela 2: Critérios de gravidade de Pneumonia COVID-19

CRITÉRIOS MENORES CRITÉRIOS MAIORES

 FR≥30irpm ou PO2/FiO2≤ 250  Choque séptico com necessidade de


 Infiltrados multilobares vasopressores
 Confusão mental/desorientação  IR com necessidade de VM
 Uremia (U≥40)
 Leucopenia (leucócitos < 4000 cel/mm3)
 Plaquetopenia (plaquetas < 100.000\mm3)
 Hipotermia (T< 36º C)
 Hipotensão com necessidade de
reposição volêmica agressiva

A pneumonia grave está associada a uma alta taxa de mortalidade materna e perinatal. Portanto, é
necessário tratamento agressivo, incluindo medidas de apoio com hidratação, oxigenoterapia e
fisioterapia respiratória.
O caso deve ser tratado em uma sala de isolamento de pressão negativa na UTI,
preferencialmente, com a mulher na posição lateral esquerda, com o apoio de uma equipe
multidisciplinar (obstetras subespecialistas em medicina materno-fetal, intensivistas, anestesistas
obstétricos, parteiras, infectologistas, microbiologistas, neonatologistas).
O tratamento antibacteriano está indicado com antibiótico apropriado em combinação com o
tratamento antiviral (vide recomendação acima) e deve ser usado imediatamente quando houver
suspeita ou confirmação de infecção bacteriana secundária.
O monitoramento da pressão arterial e controle do equilíbrio de fluidos em pacientes sem choque
séptico devem ser tomadas medidas conservadoras de controle de fluidos. Em pacientes com
choque séptico, são necessários reanimação hídrica e inotrópicos para manter uma média diária de
≥ 60 mmHg (1 mmHg = 0,133 kPa) e um nível de lactato <2 mmol / L39.
Em relação a oxigenoterapia, o oxigênio suplementar deve ser usado para manter a saturação de
oxigênio ≥ 95%. O oxigênio deve ser fornecido imediatamente aos pacientes com hipoxemia e / ou
choque, e o método de ventilação deve estar de acordo com a condição do paciente e seguindo as
orientações dos intensivistas e anestesistas obstétricos.
O monitoramento fetal deve ser rigoroso: se apropriado, o CTG para monitoramento da FCF deve
ser realizado quando a gravidez é 26–28 semanas de gestação, e deve ser realizada uma avaliação
ultrassonográfica do crescimento fetal e do volume de líquido amniótico com Doppler da artéria
umbilical, se necessário. O parto prematuro clinicamente indicado deve ser considerado pela equipe
multidisciplinar caso a caso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:
As informações relativas às infecções do COVID-19 na gestação estão em franca investigação e muitas das
recomendações atuais poderão sofrer modificações à medida que avança no conhecimento sobre a doença.
De qualquer forma, os cuidados de prevenção deverão ser realizados de forma rigorosas para evitar
eventos adversos em nossas gestantes.

CONTATOS ÚTEIS:
Os profissionais de saúde podem contatar esses telefones, em caso de dúvidas, sobre a condução de um
caso específico.

CIEVS- BH (para profissionais de Belo Horizonte): (31) 3277-7767 / 3277-7768 - Plantão: (31) 98835-3120
CIEVS-MG (para profissionais de outros municípios): (31) 3916-0442/ 3916 -0777/ 3916- 0340 - Plantão
(31) 99744-6983

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(COVID-19). 2020. https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/prepare/transmission.html
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