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História do Pensamento Econômico 1

Fisiocratas
Gustavo Schuster

Fundada pelo francês François Quesnay, a escola Fisiocrata surge como parte
do período iluminista, que se caracterizou por reinventar diversas correntes de
pensamento, sendo uma forma de interpretar economia e riqueza como fenômenos
científicos sujeitos às influências da natureza. A escola Fisiocrata chancela a linha de
pensamento liberal através da expressão “​laissez-faire laissez-passer le monde va de
lui-même​”, que simboliza o pensamento que preza pelo individualismo e a não
intervenção do Estado sobre os desdobramentos das ações dos indivíduos, estes que
devem competir dentro da livre concorrência, conforme a “lei natural”. ​Para manter
essa ordem natural, o Estado deveria assumir o papel exclusivo de guardião da
propriedade e garantidor da liberdade econômica. Os fisiocratas se opunham ao
modelo do mercantilismo, que foi amplamente adotada na Europa entre XV e XVIII, que
pregava Estado forte e enriquecimento da burguesia através da acumulação de metais
preciosos (metalismo), Quanto maior a quantidade de metais preciosos em um país,
maior o volume de meio circulante estimulando a produção e o comércio entre os
indivíduos e, assim, geraria maior volume de produtos transacionados. Para acumular
metais preciosos, a regra geral era obter uma balança comercial favorável, ou seja,
exportar mais que importa

Para os fisiocratas a ​agricultura ​é a verdadeira fonte de riqueza, e não a terra,


como era concebido nas estruturas de feudos, ​possibilitando maior margem de lucro
mesmo com pouco investimento, ou seja, se dá ênfase ao trabalho produtivo. ​Na
época em que fisiocratas estavam formulando suas idéias, a economia era quase
totalmente agrária. Fisiocratas viam a produção de bens e serviços como consumo do
excedente agrícola, uma vez que a principal fonte de energia era o músculo humano ou
animal e toda a energia era derivada a partir do excedente de produção agrícola. O
lucro na produção capitalista era apenas o "aluguel" obtido pelo proprietário do terreno
em que a produção agrícola estava ocorrendo. Sendo a agricultura a única fonte de
riqueza, os fisiocratas acreditavam na taxação de impostos para esta indústria, livrando
o restante da sociedade de altas cargas tributárias, facilitando assim fluxo de riqueza.

No âmbito em que a escola fisiocrata surgiu, a economia ainda era


predominantemente agrícola, com a propriedade de terra basicamente de caráter
senhorial; a condução da atividade agrícola já era de tipo predominantemente
capitalista, e contava com a existência de uma bem definida classe de arrendatários
capitalistas nas províncias setentrionais, embora se pudesse encontrar o tipo
predominantemente camponês nas províncias meridionais. As atividades
manufatureiras e comerciais da cidade eram dominadas pelas formas artesanais.

O estrutura fisiocrata de distribuição de riqueza se baseava no “quadro


econômico” de Quesnay, ou ​Tableau Économique ​descreve a circulação de moeda e
mercadorias dentro de uma sociedade dentro de um ciclo anual, sendo a estrutura
social dividida em três classes: a ​classe produtora​, a ​classe dos proprietários e a ​classe
estéril.​ A classe agrícola é a classe responsável pelo cultivo da terra e é composta por
produtores, arrendatários e camponeses. A classe dos proprietários é compreendida
pelos donos da terra, que se sustentam da renda gerada pela classe agrícola. A classe
estéril é integrada por todos os cidadãos que se ocupam de outras atividades
diferentes da agricultura.

Ao início de cada ano, a classe produtora, ou camponeses, possui um estoque


que será utilizado como forma de subsistência e insumos de sementes ao longo do
ano. Ao final do processo produtivo, excedente, ou produto líquido, paga os
proprietários de terras, que por sua vez usam parte de seu pagamento para sua própria
subsistência e o restante para comprar produtos da classe estéril, entenda-se artesãos.
A renda bruta recebida pelos artesãos é utilizada para subsistência e reposição de
matéria-prima e demais manutenções. Em suma, no modelo fisiocrata, o proprietário de
terra serve como o grande regulador do fluxo de riqueza das nações, devolvendo à
sociedade, sob a forma de gastos, o que dela obtiveram sem que nenhum esforço
tenha sido necessário para obtê-la. Na verdade, como a renda da terra era a única
forma de rendimento líquido ou autônomo, quer dizer que não estava comprometida
com os custos de produção, que ela podia ser gasta de qualquer maneira, mas devia
ser gasta. Eram, então, os gastos da renda pelos proprietários que iriam desencadear o
processo de circulação de mercadorias e dinheiro no país. O fisiocracia então advoga o
sistema social então vigente a favor dos proprietários de terra, pois como somente a
terra produz excedente, somente o dono dela teria direito de usufruir de sua riqueza.
Para os Fisiocratas existiam pelo menos duas razões pelas quais era desejável uma
ampla formação da renda. Em primeiro lugar, uma renda ampla eqüivalia à
possibilidade de se elevar consideravelmente o consumo, ainda que apenas por parte
de uma determinada parcela da sociedade, acima dos meros níveis de subsistência. Já
em segundo lugar, uma renda ampla permitia uma ampliação do processo econômico
pela inversão, na própria terra, de parte da mesma renda

Esta escola de pensamento alicerçou conceitos fundamentais para posterior


desenvolvimento da Economia Política. Dizia-se da produção que gerava um
excedente de valor que ela era produtiva e da que não gerava, improdutiva. Seria,
portanto, produtivo o setor agrícola, e, por extensão, os seus adiantamentos e o
trabalho que esses adiantamentos colocavam em movimento. Já o setor industrial era
improdutivo, pois não fazia mais do que pagar pelo seu próprio custo.

É importante salientar as diferenças entre o pensamento fisiocrata e a economia


clássica de Adam Smith, Ricardo e John Stuart Mill. A escola clássica embasa o
pensamento na liberdade e racionalidade dos integrantes da ordem econômica.
Incentiva a individualidade. Os princípios dessa corrente do pensamento econômico
são: a defesa do livre mercado, o direito à propriedade privada, a competitividade
econômica e a geração de riquezas. Defende a intervenção moderada do Estado sobre
a economia. Embora muitos economistas posteriores tenham rejeitado a noção de que
o excedente econômico era um aspecto da natureza, a classificação dos trabalhadores
cuja força de trabalho criava valor excedente como produtivos e daqueles cuja força de
trabalho não criava excedente como improdutivos deveria tornar-se um elemento
importante na análise econômica das próximas correntes de pensamentos.

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