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O que o Brasil pode ganhar com o covid-19

Osíris M. Araújo da Silva

Conquistas científicas e tecnológicas surgem fundamentalmente do medo do amanhã, do imponderável,


da necessidade de ajustar modos, maneiras e práticas comportamentais, de relações humanas, políticas e
econômicas de tal sorte a torná-las mais adequadas às nações e seus povos.
Em tempos de quarentenas impostas pelo novo Coronavírus 2019, isolamento social, álcool em gel, crises
e mais crises, a humanidade está alcançando novos padrões predominantemente nas comunicações
pessoais e à distância graças a outras conquistas extraordinárias, também derivadas de guerras e crises
diversas, como energia elétrica, computadores, viagens aeroespaciais, internet, whatsapp, skype,
telefones celulares, metrô e meios de transporte cada vez mais sofisticados..
Desta forma, cabe ao ser humano, neste momento de relevantes transformações sociais, culturais,
políticas e econômicas mudar; adotar novas práticas e padrões de convivência ante obsolescências
soterradas pelas conquistas tecnológicas disruptivas, transformadoras em relação às predecessoras.
Novos hábitos e paradigmas decorrentes dessas transformações farão surgir, nas escolas, a necessidade de
crianças e jovens passarem a realizar, por meio de redes de computadores e de sistemas de comunicações
on-line, grande número de suas atividades escolares de casa. Escola duas a três vezes por semana.Igual
nos parlamentos. O que levará à reduzir sessões presenciais e a priorizar reuniões por vídeo conferências,
práticas que o Congresso Nacional passou a adotar face à necessidade de isolamento social imposto pelo
covid-19. Novas rotinas que, certamente, irão gerar enormes economias ao erário.
Com efeito, governo e órgãos públicos, o Congresso, assembleias legislativas, câmaras municipais,
tribunais, um sem número de repartições públicas podem perfeitamente funcionar sem a obrigatoriedade
presencial diária. Evidente o reflexo dessas novas práticas na redução de gastos públicos. Desta forma, ,
senadores, deputados federais, estaduais, vereadores, juízes, secretários de Estado, presidentes de
autarquias, órgãos e empresas públicas que hoje têm à disposição em seus gabinetes (e até, em alguns
casos, nas residências) vinte, quinze, dez, meia dúzia de assessores podem sem muita dificuldade
diminuir a necessidades desse pessoal de gabinete.
Em que termos? Reprogramando sessões, reuniões e assembleias presenciais, passando a realizá-las por
videoconferências duas, três vezes por semana. Certamente, o número de assessores se reduziria
drasticamente, gerando enormes economias em face da redução de despesas de transporte, alimentação,
comunicações, gratificações funcionais, horas extras e limpeza de instalações. Ganhos derivados de
conquistas tecnológicas, naturais indutores de aperfeiçoamento nas relações de trabalho e
comportamentais, que, por seu turno, inelutavelmente desaguam em mudanças de paradigmas funcionais.
Provavelmente, o brasileiro poderá sair desta crise no azul. Não apenas em termos econômicos e
financeiros resultante das novas práticas de convivência humana e profissional, mas também, e sobretudo,
em consequência dos benefícios subjetivos proporcionados pelo incremento nos padrões das relações
humanas. Efetivamente, desde o dia 11 de março, quando a OMS declarou a pandemia do novo
coronavírus, grande parte da população mundial foi induzida a buscar meios materiais e intangíveis com
vistas a poder melhor controlar as consequências imprevisíveis de uma nova pandemia.
Enquanto não for desenvolvida vacina específica, a sociedade, conectada, segue convivendo e trocando
informações em tempo real, unindo-se, com efeito, para compartilhar experiências e dicas de
sobrevivência. O que foi uma conjectura ficcionista, ora se materializa. Mesmo que por vias transversas, o
novo coronavírus passa a contribuir de forma decisiva, e sem volta, para restaurar à humanidade a
capacidade de empatia e solidariedade perdida nos tempos de individualismo.
Manaus, 13 de abril de 2020.

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