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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) FEDERAL DA

______ VARA DO JUIZADO ESPECIAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE

… (nome completo em negrito do reclamante), … (nacionalidade), … (estado


civil), … (profissão), portador do CPF/MF nº …, com Documento de Identidade de n°
…, residente e domiciliado na Rua …, n. …, … (bairro), CEP: …, … (Município –
UF), vem, respeitosamente, perante este d. juízo, por seu procurador ao final assinado,
legalmente constituído ut instrumento de mandato em anexo (ANEXO I), com fulcro
no Decreto 3.048/99 e na Lei 8.213/91, propor

AÇÃO DE CONCESSÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO c/c PEDIDO


DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA “INAUDITA ALTERA PARTE”
em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, pessoa
jurídica de direito público interno, constituída sob a forma de Autarquia Federal, com
endereço para citação na Avenida Afonso Pena, nº 342, sala nº 302, em Belo
Horizonte (MG), pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos.

1 – DA EXPOSIÇÃO FÁTICA
A Autora viveu em união estável, possuindo inegável vínculo de dependência
econômica com _________________________ por mais de 48 anos. O
relacionamento afetivo perpetrado por ambos teve início ainda na longínqua década
de 1960, perdurando até o último dia de vida do Sr. ______________________, que
sucumbiu em ____________, conforme certidão de óbito anexa (ANEXO IV).
Durante quase 50 (cinquenta) anos, a Autora foi companhia fiel em do ex-segurado,
permanecendo ao seu lado, inclusive em seu leito de morte, até seu falecimento. Havia
entre eles plena comunhão de vida.
Em que pese o fato de não residirem juntos, seu relacionamento foi frutífero e
duradouro. Não sendo, pois, casados e por habitarem cidade interiorana de Minas
Gerais, onde o tradicionalismo impera com mais rigidez, optaram por viver cada qual
em sua moradia. Tal fato, porém, em nada prejudicava sua intensa convivência, uma
vez que eram vizinhos.
Autora e ex-segurado conviviam como se casados fossem, apresentado-se perante
suas famílias e círculo social como um casal genuíno. Sempre compareceram a todos
os eventos sociais e familiares como companheiros de vida íntima. A Postulante é
testemunha de casamento de diversos familiares do ex-segurado, sob condição de
esposa/companheira.
Já há alguns meses, ___________________ encontrava-se acometido por grave
moléstia, diagnosticada como câncer de cólon, de sorte que pretendia dispor da
totalidade de seus poucos bens em favor da Autora.
Os únicos bens a serem transmitidos seriam um imóvel residencial, além dos
utensílios domésticos que o compunham.
Contudo, a Requerente optou por não aceitar a redação de testamento em seu favor, a
fim de que o imóvel pertencente a seu amado companheiro de vida fosse transmitido a
seus colaterais, uma vez que ele não deixara descendentes.
Como possui residência própria, a Postulante não necessitaria da casa em que outrora
viveu seu companheiro.
Porém, por serem ambos economicamente interdependentes, o valor percebido
mensalmente a título de aposentadoria pelo ex-segurado era essencial na manutenção
da vida e saúde da Requerente.

Apesar de estar acometido por neoplasia maligna, o de cujus mantinha relativa boa
saúde, até o dia 11.05.2012, quando, em decorrência de infarto do miocárdio, veio a
óbito.
Alguns dias após o nefasto evento, a Autora encaminhou-se a uma das Agências da
Previdência Social visando habilitar-se como única dependente de
____________________ e, nesta condição, requerer a pensão previdenciária
decorrente sua morte.
Todavia, mesmo após a entrega de toda a documentação comprobatória solicitada pelo
INSS, foi-lhe negado o direito ao benefício, ao argumento de que não teria sido
reconhecida sua condição de companheira em relacionamento de união estável com o
ex-segurado.
Mesmo após insistente argumentação, os servidores da Autarquia Ré informaram que
não seria possível a concessão da pensão por morte de ________________.
Diante disso, alternativa não resta à Autora senão recorrer ao Judiciário para fazer
valer seu direito à percepção do benefício então pleiteado.
2 – DO DIREITO À CONCESSÃO DO BENEFÍCIO
Inicialmente, cumpre destacar a oportuna lição do professor FÁBIO ZAMBITTE
IBRAHIM, sobre o benefício pensão por morte e a quem este se destina:

“A pensão por morte é benefício direcionado aos dependentes do


segurado, visando à manutenção da família, no caso da morte do
responsável pelo seu sustento.” (Curso de Direito Previdenciário:
Editora Impetus, 7ª edição, 2006, Niterói, RJ, p.521)
O artigo 74 da Lei 8.213/1991 dispõe acerca da pensão por morte de segurado da
Previdência Social da seguinte forma:

“Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos


dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da
data:

I – do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste;”


Como já mencionado, alguns dias após o óbito de seu companheiro, mais
especificamente em 04.06.2012, a Requerente dirigiu-se a Agência da Previdência
Social mais próxima com vistas ao recebimento da pensão por morte de
________________. Também como já descrito, houve negativa administrativa do
direito à percepção do benefício, por ter entendido o instituto Réu que não estariam
cumpridos os requisitos para sua instauração.
Erroneamente, o INSS entendeu que a Autora não se configura como dependente do
ex-segurado.
Ocorre que o artigo 16 do mesmo diploma legal elenca as pessoas que podem figurar
como dependentes do segurado, entre as quais figuram a companheira, conforme se
vê:
“Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social,
na condição de dependentes do segurado:
I- o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não
emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou
inválido;”
Sobre a matéria, o parágrafo 3º, do mesmo artigo 16 considera como companheiro ou
companheira a pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o segurado ou
segurada da Previdência Social, nos termos previstos na Constituição Federal,
ponderando o § 4º do mesmo diploma legal que a dependência econômica entre eles é
presumida. Confira-se:
“Art. 16. (…)

§ 3º- Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem


ser casada, mantém união estável com o segurado ou com a segurada,
de acordo com o §. 3º do art. 226 da Constituição Federal.

§ 4º – A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é


presumida e a das demais deve ser comprovada.”
Para comprovação do vínculo de união estável ou da dependência econômica, o
Decreto 3.048/99, em seu artigo 22, § 3º, dispõe acerca dos meios de prova
necessários, senão vejamos:
“Art. 22. (…)
§ 3º– Para comprovação do vínculo e da dependência econômica,
conforme o caso, devem ser apresentados no mínimo três dos
seguintes documentos:
(…)

VIII – prova de encargos domésticos evidentes e existência de


sociedade ou comunhão nos atos da vida civil;
IX – procuração ou fiança reciprocamente outorgada;
X – conta bancária conjunta;
(…)

XVII – quaisquer outros que possam levar à convicção do fato a


comprovar.”
A Autora comprova documentalmente seu vínculo de união estável com
___________________, conforme se depreende da análise do farto conjunto
documental colacionado a esta peça de ingresso.
São amplos os documentos que evidenciam os encargos domésticos recíprocos, além
da comunhão nos atos da vida civil e dos vínculos afetivo e econômico, como passa-
se a expor.
Foram acostados aos autos diversos comprovantes de pagamentosefetuados por
___________________ para bens de consumo a serem entregues a
_______________________, bem como recibos de pagamento efetuados por
___________________ com vistas a tratamentos de saúde e implantação de próteses
em favor de ____________________ (ANEXO V). Tais documentos evidenciam os
encargos domésticos recíprocos entre Autora e ex-segurado, nos moldes do
art. 22, § 3º, VIII do Decreto 3.048/99.

Fora juntada cópia de procuração outorgada pelo ex-


segurado, ____________________, em favor da Postulante, conferindo-lhe amplos e
irrestritos poderes para representação junto ao Banco do Brasil S/A, instituição
financeira onde o ex-segurado possuía conta corrente (ANEXO VI). Tal documento
converte-se em meio hábil para comprovação do vínculo de união estável,
conforme art. 22, § 3º, IX do Decreto 3.048/99.
Foram anexados, também, declarações e cópias de extratos bancários que
demonstram a existência de conta conjunta entre Autora,
_______________________, e ex-segurado, ________________________, (ANEXO
VII). Tais comprovantes também denotam a ocorrência do vínculo de união
estável, nos termos do art. 22, § 3º, X do Decreto 3.048/99.
Não obstante, foram colacionados aos autos, ainda, diversos outros meios de prova da
convivência perpetuada por _____________________ e
________________________ como se casados fossem (ANEXO VIII).
Todas as fotografias e declarações de pessoas que conviviam com Autora e ex-
segurado denotam o convívio marital de ambos, apresentado-se perante a sociedade
como um casal há mais de 46 (quarenta e seis) anos e entrelaçando suas vidas em
âmbito social, familiar e financeiro.
Tais documentos e fotografias apresentam-se como meios outros que levam à
convicção do fato a comprovar, qual seja, o vínculo de união estável, conforme
art. 22, § 3º, XVII.
Pelo que se vê, a Autora apresentou provas suficientes, conforme requerido pela Lei,
para comprovação de seu vínculo de união estável com o ex-segurado. A recusa
administrativa para a concessão do pleito, verifica-se, foi mero equívoco quando da
análise da documentação apresentada, não devendo ser mantida por este douto juízo.

Desta forma, a Postulante deve ser qualificada como dependente do ex-segurado, uma
vez que é inequívoco o vínculo de união estável que perpetuou com
___________________________, quando em vida deste. Todos os documentos
trazidos aos autos evidenciam a vida conjugal de ambos e sua convivência em comum
perante a sociedade. Insta destacar que toda a extensa documentação anexada é
recente, comprovando que o vínculo entre Autora e ex-segurado perpetuou-se até
o falecimento deste.
Em cotejo com o robusto conjunto probatório acostado a esta exordial e em
consonância com a legislação atinente, inafastável é o dever do Réu em conceder o
benefício pleiteado pela Autora.

Ante o exposto, restando comprovada União Estável perpetuada entre


__________________ e ___________________, é patente sua condição de
dependente econômica e, por conseqüência, seu direito à percepção da pensão por
morte previdenciária.

3 –DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA JURISDICIONAL


No que pertine à antecipação dos efeitos da tutela, preceitua o artigo 273,
inciso I do Código de Processo Civil, in verbis:
Art. 273. O Juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou
parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde
que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da
alegação e:
I-haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação;
ou (…)
O provimento antecipatório da pretensão da Autora se demonstra necessário face à
subsunção dos fatos revelados ao comando normativo emergente do artigo
supracitado.

A prova inequívoca que conduza à verossimilhança da alegação é cristalina, visto que


foram apresentados mais de 03 (três) dos documentos elencados no § 3º do citado
artigo 22 do Decreto 3.048/99.
Desta feita, é inequívoca a caracterização do vínculo de união estável entre Postulante
e ex-segurado.
No que concerne ao fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, têm
evidenciado no sentido de que a relutância do Réu em conceder à Autora a pensão por
morte, afronta um direito que lhe é legalmente assegurado.
Tenha-se por vista que trata-se de pessoa idosa, às margens de completar sete décadas
de vida, e que sempre dependeu economicamente do ex-segurado,
detendo necessidade imediata de concessão da medida pleiteada, sob pena de ver-
se privada, até o julgamento definitivo da ação, de verba essencial para a sua
própria subsistência.
Ressalte-se, ainda que a tutela antecipada, no caso vertente, tivesse natureza
irreversível, não se pode deixar de reconhecer que o risco de dano inverso, ou seja,
que recai sobre a Autora, afigura-se muito mais acentuado, devendo ser priorizados,
neste momento, o seu direito à saúde, por amparo ao princípio da dignidade da pessoa
humana.

Por tudo quanto fora exposto, restou demonstrada a necessidade de antecipação dos
efeitos da tutela jurisdicional, vez tratar-se de direito advindo da lei e que vem sendo
negado peremptoriamente pelo Réu, bem como pela iminência de imensuráveis danos
à Requerente.

4- DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS:


Isto posto, demonstrado o adimplemento de todos os requisitos necessários à obtenção
da pensão por morte, requer a Autora:

a) A ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA


JURISDICIONAL, para que lhe seja concedida de imediato o
benefício de pensão por morte em virtude do falecimento do ex-
segurado ___________________, visto estarem presentes os
requisitos autorizadores, conforme demonstrado.
b) A CITAÇÃO do Instituto Réu, no endereço declinado no
preâmbulo da presente, para, querendo, apresentar resposta;
c) A CONDENAÇÃO do INSS a concessão à Autora do benefício
previdenciário de PENSÃO POR MORTE, com data de inicio
retroativa ao primeiro requerimento administrativo, ou seja,
04.06.2012;
d) O integral deferimento de todos os pedidos formulados nesta
exordial, com a posterior condenação do INSS nos consectários da
sucumbência e demais despesas de ordem legal;
e) A juntada dos documentos anexos, declarando os subscritores
desta, serem as cópias autênticas, correspondendo-se a reproduções
fiéis dos originais. A declaração em epígrafe é prestada sob a guarida
do artigo 365, inciso IV do Código de Processo Civil;
f) A INTIMAÇÃO do réu para que junte aos autos o extrato de
pagamento do benefício de pensão do ex-segurado
_______________________, bem como, todos documentos
necessários ao esclarecimento da causa, com base no que dispõe o
artigo 11 da Lei 10.259 de 12.07.2001.
h) A concessão dos benefícios da ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA, por ser a Requerente pobre no sentido legal, não tendo
condições de arcar com as custas processuais e honorários
advocatícios, com fulcro no inciso LXXIV do
artigo 5º da Constituição da Republica e na Lei nº 1.060/50
modificada pela Lei nº 7.115/83 (ANEXO II).
Requer provar o alegado por todos os meios admitidos em direito,
precipuamente documental e testemunhal.
Atribui-se à causa o valor de R$ 100,00 (cem reais), para afeitos
meramente fiscais.
Nestes termos,

pede e espera deferimento.


… (Município – UF), … (dia) de … (mês) de … (ano).

ADVOGADO
OAB n° …. – UF

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